Voo cego (Catarina Cunha)
— Alberto, ela começa um assunto emendando no outro, vários projetos incompletos e sabem-se lá mais quantos esquecidos. Decididamente enlouqueceu. — Claro que não. É o jeitão dela. — O … Continuar lendo
Microcontos 2021 – Fada Madrinha (Catarina Cunha)
[A.1.2.3.4] A Praça da Alfândega, oca de sons, deixou seu coração ansioso. O vento ocioso enfim avisou que é chegada a hora. Fechou a alma e recebeu o pelotão de … Continuar lendo
Mata matraca catraca (Catarina Cunha)
Cinco e cinco, nasce em noite de lua nova e céu estrelado. O pai ouve o primeiro choro no momento em que um risco de fogo corta caminho pelo meio … Continuar lendo
Asas de graúna (Catarina Cunha)
Não se sabe se Graúna ganhou o apelido por conta da cor de sua pele e cabelos, ou da potente voz soprano, que encantava todos os um mil e quinhentos … Continuar lendo
Silêncio (Catarina Cunha)
Lírios beijados flutuam para Iemanjá. O céu surdo explode esperança. Na areia as pegadas mudas de um ano ruim. Ele chegou manso e sentou-se ao seu lado. Ela suspirou sentindo … Continuar lendo
Ô Bira! (Catarina Cunha)
— Ô Bira, essa cômoda aí amarrada no fusquinha é pra quê? — Fusquinha não, o nome dele é Goiaba. Ele não gosta de ser chamado desse nome aí. … Continuar lendo
A Obradora e a Onça (Catarina Cunha)
O trem abriu as portas na estação com um suspiro. Patrícia pegou o vácuo do aglomerado de pessoas para entrar no vagão feminino. Peito, braço, bolsa, troca de suor e … Continuar lendo
Troca-troca Estelar (Catarina Cunha)
Era uma vez uma estrela que queria ser menino. E um menino que queria ser estrela. A estrela invejava o menino que podia correr sob o sol, nadar na … Continuar lendo
Os Invisíveis (Catarina Cunha)
Um peixe garoupa, revoltado com as más condições de vida na baía da Guanabara, sobe o rio Carioca até a estação do bondinho do Cristo Redentor, onde cria hábitos urbanos. … Continuar lendo
Todas as Vozes da Minha Pia (Catarina Cunha)
— Bom dia, Pedro, como tem passado? Pelas olheiras e a cara amassada não muito bem. Eu já te avisei para não encher o pote, com aqueles teus amigos … Continuar lendo
Cida e a Televisão (Catarina Cunha)
Abrir um crediário é negócio complicado. Só por necessidade. A televisão, de imagem preta tremida e branca fora-de-foco, foi sendo invadida por um exército de fantasmas cinza e, assim, se … Continuar lendo
Entrelinhas (Catarina Cunha)
Um passo largo e outro meio, um longo e outro curto, pular o meio-fio desviando da calçada de pedras inexatas, pretas, brancas, buracos preenchidos, outros nus. Asfalto liso, alívio antes … Continuar lendo
Catarina Cunha
Catarina Cunha nasceu em Maceió em 1963 e mora no Rio de Janeiro. Formada em Direto e RH. É escritora desde os dez anos, mas não entende de literatura e … Continuar lendo
Bichoman (Catarina Cunha)
O fim: Sentado no banco da praça, apreciando o jardim iluminado pelo sol, lambeu a casquinha do sorvete para não escorrer pela mão. Um coelho branco o observava, ou melhor, … Continuar lendo
Evaporando na nuvem (Catarina Cunha)
Fevereiro de 2015: Solicitação de amizade enviada. – Recebi o seu convite. Desculpe-me, mas eu te conheço de onde? – Dq mesmo, tbm sou escritor. Vc teve na Bienal do … Continuar lendo
Favali (Catarina Cunha)
O Senhor Verme orgulhava-se de suas grandes fazendas e indústrias. Os javalis, além de hábeis aradores da terra e grandes produtores de esterco, eram operários resistentes, rápidos e obstinados em … Continuar lendo
2º REC Rio – Crônica (Catarina Cunha)
Talvez seja mais seguro escrever uma crônica sobre o Rio (REC = Resistência Entre Contistas) começando pelas amenidades. Por mais carioca que eu me sinta, não consigo abandonar meus hábitos … Continuar lendo
Todo o meu pedaço (Catarina Cunha)
Ainda com o torpor da vigilância noturna, Etelvino lavou o sorriso pensando no corpo morno de Melissa entre os lençóis sonolentos. Tirou o uniforme e devolveu a arma da firma, … Continuar lendo
Amor de cão – Crônica (Catarina Cunha)
As surras de toalha molhada nem as tapas na cara não o deprimiam, ajudavam a analisar seus erros explícitos ou subliminares: demorou mais de dez minutos para perceber o novo corte … Continuar lendo
Bela (Catarina Cunha)
Hoje é meu aniversário. Mamãe me enfeitou de vestido branco com moranguinhos desenhados. O laço de fita nos cabelos me deixou bem mocinha com os sapatos emprestados da Cinderela. Meu … Continuar lendo
Querido Papai Noel – Crônica (Catarinha Cunha)
Querido Papai Noel, Suzete pendurou a meia-arrastão na janela prendendo cartão decorado com purpurina e preenchido com letra caprichada: Querido Papai Noel, Este ano eu fui … Continuar lendo
Café (Catarina Cunha)
Antes de pensar o dia perguntei-me se haveria outra noite suficiente para alimentar todas as bocas estelares. A mudez solar sepultou todos os meus pensamentos óbvios na cova rasa da … Continuar lendo
Ofício de Ossos – Crônica (Catarina Cunha)
Esmeraldina botou no mundo doze criaturas, oito se criaram, quatro Deus levou ainda anjos. E só não gerou mais porque o marido Cícero, coveiro da cidade, morreu de uma síncope. … Continuar lendo
Hibisco para todos (Catarina Cunha)
Há anos adquiri o hábito de passear nas alamedas do cemitério depois do almoço, lendo as lápides, imaginando a vida daquelas pessoas e sempre terminando meu passeio no túmulo 1672, … Continuar lendo
A Paixão do Demônio (Thales Soares e Catarina Cunha)
“Com Deus me deito, com Deus me levanto. Com a graça de Deus e o divino espírito santo. Amém”, rezou a garotinha em coro com sua mãe, encerrando suas preces … Continuar lendo
Amor de Cobra Lambida (Catarina Cunha e Renata Rothstein)
Nasceu no fim daquela madrugada sob a maresia fria de Copacabana. Jaqueline trabalhou nas ruas a noite toda. Durante a gravidez conseguia muito mais clientes. Homem tem cada tara, pensou … Continuar lendo
E se fosse Eva? (Catarina Cunha)
Uma fina cascata de flores de maracujá alimenta o lago adormecido, enquanto o nascer do sol doura o vale entre montanhas de algodão. Eva enrola uma mecha de seus longos … Continuar lendo
Hora do Arrocho – Crônica (Catarina Cunha)
– Ai! – Desculpa aí. – Não está vendo que não dá para passar… – Não quero passar. Só quero colocar o meu outro pé no chão. – Deu? – … Continuar lendo
Os Nove Céus (Catarina Cunha)
Da concentração Maria vê o tapete branco da avenida. Abre os braços para Oyá pedindo que os raios de Oxum iluminem de verde e rosa a passarela. Os tambores de … Continuar lendo
No ar (Catarina Cunha)
Pouso lentamente a xícara no balcão retardando o contato com o aço na esperança de você se virar. O vácuo do teu vestido arfa na calçada jogando a conivência das … Continuar lendo
Lembranças Futuras (Catarina Cunha)
Despertou com a conversa animada das crianças. Conferiu com afiado olhar paterno se estavam bem. Tomou banho, escovou os dentes e penteou os cabelos. Escolheu o terno de linho branco … Continuar lendo
Não aguento mais gente que não aguenta mais – Crônica (Catarina Cunha)
Antes das redes sociais, quando não queríamos mais ouvir comentários sobre uma determinada notícia, bastava desligar o rádio ou fechar o jornal ou se afastar disfarçadamente do chato do momento. … Continuar lendo
Um quilo de tomates (Catarina Cunha)
— Glorinha, minha flor, precisa de ajuda aí na cozinha? — Mô, vou fazer aquela macarronada que você adora. Vai lá ao mercado rapidinho e traz um quilo de tomate … Continuar lendo
Um pouco sobre a fé – Crônica (Catarina Cunha)
Sou uma mulher de família, sensível e agnóstica por definição. Falo assim, aos poucos, para não assustar o leitor na primeira linha. Na verdade sou uma mulher sem religião, coisa … Continuar lendo
A Nave (Catarina Cunha)
A Nave foi criada através de um estudo que durou meio século. Dotada de atmosfera autorregulável e autolimpante prescindia de filtros. Transparente em toda sua circunferência recebia luz natural regulada … Continuar lendo
Cavalo de Troia (Catarina Cunha)
Com Betão não tem tempo ruim. Encara cave jump, escalada na chuva, mergulho de plataforma de petróleo, mulher ciumenta, chefe burro e turismo no Complexo do Alemão. Sem contar que … Continuar lendo