EntreContos

Detox Literário.

Alvorecer Infinito (Atalaia do Leste)

— “Será que existem formigas no Céu?” — refletia, deitada na grama sobre o brilho dourado do sol de setembro. 

Marcella tinha cada vez com mais frequência esse tipo de divagação. Sua pele morena parecia cobre polido na luz da manhã e ninguém parecia se importar que ela estivesse deitada ali, nos jardins do Campus da Universidade, com seu short jeans e toda a preguiça que uma quinta-feira traz. Seus colegas passavam por ela e sorriam vendo-a relaxada e contemplativa, como de costume, mas nenhum olhar se demorava mais do que o necessário sobre seu corpo, por mais atraente que fosse. As pessoas se davam ao respeito e todos eram livres para serem quem eram e se vestir como quisessem, sem se preocupar com que tipo de comportamento despertariam uns nos outros. Os horrores das gerações anteriores onde o mundo se comportava com selvageria há muito foram deixados para trás, desde o último alvorecer.

Júlio se aproximava e ela soube mesmo antes de ver seu perfil ocultar-lhe o sol. Seus fones de ouvido eram sutis, mas o volume de sua música não. Era um dos mistérios do universo imaginar como ouvir algo naquela altura não havia ainda deixado o rapaz meio surdo, mas ele não estava nem aí pra opinião das pessoas sobre isso.

— Abaixar o volume pra quê? — costuma dizer com ar inteligente, citando uma velha música de séculos atrás.

—Talvez você se considere misterioso demais para ouvir os sons do mundo, Juh. Ou arrogante demais pra isso. — Marcela aceitou sua mão estendida e se levantou do chão.

O rapaz apenas deu um sorriso forçado em resposta e levou a amiga para a palestra que estava prestes a começar.

— Esse cara é um gênio, Cella, você tem eu acreditar! Estivemos a vida inteira olhando na direção errada, Lua, Marte, oceano, psicologia, filosofia, Átomos… todos caminhos bobos, quer dizer, eles são importantes e tudo o mais, mas a última fronteira não é nenhum deles: só precisávamos olhar para o lado.

— Do que diabos você está falando, Doutor Július Sábius?

Ele sequer se alterou.

— Já te disse que falar Grego não se resume a colocar as palavras no plural, espertinha. Eu estou falando de Física Quântica: Realidades Paralelas.

Marcella não tinha certeza se entendia do assunto. Claro que se interessava por tudo e, como franca curiosa, não perderia a oportunidade de estudar nada que enriquecesse seu conhecimento. Afinal, essa era a vida e o propósito de um ser humano: compreender a realidade. Mas aquilo estava na pauta da realidade ou era apenas especulação fantasiosa?

— Ele é um professor de Artes? Vamos ter uma boa dose de impulso criativo hoje? —brincou com o amigo, escondendo meias-verdades em suas meias-perguntas.

— Ele diz que vem de uma delas.

— Ah! Aprenderemos sobre Insanidade Artística então! Amo essa matéria!

Júlio sorriu sardonicamente, admirando o humor rápido e sempre esperto de sua amiga, enquanto abria a cortina que dava ao auditório onde a palestra aconteceria. Aulas e palestras eram dadas espontaneamente pelos Professores e alunos e todos eram absolutamente livres para escolherem o que quisessem participar para ampliarem seu conhecimento. Universidades eram tão somente um enorme fomento para promover a busca pelo conhecimento que a humanidade tanto apreciava em um local apropriado para apresentações e debates sobre literalmente, qualquer assunto. Apesar disso, Realidades Alternativas não era um dos temas mais populares. Somente um rapaz vestido completamente de preto, com longos cabelos lisos negros caindo pelas suas costas estava lá, aguardando o palestrante iniciar sua apresentação. Marcella o achou bonito, mas guardou pra si sua opinião. Os três eram os únicos presentes no enorme auditório de setecentos lugares.

— Vocês chegaram, ótimo, vamos começar! — disse uma voz animada, jovial, de uma criança de no máximo sete anos que estava no palco central. Seu cabelo era desconcertantemente pintado de amarelo gema de ovo, e ele parecia empolgadíssimo.

Marcella já vira apresentações infantis antes e algumas dessas crianças eram simplesmente gênios em determinados assuntos. A simplicidade com que falavam sempre foi um bálsamo após uma sessão de teorias complexas e palavras rebuscadas, como a que costumava ouvir de alguns educadores. Também costumavam ser breves, o que tornava tudo melhor ainda. Decidiu que gostava do menino e seu cabelo extravagante.

A excitação de Júlio era óbvia, estava empolgado com o tema. Se tivesse tido oportunidade, explicaria à Marcella que aquela era uma raríssima oportunidade. O menino se chamava Gabriel, e estava causando um grande alarde desde que começara a propor suas teorias em meio à comunidade científica. Suas palestras eram intensas e incisivas e ninguém sabia exatamente de onde ele havia surgido e como conseguia vislumbrar respostas tão divergentes aos grandes enigmas da área. Ele simplesmente repetia sua frase de impacto no final de suas palestras e foi exatamente por ela que ele começou naquele mesmo momento:

— Eu não sou daqui: eu vim de outra dimensão. Nessa dimensão, Deus se enfureceu e destruiu o mundo. Eu falhei com eles, mas vim tentar salvar vocês do mesmo fim.

Marcella ficou absolutamente incomodada com aquilo. Se julgava razoavelmente dotada de percepção empática para discernir o humor quando o via, mas isso não estava acontecendo agora. Aquela criança acreditava no que estava dizendo, sem quaisquer sombras de dúvidas. Tampouco estava mentindo. Fizera um intensivo curso de percepção corporal um semestre atrás e não via o menor indício de fraude na afirmação do jovem diante de seus olhos. Notou que o bonitão de preto se aprumou na cadeira, visivelmente interessado pelo que ouvia. Ficou constrangida em pensar assim sobre uma pessoa sem ter qualquer relacionamento com ela e focou novamente no menino. Decidiu se deixar a deriva, para descobrir onde aquilo iria levá-la. Se inclinou um pouco para a frente, entrelaçou os dedos e fixou seu olhar no que o menino dizia.

Ele passou os próximos cinco minutos falando com a simplicidade que se esperaria de uma criança a respeito de um lugar, um mundo, uma outra dimensão, onde a realidade era completamente diferente da nossa em diversos aspectos. Falou também que havia uma infinitude de dimensões ao nosso lado, ao nosso redor, sendo a própria chave para perceber essas realidades uma questão de tamanho entrópico. Nada do que ele dizia parecia absurdo ou mesmo inédito, era um tema bastante apreciado na ficção, o problema estava na forma como ele falava daquilo. Tão natural. Tão real pra si.

Assim que terminou, o jovem bem vestido se levantou com uma expressão de zombaria e foi embora. Júlio parecia frustrado com tudo que ouvira, como se esperasse uma grande revelação que jamais veio até ele.

— “Deus, vocês não percebem que ele acredita nisso tudo?” — pensou em desespero Marcella, sem saber ao certo se isso lhe causava admiração extasiante ou uma preocupação pétrea. Tão jovem, tão convicto, tão determinado!

— Olá, Marcella. Que bom te ver novamente!

A saudação do menino no palco a fulminou como um raio. Ele me conhece? Já conversamos antes? Como ele sabe meu nome? Precisava tirar aquilo a limpo.

— Nós nos conhecemos?

— Ninguém se conhece de verdade, mas sim, tanto quanto alguém pode se conhecer, nós já nos conhecemos sim. Quer dizer, eu conheço uma versão sua. Não é exatamente você, mas é quase você. É o suficiente pra eu querer te dar um “oi”.

Marcella estava confusa, mas não tanto assim. Era um Faz de Conta. Um jogo de fantasia infantil e, até onde sabia, inocente. Resolveu apelar para a moralidade.

— Onde estão seus pais? Quem cuida de você?

— Não existe isso de onde eu venho. Todos cuidamos uns dos outros. Quer dizer, alguns escolhem ter pais e muitos outros tipos de relacionamentos, mas eu nunca tive nenhum. Nunca me pareceu algo tão importante assim.

Aquilo era impossível. Nenhuma vítima de abandono parental seria deixada à mercê pela sociedade, mas antes, acolhido e aquela criança sugeria que nunca tivera esse tipo de proteção. Ou pior, que nunca havia necessitado disso! A epidemia de Abandono Parental nos séculos passados fora um dos maiores flagelos que a humanidade já enfrentara e causou incontáveis distúrbios sociopsicológicos em bilhões de pessoas, custando uma intensa quebra de paradigma por décadas até que as coisas voltassem aos trilhos novamente. Essa terrível mancha na história da humanidade foi chamada oficialmente de Era da Deriva, mas os mais críticos a classificaram conforme ela realmente merecia ser chamada: Era da Perdição. De lá pra cá a humanidade se reerguera, mas a um enorme custo. Como aquele menino, seja lá de onde ele fosse, podia estar tão bem em não ter pais?

— Você está se apegando demais a isso, Marcella. A Terra é um lugar maravilhoso de muitas formas, existe uma miríade de outros lugares fantásticos e você só quer se preocupar se eu tive alguém para cuidar de mim quando eu era mais criança?

Terra?

— Você quer que eu te leve lá?

A proposta pareceu tentadora. Que maravilhas se esconderiam por trás desse lugar mágico do qual esse menino falava? Parecia ser só pegar na mão que ele oferecia e, sem perceber, Marcella se aproximou. Era fácil… fácil demais.

— Não. Eu não quero conhecer seu Paraíso. Na verdade, não devo. Se fosse de lá que você me conhece, não faria sentido você querer me levar para lá, não é?

A criança anti-infinita pareceu se entristecer e suspirou.

— Mostre-me sua amiga. Eu quero ver o que está tentando esconder de mim.

—Tem certeza disso, Cella? Eu poderia te mostrar as formigas do Céu, se você quisesse. Basta me pedir.

Marcella titubeou por um instante, mas não se deixou abater. Era uma mulher e sabia o que queria e onde pretendia chegar: no tesouro escondido.

— Me leve até lá. Até ela. Não ouse tentar me proteger. Eu não sou indefesa.

— Eu sei que não é… — disse melancólico o menino. — Um dia, tá? No máximo.

Marcella se viu em uma espécie de veículo primitivo de locomoção em massa. A coisa chacoalhava e as pessoas que não haviam conseguido lugar para se sentar estavam em pé, agarradas a uma barra de ferro tentando não cair. Ela era uma delas. Sentiu algo em sua coxa. Alguém havia lhe apalpado, propositalmente. Quis gritar, mas entendeu que estava presa dentro da outra versão de si mesma e chorou. Olhou furiosa ao redor, assustando os molestadores, que recuaram e indignada, procurou o Viajante das Galáxias.

— “Um dia. Ele disse no máximo um dia…” — se lembrou.

Agora entendia porquê. Ser uma mulher, naquele mundo, naquela dimensão, era estar exposta a todo tipo de humilhações e medos, pois os homens se comportavam como animais vorazes. Não todos os homens, talvez, mas sempre um homem. Sua vida estava pela primeira vez em risco, e imaginar que esse era o dia a dia dela, da sua gêmea dimensional, era aterrorizante. Engoliu seu orgulho e começou a absorver tudo aquilo. Cada virada de pescoço na rua. Cada homem trabalhando e gritando obscenidades para ela, que estava vestida de forma muito mais recatada do que estava acostumada. Foram dezenas de assédios em um único dia, entre sua casa e a escola, onde deveria estar protegida para aprender o que a sociedade tinha a oferecer para a edificação humana.

Sentiu medo o tempo inteiro. Era um mundo hostil com as mulheres. Era apenas uma jovem de quatorze anos e sua culpa para ser tão maltratada era por ser bonita e ter um corpo atraente. Seu pecado era ser “gostosa”.

Sobre Fabio Baptista

14 comentários em “Alvorecer Infinito (Atalaia do Leste)

  1. Queli
    10 de maio de 2024

    Texto bem escrito, fluido e claro. Tema ok. História comum, mas numa versão nova, inusitada, eu diria.

    Aborda um tema importante, o machismo social e a vulnerabilidade da mulher, tida como objeto, submissa.

    Gostei muito. Texto não se prolongou além do necessário, sendo conciso e objetivo.

    Parabéns e boa sorte!

  2. Luis Guilherme Banzi Florido
    8 de maio de 2024

    Bom dia, Atalaia! Tudo bem?

    Diário de viagem (kkkkkk): tô nos EUA sem notebook e sem internet, então tô lendo e comentando os contos pelo celular. Então desculpe por prováveis erros de escrita e pela estrutura não tão organizada do conto. Porém, vou comentar com a mesma seriedade e parâmetros que vinha usando até então. Vamos lá!

    Bom, deixe-me começar esclarecendo que eu sou totalmente favorável a consto que trazem uma visão política do autor e funcionam como mensagem, debate ou crítica social. Eu mesmo já escrevi algumas coisas do tipo aqui no EC, e isso não costuma ser bem recebido. Além disso, digamos que eu estou do mesmo lado que você nessa questão. Disse tudo isso pq quero esclarecer de cara que minha criticas e elogios não se basearão no caráter político do conto, e eu não vou entrar na polêmica em torno do conto, pois acredito que seja seu direito expor essas opiniões.

    Acho que um grande problema pra mim nesse conto é o enredo, que é bastante fraco. As coisas acontecem de forma súbita e não levam para muito lugar. Os eventos meio que se sucedem fora de uma ordem lógica, e não parecem obedecer a nenhum objetivo claro na história, sabe?

    Quem é a criança gênio? Como ele conhece Marcella? Pra onde ele quer leva-la? Pq ele aceita que ela vá para o corpo de seu par na terra? E pq a terra, especificamente? Além disso, se são dimensões paralelas, existem infinitas terras. Pra qual terra ela vai, e qual a relação entre o planeta da protagonista e a terra da criança?
    Tudo muito estranho e desconectado, de modo que eu passei a leitura toda meio confuso e procurando o fio narrativo. Porém, eu consegui encontrar, e a história termina tão bruscamente quanto começou. Acho que esses pontos deixam um gostinho de que faltou algo, sabe? Falta algum tipo de emoção, ponto de interesse, clímax, desfecho, plot twist, ou qualquer outra coisa q dê ao conto algo para o leitor se importar, formar teorias, se envolver com o mistério.

    Note que o cinto não é ruim e nem está mal escrito. O ponto positivo do conto é justamente a boa escrita, a leitura é simples e flui.

    Por último, quanto a questão da “panfletagem” ou o que quer q chamem, como eu disse antes, não vejo nenhum problema nisso, pq literura e política são intimamente ligados. O problema é que a narrativa não é sólida o suficiente para que sua mensagem seja diluída e apareça com naturalidade. Pelo contrário, parece que você tem alguns parágrafos sem nenhum fim narrativo, com o único objetivo de transmitir sua mensagem. Desse modo, até mesmo eu que concordo com sua mensagem, acabei ficando incomodado com o ritmo quebrado pelas críticas sociais.

    Enfim, parabéns pela coragem de enviar um conto com uma mensagem tão importante, mesmo sabendo q provavelmente seria detonada pelos comentaristas. Se eu puder te dar um conselho é: não só pro EC, mas pra vida, continue escrevendo, o se crítica social é sua paixão, continue com ela nos seus contos. Porém, talvez diluir e transmiti-la de modo mais sutil e/ou metafórico ajude a criar o impacto que você deseja no leitor, especialmente naquele que é contrário a sua visão, mas que pode ler sua história e no mínimo refletir a respeito.

    Construção de personagens: 6,0
    Enredo: 4,5
    Ritmo: 6,5
    Técnica: 7,5
    Desfecho: 4

    Nota final: 5,7

    Parabéns e boa sorte!

  3. Marco Saraiva
    7 de maio de 2024

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    ——————————————–

    Avaliação

    O texto se passa em um mundo utopico, onde Marcella vive como mulher e nao sofre abuso. Certo dia ela encontra uma crianca que a permite viver um dia na pele de uma mulher no nosso mundo real e ela percebe que o nosso mundo eh horrivel com as mulheres.

    O objetivo do texto eh obvio: critica social. As mulheres sofrem por causa dos homens. Nem todo homem eh mal, mas quando uma mulher sofre, a culpa eh do homem. So que o desenvolvimento nao ajuda muito com os argumentos. A utopia onde vive Marcella nao eh trabalhada. Ela simplesmente existe. Eh basicamente uma afirmacao: “em um mundo onde tudo eh maravilhoso e todas as coisas sao perfeitas, la vivia Marcella…”.

    Nao vejo textos assim como contos. Isso nao eh uma historia, nao ha trabalho de personagens, nem trama. Tudo o que sinto ao ler textos assim eh que acabei de ouvir um sermao de uma mulher que olha para mim como se eu (ou pessoas como eu) fosse a razao dos seus problemas (ou um homem que olha para mim como se eu fosse a razao dos problemas das mulheres).

    NOTA: nao vou entrar na discussao social que o texto quis levantar. Eh uma conversa valida e interessante de se ter, mas acho que esta abordagem – a de invadir um desafio de contos para “injetar” um texto panfletario – nao eh muito etica.

    TÉCNICA ●◒◌ (1.5/3)
    Notei uma certa intimidade com a escrita, mas ha espaco para melhoria. Logo no inicio, por exemplo, na sentenca de abertura do texto, voce fala que Marcella estava deitada SOBRE o brilho do Sol. Ver um errinho assim logo de cara ja quebra um pouco o ritmo. Alem disso, ha um certo abuso dos adverbios.

    HISTÓRIA ◒◌◌ (0.5/3)
    Vejo um pequeno esforco para basear o texto em um mundo de fantasia, mas a historia nunca foi o objetivo deste texto.

    TEMA ●● (2/2)
    O tema esta claro no texto, ja que objetivo eh fazer Marcella “viajar”, por um dia, para o nosso mundo.

    IMPACTO ◌ (0/1)
    Apesar de textos assim geralmente tentarem gerar um forte impacto no leitor, mostrando a realidade cruel de alguma minoria, o impacto eh geralmente o oposto: mostra uma certa desconexao com a realidade por conta do escritor.

    ORIGINALIDADE ◌ (0/1)
    Sempre tem um destes no EC.

  4. Thiago Amaral
    6 de maio de 2024

    Oi Atalaia, tudo bem?

    Achei seu conto bem escrito, sendo fácil e prazeroso acompanhar o que acontece em cada cena.

    No entanto, a trama me pareceu subdesenvolvida. Marcella e Julio assistem à palestra de uma criança que parece um anjo. Marcella insiste para conhecer essa outra versão dela na Terra, coisa que o menino não queria que acontecesse. Ele queria que ela fosse para o paraíso com ele, eu acho…

    A transição dessa conversa para a Terra também me deixou bem confuso. Ele diz que seria em um dia, mas acontece instantaneamente. Isso pro leitor é desorientador. Tive que voltar e reler pra ver se tinha perdido alguma coisa.

    No final também, achei brusco. Pensei que teria mais, mas já tinha terminado.

    Aparentemente, seu conto gerou polêmica. Acho que isso sempre acontece com os que tocam em pautas sociais assim. Pra mim, o problema do conto não é a mensagem, mas a maneira como ela foi feita. Ficou um tanto bizarro como tudo aconteceu na história.

    Todas as ideias são interessantes, mas a execução não deu conta. Poderíamos ter ficado animados e inspirados pela utopia no começo, comparando com nossa sociedade na Terra. Mas acho que pouco foi dito sobre o planeta de Marcella.

    Em resumo, me pareceu que faltou calma para colocar mais elementos, explicar as coisas com mais cuidado, enriquecer o mundo do conto. É gostoso ler uma história quando o autor criou e sabe como tudo funciona, mas infelizmente não aconteceu aqui.

    Espero que o feedback negativo não te desestimule. Obrigado pela contribuição, e nos vemos na próxima.

  5. Emanuel Maurin
    3 de maio de 2024

    Um tal de Gabriel convida Marcella para dar um rolê em outra dimensão. Ela fica surpresa ao chegar do outro lado, porque lá os caras assediam as mulheres e isso é muito comum. A experiência aterrorizante faz a moça filosofar sobre os problemas da vida. E quando volta para sua dimensão, tem uma nova perspectiva e uma compreensão mais profunda da existência humana. O conte já está pronto e não acho justo dar palpite em receita pronta dizendo que isso ou aquilo poderia ser melhorado, mas também não dizer nada fica meio que vazia a opinião, então segue a ladainha: Gabriel é de outra dimensão, mas faltou explicar sobre a personalidade ou história de vida dele. Algumas explicações são genéricas. A trama tem um conflito, mas a resolução não é muito clara. Como Marcella lida com o que experimentou? Como ela muda isso? O limite de palavras é bem folgado, daria para aprofundar muito mais os personagens, cenários e explicações em geral. A frase final é provocante, mostra que ninguém deve ser tratado pela sua aparência física. Mas o final é sem graça.

    No mundo, pessoas consideradas bonitas são frequentemente assediadas e pessoas consideradas menos atraentes são muitas vezes ignoradas. Não tenho certeza se a beleza é subjetiva ou se é medida por estatísticas. O que é bom sobre o seu conto é que ele é instigante. Eu gosto quando algo estimula todes a pensar.

  6. Amanda Gomez
    3 de maio de 2024

    Oláa, Bem?

    Vamos lá, seu conto causou um certo burburinho aqui e acolá, achei que seria algo bem polêmico, mas veja só… achei levinho até.

    Gosto de histórias com pegada distópica/utópica. O começo do conto pareceu a última. Achei um ótimo começo, promissor, boas descrições e imersão. Fiquei curiosa sobre o ano que se passa essa história ou como de fato chegaram até ali. Acho que se tivesse focado mais nisso deixaria o leitor fisgado por mais tempo.

    Temos a quebra de clímax com a chegada do outro personagem. E essa quebra se tornou constante até me senti totalmente distante do que era contado.

    A cena do menino no auditório, as coisas que ele fala… é meio nada com nada. Poderia sim ser um personagem cativante que deixasse o leitor realmente interessado e instigado, mas comigo não ocorreu, se eu tivesse lá teria me levantado e ido embora, Pablo Marçal teria mais chances. Fora que não consegui visualizar a figura do menino nem seus anseios. Ou seja, falta credibilidade ao personagem. Marcela também não cativa.

    Ok, passamos então para cena que o menino leva Cella para a realidade dele, que seria… a nossa atual? Eu não consegui entender como ele fez isso, como ficou a realidade atual? sem ela? Foi uma coisa apenas mental? Um dia… um dia que ela sumiria ou um dia que pode ser apenas segundos na realidade atual dela?

    Acho a ideia super interessante, dessa viagem entre realidade apontando todas essas questões que sim, são importante, sim precisam ser mostradas…mas quando você quer mostrar isso dentro da ficção, você precisa ser muito mais cuidadoso para não parecer que os personagens são bonecos de ventrículos e que foram criados apenas para passar uma mensagem pessoal do autor.

    O autor perdeu uma boa oportunidade de usar o bom limite do desafio para desenvolver a história, que sim, tem um plot muito legal e se seguisse nele teria alcançado vôos maiores.

    Sobre a última frase, penso que esse alvorecer trouxe mais maturidade psicológica para as pessoas, uma adolescente de 14 anos na faculdade não é uma coisa comum. Uma criança dando palestras e etc. A situação sobre o Gostosa é facilmente uma coisa que uma adolescente cabeça de vento falaria e não vi horrores nisso. A parte ruim é que destoa da mulher evoluída que ela se considera no começo da história. Destoa desse mundo evoluído apresentado. Aliás, pensando agora, pq ela fala tanto sobre isso? pq parece um problema? pq parece que ela não se sente segura? Se isso tudo ficou para trás…

    Ok, é isso, conto com começo promissor, mas que vai destoando no decorrer. Escrita ok. Não merece o hater que vem recebendo, porém.

    Parabéns por ter participado do desafio, boa sorte!

  7. Gustavo Castro Araujo
    30 de abril de 2024

    A maior qualidade deste conto é, obviamente, a capacidade de gerar engajamento. Para o bem ou para o mal, o texto tocou fundo as filosofias de vida de cada leitor. Ninguém passa incólume por aqui e isso é um grande feito.

    Particularmente, me coloco ao lado daqueles que consideram a literatura como uma ferramenta que deve instigar, provocar, tirar o leitor da zona de conforto. Não como meio de mero entretenimento, embora isso também seja válido. Mas é que se voltada apenas para distrair, a literatura há de se parecer como um descompromissado passeio no bosque – e convenhamos, passeios no bosque costumam ser um tanto enfadonhos.

    Nesse sentido, este conto cumpre a missão, já que provoca, já que instiga. Possui, assim, aquele germe de coragem que Hemingway tanto prezava, consistente na alusão a temas que hoje surgem como polêmicos – embora não devessem sê-lo.

    Sim, a violência contra a mulher é constante e endêmica. Poucas mulheres escapam disso. Ser mulher, em geral, não é fácil em um país como o nosso, permeado por um machismo estrutural, que transforma mulheres em objetos, não importa a idade ou o local. Ser mulher, de fato, é viver com medo, é atravessar a rua só para garantir, é evitar olhares, é não dar o sinal errado. Arrisco a dizer que poucos homens topariam trocar de lugar com alguma mulher, já que todos sabemos o que significa a existência de uns e outros num mundo construído para a glorificação masculina. Por isso concordo com tudo o que foi dito nos dois últimos parágrafos. Pode parecer panfletário? Sim. Mas não deixa de ser verdadeiro.

    Minha concordância quanto a esse mérito, porém, não significa que eu tenha apreciado o conto. É que, embora bem escrito no geral, com boa escolha de palavras, o trecho com a crítica social ficou solto, desvinculado do restante da história. Em resumo, temos duas realidades – a que toma conta da maior parte do conto, em que Marcella e o amigo estão na faculdade, prestes a assistir a uma palestra de um menino superdotado, e aquela que condiz com um microcosmo de realidade brasileira, especialmente no transporte público dos grandes centros.

    A descrição da primeira parte nos remete a uma espécie de utopia, em que tudo é perfeito, em que as pessoas são felizes e se respeitam. A segunda, ao contrário é algo mais próximo de uma distopia, concebida para causar ojeriza. Nada há, porém, que as ligue, não existe (pelo menos não encontrei) um fio condutor que permita entrever semelhanças ou contrariedades entre esses dois lados do espelho, mormente no que diz respeito a Marcella. Em suma, uma realidade não é o reflexo (a imagem invertida) da outra, como se poderia esperar.

    No máximo, nós encontramos Marcella feliz e faceira no início, uma jovem e curiosa universitária, depois transformada numa adolescente prestes a ser molestada em um ônibus lotado de abusadores.

    Mesmo que se dispensem os exageros (o trecho do “único pecado dela é ser gostosa” foi de gosto bem duvidoso), não há dúvidas de que faltou alguma coisa nessa equação. Se a ideia era falar sobre violência contra a mulher – algo necessário também na literatura, como já disse – talvez fosse mais interessante criar uma história com foco nisso, e não jogar, assim do nada, uma cena de abuso depois de uma narração típica de ficção científica. O resultado, em vez da cooptação do leitor, em vez do convencimento ou da persuasão, foi o contrário, mais próximo da repulsa e de certo desconforto com esse coelho tirado da cartola no último minuto – pelo menos é o que se percebe nos comentários.

    Enfim, caro(a) autor(a), como alguém que gosta de textos provocativos, cumprimento você pela ousadia, mas não tenho como deixar de criticar a maneira como você trouxe a lume esse tema tão necessário.

    De todo modo, parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio.

  8. Regina Ruth Rincon Caires
    30 de abril de 2024

    Oi, Atalaia…

    O início do conto, sobre as formigas, você disse que é divagação. Eu não assimilei, de início. Acredito que o conto é ambientado numa outra galáxia, num outro planeta que “existirá” e  será povoado daqui a séculos e séculos, amém!  E nesse novo “mundo” (em que se passa o conto), Marcella é uma universitária que tem uma vida livre, sem diferenças ou preconceitos entre homens e mulheres. É uma sociedade evoluída, sem desrespeito, livre nas escolhas, sem “selvageria”. Interessante que as matérias estudadas são bem distantes das estudadas hoje (na Terra). As pessoas convivem pacificamente sem abusos, sem crimes.

    Num determinado momento, entra o personagem que é um palestrante “criança”, de sabedoria invejável, e diz conhecer outras eras, outros “mundos”. E Marcella, curiosa, quis conhecer a Terra (onde ela viveu um dia? – não compreendi muito bem a amiga da “criança” palestrante). A criança lhe concedeu o direito de ficar apenas por um dia na Terra. Mas ela vai retornar para aquela Terra de séculos e séculos atrás (que é esta nossa, de hoje, e que não deu certo e acabou).  

    Mas, quando Marcella “entrou” na vida da Terra, ela “caiu” exatamente dentro de um ônibus (circular) entupido de gente. Aí eu já imaginei um ônibus lotado, em uma grande cidade, gente saindo pelo ladrão, e a moça, naquela muvuca enjaulada, sendo apalpada, sofrendo abusos.

    Acredito que a você (autora)  tenha “pisado” um pouco fundo, dando apenas um enfoque para o abuso. Isso não aconteceu pelo simples motivo de ela “ser gostosa”. Não. Isso também acontece diariamente com pessoas “não gostosas”, com MULHERES. Essa é a realidade brasileira. E é preciso deixar claro que forçar contato físico no ônibus, em ato de importunação sexual, é um crime previsto em lei.

    E acho que há uma guinada muito brusca na história, e ela fica um tanto sem rumo. A mensagem que você (autora) quis levar a conhecer ficou meio perdida, não sei.

    Agora, Atalaia, vamos tratar apenas das críticas sociais que há no conto. Se foram bem exploradas ou mal-exploradas, isso é de interpretação individual. Se foram estranhas ou descabidas, é julgamento pessoal. Cada um sabe o que pensa e o que “sente” sobre o assunto. E percebo que nem você generalizou o comportamento masculino. Há uma citação que não generaliza o HOMEM (masculino) na condição de “ser selvagem”:

    “Ser uma mulher, naquele mundo, naquela dimensão, era estar exposta a todo tipo de humilhações e medos, pois os homens se comportavam como animais vorazes. Não todos os homens, talvez, mas sempre um homem”.

    Pelamor, nada de pauta feminista no que falo! Eu falo de direito, de respeito. Falo da realidade das mulheres, ou isso também acontece com os homens? Falo da sororidade que precisamos difundir, expandir conscientemente. O que é sororidade? É um sentimento que une mulheres por uma rede de solidariedade, empatia, proteção e companheirismo.

    Eu utilizo transporte público muitas vezes na semana. Sou privilegiada, tenho assento de idosos, na parte da frente do ônibus, ar condicionado bem pertinho, muito confortável. Mas a parte em que ficam os outros passageiros, é um embrulho de gente. Entre eles há muitas adolescentes estudantes, com uniformes escolares. E é recorrente presenciar tumultos por causa de homens que não RESPEITAM as mulheres. E também sabemos que há muitas mulheres que passam por esse constrangimento e, por vergonha, não gritam.  Os motoristas já são treinados para tomarem as providências. E já repararam que não acontece o contrário.  Acredito que o problema do assédio  nem todos queiram comentar. Eu respeito.  Mas não se pode ignorar que isso acontece, não somos cegos para as informações que são levadas diariamente em todas as mídias. E nisso não existe “fake news”. É a realidade. Estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chama a atenção para um problema crítico no Brasil e que afeta principalmente as mulheres: o número estimado de casos de estupro no país por ano é de 822 mil, o equivalente a dois por minuto. Quanto às relações entre agressores e vítimas de estupro, notam-se quatro grupos principais: os parceiros e ex-parceiros, os familiares (sem incluir as relações entre parceiros), os amigos/conhecidos e os desconhecidos.

    Outra coisa tratada no conto diz respeito ao abandono parental. No texto aparece:

    “Aquilo era impossível. Nenhuma vítima de abandono parental seria deixada à mercê pela sociedade, mas antes, acolhido e aquela criança sugeria que nunca tivera esse tipo de proteção. Ou pior, que nunca havia necessitado disso! A epidemia de Abandono Parental nos séculos passados fora um dos maiores flagelos que a humanidade já enfrentara e causou incontáveis distúrbios sociopsicológicos em bilhões de pessoas, custando uma intensa quebra de paradigma por décadas até que as coisas voltassem aos trilhos novamente. Essa terrível mancha na história da humanidade foi chamada oficialmente de Era da Deriva, mas os mais críticos a classificaram conforme ela realmente merecia ser chamada: Era da Perdição. De lá pra cá a humanidade se reerguera, mas a um enorme custo. Como aquele menino, seja lá de onde ele fosse, podia estar tão bem em não ter pais?“.

    Acredito que a você (autora) quis enfatizar o problema atual no mundo, MOSTRAR a catástrofe que acontece hoje nas famílias e chamar os leitores para uma reflexão. E sem falar dos órfãos das guerras que a sociedade não consegue atender. Ficam abandonados.

    Acho que agora quem pisou “fundo” fui eu, não é mesmo?. Mas não se trata de comício e nem de pregação, é apenas um chamamento para a realidade. Acho que, no conto, houve certo excesso para se expressar: “Cada virada de pescoço na rua. Cada homem trabalhando e gritando obscenidades para ela, que estava vestida de forma muito mais recatada do que estava acostumada. Foram dezenas de assédios em um único dia, entre sua casa e a escola”. E também há outra coisinha estranha quando justifica: “Seu pecado era ser “gostosa”.

    Então, se você, Atalaia, “acelerou um pouquinho ou poucão” a mais o motor, o carro continua aí. Cada um pode dirigir como entender ou achar conveniente.  

    A leitura exige muita atenção, há mudanças de mundos, de realidades. Alguns deslizes na escrita, nada muito sério.  

    Bom seria se, poucos séculos à frente, tivéssemos uma sociedade humanamente tão desenvolvida como é a do início conto.  

    Parabéns, Atalaia!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

  9. Priscila Pereira
    29 de abril de 2024

    Olá, Atalaia! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Bem… Estou em dúvida aqui… Parece que você escreveu o começo e o meio de forma bem legal, com personagens críveis e uma história interessante e no final meteu um louco porque estava entediado e quis tentar uma coisa diferente. E na minha opinião esse final estragou um conto que podia ser bem legal.

    Não sei sua intenção com esse final, mas ficou parecendo parte de alguma pauta feminista. E eu não sei que tipos de homens você conhece ou lugares você frequenta, mas eu sou mulher e NUNCA fui assediada nem fisicamente nem moralmente. Nem todo bandido, assassino, imoral e lixo humano é homem, também existem mulheres horríveis.

    Pena esse final porque eu realmente estava gostando do começo.

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  10. Angelo Rodrigues
    29 de abril de 2024

    Olá, Atalaia do Leste.

    Comentários:

    Embora não prejudique a compreensão do texto, há algumas construções que precisam ser revistas.

    O conto interioriza a realidade a partir do exterior, de uma outra realidade, num vaivém. O discurso inicial nos coloca numa realidade não corrente, e pela mão do garoto especial, faz Marcela conhecer o que somos, a sociedade em que supostamente vivemos. Sua primeira experiência é ser apalpada num ônibus composto – com base na imagem – apenas por homens abusadores.

    Algo meio forte.

    Há no texto um passeio rápido entre a utopia e a distopia, com a busca de um equilíbrio com base nos extremos. Não deve funcionar: de modo geral, a utopia é aborrecida e a distopia disfuncional ao ponto de não poder ser tolerada por quem nela vive. Ambas ganham sempre o tom da artificialidade – como retratado na imagem.

    Uma questão: nenhuma imagem ilustrativa dos contos, a meu ver, conta relativamente ao texto apresentado. São meras ilustrações. No caso presente, entretanto, a imagem trazida pelo autor, com uma mulher e alguns homens em volta dela, não se ajusta ao texto – embora tente –, onde se supõe que a protagonista tenha, naquela dimensão, cerca de quatorze anos.

    Digressão: vi alguns comentários sobre algumas imagens que ilustram os contos. Falo daquelas oriundas de algoritmos – que estão se espalhando também pela arte. São tão boas quanto ruins. É o preço que a máquina cobra: a artificialidade, a falta de alma do traço humano. Todas elas. Confesso que tenho um quê de aflição ao vê-las. A que ilustra esse conto, acho, parece refletir que os homens, todos com a mesma estrutura óssea, cor de pele e tal – onde só mudam os pelos – estão apavorados com o medo insuspeito que a garota demonstra. De quê? Acho que nem o algoritmo ficou sabendo quando lhe foi cobrado um resultado. Haverá um dia em que essas imagens serão consideradas kitsch demais, artificiais demais e serão abandonadas. Mas por enquanto são apenas reflexo da curiosidade sobre o “poder fazer”. Ou não, pois seremos todos tão artificiais que elas nos representarão realmente bem.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  11. Kelly Hatanaka
    29 de abril de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    O conto atende ao tema. Marcela viaja a outra dimensão para passar um dia dentro de uma versão de si mesma.

    Escrita
    Boa, porém um tanto estranho o uso de algumas palavras, como se com a intenção de tornar os personagens mais inteligentes ou sábios do que parecem ser.

    Enredo
    Marcela e Julio vão a uma palestra. O palestrante é da Terra e transporta Marcela para passar um dia como sua versão terráquea. Marcela não gosta porque o baguio aqui é louco.
    O enredo soou confuso. O menino diz que o mundo dele foi destruído por Deus, pouco depois, ele convida Marcela para visitar o seu mundo. Ué, ele não tinha sido destruído? O menino fala que veio de um mundo muito diferente, em que todos cuidam de todos, tanto que o fato de não ter ninguém cuidando dele, especificamente, não era um problema. Em seguida, ele revela que veio da Terra. Daí, nós, terráqueos, pensamos o que? “Puxa, houve uma grande evolução na Terra. Mudamos, crescemos.”. Quando Marcela chega, está tudo igualzinho hoje. Não entendi. De onde veio esse menino, então?
    O menino convida Marcela para conhecer seu mundo. Pra quê, se ele sabe que ela vai sofrer? O moleque é sádico? Qual era a intenção dele? Marcela levanta uma questão pertinente: se ele a conhece daqui, da Terra, por que quer trazê-la para cá? Daí a criança suspira, não responde e, com isso, Marcela muda de ideia e manda ele não tentar protege-la. Ora, se foi ele que convidou. Um diálogo meio sem sentido.

    Impacto
    Ai, desculpa, mas o conto não me agradou muito. Por uma questão de gosto pessoal, não de falta de qualidade do texto. Mas a gente não escapa disso, não é mesmo? Um conto pode ser ótimo e bem escrito, mas se não me toca, não me toca. E tudo bem, porque, com certeza, outras pessoas vão gostar. Mas eu avalio de acordo com meu gosto, não tem jeito.
    Vou falar do que eu não gostei e, caso você ache que isso te ajuda em alguma coisa, aproveite, senão, deixa pra lá, ok?
    Os personagens parecem um tanto pedantes, inteligentinhos. O tipo de gente que eu adoro… para zombar. A primeira frase, a reflexão de Marcela, me parece completamente fora de contexto. Só me fez pensar no Didi Mocó perguntando se no céu tem pão.
    Além de tudo o que eu disse em Enredo, incomodou-me o tom panfletário, a forma como a ideia de que naquele outro mundo Marcela podia se vestir como quisesse, que lá, ela reprimia seus pensamentos a respeito de um rapaz que a atraiu, porque não é certo ter esse tipo de pensamento a respeito de outra pessoa com a qual ela não se relaciona, oh como eles são evoluídos e desconstruídos nesse mundo tão maravilhoso. Quando ela chega na Terra, oh, o horror! Sim, sou mulher. Sim, pego transporte público. Sim, é um horror. Não, não entro em qualquer vagão do trem quando volto pra casa sozinha à noite, sempre vejo primeiro quem está dentro do vagão. É, é uma merda. Mesmo assim, os dois últimos parágrafos me pareceram forçados, não me identifiquei. Não discordo da mensagem. Discordo da forma.

  12. Thales Soares
    29 de abril de 2024

    ALERTA: já quero deixar claro que neste conto eu vou tacar uma pedrona! Tô escolhendo aqui uma bem pontuda, pra cair rasgando bem no núcleo dele.

    OBS: Tudo o que eu vou dizer aqui é a minha opinião. Minha crítica para esse conto vai ser inteiramente baseada no meu gosto pessoal.

    OBS 2: Não tenho nada contra a autora deste conto, e nem sobre sua visão de mundo. Minhas críticas vão ser única e exclusivamente para este conto específico. Se a autora for uma das minhas amigas do Entre Contos, já peço desculpas de forma antecipada, pois não pretendo me conter nas palavras aqui.

    Pelo meu aviso acima, já deu para notar que eu não gostei da história. E não adianta vir me chamar de machista, pois eu não gostei por um motivo muito simples: a história aqui apresentada tem um objetivo muito claro, e não é promover o entretenimento, mas sim mostrar o pensamento ideológico da autora. Eu estou muito cansado desse tipo de coisa, que está acontecendo numa frequência alarmante nos filmes de Hollywood, e agora está começando a ocorrer também no mundo dos games. Eu, particularmente, acho muito triste quando a ideologia é colocada acima da arte numa obra. Não gosto de assuntos politicos sendo discutidos dessa forma, inseridos no meio da cultura. Eu chamo isso de “clichê moderno”. No clichê moderno a protagonista costuma ser uma feminista empoderada, que sofre diante do patriarcado neste mundo opressor. O que eu mais gosto numa história é ver a visão única que cada autor consegue construir dentro de seu mundo… porém, esse clichê moderno eu já me cansei, pois é uma visão que eu já vi zilhões de vezes nos últimos anos.

    Vamos, enfim, começar a falar sobre o conto. A imagem de capa mostra um harém invertido, e uma mulher assustada no meio deles. Antes de começar a ler, confesso que pensei que seria um conto de sacanagem. A imagem foi feita por IA, só que está com um aspecto um pouco estranho, dando uma sensação de vale da estranheza. E a mulher me parece ser bem mais velha do que a última linha do conto sugere… ela não me parece ter 14 anos de idade (14 anos??? Tá, pera… depois eu comento sobre isso… vamos por partes).

    “As pessoas se davam ao respeito e todos eram livres para serem quem eram e se vestir como quisessem, sem se preocupar com que tipo de comportamento despertariam uns nos outros. Os horrores das gerações anteriores onde o mundo se comportava com selvageria há muito foram deixados para trás, desde o último alvorecer.”

    “Aulas e palestras eram dadas espontaneamente pelos Professores e alunos e todos eram absolutamente livres para escolherem o que quisessem participar para ampliarem seu conhecimento. Universidades eram tão somente um enorme fomento para promover a busca pelo conhecimento que a humanidade tanto apreciava em um local apropriado para apresentações e debates sobre literalmente, qualquer assunto.”

    Estão sentindo esse cheiro? É o cheiro da… utopia! Hmmmmmmm. Eu odeio profundamente a utopia. Ela é tão insólita e inverossímil. Gosto apenas quando ela é apresentada com uma boa dose de cinismo, como podemos observar, por exemplo, na série do Fallout. Ah, aquilo sim é satisfatório! A utopia, ao meu ver, serve apenas para utilizarmos como base de sustento a uma hipocrisia. E por falar em hipocrisia, a própria personagem principal me parece hipócrita. Ela não quer que homens apreciem sua beleza (de forma respeitosa, sem assediá-la), mas ela própria fica de olho em homens com beleza elevada. Ela é apresentada como uma garota de boas virtudes, mas ela própria se considera uma gostosa (uma gostosa de 14 anos??? Ah, pera… estou me adiantando novamente… depois falamos sobre isso).

    Na hora da palestra do menino de 7 anos de idade (por que todo mundo nesse universo é tão novinho?), a história se revela ser de ficção científica. Esse foi o único momento que me agradou no conto. Gosto de histórias de ficção científica, e percebi que neste desafio esse gênero está bastante recorrente! Aqui o conto revela que é sobre viagem interdimensional, e prova que está dentro do tema proposto do certame. Os diálogo entre os personagens são fluidos e funcionam bem.

    O bebê palestrante diz que está ali para salvar o mundo, pois o mundo dele foi destruído. Mas como ele pretende salvar o mundo exatamente? Dando palestras em faculdade para 2 ou 3 pessoas? Aliás, ele é descrito como um gênio super prestigiado, mas ninguém quer ouvir ele falando? Ele então se oferece de levar a Marcella para seu mundo… mas… ele não disse que deus destruiu o seu mundo? Fiquei um pouco confuso aqui.

    “— Não. Eu não quero conhecer seu Paraíso. Na verdade, não devo. Se fosse de lá que você me conhece, não faria sentido você querer me levar para lá, não é?”

    Não entendi nada dessa frase. “Se fosse de lá que você me conhece, não faria sentido você querer me levar para lá”… hã? Por quê? É porque já existe uma versão da Marcella nesse mundo? Então o garoto fica triste, dando a entender que a versão da Marcella no mundo dele está morta.

    “Marcella titubeou por um instante, mas não se deixou abater. Era uma mulher e sabia o que queria e onde pretendia chegar: no tesouro escondido.”

    O que tem haver ela ser mulher neste caso? Não seria melhor utilizar aqui o adjetivo “persistente”, “vigorosa”, “determinada”? Ou você está querendo me dizer que todas as mulheres possuem essas virtudes? Mas os homens não as possuem também?

    “— Me leve até lá. Até ela. Não ouse tentar me proteger. Eu não sou indefesa.”

    Pera… quê?! Marcella não havia acabado de negar o convite para que o menino a levasse ao seu mundo? Mudou de ideia apenas por birra? E por que ela está sendo tão mimada e grosseira nessa fala? E ela ainda diz “Não ouse tentar me proteger”…… ok…… mas proteger do quê? Proteger de si mesma? De sua própria ingenuidade?

    “— Eu sei que não é… — disse melancólico o menino. — Um dia, tá? No máximo.

    Marcella se viu em uma espécie de veículo primitivo de locomoção em massa. A coisa chacoalhava e as pessoas que não haviam conseguido lugar para se sentar estavam em pé, agarradas a uma barra de ferro tentando não cair. Ela era uma delas. Sentiu algo em sua coxa. Alguém havia lhe apalpado, propositalmente. Quis gritar, mas entendeu que estava presa dentro da outra versão de si mesma e chorou. Olhou furiosa ao redor, assustando os molestadores, que recuaram e indignada, procurou o Viajante das Galáxias.”

    Aqui entramos na transição mais confusa do desafio. “Um dia, tá? No máximo”… não entendi o significado dessa frase… seria: um dia eu te levo? Mas na linha seguinte, Marcella está num ônibus! Mas…. ela não estava na faculdade? Aconteceu a viagem então… certo? Porém, o texto não dá pistas nenhuma sobre como ocorreu, e confesso que fiquei completamente boiando aqui. Então um pedófilo começa a dar umas apalpadas nela, e ela revela que está presa dentro de outra versão de si mesma…….. hã? E quem é o pica das galáxias… ops… o viajante das galáxias que ela está procurando aqui?

    Aí chegamos à conclusão da história, que é a mesma moral do filme da Barbie. Não me entenda mal… não estou dizendo que não é difícil ser mulher, ok? Eu amo mulheres, e sou super respeitoso com todas elas. Eu sei que a vida delas é bem mais difícil do que a dos homens (homens nem menstruam… isso já é uma grande facilidade na vida). Eu admiro o esforço enorme que as mulheres fazem para ganhar o seu papel de destaque perante a sociedade, e mesmo assim há homens imbecis que menosprezam o valor delas. Eu concordo com tudo isso, mas……… será que este era o local mais adequado para você colocar esse tipo de moral? Porque…. veja bem…. o que isso tem a ver com sua história? Onde isso se encaixa com as viagens interdimensionais, a garota que pensava sobre formigas no céu, e sobre a vida na faculdade? O tema do abuso e mal trato às mulheres não havia sido abordado em momento nenhum do conto, então por que essa foi a conclusão dele?

    “Sentiu medo o tempo inteiro. Era um mundo hostil com as mulheres. Era apenas uma jovem de quatorze anos e sua culpa para ser tão maltratada era por ser bonita e ter um corpo atraente. Seu pecado era ser “gostosa”.”

    Ok, chegamos naquela parte que eu queria comentar… uma………… uma gostosa……. de 14 anos? Err…….. Olha, só eu achei isso MUITO bizarro? Tudo bem definir uma garota de 14 anos como uma moça linda, bela, desenvolvida. Mas “gostosa”? Você quis dizer que os homens têm essa visão dela, é isso? Eu só não entendi por que essa idade! Só para mostrar que os homens no ônibus são abusadores cruéis, um bando de imbecis selvagens? Se a moça tivesse 20 anos, não passaria o mesmo tipo de mensagem, mas sem confundir o leitor?

    OBS FINAL: espero que você não tenha se ofendido com nada do que eu disse… eu meio que me exaltei um pouco kkk. Mas leve tudo na brincadeira, tá? Meus apontamentos são verdadeiros, e representam unicamente a minha opinião. Mas a forma como eu escolhi mostrar eles a você, foi num tom bem humorado. Boa sorte no desafio!

  13. vlaferrari
    28 de abril de 2024

    Pena que a real intenção da viagem tenha ficado para o final. A misoginia surgiu numa “quase crônica” nos pensamentos de Macella ao viajar para um outro “agora”. Um tema importante que foi devidamente emoldurado pela narrativa da viagem, premissa do desafio. Sobre isso, há de se discutir e muito ainda e o importante é sempre imperar o respeito à argumentação, coisa que não existia até uns tempos atrás.
    O texto é bem escrito, a narrativa é clara e há um ou outro erro de revisão que em nada atrapalha a compreensão da estória. Mas entendi um tanto rápido demais. Apressado em se mostrar como está, deixou espaços que poderiam brindar o leitor com mais do conhecimento citado na narrativa. Algo como um Fox-Sport estacionado em uma vaga de caminhão de três eixos. Mas independentemente disso, é um bom conto.
    Sucesso no desafio.

  14. Antonio Stegues Batista
    28 de abril de 2024

    Algumas frases, e mesmo o mote do conto, abordam emoções e ideias contraditórias e ao mesmo tempo sugere um conhecimento de autoajuda para resolver os conflitos, tanto interno quanto externo. Vemos isso em Marcella logo no início do conto quando ela indaga se no céu existem formigas. Me parece que ela quer saber se o céu é o melhor lugar para  viver, onde não haveria os problemas que ela enfrenta, onde acabaria seu conflito existencial, a multiplicidade de seus anseios. Vemos essa mesma fragmentação quando a verdade é meia-verdade, e a pergunta meia-pergunta e o mundo é dividido em realidades paralelas e os próprios nomes dos personagens são partidos ao meio, Cella, Juh. Há uma tentativa de corrigir aumentando isso com o s do latim; Julius Sabius. Não por coincidência, o latim é o idioma dos acadêmicos e o  auditório do Campus se transforma na Ágora grega. Na descrição de Marcella deitada de short na grama  sobre, ou sob, o brilho do Sol, há uma reprimenda, uma censura aos olhares libidinosos e pensamentos lascivos dos homens ,  na inconveniência de admirar as coxas de Marcella, mas chegando ao final toda essa construção moralista cai por terra. Com o autoelogio sobre ser gostosa, toda aquela empáfia de Marcella de ser uma garota de boas virtudes quebra-se ruidosamente no chão duro da realidade.

E Então? O que achou?

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Informação

Publicado em 28 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.