EntreContos

Detox Literário.

Alma de Fada (Priscila Pereira)

 

“Sou Alma lavada, sou Fada,

Caminho no infinito,

Cruzando abismos,

Desfazendo feitiços,

Enfrentando perigos,

Protegida em minha bolha de sabão.”

 

Alma nunca gostou do seu nome até ouvir essa canção.

Não se lembrava onde ouviu pela primeira vez, mas desde então cantarolava fora de hora, instintivamente, sempre para se acalmar. Fechava os olhos e sentia o corpo leve, flutuante. Era bom. Até alguém chegar e sacudi-la pelos ombros.

“O que está fazendo, Alma? Outra vez no mundo da lua, menina…”

Esses episódios tornavam-se cada dia mais frequentes e a cada reprimenda, mais vontade de ir e nunca mais voltar. Sentia-se alma penada, perdida, caminhante sem lugar para pousar. Vagava sozinha, por dentro, não tinha hora nem motivo para voltar. Alma sedenta de afeição, sem ninguém que pudesse dar. Seca, rachada, esfarelando, clamava por uma gota de empatia em um mundo de solidão.

Sempre sentiu na alma o gosto da rejeição. Sem saber a razão, já no útero materno provava desse sabor.  Então foi abandonada ao dar seu primeiro suspiro nesse mundo. Ainda tinha que ouvir que “deveria ser grata, pelo menos tivera a chance de nascer”. “Grata pelo quê?” Sempre se perguntava. Pois preferia uma morte indigna ainda no calor daquela que a pariu.

Alma que tinha a alma tão triste, vivia em sua bolha de sabão. Não era de ninguém, nem dela mesma, não podia fazer nada do que queria.

“O cachorro fica do lado de fora, mocinha. Você sabe muito bem que animais são proibidos aqui.”

“Não quero saber se você ainda está com fome, tem mais gente pra comer.”

“Engole esse choro! Não tenho tempo pra isso agora.”

“Não, você não pode ter uma roupa nova, todas as outras crianças iriam querer também.”

Vivia sozinha em seu mundo mágico, onde criou amigos leais, brincadeiras, muita comida imaginária (que não enchia a barriga como a outra, mas era muito mais bonita e cheirosa), criou personagens fantásticos, do bem e do mal, mas do que mais gostava mesmo era dos grandes gatos que com um abraço a aqueciam e com seu ronronar curavam todas as suas dores e tristezas. Conversava com eles por horas, ou seriam dias?

“Sou Alma lavada, sou fada…”

Nunca soube se ouviu a canção do lado de fora ou do lado de dentro, só sabia que um dia amanheceu cantando. Talvez fosse mesmo uma fada que errou de corpo quando descia do céu, como um foguete, ainda alma desincorporada.  Decerto era pra cair no útero de uma fada, que a aguardava, mas por azar foi parar no ventre hostil de uma humana que passava desavisada na hora e lugar errados. Isso explicaria muitas coisas…

“Alma, larga esse livro, estórias de fadas são para criancinhas, você já está uma moça, precisa ler os livros de português, matemática, geografia e história, vão alimentar o seu cérebro.”

“De que adianta alimento para o cérebro se o coração morrer de inanição? Me deixa sonhar, me deixa voar, é a única coisa que me consola neste mundo tão vazio.” Pensava mas não falava, aprendeu direitinho a calar o que ia por dentro para não parecer ainda mais estranha do que já era por fora.

Em seu mundo imaginário era fada de verdade, com direito a asas, beleza estonteante e poderes. Varinha de condão levava em sua mão, sabia transformar tudo ao seu redor, nada era cinza, feio ou triste. Com um toque paredes viravam campos floridos, chão virava lagoa cristalina cheia de vitórias régias, patinhos e até sapos, um ou outro, coaxando e pulando por ali. Sua cama virava uma árvore frondosa com ramos fortes que sustentavam um balanço, onde ela passava horas discutindo filosofia com os esquilos.

Transformava também pessoas em trolls, combinando perfeitamente a frieza de dentro com a dureza de fora. Passava momentos inesquecíveis em seu mundo de fada. Era a Rainha onipotente.

“Caminho no infinito, “

Numa tarde de abril caiu do telhado. Suas asas ousaram falhar quando mais precisou delas. Enquanto caía, viu o infinito. Em alguns milésimos de segundo tudo parou, ela caminhava pelo tempo, andando para trás o tempo voltava, andando para a frente o tempo corria. Não queria saber do futuro, precisava olhar o passado, como toda criança abandonada, queria saber o porquê.

Correu de costas o mais rápido que pode, enquanto via tudo passando como um borrão, parou no instante exato em que uma mulher colocava um bebê em uma caixa de sapatos forrada com um cobertor cor de rosa, não conseguia ver o seu rosto, tocou suas costas, ela estava virando…

Dor… O chão cravou seus dentes em todo o seu corpo numa mordida feroz. Estrelas passavam diante dos seus olhos, suas explosões eram captadas pelos ouvidos, na boca um gosto de ferro. Depois o vazio, por horas, talvez dias. Então começou a flutuar em uma dose de morfina.

“Quase morreu, foi o que o médico disse. Onde já se viu pular assim do telhado?”

“Mas ela queria mesmo se matar?”

“Acho que não, pra mim essa menina não bate bem da cabeça, ela pensa que é uma fada, provavelmente estava tentando voar.”

“E agora, o que vão fazer com ela?”

“Nada ué, vai voltar quando estiver fora de perigo, só pra dar ainda mais trabalho pra gente…”

Uma lágrima escorreu dos olhos de Alma. O vapor da morfina estava sumindo devagar. Não devagar o bastante para camuflar a conversa que escutou, despedaçando seu mundo de faz de contas tão rápido quanto fora despedaçado o seu coração.

“Cruzando abismos,”

Não podia mais voar. Nem andar, por um tempo. Estava presa na cama. Tudo em volta era cinza e triste. Mesmo se tentasse muito, não conseguia mais ser uma fada. Ainda não podia aguentar os olhares de piedade, outros de medo, alguns de preocupação. Pensavam que ela era um perigo em potencial para si mesma e para as outras crianças. Não viam que ela só queria ser feliz.

Cada dia descia mais no abismo, mais e mais fundo. Tudo era escuridão. Sem meios de voltar ficou pensando em quem era realmente a Alma. Não o que os outros viam nela, não sua imagem mental de fada, não sua versão suicida, mas o que era na essência. Sem estigmas, sem máscaras, sem maquiagem. Pensou longamente. Não conseguiu uma resposta.

Já que ainda não era ninguém, poderia ser quem quisesse.

“Desfazendo feitiços,“

Descobriu que viva debaixo do jugo imposto pelos outros. Abandonada, rejeitada, feia, esquisita, louca, suicida, imprestável.  Cada palavra um feitiço que a prendia e transformava. Uma sentença que ouviu desde cedo e que se permitisse, a condenaria à prisão perpétua.

Mas como desfazer esse feitiço? Não sabia. Ainda. Tinha bastante tempo para pensar, ler, meditar e escrever. Coisa de que tomou gosto nesse tempo de inatividade física e imaginativa. Lia tudo que conseguia. Começou a escrever por sugestão da psicóloga que ia visitá-la toda semana. Disse que ajudaria a organizar seus pensamentos. Colocou em prática e viu que ajudava mesmo.

Começou escrevendo literalmente cada pensamento. Rendeu dezenas de páginas de seu caderno pautado. Acabou por cansar. Seus pensamentos não eram tão interessantes assim. Continuou escrevendo pequenas estórias, principalmente sobre como queria que tivesse sido sua infância, depois passou a colocar mais ação, personagens interessantes, motivações profundas e atos heróicos. Não sabia se estava tão bom quanto os livros que costumava devorar, mas sentia-se feliz e orgulhosa de suas estórias. Não mostrava para ninguém. Não entenderiam…

“Enfrentando perigos,”

Seu corpo voltava aos poucos a ser como antes, sua mente estava mais afiada do que nunca. Entendeu que o excesso de imaginação era bom só para escrever suas estórias. Não pensava mais em ser uma fada, poderia ser se quisesse, em suas estórias podia ser o que quisesse. Já foi um dragão, uma múmia, um pirata, um avião, uma estrela, do céu e do rock, uma mãe e uma filha. Tudo escrito em seus cadernos pautados. Já eram oito, no total.

Decidiu que era hora de mostrar para alguém. Não dava para continuar na obscuridade, seus personagens gritavam por ganharem vida, suas estórias clamavam por serem lidas. Seu mundo berrava por ser descoberto. “Mas e se não fossem apreciados, e se não fossem aceitos, e se fossem ridicularizados? Aguentaria mais uma rejeição?” Era um perigo que precisava enfrentar.

A psicóloga foi a escolhida para ler seus escritos. Era o mais perto de uma verdadeira amiga que tinha no momento. Não se fez de rogada, aceitou sem melindres e prometeu ler tudo e dizer sinceramente se eram bons.

A espera foi angustiante.

“Protegida em minha bolha de sabão.”

“O que será que aconteceu com essa menina? Nem parece a mesma, o tombo deve ter arrumado a cabeça dela…”

“Parece mesmo outra pessoa… Se concentra mais nos estudos, conversa com as outras crianças, ajuda a cuidar dos menorzinhos. Está até mais bonita.”

Quem diria. Ter um objetivo de vida podia fazer milagres.  Enquanto esperava o veredito da psicóloga, tentava se abrir para o mundo real, enxergar realmente as outras pessoas. Começou com a desculpa de coletar informações para suas estórias. Foi saindo de sua bolha, pouco a pouco foi olhando ao redor e o mundo não era tão ruim assim.

Crescer pode ser bem difícil. Abandonar sua dor de estimação também. Quem seremos se deixarmos de lado tudo que nos fizeram e passarmos a focar em tudo que podemos fazer?

Alma estava aprendendo a viver. Como um recém nascido, dava seu primeiro suspiro no mundo e dessa vez foi acolhida, por ela mesma. Não se impediria de viver, de crescer, de ser.

“Alma, a Dra Carla quer te ver, está te esperando no consultório.”

Coração batucando nos ouvidos. Parou, respirou. Se acalmou. “Se ela não tiver gostado não seria tão ruim assim, seria? Seria só mais um obstáculo para transpor. Tinha sobrevivido a muitos, sobreviveria a mais aquele. Se for preciso.”

Não seria.

Nem suas mais loucas divagações poderiam chegar perto da realidade. A psicóloga tinha falhado em ser a única guardiã de seu mundo imaginário. Compartilhou com várias pessoas que estavam empenhadas em publicar uma série de livros com tudo que ela havia escrito e se possível, tudo que ainda escreveria.

Alma não precisava mais ser uma fada. Descobriu  que a única prisão prendendo-a era a falta de amor próprio e aceitação incondicional. Alma era só a Alma, uma mocinha sonhadora que acabara de estourar sua bolha de sabão. Era livre. Tinha uma imaginação fértil.

Era escritora!

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21 comentários em “Alma de Fada (Priscila Pereira)

  1. Regina Ruth Rincon Caires
    20 de dezembro de 2018

    Resumo do conto: Alma de Fada (Soul)

    A personagem Alma, desde criancinha, sentia-se “deslocada” no mundo. Introspectiva, abandonada pela mãe, criava mundo imaginário, amigos imaginários. Adorava gatos. Criada por pessoas com as quais percebia certo distanciamento. Imaginava-se fada. De imaginação fértil, acreditava que possuía poderes, que a varinha de condão transformava tudo em redor. Um dia, caiu do telhado e, muito machucada, ficou por muito tempo presa a uma cama. Ouvia a conversa de todos que a visitavam, uns achavam que era aluada, que quis voar como se fosse fada, outros diziam que quis se matar… O mais triste foi ouvir a família que a criava dizer que ficaria boa e que continuaria dando trabalho, como sempre.
    Entre caminhar no infinito, cruzar abismos, desfazendo feitiços e enfrentando perigos, descobriu que, como “não era nada”, poderia ser o que quisesse. Por sugestão da psicóloga, começou a escrever. De início escrevia seus pensamentos. Não achou interessante. Com o corpo em franca melhora e a “mente mais afiada que nunca”, entendeu que aquele excesso de imaginação, que carregava desde pequenina, servia para contar histórias. Criou oito textos. E entregou para a psicóloga, esperando uma avaliação. A psicóloga gostou muito e procurou parceiros para fazer a edição daquilo que ela havia escrito e também o que escreveria.
    Alma descobriu-se escritora…

    Comentário/Avaliação do conto: Alma de Fada (Soul)

    Lindo título, belo pseudônimo. Reiteração.

    Vejo o texto como um belo depoimento de uma “alma” em eterna busca. Vai da dor do abandono, do carinho “alugado”, passa pelos delírios de uma imaginação sem limite e chega a um porto seguro (aparentemente). Bonita maneira de narrar o “nascimento” de uma escritora. Para alguns, pode ser um processo lento, agoniante. Parece um buscar incessante de uma paz que parece estar sempre fugindo. É a falta de algo (desconhecido)que “irá” preencher um vazio, que norteie a vida. É exatamente isto, a “alma” precisa de sentido.
    O texto é tocante, mas não o vejo como um conto. É um desafogar de sentimentos, de situações aflitivas, é uma busca constante. Um relato seccionado, cada “tópico” com um chamamento específico, o que acarreta uma leitura truncada. O texto perde fluência.
    Uns deslizes de escrita e pontuação, tudo que pode ser revisado. Acontece com todos.

    Portanto, diante da decisão que me cabe, tendo no páreo: “O Lírico Poder Transformador da Majestade (Alice) e Alma de Fada (Soul), o meu voto vai para “O Lírico Poder Transformador da Majestade (Alice).

    Boa sorte!

    Abraços…

  2. Givago Domingues Thimoti
    19 de dezembro de 2018

    Olá, Soul!

    Tudo bem?

    Gostei do seu conto. É um daqueles contos singelos que brincam com a infância e a imaginação fértil típica da idade.

    O que achei mais interessante do seu conto é como Alma reflete seu talento. Nós, escritores, temos meio que uma sina: às vezes, demoramos demais para perceber que gostamos de inventar histórias. Quando eu era criança, vivia mentindo ou perdido no mundo da imaginação. Queria muito ver como seria um conto escrito por mim com 8 anos.

    Enfim, curti demais essa ideia de mostrar uma criança com aptidão à literatura!

    Parabéns!

  3. angst447
    19 de dezembro de 2018

    RESUMO: Alma. é uma menina rejeitada desde o nascimento. Busca proteção em sua bolha de sabão, a imaginação, fingindo ser uma fada. Após um acidente, imobilizada, Alma passa a escrever suas estórias que imaginava só para si. Logo, outras pessoas se encantam com suas narrativas e Alma se descobre escritora.
    ———————-
    Conto tecido em prosa poética, com uma linguagem encantadora e imagens de conto de fadas. Embora a realidade de Alma fosse dura, ela a transforma com sua imaginação e inspiração que a transformariam em uma escrita.
    Trama apresentada com sensibilidadeno ritmo adequado de uma valsa de fadas. A autora sabe manipular as palavras de forma magistral, carregando de significado cada imagem construída. Belo trabalho. Parabéns!

  4. rsollberg
    17 de dezembro de 2018

    Fala, Alma

    Storyline: Alma, uma menina orfã de tudo, vivendo no mundo da lua, precisa encontrar o seu lugar num mundo hostil,l até que um evento inesperado serve de estopim para o reecontro consigo.Um novo nascimento, uma razão para viver.

    Sempre digo que escrever sobre escritores em um desafio de escritores é trapaça, porque até o coração mais gelado vai criar uma identificação, rs.

    Bem, a trama é muito singela, uma trajetória linear sem grandes acontecimentos no plano físico, sem reviravoltas ou climax. Contudo, graças a técnica empregada, a história consegue superar essas “ausências” e cria conexão com o leitor. O texto tem bom ritmo, algumas rimas, que não consegui identificar se foram propositais ou não, belas passagens e imagens, flertando sobremaneira com o mundo onírico de Alma, que se alimentava de sonhos. Destaco esse trecho com exemplo do boa construção: “O chão cravou seus dentes em todo o seu corpo numa mordida feroz. Estrelas passavam diante dos seus olhos, suas explosões eram captadas pelos ouvidos, na boca um gosto de ferro. Depois o vazio, por horas, talvez dias. Então começou a flutuar em uma dose de morfina.”

    Ainda que não tenha me arrebatado, ou despertado grandes emoções, curti a viagem bem desenvolvida. Parabéns, Alma!!

  5. Cirineu Pereira
    15 de dezembro de 2018

    Síntese
    O conto narra a história de uma menina, Alma, triste, rejeitada, dispersa e depressiva, porém cheia de imaginação. Após um pequeno acidente, Alma começa a aproveitar o ócio na cama do hospital para transcrever tudo que lhe vai pela mente. Passa a escrever historias as quais mostra para sua psicóloga, vindo por fim a reuní–las em livros e a publicá-los. A partir de então, Alma desabrocha para a vida, tornando-se uma garota mais feliz, auto confiante e aplicada.

    Análise.
    Um enredo que aborda, de forma simples, o problema de muitas crianças que talvez, por serem mal amadas, tornam-se desatentas, desinteressadas, depressivas, isoladas e têm baixo rendimento escolar. Apesar da seriedade do tema, soou-me como uma história voltada para crianças, o que justifica a narrativa simples, porém simplória no que tange à técnica narrativa.

    O conto em si é mal construído, mal engendrado, sem grandes enlevos, deveras linear em narrativa e emoções; e isso, infelizmente, se deve não à história em si, mas aqui pontualmente, à incapacidade demonstrada pelo autor de apreender o interesse, despertar empatia, gerar suspense, e incitar a imaginação do leitor transportando-o ao mundo de Alma. Uma ótima ideia, mas que certamente requereria muito mais tempo para revisões.

  6. Fernando Cyrino.
    14 de dezembro de 2018

    Olá, Soul, cá estou eu com a sua narrativa. A história da menina desajustada, toda esquisita, que havia sido abandonada ao nascer. A menina que se via fada e que ia crescendo, alienada do mundo real (como as crianças são, não é mesmo?) no interior de uma creche. A menina que nos seus arroubos de sonho, um dia cai do telhado, ou se lança dele, ou mesmo parte para um voo frustrado. Aí você foi feliz em criar essa imagem que gostei demais: “O chão cravou seus dentes em todo o seu corpo numa mordida feroz.” Triste e real retrato da grande dor. E a menina continua a crescer até se descobrir, a partir do olhar de descoberta da sua amiga psicóloga, uma escritora.
    Soul, gostei da sua história. Um conto bem escrito, uma personagem bem delineada e o título que é um belo de um achado. A narrativa flui fácil e simples. Agora, Soul, do que não apreciei foi do final. Achei que a lição moral que me trouxe deixou a história mais para o lado da fábula do que do conto. Pior ainda, quebrou o que vinha construindo. Criou um final feliz que achei mesmo que não funcionou como você deve ter imaginado que aconteceria. Fosse a história para crianças, ainda bem, caberia esse tipo de fecho, mas ela não é para os pequenos. O vocabulário que você utiliza não condiz com eles. Então, Soul, vejo aqui, diante de mim uma história que começa bem legal, que caminha de uma forma interessante, me prendendo a atenção, mas que, como a personagem Alma, despencou do telhado, ela também cai no final… Receba o meu abraço fraterno,

  7. Paula Giannini
    13 de dezembro de 2018

    Olá, autor(a),

    Tudo bem?

    Resumo

    O conto narra a trajetória do nascimento de uma escritora, desde sua infância sofrida, até o momento em que deixa vir à tona a sua verdadeira vocação.

    Meu ponto de vista

    O final do conto, que é a premissa do trabalho, me ganhou. Com forte viés social, a trama fala do despertar e do incentivo das vocações. Se não fosse essa determinada psicóloga, jamais a menina poderia florescer e ficaria oculta em uma vida de privações. Para mim, é aí que reside a beleza do conto, quase um “conto de formação”, com uma mensagem implícita, porém sem se tornar panfletária.

    Parabéns autor(a).

    Beijos
    Paula Giannini

  8. Pedro Paulo
    9 de dezembro de 2018

    RESUMO: Neste conto nós observamos o crescimento de Alma. Abandonada pela mãe ainda enquanto bebê, a garota cresceu em um orfanato, com uma infância atormentada, a qual passou a maioria do tempo sozinha, penando para compreender a crueldade do mundo em que vivia, sempre alheio às suas vontades e necessidades. Não tardou a forjar um mundo próprio, em que uma música de origem incerta fez dela uma fada, todo o restante do mundo se ajustando à sua imaginação. A consequência final disso foi a vez em que se atirou do telhado, imaginando que poderia voar. Hospitalizada, passaria pela obscuridade do choque de realidade e começaria a ler e escrever com mais intensidade, enfim conseguindo delimitar a realidade da fantasia. Ao mesmo tempo, atendia à psicóloga, a quem decidiu confiar seus escritos. Depois da expectativa, descobre que sua confidente teria partilhado seus escritos com editores interessados em publicá-los, conferindo a Alma uma identidade definitiva: era escritora!

    O CONTO: Ótimo conto! Eu suspeito que a autora deva ter se inspirado em “Anne com E” (ou Anne de Green Gables, se for pelo nome original), em alguma medida. A protagonista órfã, de prodigiosa imaginação e terrível solidão. Além disso, protagonista com um nome iniciado com A e quatro letras. Anne imaginava que era uma princesa, Alma imaginava que era uma fada. E, por vezes, Anne também se perdeu profundamente em suas fantasias, fugida das rudezas da realidade… feito Alma. E, além do mais, ambas personagens findam excelentes escritoras.

    Muito bem, a premissa é interessante e não poderia ter sido dessa forma se a autora não tivesse sabido executá-la. Da mesma maneira na qual se vê no conto com o qual foi pareado nessa rodada, existe uma linearidade na progressão da personagem de Alma, em que vemos a fantasia nascer, crescer, esvanecer e então se reestruturar. O que eu achei fantástico foi como aproveitou a canção que inicia a leitura para servir a diversos pontos do conto. Em primeiro lugar, a canção inteira foi o ponto de partida para o mascaramento da realidade. Depois, a canção vai retornando, verso por verso, ritmando as etapas do crescimento de Alma, fazendo da música uma metáfora para seu amadurecimento.

    O conto também merece parabéns pela sua agilidade, mais de um parágrafo sinteticamente resumindo ao leitor muito bem a maneira como Alma se sentia e como isso se sintonizava com a canção. Sobre isso, lembro-me bem do momento que a música diz “desfazendo feitiços”, o conto nos dando os equivalentes reais desses “feitiços”. Parabéns!

    A DISPUTA: Para começar, estes são contos diferentes, mas que partilham a semelhança de se centrarem na progressão de suas protagonistas enquanto pessoas. Em Vênus, lemos sobre um crescimento que em verdade se trata de uma decadência, enquanto é o contrário em Alma. É preciso observar que o caso de Plínio está relacionado ao desenvolvimento de uma psicopatia sadomasoquista, enquanto em Alma se trata de uma confusão entre fantasia e realidade, pautada numa infância difícil.

    Dessa maneira, o que faz essa avaliação é entender a maneira como o crescimento das personagens prossegue no enredo, em que acho que o conto “Alma de Fada” se saiu melhor sucedido do que se lê em “Vênus de Milo”. Inclusive, é algo que pontuei nos comentários individuais de cada conto. Em Vênus, temos uma primeira parte que comove e choca, por esmiuçar as revelações que condicionam a personagem àquela situação, com a segunda parte da leitura sendo mais apressada, focando em momentos que achei não acrescentarem tanto à trama como seria se tivesse enfatizado outros. Já em Alma, o que notei foi um ritmo mais cadencioso, em que a autora aproveitou uma canção que serve tanto para estruturar o crescimento da protagonista como também para dar o ponto de partida da história.

    Portanto, meu voto para esta disputa favorece “Alma de Fada”, de Soul. Desejo muito boa sorte aos autores para os confrontos que virão!

  9. Leandro Soares Barreiros
    5 de dezembro de 2018

    Olá, Soul. Desconsidere (se quiser) a leitura acima, foi mais um exercício criativo. 🙂
    Segue meu comentário sério:

    A história narra a vida de uma criança órfã que, para fugir da realidade do mundo em que vive busca exercitar sua imaginação da forma mais criativa possível. Ao longo de toda a história, é nos apresentado o fato da vida não ser muito benevolente com Alma. Ao final do conto, temos uma superação da personagem, que vence seu escapismos para viver sua realidade concreta, admitindo suas histórias como histórias e se descobrindo enquanto escritora.

    De início, acho importante deixar claro para você que, diferente da maioria dos colegas, eu não busco estabelecer uma análise estritamente técnica, como de crítico. Minha análise é sobretudo de leitor, em um momento inicial e, depois, racionalista, buscando uma reflexão das minhas impressões.

    De um modo geral, a história não funcionou comigo. Fiquei um bom tempo pensando sobre o motivo. Você tem boas coisas aqui: uma proposta de história bem definida (superação), uma personagem bem caracterizada, tanto no que diz respeito aos problemas que ela enfrenta quanto à realidade para qual ela foge etc.

    Por isso fiquei um pouco encucado. Por que, sob a minha imersão, ela não teria funcionado? Cheguei à conclusão de que existe um problema estrutural no conto, ou, pelo menos, uma escolha estrutural que me afastou.

    Veja, a maioria das história tem como tendência apresentar uma situação que representa um deslocamento do protagonista de seu estado normal para um estado de desconforto que ele precisa superar. É isso que meio que inicia a ação da história. Esse tipo de evento geralmente acontece no início da narrativa, ou a própria narrativa já se inicia depois dele. É isso que costuma mover o personagem p seus desafios, para além da mesmice de seu mundo e, de reboque, fisga nosso interesse para continuar a leitura :

    Alguns exemplos na própria disputa atual :
    “O soldado caía nas profundezas do abismo e ouvia mil vozes sussurrando coisas incompreensíveis.”
    Cinzas, primeiro parágrafo.
    O que diabos aconteceu com esse soldado? Para onde ele está indo? Que vozes são essas?

    “Ding. Dong.
    Os olhos de Antônio dirigiram-se incrédulos até a passagem para a sala de jantar. Não queria acreditar que alguém o atrapalhava durante a sua arte. Tinha comprado aquela casa em um condomínio de luxo justamente para…

    Ding. Dong.”

    O que fica, em torno do 8 parágrafo.

    Espera, então esse cara está mesmo em casa? Pera aí, esse não é o trabalho dele de verdade, então…

    “Contou tudo sobre o seu divórcio. Explicou com detalhes o porquê da sua decisão de deixar o marido e morar em outro país.”

    “− Até parece que nem foi casada por tantos anos… – Deu uma breve pausa para tomar ar e arriscou um passo mais ousado. – Depois, não pode reclamar da língua desse povo…”

    A-Mar, primeiro e sétimo parágrafos

    Opa, o que o povo anda falando dessa senhora e do seu marido?

    *

    Veja, isso não é regra absoluta. Mas a colocação dessas mudanças direciona a narrativa, criando uma expectativa sobre transformações que virão, pra o bem ou para o mal.

    No caso de “Alma de fada”, não identifiquei nenhuma mudança do cotidiano da personagem que colocasse a própria história em ação. Temos uma menina com a vida sofrida e um longo detalhamento dessa vida sofrida e o escapismo dela para a imaginação, mas, ainda assim, sem um conflito propriamente dito.

    Acho que a queda do telhado poderia marcar essa quebra com o cotidiano. Mas está muito adiante no texto, depois de muita explicação. Se eu fosse sugerir, e não posso deixar isso o mais claro possível, isso é uma sugestão de leitor, talvez fosse interessantes mover a queda para o início da história, fazendo as alterações necessárias.

    “O corpo de Alma atingiu o chão. As asas de fada falharam. No quarto, durante a alternância deste mundo e daquele, reconheceu a voz de Maria conversando com alguém ‘essa menina sempre foi retardada, dissera’.

    Ou qualquer coisa do tipo.

    Além disso, agora sobre o texto em si, algumas rimas, intencionais ou não, me desanimaram um pouco .

    “Esses episódios tornavam-se cada dia mais frequentes e a cada reprimenda, mais vontade de ir e nunca mais VOLTAR. Sentia-se alma penada, perdida, caminhante sem lugar para POUSAR. Vagava sozinha, por dentro, não tinha hora nem motivo para VOLTAR. Alma sedenta de afeição, sem ninguém que pudesse DAR. ”

    Achei elas sem razão de ser, uma vez que estão só nesse parágrafo, não se repetindo no restante da narrativa.

    É isso, Soul. Acredito que tenha sido deslocado do texto por conta da demora para entrar em contato com o evento inicial que dá uma balançada no mundo do personagem. Antes dele achei a exposição um pouco cansativa. Mas há elementos muito bons também: uma personagem bem caracterizada, um rumo para a história e um “pay-off” com a superação de alma.

  10. Leandro Soares Barreiros
    5 de dezembro de 2018

    O conto narra a história de Alma, criança que, por ter sido abandonada na infância, desenvolve um grave quadro psiquiátrico que quase culmina em sua morte. De maneira sutil, o autor buscou estabelecer um quadro de esquizofrenia com a personagem que opta por um mundo distanciado da realidade. A música, que surge em sua cabeça sem uma origem clara, é a primeira pista do autor. Alma, que a princípio é apresentada como criança inocente, demonstra desde logo delírio de grandeza e falta de empatia com os outros, justificando tais ações através de um discurso de não compreensão.

    O autor cuidadosamente estabelece trechos chaves na narrativa que sustentam essa perspectiva, mas eles são sutis:

    Vivendo em um orfanato, Alma pretende prejudicar o ambiente hígido das outras crianças para satisfazer seu desejo de ter um animal de estimação, que, provavelmente, seria visto em seu mundo de delírio como um grifo, ou outra criatura mágica. Apenas a repressão da responsável pelo lugar impede que Alma atinja o bem estar das crianças:

    “O cachorro fica do lado de fora, mocinha. Você sabe muito bem que animais são proibidos aqui.”

    Ainda que sutil, isso fica mais claro a seguir. Mesmo diante das dificuldades que passa a instituição e da fome das outras crianças, Alma espera que sua própria ânsia seja completamente satisfeita, ainda que custe o bem estar dos outros, tendo sua gula retardada apenas diante de reprimendas dos adultos:

    ““Não quero saber se você ainda está com fome, tem mais gente pra comer.”

    Ainda negligenciando a realidade de pobreza pela qual todos ali passam e mais uma vez se percebendo enquanto superior aos outros, exige para si roupas novas, sem nada demandar para seus companheiros abandonados, que, aliás, mal são mencionados no texto (há um motivo para isso):

    “Não, você não pode ter uma roupa nova, todas as outras crianças iriam querer também.”

    O motivo pelo qual os colegas de orfanato não são abordados na história é explicado pelo complexo de superioridade de Alma: eles não são bons o bastante, fazendo com que a menina recorra a criaturas fantásticas como pares.

    “criou personagens fantásticos, do bem e do mal, mas do que mais gostava mesmo era dos grandes gatos que com um abraço a aqueciam e com seu ronronar curavam todas as suas dores e tristezas”

    Alma, de fato, se percebe enquanto dona do mundo, aquela que deve ter toda a comida, o animal de estimação que quiser (independente das regras) e as melhores roupas.

    Seu delírio é enfatizado pelo fato de que, no mundo que construiu a partir de sua imaginação, Alma é “Rainha onipotente” e sua falta de empatia e intolerância é marcada pelo desejo de transformar aqueles que não gosta em trolls.

    “Transformava também pessoas em trolls, combinando perfeitamente a frieza de dentro com a dureza de fora.”

    Em outras palavras, tinha desejo de mutilar fisicamente aqueles tinham “frieza por dentro” (ou seja, que negavam que ela repetisse o prato de comida para que outras crianças com fome pudessem comer).

    O ápice de seu delírio é a “queda” do telhado, momento da história que marca o amálgama dos dois mundos de Alma, que se decepciona em sua razão enfraquecida pelas asas não funcionarem:

    “Suas asas ousaram falhar quando mais precisou delas.”

    A partir daqui a história mistura a ficção e a realidade de Alma. Diante da crueza do não funcionamento das suas asas e de sua percepção de que, de fato, não ocupava lugar especial no mundo (o que foi reforçado pela conversa entre o médico e a responsável do orfanato), Alma busca uma nova ficção realista em que possa se sentir novamente especial e superior aos outros. Esse é o final da história.

    Essa escolha fica clara quando o personagem passa a escrever sobre seus antigos delírios. No fim da história, Alma acredita ter alcançado um novo patamar de onipotência, não mais fazendo com que os outros se curvem ao seu poder transformador de pessoas em trolls, mas fazendo com que todos adorem as histórias que antes contava para si mesma.

    Contudo, toda essa nova realidade é, em si, uma ilusão. O autor é sútil ao expressar isso, mas do mesmo modo que os delírios de fadas guardavam arquétipos de histórias de fantasia e aventura, assim se faz no encerramento do conto.

    “Tinha sobrevivido a muitos (obstáculos), sobreviveria a mais aquele. Se for preciso.”

    “A psicóloga tinha falhado em ser a única guardiã de seu mundo imaginário.”

    Assim, os últimos parágrafos do conto são, na verdade, resultado da mistura entre ficção e realidade criada pelo personagem. Nota-se, aqui, que Alma simplesmente transpôs a ilusão que satisfazia seu delírio de grandeza (ser uma fada rainha), para uma nova ilusão para satisfazer seu delírio de grandeza (ser uma super escritora).

  11. iolandinhapinheiro
    5 de dezembro de 2018

    Olá, autora – Acho que vc é menina. Resumo: O conto trata sobre a vida e quase morte e pós quase morte de uma escritora chamada Alma, que pensava que era uma fada. Uma menina órfã que jamais superou o fato de ter sido rejeitada ao nascer, que tem uma sensibilidade além e por isso mesmo não é uma pessoa que se encaixa.

    É uma história intimista onde os fatos importam menos que os sentimentos provocados por eles. Do cotidiano a autora tira filigranas, detalhes que traçam a personalidade de Alma e o seu sofrimento pela sensação de não pertencer àquela vida. Ao redor dela, apenas insensibilidade e incompreensão. Toda esta carga emocional negativa é transformada em palavras com forte pendor lírico. A cena que mais apreciei foi a do suicídio que não deu certo. Do fato de ela conseguir se ver retroagindo até o momento de nascer, para depois voltar para o momento que o chão a recebe. Ficou bem legal.

    Há um acréscimo onde a autora cria um final feliz para Alma, em que ela se descobre escritora e se insere num mundo que é seu. Sinceramente? Acho que não precisava. Poderia ter deixado o chão mordê-la e recebê-la num ato final de uma ópera trágica e seria o final perfeito e impactante que eu tanto queria ler.

    Não encontrei problemas de gramática.

    Um abraço e sorte no desafio.

  12. Davenir Viganon
    5 de dezembro de 2018

    Comentário-Rodada3-(“Vênus de Milo” x “Alma de Fada”)
    “Alma de Fada”
    Alma é uma orfã que vive em um orfanato que sofreu rejeição e refugiou-se no mundo da imaginação e encontrou vazão para toda sua dor na escrita e acabou por se tornar escritora.
    Conto bonitinho. Isso e um pouco mais, pois me identifico (assim como acho que os outros que participo dos desafios) com a relação dor/escrita ainda que tenha ficado melodramático demais, pois as dores que formam um escritor não precisam ser tão simples e/ou extremas, mas bem mais complexas e isso me fez optar pela “Vênus” neste confronto.

  13. Paulo Luís
    2 de dezembro de 2018

    Olá, Soul, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu trabalho.

    Enredo: Jovem traumatizada por rejeição de infância, quando adulta, convive complexo de fada e suas fantasias imaginadas. Ao sofrer um acidente em consequência de suas fantasias, passa a viver o mundo real, tornando-se escritora.

    Gramática: Sem problemas aparentes que o desabone.

    Tema: O conto narra um pesar de auto-estima, até com certa competência ao explorar os recônditos de uma alma por demais perturbada. Entretanto é uma narrativa onde todos os sentidos são explícitos, não dando ao leitor margens de dedução. E um tanto repetitivo os pesares imaginativos da personagem. Trans-formar suas angústias em escrita literária, talvez tenha sido o ponto positivo. Embora tenha continuado uma explicitação desnecessária dos sentimentos, o ponto fraco do conto. Nem tudo precisa ser dito, mas pressentido, acredito eu.

  14. Fil Felix
    2 de dezembro de 2018

    Bom dia! Um conto sobre uma garota, Alma, que é abandonada pela mãe ao nascer, cresce numa espécie de orfanato, sofre um acidente ao tentar voar, começa a escrever seus pensamentos, que viram histórias e que a colocam como escritora no final.

    É um conto com pegada infanto-juvenil, uma leitura leve e divertida. Gostei do nome Alma e dos trocadilhos que criou com ele, toda a narrativa tem um tom poético, o que geralmente curto muito, dá um lirismo à história. Em alguns momentos, porém, senti que a poesia ficou meio forçada. Voltando pra temática jovem, a ideia de fada, de poder voar, de desabafar na escrita e superar os obstáculos através da literatura, é uma ótima mensagem e dá uma leitura mais profunda ao conto, como o fato de viver numa bolha, vendo o lado de fora de maneira abstrata. Mas como uma bolha de sabão, tem uma camada fina que só basta a gente tentar estourar. Só acho que, particularmente, o final ficou muito “motivacional”, explicitando a ideia de amor próprio, a “moral da história”.

  15. Ana Maria Monteiro
    29 de novembro de 2018

    Conselho: não tem, o conto é bom. Cheira-me muito a menina contista, tem aquela qualidade que se encontra lá.
    Prémio “Quando é a alma quem escreve”

  16. Fheluany Nogueira
    29 de novembro de 2018

    A menina Alma, depois mocinha, mora, talvez, em um orfanato (não é mencionado) e se sente “abandonada, rejeitada, feia, esquisita, louca, imprestável”. Na procura de superação, entrega-se aos devaneios e cria um mundo imaginário, mas acaba por tentar o suicídio. Presa à imobilidade durante o restabelecimento da queda, é aconselhada que escrevesse pela psicóloga que, mais tarde, foi a escolhida para ler as histórias. Assim, Alma tornou-se escritora — escreve ficção em uma tentativa de sobreviver a si próprio, traduzindo-se em outra dimensão, para além do que consideramos real.

    Portanto, a função de linguagem que predomina no texto é a metalinguística, pois usa a escrita para retratar as características necessárias ao construir um texto. A trama do conto é composta do processo detalhado e extenso da mudança gradual de comportamento da menina, mas, ela sempre muito criativa, tornando o final previsível… Outro ponto é o tom fabular. As fábulas, os contos infantis exibem uma lição de moral de permeio, que aqui veio claramente expressa – ter um “objetivo na vida, amor próprio e aceitação incondicional” de si mesmo – o que fez o texto cair em didatismo.

    A linguagem é poética, comovente, adequada ao propósito, mas, às vezes, escorregando para a pieguice (talvez porque o(a) autor(a) tenha envolvimento emocional com o tema). O simbólico jogo com as palavras (Alma x alma e fada) ficou bastante sugestivo. A simplicidade deixou o texto fluido e envolvente, apesar de algum exagero na dramaticidade. Pequenos deslizes gramaticais, de pontuação, não prejudicaram o texto e, portanto, não vou enumerá-los.

    Parabéns pelo trabalho! Abraço!

  17. Sidney Muniz
    23 de novembro de 2018

    Vamos lá!

    Resumo: Alma é uma pessoa confusa, que a princípio parece crê que é uma fada, mas com o decorrer da história passamos a entender que na verdade nada mais é que uma pessoa ainda em processo de descoberta e seu poder criativo é tão grande que ela mesma se confunde com suas criações tornando-se parte do que cria, e a única forma que ela tinha de se libertar era passando as suas ideias para o papel, tornando-se uma escritora.

    Lembrei-me de Fernando Pessoa: “O Poeta é um fingidor, finge tão verdadeiramente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.”

    Um bom conto, porém para mim, meio água com açúcar, mesmo que seja bem escrito não me cativou o bastante.

    Análise:

    Esses episódios tornavam-se cada dia mais frequentes e a cada reprimenda, mais vontade de ir e nunca mais voltar. Sentia-se alma penada, perdida, caminhante sem lugar para pousar. Vagava sozinha, por dentro, não tinha hora nem motivo para voltar. Alma sedenta de afeição, sem ninguém que pudesse dar. Seca, rachada, esfarelando, clamava por uma gota de empatia em um mundo de solidão.

    Excesso de rimas que me incomodaram na leitura: “voltar” “pousar” “voltar” “dar”

    Isso tudo no final das frases deste parágrafo.

    Correu de costas o mais rápido que pode – Pôde

    Também durante todo o texto mesmo entendo a ideia de ênfase, achei a palavra “Alma” sendo muito usada, chegou a me cansar. mas posso estar sendo chato.

    Estou dando nota para o conto sem o pedido prévio de análise, caso venha a ser solicitado haverá o confronto das notas finais dos dois contos para escolha do vencedor do embate.

    Critério nota de “1” a 5″

    Título: 3 – O título para mim não casou o bastante, pois após ela se descobrir como escritora meio que perdeu o sentido “alma de fada” em minha opinião, já que a ideia concreta desse fato se desfez. Mas é só minha opinião mesmo.

    Construção dos Personagens: 3 – Bem, como a ideia do conto alterna, e a confusão da personagem ás vezes parece ser loucura, outrora é surreal e de repente ela é uma escritora de grande potencial, bem, o que estou tentando dizer é que de fato, por mais de entender que o excesso de “criar” dela fez isso, senti que ela não tem uma personalidade definida e não me passou o carisma necessário.

    Narrativa: 3 – Uma narrativa boa, na verdade acredito que está na média, e como teremos narrativas bem melhores que essa, devido as rimas e repetições que achei excessivas,como a incapacidade de conquistar o meu eu leitor no decorrer dela, estarei dando essa nota.

    Gramática: 4 – Apenas um equívoco encontrado por mim.

    Originalidade: 2 – Não achei tão original, na verdade mesmo respeitando o trabalho do autor(a) preciso dizer que a ideia é meio morna, e como já li algumas coisas parecidas, não achei nada empolgante.

    História: 2 – Novamente, como o texto perdeu em originalidade, aqui também preciso dizer que a história se mostrou muito confusa, com algumas alterações na linha de raciocínio que não me cativaram, ainda assim vi potencial no autor(a) devido algumas construções.

    Destaco esse trecho que achei muito positivo:

    Crescer pode ser bem difícil. Abandonar sua dor de estimação também. Quem seremos se deixarmos de lado tudo que nos fizeram e passarmos a focar em tudo que podemos fazer?

    Total de pontos: 17 pts de 30

    Boa sorte no desafio!

  18. Marco Aurélio Saraiva
    23 de novembro de 2018

    Caramba o seu conto é muito bom. Geralmente não gosto sem contos assim, com um tom infantil e que se esforçam para deixarem claros os seus objetivos e lições (como, por exemplo, quando, no final, você explicita estes detalhes : “Alma não precisava mais ser uma fada. Descobriu que a única prisão prendendo-a era a falta de amor próprio e aceitação incondicional.”)

    Mas você escreveu tudo de forma tão bonita, doce e agradável que ler tudo foi um prazer. Gostei muito de Alma; creio que, ao terminar de ler, fiquei com um pouco dela em mim.

    Seu conto tem uma história simples e uma lição simples, mas é escrito com muito sentimento e amor. Gostei, especialmente, dos vários usos da palavra “alma” e do tom poético do conto.

    Destaque para a frase:
    Quem seremos se deixarmos de lado tudo que nos fizeram e passarmos a focar em tudo que podemos fazer?

  19. Gilson Raimundo
    21 de novembro de 2018

    Desde o nascimento, Alma sentia-se injustiçada, foi abandonada pela mãe e onde vivia com outras crianças nunca podia fazer o que desejava por isso criou um mundo de fantasia onde a vida era bem melhor. Certo dia saltou do telhado pensando ter asas de fada, acabou numa cama de hospital taxada como suicida. Pelo conselho da psicologa a quem contou suas fantasias acabou escrevendo suas estórias num caderno pautado saindo assim de sua bolha para o mundo real onde se tornou uma grande escritora.

    O começo um tanto poético me lembrou o sonhador Pequeno Príncipe, este conto parece direcionado ao publico infanto-juvenil que certamente vão aprecia-lo por suas mensagens de superação e principalmente por mostrar que ter uma imaginação fértil pode ser uma coisa muito boa. O uso das aspas poderia ser reduzido, sei que é para separar as ações das personagens, mas acabam deixando o texto carregado. A linguagem é simples e direta, a reviravolta foi adequada e esperada.

    Boa sorte no certame.

  20. Fabi
    21 de novembro de 2018

    Conto onírico lindo em que a alma de uma pessoa se sente uma fada. E sendo fada pode realizar o que precisa para ser feliz fugindo da realidade. O conto explícita a grande relação que é o processo mãe-filho de maneira real e os motivos pelos quais, a alma quer ser uma fada. O conto possibilita a fada(alma) o reencontro consigo mesmo de maneira real, plausível.

    Adorei este conto! Muito bem escrito e descrito. Gosto de textos descritivos. Me identifiquei muito com o mundo em que nos enquadramos ou somos pegas para que sejamos enquadrados e explorados e a contrapartida do amor próprio, a liberdade de escrever e seguir. Muito bom.

  21. Fabi
    21 de novembro de 2018

    Adorei este conto! Muito bem escrito e descrito. Gosto de textos descritivos. Me identifiquei muito com o mundo em que nos enquadramos ou somos pegas para que sejamos enquadrados e explorados e a contrapartida do amor próprio, a liberdade de escrever e seguir. Muito bom.

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Publicado às 20 de novembro de 2018 por em Copa Entrecontos e marcado .
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