EntreContos

Detox Literário.

Fim da Viagem (Borboleta Azul)

O sol estava tão forte que chegava a cegar. Enquanto eu dirigia, naquela mistura de cansaço, cegueira e moleza, devido ao mormaço, a turma fazia algazarra no banco de trás. Só Thaís, ao meu lado, que estava séria, tão cansada quanto eu.

Olhei novamente o botão do ar condicionado com defeito. O palavrão ficou preso na garganta seca. Espiei pelo retrovisor interno. No banco de trás do sedan, Aline, Maria e Daniela cantavam, riam, e tagarelavam sem parar.

A nossa viagem de férias havia sido programada há meses. Então, como podem imaginar, prometia dias memoráveis. Eu só queria chegar logo, tomar um banho e descansar um pouco, porque esse início de viagem não estava sendo nada divertido.

A estrada, interminável, parecia balançar. Passei pela placa que avisava a distância para chegar no Hotel LuaMar. Apenas mais vinte quilômetros e eu estaria no paraíso, pensei sorrindo.

Abri o olhos devagar. A noite tinha deixado o quarto na penumbra. Pela janela aberta entrava um vento morno e a luz da lua cheia. Olhei em volta e percebi que estava sozinha no quarto.

Sentei na cama. Ainda usava a mesma roupa da viagem.

— Meu Deus! Dormi de roupa e sem tomar banho. Eu estava morta mesmo.

Abri o chuveiro. Um jato gelado quase me matou de susto. Dei um grito escandaloso. Regulei a temperatura.

Fechei o chuveiro e me sequei. Minha imagem no espelho mostrava um rosto pálido e cansado. Estava com olheiras profundas.

— Credo! Precisava descansar mesmo.

Procurei minha mala e não encontrei. Que estranho. Decidi vestir as mesmas roupas que eu estava vestindo, já que eram as únicas que eu tinha ali, e dar uma volta pelo hotel, para ver se encontrava minha turma.

No corredor, enquanto eu esperava o elevador, vi uma garotinha parada, me olhando. Arrepiei da cabeça aos pés. Ela vestia uma espécie de camisola branca e segurava uma boneca de pano que devia ter pertencido à avó dela.

Senti medo daquela aparição e virei para o painel, onde indicava que  o elevador ainda estava no quinto andar, descendo lentamente.

Olhei novamente para o corredor e a menina estava parada quase ao meu lado. Dei um pulo de susto. Ela sorriu. Perguntou meu nome.

— Raquel. Qual o se nome?

— Lara.

— Onde estão os seus pais?

— Meu pai é o gerente do hotel e minha mãe morreu quando eu nasci.

Que sinistro, pensei. Essa menina deve ter morrido junto com a mãe e não sabe.

— Morri não. Só a mamãe. Complicações no parto, segundo papai me contou.

— Você ouviu meu pensamento?

Perguntei, admirada. Ela riu da minha pergunta, fazendo eu me sentir idiota.

A porta do elevador abriu e entrei. Ela ficou parada.

— Você vai ficar ou vai descer também?

Ela entrou, calada. Enquanto descíamos, eu imaginei se alguma das minhas amigas acreditaria quando eu contasse que estava fazendo amizade com um fantasma.

— Você quer que eu pergunte ao papai se ele sabe onde estão suas amigas e sua mala?

Essa baixinha realmente ouvia meus pensamentos. Tinha que tomar cuidado.

— Sim, por favor!

O elevador parou no térreo, e eu achei que tinha entrado num filme de terror. Havia um casal com três crianças barulhentas, tentando fazer check-in. Um velho fumava cachimbo sentado numa das poltronas da recepção.

A recepcionista travava uma luta consigo mesma para não esmurrar um rapaz que falava mais alto que um locutor de rodeio. Enquanto o casal continuava tentando preencher a ficha de registro de hóspedes, uma das crianças se aproximou de nós.

— Você é estranha!

Que garoto mal educado, pensei. Só porque eu vestia a mesma roupa há dois dias não significava que eu era estranha. Os pais não educam mais os filhos, como antigamente. Percebi que Lara abaixou a cabeça.

— Por que está triste, Lara?

— Fico triste com pessoas que gostam de humilhar as outras. Só isso. Vou falar com meu papai. Volto logo. Espere aqui, na recepção.

Ela foi, saltitando. Fiquei por ali. O velho fumando cachimbo me encarava. Fui me aproximando dele. Sentei numa poltrona próxima. Que velho estranho, pensei. Ele continuava me encarando.

— Você parece perdida, jovem. Está com problemas?

— Não estou perdida, mas realmente estou com um problema. Não sei onde estão minhas amigas e perdi minha mala.

O velho levantou uma sobrancelha, demonstrando preocupação comigo.

— Você vai acabar descobrindo a verdade, querida.

Ele se levantou e saiu. Levantei também. Ele se virou e disse para eu não segui-lo. Eu nem tinha pensado nisso. Velho maluco.

Lara vinha vindo, cabeça baixa e olhos vermelhos.

— Perguntou para seu pai? Ele sabe da minha mala e das minhas amigas?

— Perguntei, mas ele não me ouviu. Ele nunca presta atenção em mim.

A menina começou a chorar. Fiquei sem saber o que fazer.

— Não fique assim, querida! Seu pai é um homem ocupado. Ele trabalha muito. Não é que ele não se importa com você, na verdade, ele te ama, mas o trabalho exige muito dele.

Pobre criança, não sabe que é um fantasma, pensei. Por que ela tinha que aparecer logo pra mim, devia aparecer para o pai dela.

— Venha, Lara. Vamos voltar para o quarto. Minhas amigas devem chegar logo.

O quarto estava completamente arrumado e sem a cama extra em que dormi. Que estranho. Ela perguntou se podia ligar a televisão.

— Claro que pode. Vou tentar encontrar meu celular.

Minha última esperança era achar o celular, para tentar falar com alguém vivo. Ri do pensamento e olhei para a minha nova amiga fantasma. Ela estava concentrada, assistindo o telejornal local.

De repente, uma noticia me chamou a atenção. Um grave acidente tinha ocorrido naquela manhã. Um repórter estava no local e transmitia as imagens da tragédia.

— Um sedan prata se chocou contra uma carreta, matando as cinco mulheres que ocupavam o veículo. A polícia acredita que a motorista tenha dormido ao volante, pois não há marcas de frenagem.

Sentei na cama, não conseguia respirar. Olhei para Lara.

— Eu sinto muito, Raquel. Você precisava saber a verdade. A morta aqui não sou eu.

Sobre Fabio Baptista

18 comentários em “Fim da Viagem (Borboleta Azul)

  1. Thiago Amaral
    12 de maio de 2024

    Oi, borboleta azul!

    A minha percepção do seu conto não é muito diferente das outras…

    Achei um conto bem escrito, bacana. Talvez a coisa mais curiosa e interessante seja a telepatia da menina, onde descobrimos que a narradora está pensando tudo que está escrito no texto hahahah

    Nesse tipo de história, normalmente já lemos esperando pelo plot twist. Tem alguma coisa com fantasmas que já faz o alerta ligar. Pela resolução “ela estava morta o tempo todo” já ter sido usada muitas vezes, o conto perde impacto.

    Assim, o conto é simples. Divertido sem ser inovador ou profundo. Se sua intenção era ser despretensiosa, está ótimo.

    Alguns errinhos de revisão atrapalham um pouco, então não esqueça de passar um pente fino da próxima!

    Valeu, até mais!

  2. Givago Thimoti
    10 de maio de 2024

    FIM DA VIAGEM

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    AVALIAÇÃO + IMPRESSÕES INICIAIS

    A sensação de que li um dos roteiros de Luz Acesa, um dos quadros do Não Inviabilize.

    Escrita rápida (até demais) e fluida. Faltou detalhes. Trabalhar um pouco mais o mistério dentro do conto.

    HISTÓRIA  (1,5/3)

             “Fim da Viagem” conta a história de Raquel, que acorda num hotel em um estado de amnésia. Meio que não sabia como parou lá. Assumiu que chegou cansada da viagem e foi logo dormir. As amigas não estavam por perto.

             Aí ela encontra uma garotinha, Lara, que meio que serve de uma mini guia para a Raquel. Ela visita o lobby do hotelzinho, tem um contato com o velhinho, é levada de novo para o quarto, local no qual tem a grande revelação: Raquel e as 4 amigas faleceram num acidente de carro.

             Eu definiria o conto como seguro: uma história simples e curta, que tenta dá uma disfarçada no que vai ocorrer (a soma do título com o início de uma motorista cansada que acorda desmemoriada no hotel meio que entregam de cara o que vai acontecer). Ainda assim, tem consigo um ar de relato cotidiano. Triste sim, mas um relato de férias que ouvimos todos os anos no noticiário.

             Acho que foi tudo muito breve, infelizmente. Faltou trabalhar um pouco mais a história, com mais paciência e cuidado. Talvez inserir mais detalhes, tanto da protagonista quanto das amigas ou da Lara, para que o leitor se sentisse mais impactado com o plot twist. E dar um disfarce no desfecho também.

    TÉCNICA  (1/3)

             Assim como a história, senti que a técnica também foi bem simples. Faltou aquele tempero, chamado também de lirismo. Um pouco mais de refino teria feito um bem danado nesse ponto.

             Também percebi uns deslizes gramaticais, que pareciam bem erros que escapam de revisão:

    ·       Raquel. Qual o se nome? (Seu)

    ·       Por que ela tinha que aparecer logo pra mim, devia aparecer para o pai dela. => Aqui devia ter uma interrogação

    ·       Uma noticia = faltou acento

    TEMA  (1 /1)

             Conto adequado ao tema proposto no desafio.

    IMPACTO  (1/2)

             O impacto foi bem mediano. A história meio que conduz o leitor para o desfecho, entregando a narrativa.

    ORIGINALIDADE  (0,5/1)

             Achei bem mediana também. Como eu disse anteriormente, é um conto seguro. Não arrisca muita coisa, ficando bem confortável ali na zona de conforto.

    Trecho interessante: De repente, uma noticia me chamou a atenção. Um grave acidente tinha ocorrido naquela manhã. Um repórter estava no local e transmitia as imagens da tragédia.

    — Um sedan prata se chocou contra uma carreta, matando as cinco mulheres que ocupavam o veículo. A polícia acredita que a motorista tenha dormido ao volante, pois não há marcas de frenagem.

    Sentei na cama, não conseguia respirar. (…)

    Nota: 5

  3. Marco Saraiva
    9 de maio de 2024

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    ——————————–

    Avaliação

    Um breve conto de terror onde aparentemente muitas pessoas podem ver fantasmas! (duas criancas e um senhor de idade… apesar de achar que talvez o senhor tambem seja um fantasma?). O final foi previsivel, especialmente apos tantas referencias a “morte” (“Apenas mais vinte quilômetros e eu estaria no paraíso”, “Eu estava morta mesmo”, “Essa menina deve ter morrido junto com a mãe e não sabe”). E, como o final era previsivel, todo o resto do conto perdeu um pouco do valor, ja que o corpo do conto deveria ter sido usado para gerar suspense e perguntas na mente do leitor.

    Ainda assim, achei um conto pensado e bem estruturado, com talvez o pecado de terminar cedo demais.

    PS: Nos dias de hoje fica um pouco inverossimil a personagem so pensar em pegar o celular depois de dar uma volta no hotel. A primeira coisa que qualquer pessoa faz ao acordar eh pegar o celular!

    TÉCNICA ●◌◌ (1/3)
    A escrita eh um tanto simploria, o que acaba tirando a imersao. Especialmente os trechos onde os pensamentos da protagonista sao narrados; eles mais parecem frases redundantes, meio obvias demais. Pensamentos como “Que sinistro, pensei”, “Que garoto mal educado, pensei”, “Pobre criança, não sabe que é um fantasma, pensei”. Eles nao adicionam na narrativa, apenas reafirmam algo que o leitor deveria pensar por conta da propria leitura.

    HISTÓRIA ●◒◌ (1.5/3)
    Uma historia honesta, mas previsivel, e breve demais. Talvez com mais palavras o conto pudesse gerar mais suspense e cativar mais o leitor.

    TEMA ●● (2/2)
    O tema “viagem” esta claro na narrativa.

    IMPACTO ◌ (0/1)
    Contos de misterio perdem completamente o impacto quando a grande reviravolta (neste caso, a la “sexto sentido”) pode ser facilmente deduzida logo no inicio.

    ORIGINALIDADE ◒ (0.5/1)
    Meio ponto na originalidade por que, apesar de ser uma historia cliche de fantasmas, achei interessante o fato de ela ter morrido na estrada, porem acordado no hotel. Ela tinha tanto desejo de chegar logo no hotel que o lugar acaba sendo assombado por seu fantasma, mesmo que ela nem tivesse chegado la ainda!

  4. Queli
    4 de maio de 2024

    Tema presente. Escrita clara, fluida, envolvente.

    Um conto gostoso de ler. A clássica história do morto que não sabe que morreu. A princípio, parece ser a menina, mas o autor dá algumas “dicas” ao longo do texto, possibilitando ao leitor entender que a morta era a protagonista.

    Aliás, as tais “dicas” quebram um pouco o clima sombrio, dando um pouco de humor ao texto.

    A mulher não percebe que está morta até ver a reportagem na televisão, dando a entender que ela ficaria presa àquele hotel.
    A menininha tinha o dom de ver espíritos, mas não só ela. Num primeiro momento, achei que a outra criança também via espíritos (chamou a fantasma de estranha), mas depois entendi que ele chamou a menininha, provavelmente por ver a coitada falando “sozinha”. Kkkkk

    Muito bom! O velho, esse não ficou claro se via espírito ou se ele era um também (fico com a segunda opção).

    Enfim, amei o texto. Muito bom! Parabéns! Boa sorte no desafio!

  5. Priscila Pereira
    3 de maio de 2024

    Olá, Borboleta Azul! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Raquel é o nome da minha filha 🥺 que tristeza… Mas eu consigo separar a ficção da realidade 😁

    Gostei do seu conto! Rápido, direto e bem escrito. Gostei do seu estilo. O começo é ótimo e prende a atenção do leitor. Mas assim que ela acorda no hotel o clima de estranhamento já entrega muita coisa… A primeira coisa que imaginei foi que ela tinha morrido e acabou sendo isso mesmo.

    Talvez se você mantivesse o clima mais leve até a revelação final, ou se já começasse com um tom de suspense o plot twist seria melhor aproveitado. Porque foram muitas dicas e depois deixou claro demais. Podia ter só insinuado que todo mundo entenderia.

    De qualquer forma achei um bom conto! Quero ler mais contos seus.

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  6. Amanda Gomez
    3 de maio de 2024

    Oláá, Bem?

    A minha primeira leitura desse conto foi preguiçosa, então eu não percebi que a morta era ela no primeiro momento, só depois do velho. rs Veja, o autor abusou do clichê , menininha com camisola branca de filme de terror que me apeguei a isso.

    Contudo, de cara me incomodei como a personagem que deveria estar viva reagindo de forma tão banal com a situação em si… todo o trajeto das duas juntas ela tem certeza que está falando com uma menina fantasma típica de filme de terror e acha isso a coisa mais normal do mundo. Tanto que a acompanha sem temer nada.

    Tem um clima de suspense agradável, a leitura é rápida, direta , gostosa de ler. O leitor espera por um desfecho com revelações. Ver pelo noticiário acho que ficou bem interessante. A cena do começo é boa também, criam expectativas. Me parece muito aqueles filmes de terror com jovens cabeça oca que vão se meter em apuros. Fiquei esperando por mortes e sangue.

    É um bom conto.

    Parabéns por estar no desafio, boa sorte.

  7. Regina Ruth Rincon Caires
    30 de abril de 2024

    Aqui acontece de modo diferente do ocorrido em “O Sexto Sentido, história em que o ator Haley Joel Osment, no papel de Cole Sear, via pessoas mortas, só ele as via. Aqui no conto, a pessoa morta vê pessoas vivas e fica receosa. E todas as pessoas vivas enxergam as pessoas mortas.

    A descrição da viagem leva o leitor para dentro do carro, não é? Juro que fiz muitas e muitas dessas viagens. Por vezes com o mesmo cansaço; saía do trabalho e, para aproveitar mais as férias, pegava estrada no mesmo dia. Mas nunca sem empolgação. As crianças faziam a maior festa no banco de trás, isso animava. E bate até o fato de ler as placas para saber a distância que ainda  faltava para chegar à nossa Colônia de Férias!  Graças, graças, graças, sem nenhum acidente! Hotel LuaMar é um nome bem atinente ao litoral paulista.

    A história prende a atenção do leitor, tem estrutura e tem linguagem simples. Alguns deslizes de escrita, mas não atrapalham a leitura, que segue fluente.

    O conto está totalmente dentro do tema indicado, texto criativo.

    Borboleta Azul, parabéns pelo trabalho!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

  8. Thales Soares
    29 de abril de 2024

    Escrita:

    Está ok. Nada que salte aos olhos, mas também nada que atrapalhe a leitura. A forma como a história é narrada, e o tamanho reduzido, contribuíram para uma fluidez da história. Os diálogos, apesar de simples, cumprem seu papel.

    Tema:

    Bom… viagem, né? O próprio título da história já diz. O tema foi contemplado de forma natural aqui, e se encaixou no desafio. Nada inovador, mas foi uma abordagem simples e eficaz.

    Enredo:

    Ixi… é aqui que entram todos os meus pontos negativos! A ideia do conto até que é bacana, daquela clássico em que a pessoa morreu e não percebeu. No entanto, a execução não contribuiu para que a ideia fosse bem desenvolvida, de forma a fazer com que no final, quando é revelado o plot twist, o leitor apenas pensa “Ah… já sabia”, matando boa parte da graça do conto. Isso se deve à falha da preparação do clima para que a revelação fosse feita de forma a despontar um climax para a história. Essa preparação simplesmente não existe pois tudo aqui é simples demais, e ocorre de forma muito breve. Acredito que se o autor tivesse utilizado melhor seu limite de 3500 palavras, seria possível desenvolver mais a personagem principal e preparar o terreno para realmente surpreender o leitor ao final.

    Nenhum personagem é desenvolvido aqui, e… por que há tantos personagens? E praticamente TODOS mulheres. Não que eu me incomode com o gênero dos personagens, até acho legal uma presença feminina tão marcante. Há contos neste desafio em que há uma verdadeira festa da salsicha, com um monte de cuecas e nenhuma calcinha. Este conto é curioso, por ser justamente o oposto. No entanto, o que me incomodou aqui é a falta de uso desse monte de personagem. Um monte de nomes são apresentados ao leitor, só para serem esquecidos logo em seguida.

    Há muitas pontas soltas na história. Uma das que mais me incomodou foi esta frase:

    “Que sinistro, pensei. Essa menina deve ter morrido junto com a mãe e não sabe.”

    COMO ASSIM?! O que a personagem viu que a fez chegar a essa conclusão? Por favor, mostre para o leitor também, pois eu li, reli, tentei olhar de novo… e nada! Não havia pista nenhuma que mostrasse que a garota era uma fantasma, e parece que a personagem principal tirou essa informação do nada. Foi algo tão aleatório que eu até achei que ela estivesse brincando… mas no decorrer da trama, foi mostrado que ela realmente acreditava que a garota fosse um fantasma. Outra incoerência narrativa é o fato de a garotinha fantasma ser uma….. telepata? Ok, mas por quê? Como? Esse poder que a torna quase um membro dos Xman não é aproveitado em momento nenhum da história, e ficou um pouco jogado.

    “Percebi que Lara abaixou a cabeça.

    — Por que está triste, Lara?

    — Fico triste com pessoas que gostam de humilhar as outras. Só isso. Vou falar com meu papai. Volto logo. Espere aqui, na recepção.

    Ela foi, saltitando.”

    Há muita informação em tão poucas linhas. A garotinha muda seu estado de humor umas três vezes na mesma fala, e ainda diz tudo emendado, de forma que o leitor não consegue nem processar as informações que ela está passando. Vamos lá… bom, primeiro Lara fica triste e abaixa a cabeça. Ok. Depois ela explica o motivo da tristeza. Ok. Mas na mesma fala, ela ainda diz que vai conversar com o pai, diz que já volta, e ainda passa uma ordem para a protagonista, dizendo para esperá-la… err… tá, mas ela não estava triste? Agora está concentrada e disposta a ajudar no problema? Me pareceu que uma coisa não tinha conexão com a outra para amontoar tudo na mesma fala. E ainda, logo em seguida, ela sai de cena… saltitando? Ela está feliz agora?

    “— Você vai acabar descobrindo a verdade, querida.”

    Essa frase do homem de cachimbo, ao meu ver, entregou mais do que devia. Nesse momento ficou evidente que Raquel estava morta. Talvez, se ele tivesse sido um pouco mais sutil e misterioso em sua fala, dizendo algo vago e aparentemente sem sentido, tivesse o efeito desejado. De qualquer forma, não dá nem tempo de criar-se um suspense, pois poucas linhas depois toda a verdade vem à tona. E é aqui que eu acho que o texto poderia ter cozinhado um pouco mais as ideias, e ter utilizado mais do limite de palavras para guiar o leitor ao longo da jornada de Raquel pelo pós vida, dando cada vez mais pistas, de forma sutil, e construindo o clima para a revelação final.

    “— Eu sinto muito, Raquel. Você precisava saber a verdade. A morta aqui não sou eu.”

    Aqui a garota me pareceu sair totalmente da personagem. Ela ficou o conto inteiro falando como uma criancinha, e de repente mostrou ser madura e empática, e ainda bolou um plano desnecessariamente complexo de lembrar que naquele horário passava o jornal, e pedir permissão para ligar a tv, como quem não quer nada, torcendo para que estivessem fazendo uma reportagem a respeito da morte de Raquel, para que ela visse e descobrisse tudo por si só. Tá, mas… não seria mais fácil, e condizente com uma personalidade infantil, simplesmente contar a ela a verdade a ela? A menina incorporou o Cebolinha no final da história, e do nada bolou um plano infalível para contar essa verdade…

    Conclusão:

    PONTOS POSITIVOS:

    -Texto curto e direto ao ponto.

    -Gostei do nome da garotinha, Lara.

    -Abordou o tema com uma ideia bacana…

    PONTOS NEGATIVOS:

    -… mas a ideia foi mal executada, pecando devido a uma narrativa muito acelerada e com poucos detalhes.

    -Muitas pontas soltas, como o fato de a menina ser telepata e isso não agregar em nada para a história.

    -Muitas personagens, mas nenhuma de fato é desenvolvida, nem mesmo a principal. Terminei a história sem conhecer quase nada da Raquel… só sei que ela morreu.

    • Bornoleta Azul
      29 de abril de 2024

      Obrigada!

  9. Kelly Hatanaka
    27 de abril de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Conto dentro do tema. Uma viagem entre amigas termina de forma inesperada.

    Escrita
    Correta, sem atropelos, sem erros que incomodem.

    Enredo
    Uma mulher dorme no volante e causa a própria morte e a de suas amigas. Estranhamente, só ela vai parar em um hotel, onde conversa com uma garotinha que consegue ver os mortos.

    Impacto
    Gostei da história, mas o impacto teria sido maior se não tivesse ficado tão na cara que Raquel estava morta. Sei lá, pra mim ficou. Aquele negócio de estar sozinha no quarto, sem as malas, de não lembrar como chegou lá, tudo isso entregou muito de bandeja. A minha única dúvida era se a garotinha também era um fantasma ou não. Ainda estou na dúvida, porque a proposta dela, de perguntar ao pai sobre as malas e as amigas da Raquel foi bem estranha. Outra coisa. Se todas morreram, por que não estavam lá com ela? Acho que teria feito mais sentido Raquel ter sido a única a morrer. Ou se as amigas, em cirurgias de alto risco, ficassem aparecendo e sumindo do nada. E se, só na última linha, descobríssemos o destino de Raquel. Como em O Sexto Sentido.

    • Borboleta Azul
      27 de abril de 2024

      Obrigada por sua análise. Compreendo seus questionamentos, mas não quis estender muito o conto, já que teríamos muitos textos para ler e avaliar. Tentei ser o mais sucinta possível. A ideia de as amigas aparecerem e desaparecerem me parece ótima! Obrigada!

      No fim, que nota recebi? Rsrsrs

      • Kelly Hatanaka
        28 de abril de 2024

        Oi Borboleta.

        Ainda não tenho a nota. Eu vou atribuindo à medida que leio, mas depois que todos os contos estiverem lidos, eu faço uma releitura comparativa para tentar eliminar os empates. Mas já adianto que sua nota não foi ruim, não. Aliás, neste desafio, até agora, não atribuí nenhuma nota ruim. E eu gostei da sua história.

        Quanto à leitura e avaliação, vamos ter bastante tempo. A organização sempre deixa um tempo generoso para esta etapa…

        Kelly

  10. Angelo Rodrigues
    27 de abril de 2024

    Olá, Borboleta Azul.

    Conto bom de ler. Curto e eficiente ao proposto pelo autor.

    Logo no início há um corte, como um novo take de filmagem. Ali estava a dica para uma nova trama.

    O desenvolvimento do conto é bem interessante, me fez lembrar um filme de 2001 com Nicole Kidman, que creio se chame Os Outros, salvo engano, quando a trama sofre um plot twist e inverte toda a expectativa até aquele momento traçada.

    Há no texto algumas curiosas revelações, como esta: “— Meu Deus! Dormi de roupa e sem tomar banho. Eu estava morta mesmo.”. Uma espécie de provocação antecipada em direção ao leitor, que, não interpretando literalmente, não aceita o fato como verdadeiro. Interessante isso.

    Todas as personagens do conto têm nome, menos a protagonista, que poderia se chamar, sem sombra de erro, Grace Stewart, que continua sua segunda história de aparições.

    A fantasminha era outra. Não era Lara, mas a moça que dirigia o carro e fantasmava pelo hotel em busca de uma mala e suas amigas.

    Um conto bem legal, embora sua construção indicasse a possibilidade revelada ao final, o que não o desmerece de jeito algum.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

    • Borboleta Azul
      27 de abril de 2024

      obrigada!! Vc foi bem atento aos detalhes, mas passou despercebido em um: a protagonista tem nome, Raquel.

      assisti Os Outros. Um filme excelente, diga-se de passagem. Dizer que meu conto te lembrou esse filme, para mim, foi uma honra imensa!

      🥰

  11. Vladimir Ferrari
    27 de abril de 2024

    Na minha interpretação, a premissa ficou no óbvio, apesar de ser atendida em 100%, inclusive com o título muito alusivo. Percebe-se algumas palavras desnecessárias às frases e algumas ações (NA MINHA OPINIÃO), que em nada alterariam a narrativa.
    A escrita é fluída apesar desses detalhes e tem bom ritmo. Meu gênero preferido é o terror e dessa maneira, é uma estória clássica e muito explorada. O autor/autora fez isso muito bem. O inusitado é termos dois “Cole Sear” (O Sexto Sentido, filme de 1999) no mesmo lobby de hotel: Lara e o garoto do “você é estranha”.
    Boa sorte no desafio.

    • Borboleta Azul
      27 de abril de 2024

      obrigada! Um clássico com uma pitada a mais..

  12. Antonio Stegues Batista
    27 de abril de 2024

    Narrativa excelente participando com naturalidade logo de início as informações sobre o ambiente e ações, aliás, mostrando em vez de dizer. A protagonista, narradora, está com 4 amigas num sedan prata, em viagem de férias de verão para um lugar não especificado, não importa o nome do lugar. O veículo corre velozmente por uma estrada reta e longa, margeada por uma pradaria ressequida, sob o sol quente que provoca um brilho cegante no asfalto.

    Após um corte de câmera, como se fosse num filme, a mulher aparece despertando no quarto do hotel. Não vou repetir o conto até o final, só vou dar a minha opinião, meu entendimento: Raquel acha que a menina é um fantasma, mas a garota conta que quem morreu foi a mãe dela, portanto, Lara, a menina, não é um fantasma. A garotinha vê fantasmas, mas o pai não acredita nela e por isso, a ignora, achando que é brincadeira. Parece que ela já andou conversando com o homem do cachimbo, que é um fantasma. Me pareceu que as outras crianças chamaram Lara de esquisita, e não Raquel.

    Naturalmente, como era um fantasma, o velho do cachimbo também via Raquel e quando ele sai diz pra ela não segui-lo, talvez porque ele estava dando lugar a ela, depois de passar tempos assombrando o hotel. Gostei do conto embora não traga nenhuma novidade, algo diferente de tantas histórias de pessoas que se descobrem mortas, como no filme Sexto Sentido, aliás, no filme a surpresa é maior. Acredita-se que crianças têm maior sensibilidade de ver fantasmas do que pessoas adultas, elas tem um Sexto Sentido. Bom conto Borboleta Azul.

    • Borboleta Azul
      27 de abril de 2024

      obrigada! Vc pegou direitinho a sacada do conto. Ou seja, leu com atenção aos detalhes

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Informação

Publicado em 26 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.