EntreContos

Detox Literário.

Desde Sempre, Para Sempre (Maria, Maria)

Trêmula, molhada de suor e com a roupa grudada no corpo, mais uma vez acordo. As batidas aceleradas do coração trazem uma forte pulsação nas têmporas e nas pontas dos dedos. Percebo que me falta o ar. Com muito esforço tento levantar a cabeça, mas não consigo. Situação rotineira dos últimos meses, das últimas semanas, dos últimos dias. È assim e será assim. Por minutos, vem a sensação aflitiva de esganadura. Das primeiras vezes, eu me refazia rapidamente, mas, hoje, não mais. As forças sumiram.

Nem preciso olhar o relógio para saber que a tarde está acabando. Basta observar a clareza desvalida que passa pelo vão da cortina, ali na janela. Deve ser o terceiro cochilo que me arriou no dia de hoje. E não se trata de soneca revigorante igual a que uma pessoa desfruta depois do almoço. Não. É um torpor que toma conta do corpo e nocauteia. Em segundos, mergulho num sono profundo, atormentado, carregado de sonhos. E de pesadelos. Tornei-me refém de dias de extrema prostração e de intermináveis noites insones.  

Vejo o comportamento da minha parceira. Não me perde de vista nem por um segundo. Observa os meus movimentos – ou a falta deles – de maneira incessante. Deve ser uma missão muito custosa. E, pensando sobre tudo isso, nesta situação que se encaminha para o único e imperioso desfecho, faceando esta certeza absoluta, decido que não posso mais postergar a conversa derradeira dessa longa trajetória. Sim, ela foi companheira. Fiel, cúmplice.

Num esforço descomunal, consigo arrastar o cobertor dobrado sobre o baú, ao pé da cama, e o coloco no alcance das mãos. Percebo que ela continua me espreitando. Crio coragem e a convido para perto. Coloco-me sentada no meio da cama, com as solas dos pés firmados na cabeceira. E peço a ela que se sente ao contrário, com as costas apoiadas nas minhas. Desta maneira, mais uma vez, ela vai me sustentar. E não foi só por isso que providenciei tal postura. Tudo sempre tem mais de um propósito. Quero livrá-la, e também me livrar, do encaramento. Ao menos uma vez, é preciso ter a liberdade de falar sem ter o olho no olho, sem ter de ficar frente a frente. Afinal, não se trata de entrevista de emprego. Quero que ela possa falar o que sente sem se preocupar com qualquer reação de censura, sem necessidade de dominar as emoções ou ficar constrangida por algum gesto ou expressão facial. Só ela?!

− Está bem acomodada? Acho que a conversa vai ser longa, não tem problema?

Falo como sempre falei. Compulsivamente. Muito, além do normal. E nunca ouço resposta. Não que ela não esteja presente, ela sempre está. Mas tem o péssimo hábito de ficar calada. Talvez seja para fazer o contrapeso e equilibrar a carga. Mas isso é irritante, falar sozinha é desesperador. Brinco quando digo que nossa ligação é feita do meu eterno monólogo. Quanta falta eu sinto – e senti – de receber um retorno, de ouvir um parecer, de contar com ajuda numa decisão. Mas não é hora de dizer isso a ela. Não vai mudar nada, e pode magoar. Apesar de que ela já sabe tudo de cor e salteado. Por inúmeras vezes gritei todas essas palavras e, logicamente, ela ouviu. Mas não se emendou, nunca respondeu.  

− Você me tem e me decodifica desde o início. Só eu que levei tempo para perceber o seu significado no meu caminho. Mas não fique chateada comigo, isso é natural. Acredito que este amor sempre esteve em mim. Acontece que o processo para externar tal sentimento exigiu muitos e muitos passos. E cabeçadas. Você inundou meu corpo de pronto, sem pedir licença. Fazia parte do desígnio. E eu lhe sou eternamente grata pela companhia, pela guarida. Eu nada seria sem você. E, nesses últimos dias, o que mais me trouxe ânimo foi a recordação dos muitos acontecidos que atravessamos. Juntas, lado a lado. Episódios que sempre tiveram o seu testemunho. Posso dizer, seguramente, que você nunca me deixa mentir sozinha, não é mesmo? Fui trabalhosa, não fui? Ou melhor, fomos. Em nenhum momento você me orientou a desistir de cutucar uma fera com vara curta, de falar mais do que devia, nem me impediu de gastar mais do que podia. De jeito nenhum! Por que não deu um safanão para que eu ficasse atenta e não fizesse tanta burrada? Você, muda, concordava com tudo. Isso tipifica cumplicidade. Ou não?!

Nem se cobra, parece que nada é com ela. Folgada! Esteve comigo em todas as trapalhadas, não havia encrenca criada em que não estivesse metida. E agora fica dando uma de santa. Mas, devo concordar, ela também esteve junto em todos os meus acertos. Acho que a gente se confunde. Na verdade, somos amalgamadas. Preciso maneirar a conversa, não adianta espancar alguma coisa que não tem mais conserto. Já foi, passou. Mas que irrita, irrita! É fácil ficar no cangote de outra pessoa – a procissão segue e a outra não cansa as pernas. Calma, calma. Respira fundo…

− Você mexeu as costas, está cansada? Posso continuar? Fala, por favor, fala! Ou dá um toque! Pedido bobo este meu, não é? Claro que sei que isso é impossível. Reclamo só para ter o que dizer. Afinal, quem mais me aguentaria? Falo muito para tentar ouvir o que eu mesma digo. Você sabe como sou insegura, o quanto peno quando tenho de decidir qualquer coisa. E também sabe o quanto padeci por ter sido tão medrosa. Deste meu medo, só passei a compreender plenamente naquela noite em que, pela primeira vez, tive consciência de despertar toda molhada. E não era de suor! Eu era ainda muito criança. Foi ali, naquela aflição, que conheci a essência do medo. Medo de escuro, medo de morto, medo de sapo, medo de perder, medo de ficar sozinha. Sensação horrorosa que me paralisava o corpo, que me tirava a voz. E ele sempre me acompanhou. Você sempre soube disso, sempre presenciou, não foi?! Mas quero acalmar o seu peito. Com toda a sinceridade da minha alma, hoje o medo não mora mais em mim. Nem sei dizer quando ele se foi, não teve um horário marcado. Foi num esvaecimento silencioso, feito uma desimportância não programada. Aconteceu. E me trouxe uma paz infinita. Sempre desconfiei da ideia de que o medo existe como uma forma de preservar a segurança e a saúde, que ele traz benefícios para o humano. Sei não. A mim, trouxe muito padecimento. Mas, passou. Não me aflige mais.

Bom seria se minha parceira compreendesse o quanto eu tenho vontade de que ela não sofra. Não mais. Eu sou afoita, por vezes inconsequente, mas tenho plena convicção de que ela foi – e é – o meu único refúgio. Sempre lutou comigo, comemorou comigo, chorou comigo. Verdadeiro arrimo. 

− Fui uma garota insuportável, não fui? Nariz empinado? Metida? Xereta? Sim, fui tudo isso e mais um pouco. Mas você também foi!  Eu sempre assumi descaradamente, jamais neguei. Nunca me furtei a reconhecer tais despropósitos, contrário ao seu comportamento pudoroso, cheio de escrúpulo.

Há momentos em que sinto vergonha de mim mesma. Como sou estúpida! Não sei abrir a boca sem acusar, sem querer transferir minha culpa para outros ombros. Chega! Nada importa mais! Agora tenho necessidade de passar conforto à minha companheira, mostrar a ela que tudo sempre valeu – e ainda vale – a pena. Aliviar o peso carregado por ela até aqui, aquietar qualquer agrura que a esteja consumindo. Mas a boca de trapo não tem controle. Que coisa doentia!

− E dos amores? Foi complicado, não foi? Cada mês, uma nova paixão. Era segredo nosso. Lembra?! Escolhida a “vítima” – nenhuma delas nunca soube – começava o delírio. Quanta imaginação! E tudo não passava de amor no mundo das ideias, aquela inocente fantasia de contemplar e admirar o belo, e que nem sempre era tão belo assim! Nem sei se posso qualificar como amor platônico, mas tenho certeza de que Platão cairia na gargalhada se acompanhasse tais desvarios! E você sabe a razão de eu dizer que nem era tão belo assim, não é? Havia garotos bem desarranjados, mas, como eram poucos no trecho e para que as “vítimas” fossem escolhidas, não havia outro  jeito. Era preciso repetir a escala. Então, na minha lista, apareciam assíduos “reincidentes”. Tinha o Euclides, lembra-se? Eu me apaixonei por ele três vezes! E me desapaixonei outras três por causa daquela mania de ele usar calças curtas, deixando as meias à mostra. E as meias eram medonhas! E do Francisco, você tem recordação? Acho que foi o rosto mais lindo com que já me esbarrei, e ele ainda tinha mais dois irmãos! Gostei de todos. 

Sinto que ela está cansada, suspira profundamente como se buscasse ar. Mas não vou perguntar se ela quer que eu pare. Sinto o mesmo cansaço, nem sei de onde retiro ânimo para ficar nesse monólogo insano. Só quero falar, preciso. E o tempo é agora. Não estou pensando para articular as palavras, é um discurso involuntário. Brota não sei de onde e fica num redemoinho dentro do peito, as frases se formam e as palavras saem fluidamente, sem controle. Lembranças que chegam feito retratos em tons de sépia, trazem um mundo envelhecido. 

− E do meu primeiro porre, você se lembra? Primeiro e último. Foi no aniversário da Eliete, aquela festa no quintal sob lua clara. A churrasqueira dourando as carnes, convidados salivando, e chegaram as doses de caipirinha. Nada mais apropriado. Em seguida, saboreando o churrasco, as rodadas de cerveja. E, já cantando os “parabéns” pela quinta ou sexta vez, ninguém mais tinha certeza de nada, seria justo fechar a festa abrindo o galão de vinho! E foi o que fizemos. Só de lembrar, arrepio. Não demorou muito e eu já não ficava em pé. Mais um pouco, no estômago parecia que uma cobra d’água rodopiava. E aquilo foi subindo, subindo, e eu engolindo. Perdi. Os jatos vermelhos molhavam a roupa, escorriam pelas pernas, enchiam os sapatos. E eu chorava desesperada, imaginando que aquilo fosse sangue! E era, o abençoado vinho “Sangue de Boi”. Lembra? Ainda bem que Eliete ofereceu pouso. Caso contrário, eu não estaria aqui agora contando tudo isso. Você conheceu meu pai, não foi? Sabe bem do que estou falando. 

Alguma coisa não vai bem. Está muito difícil continuar nesta posição, mas não quero desistir de vez. Sinto um forte tremor pelo corpo. Minhas costas balançam fortemente. O corpo chacoalha.

− Está tremendo? Ou sou eu? É melhor estender essa coberta em nossa volta, a noite chegou muito fria. Isso! Fica mais quentinho, o frio entristece.

Vou fazer silêncio por uns minutos, preciso me aquecer. Essa tremura me faz sentir desgarrada, sem proteção. Não gosto, incomoda. Ainda bem que outra boa lembrança já aflora no meu juízo.   

− E a excursão que fizemos para o Rio de Janeiro? Que sonho! Começando pela viagem de trem! Exatamente como sempre imaginei, que sensação inesquecível! Chegando ao destino, meus olhos não davam conta de enxergar tanta beleza de uma vez só. Não havia feiura em nada, absolutamente nada. As cores, a brisa, a alegria, a música, o cheiro do mar. Só que vi tudo do chão. Sem bondinho, sem visita ao Cristo, sem elevado de cá e de lá, sem Pier de Ipanema, sem Pedra da Gávea, sem roda-gigante. O medo ainda estava comigo. E o susto que levamos naquela praça em que um bando de garotos, com caixas de engraxate e falando uma língua muito estranha, nos cercou? Confesso que fiquei apavorada, achei que não teríamos saída, acredita? Ainda bem que os meus berros foram ouvidos e logo as pessoas acudiram. A situação foi aterrorizante, não foi?! E o tocador de realejo? Coisa do meu mundo imaginário. Quando ouvi o som metálico e triste saindo daquela máquina de fole abafado, fanhoso, fui arrebatada. O girar da manivela, a música nascendo do cilindro dentado, o semblante calmo do tocador, tudo enfeitiçava. Fui lá e ofereci uma moeda, lembra? Não demorou nada e tudo se repetiu. E a minha maior surpresa foi quando a gaiola se abriu e o periquito, com o biquinho, retirou um papelzinho da gaveta. O tocador o pegou e estendeu o braço em minha direção. O papelzinho era meu! Trazia uma mensagem de boa previsão para o futuro, feito mensagem de horóscopo, sabe?! Você acredita que eu ainda o trago guardado numa caixa? Ali, no maleiro! Qualquer hora dessas, eu lhe mostro.

Fico encompridando a conversa, não quero parar. Apesar da fadiga que me vence minuto a minuto, é inadiável esvaziar as lembranças. E elas são muitas. Infinitas. Não quero me calar.

− Você percebe que falo sobre os acontecidos mais remotos, não é mesmo? A razão disso é que eles tinham mais encanto, nós éramos mais descomprometidas, inocentes. As feridas doíam menos, deixaram poucas marcas. As dores antigas já se arraigaram em algum canto da alma, estão acomodadas. As lembranças recentes são assanhadas, desprovidas de sensatez, não respeitam fila, infiltram-se sorrateiramente no turbilhão para tomarem a dianteira. Na cabeça, fica um rebuliço de lampejos, de cenas esparsas sem qualquer ordem. E, agora, precisamos de calma, de alento. Está exausta, não está? Vou ficar quietinha só um pouco, respira fundo.  Ainda não acabei.

Sinto tamanho mal-estar que não consigo reprimir. É como se algo estivesse fugindo de mim sem se despedir. Um prenúncio de separação. Queria não sentir. Não quero me calar. Ainda não.

− Quando me deparei com a fase adulta, levei um baque tremendo. Você acompanhou. Foi difícil reconhecer que ali terminava o faz-de-conta. Dali em diante, sobrava apenas a realidade – “é” ou “não é”. E tudo custava dinheiro! Que merda! Verdade, a responsabilidade me assustou. Ainda bem que havia o seu apoio, não sei o que faria seu eu não tivesse você. E, apesar do susto, do excesso de compromissos, das muitas contas a pagar, dos muitos papéis assinados, dos novos amores e desamores, dos agrados e desagrados, houve muito mais vitórias que derrotas. Concorda comigo?! Quero que saiba o quanto lhe sou grata. Os meus bons momentos foram propiciados por você. Todos. E os maus? Estes, eu os arrogo. Foram frutos das minhas escolhas. E, quanto aos infortúnios, nenhuma de nós os desejou, eles simplesmente acontecem a todos, sem qualquer pedido de licença.

Continuo alongando a prosa mesmo com o corpo combalido. As palavras saem entrecortadas, acho que nem eu mesma as compreendo. Os pensamentos também estão inconstantes, finais apagados, desconexos. Estão perdendo o sentido. Tento retomar. Não quero me calar.

− Quase sempre penso o quanto fui escolhida pelos deuses para ter você.  Foi mais que privilégio, foi bendição. Se deixei de dizer tantas vezes quanto você merecia – e merece – sobre o amor que lhe tenho, é pela simples razão de eu ser uma pessoa insensata, descuidada. Você é o ar que respiro. E sabe disso. Você sempre teve o dom de ser leitora da minha alma. Não há palavra que não tenha lido. Mas, ao mesmo tempo, eu penso que você foi ainda mais abençoada que eu. Não há no mundo quem tenha no peito um amor maior que o meu. É um sentimento tão desmesurado que chega a me assustar. É amor, é apreço, é gratidão, é apego, é afeto, é paixão. Não há como definir em uma única palavra. Chega a ser doidice! Ser amada dessa maneira não é para qualquer uma. E, vou ser honesta. Mesmo sentindo esse amor desmedido, algumas vezes pensei em partir, em deixar você. Mas fui incapaz. Para fazer isso, é cobrada uma coragem gigantesca. E essa coragem não havia – e não há – em mim. Também lhe devo isso. Lembre-se sempre: não existe amor maior que o meu. Amo você!  

Estranho, quase não sinto meu corpo. Nem braços, nem pernas; parece que flutuo. Dor nenhuma. Apenas um frio intenso correndo pelas costas, pelo rosto, dificuldade de respirar. Será que continuo sentada? Estive sentada em algum momento? Será que ainda falo? Estive falando realmente?! Sinto um entorpecimento que oferece paz, nem consigo abrir os olhos.

− Você continua aí? Está me ouvindo? Vida!!!

Sobre Fabio Baptista

17 comentários em “Desde Sempre, Para Sempre (Maria, Maria)

  1. Mauro Dillmann
    19 de maio de 2024

    Conto bem escrito. Leitura flui bem, muito bem.  

    Inicialmente imaginei que se tratava de um diálogo entre de duas mulheres casadas, sendo a narradora, a mulher doente, desenganada, recapitulando sua existência com sua companheira. No final ficou evidenciado que o interlocutor é a ‘vida’. Então, ao longo do conto, apesar de não ter personagens em interação, é como se tivesse.  

    O texto tem uma pegada de carta, de diário, a escrita remete a um pensamento para ser lido, tornando o texto mais íntimo, direto e sentimental. É uma estratégia interessante para garantir o tom intimista.  

    O leitor vai percebendo que a narradora está se despedindo, que se trata de pensamentos, de reflexões sobre si, um fluxo de consciência. 

    O enredo mostra o quanto somos dependentes uns dos outros. O quanto a aprovação ou reprovação é importante, faz sentido, mobiliza, impulsiona.  

    Não tenho críticas negativas. Penso que a pessoa que escreveu o conto sabia muito bem o que estava fazendo e deve ser alguém experiente na escrita literária.  

    Pessoalmente, o pensamento da narradora-personagem foi extenso, mas muito gostoso de ler, o que compensou.  

    Dois detalhes:

    “eu me refazia rapidamente” [não é necessário o pronome pessoal ‘eu’].

    Valeria eliminar o clichê: “cutucar uma fera com vara curta”.

     A viagem é metafórica. Uma viagem pelo pensamento, pela vida, um balanço, uma retomada daquilo que foi. Gosto muito quando o tema é contemplado metaforicamente.  

    Parabéns!

  2. Givago Thimoti
    17 de maio de 2024

    DESDE SEMPRE, PARA SEMPRE (MARIA, MARIA)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    AVALIAÇÃO + IMPRESSÕES INICIAIS

    + Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor/ É a dose mais forte e lenta/ De uma gente que ri quando deve chorar/ E não vive, apenas aguenta” Esse trecho da música do Milton Nascimento ( Te amo, Bituca! Afinal, todo dia é dia de reverenciar o Milton)

    – Poxa, cadê a história?

    HISTÓRIA (2/3) 

    “Desde sempre, para sempre” é um conto-monólogo. A narradora-personagem, reconhecendo que se aproxima da Morte, resolve uma última vez, conversar com o seu interlocutor. Revive alguns momentos de sua vida brevemente, perdendo-se em diálogos e pensamentos, num estilo meio Clarice Lispector.

    O conto tem algumas estratégias para captar a atenção e a estima do leitor. Uma delas: seu interlocutor somente é revelado no final, numa tentativa de evitar aquela sensação de que a história vai de algum lugar para lugar nenhum. Não sei se é a vida. A amarração da autora/ do autor não foi boa em termos de história.

    Minha interpretação no final? Bom, eu diria que é a despedida da Alma de Maria para o corpo de Maria. Não creio que seja uma interpretação correta, na verdade. Não há elementos suficientes que permitem uma interpretação literal. Contudo, foi a que melhor encaixou em minha cabeça e que deu algum sentido para o que eu estava lendo.

    Pessoalmente, não sou muito fã de contos com “pouca” história, focados extremamente na qualidade da escrita enquanto a história fica ali, num segundo ou terceiro plano. Esse foi um conto um tanto desafiador para eu avaliar justamente por isso. Mexe na minha convicção de leitor/escritor.

    Aqui, a sensação que tive é que a autora/o autor deixou para quem lesse determinar a história. Há pouco (para não dizer nenhum) fio de realidade ou fio de narrativa para se prender e acompanhar.

    Talvez a missão do leitor é acompanhar os últimos momentos de uma pessoa, sem saber muito bem o que ela fez, o que ela viveu… E aprender, como uma participante deste desafio disse em resposta a outra participante, que nem toda história precisa ser algo definido, que movimente o leitor em direção a algum impacto, a algum arrebatamento de alguma forma. Às vezes, uma história é apenas uma história.

    TÉCNICA (3/3)

             É um conto muito bonito de ser ler. Irretocável em termos de lúdico, de trabalho com as palavras. Irretocável em termos de gramática. Lindo, belo… Esse conto, em termos de técnica e escrita, pode ser inserido em todos os adjetivos capazes de expressar beleza.

             Meu único “ah”, o qual eu não tirei pontos por isso, foi um “é” craseado bem no primeiro parágrafo.

    TEMA (0,5/1)

             Esse conto brinca com a metáfora que a vida é uma viagem. Viver é uma viagem, uma jornada. Como todo a história, não muito bem amarrada. Até tem uma menção ali a uma viagem ao Rio de Janeiro, como sempre perigoso…

    IMPACTO  (1/2)

             O impacto foi mediano. É um conto extremamente contraditório para mim. Na minha primeira leitura, embora eu achasse a escrita linda, eu senti tanta falta de uma história que eu até pulei alguns parágrafos para eu tentar achar algum fio de narrativa que me prendesse. Não empolga.

             Veja bem, esse conto esbarra em outra convicção minha (essa um tanto mais pessoal): veja bem, beleza encanta, beleza seduz, mas não é tudo. Beleza passa. Conteúdo também conta.

             Depois da segunda leitura, eu percebi algum fio de narrativa. Mas tão fraco e frágil… Afinal, o que esperar da narração de uma moribunda? Sobrou para mim a missão. A verdade que eu gostaria que o fio fosse um pouquinho mais grosso.

    ORIGINALIDADE (1/1)

              O que faz desse texto ser original? Acho que a técnica, o arcabouço vocabular para fazer um conto belo, composto por digressões bem-ditas e expostas por uma moribunda.

    Trecho interessante: Sinto que ela está cansada, suspira profundamente como se buscasse ar. Mas não vou perguntar se ela quer que eu pare. Sinto o mesmo cansaço, nem sei de onde retiro ânimo para ficar nesse monólogo insano. Só quero falar, preciso. E o tempo é agora. => esse é um trecho que justifica a minha interpretação de Alma e Corpo.

    Nota: 7,5

  3. Jorge Santos
    13 de maio de 2024

    Olá, Maria. Senti uma energia tremenda ao ler este seu conto, que é cheio de surrealismo, mesmo sem aparentar. Aquilo que parece uma cena simples, de uma mulher doente na cama, surge como algo completamente diferente, um diálogo com o seu eu passado no momento da morte. Pelo menos, foi esta a leitura que fiz do texto. Achei que faltou coerência. O leitor tem de conseguir identificar as personagens para se prender ao texto. Mesmo usando do surrealismo, temos de conseguir encontrar uma ponte com a realidade. Posso estar enganado na minha análise, mas foi esta a ideia com que fiquei, o que só prova que falta algo no texto. Mesmo assim, creio estarmos perante um dos textos mais fortes do desafio, onde a adequação ao tema segue o mesmo padrão surrealista e metafórico do texto: a vida é, realmente, uma viagem.

  4. Queli
    11 de maio de 2024

    Um texto gostoso de ler, apesar do monólogo interminável. As reflexões foram bem definidas, tocando na gente, despertando sentimentos e uma nostalgia boa.

    Muito bem redigido. Quanto ao tema, embora possa ser um roubo metafórico da vida ou uma viagem para dentro de si, não sei se posso afirmar que atendeu ao quesito.

    De toda forma, adorei o texto. Parabéns e boa sorte!

  5. Cícero Robson
    9 de maio de 2024

    Oi, Maria. Interessante como o conto se desenrola como se fosse uma relação entre duas mulheres, literalmente uma de costas para a outra, simbolizando um distanciamento, ainda que estivessem muito próximas uma da outra. Uma delas fala, enquanto a “outra” apenas silencia. É bem sintomático e revelador.

    No decorrer da leitura percebi que a narradora falava de si para si mesma, numa reflexão existencial que me lembrou o filme Persona, de Ingmar Bergman. De fato, é comum darmos as costas a aspectos da nossa vida, sabotarmos nossos anseios e necessidades. Um conto bem escrito, reflexivo, que no final soluciona o mistério da relação da narradora com a própria vida.

    Boa sorte no desafio.

  6. Emanuel Maurin
    6 de maio de 2024

    A narradora reflete sobre a vida dela, lembrando momentos de alegria, medo e amor. Ela expressa gratidão à sua companheira silenciosa, que esteve ao seu lado em todas as situações. Apesar das dificuldades e do cansaço, ela se recusa a parar de falar, desejando esvaziar suas memórias antes que seja tarde demais. Ela termina confessando um amor profundo e inabalável por sua companheira, apesar de todas as adversidades enfrentadas.

    A narrativa que ia bem, mas quando abre dialogo, mostra claramente que o personagem sofre de verborragia. (é gosto pessoal, mas eu não gosto de diálogos longos), sei que o autor deixa claro na trama que a personagem fala demais (sem parar), isso torna a história mais verossímil. Esse é um ponto positivo.

    No enredo apresentado, o foco parece estar mais nas emoções e reflexões internas do personagem do que no ambiente externo, o que empobreceu a trama, faltou descrição de cenários, cheiros e sabores. No mais, a trama é interessante, a narrativa é rica em detalhes psicológicos e emocionais, o que proporciona uma visão profunda do estado mental e emocional da personagem. O final é aberto e deixa espaço para interpretação, mas eu desejaria um final mais fechado e esclarecedor.

  7. Gustavo Araujo
    6 de maio de 2024

    Este é daqueles contos que oferecem diversas possibilidades de interpretação. Não li os comentários dos colegas, então vou arriscar a minha, assim, como quem entra num salão escuro e ouve as vozes apenas. No início achei que se tratava de duas mulheres tendo uma conversa franca, embora apenas uma delas se manifestasse. Mas essa impressão durou pouco.

    Para além do que era verbalizado, as digressões íntimas da narradora me fizeram perceber tratar-se de alguém vivendo em solitude, apoiada de costas em um espelho, rememorando em voz alta fatos de sua própria vida, que sente esvair-se irrefreadamente. É hora, pois, de confessar alguns pecados, mas principalmente relembrar fatos corriqueiros, desses que preenchem a nossa existência de significado, fatos ordinários aos quais pouco nos atentamos enquanto ocorrem, mas que, depois, passados muitos anos, revolvem a nossa mente como que para nos lembrar: ei, você viveu e viveu muito bem.

    Essa constatação me trouxe à mente o célebre conto do Tolstói, A Morte de Ivan Ilitch (aliás, disponível aqui no EC), porque um homem, à beira da morte inevitável põe a lembrar dos fatos que o conduziram até ali. Amargurado, dá-se conta de que sua vida foi uma fraude e que o conforto, na hora derradeira, somente é possível com as recordações da infância.

    Nossa narradora aqui não é alguém amarga nem desgostosa com a vida. Ao contrário, é alguém que celebra mesmo os pequenos acontecimentos mas, curiosamente, assim como Ivan Ilitch, encontra nas lembranças mais remotas a candura e o conforto que lhe garantem o sucesso de sua existência.

    Ao vê-la conversar consigo mesma, em tom de confissão, temos essa certeza também. E isso, veja só, não deixa de ser um alento para todos nós que pretendemos chegar nesse ponto dessa maneira – vale dizer, não amargos como Ivan Ilitch, mas satisfeitos como Maria.

    A prosa lenta contribui para com essa constatação. O ritmo do conto, de fato, nos faz perceber que a narradora é alguém que já viveu muito mais tempo do que aquele que tem pela frente. É alguém que conquistou o direito de desacelerar-se, de contemplar o que se passa não se sentindo culpada, mas como detentora de uma espécie de prêmio.

    E como chega o momento final, aquele em que o corpo se desprende? Não fica muito claro, mas a julgar pela intuição, tratou-se de uma partida tranquila. Não há Alzheimer, não há nada trágico. É um fim, arrisco a dizer, que todos podemos invejar, de alguém que viveu uma existência plena e que está em paz consigo mesma.

    Quanto à técnica, não há o que apontar: excelente, isenta de erros, que propicia ao leitor o mergulho necessário na psique humana na hora final.

    E o tema do desafio? Imagino que esse aspecto possa levantar controvérsias. Roubo da vida? Viagem astral? Talvez essas abordagens sejam difíceis de justificar, dada a abstração. Viagem ou roubo metafóricos são complicados de emplacar, mas a verdade é que o texto é tão bom, tão sensível, que fica difícil desgostar dele mesmo com uma abordagem deficiente.

    O mais curioso é que normalmente prefiro histórias que sigam de A para B, com dramas, controvérsias e conflitos. Aqui há pouco disso, tratando-se mais de um fluxo de consciência. Mas, ainda assim, me vi fisgado, culpa da escrita envolvente e sensível.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  8. Emanuel Maurin
    5 de maio de 2024

    “Trêmula, molhada de suor e com a roupa grudada no corpo, mais uma vez acordo. As batidas aceleradas do coração trazem uma forte pulsação nas têmporas e nas pontas dos dedos.” Do coração de quem? Sabe, depois volto aqui para comentar mais, fiz esse comentário antecipado, porque acho que esse lance de esconder o sujeito fica meio sem lógica na construção do personagem e deixa a narrativa um pouco vaga ou aberta a interpretações.

  9. Thiago Amaral
    4 de maio de 2024

    Oi, Maria Maria, tudo bem?

    Gostei do seu conto. O mistério sobre com quem a protagonista está falando sustenta nosso interesse. A linguagem natural do monólogo também torna a leitura fluida.

    Depois que terminei de ler, fiquei com vontade de reler, e a segunda leitura foi ainda mais proveitosa, agora que sabia tratar-se de uma conversa com a vida. O final, de algum modo, também ficou mais impactante.

    Achei um conto doce, sensível.

    Obrigado, e até a próxima.

  10. Angelo Rodrigues
    4 de maio de 2024

    Olá, Maria, Maria.

    Comentários:

    O conto está bem escrito e atravessa todo o discurso proposto sem dificuldade.

    O texto fala de uma mulher que fala. A quem fala é uma incógnita. A personagem fala de seu monólogo. Creio que não. Talvez um solilóquio. Talvez uma espécie de fluxo de consciência da protagonista, que se imagina – seja qual for o motivo -, em interação com a sua suposta companheira.

    O nome do suposto autor – Maria, Maria – procura passar ao leitor a ideia de que são duas Marias, ou seu duplo Maria, ou apenas uma Maria tendo uma conversa consigo mesmo. Aí está o nó da questão.

    Embora interessante, achei que o conto não objetivou. Como todo fluxo de consciência – o que me pareceu ser o caso – fica sempre a ideia de que a objetivação capenga. Como terminar um fluxo encadeado de um discurso, dado que, efetivamente, não interação entre personagens?

    E foi assim.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  11. Regina Ruth Rincon Caires
    4 de maio de 2024

    Um texto nostálgico, acho que pode ser definido dessa maneira. É um conto que se passa num período curto de tempo, vai do entardecer até a noite. E nesse ínterim, a personagem faz a sua viagem final, e que ela mesma define: …”nesta situação que se encaminha para o único e imperioso desfecho, faceando esta certeza absoluta, decido que não posso mais postergar a conversa derradeira dessa longa trajetória”.  Verdade, esta é a única certeza que existe na vida de todas as pessoas. A morte.  

    Durante boa parte da narrativa, existe uma suspeita de que a protagonista tem uma companheira. Mas, ao final, ela declara que “falava” com a vida.  Acredito que os monólogos eram silenciosos, feitos apenas no âmbito do pensamento, ela com ela mesma. Acredito que eles ganharam voz apenas para serem “contados”. A personagem tem pensamentos que trazem lembranças de quadros esparsos, somente daqueles acontecimentos que lhe davam ou lhe deram alento.  Fala de coisas que ela vivenciou, e que talvez pareçam estranhas a muitos leitores. Naquele momento, a personagem precisava render-se à partida, mas relutou, tentou afastá-la no limite de suas forças.  A vida é boa, única, e precisa ser bebida até no último gole.

    Gosto destes textos que trazem questionamento sobre a vida, sobre as alegrias e tristezas do caminho, sobre o tempo vivido.  É acontece assim mesmo. Quando o indivíduo já se encontra na base de lançamento, a alma procura razões, precisa de alento. Jesus…

    Escrita simples, proporciona entendimento sem entrave. Linguagem coloquial. Muitas frases interrogativas, o que mostra o quanto a personagem ainda se questiona, mesmo no momento do fim.

    Parabéns pelo trabalho, Maria, Maria!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

  12. Marco Saraiva
    3 de maio de 2024

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    ————————————-

    Avaliação

    Uma conversa final com a vida. Confesso que nao esperava o desfecho. No inicio li o conto impaciente, esperando uma revelacao, uma reviravolta. Com o tempo fui notando que o conto seria isso: um monologo com um personagem desconhecido, mudo, o ouvinte perfeito. E fui mergulhando no monologo, as vezes entediado, as vezes sentindo vontade de chorar. Foi um conto escrito com muita alma, muito sentimento. Mexeu um pouco comigo.

    TÉCNICA ●●◒ (2.5/3)
    O fluxo de consciencia eh bem escrito, e a escolha de palavras eh potente. No inicio o conto me perdeu um pouco por que as falas nao eram naturais. A personagem fala de forma muito rebuscada, como ninguem mais falaria. Depois aprendi a apreciar que era este mesmo o objetivo do autor, e comecei a curtir a leitura. Tirando isso, nao dei nota maxima na tecnica por que ha formas melhores de expressar o que voce queria sem ter que contar experiencias de uma vida que nao presenciei. Por vezes ela se alongava demais contando historias do passado. Trechos como o que eu destaquei na parte de “trecho inspirado” sao a verdadeira joia deste conto!

    HISTÓRIA ●◌◌ (1/3)
    Nao ha historia. O conto eh um momento, quase um exercicio ludico. Eh uma leitura muitissimo interessante, mas se perde no conceito de “conto” por nao ter um enredo em si.

    TEMA ●◌ (1/2)
    Entendi a ideia de que a “viagem” aqui foi a jornada que a personagem teve durante a vida… mas isso foi forcar um pouco a subjetividade do tema, ao meu ver!

    IMPACTO ● (1/1)
    Ainda estou um pouco melancolico apos a leitura. Coisa assim me pega demais, especialmente quando eh tao bem escrita.

    ORIGINALIDADE ● (1/1)
    Gostei. O conto tem personalidade. A leitura eh bem original e interessante.

    Trecho inspirado

    “Quando me deparei com a fase adulta, levei um baque tremendo. Você acompanhou. Foi difícil reconhecer que ali terminava o faz-de-conta. Dali em diante, sobrava apenas a realidade – “é” ou “não é”. E tudo custava dinheiro! Que merda! Verdade, a responsabilidade me assustou. Ainda bem que havia o seu apoio, não sei o que faria seu eu não tivesse você. E, apesar do susto, do excesso de compromissos, das muitas contas a pagar, dos muitos papéis assinados, dos novos amores e desamores, dos agrados e desagrados, houve muito mais vitórias que derrotas. Concorda comigo?! Quero que saiba o quanto lhe sou grata. Os meus bons momentos foram propiciados por você. Todos. E os maus? Estes, eu os arrogo. Foram frutos das minhas escolhas. E, quanto aos infortúnios, nenhuma de nós os desejou, eles simplesmente acontecem a todos, sem qualquer pedido de licença.”

  13. Luis Guilherme Banzi Florido
    2 de maio de 2024

    Olá, Maria, Maria! Tudo bem? Seu pseudônimo me lembra uma das minhas musicas preferidas, obrigado pela lembrança.

    Eu estava seguindo um padrão bem organizadinho de comentários, que eu copiava e colava usando a mesma estrutura pra todos. Infelizmente, agora estou voltando pro Brasil e no avião preciso usar o cel, de modo que todo meu padrão foi pro beleléu. Desculpe. Ainda assim, vou comentar com o mesmo empenho e usando os mesmos parâmetros e seriedade. Vamos lá!

    O conto todo é um monólogo da protagonista com sua companheira, a quem parece amar e odiar, reclamar e agradecer, reprovar e exaltar. A princípio, parece se tratar de um término de relacionamento, mas o fato de a outra pessoa ficar totalmente em silêncio, e a lembrança do começo, onde a personagem parece tentar acordar, algo cada vez mais difícil de realizar, geram a sensação de que existe algo ali que ainda não foi contado. Esse é o ponto forte do conto, pois mantém essa aura de mistério, de que existe um plot twist sendo preparado. Isso é o ponto alto do conto.

    Porém, infelizmente seu conto não me pegou. Eu achei o monólogo interminável bastante chato e entediante, ao ponto de ter dificuldade de continuar a leitura em alguns momentos, e de me perder em alguns parágrafos. Provavelmente isso tem muito mais a ver com meu gosto pessoal do que com sua escrita, que é correta e tem muita qualidade. Mas pra mim, realmente não rolou. Infelizmente foi um conto em que eu queria terminar logo. Desculpe a sinceridade.

    Acho que isso se deve ao fato de a protagonista falar sem parar, em parágrafos excessivamente longos. Talvez entrecortar esses diálogos, dilui-los melhor, não sei. Enfim, isso é meu lado leitor falando a partir de gosto pessoal, então não tem muito que eu possa te dizer para contribuir.

    Por outro lado, a última palavra do conto recompensa bem, quando você entende que ela está morrendo, e que está se despedindo da vida, que amou e odiou, e com quem dividiu uma relação de altos e baixos. As peças se encaixam e eu terminei o conto com um sorriso de compreensão. Belo final!

    Eu só fico na dúvida sobre o tema. Tudo bem que você mencionou uma viagem ao RJ, mas isso me parece mais um acontecimento esporádico mencionado no texto, do que uma adequação ao tema em si. Talvez possamos considerar que o conto trata da “viagem para a próxima vida”, que ela está prestes a realizar. Porém, acho que também teria que forçar muito a barra para chegar nessa conclusão. Desculpe, mas para seguir o critério que venho utilizando, vou precisar descontar uns pontos de adequação ao tema.

    Construção de personagens: 7,0
    Ritmo: 5,0
    Enredo: 6,0
    Técnica: 8,5
    Desfecho: 8,5
    Penalidade por falta de adequação ao tema: -5,0

    Nota final: 6,0

    Parabéns e boa sorte!

  14. Priscila Pereira
    1 de maio de 2024

    Olá, Maria! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Seu conto é enigmático, e até certo modo filosófico. Se entendi bem, a protagonista está fazendo uma viagem ao passado recordando momentos importantes antes de morrer. Ela está conversando com a vida enquanto essa lhe escapa. Achei bem bonito e poético.

    Deixar para revelar com quem a personagem está conversando na última palavra foi bem sacado.Tive alguns palpites e nenhum chegou perto. Gostei disso.

    Também achei legal não saber o que exatamente a personagem tem, do que ela está morrendo. Mas achei a vida dela um pouco chata, (a minha também seria, mas como a dela é ficção poderia ser mais interessante).

    O conto está bem escrito, bem revisado, poético e filosófico. Gostei!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  15. Kelly Hatanaka
    1 de maio de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Não encontrei nem sombra de viagem ou de roubo. Teve uma viagem ao Rio? Teve. Mas foi só uma menção…

    Escrita
    Muito correta, bonita.

    Enredo
    Uma mulher que sofre de algum distúrbio mental (Depressão? Síndrome do pânico?) tem uma longuíssima conversa com sua companheira.

    Impacto
    O ponto forte, para mm, é a dubiedade. A protagonista estava falando com alguém, uma pessoa que a acompanha? Ou estava falando com a vida? Eu acho que é a segunda opção, pois isso torna a narrativa mais interessante. E porque, se fosse uma pessoa, eu teria muita dó dela. Porém, os porquês ficaram ocultos. O que ela tem? Por que a necessidade desse monólogo? Qual sua intenção?
    Busquei estas respostas nas entrelinhas, não achei. E sem elas, para mim ao menos, o texto é lindo e bem escrito, mas carece de um sentido maior.

  16. Antonio Stegues Batista
    30 de abril de 2024

    Além do pseudônimo, a duplicidade também está no conto. Parece que é a história de duas mulheres que vivem e moram juntas. Ou não. Talvez o mote seja a mulher às portas da Morte, conversando com, não uma pessoa, mas com a Vida, relembrando os momentos bons, e ruins, que a Vida lhe deu.                      Em quatro parágrafos é descrito o esforço da protagonista/narradora para ficar sentada na cama. Nos parágrafos seguintes ela discorre sobre sua vida, seus problemas, medos, tristezas e alegrias. Faz perguntas para a companheira que não responde, claro, não é uma pessoa e por isso não responde. E as divagações seguem até o fim, lembrando um churrasco, as caipirinhas, o porre, a cobra d’água no estômago e a bela descrição do vômito.                      Talvez o conto escrito na terceira pessoa, uma narrativa neutra, destacaria melhor o monólogo. Acho que o excesso, meio chato, foi um mal necessário.

  17. vlaferrari
    28 de abril de 2024

    Esse encontro acabará acontecendo para todos nós e a autora/autor foi muito feliz em retratar isso, entremeando a temática de viagem (afinal é uma das grandes, mesmo). Entendi os primeiros parágrafos com frases um pouco aquém do meu gosto pessoal de composição. A frase ” Percebo que me falta o ar.”, por exemplo. Na MINHA OPINIÃO, pronomes devem ser bem pesados em um texto (já comentei isso em outro dos contos do desafio e penso que não me fiz entender). Essa frase poderia ser “Me falta o ar”, ou simplesmente (já que é uma descrição de estado de saúde), “Falta o ar”. Mas é apenas MINHA OPINIÃO.
    A narrativa em si é muito boa, principalmente a partir do início do monólogo. O texto parece crescer, modificar-se, amadurecer no conto.
    O desfecho, alguns podem considerar previsível, mas foi muito bem costurado (se bem que acho que uma interrogação ficaria melhor do que as exclamações).
    Muito bom. Quem disse que a musiquinha do Fantástico é um anúncio de fim de mundo, não sabe como é bom ler os contos desse Desafio, “ao invés de”, né?
    Sucesso.

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Informação

Publicado em 28 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.