EntreContos

Detox Literário.

A-Mar (Claudia Roberta Angst)

 

Contou tudo sobre o seu divórcio. Explicou com detalhes o porquê da sua decisão de deixar o marido e morar em outro país. A avó a observava com uma candura sem igual. Tomou as mãos da neta entre as suas e enxergou nos seus olhos o mar espelhar-se na própria alma.

− Marido bom é aquele que logo te promove à viúva. − Disse Vó Leopoldina, enrolando a bainha do seu vestido de chita mal cerzido.

Os olhos, entulhados de saudades, revelavam mais do que o cinza dos seus últimos anos. Era uma dessas senhorinhas que recolhem mais sorrisos do que humores ruins.

− Nossa, Vó, do jeito que a senhora fala até parece que não acredita em casamento. – Havia um tom de desapontamento na voz da jovem.

As mãos soltaram-se, os olhos não.

− Acreditar, a gente acredita até em Papai Noel, minha menina. – Rebateu Leopoldina com a segurança de quem possui uma sabedoria curtida em sal e muitos anos vividos.

− Até parece que nem foi casada por tantos anos… – Deu uma breve pausa para tomar ar e arriscou um passo mais ousado. – Depois, não pode reclamar da língua desse povo…

Dona Leopoldina sacudiu os ombros franzinos com atitude de desdém. Grande novidade falava aquela menina!

− As pessoas falam demais, muito sobre o que sabem e mais ainda sobre o que desconhecem.

Ela era uma velha conhecida de todos por ali. Conhecida sim, mas não amiga. Tornara-se uma espécie de referência local, personagem da cultura praiana, quase uma lenda. Os poucos que a conheciam desde moça, apenas lhe dirigiam cumprimentos respeitosos, afastando-se para que ela passasse.

Cláudia mal conhecera o avô. Lembrava-se de seus braços escurecidos pelo sol e a barba que raspava na pele de menina a cada beijo de chegada ou partida. Era jovem demais para gostar ou desgostar daquele personagem caricato.

Pescador com a pele cerzida em rede, com nós e pouca frouxidão, Juvenal nunca causara real simpatia. Na verdade, nem mesmo se esforçara para ganhar a amizade de alguém. Os companheiros de lida respeitavam suas ideias e sua habilidade na arte da pescaria.

− Por que não me conta, Vó?

Uma andorinha não faz verão. Quantos verões escondem um segredo?

A senhora abriu as mãos sobre o vestido, espalmando o espanto de ver chegada a hora de se entregar. Podia pressentir as correntes arrastando-a para o calabouço do próprio julgamento

− Contar o quê, menina? – Tentava ganhar tempo enquanto empilhava os blocos dos acontecimentos na mente.

Uni dunidunitê, que segredo te desvendarei?

A neta suspirou, na verdade, quase bufou de irritação. Conhecia as inúmeras artimanhas da velha senhora e sabia que ela jamais se esquecia de uma promessa ou de um erro que fosse. Era detalhista com a história da família, guardava fotos, cartas e todos os documentos que conseguira juntar com o tempo. Como se esqueceria da razão do seu isolamento na pequena vila de pescadores?

A verdade vos libertará.

De repente, sem aviso ou qualquer sobressalto, Dona Leopoldina, endireitou-se e olhou firme para a sua neta, a sua preferida, aquela que sempre conseguia lhe roubar os beijos mais doces e os segredos mais preciosos.

− Tudo que eu te contar, menina, terá de morrer em teus ouvidos. − Decretou como se fosse uma lei sobre a vida e a morte. − Nem sei mais o que é verdade ou puro engenho do diabo em minha mente. – Olhou para a neta buscando o acatamento de sua vontade. − Não te fie muito nas minhas palavras.

Cláudia descruzou as pernas, pondo os dois pés no chão. Parecia querer todo o apoio possível para manter o equilíbrio. Vó Leopoldina estava falando sério, ela sabia disso.  

− Esquecerei essa história assim que for embora daqui, Vó. – disse balançando a cabeça em contradição com o que dizia.

− Que seja assim, então, minha Cláudia. Que seja assim…

Então, D. Leo fechou os olhos, cruzou os braços, embrulhando-se em um abraço, embalando-se como um bebê. Deixou que as memórias tocassem seus lábios e as palavras deslizassem em sua língua.

− Juvenal não era um homem mau. Verdade que também não era um homem lá muito bom. Era um desses aí que circulam no mundo, arranjando antipatia a cada esquina e reagindo mal à própria falta de sentido.

Cláudia abriu ainda mais os olhos cor de folhagem orvalhada, acomodou-se na velha cadeira de vime e aguardou. Precisava de muita paciência e tato para conseguir que Dona Leopoldina abrisse de vez o seu coração. Sabia que a avó exigiria o tempo necessário para retirar do sótão da memória todos os detalhes daquela história.

− Lembro bem do dia em que nos casamos. Era uma manhã de verão, rachando de calor.

Apesar de tudo, aquele tinha sido um dia muito feliz. O começo de uma vida, com seus altos e baixos, marés generosas e ressacas ingratas. Leopoldina, ainda muito mocinha, mal saída da companhia das bonecas, viu-se completamente encantada por aquele caiçara de olhar molhado e mãos afoitas.

Os pais de Leo, tão simples como a morte, ruminaram alguma contrariedade. Se ainda fosse um moço bonito, questionou a mãe. Se ainda fosse um homem de posses, disse o pai.

O tempo não precisou se esforçar para passar e os dias se foram mais rápido do que o revoar das gaivotas no final da tarde. Logo, Juvenal cansou-se da vida nova. Não era mesmo homem de se agradar por estar casado, amarrado em qualquer rede. Preferia se dedicar mais à pesca e à bebida. Uma amante sustentava a outra. Um vício equilibrava o outro. Quando bêbado, pescava melhor, era o que diziam os companheiros de lida. E quando pescava, precisava de mais pinga para aguentar o tranco da rede e do anzol.

Leopoldina contentava-se com os peixes que recebia, limpava-os com esmero e sempre surpreendia a todos com o seu talento culinário.  Os beijos tornaram-se escassos e ainda mais desejados em sua raridade furtiva. Juvenal não era mesmo um sujeito ruim, era antes disso um homem equivocado com o seu destino.

Homens não são todos iguais. Nem mesmo diferentes. São apenas o que são.

E assim foram se passando os anos, uns mais lentos, outros muito velozes. Os primeiros foram quase tranquilos e felizes, com os filhos nascendo a cada primavera. Cada qual com um nome de santo e um destino sem trégua. Depois, vieram os anos de destrato, de pouca fala e muito tapa.  

− Acho que ele não fazia por mal, sabe? Era o jeito dele, mas doía mesmo assim.

Cláudia sentiu vontade de abraçar a avó, mas pressentiu que se o fizesse, a narrativa terminaria ali mesmo. Portanto, permitiu que o transbordamento continuasse, derrubando as barreiras erguidas com tanto esforço, durante todos aqueles anos.

− Juvenal não era homem de parar. Nem de se conformar, muito menos de mudar. Se bebesse, teria de ser pra sempre, até afundar na cachaça. Mas não era de todo mal… − repetia Leopoldina, a voz tão baixa quanto a cabeça que pendia sobre o colo.  

Uma noite, no final de mais um verão longo e arrastado, Juvenal decidiu que Leopoldina deveria seguir com ele para uma pescaria noturna. Alterado pela bebida, via na companheira uma promissora parceira de lida.

− Vamos, mulher, que o mar não espera ninguém.

Dona Leopoldina estranhou o chamado do marido. Temeu pela própria vida escapando-lhe no fundo do mar. Que diferença faria isso? Morta ou viva, nada mais sentia além daquela solidão disfarçada em miséria.

− Mas as águas não querem a gente hoje, Juvenal.

O homem tomou os ombros da pequena figura a sua frente e quase a dobrou ao meio.  

− Vamos logo, mulher! Deixa de enrolação.

Puxada pelo braço pelo marido, Leopoldina não se atreveu mais a resistir. Talvez aquela fosse mesmo a noite do resgate da sua paz. Olhou para as nuvens cada vez mais densas e pesadas, borrando o céu com o seu grafite.

Entraram os dois no velho barco, já quase sem tinta a decorar suas madeiras. Ela tremia, esquecida de que o verão ainda reinava. A embarcação rangeu em lamentos, enquanto Juvenal apressava-se em desenrolar rede e aprontar o material da pescaria.

Já afastados da costa, o casal começou a sentir os primeiros pingos de chuva. Eram poucos a princípio e apenas refrescavam a pele como beijos. Depois, avolumaram-se e formaram uma grossa cortina d’água. O moço da meteorologia estava certo, pensou Leopoldina.

A bebida e o peso da chuva arquearam o corpo de Juvenal. Ele tombou uma, duas, três vezes, até desistir de se levantar. Ficaria ali, prostrado, se não fosse a ajuda da sua doce companheira.

− Só Deus sabe a força que brota de uma mulher nessas horas, menina.

Foi o que aconteceu. Leopoldina ergueu o corpo do seu Juvenal, com todas as forças que lhe restavam no corpo desgastado pelos partos e partidas. Ele balançava-se como um boneco de pano, os ossos fazendo quinas onde nem carne mais parecia haver. Os músculos pareciam escorrer pelas dobras das roupas, o suor misturado à chuva que castigava a pequena embarcação.

Ficaram assim os dois, grudados, misturados por minutos sem fim. Até que o momento chegou. Puxou da cinta do marido a peixeira que se alargava no brilho fosco da noite. Balbuciou algumas palavras, talvez uma oração, talvez uma declaração de amor, uma fala rasgada em remorsos antecipados. Cortou, fincou até o punhal ser o único aparente sinal.  

Juvenal nem mesmo gritou, soltou um gemido e se silenciou nos braços rígidos da mulher. Seu olhar ainda penetrou nas íris esverdeadas daquela que sempre soubera ser sua.

Leopoldina não teve como suportar aquela dança e cedeu ao peso do amado carrasco. Encostou-se ao casco do barco, abraçando o marido pela última vez. Fez o sinal da cruz e esperou o fôlego voltar.

Com um só impulso, vindo de dentro, da alma, dos infernos que alimentara junto com os velhos sonhos, libertou-se e apenas assistiu o destino desgrudar suas vidas. O corpo mergulhou no mar, em solitário descompasso com a noite.

A chuva continuou a açoitar o barco, impedindo que a visão de Leopoldina alcançasse o seu passado naufragar. Quase sem se dar conta, tomou os remos e dirigiu seu destino para mais próximo da costa. Calculou sem qualquer precisão a distância que seria capaz de vencer a nado e abandonou o barco.

Leopoldina chegou encharcada e exausta à praia. Já não era sã e nem mesmo queria ser. Precisava de toda a loucura que lhe corria nas veias, em desenfreada fuga pelas sombras molhadas da noite.

Em casa, Leopoldina arrancou a roupa molhada como quem tenta se livrar de toda culpa. Tomou um banho longo, acabando por cair de joelhos ao se lembrar da chuva que cobria o mar e o corpo de Juvenal. Chorou todas as lágrimas que reservara para aquele momento e, por fim, encerrou aquela história.

Seu Juvenal partira.

Conseguiu dormir um pouco nas primeiras horas do dia, espalhando-se na cama de ripas desiguais. Ao acordar, tomou um café reforçado, abriu as janelas e apreciou o céu azul que em nada denunciava a noite de tormenta.

Gritou o nome do marido três vezes e esperou que algum vizinho lhe socorresse. Três mulheres apareceram, seguidas de dois pescadores que passavam por ali. Um pequeno grupo reuniu-se, decidido a organizar as buscas pelo velho Juvenal.

O bom tempo facilitou tudo. O mar devolveu o corpo de Juvenal à praia como uma amante cansada de seus desmandos.

Cláudia escutou as palavras daquela dolorosa confissão chorando baixinho, sem perceber que os soluços reprimidos sacudiam seu corpo esguio. Olhou para sua avó com os olhos turvos pelas lágrimas e, pela primeira vez, enxergou a verdade.

Leopoldina era uma mulher. Como ela. Como todas.

− Quando trouxeram o corpo do teu avô e o puseram ali em cima da mesa, eu entendi. Juvenal não estava morto, só dormitava suas culpas.

Outra pessoa morrera no mar.

Cláudia esperou a velha senhora mastigar suas próprias conclusões. Seus olhos fecharam-se como que entregues à maresia.

− Quem morreu ali, fui eu.

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23 comentários em “A-Mar (Claudia Roberta Angst)

  1. iolandinhapinheiro
    1 de janeiro de 2019

    Olá, Cláudia, tudo bem? Li agora o seu texto porque no período do desafio náo coube a mim julgá-lo. Seu conto é muito bonito, lírico até, recheado com belas construções e uma linguagem flutuante entre direta e indireta dando ainda mais riqueza ao conto. Eu gostei da história e de como vc a conduziu. Muito merecido ter ficado no topo dos contos por muito tempo e invicto na maior parte de suas disputas também. Grande abraço para vc e obrigada pelo texto lindíssimo de amiga secreta, foi o melhor da nossa brincadeira e me senti muito honrada. Beijos.

  2. Daniel Reis
    23 de dezembro de 2018

    Sinopse: uma neta conta à sua avó que está em processo de divórcio, a avó, Dona Leopoldina, resolve contar sobre seu casamento. Sua história e de Juvenal, um pescador, foi de mais baixos do que altos, em que ele preferia a bebida e as amantes do que ela. Até o dia em que a levou como ajudante de pesca, no meio da noite, e ela pensou que ele fosse matá-la. Mas foi ela que acabou com a vida dele no barco, e voltou livre para a terra, apesar do remorso. Ao ver o marido, entendeu que ela é que tinha morrido por dentro (acredito que para o amor).

    Comentários: um texto muito bem construído, em que as metáforas de água, mar, chuva, etc. estão presentes na medida certa. A história é cativante, e o estilo da autora (desconfio que seja uma mulher muito sensível) está bem consolidado e seguro. A título de contribuição, achei somente que a decisão da avó em contar o seu segredo foi meio brusca, poderia ter sido um pouco mais “cozinhada”. Mas isso não atrapalha em nada a história. Meus parabéns, uma das leituras que mais me agradou nesse Desafio!

  3. Virgílio Gabriel
    23 de dezembro de 2018

    O conto narra a história de uma neta conversando com a sua avó. Elas falam sobre a história do marido da senhora, ou seja, o avô da garota. A idosa revela que ele bebia muito, tinha amantes, e num dia de chuva em que estavam apenas os dois no barco, ela o matou. Porém, no fim do conto fica evidente que o morto apenas descansou, e quem morreu de verdade em vida fora ela.

    O conto é bem escrito, principalmente da primeira metade. Porém a narrativa não tem criatividade, nenhuma surpresa. Claramente é um ótimo autor que estava sem ideias. O título é interessante, e faz jus à história. Não consegui sentir o carisma dos personagens, pois se o Juvenal bebia, era porque também não estava feliz. Isso não foi explorado. Ficou parecendo que todo homem é ruim por ser assim mesmo, e toda mulher é vítima. Será isso mesmo? Não concordo.

    Em síntese, conto muito bem escrito, mas com criatividade nula, e no meu ver, as situações fáticas não convencem. Por exemplo: ela sequer tentou um divórcio, uma separação, e já o matou? E pior, num momento em que ele não emitia risco algum para ela. Emfim, espero ler contos mais criativos e convincentes com essa ótima qualidade de escrita.

  4. Jorge Santos
    20 de dezembro de 2018

    Olá Mayara. O seu conto narra a história que uma avó conta à neta, sobre algo que acontecera anos antes. Achei a história incoerente. Juvenal era o marido? Ela matara o marido? Mas a neta conhecera-o em vida. E quem é que conta a uma neta uma verdade comprometedora como esta? Não duvido do simbolismo que a autora quis impor, mas ficou um texto excessivamente incoerente. Por outro lado, em termos de linguagem existem alguns erros gramaticais. Em alguns pontos, é visível que a autora tem algum traquejo literário mas que faltou algum refinamento ao texto.

  5. Givago Domingues Thimoti
    19 de dezembro de 2018

    Olá, Mayara Lins!

    A-Mar é um daqueles contos que nos causam sentimentos conflitantes e que fazem o leitor parar, olhar para a parede na tentativa de digerir o que acabou de ler.

    Dona Leopoldina sofre o que muitas mulheres sofrem. Casadas com parceiros com atitudes e perfis agressivos, manipuladores e opressores. Nessas situações, todos julgam. A situação é sempre mais fácil para quem não vive aquilo.

    Acho que você conseguiu passar para o leitor com muita exatidão o que acontece. Pelo menos para mim, consegui enumerar uns seis casos parecidos com os dessa senhora. O pior é que tem muito mais casos por aí, incorrendo num ciclo extremamente tóxico.

    Parabéns pela narrativa!!!!

  6. Jowilton Amaral da Costa
    16 de dezembro de 2018

    O conto narra um desabafo confessional de Dona Leo, viúva de um pescador alcoólatra, a sua neta que acabara de se divorciar.

    O conto está bem escrito e tem passagens muito bem trabalhadas com tom poético em certos momentos. A trama é simples, mas a história causa um certo impacto por conta do assassinato cometido por dona Leo, que quando teve a oportunidade, não pensou duas vezes e se livrou do marido que a maltratava. Achei a criatividade média . Boa sorte no desafio

  7. Fil Felix
    16 de dezembro de 2018

    Boa tarde! Uma neta conversa com a avó sobre casamentos e maridos, a avó conta sua história, de como tinha um relacionamento abusivo e matou o marido em alto mar.

    O conto tem uma narrativa muito bonita e poética. Gostei de várias frases e termos utilizados, dando um tom bem suave à história, que traz um tema mais pesado. A ideia de confissão, mesclada à narrativa da própria história feita pelo narrador do conto, também foi uma boa escolha. Por um momento pensei que teríamos a clássica parte de naufrágio, mas foi uma ótima surpresa ver a avó, cansada de tudo, dar um fim à situação, de maneira trágica. Gosto desses momentos, da adrenalina correndo pelo corpo e ter que escolher entre se manter no sofrimento ou tentar mudar, pra melhor ou pior. Um conto muito bom, gostei.

  8. Amanda Gomez
    13 de dezembro de 2018

    O texto conta a história de D. Leopoldina, uma senhora aparentemente comum, mas que guarda um segredo do passado. Dando conselhos a neta sobre futuro e casamento a velha senhora sente que é hora de se desprender desse segredo, compartilhar o fardo, então conta tudo a neta. O começo e o fim do casamento com o marido. Um homem comum, bem típico a época, não era bom marido, mas segundo Leopoldina, de certo tomada pela culpa acreditava não ser uma má pessoa. Ele a batia e tinha aquele típico relacionamento cujo qual milhares de mulheres vivem ainda hoje, como se não houvesse escapatória, mas pra ela houve. Matou o marido em um passeio de barco mau arranjado por ele, não fica claro as intenções do homem ao levá-la para o mar em condição nada favoráveis, seja qual fosse, ela agiu primeiro.

    ——————————

    Olá, Mayara!

    Gostei muito do seu conto, a narrativa é tão gostava, simplesmente o leitor se deixa levar, não há espaços para cansaços ou tédio. O texto é relativamente simples,o que dá o toque especial de fato é a escrita, a personagem tão natural… é muito parecida com alguém que conhecemos. A trama se desenvolve muito bem, embora eu já imaginasse o final foi interessante acompanhar o desfecho, teve um ”q” de lirismo, o leitor entende as ações da mulher, sente pena por como as coisas são. É uma mulher que viveu a vida sem sonhos, apenas culpa… e cruel certeza de que apesar de tudo, fez o certo, mesmo sendo totalmente errado.

    Parabéns, pelo texto! Boa sorte no desafio.

  9. Fabio D'Oliveira
    7 de dezembro de 2018

    A-Mar – Mayara Lins

    Nesse desafio, irei avaliar cada texto de forma cruel, expondo os defeitos sem pudor. Mas não se preocupe: serei completamente justo na hora de decidir o vencedor do embate. Meu gosto pessoal? Jogarei fora neste certame.

    – Resumo: Um encontro entre neta e avó. Um desabafo, por parte da neta, abre os caminhos para o coração de Leopoldina. E assim entramos na história de seu passado. Seu marido era um pescador, nem bom, nem ruim, apenas um homem. Apesar dos primeiros anos serem bons, com certa tranquilidade, o anos seguintes foram de tristeza e dor. Leopoldina sofria com a distância e agressividade de seu marido. Num dia tempestuoso, ele, dominado pela bebida, leva-a até o mar para tentar pescar. E, num momento tortuoso e confuso, Leopoldina decide matar Juvenal e jogá-lo ao mar. Sua neta se emociona, mas não sabe o que fazer. Quem saberia, pergunto-me. A velha reflete, por fim, que ele não era realmente mal, era apenas o que era. Esse é o fim.

    É uma história de difícil avaliação, para mim. Li o conto duas vezes e o resultado foi o mesmo: achei chato.

    Encontrei alguns pontos no texto que poderiam melhorar, isso com uma lapidação mais cuidadosa, mas somente isso, em geral. A narrativa é muito boa, de fato. Sabe conduzir a história, sem confundir o leitor.

    O problema, ao meu ver, está no seu estilo. Ele é chato. Ele é sem carisma. Os personagens não cativam. Mesmo a história sendo bem intimista, acabei me distanciando cada vez mais dos personagens, por falta de interesse, mesmo. E olha que realmente tentei me interessar.

    Como disse, é um conto difícil para mim, pois não tive prazer durante a leitura, de forma alguma; não me surpreendi, não me apaixonei por algum personagem e a escrita não me pareceu atraente.

    Faltou algo nesse conto. Um brilho que mostrasse sua autenticidade. De belo, há apenas o título.

  10. Gustavo Araujo
    5 de dezembro de 2018

    Resumo: À neta recém separada, mulher confessa ter assassinado seu próprio marido.

    Impressões: Um bom conto de mistério, que tem por base a relação entre avó e neta. Gostei do desenvolvimento, entremeado por colocações bem inspiradas, flertando com o poético. A personalidade de Leopoldina é bem construída — ao contrário da neta Cláudia, que funciona mais como uma espécie de escada para que a parte que interessa ao enredo se desenrole. O tom confessional, que ora mistura fatalismo, ora arrependimento (que se vê na última frase do conto), demonstra bem a ambiguidade pela qual Dona Leo passou e ainda passa, um conflito de sensações provocada por lados opostos da mesma moeda – Juvenal. Claro, é possível amar e odiar uma pessoa e neste conto essa dicotomia foi bem explorada, ainda que o marido merecesse mais linhas, algo que demonstrasse melhor, com mais profundidade, essa mistura de fascínio e medo que ele exercia sobre a mulher. O problema, creio, é a falta de espaço para escrever. Tanto Juvenal como Cláudia ficaram apagados. Numa revisão, talvez seja interessante dar-lhes mais vida. No caso da neta, um passado, talvez, que entrelace sua própria história com a da avó, já que a confissão se dá com base numa relação de confiança entre as duas — confiança essa que foi apenas sugerida, mas não demonstrada efetivamente. Mas, confesso, estou divagando. O texto aqui presente é bom, revela um(a) autor(a) que sabe o que faz e que possui as ferramentas adequadas para erigir uma narrativa interessante, que foge à receita fácil e que não exige por demais que o leitor preencha as lacunas. Enfim, um bom conto que, ao menos nesta disputa, terá meu voto. Parabéns e boa sorte no desafio!

  11. Nathiely Feitosa
    4 de dezembro de 2018

    A história é uma narrativa simples sobre o casamento e convívio de Leopoldina e Juvenal, não presente na cena por motivo que se descobre mais tarde. A avó é instigada pela neta, Claudia, a contar a sua história em um tom de confissão criminosa.

    Até a cena do barco eu visualizei muito das histórias de mulheres que ouvi e convivi, no caso dos casamentos da família.
    O clímax é sensacional e totalmente inesperado. O final, desolador.
    Não tenho palavras para expressar a grandiosidade da sua delicadeza e sutileza na descrição. Veja só um exemplo, seu, e reflita o quanto essa sentença simples é profunda e bela: “olhar molhado e mãos afoitas”. Olhar molhado… é quase físico, é uma descrição muito visceral e esse tipo de texto profundo me agrada bastante.
    Parabéns pelo conto, escritora! Magnífica história

  12. Nathiely Feitosa
    4 de dezembro de 2018

    Olá, escritora!
    Gostaria de elogiar, com toda sinceridade, o seu conto INCRÍVEL!
    Até a cena do barco eu visualizei muito das histórias de mulheres que ouvi e convivi, no caso dos casamentos da família.
    O clímax é sensacional e totalmente inesperado. O final, desolador.
    Não tenho palavras para expressar a grandiosidade da sua delicadeza e sutileza na descrição. Veja só um exemplo, seu, e reflita o quanto essa sentença simples é profunda e bela: “olhar molhado e mãos afoitas”. Olhar molhado… é quase físico, é uma descrição muito visceral e esse tipo de texto profundo me agrada bastante.
    Parabéns pelo conto! Magnífica história!

  13. Julia Mascaro
    4 de dezembro de 2018

    texto cativante com recursos de poesia.

  14. Ana Maria Monteiro
    29 de novembro de 2018

    Observações: a última frase surpreendeu-me, vai um pouco contra toda a essência da pessoa que a avó tão bem protagonizou. Se fosse apenas uma parte dela a morrer ali seria mais conforme.
    Prémio “Nunca se sabe quais segredos uma alma carrega”

  15. Cirineu Pereira
    29 de novembro de 2018

    Resumo:

    Num encontro entre uma idosa e sua neta adulta, a avó, moradora de uma cidadezinha praiana, conta para a jovem a verdadeira história sobre a morte do marido, assassinado por ela mesma em alto mar, por ocasião de uma pescaria noturna.

    Análise:

    Uma retórica rica e erudita, com figuras de linguagem originais e interessantes. O conto se dá em ambientes distintos, o atual, ou corrente, em que a avó revela sua história à neta, e o passado, no qual a história revelada pela avó realmente seu deu.

    Porém, a avó não narra sua própria história, de fato, essa é contada por um narrador oculto, recurso interessante que, aparentemente, serviu para que o autor concedesse à protagonista a razão dos fatos sem que, diretamente, a senhora precisasse defender a si mesma.

    Interessante, porém ineficaz. Este leitor não conseguiu desenvolver empatia pela protagonista. O perfil psicológico atribuído à velha senhora não pareceu concreto, nem sua causa defensável. A imagem de avó amorosa que se tenta mostrar ao início do conto não é sólida, tão pouco ela parece louca, nem seu sofrimento justifica o crime.

    Plausíveis realmente, sequer a neta com sua condescendência para com a assassina do avô, mas talvez tão somente os demais moradores da cidade com suas restrições e desconfianças em relação à senhora.

    Ao meu ver, o autor tentou atribuir à protagonista a imagem de vítima da sociedade machista que o leitor não acatou e então, principalmente por conta dssa tentativa óbvia e ineficaz de influenciar o julgo do leitor, o conto falha, apesar da elegância vocabular.

  16. Leandro B.
    28 de novembro de 2018

    A história trata de um relato-confissão de uma moça (agora idosa) que matou o marido, tendo guardado a culpa do ato por décadas. Sua neta faz com que a avó reviva o trauma, aparentemente para saciar sua própria curiosidade. Se isso é positivo ou negativo, que os psicólogos decidam.

    Gostei do conto. É bem amarrado e traçou de maneira feliz paralelos entre a narrativa e a cultura de pescadores. Passagens como:

    “O tempo não precisou se esforçar para passar e os dias se foram mais rápido do que o revoar das gaivotas no final da tarde”

    ou

    “Pescador com a pele cerzida em rede, com nós e pouca frouxidão, Juvenal nunca causara real simpatia.”

    reforçam o valor do conto.

    Sobre as personagens, achei a avó bem construída, mas tive a impressão de que Claudia funciona apenas como apoio para o desenvolvimento da trama. Gostaria de ter lido reflexões mais profundas da história sobre o pov dela, talvez no final, mas imagino que o limite de palavras tornaria essa tarefa difícil, se não impossível.

    Não consegui pescar (ahn ahn) como o divórcio da neta criou o desenrolar da confissão da avó. O fato dela se divorciar do marido mais deveria ser um ponto de comum acordo do que um trecho de conflito que levaria ao desdobramento da história, ou deixei escapar algo?

    No mais, um bom conto. Parabens.

  17. Catarina Cunha
    28 de novembro de 2018

    O que processei disso tudo aí: Uma velha viúva confessa à neta o assassinato do marido, pescador alcoólatra, depois de sofrer anos de abuso. Sim, a história é só isso mesmo, mas de uma profundeza ímpar.

    Título: Simples, direto e profundo.

    Melhor imagem: “Lembrava-se de seus braços escurecidos pelo sol e a barba que raspava na pele de menina a cada beijo de chegada ou partida.”

    Impacto: Visceral! O grande trunfo deste conto não está na história e sim na forma de contar. O paralelo feito, entre a vida dos que vivem do mar e a forma de amar, foi simplesmente brilhante. O vocabulário embalado nas ondas de memórias de Dona Leo criou uma atmosfera mágica. Muito bom.

  18. Sidney Muniz
    23 de novembro de 2018

    Resumo:

    A história tem um “Q” de relacionamentos, a relação da neta com a avó e principalmente a verdade sobre a morte de seu avô, o grande segredo por trás disso e o impacto desse acontecimento a dona Leopoldina. É um conto carregado de sentimentos.

    Bem, é um conto muito bem escrito, com construções sensacionais, mas o que mais me incomodou foi o corpo ser devolvido para praia e a ferida não ter sido incriminadora, ou talvez tenha sido e ela apenas não contou essa parte da história. Mas a roupa dela deveria estar cheia de sangue, devido a ter abraçado ele naquele momento, então seria outro detalhe… Não sei, isso me incomodou.

    Apenas achei que ficou uma lacuna, e não gosto muito de lacunas desse tipo, que não me parecem propositais, se é que me entende.

    Puxada pelo braço pelo marido – aqui acho que o segundo “pelo” deveria ser “do”, certo?

    Bem, no mais o conto é muito bom, e parabenizo o autor(a) pela construção!

    Estou dando nota para o conto sem o pedido prévio de análise, caso venha a ser solicitado haverá o confronto das notas finais dos dois contos para escolha do vencedor do embate.

    Critério nota de “1” a 5″

    Título: 5 – Em minha opinião é perfeito! Um título que faz uma jogada parecida com alguns que já fiz, então talvez tenha me identificado com isso, mas o principal é que ficou muito bom. No meu texto era “Sublime_mar” uma jogada com a palavra subliminar + mar… meus parabéns!

    Construção dos Personagens: 5 – Muito boa! Até a neta que aparece relativamente pouco tem uma identidade muito bem definida. Gostei muito!

    Narrativa: 5 – A narrativa é ótima, principalmente pela habilidade na construção em geral. Não há tantas descrições de ambiente, mas a construção de sentimentos é palpável.

    Gramática: 4 – Apenas um equívoco encontrado por mim.

    Originalidade: 3 – Não é aquele conto que estou esperando nesse quesito, algo diferente, sabe. Mas é originar e nesse sentido está na média.

    História: 3 – Só não vou dar nota maior porque realmente fiquei com aquela sensação que ela se saiu ilesa disso tudo sem nenhuma desconfiança, não sei, sinto que esse “furo” poderia ser evitado, mas devo estar sendo chato demais… risos

    Mas reafirmo que é um excelente conto!

    Total de pontos: 24 pts de 30

    Boa sorte no desafio!

    Responder

  19. Marco Aurélio Saraiva
    23 de novembro de 2018

    Seu conto começa leve, até com um doce toque cômico, mas logo mergulha em profundidade em medos que a maioria procura afastar dos pensamentos: a vida sem sentido, a prisão de um casamento infeliz, o fato de carregar para o resto da vida o peso de uma única escolha errada. Tudo isso executado de forma espetacular, com uma escrita perto da perfeição, personagens carismáticos e muito bem construídos em um final arrebatador. Li apenas dois contos do desafio mas chuto que o seu está entre os melhores.

    Parabéns!!

    Destaque:
    “Leopoldina ergueu o corpo do seu Juvenal, com todas as forças que lhe restavam no corpo desgastado pelos partos e partidas”

  20. Gilson Raimundo
    21 de novembro de 2018

    Avó Leopoldina
    Avô Juvenal
    Neta Cláudia

    Após seu divórcio, Cláudia conversa com sua avó sobre homens e casamentos. Leopoldina conta como seu casamento com o pescador Juvenal foi esfriando e ele a trocou pela pesca e bebida, aos poucos tornou-se um homem violento chegando a agredi-la até que numa noite de tempestade o marido a obriga a seguir com ele na pesca, ela temendo por sua vida foi a contragosto. Assim que surgi uma oportunidade, a avó saca a peixeira do marido, que debilitado não resiste sendo abandonado sem vida no mar.

    O autor nos conta uma história onde o amor é vencido pelo descaso de um relacionamento acomodado, encontrei boas frases de efeito que gostei bastante, algumas citações criaram uma pausa desnecessária no fluxo de idéias, o desfecho até parece simples, mas vale a reflexão onde a velha Leopoldina liberta seu corpo dos maltratos porém aprisiona seu espírito à culpa. Ela destruiu a si mesma ao matar o esposo.

    Boa sorte no certame.

  21. Fabi
    21 de novembro de 2018

    Conto dramático e ao mesmo tempo solar sobre a relação entre avó e neta. Entretanto, com desfecho surpreendente por parte da avó e a versão verdadeira sobre a morte de seu avô. A neta tinha pequenos flashs de memória com relação ao relacionamento com o avô, etc. Mas a história final relatada pela avó à neta será contundente a ela.

    Gostei muito desse conto, embora duro e dramático, mas real como a vida. Gostei muito da verdade contida nele. Da coragem e falta de pudores que são boas características de um escritor. Achei a história romântica, ponderada, louca, real, linda!

  22. Fabi
    21 de novembro de 2018

    Gostei muito desse conto, embora duro e dramático, mas real como a vida. Gostei muito da verdade contida nele. Da coragem e falta de pudores que são boas características de um escritor. Achei a história romântica, ponderada, louca, real, linda!

  23. Cirineu Pereira
    20 de novembro de 2018

    Muito bom, com vocabulário e imagens que denunciam o bom nível cultural do autor. Uma história humana, plausível, mas que no entanto, talvez ficasse melhor narrada se se fizesse menor uso do narrador impessoal, permitindo ao leitor inserir-se na história, às vezes pelas memórias da senhora, outras pelos olhos da neta. História rica em fatos, menos rica em cenários e relativamente pobre no que tange à caracterização dos personagens, uma vez que essa caracterização se dá de forma excessivamente direta.

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Publicado às 20 de novembro de 2018 por em Copa Entrecontos e marcado .
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