EntreContos

Detox Literário.

Meu Passaporte em Dublin (Mr. Silva)

Tirar o primeiro passaporte foi uma das coisas mais tensas que fiz na vida. Banho tomado, barba, cabelo e bigode dignos de uma entrevista de emprego. Por via das dúvidas, meias e cuecas brancas e novas; vai que rola uma revista íntima.  Mas foi tudo tão rápido que fiquei um pouco decepcionado, sabe? Não deu nem para piscar na foto.

Checando passaporte, seguro viagem, hospedagem, passagem de ida e volta, cópia do passaporte na mala, cópia do passaporte na doleira e cópia do passaporte na meia; na cueca não.  Cinco mil euros, uma fortuna para um professor e economizado aos tropicões, pesavam dentro da doleira como uma bigorna abaixo da barriga. A cada movimento precisava checar com as mãos se o volume estava lá, já que a proeminente barriga não permitia contato visual. Não dormiria no voo, assim passou as seculares quinze horas com as mãos sobre o passaporte e o dinheiro, olhando fixamente para o aviso de manter o cinto afivelado.

Na fila da imigração achou que iria desmaiar quando um gigante rosado dirigiu-lhe a palavra.

“Excuse me”

 Foi logo entregando todos os documentos, levantando os braços e já estava tirando a doleira quando o homem passou direto por ele. Ufa, alarme falso. Onde está meu passaporte? Ah, está aqui. Checagem, checagem, checagem.

“Good morning, Mr. Silva, welcome to Dublin, have a good stay”

“Gudiu e tenquiu pra você também”.

Cadê meu passaporte? Ah, está aqui, checando carimbo, doleira, endereço do hostel. Todo mundo me avisou para cuidar muito bem de meu passaporte porque o passaporte brasileiro vale milhões, em euros, no câmbio negro, ou algo assim, porque brasileiro pode ter qualquer aparência, pode ser branco, amarelo, preto, azul ou verde. Não existe cara de brasileiro e sim passaporte brasileiro. Ciente de que seu passaporte valia mais do que sua própria vida, decidiu não pegar transporte público, só táxi. Até porque nunca viu tanto táxi na vida.

No Hostel conferiu se não tinha câmeras no quarto, se a porta fechava bem, se não tinha ninguém embaixo da cama, água quente, frigobar, TV. Cadê meu passaporte? Ah, está aqui. Checagem, checagem. Pronto, sonho realizado, agora é só relaxar. Lá mesmo conheceu uma turma de brasileiros e foi se enturmando. Gente descolada, ele ali solteirinho, cheio de amor para dar e um mundo de possibilidades aos seus pés. Afinal estava ali para isso, abrir a mente para novos cheiros e culturas.

Vamos todos para a rua, e como não pode consumir bebida alcoólica nas ruas, fomos maratonando todos os pubs da cidade. Entrava em ônibus, descia em um pub, subia em um tal de Luas e descia num pub, entrava em trem esquisitão Dart, descia num pub na praia. Foi aí que bateu um frio irlandês nos costados, então distribuíram uma balinhas coloridas com um líquido azul. Corremos para mais um pub que se movia muito lentamente, gente bonita de todos os lados dançando, sumindo e reaparecendo entre frenéticas moscas volantes. O grupo foi crescendo e tinha lote de orientais, outro de indianos, alguns nitidamente marcianos; ou brasileiros, eu não sabia mais de nada. Só tinha a consciência que estava na festa interfásica, pica das galáxias, mais legal do Universo. 

Frio e névoa. Todo mundo sentado no chão. Latinos se comunicam só para constatar que ninguém sabe o que está acontecendo. Orientais sacam seus smartphones e tablets, olham para o céu concluindo que também não sabem de nada. Um jovem de olhar triste, muito branco, alto e magro tenta se comunicar sem sucesso. Rapidamente é apelidado de Drácula e adotado pela trupe de brasileiros.

Um cara com uniforme de Sargento Pimenta sopra um apito. Fala uma frase em mandarim, japonês, coreano, algo assim. E todos os de olhos puxados exclamam OHHHH e o seguem felizes. Depois os indianos, em seguida os franceses, os espanhóis e argentinos são chamados pelo misterioso apito poliglota. Enfim sobra os de língua portuguesa, brasileiros e o Drácula. Já estávamos todos de pé esperando o apito, que enfim veio: Priiiiiiiiii!!!! “

“Atenção portugueses perdidos e seus colonizados, sigam-me, por favor.” Não gostei desse papo de “colonizado”, cara-pálida. O Sargento Pimenta nem se mexeu. Na dúvida melhor segui-lo.

O Drácula ia ficando sozinho, mas alguém puxou ele pela mochila.

A porta  do meu quarto estava aberta,  um casal dormia na minha cama e outro no tapete.

Cadê meu passaporte? Ah, exatamente onde coloquei, embaixo do travesseiro, assim como todos meus pertences intocados.

Dormi durante todo o voo de volta com o passaporte no bolso da camisa, caso alguém quisesse consultá-lo não precisaria me acordar. Drácula? Foi seduzido por um pernambucano arretado, abriram uma pousada em Porto de Galinhas, onde adotaram uma penca de filhos e viveram felizes para sempre.

Sobre Fabio Baptista

12 comentários em “Meu Passaporte em Dublin (Mr. Silva)

  1. Queli
    10 de maio de 2024

    Amei o conto. Adorei a forma de descrever a tensão do pobre professor. Amei brasileiro não ter cara de brasileiro, kkkkk

    Tema ok. Entrego excelente.

    A leitura flui, delícia ler. Pecou por alternar acresceria em primeira e terceira pessoa, mas não tirou o brilho da história.

    Adorei! Parabéns e boa sorte!!!

    • Queli
      10 de maio de 2024

      Corrigindo meus erros acima, escrever pelo celular da nisso:

      Tema ok. Enredo excelente.

      A leitura flui, delícia de ler. Pecou por alternar entre a primeira e a terceira pessoa, mas não tirou o brilho da história.

      Adorei! Parabéns e boa sorte!

  2. Marco Saraiva
    9 de maio de 2024

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    ———————————

    Avaliação

    Um conto simples. Uma historia que te amarra bem rapidinho em uma viagem, e logo em seguida te solta com um sorriso. Gostei da leitura, mas queria que fosse mais longa! Ela termina meio do nada, sem desenvolver muita coisa, mas foi divertida enquanto durou =)

    TÉCNICA ●●◌ (2/3)
    Por mais simples que seja a escrita deste conto, ela foi muito bem colocada. Passou toda a ideia do nervosismo da primeira viagem internacional, da loucura das festas quando se esta viajando sozinho, etc. Um conto escrito em primeira pessoa com toques de fluxo de consciencia. Pegou muito bem para a leitura!
    So nao gostei da confusao que a escrita causa quando voce decidiu misturar primeira pessoa com terceira pessoa. Apesar de a estetica da escrita ter sido boa para manter um ritmo na leitura, essa confusao de ponto de vista as vezes me fazia parar de ler para entender o que estava acontecendo.

    HISTÓRIA ●◌◌ (1/3)
    A historia nao tem muita coisa. “Mr. Silva” viaja, fica nervoso com a viagem, vai em uma festa e tudo fica bem. Nada de mais!

    TEMA ●● (2/2)
    O tema “viagem” ficou bem claro aqui.

    IMPACTO ◌ (0/1)
    Nao ficou muita coisa depois da leitura, por que o conto nao se conclui! Parece uma ideia realmente cortada pela metade, como se o escritor estivesse escrevendo perto da meia-noite do ultimo dia para entrega, e enviou o que tinha conseguido escrever antes de perder o prazo.

    ORIGINALIDADE ● (1/1)
    Curti a ideia e a execucao. Eh bem original!

    Trecho inspirado

    “Cadê meu passaporte? Ah, está aqui, checando carimbo, doleira, endereço do hostel. Todo mundo me avisou para cuidar muito bem de meu passaporte porque o passaporte brasileiro vale milhões, em euros, no câmbio negro, ou algo assim, porque brasileiro pode ter qualquer aparência, pode ser branco, amarelo, preto, azul ou verde. Não existe cara de brasileiro e sim passaporte brasileiro.”

  3. Thiago Amaral
    8 de maio de 2024

    Olá, Mr. Silva

    Eu gostei bastante da primeira metade do seu texto, ou seja, de toda a preparação para a viagem.

    A preocupação com o dinheiro e o passaporte foram muito bons. Me identifiquei bastante, já que sou bem obcecado em não perder as coisas quando estou viajando.

    Aliás, esse conto tem cara de ser autobiográfico, por esse e detalhes como o Drácula, que parece curioso demais pra ter sido inventado.

    No entanto, achei que muita expectativa foi criada, mas não foi suprida. Estávamos esperando muito da viagem, mas no fim me deu a impressão que ele ficou uma noite em Dublin e foi embora. Talvez se você tivesse tirado nossas expectativas um pouco, com um flash foward falando quanto tempo foi, ou que contaria uma noite específica, teria controlado um pouco nossas reações.

    No fim, gostei por causa da linguagem gostosa e das obsessões divertidas. Se fosse mais longo, teria dado mais nota. Do jeito que está, fiquei querendo mais.

    Obrigado pela participação, até a próxima!

  4. Givago Thimoti
    6 de maio de 2024

    MEU PASSAPORTE EM DUBLIN (MR. SILVA)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    IMPRESSÕES INICIAIS

    Que história curtinha, por quê??? Ao som de gaita de foles, dança irlandesa, uísque irlandês, um tal de Michael Douglas (ou algum alucinógeno do tipo)… Agora, uma viagem longa dessas, tão curta? Com tanta experiência… com tão pouco cuidado…

    HISTÓRIA  (1,5/3)

    “Meu Passaporte em Dublin” é um conto que narra a história de uma viagem para Dublin, Irlanda, de um professor brasileiro. Dessa forma, o conto acompanha desde a apreensão pelo passaporte, a ida no voo, passar pela parte de imigração no Aeroporto da Irlanda, uma gandaia num barzinho, usos de drogas, ser pego pela polícia, passa algum tempo na cadeia, volta para o hostel e depois retorna para o Brasil.

    A história é leve, engraçada, bem-humorada e divertida. Para uma viagem de um professor, que era tão esperada, um sonho (e etc…), essa história é curta, curtinha. Tão curtinha que chega a dar dó. Podia ter sido melhor trabalhada. Não só isso, podia ser melhor desenvolvida, no sentido de mostrar mais para o leitor.

    TÉCNICA  (1,25/3)

    O grande ponto positivo do conto, pelo menos na minha opinião e nesse quesito, é a escrita leve e despretensiosa. Combina com o clima de breve relato de viagem.

    Agora, o grande problema do conto: a escrita não está boa em termos gramaticais. Por exemplo, lá na frente do trecho que destaquei como interessante, deu para perceber um erro de concordância “uma balinhas coloridas”.

    Outro erro: o texto ora está na primeira pessoa, ora está na terceira pessoa. Aparentemente, não vi qualquer motivo para isso. Infelizmente, mais atrapalhou do que ajudou.

    TEMA  (1/1)

    O conto está extremamente adequado ao tema. Viagem para Dublin. Viagem em drogas ilícitas. Viagem para tudo que é lado.

    IMPACTO  (1/2)

             O conto tem uma história boa, toca nos pontos certos, mas é tão curtinha, e com alguns deslizes gramaticais sérios. Isso acabou diminuindo o impacto de um conto que poderia ter sido bem maior.

    ORIGINALIDADE  (1/1)

             Acho que o conto tem como algo que resume sua originalidade: um jeito irônico, estilo de relato…

    Trecho interessante:

    Vamos todos para a rua, e como não pode consumir bebida alcoólica nas ruas, fomos maratonando todos os pubs da cidade. Entrava em ônibus, descia em um pub, subia em um tal de Luas e descia num pub, entrava em trem esquisitão Dart, descia num pub na praia. Foi aí que bateu um frio irlandês nos costados, então distribuíram uma balinhas coloridas com um líquido azul. Corremos para mais um pub que se movia muito lentamente, gente bonita de todos os lados dançando, sumindo e reaparecendo entre frenéticas moscas volantes. O grupo foi crescendo e tinha lote de orientais, outro de indianos, alguns nitidamente marcianos; ou brasileiros, eu não sabia mais de nada. Só tinha a consciência que estava na festa interfásica, pica das galáxias, mais legal do Universo.

    Nota: 5,75 (como as regras do desafio não permitem notas com duas casas decimais, a nota será arredondada para 5,8)

  5. Priscila Pereira
    3 de maio de 2024

    Olá, Mr. Silva! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Cara, que doideira! Seu conto aborda a viagem que um professor faz para Dublin, com suas penosas economias, por um curto período de tempo para se divertir em uma espécie de carnaval.

    Gostei do estilo do conto, com as paranóias do professor, a tensão, o medo de perder o passaporte e o dinheiro, até as misturas de primeira e terceira pessoa deram um toque a mais de nonsense à história.

    O final com o professor pouco se importando com o passaporte, pq até então ele já tinha aproveitado, feito o que queria fazer, se divertido e já estava voltando então nada mais importava, ficou bem legal também.

    É um conto despretensioso, com o foco em divertir mesmo os leitores, que não foi feito pra emocionar, nem com o intuito de agradar os outros e sim contar uma boa história de uma forma divertida! Eu admiro isso!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  6. Regina Ruth Rincon Caires
    30 de abril de 2024

    Que leitura deliciosa! Mesmo tropeçando no imbróglio de primeira pessoa e de terceira, eu fiquei tão próxima da história que “nervosamente” me diverti. Esse comportamento neurótico-psicótico dá aflição, não é mesmo? Tadinho! Acho que nem conseguiu aproveitar a viagem. Mas eu tenho um pouco disso. Acho que de tanto ouvir falar em troca de mala, perda de passaporte, roubo, as minhas manias se acentuaram.

    Eu acho que o conto é um trabalho de comédia dramática. Nem sei se isso existe. Mas a história é engraçada e muito dramática. Que sofrimento do personagem! E a história narrada a galope leva o leitor para uma zona de expectativa tamanha que parece que não dá nem para respirar. É isso, a narrativa é galopante.

    Acredito que o policial (guarda) irlandês estava com o famoso uniforme vermelho, e o modelo é muito parecido com a roupa personalizada pelos Beatles, e que também aparece como uniforme no Bloco do Sargento Pimenta R/J (O Bloco do Sargento Pimenta é um projeto musical com o intuito de unificar dois mundos: músicas dos Beatles e ritmos brasileiros). O personagem ali, na madrugada, com um bando de estrangeiros meio desgovernados, depois de tomar umas e muitas, confundir um guarda com um componente do Bloco, é quase nada, uai! Olhe, dei boas risadas.

    Eu não sei dizer se ele foi deportado, mas acho que nem ele sabe. Foi tudo tão rápido!

    E gostei de saber que o Drácula abalou o coração de um brasileiro, que vivem no Nordeste e que formaram uma família feliz. Final muito mais venturoso do que a trama de Romeu e Julieta!

    Mr. Silva, parabéns pelo seu trabalho! Uma leitura que me fez bem.

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

  7. Thales Soares
    30 de abril de 2024

    Poxa… mas que salada de frutas temos aqui. A perspectiva da narração troca de primeira para terceira pessoa às vezes. O tempo verbal fica variando entre presente e passado, de forma aleatória. A narrativa é desenvolvida de forma um tanto quanto… confusa?

    Enfim… pelo menos seguiu o tema, que foi viagem. Mas a história deu tanto foco nos 5 mil euros e no passaporte do personagem principal, que eu tinha certeza ABSOLUTA que ele seria roubado. Fiquei apenas aguardando, durante toda a narração, para o momento em que iam destruir com a alegria do cara. Achei que provavelmente ocorreria na conclusão, mas…. ao invés disso, a conclusão decidiu focar no DRACULA?! QUÊ?! Isso não faz um mínimo de sentido, a história nem era sobre ele… o Drácula é apresentado como um alívio cômico, porque a história decidiu fechar com um arco dele?

    Mas ainda falando sobre a doleira com 5 mil euros e o passaporte… essa parte desapontou bastante. A história não segue os princípios da Lei de Chekhov. Tá, mas o que seria isso?

    “(…) é um princípio dramático descrito por Anton Tchekhov, segundo o qual todos os elementos presentes em uma história devem ser necessários e elementos irrelevantes devem ser removidos.”

    A doleira me pareceu absolutamente desnecessária, já que ela é simplesmente esquecida da história, junto com os 5 mil euros. E o passaporte… bem… a história parece concluir com ele, realmente. Mas confesso que não entendi nada! De início, o personagem principal escondia e protegia seu passaporte como se fosse mais importante do que sua própria vida (palavras do autor). No entanto, no decorrer da história isso vai se perdendo, e de repente os pertences do personagem estão largados lá no quarto, com um monte de gente dormindo ali (tava acontecendo uma suruba?), e no final ele dorme com o passaporte à mostra. Como assim?! Cadê toda aquela construção inicial a respeito da importância e do cuidado desse objeto?

    Para dizer a verdade, a sensação que eu tive lendo esse conto foi a mesma sensação que eu sentia naquele desafio de duplas que o Entre Contos teve certa vez, onde um autor escrevia a primeira parte da história, e então outro autor escrevia a segunda metade. E às vezes ficava muito estranho, pois as duas partes não se encaixavam. É exatamente o que ocorre aqui. A primeira metade da história não se encaixa em nada com a segunda metade. A partir do momento em que a pica das galáxias entra na narrativa, a história tem um ponto de virada, e as coisas começam a ficar sem pé nem cabeça, quase como se fosse um conto surrealista. É nesse momento que surgem personagens como o Sargento Pimenta e o Drácula, que em nada contribuem para a história, exceto como uma tentativa de provocar algum momento cômico no enredo.

    “Drácula? Foi seduzido por um pernambucano arretado, abriram uma pousada em Porto de Galinhas, onde adotaram uma penca de filhos e viveram felizes para sempre.”

    Que final é esse, meu deus? Mais uma vez, a respeito da frase de conclusão do conto, ela não se encaixa com nada do que foi apresentado anteriormente.

    Esse conto não me agradou nem na escrita e nem no enredo. Mas essa é somente a minha opinião pessoal. Espero que ouros gostem. Boa sorte no desafio.

  8. Angelo Rodrigues
    28 de abril de 2024

    Olá, Mr. Silva.

    Comentários:

    Um conto bom de ler. Tem um tom de comédia por decorrência de uma primeira viagem e as preocupações que isso traz.

    Curiosamente, o conto, que embora seja bem curto, tal como uma crônica de viagem, passa o tempo todo mudando de narrador. Começa com um relato pessoal e segue, mais adiante, muda para um narrador em terceira pessoa, depois volta ao relato pessoa. Não vi motivação para que isso acontecesse. Não fere a compreensão, mas dá a impressão de que o autor se perdeu na atenção que deveria ter com o texto.

    Digressão: sei que todo texto pode trazerrelações subjetivas com o mundo exterior a ele, tais como o tal sargento Pimenta, as balinhas, o cara que era o Drácula. Mas, acredito, o conto deve acima de tudo dizer algo que possa ser decifrado facilmente pelo leitor. Nem todas as referências textuais atingem todos os públicos, e assim não sendo, o texto ganha cara de nicho específico, de baixa repercussão. Acho que isso não ajuda o autor a ganhar leitores. Tudo no texto, acredito, deve ser de razoável facilidade de compreensão, particularmente num certame onde se tem de ler tantos textos e comentá-los em seguida.

    Voltando: o viajante passa todo o tempo com uma preocupação psicótica em busca de não perder seu passaporte, algo que beira o cômico, como certamente foi proposto pelo autor.

    O conto termina com o retorno ao Brasil. A viagem em si não representou algo muito significativo na trama. Algo como “fui, vi e voltei”. No meio do caminho aconteceram coisas que foram relatadas, sem grandes repercussões, salvo ao Drácula, que acabou abrindo por aqui uma pousada com um sujeito parrudão. Que sejam felizes.

    Tem mesmo um jeito de crônica de viagem.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  9. Antonio Stegues Batista
    27 de abril de 2024

    Não sei se o autor fez de propósito toda essa miscelânea de primeira pessoa, segunda pessoa, várias pessoas, idas e vindas pelos pubs na Dublin e na dublagem ondulante como as ondas do mar e o sabor das balinhas com recheio colorido e levemente ácida, ou seja, uma salada, mas não de vegetais, tudo é colorido, inclusive as pessoas e tem um conde, muito branco parente do Bram Stoker, que foi morar não na Transilvânia, mas  na praia de Calhetas com um pernambucano alto e forte tostado pelo sol e eles viveram felizes para sempre. Conto divertido. Gostei.

  10. Kelly Hatanaka
    27 de abril de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Conto dentro do tema. Acompanhamos a viagem de um homem por Dublin.

    Escrita
    Coloquial, clara e fluida

    Enredo
    Um homem viaja para Dublin, participa de uma festa maravilhosa e depois volta pra casa. Porém, não entendi o que aconteceu após a festa. Num momento ele está vagando de festa em festa, tomou uns comprimidinhos suspeitos e está se divertindo. No parágrafo seguinte ele está com frio, sentado no chão com outras pessoas e ninguém sabe o que está acontecendo. Bom, nem eu. Daí surge um cara com uniforme de Sargento Pimenta. E o que seria isso? É a roupa que os Beatles usam na capa do álbum Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club? Ou o abadá do Bloco do Sargento Pimenta? Minha falta de cultura baladeira e carnavalesca pode ter me atrapalhado aqui. E, em seguida, ele está de volta ao hostel e depois, já está no avião. Ele passou um final e semana em Dublin?
    Na hora em que estavam todos sentados no chão, pensei que ele tivesse se metido em confusão e fosse ser deportado. Mas acho que isso não aconteceu, já que ele voltou pro hostel.

    Impacto
    Gostei do seu conto, mas esta falta de entendimento que descrevi acima afetou o impacto. Achei interessante o pensamento obsessivo dele sobre o passaporte. É bem assim mesmo… O finalzinho, sobre o Drácula, foi fofo, mas desnecessário. Não deu tempo de me importar com ele.

  11. Vladimir Ferrari
    27 de abril de 2024

    Bem, é uma viagem sem dúvidas. Premissa atendida. Mas há uma flagrante mudança de narrador, hora em primeira pessoa (“Mas foi tudo tão rápido que fiquei um pouco decepcionado, sabe?”), hora em terceira (“Na fila da imigração achou que iria desmaiar quando um gigante…”). O tempo verbal parece ter mudado também (“Checando passaporte” x “…passou as seculares quinze…”), mas isso deixo para revisores mais capazes de dizer se é presente do indicativo ou pretérito do sei-lá-o-quê. A nomenclatura dos tempos verbais não importa rsrs.
    O enredo é, NA MINHA OPINIÃO, raso. Captei uma tentativa de humor, mas não me fisgou. Há uma escolha nas construções das frases que não ME é muito fluída.
    A despeito de tudo isso, atendeu à premissa e narrou uma viagem. Poderia sugerir alguma coisa diferente, mas como outros comentaristas não gostam dessa minha “vibe”, então ficarei calado. Boa sorte no desafio.

E Então? O que achou?

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Informação

Publicado em 26 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.