EntreContos

Detox Literário.

Cem euros (Arlecchino)

— Attenzione: borseggiatrici! Pickpocket!

À voz estridente seguiu-se a correria. Uma senhora corpulenta passou por mim, apressada. Seria ela a batedora de carteiras? As pessoas se entreolhavam, meio assustadas, meio excitadas. Sorri internamente, um orgulho bizarro tomando conta de mim. “Sou brasileiro, moro na maior cidade do hemisfério sul e uma das mais perigosas do mundo. Sei andar no meio da multidão, não sou trouxa. Se nunca fui assaltado na Sé, imagine aqui, em Veneza…”.

Pouco depois, diante do caixa de uma lojinha de objetos de vidro colorido de Murano, estilhaçou-se o meu orgulho amalucado. Minha mochila estava cortada, a carteira perdida, bem como minha dignidade. O caixa me olhou com dó. E eu desabei das ilusórias alturas em que habitava como autêntico paulistano da gema, mestre da quebrada, e mergulhei no lamaçal pegajoso em que vivem os otários.

Arrastei-me até o hotel, enquanto me convencia de que a situação não estava tão ruim. Meus documentos originais estavam no cofre do quarto, bem como o cartão de crédito, providencialmente esquecido. O que estava na carteira era uma nota de cem euros, manchada da tinta que vazou de uma caneta e que eu pretendia trocar, e a foto. Cem euros são cem euros, manchados ou não; melhor nem converter para reais. Mas o que doía mesmo era a foto. A única foto que havia restado de nós dois.

No hotel, Paola, a recepcionista, estranhou meu ar macambúzio, e perguntou, em seu lindo inglês imperfeito se eu estava bem.

— I’m fine. But I’ve just been robbed.

Não falo italiano, embora entenda razoavelmente bem, e sempre acho estranho responder em inglês, mesmo agora, para contar que acabei de ser roubado. Parece uma espécie de traição à amada e bela língua portuguesa, além de desnecessário, porque, se eu compreendo italiano é claro que serei compreendido se responder em português. Certo? Errado. Qualquer brasileiro que acompanhou uma conversa animada com conhecidos venezuelanos, mexicanos, argentinos ou chilenos e que se deparou com uma muralha de incompreensão ao comentar em português, sabe bem esta sensação, metade indignação, metade maravilhamento diante de um recém descoberto superpoder.

— Oh, pickpocket, signore Ferreira! That is unfortunate!

Bota infeliz nisso, Paola. Penso em como dizer tal frase em inglês, mas ela já junta:

— Unfortunately, your backpack… it is too… too… how do I say?

E essa agora, qual o problema com minha mochila?

— Troppo vistosa — ela concluiu, desistindo do inglês.

Chamativa demais? Poupe-me, Paola.

— O problema não é minha mochila ser troppo vistosa e sim o pickpocket ser troppo safado — respondi, desistindo do inglês e do verniz social.

Subi, irritado, entrei no quarto e me deitei na cama, remoendo a sensação ruim de ter sido roubado. Não tinha muito o que fazer, exceto pegar mais cem euros do cofre para trocar, substituir a mochila pelo porta dólar e pegar o cartão e a cópia extra do passaporte. Mas a sensação revoltante continuava remexendo em meu estômago vazio e quedei quieto, olhando para o teto. Pensava nos cem euros, na cotação do real, convertia, me desesperava, virava para o lado e via o olhar de Malu sorrindo para a câmera, naquele momento suspenso em que pensei que éramos felizes. Voltava a pensar nos cem euros.

O lado bom de viajar sozinho é poder fazer os próprios tempos e seguir as próprias vontades. Fiquei digerindo o incômodo enquanto pude, mas, por fim, o vazio do meu estômago se fez ouvir. Eu estava em Veneza, cidade que sempre sonhei conhecer e que se mostrava tão bela quanto eu idealizara. Fazia um lindo dia de outono. Lindo demais para ser desperdiçado remoendo revolta num quarto de hotel. O que eu tinha perdido, afinal: cem euros, a lembrança dolorida de um amor traiçoeiro e minha dignidade, que já não era aquelas coisas. Eu iria embora na tarde do dia seguinte. Era hora de sair e apreciar minhas últimas horas naquele lugar de sonho.

Na recepção, Paola falava com uma moça e, ao me ver, me indicou a ela, com um gesto delicado. A moça se aproximou.

— Signore Mateus Ferreira?

— Yes…

— I find your wallet.

Ela pronunciou as palavras com dificuldade, como se tivesse decorado e ensaiado. Peguei a carteira que ela me estendia, quase sem acreditar. Claro que os cem euros não estavam lá, embora a foto, constatei com alívio, estivesse. Felizmente, o ladrão deixou também o cartão do hotel e a cópia do meu passaporte. E assim, minha carteira de estimação, bem como a foto fatídica, voltavam para mim, pelas mãos daquela fada que me olhava com curiosidade nos grandes olhos de corça.

— Grazie mille, signorina…

— Giulia.

Fiquei sem saber o que fazer. Deveria dar uma recompensa? Claro que sim, ela teve o trabalho de me trazer a carteira. Mas, sempre sinto vergonha em estender uma cédula para alguém. “Gesto vulgar”, era como Malu se referia a este tipo de ação. Entregar dinheiro para alguém. Fazer perguntas pessoais. Demonstrar intimidade. Infelizmente, trair o namorado com o irmão dele não fazia parte da lista. Há vulgaridades e vulgaridades.

Fui salvo pelo meu estômago, que roncou furioso.

— Giulia, would you like to have lunch?

Ela fez aquele sinal universal de “não falo essa língua, não entendi nada, socorro”, composto por um balançar de cabeça e um balançar de mãos simultâneo, combinado com um ar de desespero. Fiquei com dó e, na urgência de tranquilizá-la, fiz o impensável: falei em português lentamente, como tia Cecília costuma fazer para se comunicar com sucesso em todas as suas viagens internacionais.

— Deixe-me levá-la para almoçar. Você teve o trabalho de me trazer a carteira. Pode ser?

Como isto pode funcionar com tia Cecília, não sei dizer. Talvez seja a sonoridade agradável da língua portuguesa, talvez seja a correta escolha da entonação de voz, combinado com linguagem corporal. Não sei. Fato é que comigo também funcionou. Giulia aceitou.

O problema é que já estava tarde, os restaurantes estavam fechados ou fechando e não quis arriscar fazer um pedido tardio a um cozinheiro mal humorado. Nunca é bom irritar quem faz a sua comida. Depois da sexta porta na cara, Giulia, notando meu ar desamparado, me tomou pela mão e puxou para uma vielinha estreitíssima. Fiquei em dúvida se aquilo era mesmo uma viela ou somente um vão entre duas construções. Fiquei também em dúvida se eu conseguiria passar. Giulia olhou para mim e, para me encorajar, esfregou a mão sobre a barriga, naquele sinal que todo faminto é capaz de reconhecer facilmente. Confiei.

Giulia parecia conhecer a cidade como ninguém. Sem dúvida, ela morava lá. Nenhum turista navegaria pelas vielas de Veneza daquele jeito, sem hesitação, sem dúvida, sem se perder. Subimos umas escadarias, descemos outras. Passamos por dentro de um café, onde fomos xingados pelo garçom. Rimos. Cruzamos uma praça, seguimos por um longo corredor aberto e entramos em uma portinha. O lugar estava cheio. O aroma, promissor. Ela gritou alguma coisa incompreensível para o homem atrás do balcão, ele gritou de volta e eu só tive a certeza de que aquilo não era italiano. Devia ser o tal dialeto do Vêneto. Discutiram durante algum tempo. Não havia mesa disponível, mas Giulia insistia. Por fim, ele indicou a ela um corredor e ela sorriu, feliz.

No final do corredor, uma portinha levava a uma minúscula sacada, que tinha uma mesinha redonda, duas cadeiras velhíssimas e a mais espantosa vista para o Grande Canal, com as cúpulas da Basílica de São Marcos ao fundo. Aquele lugar não era parte do restaurante, devia ser um canto especial do dono, ou algo assim. Mal sentamos, e o homem pousou sobre a mesa uma travessa de espaguete com vôngole, outra com sardinhas e alguns antepastos e uma garrafa de vinho. Ele falava alto e sem parar e deu para entender que ele estava trazendo o que tinha, porque, dado o horário, as opções tinham se esgotado. Concordei com a cabeça.

Talvez fosse a fome, mas não lembro de ter comido melhor durante toda a viagem. E, pelo jeito, Giulia estava tão faminta quanto eu. Devoramos tudo com vontade e sofreguidão. O mal estar pelo roubo passara. Como ser infeliz em Veneza?

Ficamos em silêncio, apreciando a belíssima vista, as embarcações indo e vindo pelo canal, os gondoleiros fazendo a felicidade de turistas e apaixonados e imortalizando o encanto daquela cidade.

— Chi è la donna? — ela quebrou o silêncio de repente, enquanto bebericava seu vinho.

— Mulher? Que mulher? — engraçado como nossa comunicação estava fluindo bem assim, cada um falando sua língua.

— La foto.

— Ah, você quer saber quem é a mulher da foto. — Estranho eu não ter pensado imediatamente em Malu. Até bem pouco tempo, a palavra “mulher” remetia meus pensamentos diretamente até ela e aquele sorriso congelado. — Minha ex-namorada.

— Namorada? — Ela sacou o celular e pesquisou a palavra. — Oh. Fidanzata.

— Ex. Ex-fidanzata. — Apressei-me a explicar.

— Single? — Ela perguntou, me apontando com o queixo.

Solteiríssimo, quis dizer, o mais rápido possível.

— Sim, single. Very single.

Ela riu, parece ter achado graça naquela minha preocupação em me fazer entender e na bisonha mistura de idiomas. Estendeu-me a mão.

— Andiamo?

Levantei-me, sem nem questionar para onde.

Passei pelo balcão, paguei a conta, que custou bem menos do que eu esperava e troquei, enfim, a minha nota de cem euros.

— Que lugar incrível! Comida deliciosa!

Ela concordou com a cabeça.

— Caffè?

— Sim, um cafezinho iria bem. Conhece algum lugar bom?

Ela me pegou pela mão e me conduziu de novo por entre escadarias, corredores e vielas. Passamos novamente por dentro do mesmo café e mais uma vez fomos xingados pelo garçom. Giulia respondeu com um gesto enérgico e, pelo jeito, ofensivo, pois gerou uma reação imediata nos demais garçons, que responderam com outros gestos que tampouco pareciam gentis. Copiei o gestual de Giulia, larguei uns bons palavrões em português enquanto saíamos e me senti leve e alegre.

Enquanto me deixava conduzir, sentia-me como um Gregory Peck de mãos dadas com Audrey Hepburn, seguindo a correnteza, deixando-me engolir pela cidade, divertindo-me com o inesperado. A Princesa e o Plebeu. A cidade era outra, Veneza ao invés de Roma. Eu, enquanto Gregory Peck, deixava muito a desejar. Mas Giulia era uma Audrey Hepburn quase perfeita. Ela falava, explicava, contava e eu não sentia falta das palavras que não compreendia. Tomamos café, perambulamos por ruelas desconhecidas e deixamos o tempo correr apreciando a vista de uma ponte. Ela abriu a bolsa, sacou uma polaroid e, meio desajeitada, como se não conhecesse direito a própria câmera, tirou uma selfie nossa. Ficou perfeita. Por fim, paramos em uma loja de fantasias.

Ela insistiu para que eu entrasse, me empurrou para dentro da loja. A dona da loja nos olhou por cima de seus óculos, apontou para um canto, disse algo sobre descontos e voltou para sua leitura.

Giulia me puxou para uma prateleira cheia de máscaras da commedia dell´arte.

Escolhi uma delas, de nariz arredondado e testa proeminente. Ela não gostou.

— No, tu non sei Arlecchino.

— Bem, se não sou Arlecchino, então que tal essa? — Escolhi uma outra, de nariz adunco e sobrancelhas brancas e desgrenhadas.

— No! Non Pantalone. Pantalone è vecchio ed egoísta.

— Sou velho. E egoísta também. — A imagem de Malu voltou a me assombrar, mas desta vez, de um lugar distante, como se a voz dela mal pudesse me alcançar.

Giulia riu, como se eu tivesse dito algo muito absurdo. Malu desapareceu.

Ela também provava máscaras. Vestiu uma de nariz grande e muitas rugas.

— Guarda, sono una strega!

Não sei o que é strega, mas ela se encurvou, mudou sua voz e andou com dificuldade. Uma bruxa, com certeza.

— Você não é uma bruxa. — Tirei sua máscara e ofereci outra, de feições delicadas.

— Non sono Colombina. — Ela parou, parecia confusa. — Non so cosa siamo.

Mal tive tempo de pensar que tampouco sabia o que nós éramos, aliás, eu tinha acabado de perceber que havia um “nós”, que existia esta entidade “nós”, e ela me beijou, não um beijo rápido, furtivo, como costumam ser o beijos roubados, mas sim, um beijo intenso, que me fez bendizer por cinco gerações o pickpocket que levou embora os cem euros. Nunca imaginei que fosse ficar feliz em perder dinheiro, mas lá estava eu, em uma lojinha escondida em Veneza, sentindo-me como um adolescente e achando que cem euros era pouco, muito pouco, uma mixaria.

Giulia me olhou, eufórica e saiu correndo da loja, ainda segurando a máscara de Colombina. A dona da loja fez menção de se levantar e eu atirei sobre o balcão uma nota, nem vi qual, antes de sair correndo atrás de Giulia. A dona deve ter achado o suficiente pois não veio atrás de nós, nem chamou a polícia. Alcancei Giulia, rindo, peguei sua mão e a segui. Era tudo o que eu queria fazer. Seguir Giulia para onde ela quisesse me levar.

E ela me levou de volta para o hotel.

Subimos para o meu quarto e, ao entrar, nos entreolhamos por alguns segundos, crianças prestes a apertar a campainha da velha ranzinza e sair correndo, aquele estado de antecipação gelando a boca do estômago. E então, nós nos atracamos, nos entrelaçamos, não queríamos nenhum milímetro de distância entre nós. Nosso objetivo, se fôssemos pensar assim, não era livrarmo-nos de nossas roupas, ou ter prazer. Nosso objetivo não combinado era ficar juntos, tão próximos quanto fosse humanamente possível pelas leis da física.

Tal como ela me guiara pelas vielas e corredores de Veneza, deixei que me conduzisse também pelos cantinhos e vãos de seu corpo.

E, talvez fosse a fome, mas não lembro de ter tido noite melhor durante toda a vida. Pelo jeito, Giulia estava tão faminta quanto eu. Devoramo-nos com vontade e sofreguidão. Como ser infeliz em Veneza?

Quando acordei, já tarde, faltando poucas horas para o meu trem, vi que ela não estava mais lá. Coisa ridícula, me senti abandonado, um imenso vazio, um desespero tomando forma. Não trocamos telefone e eu nem sabia o sobrenome dela, como eu iria encontrá-la? E quem disse que ela queria ser encontrada? Olhei para a mesa de cabeceira, procurando por um bilhete, um cartão, qualquer coisa.

Encontrei minha carteira. Aberta. Dentro dela, uma nota de cem euros. A minha nota de cem euros, manchada de tinta de caneta. A seu lado, a foto em que eu aparecia abraçando Malu, que por sua vez, sorria para o fotógrafo, meu irmão. No espaço que a foto costumava ocupar na carteira, uma nova foto, a selfie que minha borseggiatrici tirou. Rasguei a foto de Malu em pedacinhos e corri a ver se, atrás da nova foto, teria um número de telefone.

Sobre Fabio Baptista

42 comentários em “Cem euros (Arlecchino)

  1. Luis Guilherme Banzi Florido
    9 de maio de 2024

    Bom dia, Arlecchino! Tudo bem?

    Diário de viagem (kkkkkk): tô nos EUA sem notebook e sem internet, então tô lendo e comentando os contos pelo celular. Então desculpe por prováveis erros de escrita e pela estrutura não tão organizada do conto. Porém, vou comentar com a mesma seriedade e parâmetros que vinha usando até então. Vamos lá!

    Um belo conto, muito bem ambientado, contado, mostrado, escrito e transcorrido. Foi uma leitura adorável que me deixou com um sorriso no rosto durante o tempo todo. Na verdade, o comecinho com o cara irritado pq foi roubado é um pouco inferior ao resto, eu tava até preocupado que não saísse daquilo. Mas eu percebi que tava errado quando Giulia entra na história e a coisa anda. A partir dali é só alegria. O conto ainda tem espaço pra um plot twist, que apesar de não ser nada extraordinário, é uma surpresa agradável e divertida. E pra fechar, um final aberto. Acho que tá todo mundo imaginar se ela deixou o celular. Acredito que não. Me parece q ela queria uma diversão, uma memória preciosa, e no fim também ajudou o cara a sair do fundo do poço.

    O enredo é bem contado, e os detalhes vão sendo revelados calmamente. Aos poucos vamos conhecendo o protagonista e seu passado, a traição da namorada com seu próprio irmão, o apego e a dor que ainda sentia, suas emoções, etc. Tudo isso leva muito bem até o ápice, que é o momento do “foda-se os 100 euros, os 100 euros são até pouco”. Ali, parece não se tratar de um desligamento dos 100 euros perdidos, e sim um rompimento com o passado, e os 100 euros na verdade ocultavam a verdadeira perda, que era a foto.

    Sua escrita é impressionante, tudo é claro e bem descrito, a leitura flui que é uma maravilha e a revisão tá impecável. Parabéns!

    Construção de personagens: 10,0

    Enredo: 10,0

    Desfecho: 10,0

    Ritmo: 10,0

    Técnica: 10,0.

    Nota final: adivinha hihihi

    Parabéns e boa sorte!

  2. claudiaangst
    2 de maio de 2024

    Oi, Arlecchino, tudo bem?
    Temos aqui uma comédia romântica? Talvez… O cenário é bem romântico: Veneza. Um conto que aborda os dois temas propostos pelo desafio: viagem e roubo. Que feito audacioso!
    O texto está bem escrito, quase sem falhas de revisão. Só encontrei a falta de um S em “o beijos roubados” e o esquecimento do hífen em mal-estar.
    Gostei da movimentação toda, dos pequenos detalhes da excursão por Veneza (ainda bem que não acabaram em uma gôndola, seria o cúmulo do clichê).
    O detalhe da nota manchada voltar à carteira do moço foi um toque delicado, mas sendo a moça uma ladra, acho que dificilmente isso aconteceria. Ou vai ver que ela não gostou de ter consigo dinheiro marcado. Mas ficou bonitinho como desfecho.
    Também gostei da cena das máscaras. Afinal, quem era quem, sob o disfarce do enamoramento?
    E que bom que o roubo serviu para dar fim a uma história de amor fracassada. Pra que guardar a foto de alguém que nos magoou tanto? Masoquismo? No final, Giulia devolveu o $, mas levou algo mais valioso – uma ladra profissional mesmo.
    Boa sorte!

    • Arlecchino
      2 de maio de 2024

      Ciao Claudia.

      Mateus já tinha passeado de gôndola no dia anterior e Giulia… GIulia, como eu, é uma veneziana da gema. Aliás, disseram que esta expressão pertence apenas aos cariocas, mas sou um palhaço rebelde. Um palhaço da gema.

      Ora, que falta de fé na Giulia. Até as ladras têm coração!

      Também acho um pouco de masoquismo manter uma foto tão cheia de recordações tristes. Mas a tristeza, às vezes, gosta de um reforço, não é?

      Grazie mille por sua leitura, por seu comentário!

      Arlecchino

  3. claudiaangst
    2 de maio de 2024

    Oi, Arlecchino, tudo bem?
    Temos aqui uma comédia romântica? Talvez… O cenário é bem romântico: Veneza. Um conto que aborda os dois temas propostos pelo desafio: viagem e roubo. Que feito audacioso!
    O texto está bem escrito, quase sem falhas de revisão. Só encontrei a falta de um S em “o beijos roubados” e o esquecimento do hífen em mal-estar.
    Gostei da movimentação toda, dos pequenos detalhes da excursão por Veneza (ainda bem que não acabaram em uma gôndola, seria o cúmulo do clichê).
    O detalhe da nota manchada voltar à carteira do moço foi um toque delicado, mas sendo a moça uma ladra, acho que dificilmente isso aconteceria. Ou vai ver que ela não gostou de ter consigo dinheiro marcado. Mas ficou bonitinho como desfecho.
    Também gostei da cena das máscaras. Afinal, quem era quem, sob o disfarce do enamoramento?
    E que bom que o roubo serviu para dar fim a uma história de amor fracassada. Pra que guardar a foto de alguém que nos magoou tanto? Masoquismo? No final, Giulia devolveu o $, mas levou algo mais valioso – uma ladra profissional mesmo.
    Boa sorte!

  4. Gustavo Castro Araujo
    30 de abril de 2024

    Buongiorno, Arlecchino. Existe um lugar na Sardenha onde se faz aquele que é considerado um dos mais deliciosos e também um dos mais raros espaguetes de toda a Itália, que atende pelo nome de su filindeu. Lido assim de forma rápida, pode até parecer um palavrão, rs, mas é esse mesmo o nome, que significa “os fios de deus”. Dizem que apenas três mulheres sabem fazê-lo, todas pertencentes à família Abraini, que e que a receita de tem sido passada em segredo, de geração a geração, há muito tempo. Dizem ainda que nem o chef Jamie Oliver, nem os engenheiros da Barilla foram capazes de desvendá-lo. Lembrei dessa história quando vi em seu conto a menção ao espaguete ao vôngole, que é maravilhoso, sim, mas que fica a uma distância respeitável do su filindeu.

    Bem, porque eu trouxe essa história aqui? É que seu conto, caro Arlecchino, é como o espaguete ao vôngole – delicioso, adorável e saboroso. Porém, não me restam dúvidas de que você é capaz de transformá-la em algo próximo do su filindeu.

    De fato, a trama que você concebeu possui aquela atmosfera cândida, capaz de produzir imagens ternas em nossas mentes, daquelas trabalhadas com um filtro dourado, como se o sol incidisse obliquamente sobre os personagens conferindo a eles traços oníricos, que despertam uma espécie de nostalgia, complementada pela torcida de que ambos acabem juntos. Só que, como todo (ou quase todo) romance de viagem, esse amor surgido ao acaso é fugaz, condenado que é a acabar na próxima estação ou – como é o caso – na próxima tentativa de golpe por parte da divertida Giulia.

    Sim, dava para perceber a ligação dela com o roubo do dinheiro e, para ser bem franco, fiquei imaginando que ela terminaria de roubar o ingênuo Mateus depois daquela noite no hotel. Mas, afortunadamente, você preferiu dar ao romance uma autenticidade à la Notting Hill ou Simplesmente Amor, com aquela leveza típica e impossível de desgostar, traduzida pelo arrependimento da garota em nome daquele dia e daquela noite memoráveis. Não era necessário, creio, marcar a nota de cem euros com tinta, já que a simples devolução da quantia já serviria para demonstrar o afeto dela por ele.

    Vou me alongando aqui, mas é que talvez você não saiba, mas sou perito em romances de viagem frustrados. Por isso posso dizer que seu conto está realmente muito bom, já que possui muitos dos traços e dos marcos pelos quais todo viajante, especialmente aqueles que já encararam a Europa de mochila, já passaram. A confiança (ingênua) nas habilidades em escapar de golpes, o deslumbramento com a arquitetura e a comida, o encanto com o novo e com os segredos mesmo dos lugares mais badalados, e, finalmente, com o feitiço que só um amor com prazo certo para acabar possui.

    Tudo isso está no seu texto, redondinho, tudo no seu devido lugar, escrito de forma competente, fiel e de maneira clara, isenta de erros. Delicioso, como já disse, como um espaguete ao vôngole.

    A ressalva, a minha ressalva, que é temperada com um quê de rabugice, reside no fato de que são evidentes as ferramentas, ou melhor, os ingredientes de que você dispunha, para tornar essa história ainda mais cativante. E o que é um tanto frustrante para mim, meu caro, é perceber que você, além de possuir os ingredientes, sabe, evidentemente, como usá-los. O que quero dizer é que, para além de Notting Hill ou Simplesmente Amor, você poderia ter produzido algo como “Antes do Amanhecer” – ou se é para ficar na comparação gastronômica, poderia ter produzido um su filindeu. Habilidade para tanto não te falta, isso é óbvio. Mas, por alguma razão – falta de tempo talvez – você preferiu a zona de conforto, aquele prato cuja elaboração lhe parece mais tranquila.

    Falo do alto de meu próprio egoísmo: queria que você tivesse ousado mais, me provocado, trazido à luz questões mais difíceis pelas quais os viajantes passam quando o fazem sozinhos: a vulnerabilidade, o estranhamento, o não-pertencimento, a saudade de casa. Em certa medida você fez isso, ao mencionar a ex-namorada do Mateus, mas, a meu ver não foi o bastante. Para transformar algo muito bom em algo excelente faltou um tantinho de bravura, como aquela que experimentamos ao chegar a Moscou em 1995 à noite, sem mapas, apenas com uma vaga ideia onde fica o albergue da juventude.

    Enfim, não quero que fique parecendo que não gostei do texto. Gostei muito, que fique claro. Foi uma leitura que me atraiu bastante e que me fez sorrir em diversos momentos, seja pelo lugar, seja pela história despretensiosamente adorável, seja pelos bons personagens. Mas não tenho dúvidas de que você, meu amigo, pode ir muito além disso.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

    • Arlecchino
      2 de maio de 2024

      Ciao Gustavo.

      Ah, este comentário… Se soubesse como me ajudou. Porque, de tudo que você disse, só discordo de uma coisa: que fossem evidentes as ferramentas para melhorar o conto. Para mim não eram, não. E não só este conto, mas minha escrita no geral. Sinto que estou num ponto em que deveria dar um salto qualitativo e não estou conseguindo. Talvez seja um pouco da falta de coragem, até porque esta é uma característica forte minha, mas é, principalmente, desconhecimento mesmo. Talvez, falta de repertório. Mas seu comentário me deu um norte.

      Vou assistir Antes do Amanhecer. Não conhecia. Mas o que você considera muito bom é somente este filme ou a trilogia toda?

      E, por fim, quando você diz que é perito em romances de viagem frustrados, espero que esteja se referindo apenas à ficção. Eu, Arlecchino, sou um romântico.

      Grazie mille, carissimo!

      Arlecchino

      • Gustavo Araujo
        3 de maio de 2024

        Então, caro ragazzo, concordo plenamente quanto à dificuldade de dar esse salto. Eu mesmo me vi refém de uma espécie de fórmula durante muito tempo. Ela agradava boa parte do pessoal por aqui e, claro, me deixava contente também. Mas eis que me vi enjoado dela. O que fazer, o que não fazer? Mudar? Arriscar? Quando a gente deixa um porto seguro a tempestade é inevitável e nem sempre a gente tem a maturidade necessária para prosseguir nesses novos caminhos.
        Acredito que você possui essa resiliência, além do talento óbvio, e que é válido experimentar outras vertentes, seja na literatura, na gastronomia ou na geografia. Degustar um amok em Hanoi, apesar do calor infernal, pode ser tão prazeroso quanto um espaguete na primavera de Veneza. Atire-se, assim, sem mapa mesmo. O resultado, em todo caso, será memorável e no fim é isso o que importa.
        Quanto à trilogia do Linklater, todos são ótimos, já que se referem a diferentes períodos da vida dos personagens. Impossível não nos identificarmos com eles.
        Sorte para você.

  5. Givago Thimoti
    28 de abril de 2024

    CEM EUROS (ARLECCHINO)
    Bom dia, boa tarde, boa noite!
    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.
    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.
    Avaliação + Impressões iniciais
     “Cem euros” é um conto semelhante a uma comédia romântica. Para quem é fã do gênero, agrada muitíssimo o leitor. Para quem não é, pode perder um tanto o encanto. Como fã do gênero, ganhou pontos rs. 
    TÉCNICA (2,5/3)
    Acho que o grande trunfo do conto está no misto de uma técnica de escrita simples, mas apurada com uma história simples, acessível ao leitor. É um relato de brasileiro, paulistano da gema (aqui eu não vou negar não, não existe isso de paulistano da gema, cariocamente falando! Apenas cariocas são da gema!). Não é preciso grandes arroubos literários, com uma linguagem refinada. O simples funciona e funciona bem.
    Ainda assim, em alguns momentos, você autor deu uns deslizes no seu próprio jogo literário. Por exemplo, teve uma hora ali que o narrador me solta um macambúzio. Em outra, a combinação língua portuguesa e italiana, ela fala uma coisa e ele entende outra também dá uma travada e dificulta um pouco o entendimento do leitor.
    HISTÓRIA (2/3)
    Cem Euros conta a história de Mateus e Giullia. Mateus viaja por Veneza depois de um término traumático com sua ex, que o traiu com o próprio irmão de Mateus. Mateus é roubado, perde 100 euros, cópia do passaporte. Depois de algum tempo de lamento, Giullia aparece com a bendita carteira.
    É uma história leve, divertida, com alguns clichês típicos de comédia romântica. Eu vi um pouco do enredo de Simplesmente Amor (a portuguesa e o britânico que se apaixonam mesmo um não falando a língua do outro), um pouco de Meia Noite em Paris, de clima de deslumbre de turista com um país europeu, a paixonite por uma local.
    A história tem suas reviravoltas, como a revelação que a nova amante italiana era muito possivelmente a ladra que levou suas coisas.
    TEMA  (1/1)
    Adequado ao tema
    IMPACTO  (1,5/2)
    Como eu disse antes, gosto bastante de histórias românticas. Acho que o impacto só não foi tão grande por conta dessa profusão de histórias de filmes românticas.
    ORIGINALIDADE  (0,5/1)
    Cem Euros tem como seu calcanhar de Aquiles a originalidade. Alguns clichês, bem utilizados sim, mas que prejudicaram bastante nesse critério
    Nota: 7,5

    • Givago Domingues Thimoti
      28 de abril de 2024

      Caraca, flodei esse conto com um bando de comentários mds

      Enfim, faltou o trecho interessante:

      (“(…) E então, nós nos atracamos, nos entrelaçamos, não queríamos nenhum milímetro de distância entre nós. Nosso objetivo, se fôssemos pensar assim, não era livrarmo-nos de nossas roupas, ou ter prazer. Nosso objetivo não combinado era ficar juntos, tão próximos quanto fosse humanamente possível pelas leis da física.

      Tal como ela me guiara pelas vielas e corredores de Veneza, deixei que me conduzisse também pelos cantinhos e vãos de seu corpo.

      E, talvez fosse a fome, mas não lembro de ter tido noite melhor durante toda a vida. Pelo jeito, Giulia estava tão faminta quanto eu. Devoramo-nos com vontade e sofreguidão. Como ser infeliz em Veneza?”

      O que me chamou atenção nesse trecho específico é o erotismo aberto: tá claro o que aconteceu, mas você deixa para o leitor imaginar a baixaria que aconteceu rs. E o que era importante de você abordar você abordou, os sentimentos por trás. Parabéns!

      • Arlecchino
        29 de abril de 2024

        Ciao Givago.

        Sinto dizer, mas venezianamente falando, você está errado quanto a só existir “carioca da gema”. Segundo o dicionário Michaelis, ” Da gema: sem mistura ou adulteração; autêntico, genuíno, legítimo. ”

        Ou seja a gema não é monopólio carioca, merrmão. Existe paulistano da gema, soteropolitano da gema, curitibano da gema. Até veneziano da gema, como eu, Arlecchino, seu criado.

        Agradeço por sua leitura e seu comentário, embora sua avaliação me deixe um tanto confuso. Você descontou 0,5 ponto de tecnica pq achou que macambúzio não orna com o resto do texto. Tá. Depois, descontou 1,0 em história sem motivo nenhum, porque não apontou nenhuma falha. Depois, tirou 0,5 de impacto porque existem muitas história romanticas (e isso é um defeito do meu texto?!?! Não existem muitas histórias de terror? Não existem muitas histórias de fantasia? Sinceramente, não entendi). Depois tirou 0,5 de originalidade. Ok. Como já disse em outro comentário, eu, Arlecchino, não dou grandes importâncias à originalidade. Se importa para você, ok. Eu prefiro um espaguete ao vôngole bem feito do que uma originalíssima espuma de fígado de hiena manca abatida ao luar.

        De qualquer forma, fico felicíssimo, porque ganhar um 7,5 de você é como tirar um 10 de outro avaliador.

        Grazie mille, caríssimo!

        Arlecchino

    • Givago Domingues Thimoti
      29 de abril de 2024

      Oi, Arlecchino!

      Vim pra responder apenas dois pontos:

      1. Eu não sou ninguém para discordar do Dicionário Michaelis. Mas até mesmo o dicionário reconhece que algumas expressões populares extrapolam o significado real das palavras. O gema de carioca da gema é um sobrenome! Ele também tem apelidos como “carioca raix”, “cria”. Arlecchino, a verdade é que tem coisa que é tão típico que não adianta mudar.
      2. Agora, sob o meu critério de avaliação e as notas, que estão fazendo um bafafá. Você disse que eu desconto, mas a verdade é que eu atribuo. Ali na somatória, você tem a possibilidade de somar 10. Eu não considero que você começou com 10 e eu fui achando pelo em ovo para tirar. Então, por exemplo, no quesito história, que você disse que eu não critiquei e ainda assim descontei. Para mim, a história do seu conto foi um 2 de 3; não tem furo, é verdade. Está bem desenhadinha, sem furos? Sim, está. Mas é uma história que no meu íntimo tá para o 3? Não. Por que? Porque o 3 para mim é uma história muito boa, que traz consigo um traço muito marcante próprio daquela história e que, por mais possa ter outras histórias com semelhanças, essa história tem algo a mais, tem algo nela que faz ela ser ela. E aí, o que pode ser algo a mais? Não sei, não há uma fórmula para conquistar um leitor kakaka

      No mais, Arlecchino, eu espero que meus critérios não lhe causam mais incômodo. Infelizmente, se causarem, também não posso afirmar que mudarei, pelo menos pra esse desafio. Vou tentar ser mais claro daqui para frente.

      • Arlecchino
        30 de abril de 2024

        Caríssimo! Seus critérios não me causam incômodo, só deixaram este palhaço curioso. Veja bem: curioso. Estou intrigado, não macambúzio.

        Como leitor, você é livre para avaliar como quiser e atribuir a nota que quiser. Mas, veja só… enquanto lia seu comentário, pensei que bom, ele gostou! Porém, quando vi a nota…

        Mas entendi, acho. Você é um comentarista generoso com palavras.

        Novamente, grazie mille pela leitura e pelo comentário.

  6. Queli
    27 de abril de 2024

    Achei o texto rico, bem elaborado. O autor demonstra propriedade ao descrever as cenas. A tema é envolvente e o final é muito interessante, deixando o leitor com inúmeras possibilidades de interpretação

    escreveu dentro do tema (inclusive dos dois temas!).

    adorei a história!

  7. Queli
    23 de abril de 2024

    amei!!!! Fala que tinha um número no verso da foto, Please!!!! ❤️

    • Arlecchino
      24 de abril de 2024

      Ciao Queli.

      Ah, aí é a imaginação do leitor que manda. Mas, veja bem, por que Giulia deixaria a foto lá, não é? Eu acho que não tinha número de telefone, não. Acho que a Giulia deixaria um enigma e convidaria Mateus para uma caça ao tesouro. Que tal?

      Grazie mille pela sua leitura, caríssima!

      Arlecchino

  8. Thales Soares
    16 de abril de 2024

    Escrita:

    A escrita me pegou de jeito aqui. Achei bastante maluca, mas muito interessante! As descrições são todas muito ricas, como se o autor já tivesse viajado por esses lugares da Itália, e conseguiu mostrar muito bem ao leitor essa visão vívida desse ambiente de Veneza. Mesmo para mim, que não gosto de sair da minha cidade, e não coloco o pé para fora de casa, consegui me sentir como se eu estivesse ali, junto com os personagens (eu me esqueci do nome deles, porque eu li esse conto faz um tempinho e deixei para comentar depois… então vou chamar o personagem principal de Cara, e a garota vou chamar de Mina). Outra coisa muito legal que o autor fez foi essa lambança proposital de idiomas, que deixou a escrita ainda mais divertida. Confesso que quando eu comecei a ler este conto, já era tarde, e eu estava deitado na cama… então pensei “Vou ler mais um conto, tomara que tenha uma leitura bem truncada, pra meu cérebro se cansar e eu desligar na hora”. No entanto, fui surpreendido com uma leitura mega fluida e que me prendeu do início ao fim.

    Adequação ao Tema:

    Bom… disso aqui não tenho do que reclamar, né? Abordou os dois temas muito bem. Viagem, obviamente, pois o Cara brasileiro estava dando um passeio em Veneza. E Roubo, pois roubaram os Cem Euros dele, fato que deu título à história. A abordagem do tema foi simples e bastante eficaz. Há muitos contos que tentam ser mirabolantes para adentrar ao tema, tentando retratar um aspecto único da viagem ou do roubo, para ser diferentão… mas aqui o autor simplesmente pensou “Viagem? Hmm. Que tal uma viagem pra Itália?”, e “Roubo? Hmm. Por que não? Vamos colocar um roubo de carteira”. Mais simples, impossível. E isso é muito bom.

    Entretenimento:

    O conto é bastante dinâmico e mostra uma inusitada história de comédia romântica, tema que eu, particularmente, odeio! No entanto, o autor deste conto é tão foda, que fez mesmo eu, um cara que detesta esse gênero, gostar muito da história! Isso é mérito total para o autor. Se este conto possui todo esse nível de maestria na escrita, e ainda me fez gostar de algo que habitualmente eu não dou a mínima, então creio que o autor seja um dos mestres supremos do EC, ou pode ser que seja a Kelly, que também me provocou uma sensação parecida no desafio passado. Mas, voltando a falar sobre a história, a interação entre o Cara e a Mina é muito interessante, e mesmo eles não falando a mesma língua, ainda possuem uma química super da hora! A descrição vívida de Veneza como plano de fundo ajuda a tornar a relação deles ainda mais divertida. Achei engraçada a parte que revelou que o Cara era um cornão, e que ainda sentia algo especial pela ex dele. Mas ele se redimiu, pois no final ainda conseguiu dar uma transadinha com a Mina. Aliás, sobre o final… não entendi muito bem. Como a nota manchada dele apareceu de volta na carteira? A Mina tinha achado a nota desde o início, mas decidiu roubar ele também, e então ficou com peso na consciência porque o cara transou bem, e resolveu devolver? Achei legal o final ficar em aberto. Mas eu sei o que aconteceu, mesmo não estando escrito. Não tinha telefone. A Mina só queria uma noite de sexo sem compromisso, e nada mais fácil do que ter isso com um estrangeiro, que nunca mais vai ter chance de encontrar por aí. Já sai com garotas assim, não de outro país, mas de outra cidade.

    Conclusão:

    PONTOS POSITIVOS:

    – Escrita incrível, fluida e que prende o leitor, criando uma boa linha narrativa.

    – Habilidade monstruosa do autor em fazer eu gostar de coisas que não gosto.

    – Ambientação sensacional de Veneza, que faz o leitor sentir essa viagem.

    – Abordou os dois temas do desafio, de forma simples mas muito eficaz.

    PONTOS NEGATIVOS:

    – Excesso de pronomes “eu” e “ela” em algumas frases.

    – Poderia ter descrito mais a Giulia. Fiquei sem saber se ela era uma italiana bem formosa.

    • Arlecchino
      17 de abril de 2024

      Ciao Thales.

      Li seu comentário no final do dia e fui dormir feliz. Uma sensação de missão cumprida: fazer um não apreciador de romances gostar de um romance. Dormi e sonhei doces sonhos de dominação mundial.

      Quanto à autoria deste continho, ora essa, é minha!

      Sim, conheço Veneza. Aliás,o que digo? Nasci em Veneza, sou Arlecchino. E posso dizer que esta cidade é belissima. Se algum dia você se animar a sair de sua cidade, sugiro fortemente que conheça a minha. Perca-se pelas vielas e canais, encontre sua Giulia.

      Aliás, não descrevi Giulia. Não gosto de descrições físicas e só as faço se for muito necessário. Mas as referências a Audrey Hepburn não foram gratuitas. Dá uma olhada em A Princesa e o Plebeu e Breakfast at Tiffanys.

      Sobre o final, o próprio Mateus, ao falar da selfie, explica como os cem euros voltaram para a carteira dele.

      E, finalmente: “Já sai com garotas assim, não de outro país, mas de outra cidade.” – danadinho!!!!

      Grazie mille, carissimo! Seu comentário fez este palhaço muito feliz!

      Arlecchino

  9. Vladimir Ferrari
    15 de abril de 2024

    Delicioso de se ler até nas repetições. Concordo que é impossível não ser feliz numa estória assim. Soa clichê? Sim. Toda narrativa de amor é clichê e danem-se os críticos, ora bolas. Apesar do requinte em usar o italiano e o inglês, isso passa despercebido por conta do modo como a narrativa envolve o leitor.
    Para não dizer que está perfeito, destaco dois pontos que em nada interferem na avaliação final: O parágrafo que começa com “Não falo italiano” e termina com “superpoder” é supérfluo. Mas é um supérfluo bem encaixado e não digressivo. O segundo ponto, seria Malu. Há um subtexto sugerindo, se não estou errado, a importância da ex na decisão de visitar Veneza. Há frases aqui e ali falando do romance que perfuma as imagens (se bem que dizem alguns, que o perfume da cidade não seja mais tão “interessante” assim. E cá estou pecando e fugindo do comentário). Voltando a Malu, senti um certo “senão” no fato de ser “apenas” ex-namorada. Uma traição em duas ou três frases, citada no princípio, em meio ao “remoer sensações” cairia bem, e na minha opinião, imprimiria ainda mais verossimilhança.
    Mas isso não atrapalha em nada um belíssimo conto. Sucesso para o autor/autora.

    • Arlecchino
      17 de abril de 2024

      Ciao Vladimir.

      Fico felicíssimo que tenha gostado de minha história. É bem isso mesmo: toda história de amor é clichê e ainda assim, em toda história que se preze tem que ter amor. Love is all around us.

      Quanto aos idiomas diferentes, eu quis trazê-los por uma questão de verossimilhança, afinal, estamos em Veneza e, como disse em outro comentário abaixo, porque eu queria trazer um efeito semelhante ao que encontrei no filme Simplesmente Amor, no relacionamento entre Jamie e Aurelia. Fiquei preocupado em tornar os diálogos compreensíveis sem sacrificar a fluidez.

      Não falei mesmo muito sobre Malu. Quis deixá-la pairando na história como um fantasma. Na minha cabeça ela era só ex-namorada sim. O que doía para Mateus era ter sido traído com o próprio irmão.

      Sobre os aromas de Veneza, é estranho. Todos reclamam. Mas estive lá no ápice do verão e, portanto, da lotação, em um verão marcado por ondas intoleráveis de calor e não senti o tão comentado cheiro ruim. Para mim, Veneza sempre terá cheiro de romance.

      Grazie mille por seu comentário.

      Arlecchino

  10. Emanuel Maurin
    12 de abril de 2024

    Um cara, arisco no Brasil com assaltos, é furtado em outro país. Em Veneza conhceu uma mulher, juntos vão passear na cidade. Depois o casal volta ao hotel e passa a noite junto. No outro dia, ele acorda sozinho, encontra a grana roubada e uma foto dos dois que substitui a da antiga namorada. Não tem nem o que falar do conto, porque é bom, bem escrito e o autor deve entender muito de literatura, porque o estilo é original.

    • Arlecchino
      15 de abril de 2024

      Ciao Emanuel.

      Caríssimo, grazie mille pelo seu comentário. Fico feliz que tenha gostado, pois sei que é muito exigente. Sua fama o precede.

      Fico pensando que talvez o tema desta história, romântica, não fosse muito de seu agrado. Mas, vejo que ao menos a forma o agradou.

      Quanto a eu entender muito de literatura, infelizmente não é verdade. Eu, Arlecchino, só venho observando as histórias que se passam diante de meus olhos nas vielas de Veneza e prestando muita atenção aos comentários dos colegas entrecontistas.

      Arlecchino

      • Emanuel Maurin
        1 de maio de 2024

        Oi Tales, eu gosto de histórias boca suja, que tem palavrões e tal, por isso que vc deve ter achado que não gosto de romances.

      • Emanuel Maurin
        1 de maio de 2024

        Ah, desculpe, me confundi é Arlecchino. Perdão

      • Thales Soares
        1 de maio de 2024

        Emanuel, você tá confundindo o Arlecchino comigo? Che onore! Será que se eu vestisse uma máscara eu ficaria elegante e sagaz como o autor deste conto?

      • Emanuel Maurin
        2 de maio de 2024

        Thales, bom dia. Já acordei rindo. Desculpa.

  11. Mauro Dillmannn
    12 de abril de 2024

    Texto bem escrito, tem pleno domínio da língua.

    Mas hermético em algumas opções, como o uso do inglês e italiano ou de algumas palavras e expressões não tão usuais, como ‘macambúzio’ ou ‘quedei quieto’.

    O narrador traz explicações à sua própria narrativa (não sei o nome desse recurso), como nesses casos:

     “O que estava na carteira era uma nota de cem euros, manchada da tinta que vazou de uma caneta e que eu pretendia trocar, e a foto. Cem euros são cem euros, manchados ou não”. O “Cem euros são cem euros…” parece que sobra no texto, um excesso, uma explicação desnecessária.

     “e não quis arriscar fazer um pedido tardio a um cozinheiro mal humorado. Nunca é bom irritar quem faz a sua comida.”. O “nunca é bom…” é uma explicação que soa desnecessária, porque, me parece, limita a imaginação do leitor ou deixa pouca margem porque ‘explica’ aquilo que narra.

    “O mal estar pelo roubo passara. Como ser infeliz em Veneza?”. O “como ser infeliz…” também parece uma explicação. É usado mais de uma vez. E a frase parece clichê.

    Entendo que o autor/a quis utilizar um narrador que promovesse uma ‘conversa’ com o leitor. É um texto para ler lido em voz alta.

    Tem um tom romanesco.

    A leitura flui muito bem.

    Parabéns!  

    • Arlecchino
      15 de abril de 2024

      Ciao Mauro!

      Ora, mas como falar de uma pessoa que vai a outro país, um turista, sem mencionar nada em inglês ou na língua local? Faria sentido? Seria verossímil? O tal turista só fala com brasileiros? Os venezianos, magicamente, falam em português? Seria uma boa ideia enfiar um peixe de Babel no ouvido dos leitores e perder 20 pontos de ambientação? Ora, o leitor não precisa disso, especialmente o leitor do Entrecontos. Pois preferi adotar uma ideia, roubar mesmo, se você preferir, de um de meus filmes favoritos: Simplesmente Amor. O que fazer, sou um palhaço e também um romântico incorrigível. Pois neste filme sublime, um escritor inglês se apaixona pela arrumadeira portuguesa e eles se comunicam em diálogos desencontrados e comoventes e se apaixonam. Quis emular algo parecido.

      Quanto às explicações serem excessivas… bem, acredito no valor dos excessos. Sem excessos, contendo apenas o imprescindível para a narrativa, todas as histórias seriam iguais. Rapaz conhece moça e ela vai embora.

      E é isso mesmo que você disse: quis promover uma conversa com o leitor, trazê-lo para perto.

      No fim, acho que você gostou. Não sei se “hermético” é algo bom ou ruim para você. Idem romanesco. Parece que romanesco é uma espécie de brócolis em espiral, uma expressão da espiral de Fibonacci e da proporção áurea. Bela, portanto.

      Grazie por sua leitura e comentário!

      Arlecchino

  12. Priscila Pereira
    11 de abril de 2024

    Ciao, Arlecchino! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Gostei bastante do conto, que está muito bem escrito, tão visual e tão fluído que parece que acabei de assistir um filme!

    Torci o nariz pras primeiras falas estrangeiras, mas a medida que fui entendendo tudo sem precisar de uma pesquisa achei que deu um charme a mais para o conto.

    O enredo é bem estilo sessão da tarde (no bom sentido), viagem (talvez para esquecer um antigo amor), um roubo (pra começar já com uma ação bem feita), um romance inesperado e ardente (pq sempre tem que ter, né?) E um plot no final (que não funcionou comigo). O diferencial de tudo isso é que você soube fazer muito bem feito!

    Quando o romance estava esquentando eu imaginei ” seria muito legal de ela fosse a ladra!” mas aí quando veio o plot eu fiquei chateada de ter “acertado” o final, queria ter sido surpreendida, mas eu sempre descubro os finais de filmes e séries, então… 🤷🏻‍♀️

    Bem, Arlecchino, como já disse, gostei bastante do seu conto! A escrita está realmente deliciosa, parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

    • Arlecchino
      11 de abril de 2024

      Ciao Priscila.

      É claro que você não precisa de pesquisa para entender outras línguas. Você é lusófona, tem o tal superpoder que eu mencionei. Pode até, talvez, não saber falar outras línguas latinas, mas entende. Não é?

      E quanto ao inglês… foi só um pouquinho, uma pitadinha, aquilo que todo o turista arrisca, até tia Cecília, aquela que fala em português bem devagar e jura que o taxista alemão entendeu direitinho.

      E quanto ao plot não ter funcionado com você, metade da culpa é sua, que sabe construir tramas muito bem e já vai na expectativa. Ai de mim se não tivesse botado esse plot. Você ia ficar com a sensação de que estava faltando algo, um salzinho. E ia estar faltando mesmo. E metade da culpa é minha, que botei umas sugestões. Como a polaroid que ela sacou da bolsa e não parecia saber usar direito.

      Que bom que você gostou e que saboreou a escrita.

      Grazie mille!

      Arlecchino

  13. Marco Saraiva
    10 de abril de 2024

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    ——————————–

    Avaliação

    Cara, que conto gostoso de ler. E ainda termina com uma nota leve! Eu tinha certeza que ele ia acordar sem dinheiro. Quando Giulia apareceu, eu pensei “ta na cara que eh ela a tal da pickpocket, e ela so quer ir ate a fonte ver se acha mais dinheiro para roubar”. E entao, surpresa! Seguiu-se um conto leve, atravessando as ruas de viena, navegando a paixao lendaria que a cidade inspira nos coracoes das pessoas. Ferreira eh um homem bobao, facilmente manipulavel, mas tem personalidade o suficiente para nao ser raso e despertar uma certa empatia no leitor. Giulia eh magica, a definicao do arquetipo da mulher misteriosa e sedutora, serelepe, que nao parece ter preocupacao nenhuma com a vida. Um belo casal!
    De certa forma, este conto eh ate mesmo um conto de suspense! Eu estava pensando durante toda a leitura: “quando esse cara vai se ferrar de novo?”. E parece que o(a) autor(a) sabia disso, por que postergou a revelacao para o ultimo paragrafo. Gostei demais!

    PS: a nota inicial descrevendo o orgulho brasileiro eh bem real. Eu moro no exterior e sempre que meus amigos gringos falam de alguma situacao que passaram, eu penso “nao viram nada, eu vim do RJ, vividao, ouvindo tiroteiro de noite todo dia. Voces aqui sao tudo leite com pera”. Inclusive, quando a atendente do hotel coloca a culpa no Ferreira por ele ter uma mochila “chamativa demais”, eu fiquei revoltado, justamente por ser uma situacao tao corriqueira! “Roubaram o meu celular”. “Mas tambem, deu mole, estava usando o celular na rua sem prestar atencao”. Sempre odiei esse pensamento, e voce o adicionou no conto em uma situacao bem veridica.

    TÉCNICA ●●● (3/3)
    O conto eh muito bem escrito, sem imperfeicoes. Os personagens todos tem personalidade, os dialogos sao bem feitos, e ate mesmo o uso de tres linguas diferentes nao atrapalhou, soou natural, e ajudou a construir um pouco mais os personagens.

    HISTÓRIA ●●◌ (2/3)
    A historia eh simples. Acho que o conto se destaca mais pela execucao e pelos personagens do que pela historia em si.

    TEMA ●● (2/2)
    Imaginei que muitos tentariam usar os dois temas do desafio no conto, e voce fez isso com louvor!

    IMPACTO ● (1/1)
    O conto me prendeu do inicio ao fim, por que eu queria muito saber o que ia acontecer com Ferreira. No ultimo paragrafo tive uma surpresa muito agradavel.

    ORIGINALIDADE ◒ (0.5/1)
    Como falei na sessao de “historia”, nao eh exatamente um enredo revolucionario, mas eh muito bem aproveitado, e tem muito da voz propria do(a) escritor(a).

    Trecho inspirado

    “— Sou velho. E egoísta também. — A imagem de Malu voltou a me assombrar, mas desta vez, de um lugar distante, como se a voz dela mal pudesse me alcançar.

    Giulia riu, como se eu tivesse dito algo muito absurdo. Malu desapareceu.”

    Gostei muito deste trecho por que ele exemplifica bem o drama de Ferreira. Primeiro ele se sente culpado por estar se envolvendo com uma nova mulher. Entao, a paixao o engole e a culpa vai embora, junto com um passado que ele lutou para esquecer. Foi um trecho simples, mas que gerou uma imagem muito bela na minha mente.

    • Arlecchino
      11 de abril de 2024

      Ciao Marco.

      O problema não é a falta de acentos. O problema é você ter chamado a minha belissima Veneza de Viena. Ah sim, Viena também é bela e cheia de mistérios. Mas Veneza… Viena é a moça rica, linda, aristocrática e impecável. Veneza é a moça misteriosa, apaixonante, boêmia e imprevisível.

      Ora, ora… que coração cínico! Já foi logo imaginando o pior da Giulia. E se ela tivesse visto a foto, ficado intrigada com o que viu e curiosa sobre o dono da carteira? Estou brincando. Não é o seu coração que é cínico. São os tempos em que vivemos. Ou talvez fosse melhor dizer que é o mundo em que vivemos, mundo este que foi engedrado por tempos passados. Mas, enfim.

      Sobre a simplicidade da história e a falta de originalidade, você mesmo pontuou bem: o foco está na execução, nos personagens e no prazer da leitura. O que faz um bom prato, ao menos para mim, Arlecchino, não são mirabolâncias inventivas, como culinária molecular, espumas de manjericão, esferas de trufas, misturas bizarras, desconstruções. Nada disso. O que faz um bom prato são bons ingredientes, verdadeiros, frescos e de qualidade, preparados com cuidado e amor.

      Penso neste meu continho como um bom e simples espaguete ao vôngole. É só vôngole fresco, cozido num bom vinho branco, acrescido de um pouco de azeite. Junta-se o espaguete, cozido al dente, uma colherada de manteiga, um pouco da água do cozimento. Mexe-se bem e aprecia-se bebendo o resto do vinho. Original? Não. Sofisticado? De jeito nenhum. Mas delicioso.

      Fico feliz que tenha gostado e me surpreendeu sua escolha de trecho inspirado. Não que eu não goste do trecho, mas não imaginei que ele fosse especial. Enganei-me, pois ele representou algo para você, o que muito me alegra.

      Grazie, carissimo. Grazie mille pela sua leitura e pelo seu comentário.

      Arlecchino

  14. Antonio Stegues Batista
    9 de abril de 2024

    O conto lembra comédias francesas incluindo balcões e cafés, embora seja ambientada na Itália, também lembrada pelas comédias românticas, bailes de máscaras, os famigerados adolescentes batedores de carteiras, além dos mal encarados ladrões de bicicletas. Posso estar exagerando na viagem rsrs. A peregrinação em busca de um Café, curiosamente passam por dentro de um. Com certeza esse não tinha balcão.

    Achei que a narrativa tem belas frases clichês; verniz social- olhos de corça-como ser feliz em Veneza, etc.

    O inglês é uma língua universal, seja qual for o país que você vá, com certeza encontrará alguém que fala inglês.

    Então, um conto bem escrito, a história de alguém que encontra uma jovem durante a viagem, os dois tem uma noite de amor, de manhã ela some, Fica a dúvida, tem ou não tem o número telefone dela no cartão? O leitor conclui como quiser. Muito bom. 

    • Arlecchino
      11 de abril de 2024

      Ciao Antonio.

      Commedia francese? Francese??? Ma che, francese? Ah, carissimo!

      Na bela Veneza, vivendo um amor misterioso, apreciando uma boa pasta com um bom vinho ITALIANO. Esta é uma comédia italiana, italianissima! Francese, bah!

      Sobre o café, Mateus pergunta por um bom café e Giulia, como veneziana que se preze, sabe que o melhor é o Florian. Só que o Florian está sempre cheio de turistas. Então, ela o levou àquela cafeteria secreta, frequentada apenas por locais e cujo nome não revelarei. O café por onde eles passam serve somente como passagem mesmo porque o café é ruim. A única coisa autenticamente veneziana naquele café é a grosseria dos garçons.

      O inglês… o inglês é uma língua conveniente. Mas não é a melhor para se falar de amor.

      Quanto ao telefone, vamos torcer para que tenha, não é? Se bem que, sendo Giulia, é bem provável que tenha um convite para uma caça ao tesouro.

      Fico feliz que tenha gostado.

      Grazie mille.

      Arlecchino.

  15. Kelly Hatanaka
    8 de abril de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Conto dentro do tema, aliás, dos dois temas, e bem dentro. Vou dar 2 aqui…. kkkkk

    Escrita
    Muito boa, sem erros aparentes e sem grandes floreios. Direta.

    Enredo
    História interessante, tem aquela cara de comédia romântica e achei as referências à Audrey Hepburn e Gregory Peck bem pertinentes. Deu vontade de viajar, de voltar à Veneza, de comer espaguete com vôngole… Imersiva.

    Impacto
    Gostei muito! É uma história simples, com um toque otimista e um tanto saudosista. Não sei se é a vibe Veneza, mas senti aí um ar nostálgico. Um conto gostoso de ler.
    Parabéns e boa sorte!

    • Arlecchino
      9 de abril de 2024

      Ciao Kelly.

      Então, andiamo, vamos a Veneza, degustar um espaguete com vôngole, um sarde en saor, um fegato alla veneziana!

      Eu pago, até porque acho que você vai me dar nota 11…

      Grazie mille.

      Arlecchino

  16. Sidney Muniz
    7 de abril de 2024

    Cara: Quanto vale o Euro hoje? Tem que multiplicar a porra da nota? Fazer conversão?

    Coroa: O título só deve ser avaliado depois que se lê o conto, cara!

    Cara: Tá certo, mas eu li dois parágrafos e quero dar 10 pela escrita! Esse autor(a) é bom!

    Coroa: Calma! Mal começou! Quando não caga na entrada, peida na saída.

    Cara: Verdade, na maioria das vezes é assim, vamos continuar lendo.

    Coroa: Conto fdp da puta esse. Li e quero mais!

    Cara: Rapaz, esse conto é bom mesmo, =poucas vexes lemos algo tão bem feito assim.

    Coroa: Não vai reclamar?

    Cara: Como reclamar? Conto na medida. O anterior, nem falei disso, mas tinha palavras que saiam do fluxo do texto, um vocabulário maios refinado, tal como palavras procuradas na lista de sinônimos para deixar o texto mais rebuscado, algo assim. Mas aqui, aqui não, aqui está tudo perfeito. Um texto nota 10.

    Coroa: .Calma lá: Vai dar 10 para o segundo texto que está lendo?

    Cara: Isso é o EntreContos, Coroa. não é qualquer desafio.

    Coroa: Ainda assim. precisamos ter calma. Sugiro nota 9.

    Cara: Ahh, o que fazer. Você é mais velho. Vamos esperar, mas esse conto está perfeito. Língua pátria, coesão, coerência, enredo, personagens, cenas visuais incríveis!

    Coroa: Concordo! Narrativa linear, perfeita!

    Cara/Coroa: Aguardaremos para dar a nota final!

    • Arlecchino
      9 de abril de 2024

      Ciao Cara, Coroa e Sidney!

      Que bom que vocês três gostaram de minha história, e olha que minhas narrativas quase nunca são lineares. Coisa de Arlecchinos: nós, palhaços, não somos lineares…

      E, vamos lá, Cara, não deixe o Coroa te influenciar. Mostra quem manda e me dá dez!

      E, realmente, gostaria de saber quem está dando dedão pra baixo para vocês. O meu está para cima, com certeza.

      Grazie mille pela leitura e pelo comentário!

      Arlecchino

  17. Regina Ruth Rincon Caires
    6 de abril de 2024

    Começar o sábado lendo uma maravilha dessa não é pra qualquer um. Somos privilegiados e esse grupo é fenomenal.  Vai escrever bem lá em Veneza! Não sei se foi por acaso a ambientação, mas Veneza é a terra de Casanova.

    Arlecchino, vou repetir: o Entrecontos me faz estudar, pesquisar, aprender. Li seu texto com uma folha ao lado, anotando o que eu não conseguia compreender de cara, feito dicionário. E não perdeu o encanto. Quando vocês entraram na lojinha de fantasias, além de (eu) criar a imagem da situação curiosa onde a dona da loja, com os óculos na ponta do nariz, continuou a leitura, fui aprender um pouquinho sobre a história das máscaras da commedia dell´arte (sobre personagens e sobre as fisionomias alegres ou tristes).

    Aliás, eu tenho lido sobre um hábito (acho que entre os italianos) de avisar as pessoas, quando estão em ruas movimentadas, sobre ”borseggiatrici/pickpocket” na área. Costume muito interessante e profícuo.

    Achei “tristemente” divertido a descrição do sentimento que o personagem desabafa quando pensa na conversão dos euros em reais! É “dolorido” no bolso. E gostei do paralelo entre a mochila e o ladrão (troppo vistosa – troppo safado).

    Engraçado! Eu também sinto constrangimento em recompensar alguém com dinheiro. Nunca havia pensado nisso como “gesto vulgar”, mas não me ajeito com o ato.

    Agora, quando aparece a menção a Gregory Peck e Audrey Hepburn no filme A Princesa e o Plebeu, bah! É uma viagem para esta “experiente” leitora.   

    Arlecchino, o texto traz a aura de um romance “de verão”, ambientado na apaixonante Veneza, o que mostra a competência que você tem em construir um conto que, de imediato, cativa o leitor. A linguagem é perfeita, e texto escrito em primeira pessoa exercita a empatia, aproxima, o leitor se encaixa rapidamente, participa da história.

    Lindo, leve e solto quando, quase no desfecho, o amor é contado. Expressivo, poético, intenso, envolvente.  Adorei a maneira de descrever a importância do encontro naquele momento em que os dois estavam tão fragilizados: “Nosso objetivo não combinado era ficar juntos, tão próximos quanto fosse humanamente possível pelas leis da física”. Subjetivamente, sensacional!

    Nem observei se há deslizes no texto. Se faltou alguma vírgula, se sobrou vírgula, se faltou hífen… Bah!

    E o desfecho, nem preciso dizer. Surpreendente, certeiro. Em nenhum momento da leitura pensei que Giulia seria a batedora de carteira.

    Parabéns pelo trabalho, Arlecchino! Seu texto foi um presente neste sábado.

    Boa sorte no desafio!

    Abraço…

    • Arlecchino
      6 de abril de 2024

      Ciao Regina,

      Eu, Arlecchino, fiquei felicíssimo com seu comentário, e mais feliz ainda que tenha gostado de meu relato.

      Não vou mentir, escolhi a ambientação, não por Casanova, mas sim por causa de uma influenciadora digital que viralizou por perseguir pickpockets em Veneza. Ela fica atenta, e quando flagra o meliante em ação, grita, faz um estardalhaço, persegue a pessoa pelas ruas berrando “borseggiatricci”, “pickpocket”. Pensei nisso como o elemento “roubo” do tema. Mas, quando se pensa em Veneza, pensa-se com o coração. Como escapar de uma história de amor, mesmo que seja um amor de verão?

      E A Princesa e o Plebeu é um filme delicioso, não é? Sou fã de Audrey Hepburn, para mim, a própria definição de beleza e elegância.

      Grazie, pela sua leitura e pelo seu comentário.

      Grazie mille!

      Arlecchino

      • Regina Ruth Rincon Caires
        6 de abril de 2024

        Ah! Então é a influenciadora! Eu li sobre “berrar” quando um meliante era percebido na multidão, por isso mencionei o costume. Mais uma vez, parabéns!

  18. Angelo Rodrigues
    6 de abril de 2024

    Olá, Arlecchino, cara de sorte.
    Interessante observar que o primeiro e o segundo conto deste certame se passam na Itália. O primeiro nos campos de guerra e o segundo na maravilhosa Veneza. O horror e o alívio em dois textos. Muito legal participar de um certame que começa dessa forma.
    Um excelente conto. Muito bom de ler.
    Relativamente ao tema, interessante, o pequeno detalhe do roubo deu chance a uma história de “amor”, ainda que passageira. Poderia ter começado de outra forma, mas o roubo deu ao conjunto textual um caráter diferenciado para um encontro fortuito, incluindo a simbiose com os batedores de carteiras nacionais.
    O conto está muito bem escrito sob todos os aspectos, do gramatical ao estilo, aos arranjos dos personagens, e tem um sabor de crônica, que adoro. 
    As crônicas, de modo geral, têm o dom da realidade relatada. Tomara que seja esse o caso, Arlecchino!!
    Se conto, engenharia do pensamento, se crônica, relato vivido. Ambos, independentemente da realidade, ocupam um espaço sensível na literatura.
    A escolha da cidade onde o conto se passa é perfeita. Veneza é um lugar curioso, que brinca entre o perigo – já nem tanto – e o fausto, e tem como fundo o perfeito espaço romântico onde o conto se passa. Tudo bem ajustado.
    Uma abordagem curiosa do autor reside no fato de que ele procura por restaurantes e eles estão fechados. Essa foi uma das minhas grandes decepções na Itália, quando via que os restaurantes “fechavam para almoço”. Acho que nunca entendi isso, o tal rigor de horários
    Na fase final, imaginei que Giulia fosse, além de uma garota legal, também uma ladra, que de posse da carteira, procura por seu dono. Gostando dele, repõe o dinheiro na Wallet, tem com ele uma noite legal, e vai embora. Ou simplesmente ela realmente achou a carteira, ficou com o dinheiro e, arrependida, devolve o dinheiro após a noite e vai embora. Como saber?
    As abordagens do autor quando cita filmes que por lá se passam, o trânsito pelas muitas vielas labirínticas e as alusões à commedia dell´arte me trouxeram à lembrança um livro, talvez um dos que mais gosto de reler – por que já o fiz diversas vezes. Utz, de Bruce Chatwin, cujo enredo se passa exatamente sobre as pequenas porcelanas de Meissen que retratam os elementos da “commedia”, particularmente sobre o farsante Arlequim, que o protagonista tanto amava. Lindo de ler.
    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

    • Arlecchino
      6 de abril de 2024

      Ciao Angelo.

      Ah, Veneza. Ela tem mesmo esta mistura de perigo e beleza que você menciona. Eu nunca tinha pensado em definir assim, mas está certíssimo. E tem também aquela aura de mistério que envolve a cidade, mesmo quando ela está lotada de turistas.

      E já vi que você também já foi vítima dos horários rigorosos da Itália. Eu me senti de volta à infância: “se não almoçou na hora certa, agora só vai comer no jantar”. Felizmente, sempre teremos gelattos e cornetos a nos salvar do nosso descontrole de tempo, tão brasileiro.

      Anotei a indicação de Utz. Vou ler.

      Grazie mille, pela sua leitura e pelo seu comentário. Fico feliz que tenha gostado!

      Arlecchino

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Publicado em 6 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.