Um peixe garoupa, revoltado com as más condições de vida na baía da Guanabara, sobe o rio Carioca até a estação do bondinho do Cristo Redentor, onde cria hábitos urbanos. O Rei do Podrão, valente kombi convertida na marra em lanchonete, vulgo “fuditruqui”, gera espetacular lixo com iguarias disputadíssimas entre mendigos, cachorros, ratos, pombos, Purpurina, o peixe esquisitão, e Isca, o camarão-lixo que a garoupa trouxe de carona pendurado em sua guelra. O crustáceo cinza, magro e cheio de lodo, mais feio que bueiro entupido, mas com um coração imenso e um grande sonho: virar camarão VG. Isca comia guardanapos de papel, canudos e copos plásticos. Já o peixe garoupa, apelidado de Purpurina devido ao brilho suspeito de suas escamas, adquirido por ingestão de metais pesados e lustre adicional de óleo de navios do porto, tinha paladar sofisticado, preferia a lixeira dos restaurantes chiques, com destaque para as algas, legumes, verduras e arroz empapado dos japoneses. No entanto evitava os restos de peixe, não era adepto do canibalismo. Lá se juntaram ao jacaré-de-papo-amarelo, vulgo Amarelão, de origem seminobre, nascido na lagoa de Marapendi, às margens de um condomínio fechado onde se alimentava de poodles e buldogues franceses. Imigrou involuntariamente para o Leblon ao entrar em um caminhão de mudança de emergentes. Mesmo adaptado ao lixo dos salões de beleza, comendo cabelo, tintura e esmalte, não conseguia disfarçar suas origens; volta e meia mordia canelas de marombeiras de academia. Não resistia àqueles tênis de marca e meias acolchoadas; saudades de casa. Mas foi o vício em alisante de cabelo a base de formol que estragou sua natureza; o que ferrou com o seu fígado, fritou seu cérebro e lhe valeu a alcunha. Já o gambá Pastor, emigrado do Parque Lage, onde a arte e a luxúria corriam soltas atormentando suas convicções, era o fiel companheiro de Amarelão nas catações de latas. Embora meio tarado por ratazanas, era abstêmio e evangélico, tentava salvar Amarelão do vício, sem sucesso. Por fim, responsável pelos apelidos de todos os moradores de rua do entorno, o flanelinha gente fina Meio-fio, um bi amputado que se locomovia sentado num carrinho de rolimã — ninguém sabe o motivo de ainda não ter sido atropelado — fazia o papel de líder e protetor da mulambada esquisitona. No fim da noite os cinco amigos se reuniam como uma família. Compartilhavam as iguarias conquistadas e dormiam em alguma marquise ainda não gradeada.
A vida passava tranquila com os perigos de rotina: levar corrida de cracudo na larica, fugir do serviço social tentando levar para abrigos municipais, sendo o real objetivo devolver os indesejáveis para a floresta devastada, manguezal assoreado e mar poluído. Fazer social com os locais era importante. Tratar bem as madames para que doassem os restos do almoço. Para espiar a culpa social, traziam as sacolas plásticas com quentinhas abafadas temperadas com perdigotos. Esticavam os bracinhos e entregavam a sacola com os dedos em pinça, não disfarçando o horror do risco de serem tocadas por seres tão nojentos. Purpurina e Pastor as odiavam, mas aceitavam resignados, Amarelão, sempre doidão nada via, mas Isca não se intimidava. Abraçava as velhinhas, chamava de tia, pedia dinheiro para comprar caixa de paçoca para vender no sinal, enfim, enchia o saco e acabava conseguindo alguns frascos de remédio e cartelas metálicas como sobremesa.
Numa tarde de domingo de poucos restos e muita fome, Purpurina e Isca contemplavam a praia ao lado da estátua de um poeta careca que, volta e meia, perdia os óculos. O que não parecia fazer diferença, pois seu olhar se mantinha perdido no nada da cidade. O camarão, deitado no colo do poeta saiu-se com inspirada melancolia:
— Ô Purpa, você já pensou em voltar pra casa? Tipo mergulhar nesse marzão e sair nadando até encontrar um cardume para chamar de seu.
— Que é isso, Isca, essas tampinhas de long neck , que você anda chupando escondido, estão te deixando estranho.
— Na boa, estou falando sério. Sair dessa vida invisível. Furar as ondas, encontrar uma camarão VG, suculenta, parruda, e fazer umas duas mil iscas numa trepada só.
— Não tem volta, pequeno. Se a gente entrar nessa viagem de cartão postal morre engolido no primeiro caixote, tragados pelo engarrafamento de jet ski, prancha de stand up, surfista, todo aquele povo subindo e descendo nas ondas, mijando e pegando marola na mão grande. Passar a arrebentação é uma operação de guerra. Já ouviu aquela máxima do guru vendedor de mate? “Camarão que dorme a onda leva”. O máximo que você pode conseguir é ficar pendurado numa asa-delta.
— Sempre sonhei em voar.
— Se liga, estou falando do biquíni enfiado no rabo que voltou a moda. Não soube?
— Não. Mas gosto de bundões. Camarão VG tem bundão.
— Tu é muito burro, Isca. Tem o que na cabeça, cara?
— Você sabe, afinal sou um camarão.
— Verdade, mas não vou deixar você se matar, amigão.
— Qual o problema de morrer?
— É contigo e a sorte. Eu vou ficar por aqui mesmo. Você é um camarão, já é um milagre ainda estar vivo. Eu sou uma garoupa, posso viver trinta anos.
— De que vale viver trinta anos invisível?
— Bobagem. Esse papo tá me dando fome, vamos ali no quiosque rondar aqueles gringos cor-de-rosa. Vai sobrar limão de caipirinha e copo plástico descartável. Vamos encher a cara!
— Quero ir para casa.
— Tua casa é aqui. Quer voltar para a poça?
— Penso grande. Quero subir na vida, emergir na Barra.
— Imergir.
— Você entendeu. Me ajuda?
— Tá bom, tá bom, para de chorar. Mas vamos precisar de apoio para passar a faixa de areia e chegar no mar. Se a gente tocar naquela areia escaldante vira milanesa instantânea. Em segundos seremos devorados pelas gordinhas das cangas, vão fritar a gente no bronzeador. Posso falar com o Farofa da barraca, ele está me devendo uns rolos.
— Tô fora dos teus rolos. Ainda por cima que esse Farofa vende camarão no espeto. Prefiro não arriscar. E se a gente for pelo Costão da Niemeyer? Lá não tem areia.
— Perigoso até para iniciados como nós. Mas vamos que vamos.
Foram andando pelo calçadão chupando limão de caipirinha. Deram um tempo no Coqueirão para apreciar o pôr-do-sol, bateram palmas e seguiram rumo ao costão. Entraram na ciclovia interditada apreciado a ressaca do mar batendo na laje.
As ondas foram crescendo e os dois rindo, desviando da espuma e gritando “Olé!”.
Camarão abraçou Purpurina e segredou: “A felicidade é líquida, amigão”. Em seguida uma onda gigantesca jogou a ciclovia para cima. Os dois voaram na turbulência da espuma. A garoupa ainda segurava o camarão pelos bigodes guando sentiu a pele raspando nos mexilhões da encosta. Breu e silêncio.
O dia amanheceu despenteado e em frangalhos. Purpurina acordou pendurado pela guelra num vergalhão do resto da ciclovia desabada. Procurou por Isca em todo lugar, gritou seu nome até cair de joelhos em prantos. Só as ondas socando as pedras respondiam: “Não sei, não sei”.
Os dias depois da tragédia foram preenchidos por uma névoa de saudade. A Garoupa não podia ver uma guimba de cigarro ou tampinha de garrafa sem o inevitável mergulho na lembrança do amigo. Amarelão e Pastor tentaram animar Purpurina, Meio-fio fazia cafuné no bicho, mas nada o arrancava do canteiro da lanchonete preferida de Isca. Dormia o sono leve da culpa, até que sonhou com o camarão se despedindo, voando em uma asa-delta. Entendeu que precisava deixar o amigo ir. Voltou ao Costão levando um canudo plástico como oferenda. Olhou o horizonte, respirou fundo e soltou a voz embargada:
— Vai em paz, camarão do bem. Vou sentir sua falta, seu isca podre desgraçado.
Afastou as lágrimas com a barbatana e perdeu o olhar no mar. Observou uma mancha se mexendo embaixo d’água. Um enorme cardume de minúsculos camarões nadavam bravamente contra a rebentação. A velha garoupa fechou os olhos e sorriu.
A história narra a desventura de animais que representam os excluídos sociais. Dentre as criaturas, um camarão que decidiu tentar a sorte na capital do Rio de Janeiro descobre que sua escolha não lhe trouxe felicidade, e decide voltar para casa. A missão, contudo, é complexa e perigosa. Ao final, resta a dúvida se o animal conseguir voltar para o lar ou se morreu na tentativa.
Oi, autor.
Comigo a história não funcionou muito bem. Acredito que existam alguns problemas estruturais que impeçam uma apreciação melhor do texto. A princípio, os problemas estruturais parecem vir do limite de palavras, mas essa explicação não é satisfatória, já que o conto abriu mão de quase mil.
Acho que o primeiro parágrafo é um elo fraco no texto como um todo. Aqui você mostra de maneira um tanto direta quem são os personagens da história, criando um parágrafo enorme (quase um terço do conto!) com um monte de gente que não tem praticamente relevância nenhuma no restante do texto. Isso é complicado, porque ao mesmo tempo que o texto se apresenta como uma comédia fantástica ele também se propõe a críticas sociais através dos personagens… Mas elabora muito pouco os mesmos para que a crítica seja contundente. Achei-a, portanto, superficial, e mesmo um tanto quanto deslocada da aventura da história. Talvez isso se explique justamente pelo não desenvolvimento dos outros personagens.
Comigo algumas piadas funcionaram, principalmente as presentes no diálogo de isca e garoupa, aqueles que foram melhor desenvolvidos no texto. De resto, acho que as piadas não pontuam muito bem novamente pela falta de um desenvolvimento mínimo dos personagens. Eles ficam rasos e superficiais, o que não combina com um texto que propõe uma crítica social.
A impressão que tive é que a história foi construída um pouco as pressas e muito pouco retocada. Se for o caso, é uma pena, porque havia material e qualidade (perceptível nos diálogos) do autor para fazer algo melhor.
De toda forma, gostei do encerramento do texto. Como nota ficam 2,0 o um anéis.
Mano, que conto bom!
Fantasia com crítica social, achei emocionante a história de amizade entre Isca e Purpurina, mas tudo que você, autor (a) trouxe nas linhas com tanta leveza para um tema tão pesado, fez o ponto certo do conto.
Esplêndido.
Parabéns!
O corpo é a beleza, a forma, o mensurável, o moldável. A alma é a sensibilidade, os sentimentos, as ideias, as máscaras. O espírito é a essência, o imutável, o destino, a musa. E com esses elementos, junto com meu ego, analiso esse texto, humildemente. Não sou dono da verdade, apenas um leitor. Posso causar dor, posso causar alegria, como todo ser humano.
– Resumo: Purpurina é uma garoupa. Cansado de viver na baía da Guanabara, vai viver nas ruas ao redor da estação do bondinho do Cristo Redentor. Junto com Isca e sua trupe, sobrevive nas ruas, vivendo do seu jeito, sem dar satisfação pra ninguém. Há certa satisfação, aliás. Talvez a liberdade o realize. Mas Isca sente que aquele não é seu lugar. Depois de convencer Purpurina, vai até o Costão do Niemeyer, nunca tentativa de alcançar o mar. Porém, depois de uma tragédia, some. Assim acaba a história, com Purpurina em luto pelo amigo e aprendendo a seguir adiante.
– Corpo: A escrita não é ruim, vou te falar, mas o conto não me cativou. Em partes, foi por causa da história, mas atrevo a afirmar o seguinte: sua narrativa não é muito atraente. Tecnicamente, não apresentou nenhuma falha, porém, faltou aquele brilho que o colocaria em destaque. Não sei explicar isso, mas alguns escritores conseguem escrever com tanto carisma que, afinal, a leitura se torna prazerosa em todos os sentidos, mesmo que o enredo não seja do seu agrado. A experiência final sempre será marcante. Acho que esse é o maior problema de muitos autores aqui, incluindo-me nisso. Ainda não encontramos aquele fator de brilho. Talvez ainda estamos presos a certas correntes. Não sei…
– Alma: A história não foi do meu agrado — início explicativo demais, tanto que cansa; meio sem muito desenvolvimento, com personagens secundárias que, seguindo o exemplo do título, tornaram-se completamente invisíveis para mim; e final que começa muito bem e termina de forma extremamente broxante, com a despedida clichê com lágrimas e tudo —, mas achei muito interessante como você conseguiu fazer o conto soar como uma fantasia e tudo pode ser considerado, ao mesmo tempo, como uma boa metáfora aos nossos miseráveis. Diferente de Brejo da Cruz, deste certame, que não consegui encarar como uma fantasia. Talvez, se o foco fosse unicamente em Purpurina e Isca, o conto poderia ser melhor. A ambientação no Rio de Janeiro não é um problema, nunca será, mas a utilização de muitos lugares específicos acabam limitando a imaginação do leitor, principalmente aquele que não conhece a cidade. É uma faca de dois gumes.
– Espírito: Para mim, os dois temas estão aplicados no conto, apesar de não achar engraçado, vi algumas situações irônicas que me agradaram. O bom desse tipo de conto é que podemos fazer críticas sociais sem forçar a barra. Fica mais fácil.
– Conceito: Prata!
Resumo: Uma trupe de amigos nada convencionais tenta sobreviver no Rio de Janeiro, enquanto um deles sonha em voltar para o mar.
Admito que foi um conto difícil de ler. Para comentar eu fiz a leitura três vezes. O primeiro parágrafo é gigante, o que dificulta a atenção. E os personagens, tão diferentes, causam um estranhamento que é um outro motivo para a dificuldade. Mas a mensagem do conto está clara, lembra a metáfora dos Ratos de Dyonélio Machado. Gostei dessa visão de um Rio que não está no cartão postal e a comédia está presente, nessa acidez debochada do texto. O final foi bonitinho, me lembrou quase uma cena de filme Disney. Parabéns pelo trabalho!
ps: Não sabia o que eram camarões VG. Obrigada pela informação.
Os Invisíveis (Guelrio)
Sinopse: O conto conta a história de alguns amigos, mas especialmente do peixe Purpurina e seu amigo camarão Isca. Eles são moradores de rua e sobrevivem comendo lixo. Isca tem o sonho de voltar para casa e Purpurina tenta ajudar. Os dois são vítimas de uma tragédia que acaba levando Isca embora, não se sabe se para casa ou para o além.
Olá Autor(a)!
Seu conto ficou entre a comédia e a fantasia. Como comédia não me fisgou (nenhum até agora) e como fantasia ficou muito firmado na realidade. Isso é um elogio, já que seus personagens ficaram tão reais que imaginei-os como humanos, na minha cabeça eram todos meninos de rua, e ficou tão real que chegou a doer. É difícil deixar um conto que é explicitamente de fantasia tão espelhado na realidade. Parabéns! Um ótimo conto!
Resumo: criaturas marinhas humanizadas lutam para sobreviver no dia a dia do Rio de Janeiros, alimentando sonhos, sufocando esperanças, até serem arrebatadas pela realidade.
Impressões: gostei muito deste conto. Chego a pensar que é um dos melhores, senão o melhor, do desafio. Isso porque foge do clichê, do enredo que permeia nove-entre-dez contos por aqui, de fantasia clássica, de comédia escrachada. A trama aqui é muito inteligente porque mistura como nenhum outro texto o universo fantástico dos seres marinhos com a comédia de costumes tipicamente cariocas. Mas o texto é muito mais do que isso. Há nele uma fortíssima crítica social embutida, digo, inteligentemente embutida, presa nas entrelinhas, mas que se solta vagarosamente ao leitor mais atento. O conto, na verdade, é uma espécie de “Capitães da Areia” vertido para o mundo aquático, em que Salvador dá lugar ao Rio de Janeiro. No entanto, os meninos ainda estão lá, se fodendo até dizer chega para conseguir as migalhas, todavia travestidos como peixes. Como no famoso romance do mestre Amado, apesar de tudo esses excluídos mantêm a esperança de dias melhores, mantêm a união, ajudam-se, irmanam-se. O final, com a queda da ciclovia, é o melhor do texto, com o clima de despedida, de impotência, de sonhos desfeitos. Muito foda. Senti uma pontada aqui, sério. Um conto que faz rir e te provoca uma lágrima em seguida. Olha, meus parabéns. Este é o conto que eu queria ter escrito (embora fuja totalmente ao meu estilo).
RESUMO: O conto tem como protagonistas alguns peixes e um camarão, amigos que embora de origem marítima, passam por vidas urbanas, como um grupo marginalizado da sociedade. Certo dia, camarão e peixe conversam, o primeiro imaginando o que seria uma vida de volta ao mar. Apesar dos avisos do amigo, abraça o seu desejo e volta ao oceano, deixando o entristecido peixe para trás. O conto se encerra com o garoupa vendo alguns camarõezinhos no mar, lembrando-se do amigo com um sorriso.
COMENTÁRIO: Aqui, a vida de alguns animais marítimos é “reimaginada” a partir da marginalidade urbana, com o elemento específico da poluição dos mares desempenhando um papel importante e pertinente na história. É uma abordagem criativa e que o autor soube inserir algumas particularidades que servem muito bem como mesclas dos dois universos que o conto funde.
A execução, no entanto, não entusiasma. O parágrafo inicial se delonga demais ao apresentar as personagens, em que o lance criativo de imaginar os peixes como indivíduos da cidade grande rapidamente deixa de deslumbrar ou intrigar. O desenvolvimento da ideia também confunde, com os peixes pedintes parecendo por um certo momento deixar de serem peixes para serem pessoas, que é quando o enredo fica mais “humano” e se abandona um pouco o seu lado marítimo, a retomada desse lado sendo igualmente confusa. A separação dos dois amigos tem o seu impacto por efeito do diálogo entre os dois ter sido bem escrito, de forma leve e fluida, mas não o suficiente para retomar o ânimo para a leitura. Perdendo o interesse do leitor, piadas internas ou timing, o conto que pareceu se propor como uma comédia não alcança o seu objetivo.
Boa sorte!
Resumão:
Cinco camaradas de rua que se reúnem todas as noites para se confraternizar. Um dia Purpurina e Isca estão curtindo a vida, bêbados, felizes, apreciando um por do sol maroto, eles resolvem andar pela ciclovia interditada, para o seu azar, o mar arrebenta e destrói tudo. Purpurina sobrevive, mas Isca se vai, levado pelo mar.
Comentários:
O primeiro parágrafo eu achei uma bagunça só. Dava para ter separado em mais parágrafos. Fiquei mais perdido do que cego em tiroteio. Pareceu que você jogou um monte de palavras em um liquidificador e despejou o conteúdo ali.
Ficou mais enxuto no segundo parágrafos, mas continuo perdidão.
“levar corrida de cracudo na larica, fugir do serviço social tentando levar para abrigos municipais, sendo o real objetivo devolver os indesejáveis para a floresta devastada, manguezal assoreado e mar poluído.”
Li umas cinco vezes e não entendi. O que eles tentam levar para os abrigos municipais? Os cracudos? Acho que dava para dar uma melhorada, deixar mais direto, eu sei que a floreada é pra ser engraçado, mas eu só fiquei perdido e a piada perdeu o efeito.
Aí vem o diálogo, eles seguem a mesma pegada da escrita, mas aqui fica perfeito. Dá pra visualizar bem os dois loucões conversando entre si de uma forma que está a margem da sociedade.
O texto continua mesmo confuso, mas aqui dá pra entender melhor, mas acho que podia ser mais direto.
Eu achei interessante a história. Na minha opinião, os parágrafos estão muito cheios de coisa, o que me deixou confuso. Outra coisa que não gostei foi o excesso de personagens, no inicio você apresenta 5 (Purpurina, Isca, Amarelão, Pastor e Meio-fio), mas a história só tem dois, podias ter focado mais nos dois principais e esquecido o resto que não servem pra nada. Assim a gente criava uma maior empatia pelos personagens e sentia uma tristeza com a desgraça.
A ideia é muito boa, mas na minha opinião, dava pra ter trabalhado melhor.
Boa tarrrde, td bem?
Resumo:
Uma dupla meio estranha, um peixe garoupa e um camarão, junto de sua trupe composta por um gambá, um jacaré e um flanelinha bi amputado, vivem as mazelas do esquecimento dos moradores de rua. O conto todo me pareceu uma metáfora que, ainda que bem humorada, retrata bem a triste realidade da vida nas ruas, relegada à invisibilidade.
Comentario:
Gostei do conto. Pra começar, devo dizer que precisei ler mais de uma vez na tentativa de entender se os personagens são animais ou pessoas. Mesmo após a segunda leitura, não tenho certeza. Mas, pensando bem, acho que o autor não quis deixar isso explícito, deixando pra nossa imaginação.
Acredito que o conto se enquadre bem em comédia, uma vez que eu achei um tom muito divertido e até mesmo carismático na escrita. Você não precisou encher de piadas e trocadilhos pra atingir o efeito de humor desejado. Muito bem!
Quanto ao enredo, acredito que, se tratando de comédia, fica de bom tom um enredo mais simples e com pouca construção ou reviravolta. Achei suficiente.
O final é bem bom! A cena do peixe sorrindo ao observar os filhotes de camarão nadando foi muito boa e impactante.
Um comentário que faria é que achei os parágrafos meio longos. Talvez dividi-los combinasse melhor com o estilo descontraído e fácil da leitura.
Enfim, bom conto de comédia, com uma certa crítica social e que pra mim, apresentou uma sutil e até mesmo tocante metáfora. Parabéns e boa sorte!
Resumo: Garoupa abandona o mar e vai viver nas ruas da cidade, onde encontra um camarão que quer voltar para o mar. É um texto que fala do afluxo migratório das zonas mais rurais para as grandes cidades. Creio ter percebido a maioria das expressões, mas percebi o sentido do texto – o sentido universal do texto. Este fluxo migratório existe em todos os países minimamente civilizados e acaba com cidades superpovoado e expectativas por cumprir. O texto é rico e flui bem.
“A vida passava tranquila com os perigos de rotina” para “cinco amigos que se reuniam como uma família e compartilhavam iguarias conquistadas”: um peixe garoupa, um camarão-lixo, um jacaré-de-papo-amarelo e um gambá. Todos haviam desenvolvido hábitos urbanos. O camarão morre e os amigos sentem sua falta.
O texto pareceu-me uma crítica à falta de atenção com moradores de rua, imigrantes pobres, “invisíveis” para sociedade. Eles passam fome, sofrem com o preconceito das pessoas e são negligenciados pelo Poder Público — acabam por criar uma rotina na miséria.
O conto construído em realismo fantástico desperta uma versão mais pitoresca da realidade, que ajuda a sair dos momentos chatos, com mais facilidade e intensidade. O/a autor/a é um realista simbólico. Fiquei entre o emotiva e o galhofeira.
Cenas bem construídas, diálogos críveis, texto bem escrito; o cuidado com a palavra é percebido — um bom conto, em que senti falta, apenas, de um maior impacto e com final meio previsível.
Parabéns pela imaginação. Boa sorte na Liga. Abraço.
Os Invisíveis (Guelrio)
Resumo:
A história tem como “trupe” o “baixo clero” da fauna que vive nas profundezas imundas da Baía de Guanabara. O autor descreve, com sofrido realismo, uma fantasia triste. Purpurina (“peixe esquisitão”) e Isca (“camarão-lixo”) eram inseparáveis. Conversavam, discutiam, filosofavam. Isca é mais depressivo, a força moral do peixe é fundamental para animar o amigo. Um dia, passando pelo Costão, entravam na ciclovia interditada (deve ser a Tim Maia), veio uma onda gigantesca que separou os amigos. Depois de um tempo, recuperada, Purpurina procurou por Isca, incessantemente. O amigo camarão foi tragado pela onda. O final é de tirar lágrima. Ou de dar nó na garganta.
Comentário:
Leitura deliciosa, um presente. Uma história bem contada, bem articulada, descrições que prendem a atenção do leitor. Enredo atual, uma fantasia bem “realista”, se é que pode ser possível… Aprendi uma nova palavra: “perdigoto”. Não vi deslizes de escrita, apenas pontuação meio intempestiva. Não se assuste, acho que intempestiva é a minha… Gostei muito quando narra, descompromissado, sobre os óculos de Drummond (“O que não parecia fazer diferença, pois seu olhar se mantinha perdido no nada da cidade. O camarão, deitado no colo do poeta, saiu-se com inspirada melancolia:”). Não sei se foi descompromissado. Entrecontista sabe das coisas. O mais interessante da narrativa é que, apesar de conter um teor tão triste, há encanto e leveza no modo de contar. Há certa intenção de divertir o leitor. E deu certo. O conto é um primor, se não houve choro, o danado ficou entalado na garganta. Emocionante. Parabéns pelo trabalho!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
RESUMO: A história de cinco amigos bem inusitados e sua luta para viver e se adaptar no ambiente urbano. Até que um deles, já casado de tudo, resolve se aventurar e voltar à natureza. Com ajuda do amigo, eles iniciam a empreitada, mas um acidente os separa e deixa a dúvida se um deles morrera ou se está feliz, rumo a felicidade.
COMENTÁRIO: O conto tem uma premissa bem interessante. A leitura descontraída e os diálogos condizentes com o clima de crônica bem-humorada. Entretanto, o primeiro ato é muito grande, denso. As histórias parecem se atropelar uma em cima da outra, e não há pausa para o leitor assimilar o que está lendo. O segundo ato segue um pouco menos sufocante, mas ainda muito denso. O texto me pareceu muito contínuo e a falta de pausa para respiro diminuiu a reflexão de se tratar de animais mesmo, ou uma metáfora para pessoas da vida.
Também fiquei na dúvida quanto ao tema do conto. Não consegui encaixá-lo na fantasia e tampouco na comédia. Talvez um híbrido entre ambos.
O enredo me pareceu correr demais e apresentou vários personagens, que ficaram sem função na história, pois só acompanhamos a garoupa e o camarão. Gostaria de ver mais aventuras da turma reunida.
A premissa é muito boa, mas a meu ver, precisa ser trabalhada com mais calma, mais desenvolvida e com mais parágrafos para o próprio leitor não se sentir sufocado.
Grande abraço!
Caro, Guelrio, você me apresenta uma comédia fantasia sobre uns bichos que, sofrendo com a degradação dos seus ambientes, vão viver aos pés do Cristo Redentor, próximos ao Podrão da Kombi do food truck. Vivem por lá a garoupa Purpurina, o Jacaré psicodélico Amareláo, o gambá que é também evangélico e ganhou o apelido de pastor, o camarão cheio de lodo com apelido de Isca e o homem, sem pernas, o meio-fio, que os coordena. Vida que segue e o Isca camarão quer retornar para uma visita ao mar. Purpurina o leva e, nas agruras do Rio de Janeiro, acontece a tragédia do despencar da ciclovia e lá vão para as profundezas negras do mar os dois amigos. Garoupa perde o amigo, mas vê que ele se deu bem ao ver o cardume de pequeninos camarões nadando a lutar contra a arrebentação. Seu conto, Guelrio está duplamente inserido no contexto. Faz parte do tema não só como fantasia, bem como também como comédia. Nesse caso da sua narrativa, reparo que sobressai-se a comédia. Você tem as manhas de escrever. Usa muito bem a nossa língua. Apresenta também boa técnica literária. A trama é simples e fantasiosa, brinca com as coisas da cidade do Rio de Janeiro, tipo a estátua do Drummond, seus óculos perdidos, as praias e orlas lotadas… Agora, senti falta do impacto da sua história em mim. Como comédia (muito mais por minha culpa, obviamente) tive dificuldades para achar graça nas cenas. Como fantasia, também senti que faltou algo que me fizesse abraçar a causa (no caso os bichos e suas vicissitudes na cidade).
Os Invisíveis
Caro(a) autor(a),
Desejo, primeiramente, uma boa primeira rodada da Liga Entrecontos a você! Ao participar de um desafio como esse, é necessária muita coragem, já que receberá alguns tapas ardidos. Por isso, meus parabéns!
Meu objetivo ao fazer o comentário de teu conto é fundamentar minha nota, além de apontar pontos nos quais precisam ser trabalhados, para melhorar sua escrita. Por isso, tentarei ser o mais claro possível.
Obviamente, peço desculpas de forma maneira antecipada por quaisquer criticas que lhe pareçam exageradas ou descabidas de fundamento. Nessa avaliação, expresso somente minha opinião de um leitor/escritor iniciante, tentando melhorar, assim como você.
PS:Meus apontamentos no quesito “gramática” podem estar errados, considerando que também não sou um expert na área.
RESUMO: O conto “Os Invisíveis” aborda a história de Camarão e Purpurina, seres marítimos que viviam marginalizados dentro da cidade, já que seu espaço natural encontra-se extremamente poluído pelas ações humanas.
IMPRESSÃO PESSOAL: Esse é um conto alegórico bastante inteligente, com inúmeras criticas à sociedade e ao atual estado no qual se encontra o Rio de janeiro. O estilo de escrita é muito bom, embora, pessoalmente, eu não seja fã de parágrafos muito longos. Entretanto, senti falta daquele elemento que prende a atenção do leitor, cativando a curiosidade.
ENREDO: O enredo é muito bom, com um desenvolvimento natural e uma conclusão singela. Não notei nenhum furo na narrativa.
GRAMÁTICA: Também não notei nenhum erro gramatical.
PONTOS POSITIVOS
• Críticas sociais e (políticas?) com muita pertinência, ainda mais considerando o estado no qual a cidade se encontra
• Nesse conto, a fantasia se misturou com a realidade, mostrando um fato tão surpreendente como a queda de uma ciclovia que podia ter acontecido somente numa história fantasiosa…
• O talento do(a) autor(a) fica evidente na técnica de escrita. Talento primoroso
PONTOS NEGATIVOS
• Quem gosta daqueles contos que prendem a atenção do leitor pode-se decepcionar um pouco com a história.
Os Invisíveis- conta a história de um grupo de peixes que vivem na orla marítima, entre a poluição da praia, comendo os restos de comida deixado pelos banhistas. Um dia o camarão decide ir para alto-mar e pede para a garoupa acompanha-lo, mas no caminho eles se perdem. Com o sumiço do camarão, a garoupa fica com saudades, mas um dia ele vê um cardume de camarões no mar e acha que seu amigo está junto.
O conto também é uma crítica à poluição dos mares e rios. Os peixes convivendo com a poluição. A história é contada com bom humor, alguns lances são bem engraçados. Gostei, não é nada absurdo, bem coerente as piadas. A escrita é simples, mas a inventividade é bem grande e original. Os diálogos também são bons. As situações são bem descritas e colocadas, como a piada da asa delta, os peixes se desviando da espuma e gritando “olé”, o dia amanheceu despenteado e em frangalhos, etc. Só não gostei dos nomes dos peixes. Boa sorte no próximo tema.
Caro Guelrio,
Resumo:
desvalidos se reúnem em torno das suas desgraças para, com restos de alimentos que podem encontrar pela cidade, continuarem tocando a vida.
Avaliação:
um conto que mimetiza em animais as desgraças da vida dos pobres da cidade do Rio de Janeiro (do mundo, talvez). Certamente uma comédia que trilha o caminho do bizarro e do exagero para mostrar as dificuldades de tantos lutando contra sua invisibilidade social.
Vivendo justo em Copacabana (local onde se passa o conto – parte dele.), não é difícil saber quem são os personagens que transitam pela história, e se erro, não é por muito, mesmo que o autor não tenha objetivado alguém em especial.
Uma comédia que transita com graça pela desgraça de alguns.
Ficou legal.
O uso do recurso de trazer animais para a história, mimetizando-os ao comportamento dos homens é um recurso que pode render bons resultados, particularmente pela maleável plástica do caráter de cada um deles. O autor abdicou disso, não associando nenhum animal a um comportamento humano, tratando a todos no “bruto” o comportamento de cada um. Falo, por exemplo, da fidelidade dos cães, da inteligência dos golfinhos, da independência dos gatos, e por aí vai. Imagino que isso poderia levar ao conto um ganho em possibilidades.
Parabéns e boa sorte na Liga!!
RESUMO: Um conto que mistura a fantasia das fábulas com uma pequena comédia carioca (?), rodando em volta da vontade de um camarão voltar para a casa no mar e deixar de ser invisível num mundo de humanos.
COMENTÁRIO: Que incrivel o conto mano, eu demorei um pouco para perceber que os animais eram animais no começo, estava pensando que os nomes eram apelidos a um modo “Capitães de Areia”, tudo no conto me atraiu, a maneira da narração, os diálogos, a ambientação a introdução dos personagens.
Um Excelente conto e um Abração