O retângulo fino escorria pelo piso. Não satisfeito com o chão encompridava-se mais, trepava na lateral da mesa de centro, se assentava no sofá bege e escalava a parede. Maristela, ao mesmo tempo em que admirava o brilho do sol em pedaço, estava em dúvida. Não sabia se obedecia as regras da casa cerrando totalmente a cortina, ou se seguia o coração, deixando que a luz invadisse a sala. As palavras a lhe martelar a cabeça: “Não sabe que desbota e mancha o tecido das poltronas?” Enfim se decide. “Dona Elisa que se danasse. Que viesse o sol e queimasse tudo, principalmente os pecados desta casa”.
Era uma fraca. A patroa tinha razão ao dizer que por conta do seu jeito sonso e indolente é que era pobre. “Jamais conseguirá algo na vida, morrerá doméstica”, afirmava com ironia. No último domingo tinha saído do Templo, mais uma vez, imbuída do propósito de pedir contas, afastar-se definitivamente do antro da perdição. “Permanecer num emprego desses é o mesmo que cavar a minha desgraça. Terminará fazendo com que me acostume ao ambiente de iniquidade e, como o sapo que vai se habituando com a água sendo aquecida, terminarei cozida no caldeirão de Belzebu.”
Fim da noite de domingo, no ônibus raro de haver pouca gente, ia refletindo sobre a melhor maneira de concretizar a deliberação feita. Recordava-se das várias vezes em que a havia tomado e no outro tanto em que descartara o propósito realizado. Usava o pavor do desemprego como desculpa recorrente para se manter trabalhando com Dona Elisa.
Apertava a Bíblia orando em voz baixa pedindo coragem. Trazia-a bem à vista, no colo, para que todos pudessem perceber sua fé. “Quem sabe alguém cheio de pecados, ao ver a Palavra não se arrependesse, pedindo perdão e voltando o rosto para Deus?” Desde o dia em que a pregação da pastora Dejanira versou sobre este tema, nunca mais a Bíblia foi levada dentro da bolsa.
“Medo é sentimento que vem das bandas do Cão. O Dito Cujo gosta de assombrar aqueles que carregam uma fé frouxa e o manda, aos pouquinhos, até que o crente termine por viver refém dele”. Bispo Ananias gostava de explicar assim o medo. É claro que ele falava desse jeito quando a coleta do dízimo sofria baixas, o que computava ao temor de alguns fiéis de que o dinheiro iria acabar primeiro que o mês. “Esses, lamentavelmente, desconfiam do Todo Poderoso. Parecem ter escorpiões nos bolsos. É dando que se recebe, só entregando ao Senhor os 10% é que se poderá ser agraciado. Receber as provas de que Ele jamais abandona seus filhos”.
Passou a desacreditar no Bispo depois que ele se insinuou para ela. Não fosse aquele um homem de Deus, teria caído na tentação de escrever uma carta anônima para a sua esposa, a pastora Dejanira. Na dúvida se possuía também alguma culpa no caso, pedia perdão por seu corpo e seu jeito terem trazido maus desejos a um homem casado e, ainda por cima, consagrado ao Senhor.
Implorava a Deus por um marido. “Será que Ele não repara que necessito demais de um?” Orava para que lhe fosse enviado um homem bom. Um varão de fé que a ajudasse e que a protegesse. A vida, que já era tão ruim, se apresentava pior ainda na solidão da cama vazia. Não queria riqueza, seria muito pedir um homem livre para que, por exemplo, estivesse agora ao seu lado na volta para casa? Alguém para dividir as preocupações com as meninas? Não que quisesse dinheiro dele, tinha orgulho de ser autossuficiente.
Envolta na oração e no turbilhão de pensamentos, nem notou que a condução estava cheia e que alguns viajavam de pé. Só reparou no assalto quando o chefe do bando, corpo franzino incompatível com o tamanho da arma na mão esquerda, deu ordem em voz querendo ser de homem, mas escorregando no falsete de quem ainda era menino: “Na coroa com a Bíblia ninguém mexe que ela é de Deus”.
Pareciam ter experiência naquilo, pois era com rapidez e organização que faziam a limpa. Um a um iam tomando dos passageiros os seus poucos pertences. Poupados somente alguns celulares antigos, que bandido que se preza não aprecia coisa velha. Levaram até mesmo os trocados reservados para as passagens da manhã seguinte.
Imersa em tantos pensamentos o olhar, que já estava na Bíblia, esforçava-se por se manter estático, mas vigiava, cantinho dos olhos, o ambiente. Afinal, o que de pior poderia fazer naquela hora, seria mirar o rosto dos assaltantes. Tarefa terminada e ordenaram ao motorista para que parasse. Escutou o barulho da porta se fechando e, ainda de cabeça baixa, louvou bem alto um “Glória a Deus que não estamos chorando mortos e muito menos machucados!”
Não houve ninguém para dizer Amém, ou repetir seu Glória. O que começou foi um chimchimchim de cochichos que iam aumentando de tom. Quando conseguiu ouvir assustou-se, pois que se voltavam contra ela. “Só pode ser amiga, ou parente desses bandidos. Essa história de ser de Deus é caô barato. Quem não é de Deus aqui?” Fechou com força os olhos, como se estando cerrados também impedissem os ouvidos de escutar tal blasfêmia.
O bochicho aumentava e já tinha gente querendo que ela os ressarcisse dos prejuízos. Uma dona gorda sugeria mesmo que o motorista parasse e a deixassem por ali mesmo, a região dos seus amigos. Respirou fundo e foi se levantando devagar. Começou a falar, ao mesmo tempo em que os olhos miravam cada um à volta. Disse-lhes que não necessitava se defender, pois que o Senhor era sabedor da sua inocência. Mas que, se alguém ali achasse mesmo que estivesse coleada com os bandidos, que levantasse um dedo e aí sim, iriam conhecer quem ela era. Os olhares foram baixando e sentiu, pela segunda vez naqueles minutos, a presença de Deus lhe agraciando com milagres. Mais um pouco e a viagem prosseguia e até dava a impressão a quem entrava de que nada de diferente tinha acontecido.
Deu graças, deixou que a raiva fosse indo embora, e voltou às ruminações. Precisava agir assim, firme, com Cinara e Cibele. Com elas era manteiga derretida. Sentia as culpas que toda mãe carrega quando não consegue oferecer aos filhos aquilo que ela também não teve e tanto desejou. Precisavam entender que eram pobres e tênis de marca, aparelhos de celular caros e roupas novas todo mês, nada mais eram do que sonhos impossíveis.
Lamentou profundamente que elas não mais a acompanhavam aos cultos. Veio o medo – esse sentimento do Maldito – ao imaginar que as meninas deixadas sozinhas no barracão, poderiam ter saído de casa e estarem com más companhias pelas vizinhanças. Odiava as músicas indecentes que elas gostavam. Outro dia dera um tapa na boca de Cibele por estar cantando uma cheia de palavrões.
Arrependeu-se em seguida e desequilibrou ainda mais o dinheiro do mês, trazendo para as duas na noite seguinte uma caixa de chocolate daquelas mais caras. Fez então um pedido a Deus para que as livrasse dos perigos, implorou por mais ânimo para estar junto delas e paciência para escutá-las.
Repassava a vida e só se dava conta dos sofrimentos e tristezas. Sim, era uma mulher infeliz, e o que mais temia era que as garotas também não encontrassem a felicidade. Mais um ponto e o ônibus parou. Pôde ouvir alguém, ao descer, lançar um: “bandida, você também tem que morrer!”.
Será que era verdade o que tinham lhe falado, que o ex-marido já estava se enroscando em uma nova sirigaita? Tomara que fosse, seria muito bem feito para a amante sentir na pele o que lhe tinha causado. Mesmo assim, se pegava imaginando a volta de Renato. Imaginava-o, ele que nunca tinha dado um bombom que fosse para as garotas, trazendo-lhes mimos caros, ao mesmo tempo em que, como naqueles tempos da paixão, tornava a cuidar do corpo e do coração dela.
Agora essa amizade de Cibele com Leandrinho. O filho do justiceiro famoso que foi preso no ano passado e ficou por semanas aparecendo nos jornais da televisão. Queria que a filha fosse amiga de gente como ela, capaz só de fazer o bem. E se a sua menina acabasse por se engraçar com ele? Sentiu um tremor só de pensar em tal possibilidade.
Por que morava tão distante? Pergunta mais idiota ela se fazia, ponderou balançando a cabeça. Gente pobre morando perto do trabalho, só se fosse em barraco de favela e jamais que criaria filhas para algum gerente de tráfico botar a mão. Melhor ter a casinha nos finais do subúrbio, onde a milícia a protegia pelos R$ 25,00 religiosamente entregues toda noite de sexta-feira. Dinheiro que fazia falta, mas não reclamava. Afinal, era o preço da garantia de segurança mais que dela, das meninas.
Veio de novo à memória o apartamento. Desta vez a resolução tomada diante do Tabernáculo era para valer. Ela iria se demitir. Maldita a hora em que viu a cena. Dona Elisa dormindo abraçada com outra mulher. Mais amaldiçoada ainda aquela sua decisão de ir trabalhar no sábado para poder folgar na quarta e, pela primeira vez, participar de uma apresentação de teatro das garotas na escola. Como de costume, tinha deixado o bilhete na porta da geladeira dizendo desse arranjo. Com certeza que a patroa não o vira. A vontade primeira foi de acordá-las e denunciar aquela abominação. Conteve-se, foi fraca, cerrou com todo cuidado a porta e foi juntar as coisas para ir embora. Ali tomou a primeira decisão das tantas outras que tinha quebrado: nunca mais botaria os pés naquele prostíbulo.
Achou graça da sua leseira de não ter reparado antes, que quem frequentava a cama de Dona Elisa não era homem. Tão fácil perceber isto. De vez em quando encontrava a cama arrumadinha, ao contrário dos dias comuns em que a patroa a deixava para que fosse feita. Homem não cuida de cama ao se levantar. A falta de pelos no box do banheiro, as toalhas todas dobradas e o mais fácil ainda de ser observado: Em volta do vaso nunca houve pingo de xixi.
Era a última passageira e chegavam ao ponto final. Teria que andar mais um quilômetro pela estrada escura. Ao caminhar rumo à porta escutou o “Glória a Deus que ninguém se feriu”. “Amém”, respondeu para o motorista enquanto ele lhe perguntava se seguiria ainda em frente. Balançou a cabeça afirmativamente.
Olhando-a num misto de força e ternura, ordenou que se assentasse e lhe indicasse onde morava. Afinal, era a última viagem e o patrão não precisava saber que ele havia esticado um pouco o trajeto. Acostumada desde criança, mesmo que a contragosto, a ser submissa, dessa vez sentiu prazer em obedecer. Aquela era a noite dos milagres e Maristela, se sentindo um pouquinho feliz, lhe sorriu.
Mulher religiosa que trabalha como empregada doméstica é oprimida de todas as formas, primeiramente pela patroa, que coloca-a como principal criadora da própria situação (xingando-a e lerda) – aliás essa patroa me lembrou muito da Dona Máxima do Hermes e Renato – enfim, depois ela acaba por ser abusada por outra pessoas que lhe deveria gerar confiança, o pastor da igreja que frequenta. Sem sinal de melhora na vida, acaba sendo vítima de um assalto no ônibus que pega todos os dias, mas acaba se safando de ser roubada por representar ser religiosa, um dos mandante do assalto pede para que ela não seja tomada. Ela acaba sendo acusada pelo povo do ônibus de ser cúmplice do assalto, mas nada lhe acontece a não ser um xingamento. Ao final, fica implícito mais um abuso, desta vez por parte do motorista do ônibus, que a leva a um ponto além do natural.
Interessante o relato sobre o cotidiano seco e cruel dessa mulher, seus anseios levados à zero, as relações sociais, de dominação por parte hierárquica, emocional ou religiosa, a que ela é submetida são bastante ricas em termos reflexivos, porém, o conto em si, sua história, não me chamou a atenção. Assim como no conto dos “Corpos que nada Valem” (desculpem se errei o nome), não há muito espaço de interação entre leitor personagem, apenas ações encadeadas levando a um lugar final, que na verdade está abaixo do impactante, servindo mais como denúncia crua de um status relegado socialmente.
É um bom conto. Uma crônica, eu diria. Uma fotografia do dia a dia de Maristela, uma viagem dentro dos pensamentos de uma cidadã comum, pobre como a maioria dos brasileiros, e que passa por todas as dificuldades que qualquer um passaria. Uma ode ao nosso povo; ou quase isso. É um texto que peca um pouco pela falta de trama, mas que brilha no realismo e na profundidade das questões que levanta; sendo elas questões de fé; de pobreza; de realidade.
Não vi erros. Você escreve muito bem, com um acervo incrível de palavras e colocando-as no texto com maestria. Uma escrita e tanto.
Parabéns!
O conto traz um recorte da vida de Maristela, doméstica religiosa e infeliz que trabalha para alguém que não gosta e vive uma infelicidade constante. Decide abandonar seu trabalho para se distanciar do que considera de uma casa de pecados, mas se vê fraquejando pela necessidade de emprego, ou, talvez, por ser incapaz de tomar atitudes mais agressivas. A história termina com Maristela encontrando um pouco de felicidade no mundo que a cerca.
Gostei do conto, principalmente pela construção da personagem. A narrativa em si mesma está bem escrita, mas é a apresentação da situação de Maristela que fiquei preso. Não que goste da personagem, mas ela foi tão bem construída que acabei criando empatia.
O texto expõe que a doméstica sempre foi submissa e, aparentemente, isso lhe causa grande infelicidade. De fato, em um momento de força ela reage contra a ação dos passageiros do ônibus e descobre, neste momento, um pouco de felicidade:
“Mas que, se alguém ali achasse mesmo que estivesse coleada com os bandidos, que levantasse um dedo e aí sim, iriam conhecer quem ela era. Os olhares foram baixando e sentiu, pela segunda vez naqueles minutos, a presença de Deus lhe agraciando com milagres. ”
O final da narrativa apresenta uma mudança de estado que, apesar de singela, é bastante significativa, uma vez que praticamente todo o texto gira ao redor das desgraças de Maristela.
Realmente gostei. A pegada serena (embora triste) me lembrou de um conto do Bolaño, cujo nome eu esqueci.
Enfim, bom conto!
A história de Maristela, empregada doméstica, é solta para os leitores em meio a reflexões dela, na volta para casa. Uma mulher religiosa, traz a interpretação e sua visão do que ocorreu com ela nos últimos tempos sempre com esse viés religioso e devoto. A relação com as filhas, com a patroa D. Elisa, com o pastor, todas as instâncias da sua vida estão marcadas pela sua inabalável fé.
Bom, a história é ótima. A sensação de incerteza no início do texto é completada maravilhosamente quando tudo começa a se explicar. É um texto real, de uma mulher real que tem dificuldades e assume a responsabilidade delas com as armas que estão disponíveis. Nesse caso, a fé. É bonito, até certo momento, mesmo para quem não a tenha. É genuíno reconhecer crenças alheias e sentir como tudo se encaixa ao que ela sente.
Mas, fazendo jus ao real da narrativa, dona Maristela, que se mostra ao longo do texto benevolente, transforma-se em um personagem dual. A piedosa e a intolerante: ambas movidas pela fé.
Eu achei sensacional esse jogo. Parabéns!
Uma outra coisa: a cena do assalto no ônibus e o posterior julgamento dela como cúmplice é muito parecida com uma cena do conto Maria, da Conceição Evaristo, que está no livro Olhos d’Água. Não sei se foi uma referência, mas o que muda é só o desfecho – em Evaristo, a empregada, que também volta para casa para ver os filhos, é linchada e morta, após ser acusada de cúmplice de bandidos que assaltam o ônibus inteiro, exceto ela. Se foi uma referência, me permita dizer que apesar do final não ser trágico, a tua sacada com a religiosidade da personagem foi sensacional.
Abraços!
O escritor irlandês James Joyce (em quem, acho que, o pseudônimo é inspirado), em seu romance Ulisses, narra 19 horas de um dia, da vida de um cidadão dublinense. A nossa Joyce narra algumas horas da vida de Maristela, empregada doméstica insatisfeita com o ambiente da casa em que trabalha. Ela sentia-se fraca por não ter pedido as contas e relembra a viagem de volta para casa, vinda do Templo, no domingo à noite.
É utilizado o monólogo interior para mostrar a consciência da protagonista, dotada de reflexões, associações e paralelismos uma costura rica em significado, que oferece ao leitor campo para o autoconhecimento. Ela reflete sobre o dízimo e o comportamento do Bispo que se insinuou para ela, pede a Deus um marido e distraída não nota o assalto no ônibus. Justifica-se, nesse parágrafo o título do texto: “Na coroa com a Bíblia ninguém mexe que ela é de Deus” — coroa, aqui, é a gíria, conota velhice. Depois que os assaltantes descem e a viagem continua, tentam acusar Maristela de cúmplice, que fica brava. Continua a repassar “a vida e só se dava conta dos sofrimentos e tristezas” — pensa no ex-marido, nas duas filhas, no dinheiro gasto para pagar segurança no bairro distante onde morava.
Vem, no epílogo, a explicação por que Maristela quer deixar o emprego: viu a patroa dormindo com outra mulher. O ônibus chega ao ponto, o motorista lhe oferece carona até em casa — final meio aberto — não entendi bem se era só carona ou se era uma possibilidade de namoro; importante que ela ficou feliz.
Há algumas falhas de pontuação, de colocação pronominal e de regência, que nem vou citar as ocorrências, pois em nada prejudicaram a fluidez ou interpretação de texto e são justificadas pela opção da linguagem coloquial.
A oralidade é o tom discursivo de toda a narrativa, perfeitamente oportuna em função do extrato social apresentado, mesmo com foco de terceira pessoa. É através desse recurso que o(a) autor(a) tem êxito em construir a personagem e provocar empatia, conseguindo projetar-se noutra realidade.
Pareceu-me, ainda, que ocorre uma crítica ao tradicionalismo das religiões evangélicas, na necessidade de expor a Bíblia, nas falas do casal de pastores, no Bispo que tenta seduzir a protagonista e no moralismo da empregada que repreende a patroa, mas não deixa o serviço pelo dinheiro.
Parabéns pelo interessante trabalho. Abraço!
Resumo: mulher evangélica (a “coroa” de Deus) toma o ônibus para casa após o trabalho e reflete sobre a vida. No trajeto, um assalto aos passageiros. Mesmo assim, prosseguem as divagações.
Impressões: é um conto muito bem escrito, de com ótima construção vocabular. Diria até tecnicamente redondinho. O(A) autor(a) utiliza diversos clichês urbanos — a patroa-megera, o pastor-aproveitador, o bandido-garoto –, mas o faz com competência. Em verdade, esses clichês ajudam a enriquecer a história da protagonista, enaltecem sua jornada de gente-comum-batalhadora-que-se-apega-a-Deus-para-seguir-em-frente, criando um clima verossímil, com o qual, até certo ponto, é possível ao leitor identificar-se. Esse clima opressivo de cidade grande, erigido de forma inteligente, contudo, não foi suficiente para que eu, ao menos eu, me sentisse atraído pela personagem principal. Esse ruminar dos próprios problemas, das resoluções que jamais serão efetivadas, embora descritos com maestria, não me despertaram empatia enquanto leitor. Tive certa esperança de que isso mudasse quando surgiu a cena do assalto. Nesse momento minhas expectativas se elevaram, como se alguém tivesse acendido um rastilho de pólvora e que isso criasse uma situação de conflito, de dilema pessoal. Contudo, os ladrões simplesmente foram embora. Houve um zum-zum-zum de contrariedade em relação à nossa heroína, mas não passou disso. E ela continuou a mastigar as próprias frustrações. O(A) autor(a) preferiu, pelo que se vê, filiar-se à corrente da “vida como ela é”, sem sobressaltos significativos ou dramáticos demais, como se fosse apenas mais um dia na vida de gente pobre temente a Deus. Fiel à realidade, o conto perdeu pontos, ao menos comigo, por não ousar. Ainda que escrito de maneira impecável — volto a dizer –, não me levou a outros patamares em termos de entretenimento, que para mim é a razão principal da leitura ficcional. Em todo caso, parabenizo o(a) autor(a) pela excelência na concepção do conto, mas receio dizer que a admiração por sua técnica, por melhor que seja, não foi suficiente para que eu aproveitasse a leitura do modo como gostaria. Em todo caso, parabéns e boa sorte no desafio.
Sinopse: Um dia na rotina da doméstica Maristela, uma senhora crente e conservadora, separada, com duas filhas, moradora do subúrbio. Trabalha na casa de uma patroa lésbica, orientação sexual a qual não admite. No ônibus de volta, depois de um assalto, dá graças a Deus por não terem sido maiores os danos e gera revolta nos demais passageiros. Ao final, tem uma recompensa, ainda que pequena, ao ser deixada, como última passageira, um pouco mais perto de casa pelo motorista do ônibus.
Análise: apesar de em alguns momentos exibir, abaixo da aquarela, os traços do esboço do autor, esse conto tem uma narrativa consistente e um final muito bom. Apesar de carregar às vezes em algumas tintas, as personagens são bem desenvolvidos e verossímeis. Parabéns ao autor, vencedor, na minha opinião, deste terceiro e duríssimo round.
Coroa de Deus (Joyce)
Caro(a) autor(a),
Desejo, primeiramente, uma boa Copa Entrecontos a você! Acredito que ao participar de um desafio como esse, é necessária muita coragem, já que receberá alguns tapas ardidos. Por isso, meus parabéns!
Meu objetivo ao fazer o comentário de teu conto é fundamentar minha escolha, além de apontar pontos nos quais precisam ser trabalhados, para melhorar sua escrita. Por isso, tentarei ser o mais claro possível.
Obviamente, peço desculpas antecipadamente por quaisquer criticas que pareçam exageradas ou descabidas de fundamento. Nessa avaliação, expresso somente minha opinião de um leitor/escritor
PS: Meus apontamentos no quesito gramática podem estar errados, considerando que também não sou um expert na área.
Boa sorte!
RESUMO: O conto é um recorte no dia milagroso de Maristela, uma fervorosa religiosa que sofre um assalto no ônibus enquanto voltava para casa.
IMPRESSÃO PESSOAL: O conto seguiu a tradicional forma que consagrou esse modelo: um recorte de um fato cotidiano, aliado a uma linguagem simples. Achei a leitura bastante fluída e singela. A técnica de abordar os pensamentos que ocorrem na mente da personagem enquanto não chega no seu destino é feita de forma apropriada. Geralmente, é nessa hora que pensamos sobre coisas que deixamos de lado por conta do estresse do trabalho.
ENREDO: O enredo é bom, simples, porém eficiente. A personagem é, facilmente, identificável, pois pode ser sua prima, amiga, tia ou apenas uma passageira de um ônibus que se salvou de um roubo por externar sua fé, enquanto você ouvia música no celular e foi roubado. Isso é positivo porque adiciona mais realidade ainda.
Entretanto, vi uma parte meio fora da realidade. O envolvimento da filha dela com o filho de um justiceiro. Acho que seria muito mais coerente com sua proposta colocar Leandrinho como filho de um traficante. Enfim, é só um pitaco de um escritor enxerido.
GRAMÁTICA: Confesso que não encontrei erros gramaticais, embora meu olho não seja muito bem treinado para isso
PONTOS POSITIVOS:
• Gostei da situação cotidiana e da realidade que conseguiu imprimir em seu conto, embora não seja em todo o conto (me refiro ao Leandrinho)
• Personagem que provoca no leitor empatia.
• A abordagem nos pensamentos da personagem é feita com bastante propriedade
PONTOS NEGATIVOS:
• Não encontrei um ponto negativo digno de nota
Resumo: O conta nos mostra um dia cotidiano na vida de uma mulher que trabalhava como doméstica em algum lugar do subúrbio. Religiosa, altamente moral, uma mãe solteira que tenta ao máximo tirar de sua vida para dar às filhas.
Comentário: Um influência de “Quarto Despejo” de Carolina de Jesus? Com uma leitura muito fácil e simples, bem construído e extremamente detalhado no emocional da personagem.
Um grande Abraço.
Observações: Um bom conto, sem dúvida. O autor/a é maduro e sabe bem conduzir uma história que mescla na medida certa o cenário interior do personagem com a ação que decorre. O final foi cor-de-rosa, como poderia ter sido fatídico e isso não lhe retira nada.
Prémio “Tudo é possível, creias ou não”
RESUMO: O enredo não é estruturado dentro de ações, causas e consequências significativas, sendo na verdade uma volta dentro das reflexões e da cosmovisão de Maristela, completamente determinadas pela sua religião que, doravante, influencia a sua perspectiva sobre si mesma, as pessoas que integram o seu mundo e a própria situação cotidiana em que se encontra durante todo o conto: no ônibus, retornando para casa. Depois de um assalto e de um confronto com os demais tripulantes, acompanhando a empregada doméstica refletir sobre seu emprego, a validade de Deus, a situação em que vive e a condição de suas filhas, vemos Maristela concluir pela própria e legítima infelicidade, algo que também envolve a sua solidão, explicitada para ela na ausência de um marido. Cito isso em especial porque o final do conto, um tanto aberto, parece sinalizar para uma possível resolução desse conflito, encontrada na figura do motorista de ônibus. É surpreendente que o final pode ter esse desfecho esperançoso mais “romântico” ou também querer dizer que se trata de uma mera demonstração de gentileza em um dia – não, em uma vida – difícil, o que nessa leitura poderia ser muito bem um sinal divino.
O CONTO: No resumo acredito que eu já tenha tratado de alguns pontos fundamentais do conto, especialmente sua narrativa intimista, que foi muito bem estruturada, pois Maristela vai se tornando uma personagem cada vez mais completa na medida em que vamos lendo sobre suas lembranças e reflexões de situações específicas, ficando cada vez mais evidente a filosofia que condiciona a sua perspectiva. Da mesma maneira que esse retrato interior da personagem contribui a um contexto palpável que é a de uma vida “periférica”, marcada pela pobreza e pela religião, há mais de uma descrição – e todas muito bem feitas – que constrói esse cenário muito bem, no que o próprio espaço do transporte público, com o assalto e as reações gerais (e da própria protagonista) são significativos para trazer o tom de realidade a esse enredo.
Ou seja, considerando que a proposta do texto é nos fazer enxergar pelos olhos da protagonista, acredito que isso foi muito bem-sucedido, com a autora tendo feito escolhas acertadas sobre as situações que serviriam de ilustrações dos tormentos da empregada doméstica. Concebo que o conto é o retrato de como uma visão de mundo que busca uma perfeição moral da sociedade só pode encontrar a frustração e/ou o conformismo, mas que mesmo dentro disso, existe espaço para felicidade, especialmente em pequenas situações. Em verdade, parece-me que a forte presença de Deus na visão da personagem dá um valor ainda maior aos acontecimentos de “menor” proporção, o que dá ao final um impacto de efeito reconfortante. Tão envolvidos na perspectiva da protagonista, ficamos igualmente tocados pelo gesto gentil do motorista do ônibus e, da mesma forma que ela, sentimos a expectativa. Isso só foi possível pelo empenho da autora em associar leitor e personagem. Meus parabéns!
A DISPUTA: Pelo que parece, tanto pelo nível dos contos que tem me sido atribuídos como pela própria tarefa em si, decidir entre os contos (e seus autores) vai ser difícil. Outra coisa para a qual tenho que chamar atenção é que justamente pela temática livre é que se torna mais difícil fazer uma leitura comparativa dos contos, uma vez que cada qual traz sua própria premissa e livre abordagem. E quando ambos são exímios em domínio da língua portuguesa e estrutura de narrativa (mediante seus próprios objetivos), torna-se ainda mais complicado escolher. Dessa maneira, mede-se pelo impacto que causa cada conto. Vejamos:
Em primeiro lugar, delimitemos o sentido de cada conto: no dos amantes, o enredo é distribuído na perspectiva de duas personagens, com um conflito principal que está tanto nos indivíduos do enredo como também nas regras sociais ditadas pelo contexto no qual a narrativa é muito bem situada. Já na Coroa de Deus, temos também uma conjuntura muito bem delimitada, que remete às periferias contemporâneas, com conflitos que são principalmente internos da personagem, mas que se espelham em situações externas. A diferença é que, diferente do conto dos amantes, a Coroa é mais investida em retratar o interior da personagem em suas particularidades. Digo isso porque apesar da condição “rústica” da mentalidade dos personagens do conto dos amantes, achei ali sentimentos “universais”, como amor, cumplicidade, justiça, honra e insegurança. Já na “Coroa”, talvez ironicamente, temos uma personagem situada no mesmo contexto em que vivemos, mas marcada por uma singularidade que advém tanto da situação na qual vive (muito bem explicitada pelas reflexões que a autora escolheu para retratar a cosmovisão da personagem) como na filosofia que segue, concebendo uma personagem única, Maristela, alguém com quem não podemos (bom, pelo menos eu não posso) nos identificar completamente, mas que certamente é alguém com quem nos envolvemos e até torcemos para que suceda.
Minha decisão neste confronto é a favor da “Coroa de Deus”, simplesmente pela habilidade da autora de evocar situações externas e internas simultaneamente, o que demonstra um verdadeiro talento em estruturar sua narrativa de modo a demonstrar as múltiplas facetas que tem as situações, condicionadas a partir de quem as vive. Obviamente, isso não diminui a qualidade de “O Amante, a Rosa e o Enforcado”, cuja excelência já foi exaltada em meu comentário individual. Meus parabéns aos dois participantes, desejo boa sorte nos confrontos que virão!
Coroa de Deus – Joyce
Nesse desafio, irei avaliar cada texto de forma cruel, expondo os defeitos sem pudor. Mas não se preocupe: serei completamente justo na hora de decidir o vencedor do embate. Meu gosto pessoal? Jogarei fora neste certame.
– Resumo: Reflexões rotineiras de Maristela, uma empregada doméstica que carrega um grande apreço por sua fé cristã. É sempre nas viagens de volta para casa, depois de um dia de trabalho cansativo, que refletimos sobre a vida e seus pormenores, sempre. E o conto trata isso com propriedade, mesclando os pensamentos de Maristela com alguns acontecimentos cotidianos do local onde vive, como um assalto. Termina com a viagem dela, como geralmente acontece com esse tipo de reflexão. Esse é o fim.
Não gostei, sinceramente. Nem da escrita, nem da leitura, nem da história.
Enquanto lemos, recebemos uma enxurrada de informações da vida de Maristela, que é basicamente o estereótipo da mãe solteira que é cristã e pobre. Recheada de preconceitos e pensamentos banais, ela não cativa, nem emociona quando pensa em suas dificuldades. Não encontrei um fator atraente na personalidade dela. É rígida, com aquela fragilidade disfarçada de força, com pensamentos retos e poucos inteligentes. Realmente, não é uma personagem impressionante.
Se a história fosse boa, tivesse algo de diferente, como uma boa reviravolta, esse problema poderia ser compensado. Mas nem isso existe no conto. O enredo é tão banal quanto a personagem: literalmente inúmeras reflexões enquanto Maristela volta pra casa.
Agora, a única coisa que poderia salvar uma história desse nível e uma personagem tão sem graça seria o estilo da narrativa. Porém, o texto também não cativa. Faltou algo que chamasse a atenção. Esse tipo de história combina com um estilo poético, belo, cheio de floreios. Alguns leitores torcem o nariz para esse estilo narrativo, mas acredito, de verdade, que seria a única coisa que salvaria o conto, mantendo o enredo e personagem da forma como estão. Sem falar na falta de cuidado na hora de escrever, com falta de vírgulas em pontos importantes e afins. Coisa básica, que com uma lapidação mais lenta poderia deixar o texto melhor.
Imagina a seguinte situação: na cena do assalto do ônibus, um dos passageiros decide reagir, o que acaba causando um pequeno tiroteio. O passageiro é baleado e Maristela também. Isso daria uma reviravolta para a história, podendo capturar a atenção do leitor. A narrativa a seguir seria mais interessante.
Agora imagina o conto todo em primeira pessoa, numa narrativa mais intimista, cheio de reflexões sobre Deus, sobre a sociedade, tudo num viés preconceituoso e rígido. Seria, com certeza, bem mais interessante que uma narrativa em terceira pessoa, meio apática, distante, mais informativo do que emocional — que foi o caso desse conto.
Agora mescle os dois… Acredito, de verdade, que seria um conto bem mais atraente. Poderia levantar outras questões, como Maristela encarando a possibilidade da morte, de deixar suas filhas para trás, etc. Ainda assim seria banal, acredito, mas com conteúdo mais chamativo, mais atraente.
Enfim, cuide da escrita. Tem alguns pontos a melhorar. Não tem nada de impressionante na narrativa, na forma de escrever, e mostrou que ainda que precisa tomar mais cuidado na lapidação, na hora de transformar a pedra bruta em joia rara.
Resumo:
Um conto bem leve ao meu ver, de uma coroa que ganha a vida como doméstica na casa de uma mulher que ela descobriu que é homossexual… A “coroa” anda com uma Bíblia, mas na verdade parece ser bem fogosa… é uma história onde o foco ao meu ver são as máscaras que usamos para sermos aquilo que a sociedade nos impõe… Não sei se captei direito, mas ao meu ver de santa ela não tem muito não, porém não é uma pessoa ruim…
Análise:
Estou dando nota para o conto sem o pedido prévio de análise, caso venha a ser solicitado haverá o confronto das notas finais dos dois contos para escolha do vencedor do embate.
Critério nota de “1” a 5″
Título: 5 – Título excelente, principalmente depois de ler o texto e perceber a duplicidade nele, o jogo de palavras muito bem utilizado.
Construção dos Personagens: 5 – Gostei demais. Tudo na medida certa.
Narrativa: 5 – Excelente, realmente o autor(a) foi muito feliz aqui!
Gramática: 5 – Não vi nada de errado, achei perfeito nesse quesito.
Originalidade: 5 – Ousou com simplicidade!
História: 5 – É aquele tipo de história que não tem nada de mais, mas que de tão bem contada o cotidiano que transborda com seus dramas e suas tramas é aquela coisa de Nelson Rodrigues.
Reitero, esse é um excelente conto!
Total de pontos: 30 pts de 30
Segundo conto com 30 pts, mas se for para escolher entre este e o Voz, o Voz ganha pela narrativa que me surpreendeu mais.
Boa sorte no desafio!
🗒 Resumo: Uma doméstica evangélica fervorosa pensa, durante uma conturbada viagem de ônibus, sobre as dificuldades da vida e decide pedir demissão do emprego após descobrir que a patroa possui uma namorada.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): não é muito complexa. Na verdade, há uma falta de foco na trama, definir sobre o que ela realmente é. Se for sobre uma doméstica crente que descobre que a patroa é homossexual, o resto da trama (o assalto no ônibus, o assédio do pastor, os problemas das filhas, a história do ex-marido) é gordura. Num conto, ainda mais num conto curto como os desse desafio, todas as passagens devem servir à trama. O resto é gordura e, em excesso, faz mal. Se o foco da trama fosse o assalto, ele deveria ter ficado para o final e funcionado como clímax, mas aí o resto também sobra. Enfim, a trama ficou sem foco e sem definição. Ficou parecendo apenas um recorte na vida da protagonista, ou um capítulo de uma história maior.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): É boa, mas ainda precisa de alguma lapidada. Basta um pouco mais de atenção à pontuação e evitar repetições de palavras e frases muito simples.
▪ Não satisfeito com o chão *vírgula* encompridava-se mais
▪ raro de haver pouca gente (expressão confusa)
▪ Na dúvida *vírgula* se possuía também alguma culpa no caso, pedia perdão por seu corpo
▪ Poupados somente alguns celulares antigos, *que* (porque) bandido que se preza não aprecia coisa velha
▪ Imersa em tantos pensamentos *vírgula* o olhar, que já estava na Bíblia
Obs.: Um bom site para avaliar se o texto está com muita repetição é o http://www.repetition-detector.com/?p=online
💡 Criatividade (⭐▫▫): os personagens e situações são um pouco estereotipadas. O autor colocou algumas camadas extras na protagonista, mas mesmo assim não fugiu muito do esterótipo de evangélica pobre de periferia. O caminho é esse: adicionar mais e mais camadas, mas as camadas que mais marcam são aquelas que fogem do esperado pelo leitor.
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): o conto encerra de forma meio fria, sem um clímax. Nenhum conflito levantado durante o conto é resolvido. A parte do assalto e, principalmente, a reação do povo (mesmo que exagerada) tinha chance de servir como clímax, mas ocorreu no meio do texto e não se sustentou. Acredito que o autor quis deixar para o fim a revelação de que a patroa era homossexual, mas mesmo isso ficou solto. Se o conto tivesse focado bem mais em uma única trama e resolvido ela no fim, teria um impacto maior.
Conto em estilo “fluxo de consciência”, que narra um dia na vida de Maristela, os dois primeiros parágrafos no emprego, e o restante na condução, de volta para casa. No ônibus, enquanto os pensamentos vão fluindo, ocorre um assalto.
As construções imagéticas são delicadas e retêm a atenção do leitor, por exemplo, o retângulo de sol logo no início. O conto aborda aspectos psicológicos, morais, que decorrem principalmente da situação econômica. A abordagem é feita de forma instigante, vagando pela mente de Maristela, no estilo de James Joyce, Faulkner, Virgínia Wolff , Clarice Lispector… E assim o conto trata de múltiplas questões sociais. A sensação de culpa das mulheres assediadas. O fato de as pessoas nunca se revoltarem contra as autoridades, que estão em um plano superior, e sim contra as pessoas que estão próximas, embora não tenham culpa de nada. Sentimento de culpa por não poder proporcionar o que os filhos desejam. Os fuxicos, o preconceito, as milícias… Muito interessante, atual.
Erros:
“ao mesmo tempo em que” >> ”ao mesmo tempo que”
“habituar-se com” >> “habituar-se a”
“no ônibus raro de haver pouca gente” (??)
Bom dia, Joyce.
Storyline: Um mulher religiosa que durante sua volta para casa reflete sobre as coisas da vida – sua e dos outros.
Então, apesar do texto estar muito bem escrito, ele não me fisgou de modo algum.
Acompanhamos um fragmento da vida da personagem onde ela apresenta inúmeras reflexões sobre a vida. O tom ordinário, proposital obviamente, não cria grandes conexões para o leitor. A crueza da vida é apenas refletidia em um relato ainda mais cru. Nem mesmo o final, sugerindo um caminho, conseguiu despertar empatia. Tudo me soou como uma crônica linear, sem grandes novidades ou atrativos.
De qualquer modo, espero que tenha sorte e que os outros colegas tenham percepção diversa da minha.
Abraço