EntreContos

Detox Literário.

Miragem (Gustavo Araujo)

Endurance trapped in ice, 1916

A chave de ferro pendia em seu pescoço, como um amuleto. O balanço do navio dificultava o equilíbrio, mas ele já se acostumara. Mesmo com as mãos trêmulas, acertou a fechadura de primeira, destrancando a porta de sua cabina. O teto baixo o obrigava a se curvar e ele só se sentiu confortável ao sentar-se junto à escrivaninha. Com outra chave abriu uma das gavetas e tirou de lá uma maçã vermelha. Analisou-a como ourives. A fruta exibia traços de bolor na base, mas o restante parecia perfeito. Ele sacou a faca amolada de seu cinto e cortou um pedaço. Mastigou-o de olhos fechados, sorvendo lentamente o sumo que se desprendia. Esfregou as gengivas inflamadas com a polpa, agora seca. De um odre serviu-se de vinho, entornando o cálice de uma só vez. Por fim, embrulhou a fruta de volta e guardou-a à chave.

Chamava-se William Perry. Era o piloto do Vancouver, uma embarcação enviada pelo Almirantado Neerlandês para encontrar a Passagem Noroeste. Havia uns oitenta anos, o português João Martins dissera ter descoberto um caminho entre o Atlântico e o Pacífico, em algum lugar ao norte de Spitsbergen. Desde então, navios e mais navios foram em busca desse trajeto, sem que ninguém jamais tivesse descoberto algo verdadeiro. Muitos, senão a maioria, havia perecido. Homens morriam como formigas, alguns de loucura, outros de fome. Embarcações eram perdidas a ponto de se acreditar, enfim, que Martins havia mentido. Que tudo não passava de bravata, de uma estratégia miseravelmente bem elaborada para afastar ingleses e neerlandeses dos mares ao sul. Sim, os malditos portugueses que controlavam todas as rotas de Lisboa ao Cabo da Boa Esperança, obrigando todos os demais a sacrificar homens e navios na procura de uma alternativa cuja existência se revelava tão provável quanto a de um unicórnio.

O Vancouver saíra de Rotterdam havia quase dois anos. Seguindo a maldição, muitos dos tripulantes, marinheiros, soldados e até mesmo oficiais haviam morrido. O próprio capitão-mor, antes um sujeito rechonchudo e de sorriso vasto, agonizava agora em sua cabine. Não era apenas a solidão, a procura incessante e infrutífera que os fazia tombar, mas sim o escorbuto. Os homens não sabiam economizar as rações, não acreditavam nos costumes passados de geração a geração que ensinavam como escapar do flagelo. Dos setenta e seis tripulantes, agora restavam vinte e dois. E mesmo assim a procura continuava.

Perry destrancou outra gaveta e mesmo ciente de que estava sozinho em sua cabine, olhou por trás do ombro. Só então tirou o portulano de lá. Abriu-o no terço final, onde uma tira de couro servia como marcador. O livro, acreditava-se, pertencera à armada de João Martins e continha as observações realizadas dia após dia – cores da água, profundidade do mar, condições climáticas, marés, peixes e pássaros circundantes — até que a passagem fosse descoberta. Perry não sabia como o portulano fora obtido, mas procurava segui-lo como um garoto que olha um mapa de tesouro. Depois de tanto tempo, porém, já não acreditava em sua veracidade. Possivelmente se tratava de uma falsificação compilada para levá-los à morte.

Guardou-o de volta e pensou em sua casa, em Emily e no filho James. O que estariam fazendo àquela hora do dia? Balançou a cabeça, espantando as reminiscências. Um homem do mar não precisa de saudades. Levantou-se e caminhou de volta ao tombadilho, subindo a gaiúta. Precisava substituir o vigia, um sujeito magro e de olhos injetados chamado Samuel. Àquele momento, a ampulheta ainda guardava certa quantidade de areia, de modo que Perry sentou-se na amurada do passadiço e deixou-se atingir pela ventania. O ar gelado era um alívio ante ao odor nauseabundo do interior da embarcação. Em certos momentos, podia sentir o cheiro de alcatrão se desprendendo das vigas do casco e misturando-se à urina dos ratos. O mar, sempre o mar, trazia a redenção.

Desde garoto fora assim. Aprendiz do mestre John Cabot, Perry passara mais de quatorze anos em regime de semiescravidão, entre estudos, tarefas e castigos, sendo-lhe ensinado tudo o que se sabia sobre os mares. A Inglaterra teria, em breve, a Marinha mais poderosa do mundo. Acreditava nisso como uma beata de Westminster crê em São Jorge. Só que esse protagonismo dependia, naturalmente, da experiência dos navegadores ingleses. Nem que para isso tivesse que pilotar um navio neerlandês.

“Está cansado, Samuel?”, perguntou ao homem que jazia em pé, mais morto do que vivo, ao lado do timão.

“Sim, piloto. Deus é minha testemunha de que não dormi um só instante neste frio dos infernos.”

“Preciso que alguém substitua o vigia do gurupês. Pode chamar Johann Munk? Vi que ele estava dormindo.”

“Aquele miserável não se aguenta em pé. Duvido que chegue a ver o sol novamente.”

“Aposto que se fosse por um gole de vinho ele se levantaria sem pestanejar.”

“Qualquer um de nós venderia a mãe por um gole de vinho, piloto.”

“Vá acordá-lo. Diga que mandei que subisse ao gurupês. E que minha ordem é que ele fique por lá até morrer ou até que encontremos essa passagem amaldiçoada.”

“Mas…”

“Se ele não puder se levantar, a missão é sua, Samuel.”

Samuel resmungou algo incompreensível e se afastou, arrastando os pés como se estivesse preso a cordames de atracação. Perry podia ler seus pensamentos. “Piloto inglês dos infernos! O que fez conosco? Que Deus o maldiga e que o diabo o receba de braços abertos”. As últimas ordens inteligíveis do capitão-mor foram para continuar com a busca. O portulano era o trunfo e nada nesse mundo o faria desistir agora. Nem mesmo a lembrança cada vez mais dolorosa de seus últimos dias em Gosport.

***

Mal percebeu quando Munk passou por ele em direção à cesta da gávea. Talvez tivesse dormido também. Estalou os dedos enregelados e agarrou os raios do timão, levantando-se. Acompanhou aquela figura esquálida subindo o cordame como uma aranha aleijada. As velas estavam cheias e o Vancouver deslizava sem dificuldades sobre o mar de chumbo. No horizonte, um esgar alaranjado anunciava o fim do dia, conferindo às nuvens um tom violáceo, tão bonito quanto efêmero.

Perry conferiu a ampulheta. A hora custava a passar. Em certos momentos imaginava que a areia fora contaminada pela maresia, ganhando volume, recusando o mergulho ao bulbo inferior. Ou talvez tivesse congelado.

Não acreditou quando Munk, com aquele sotaque carregado de Delft, anunciou que havia um barco a pouca distância. Cambaleante, Perry seguiu até o mastro, mas a posição do sol, projetando-se no horizonte, o impedia de ver com nitidez. Pediu que Munk confirmasse a informação. Sim, havia um barco pequeno, uma baleeira talvez. E, mais intrigante, com alguém a bordo.

Perry fez soar a sineta junto ao timão, convocando os marinheiros em condições de se levantar. Quatro deles se apresentaram, todos maltrapilhos, barbas ensebadas e fedendo como leões marinhos. Pediu que resgatassem a embarcação. O tripulante, fosse quem fosse, deveria subir ao Vancouver. Talvez tivesse informações sobre a rota a seguir.

Não tardou até que voltassem. Os quatro marujos subiram ao convés trazendo o tripulante da nau perdida. Um garoto. Oito anos no máximo. Um garoto.

*.**

O menino tinha a pele clara como madrepérola, os olhos azuis fulgurantes e os cabelos castanhos. Trajava uma espécie de camisola esverdeada, da mesma tonalidade do mar, e não parecia se incomodar com o ar frio.

“Como é seu nome, garoto?”, indagou Perry, vindo ao encontro do grupo.

“O mar comeu a língua dele, piloto”, disse um dos marinheiros que içara o menino das águas, um sujeito de nariz adunco chamado Jan de Hoek.

A essa altura, o tombadilho recebia mais curiosos. Alheio a eles, Perry agachou-se e encarou o visitante. Em seguida perguntou:

“Foi uma longa viagem, não?”

O menino pareceu prestar atenção, mas isso durou apenas um instante. Em seguida perdeu o olhar no horizonte além da amurada. Talvez estivesse cansado. Ou talvez não compreendesse o idioma que ouvia. Perry disse alguma coisa em espanhol e depois em português, mas o garoto não reagiu, permanecendo parado, os braços paralelos ao corpo, os pés descalços sustentando sua estrutura franzina.

“O que havia no barco?” perguntou Perry a de Hoek.

“Nada.”

“Como nada? Comida? Bolachas?”

“Nada, piloto. Santa Bárbara é minha testemunha.”

“Roubar comida de um náufrago é inadmissível, Sr. de Hoek.”

“Pergunte a eles, se não acredita em mim.”

Os outros marinheiros encolheram os ombros.

“O que aconteceu com você, garoto?”, disse Perry, mirando o menino de cima, já sabendo que não teria resposta.

“O que vai fazer com ele?”, perguntou Samuel, que havia se juntado aos curiosos. “Ele pode ficar conosco. Há lugar de sobra nos beliches.”

Perry imaginou a cena. Aquele menino em meio a marinheiros maltratados pela rotina, pela desesperança, pela fome e pelo escorbuto. Não teria chance. Sequer veria o sol raiar.

“Ele fica comigo. Estou precisando de um criado.”

“Ora, piloto…”

“Assunto encerrado. Voltem para o saco de sarnas de onde saíram.”

Perry tomou o menino pela mão e o conduziu à sua cabina. Fez com que se sentasse junto à escrivaninha e colocou um casaco em suas costas. Depois ofereceu-lhe água. O garoto não recusou. Virou o embornal usando as duas mãos e depois enxugou a boca com a gola da camisa, devolvendo-lhe o recipiente.

“O navio em que você estava? O que aconteceu?”

Novamente não houve resposta. O menino parecia imerso num transe, como se os pensamentos estivessem presos em um labirinto. Perry examinou-o por alguns momentos. Tudo indicava que era um náufrago. Seu aspecto aparentemente saudável indicava que não havia muito tempo desde que deixara sua embarcação original. A razão por que estava sozinho, sem comida ou água, porém, permanecia envolta em sombras.

Num átimo, abriu uma das gavetas da escrivaninha e apanhou uma folha de papel. Em seguida, um pedaço de carvão.

“Quer desenhar?”

A tentativa arrancou o garoto de seu torpor. Observou a folha e o carvão por algum tempo, mas em seguida seu interesse desapareceu. Perry inclinou-se e traçou ele mesmo uma paisagem infantil. Uma casinha ladeada por árvores com montanhas ao fundo. Como sua própria casa em Gosport. Como James costumava representá-la. James… Sentia falta do filho, de seu abraço, da maneira como ria quando experimentava suas roupas. Naqueles dias James teria a mesma idade do menino resgatado do mar. Talvez fosse isso, essa semelhança, essa substituição, que o levara a tomar o menino sob sua guarda. Mais do que o temor pelo que aconteceria caso o deixasse entre os marujos.

À noite, improvisou um local para que o menino pudesse dormir. Palha e cobertores. Sim, ninguém o perturbaria.

Nos dias que se seguiram as tentativas de comunicação continuaram infrutíferas. O garoto permanecia em silêncio, perdido em pensamentos, se é que de fato conseguia pensar. Todas as manhãs Perry o deixava em sua cabina, com uma pequena ração de bolachas e água.

Logo voltaram à rotina. Os turnos de vigia, a sondagem infrutífera do horizonte, os jogos de dados, os xingamentos e as mortes. Vez que outra um marinheiro sucumbia, vítima de diarreia ou de cansaço. O corpo era jogado ao mar, amarrado a uma pedra, envolto em um pedaço de pano. Sepultado pelas águas, se transformaria em comida de cachalotes.

De acordo com o portulano de João Martins, treze semanas deveriam se passar de Spitsbergen até uma região de arrecifes e promontórios. O Vancouver já havia ultrapassado em muito esse prazo. Por vezes, Perry ponderava se, de fato, não deveriam regressar, salvar o pouco que restava de si e dos demais. Voltar para casa, rever a esposa e o filho. Era o que os marujos mais desejavam. A essa altura, era até surpreendente que não tivessem se amotinado, mesmo com a possibilidade de serem condenados à morte se regressassem à Neerlândia. Talvez no fundo também eles desejassem encontrar a maldita passagem, reacendendo a esperança a cada dia que chegava.

A essa altura, o frio era inclemente. Icebergs se multiplicavam, exigindo atenção redobrada de quem estivesse na gávea e no leme. Banquisas também surgiam em um ou outro ponto, não só por causa do inverno, mas também por conta da latitude. Era preciso habilidade e oração para que o navio não ficasse preso no gelo.

Perry mantinha o garoto em sua cabina a maior parte do tempo, tentando distraí-lo com desenhos ou com jogos, gamão e damas, principalmente, mas sem resultados. Não havia interesse, não havia diálogo ou comunicação. Acreditava porém, que o menino superaria esse estado. O que quer que tivesse passado parecia tê-lo traumatizado, mas o tempo era o melhor dos remédios e em breve, acreditava, o garoto iria falar.

Em certa manhã de julho, avistou-se outro navio. Da posição em que estavam não era possível identificar a bandeira, mas por certo era um Galeão. Soldados foram chamados a seus postos, junto aos canhões. Lentamente, o Vancouver se aproximou. Logo perceberam que a embarcação estava fundeada, as velas recolhidas. Não se via ninguém nas amuradas, no passadiço ou no castelo, porém.

À distância, Perry mandou que Munk reunisse um pequeno grupo e subisse a bordo. Não tardou até que retornassem assustados como galinhas. “Deus nos proteja! Você precisa ver isso, piloto!”

No interior da galé, todos os tripulantes estavam congelados. Mortos. Não que houvesse muitos, especialmente para um navio daquele porte. Uns vinte e oito, talvez. A maioria se amontoava nos alojamentos inferiores, abraçados uns aos outros, como quem busca uma última réstia de calor. Em sua cabine, o capitão-mor da embarcação jazia sentado, segurando uma pena, como se pronto a escrever no livro diante de si. Perry o observou. Era como uma estátua. Os olhos vítreos mirando as folhas amareladas, o braço apoiado sobre a mesa. A impressão que dava era que sairia caminhando a qualquer momento.

Com cuidado, Perry retirou o livro. Estava escrito em espanhol. Um diário ou talvez o portulano daquela embarcação. A última entrada datava de treze anos antes. Perry pôs o livro sob o braço e fechou a porta da cabina. Era tudo o que levaria para o Vancouver.

Naquela noite, à luz de uma pequena chama, enquanto o menino dormia em sua cama improvisada, Perry abriu o livro.

O navio chamava-se Santa Elena e deixara Barcelona em 1640 para mapear a passagem noroeste. À medida em que avançava, página a página, Perry travava contato com a rotina do Santa Elena, com as observações laboriosamente transcritas pelo capitão-mor, Rodrigo Díaz. O piloto do Vancouver, naturalmente, tinha a esperança de que houvesse, em meio às descrições, alguma informação concreta sobre a passagem, mas ao que tudo indicava, também o Galeão a procurara sem sucesso. Já ao final, uma entrada chamou sua atenção.

Hemos encontrado un niño a la deriva”.

Perry não pôde evitar um arrepio na nuca. Olhou o garoto dormindo a alguns metros de onde estava. Em seguida voltou ao portulano. A descrição do resgate era semelhante à que se passara no Vancouver. Uma baleeira, um menino que não falava. O capitão Rodrigo Díaz prosseguia, relatando como, em pouco tempo, o Santa Elena começou a enfrentar tempestades cada vez piores e como uma delas acabou com o estoque de bolachas e com a carne estocada nos porões. Em pouco tempo os tripulantes passaram a culpar o garoto que havia sido resgatado pelo destino inglório que enfrentavam e exigiram que fosse executado. Díaz relutara, mas depois que oito soldados morreram quando tentavam caçar uma pequena baleia, viu-se obrigado a ceder. Não teve coragem de matar o menino e acabou convencendo sua tripulação de que se o devolvessem ao mar tudo se acalmaria. Assim o fizeram. Contudo, o Galeão foi cercado pelo gelo e em pouco tempo viu-se preso em uma banquisa. O inverno os atacou com fúria. Os homens foram morrendo aos poucos, incapazes de procurar comida ou pescar. Morte por inanição para em seguida congelar. Talvez, ponderou Díaz, já perto do fim, se tivesse realmente executado o menino, nada daquilo teria ocorrido.

Todos están muertos. Yo soy el último superviviente”.

Perry sempre se orgulhara de suas convicções. Não era como a maioria dos marujos de seu tempo, apegados a milagres ou a orações. Conhece tua crença na tempestade, dizia-se comumente, mas ele jamais recorrera ao sobrenatural mesmo nos momentos de dificuldade. Quer dizer, uma vez isso acontecera, quando estava em terra, em Gosport, mas fora um caso especial. No mar, porém, mantinha-se alheio a essa história de espíritos, anjos, ou mesmo antigas lendas do mar, como sereias ou o velho Netuno. Tudo não passava de superstição. Por certo, já ouvira relatos vívidos de como seres com tridentes haviam surgido de redemoinhos e sugado frotas inteiras, ou de como gigantes se erguiam do mar e salvavam embarcações condenadas, mas tinha consigo que tudo podia ser perfeitamente explicado com um pouco de boa vontade.

Um menino fora resgatado pelo Santa Elena, cujo destino foi permanecer à deriva eternamente, com os corpos de seus tripulantes em danação perpétua.

Um menino fora resgatado pelo Vancouver. Ponto. Não podia cair na armadilha fácil de acreditar que o mesmo aconteceria com ele e com seus marujos.

***

Nas semanas seguintes o tempo permaneceu firme, o que reforçou a confiança de Perry de que as descrições de Díaz e o que ocorrera no Vancouver eram apenas coincidências. Não, o menino que dormia plácida e inocentemente em sua cabina não podia ser um mensageiro da morte e da desgraça. O melhor era esquecer aquela história toda e se concentrar na rotina, na busca pelos arrecifes e pelos promontórios da passagem.

Certa manhã, contudo, um vento salgado atingiu a proa do navio. Logo a brisa trouxe chuva, que rapidamente transformou-se em uma tormenta. A ventania passou a jogar a embarcação de um lado para o outro, fazendo as vigas estalarem. Ondas enormes, que poderiam engolir a Torre de Londres, abateram-se sobre o tombadilho, fazendo tremer o costado. Um vagalhão se chocou contra a amurada, arrancando dois marinheiros da existência. Alguns marujos juraram ver a forma de um dragão saindo das águas. Outros afirmavam de maneira veemente que uma serpente gigantesca passara sob o casco. Outros, ainda, apontavam para o nada, dizendo haver sombras monstruosas, fantasmas, talvez, à espreita.

Ao cabo, a tempestade reclamou a alma de cinco tripulantes, incluindo o capitão-mor, que fora jogado para fora de sua cama, batendo a cabeça em uma das vigas laterais.

Durante duas semanas o Vancouver enfrentou a ira dos elementos dessa mesma forma, sempre pela manhã, como se houvesse hora marcada. Não demorou até que os cochichos se espalhassem, culpando a insistência do piloto em manter o curso. Mais do que isso, eram perseguidos por uma má sorte que coincidia com o encontro com o navio fantasma e, se parassem para pensar, com o resgate do menino mudo.

Perry percebeu como os fatos se repetiam. Nessa altura, era difícil negar. O portulano do Santa Elena era cruelmente fiel, revelando o futuro do Vancouver caso seguissem os mesmos procedimentos. Mas… Não, não era capaz de executar o menino. Nem mesmo de abandoná-lo ao mar à própria sorte. Queria manter-se fiel às suas crenças, evitar decisões tomadas em desespero por medo do desconhecido. Em breve as tempestades cederiam, o sol voltaria a brilhar e as contestações arrefeceriam.

Naquela noite, quando tudo o que havia no céu era um chuvisco, Perry retornou à sua cabina. Queria ter uma ou duas horas de sono, antes que viesse a nova borrasca pela manhã. Esperava encontrar o menino dormindo ou sentado junto à escrivaninha com aquele olhar perdido. No entanto, o garoto o encarava, uma expressão firme, desafiadora.

“Tudo bem?”, perguntou, mais para espantar o susto do que esperando uma resposta.

“Seu navio está com as horas contadas”, respondeu o menino, a voz espantosamente grave para uma criança.

“Quem é você?”, indagou Perry, a faca já em punho.

“Não seja patético. Você sabe quem eu sou.”

“Não… Não é…”

“Vim cobrar sua promessa, William Perry. Você me daria sua alma caso eu poupasse a vida do pequeno James, não é mesmo?”

“Sim, eu… Eu disse isso. É verdade, mas não é justo agora… Você quer… Você quer levar todos aqui. Não é justo, não é…”

“Não estou preocupado com o que é ou não justo. Tratamos de negócios, simplesmente.”

“Por que levou os tripulantes do Santa Elena também? Eles não tinham nada com a nossa…”

“Isso diz respeito a mim e ao capitão Rodrigo Díaz. Não é só você que faz promessas em momentos de desespero. De todo modo, eu quis que vocês os encontrassem, para terem uma noção do que os espera.”

“Mas eu não sou como ele, eu salvei você. Dei abrigo, mantive-o junto de mim… Jamais deixei que lhe fizessem mal… Jamais permitiria que lhe devolvessem ao mar como os espanhóis fizeram…”

“E agora você quer uma medalha, William Perry?”

“Não… Quero que nos deixe vivos, que siga o seu caminho.”

O menino o observou atentamente, como se saboreasse seu nervosismo.

“Que tal deixarmos a sorte decidir?”, propôs Perry, num lampejo de criatividade.

“Interessante. O que tem em mente?”

“Dados. Marujos decidem a sorte nos dados. Uma só jogada. Quem tirar o maior número é o vencedor. Se eu ganhar, fico com o navio, incólume, e você se vai.”

“É justo.”

Perry abriu o estojo com o jogo de gamão e apanhou os dois dados. Entregou um deles, o branco, ao menino.

“No três, nós os soltamos”, disse, a voz trêmula.

“Um… Dois e… Três!”

Os dados rolaram pela escrivaninha, extraindo um ruído seco e repetido.

O dado branco exibia o número 4. O vermelho, o número 6. Perry sorriu em triunfo. O menino olhava intrigado para o resultado.

“Agora você precisa cumprir o que prometeu.”

“Interessante você cobrar promessas, William Perry.”

Dizendo isso, o menino apanhou o dado vermelho e o jogou. Número 6. Depois de novo. E de novo. Número 6 em todas as vezes.

“Dados viciados.”

Perry sentiu a vermelhidão no rosto, um sabor amargo na boca.

“Eu não sabia…”

“Ora, é claro que sabia.”

“Não…”

“Gosto de você. Vou deixá-lo viver. Não só você, mas toda essa tripulação imunda.”

Perry não acreditou.

“Quer dizer que…”

“Quero dizer que vocês ficarão vivos, navegando indefinidamente, para todo o sempre. Jamais conseguirão aportar. Hão de se tornar mensageiros da desgraça a todos os navios que os avistarem. Mensageiros meus. É isso que serão.”

Dizendo isso, o menino abriu a porta de madeira. Subiu pela gaiúta e desapareceu na noite.

Nunca mais voltou. Nunca mais.

 

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32 comentários em “Miragem (Gustavo Araujo)

  1. Gustavo Castro Araujo
    3 de abril de 2016

    Queria agradecer de monte as impressões deixadas no “Miragem”. Fantasia nunca foi a minha praia e tive uma dificuldade enorme para produzir algo que prestasse. Faltando três dias para terminar o prazo, abandonei um conto pela metade e comecei a escrever outro, inspirado por uma reportagem publicada há algum tempo, sobre um navio congelado que fora encontrado no oceano Ártico.

    Em dois dias eu dei forma à maior parte do texto. Faltava o final… É, o final… Eu simplesmente não conseguia pensar num arremate decente para o conto. Para piorar, tinha me apaixonado pelo que já tinha produzido e, num acesso de bloqueio criativo, me vi incapaz de amarrar as pontas. Com o prazo chegando ao fim, não tive opção senão adaptar a narrativa para a lenda do “Holandês Voador”. Não era o que eu queria, originalmente, mas foi o que deu para fazer no fim das contas.

    A maioria do pessoal gostou do texto, o que me envaidece, mas, sinceramente, me vejo ao lado daqueles que criticaram o final. Dá para melhorar bastante. Numa revisão eventual, sem a pressão dos prazos, espero reescrevê-lo.

    Mais uma vez, obrigado a todos.

    P.S. A imagem que ilustra este conto é de autoria do fotógrafo inglês Frank Hurley. O instantâneo retrata a embarcação “Endurance”, de Ernest Schackleton, que foi engolida pelo Oceano Antártico durante a fracassada expedição para cruzar o continente austral. Essa, aliás, é uma história fascinante, cuja resenha pode ser conferida aqui: https://entrecontos.com/2012/12/18/o-endurance/

    • Pedro Luna
      3 de abril de 2016

      Putz, eu pensei na hora que li o conto: é o navio do Shackleton. Até pensei em perguntar no comentário, mas esqueci. É uma história fascinante mesmo e que particularmente gosto bastante.

      Quanto ao conto, eu já disse no meu comentário que não gostei do final, mas o climão de mistério que tu conseguiu criar, Gustavo, foi da hora demais. A todo o tempo se fica aguardando algo ruim acontecer. Arrisco dizer que seu próximo romance tinha que ser algo nesse estilo. Kkk

    • Gustavo Castro Araujo
      3 de abril de 2016

      Pois é… a expectativa gerada acaba não se confirmando a contento, dependendo do ponto de vista. Concordo com você.

      Quanto a estender a história, quem sabe? Valeu pelo incentivo!

  2. André Lima dos Santos
    2 de abril de 2016

    Um começo animador, um meio de tirar o fôlego, de apreensão, até mesmo de medo, mas um final muito abaixo do nível dos dois primeiros atos.

    Uma pena.

    Adoro histórias sobre navegação, piratas, pesca, e o autor demonstrou que ou é um navegador, ou fez um excelente trabalho de pesquisa.

    O autor também demonstra uma boa habilidade com as palavras. Em dado momento eu estava imerso no texto de tal modo que comecei a sentir medo do garoto, haha.

    Enfim, não fosse pelo final decepcionante (Pelo menos para mim), eu poderia apontar esse conto como vencedor. A narrativa do barco com os tripulantes congelados… Foi incrível! Parabéns mesmo.

    Um conto excelente! Boa sorte no desafio!

  3. ram9000
    2 de abril de 2016

    A palavra “piloto” talvez não seja a mais apropriada e causa um efeito que gera certo incômodo à descrição. Gostei do fato da história não se passar no lugar-comum dos contos de fadas. Acho que poderia ser reavaliada para sintetizar mais, retirando excessos do texto. O desfecho é interessante.

  4. Rubem Cabral
    2 de abril de 2016

    Olá, Santelmo.

    Excelente conto! Muito bacana o conhecimento de vocabulário náutico e a firmeza da narração. Para o tema “fantasia”, achei que o conto foi bem discreto, mas não há como se negar que a fantasia está aí. Enfim, achei muito bacana essa versão da origem do Holandês Voador.

    Nota: 9,5.

  5. Wilson Barros Júnior
    1 de abril de 2016

    Gostei do pseudônimo, que se refere ao fogo-de-santelmo, fenômeno atmosférico que fascinava os antigos marinheiros. Interessante que o conto é um dos poucos desse desafio que se passa no mundo “real”. O estilo é impecável. O conto misterioso é cativante, retomando a lenda do “Holandês Voador”, como o “Manuscrito na Garrafa”, de Poe. Um conto do mais puro terror, muito bom.

  6. Leonardo Jardim
    1 de abril de 2016

    Minhas impressões de cada aspecto do conto:

    📜 História (⭐⭐⭐▫▫): uma história interessante, com jeito de caso verídico, misturando elementos reais com ficção. A despeito da ótima descrição de cenas, pouca coisa de fato aconteceu: eles estavam navegando em busca de uma passagem, não encontraram e foram amaldiçoados por um menino demoníaco. É uma ideia boa, mas foi colocado muito recheio nela.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): muito boa, descreve bem e com facilidade. Li como se fosse um dos tripulantes do navio. Acho, porém, que pendeu para o exagero na descrição de algumas cenas, narrando coisas banais, como na cena inicial. Por conta disso, o texto ficou cansativo em algumas partes. Poderia ter mostrado o conflito mais cedo, também, ao invés de começar com uma cena cotidiana que nada acrescentou à trama.

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): criativo aqui no desafio, principalmente por utilizar elementos históricos da época das grandes navegações, mas os motes de crianças demônio e maldições é bastante comum

    🎯 Tema (⭐▫): o elemento fantástico está presente, mas de forma muito suave. O conto não mostrou em nenhum momento um poder mágico do menino. Tempestades e coisas do tipo não são necessariamente magia. Se mostrasse os tripulantes séculos depois navegando sem morrer, teríamos pelo menos os efeito da maldição.

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫): descobrir, no fim a real natureza do menino teve um efeito interessante no impacto e ao fim, ao saber que eles navegarão por toda eternidade, senti um leve calafrio. Não chegou a ser um final arrebatador, mas foi muito bom ainda assim.

  7. Gustavo Aquino Dos Reis
    31 de março de 2016

    Autor(a), o seu conto beirava o magistral. Descrições pormenorizadas e sucintas, boa escrita e uma boa dose de pesquisa. No entanto, o elemento fantasia não pôde ser encontrado em sua acepção maior do gênero. A história vai perdendo força e adquire, já próxima do final, uma verve poderosa graças ao encontro com a criança. Achei que as coisas começariam a engrenar: que os portulanos e a voz do garoto iriam conduzir Perry à um porto fantástico, à terras dunsanianas.

    Porém, não aconteceu. Uma pena. Era o meu conto favorito.

    Parabéns pelo trabalho.

    Boa sorte no desafio.

  8. Thomás Bertozzi
    31 de março de 2016

    Texto envolvente Os mistérios são revelados parcialmente, na medida certa para manter o clima de apreensão e suspense.
    Bom título.

  9. Rodrigues
    30 de março de 2016

    O conto pareceu meio perdido até o momento em que o garoto à deriva é encontrado. Isso aguçou a curiosidade e o texto tornou-se mais interessante. Fiquei pensando que o garoto traria algo ruim, pelo tom inicial do conto, e foi o que aconteceu. Eu gostaria que essa minha expectativa tivesse sido quebrada, que talvez o menino – por mais que parecesse estranho – pudesse significar outra coisa. Achei o fechamento – mesmo que óbvio – bastante interessante com essa de os tripulantes ficarem rodando eternamente pelo mar, simbolizando a má sorte de todo e qualquer outro marinheiro. Então, achei o conto médio.

  10. Laís Helena
    30 de março de 2016

    Narrativa (2/2)
    Gostei da sua narrativa. Me manteve presa à história, sendo competente em construir o clima de desesperança e o mistério em torno do garoto. Você dá detalhes suficientes: sem deixar a narrativa superficial e sem torná-la enfadonha com o excesso. Notei um errinho ou outro na revisão, mas nada que atrapalhasse a leitura.

    Enredo (2/2)
    Gostei do enredo também. Simples e adequado ao limite de palavras, mas interessante e bem explorado. Gostei principalmente do final, que foi para um caminho diferente do que eu esperava e ainda assim manteve a coerência.

    Personagens (2/2)
    Achei que a caracterização de Perry ficou na medida, você soube aproveitar bem o espaço para mostrar quem é o personagem. Talvez você devesse ter detalhado um pouquinho mais aquela única vez em que ele confiou no sobrenatural. Pelo que entendi, foi um acidente com o filho dele, mas não ficou claro.

    Caracterização (2/2)
    A ambientação foi competente. Não entendo praticamente nada de navios, mas me pareceu que você domina o assunto, e os termos técnicos fluíram bem na narrativa.

    Criatividade (2/2)
    Achei os elementos usados (histórias de fantasmas em navios) interessantes, assim como o desenvolvimento que você deu ao enredo. No geral, gostei muito do seu conto. Parabéns!

    Total: 10

  11. phillipklem
    30 de março de 2016

    Boa tarde.
    Seu conto é um dos melhores que eu li neste desafio, até agora.
    Você sabe muito bem como construir uma atmosfera de suspense e desespero. Gostei bastante do protagonista e de sua relação coma tripulação.
    Sou suspeito pra falar. Adoro histórias sobre o mar.
    Sua escrita é firme e direta, sem muitos floreios, o que ajuda na concentração. Não me perdi e nem achei nenhum trecho massante ou mal escrito. Você foi muito bem.
    Adorei da aparição do menino. Acrescentou um que sobrenatural e misterioso à história, mas confesso que não gostei muito de quem ele revelou ser. Não imaginei que uma história tão boa teria um desfecho tão pouco original.
    Porém, gostei do conto como um todo.
    Meus parabéns e boa sorte.

  12. angst447
    29 de março de 2016

    Ai, deu até medo. Os homens do mar e o menino misterioso, trazendo uma maldição à navegação.
    Está bem escrito sem falhas de revisão. Boa caracterização de personagens e ambientação adequada.
    O suspense acerca do menino resgatado prende a atenção do leitor. Perry e sua tripulação viraram mensageiros do demo? Uma miragem para todos os outros.
    Um ótimo final.
    Boa sorte!

  13. Wender Lemes
    28 de março de 2016

    Olá, Santelmo. Seu conto é minha penúltima avaliação no certame, foi uma boa surpresa.

    Observações: cheguei a duvidar que a fantasia fosse aparecer no conto. Quando apareceu, no entanto, veio com tudo. Sua técnica foi muito apurada e o modo como guiou a narrativa me manteve atento do início ao fim, ansioso por saber o que seria dos aventureiros.

    Destaques: o conhecimento histórico e específico sobre as estruturas navais enriquece muito a narrativa, é como ouvir um profissional falando daquilo que realmente reverencia. Isto requer uma pesquisa muito cuidadosa, ou um conhecimento prévio de respeito. De qualquer forma, merece pontos.

    Sugestões de melhoria: o conto, ao meu ver, não tem muito no que melhorar. Gostaria apenas de entender melhor a figura do garoto/capetão e a história dele com o protagonista.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

    P.S.: Rodrigo Díaz lembrou-me a expansão do jogo Age of Empires 2 e a narrativa de El Cid, Campeador – imagino que tenha se inspirado no mesmo ícone histórico. Saudades imensas desse jogo.

  14. catarinacunha2015
    28 de março de 2016

    O COMEÇO é interessante. Já visualizamos no 1º parágrafo o ambiente da VIAGEM; longe de ogros, elfos e fadas, tem a fantasia escondida na subjetividade do medo do desconhecido. O FLUXO magistral, o estilo profundo, coisa de gente grande, me deixou muito empolgada. Agora, esse diálogo raso no FINAL me deu a impressão que não foi o autor quem escreveu e sim um fantasma sem noção. Medo. 8

  15. Davenir Viganon
    28 de março de 2016

    Gostei da história, me lembrou muito “A linha de sombra” do Joseph Conrad, pelo clima agorento do navio amaldiçoado, mas diferente do escrito de Conrad teu conto se encaixa no desafio. Digo isso porque Conrad nunca deixa os elementos irreais explícitos, mas faz o leitor flertar fortemente com eles. Como literatura gosto muito quando o mistério gira entorno dessa linha… (Philip K. Dick faz isso também sempre a favor do irreal) mas dentro do que pessoalmente espero de um desafio de Fantasia espero sinceramente ser jogado para um mundo Fantástico e não quer ser tirado dele antes de terminar de ler o conto. Nesse ponto teu conto correspondeu ao que eu queria.
    A história está muito boa, envolveu bastante quando acharam o guri e depois barco espanhol, mas o final ficou aberto demais para meu gosto. Os personagens ficaram bons, mas não me chamaram muito atenção. Já a escrita ficou muito boa, não manjo de barcos e navegação, mas o autor parece manjar do assunto e está historicamente coerente. Enfim, não foi de me deixar de boca aberta, mas é melhor que Piratas do Caribe.

  16. vitormcleite
    26 de março de 2016

    Gostei muito desta história, plena de fantasia e sem monstros nem mundos com nome estranho. Muitos parabéns. penso que se descrevesses mais a vida no barco conseguias transportar-nos para o navio, Faltou-me sentir um pouco mais a vida e o cheiro na frágil embarcação. Foram umas descrições muito sumárias, mas com o limite das palavras percebo, mas como resultado final ficou um conto excelente, muitos parabéns

  17. Brian Oliveira Lancaster
    23 de março de 2016

    OGRO (Objetivo, Gosto, Realização, Ortografia)
    O: Ganha pontos pela atmosfera diferenciada. Navios-fantasma sempre geram boas histórias. Demora um pouco a engrenar, mas a temática está presente. – 8,0
    G: O suspense é muito bom. No entanto, algumas passagens suprimidas ou corridas, não caíram tão bem. Não chega a estragar contexto, mas atrapalham um pouco. A parte da citação do diário poderia estar em itálico para facilitar a compreensão, pois são eventos diferentes, mas deixam a impressão de estarem misturados. No entanto, todo o clima e a reviravolta no final fecharam bem. Adendo: cuidado ao “falar mal” de outros países, temos alguns de fora que escrevem aqui também, de vez em quando. – 8,5
    R: O formato relato foi a melhor escolha para esse tipo de clima náutico. Lembrou um pouco os filmes dos Piratas do Caribe, misturado ao famoso Náufrago. Como mencionado acima, tirando as passagens apressadas, gostei de toda a construção. – 8,0
    O: Não encontrei grandes problemas. A escrita flui e transmite de forma eficiente as sensações. – 8,5
    [8,3]

  18. Pedro Teixeira
    22 de março de 2016

    Olá, autor(a)! Um conto bem interessante, com linguagem adequada, trama intrigante e ótima ambientação. Não achei os personagens muito interessantes, acho que poderiam ter sido descritos com maiores detalhes, em especial o menino, para reforçar o clima de suspense da estória. Há um trecho confuso, aquele em que Perry ordena a Samuel que busque outro marujo para ficar na vigia do gurupês – acho que ficaria mais claro se ele dissesse “traga fulano para substituir você no gurupês”. Um trecho diz “muitos havia perecido” – acho que o seria ” muitos haviam perecido”. O final pareceu um pouco apressado. No mais, uma boa narrativa que utiliza de forma inteligente as comparações e metáforas. Parabéns pela participação!

  19. Renan Bernardo
    20 de março de 2016

    Muito bom! Parabéns ao escritor! O melhor conto que li até agora no desafio. O autor soube usar as palavras muito bem, construir o personagem e fisgar o leitor. O final foi bem legal também. Não há do que reclamar.

    Nota: 10

  20. piscies
    18 de março de 2016

    clap clap clap clap clap clap clap clap!!!

    Que conto maneiro. Muito legal! Sombrio, claustrofóbico, desesperador. Apavorante!!!

    A atmosfera desesperadora é muito bem narrada. O autor é excelente – daqueles que tenho inveja da escrita. Que maestria com as palavras!! Não há nada a reclamar aqui. Uma história assombrosa, de arrepiar os pêlos do corpo.

    Perry tem uma densidade interessante. Uma família esperando a sua volta – que no final ficamos com a angústia de saber que jamais o receberão – e uma determinação digna de heróis. E ele é, de certa forma, o herói da história. Mas nem toda história termina bem…

    O menino é um personagem assustador. Quando abre a boca, fica ainda pior. O autor sabe narrar cenas aterrorizantes, e os pequenos detalhes que ele coloca entre os trechos nos fazem entrar na história de tal forma que eu me senti dentro daquele barco. Ouvi o seu ranger, senti o seu cheiro.

    Por um momento eu achei que o final seria tosco. “Ah, então ele é o demônio e é isso? Ah. que chato…”. Mas não. Até o final foi de explodir a cabeça. Brilhante!

    Parabéns!!!!

  21. andreluiz1997
    18 de março de 2016

    O conto foi maravilhosamente descrito, em uma narrativa interessante e que cativou até mesmo a mim, que não gosto nem um pouco de histórias sobre o mar e tudo mais ao estilo Jack Sparrow e Descobridores da América. Achei a história verossímil, e a fantasia muito dissolvida na realidade, o que aprecio bastante. Como já disse, histórias sobre o mar não são minha preferência, e o início do seu conto foi muito demorado, a meu ver, mas o desenvolvimento e a conclusão valeram muito à pena. Boa sorte!

  22. Pedro Luna
    18 de março de 2016

    Nossa, aqui sim um misto de sensações. Certamente, até perto do final, é o melhor conto do grupo. Mas para mim fugiu do tema. Não é um conto de fantasia. Ignorando isso, o conto é muito bem escrito e cria um mistério muito legal. A chegada do menino é bacana, e quando encontram o outro navio, com todo mundo congelado, cria-se uma expectativa animal, mas que infelizmente vai por água abaixo com a revelação da personalidade do menino. Sei lá, tava na cara que ele era treta, mas um cobrador? Tipo, o diabo? Me pareceu uma saída fácil e que quebrou o mistério. Pensei que o menino teria ligação com a passagem que procuravam e com outras coisas, mas agora não tenho certeza. Não gostei do fim. No geral, foi um conto bem legal, com uma boa ambientação e clima sombrio, apesar de na minha opinião não apresentar o tema.

  23. Anorkinda Neide
    18 de março de 2016

    Oh, céus! Que bonitinho o menino, pensei no Pequeno Príncipe… rsrsrs
    Olá, autor(a)!
    Um texto muito bom, bonito até, mesmo contando as misérias dos marinheiros. Tive esperança de que eles encontrassem o que procuravam… pena!
    Quando li a primeira frase em espanhol.. senti um arrepio enorme!!! e logo depois o texto disse q o capitao tb sentiu! kkk adorei essa sintonia 😛
    .
    Sinal de que o texto soube canalizar a tensão desta descoberta!
    Mas…
    já não curti o verdadeiro propósito do menino… 😦
    nem o destino cruel dado ao Vancouver, não entendi o pq disto tb.
    .
    Não é apenas pq eu queria outro final, eu achei que faltou um motivo para a aparição e para esta maldição, o menino veio buscar a alma do capitao, assim como buscara a do capitao espanhol, mas pq carregar toda a tripulação nisso?
    Pensando no titulo, tudo pode ser imaginação do capitao, delirios causados por tantas privações. é pode ser.. mas não explica o fato de o navio ficar assombrado para sempre.
    .
    Apesar disto é um texto muito bom. Parabéns!
    Abração

  24. Swylmar Ferreira
    15 de março de 2016

    Muito bom o conto, possui uma trama sensacional, me lembrou o “holandês voador” e em certas partes “Xogum” no modo de escrever do autor. Digo isto como elogio. De pertinência inegável e muita criatividade. Bem escrito, apresentando poucas rebuscações e sem armadilhas, tornando fácil a leitura da obra. Apresenta um final objetivo e surpreendente.
    A nota é 9,0.

  25. Evie Dutra
    14 de março de 2016

    Gostei muito do seu conto!
    No início confesso que não estava muito envolvida , mas quando o menino entrou.. uau! Mudou completamente a atmosfera da história. Acho que foi uma jogada de mestre usá-lo como o mau da fita. Não que isso nunca tenha sido usado antes, mas não esperava que fosse acontecer nesta história hehe.
    Apesar de não apreciar finais tristes, amei como você terminou. Acho que foi perfeito. Eu não mudaria nada. Parabéns!!

  26. Anderson Henrique
    14 de março de 2016

    Esqueci de colocar a nota no comentário anterior. Nota 8.5.

  27. Anderson Henrique
    14 de março de 2016

    O melhor conto do grupo. Muito bem escrito, com boas metáforas e construções. A linguagem utilizada pelo autor é apropriada à temática do conto. Termos específicos de náutica e de navegação são empregados com assertividade. A história é boa e narrada com domínio pelo autor.

  28. Simoni Dário
    10 de março de 2016

    Olá Santelmo.
    Seu texto prima pela estética impecável e boa narrativa.
    A história é interessante, mas cansativa em alguns momentos, enrolada na parte do menino, o mistério em volta dele prende a atenção no começo,mas cansa um pouco depois e termina de uma maneira já batida em alguns enredos. O conto lembrou-me o tempo todo do filme MESTRE DOS MARES.
    Destaco a frase: “O mar, sempre o mar, trazia a redenção”- gostei dessa, pena que não foi o que aconteceu no final, que, apesar de batido teve sua eficácia, diante da boa narrativa.
    Bom desafio!

  29. Emerson Braga
    9 de março de 2016

    Santelmo, a sensação que tive ao ler seu conto foi a mesma que experimento quando saco um livro qualquer da estante de uma biblioteca e, ao lê-lo, descubro que minha escolha aleatória teve a felicidade de encontrar um excelente trabalho literário.
    Sua escrita é elegante sem comprometer a acessibilidade ao texto. Também percebi que você fez o dever de casa, ou seja, estudou termos náuticos e encaixou-os na narrativa de modo natural, sem forçação de barra. Essa sua habilidade deixa o leitor à vontade com a leitura, mesmo quando não estamos familiarizados com os termos que dão verossimilhança à história.
    Há períodos incríveis, como em “Acompanhou aquela figura esquálida subindo o cordame como uma aranha aleijada”. Descrições como esta nos fazem enxergar os marujos, escutar o ranger da madeira e das cordas, o sibilar do vento e o chacoalhar das vagas. Uma delícia!
    Textos que utilizam como pano de fundo uma barganha com o diabo tendem a ser muito parecidos. Mas você nos surpreende com a imagem do infante náufrago silencioso, que não come da ração de homens famintos, que dorme como os anjos do céu. Como lutar contra um inimigo que comove nossas almas? O jodo de dados também é uma simbologia poderosa. Muito bem construído.
    Só não entendi por que você pôs as falas das personagens entre aspas. Se, por uma razão de estilo próprio, você preferiu não utilizar travessões, creio que o recurso mais adequado seria ter posto as falas em itálico. Vê-las entre aspas nos dá a equivocada sensação de que as falas estão sendo ditas por um outro, e não pelos próprios personagens. Fora isso, só me resta aplaudir!
    Boa sorte!

    Nota: 9,5

  30. Fabio Baptista
    6 de março de 2016

    Conto muito bem escrito, com ótima ambientação marítima, num clima desolado e tal.
    Eu não abracei muito o mote do mistério acerca do “lugar secreto” (achei meio batido) e fiquei muito feliz quando o menino apareceu e o mistério passou para ele.

    Esse “meio”, onde o leitor pôde levantar hipóteses sobre a natureza da criança (pensei que poderia ser o filho, por causa do nome do conto) foi a melhor parte. Chegou a dar um gelo a parte da carta em que o garoto é citado.

    Infelizmente, esse final com um demônio vindo cobrar a alma… não desceu redondo, me pareceu uma solução muito fácil para o desfecho. Creio que teria gostado bem mais se o mistério do garoto ficasse no ar.

    – Muitos, senão a maioria, havia perecido
    >>> não sei se essa frase está correta (a regra do havia(m) me confunde), mas ficou com “cara de errada”
    >>> trocaria por “muitos pereceram”.

    – Um homem do mar não precisa de saudades
    >>> ótima frase!

    – Acreditava nisso como uma beata de Westminster crê em São Jorge
    – Acompanhou aquela figura esquálida subindo o cordame como uma aranha aleijada
    >>> Boas figuras

    – conferindo às nuvens um tom violáceo
    >>> pô… violáceo foi exagero! rsrs

    – se transformaria em comida de cachalotes
    >>> essa ficou meio estranha, meio forçada

    – como quem busca uma última réstia de calor/
    – como se pronto a escrever no livro diante de si/
    – Era como uma estátua
    >>> muito “como” em sequência

    – que rapidamente transformou-se em uma tormenta
    >>> ao longo do texto há vários “um / uma”. Alguns deles poderia ser suprimidos (o que, na minha opinião, deixa o texto mais dinâmico). Aqui, um exemplo.

    – piloto
    >>> esse termo me incomodou durante toda narrativa (mais até que os diálogos com aspas rsrs). Não havia um sinônimo mais… náutico?

    Resumo: bom conto, escrito de modo sublime, mas que pecou por um final pouco inspirado.

    NOTA: 8,5

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Publicado às 5 de março de 2016 por em Fantasia - Finalistas, Fantasia - Grupo 3 e marcado .
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