O desconforto faz-se logo presente. Sinto as pernas formigarem como se recebessem pequenos choques. Subir todos aqueles degraus cansaram meus membros e dúvidas.
Permaneço inerte, com as costas coladas ao encosto gasto e cheirando a mofo. Não me atrevo a movimentar um só músculo. Mumifiquei.
Acostumo-me logo à penumbra que me abriga como um útero de dimensões claustrofóbicas. As horas passam lentas, sem pressa alguma, parecendo testar todos os meus fatigados limites.
Vozes ecoam pelo corredor de apartamentos minúsculos e portas desiguais. Eu teria escolhido outro dia se pudesse. Um dia menos quente, talvez uma tarde neutra e silenciosa. Se a vida pudesse esperar, teria circulado outra data no calendário.
Por sorte, ou mero acaso do caos, uma das janelas está quebrada e permite a entrada de um pouco de ar. O alívio é quase inexistente, pois tudo à minha volta parece estar tão estagnado quanto o juízo final. E eu permaneço aqui, descansando em brasas. Tudo estacionado no espaço e no tempo. Menos a dor que se encolhe em meu peito, para depois se expandir em sucessivas ondas de tortura.
O prédio, bastante antigo, ostenta uma história quase em ruínas. Situa-se na parte mais deteriorada da zona portuária. Área que circunda aquele o maior porto da América Latina, segundo o que dizia, com muito orgulho, meu velho pai.
Aos poucos, sinto o conforto dos cheiros familiares ao redor. A maresia misturada ao cheiro de bagaço de laranja, farelo de soja e açúcar a granel, indo e vindo dos armazéns.
− Volte aqui, cara!
O grito repercute pelo corredor, rasgando as paredes. O tom agudo assemelha-se ao timbre de um violino desafinado. Decerto, mais uma prostituta loira, com cabelos tão naturais quanto os de uma boneca paraguaia. Posso adivinhar sua aparência, a penúria exposta em cada passo, o perfume barato, e o sorriso amarelado pelos anos. Talvez exiba ainda um bom rebolado de carnes. Talvez seja atraente. Mas eu duvido.
Um cão começa a latir, provavelmente assustado com os gritos e o bater de portas. Intercala latidos com uivos curtos. Parece anunciar o fim, a vida tomada em seus últimos goles. A inquietação canina coincide com as circunstâncias do momento, que mansamente estrangulam o tempo.
Com algum esforço, desvio a atenção dos gritos e latidos. Trato de focar o pensamento no plano elaborado em noites insones. Minha única resolução de ano novo. Terminar com tudo.
Talvez surjam detalhes inesperados ao longo da noite. O fator surpresa faz parte de qualquer planejamento mais cuidadoso. Por isso, preciso agir com calma e precisão. Embora ainda exista o instinto natural de me preservar, sei que isso será impossível.
O cão para de latir. Emite um último e longo uivo, finalizando sua participação noturna. No entanto, o silêncio não encontra lugar para se acomodar neste pardieiro. Vozes e passos, vindos de todas as direções, confundem-se com os sons externos da vida em marginal rotina.
Ouço três batidas sucessivas no oco da porta. Como um código improvisado, uma derradeira mensagem sem presságios. Será um sinal?
Imagino rotas de fuga como se estivesse em um intricado labirinto. Mesmo mergulhado em quase total escuridão, percebo o arrastar do papel sobre a soleira. Estico-me para tentar enxergar algo além do piso gasto. Não consigo definir formas devido à pouca luminosidade e à miopia crescente. Imagino um bilhete de amor, uma ameaça de suicídio ou mesmo uma carta anônima revelando o que ainda não aconteceu. Mas acontecerá.
− Hoje não, benzinho. Preciso acordar cedo para fazer aquele exame, você sabe…
A desculpa parece atravessar a parede com suas sílabas grudentas, repletas de uma doçura improvisada. Será aquela ninfeta do 52? A voz nua e macia. O namorado murmura algo que não é possível distinguir. Uma declaração entre beijos? Ou um “vá se danar, sua piranha”?
Retomo o rumo dos meus pensamentos, concentrando-me no que pretendo fazer. Quase no mesmo instante, percebo o ritmo sincopado de batidas repetidas, tamborilando pelas paredes pouco espessas. A percussão marcante de um único compasso, repetido à exaustão. Funk, no mais enlameado estilo.
Não há tempo para lamentar o gosto musical. Nem para duvidar de minhas escolhas e, muito menos, para abandonar qualquer plano. A decisão está tomada.
Logo que pus os olhos naquela mulher, soube o que teria de fazer. Mais cedo ou mais tarde.
Elenice surgiu exibindo a combinação perfeita de juventude e atrevimento. O olhar lânguido das mulheres que sabem fazer sofrer sem revelar a mínima piedade. Grandes e sombreados olhos verdes, sempre atentos à cobiça masculina. O pescoço, de linhas longas, convidando ao lento estrangulamento. O corpo de curvas e desvios perigosos.
− Prazer, moço. Gosta de areia movediça?
A pergunta planou no ar como um enigma e assim permanece. Elenice tem consciência do que faz. Sabe como tornar um homem desorientado. Se ela não parecesse tão jovem, diria que carrega séculos nas veias.
Apaixonei-me primeiro pelos seus defeitos. Embora, agora exiba um sorriso perfeito, digno de uma herança genética extraordinária, nem sempre foi assim. Paguei por cada sessão odontológica. Paguei por tudo. Ainda pago. Mas àquela altura, não me importava com o tempo e o dinheiro gasto.
− Posso te fazer muito feliz, sabia?
A voz escorregadia como de uma gatuna. Uma ladra de intenções. Falas estudadas em algum manual de palavras cruzadas. Uma especialista em ataques sensuais, ostentando pernas e volúpia ao caminhar.
Aceitei o desafio, pois desconhecia outra opção. Mergulhei na movediça lama, afundando todos princípios e alternativas.
Penso por um instante nos meus filhos, e no neto que acabou de nascer. São o meu real motivo de arrependimento. Tento alcançar o celular no bolso de trás da calça, mas desisto. O simples esforço da respiração já me rouba as poucas forças.
Não verei mais fotos. Não haverá mais mensagens.
Enfim, vencido pela curiosidade, ou tédio, levanto-me com dificuldade. A escuridão e a pouca ventilação fazem meu corpo cambalear por alguns segundos. Lento como um gato à espreita de um roedor, caminho em direção à porta. Poucos passos, que me custam mais esforço do que supunha. Abaixo-me e pego o papel que já ensaia uma fusão com a poeira e alguma substância fétida desconhecida.
Conta de luz. Quantas como essa, eu já paguei? Nos últimos meses, perdi de vez o controle da contabilidade e o resto da sanidade. Tanto faz. Não é mais problema meu.
Já despido de qualquer curiosidade, largo a correspondência na mesa bamba e coberta de toda sorte de objetos. Por um momento, penso em desistir e deixar a vida tomar outro rumo.
Quanto mais me desnudo de censuras e vaidades, mais me camuflo em novos argumentos. Posso ainda me desviar e seguir outro destino?
O choro de uma criança corta o embalo dos meus pensamentos ao ritmo do funk invasivo. Em questão de segundos, relaciono o choro ao casal do andar de baixo. Traficantes.
Funk, choro, latidos, ruídos de saltos e sussurros elevados pelo calor da noite. Há aqui material suficiente para um filme de baixo orçamento, daqueles que recebem prêmios só por revelarem a vida despojada de encantamento.
Aqui não é o meu lugar. Nunca foi. Sei que sou melhor do que isso. Dizem que sou um homem atraente, culto, e bem-disposto para a minha idade. Mal acreditam quando digo que completarei sessenta anos daqui a uma semana. Respondo aos elogios com um belo sorriso, obra do mesmo profissional que tratou dos dentes de Elenice.
É exatamente como se apresentou: terreno instável. Nunca um porto seguro ou um chão firme sob os pés. Mas eu gosto assim. Muito mais do que deveria.
Há o sexo, claro. Se não é perfeito, aí reside o encanto da novidade. Elenice sempre foi tão franca quanto às próprias imperfeições, que se torna ainda mais sedutora. Sabe conduzir o calor das possibilidades.
Dividido entre a amante e a família, passei a me desdobrar buscando soluções para os gastos cada vez maiores. Minha mulher, exausta com a situação, expulsou-me de casa assim que descobriu o meu caso com Elenice. Traição que não fiz questão nenhuma de negar.
Enquanto procurava lidar com a minha nova situação de solteiro, cedi cada vez mais aos desmandos da amante jovem e voluntariosa. Fui assim, castigado por culpa e desejo, e me vi privado de sono e da possibilidade de um futuro tranquilo.
Como era previsível, Elenice entediou-se com o prosseguir da nossa rotina. Dizia que não havia razão para continuar atravessando aquele deserto juntos. Um dia, falou que nós dois sabíamos o que precisava ser feito. Queria que fosse tudo rápido e indolor. Pelo menos para ela.
Levei algum tempo para perceber que minha presença estava sendo enfim descartada. Cometi muitas tolices, renunciando à paz junto à família e aos amigos. Tudo fiz por ela. Todo dinheiro, tempo e esquecimento. Tudo por ela. E agora ela queria conversar?
− Eu te avisei que o negócio era assim comigo. Preciso da minha liberdade. – E sorrindo com os seus maravilhosos dentes, concluía com magistral ironia. – Não é você, querido. Sou eu.
Vadia! Tudo o que Elenice me oferecia era uma série de frases feitas. Como se tivesse ensaiado a vida inteira para aquele momento.
Observando melhor o apartamento, posso agora perceber a miséria de intenções que se apoderou da minha vida. Fiz tudo por ela. Desde o momento do encontro, jurei lealdade, entregando-me à perdição de seus braços. Se necessário fosse, a seguiria por labirintos, ou ladeira abaixo.
Vícios e mentiras serviram de passaporte para outra viagem ao lado de Elenice. Mais de uma vez, neguei previdência e bom senso. Aceitei pó e agulhas. Alimentei-me do estranho sabor da perversidade. Só mais uma vez, repetia enquanto reproduzia mentalmente uma sucessão de quadros psicodélicos.
Às vezes, tenho a impressão de que essa paixão é fruto de um delírio interminável. Logo conheci o rastejar de sentimentos vindos de Elenice. Os dias de glória se transformado em pó. Literalmente.
O dinheiro escorreu mais rápido do que o tempo pelo ralo dos desatinos. Escarnei o pouco de dignidade que me restava nos ossos. Conservei pouca vontade e este apartamento decadente.
Mofo, marginais como vizinhos, vazamentos constantes, a péssima localização. Não é propriamente um paraíso, longe disso. No entanto, aceitaria viver aqui para sempre, ou pelo tempo que ainda me resta.
Tudo o que desejo é me deixar levar pelo oceano de Elenice.
− Gosta de areia movediça?
A pergunta, feita logo no primeiro encontro, sua apresentação, seu cartão de visita, uma tatuagem de guerra, foi um alerta. Ninguém poderá dizer que ela me enganou. O perigo estava estampado naquelas palavras.
Antes do primeiro beijo trocado, antes da primeira briga, ela me alertou. Areia movediça. A senha para poder atravessar seu corpo e o inferno.
Com o decorrer do tempo, perdi quase tudo que possuía. Dia após dia, acumulava dívidas, deixando muito pouco para a família, já renegada a um plano inexistente.
Elenice dominava meus pensamentos, vida e decisões, espalhando-se pela minha vida como uma praga voraz. Estragaria tudo o que alcançasse. Mesmo durante o autoflagelo imposto, eu soube que faria tudo de novo para poder ter essa mulher por perto mais algumas vezes.
Este apartamento, por ser um imóvel que não se vende fácil, continua a me pertencer. Seu valor já sofreu vários decréscimos. Pago, vez ou outra, uma conta que vence, mas não usufruo mais das instalações precárias. Sinto que este deveria ser o meu lar agora, a ratoeira imunda, meu último refúgio. Elenice, no entanto, nega-me estadia, expulsando meu corpo e sonhos daqui.
Começo a sentir a tortura das horas abalar minha determinação. Onde está Elenice? Por que demora tanto a chegar? É pouco provável que ela adivinhe minha presença ali. Talvez nem apareça em casa esta noite. Seus horários são tão incertos quanto suas vontades.
Há mais de um mês, eu não entrava ali. Apesar de reconhecer alguns moradores e suas vidas maltrapilhas, tudo o mais me parece bem diferente.
A penumbra do entardecer empresta uma aura misteriosa ao local. Sóbrio, doente e cansado, eu já não consigo extrair daqui nada além de sordidez e arrependimento.
Sento-me novamente na mesma poltrona surrada. Meu corpo logo trata de se moldar ao móvel como se buscasse uma familiar simbiose. O gosto da repulsa aloja-se na garganta. Tusso para destravar respiração e espírito.
Morro. Tenho certeza disso.
Sinto as têmporas palpitarem e o coração disparar, quando ouço o movimento da chave na fechadura. É o som suave de uma benção noturna. A minha libertação.
Elenice entra sem muito alarde, passos leves e o perfume já gasto pela noite. Parece cantarolar alguma melodia conhecida. Levo alguns segundos, mas reconheço os primeiros compassos da canção. A nossa.
Zombaria o destino deste nosso último momento a sós? Trilha sonora noturna testemunhando o despir de Elenice. Peças de roupa tombam displicentes pelos cantos. Então, percebo que a embriaguez também a acompanha. Vinho barato e talvez algo mais.
Ergo-me, tomando cuidado para não revelar minha presença de forma precipitada. Com esforço, contenho impulsos e consigo me ocultar nas sombras multiplicadas pela sala.
Sinto meus instintos dominarem todos os sentidos. Temo tropeçar na decisão já tomada. Meus braços, doloridos pela longa espera, pesam, sem ostentar protesto algum.
− Quem está aí? − Indaga Elenice ao perceber a presença de alguém na sala.
Sorrio para mim, mesmo no escuro. Quase me deixo rir. O momento orquestrado está acontecendo exatamente como desenhei em minha imaginação. As pausas certas encaixam-se entre as tomadas de fôlego e o tremular da voz feminina. O que virá depois?
Percebo o remexer nervoso de dedos na bolsa atirada sobre a cadeira. Barulho de chaves, algum objeto metálico a se debater contra a imitação barata de couro. Bolsa vagabunda. Vadia!
− Apareça ou chamo a polícia!
Eu já previ isso também. Essa coragem estúpida, a reação de felina acuada. Penso no que virá. O repentino estardalhaço, a inevitável confusão de tons e sentimentos, e os policiais encontrando o corpo.
− Vadia! − Digo entre os dentes que, ironicamente, reluzem na penumbra.
Então me apresento, lentamente, ao mesmo tempo que Elenice acende a luz. A repentina luminosidade ofusca qualquer surpresa nos olhos dela. O instinto cobre seu raciocínio e ela mal percebe quem está a sua frente, quem a desafia e a faz tremer. Sou, afinal, o homem que sempre quis ser.
Sinto o poder. Sou dono do enredo que se desenrolará daqui em diante. Não precisarei esperar para completar meu plano com sucesso. Fixo minha atenção nos olhos verdes uma última vez, despedindo-me do momento que já se vai.
− Vadia!
A primeira bala perfura o pulmão esquerdo. A segunda rasga o coração, e se instala na coluna. Pequenos gritos seguem, sufocados por uma respiração afogada.
Os olhos dela. Só meus.
Mãos trêmulas ainda seguram a pequena pistola. Um último presente, um providencial agrado.
O corpo inerte tinge o tapete, cobrindo de carmim as fibras. A vida ganha ritmo próprio, flashes em slow motion, uma agonia silenciosa em segundos revelada.
Elenice cai de joelhos e se põe a gritar em desespero e pranto. Os gritos acordarão toda a vizinhança. Mas a mim, nunca mais.
Vadia! Fecho lábios e olhos.
Mulher que tioru tudo dele, inclusive a sanidade.
Este conto foi um dos que menos gostei, pois o achei confuso. Não ficou claro para
mim a motivação para a vingança com assassinato.
O narrador divaga muito e não chega a lugar nennhum.
Mas o autor demonstra controle da narrativa, provavelmente eu que sou incompetente
para enxergar o que está nas entelinhas.
Da série que li foi o que o menos gostei, não querendo dizer que seja unaminidade
ou que seja um conto ruim.
Não gostei por que não entendi ou me perdi nas divagações do personagem-narrador.
O conto narra a história de um homem de sessenta anos que abandona a família para ficar com Elenice. No entanto, depois de um tempo com muita curtição e muito dinheiro gasto, Elenice o dispensa. inconformado, o homem vai até o apartamento que um dia foi dele, onde mora Elenice, e a mata com tiros e depois se mata.
Bom conto. A condução é lenta, intimista, gosto de contos assim. No início achei que o cara iria apenas se suicidar, por conta de depressão, até aí o conto não havia me pegado, depois que Elenice entrou na trama a história cresceu, ao meu ver. O conto é muito bem escrito, com ótimo uso de figuras de linguagem, não percebi erro algum. Boa sorte no desafio.
Errou! Ele induz Elenice a atirar nele e morre, não ela.
Resumo: Um homem conta fatos sobre seu relacionamento com uma mulher chamada Elenice. Ele está fraco, cansado e desiludido, mas tem um firme propósito em mente. Ele fala sobre sua vida particular e descreve a mulher com detalhes. Conta que deixou a esposa e filhos para viver com a amante, sendo assim, privado de um futuro tranquilo. Com pouco tempo a amante o descarta e ele a aguarda, sem ela saber, para uma última conversa.
Comentários: Muito boa estória. A descrição do local é bem feita, o enredo tem uma linearidade atraente e mantem o leitor atento a tudo o que acontece com o personagem. O desfecho é simples, porém agrada, sem muito estardalhaço cumpre seu papel. Gostei de várias freses no texto como: “O prédio, bastante antigo, ostenta uma história quase em ruínas.” Acho que elevaram bastante o nível do conto. Pouquíssimas falhas na revisão.
Areia Movediça
Sr Destino
Resumo.
Um Conto sobre um homem que não aceita o fim de um relacionamento e resolve morrer. Escolhe para seu ato final a casa da mulher que o desprezou.
Comentário.
Texto deprimente. A Linguagem foi usada de forma a criar um ambiente cansativo, egoísta e sem saída. Perfeito.
Não consegui me solidarizar com o ser em desequilíbrio. E que crueldade fazer com que a mulher veja ele tirar a vida. O suicídio fere e culpabiliza sempre quem fica, mesmo que ocorra distante e seja algo sem carta de despedida. Por isso vejo a crueldade do ato. Pobre mulher, ter que viver com a dor de ter sido culpada do destino de alguém. Porém, se é para morrer, que seja ele. E trabalhar o final assim foi majestoso.
4,6
Resumo: homem deixando a meia idade (59) traça plano fatal para dar fim a uma vida decadente, repleta de desatinos ao lado de sua jovem e tóxica amante, finalmente tomando coragem para assumir suas más escolhas e encarar seus arrependimentos; pela última vez.
Impressões: o texto em primeira pessoa trouxe o tom de mistério e apreensão pretendidos ao trabalho, de forma eficiente. Bom vocabulário e gramática acertada contribuíram para a fluidez da leitura e forraram com estilo a narrativa crescente rumo ao climax da história que, devido à leve (porém perceptível) nuance na escolha das construções frasais finais (procurando esconder propositalmente os sujeitos das ações derradeiras), acabou revelando de forma antecipada a autoria dos tiros e, consequentemente, diminuindo o impacto (plot twist) da última cena; muito embora acredite eu que, para muitos, a agradável surpresa ainda tenha se feito presente.
Enfim, um bom trabalho; bem escrito, bem planejado e bem executado, dentro das possibilidades oferecidas pela primeira pessoa narrativa.
Parabéns!
Homem está nervoso e de variadas sensações na espera pelo assassinato de sua amante.
Técnica: 3,5
Criatividade: 3,0
Impacto: 1,5
Texto muito bem escrito, porém não consegue me prender por ser subjetivo demais. A maior parte da narrativa é uma demonstração das sensações internas do protagonista, o que me afasta da história logo no início, quando entendo que algo muito forte está por vir (previ o final muito cedo). Exceto a sacada da areia movediça, o texto não me apresentou surpresas e ficou sendo, para mim, um texto muito bem escrito, porém não cativante, visto esse bem escrito ser em sua enorme parte de subjetividades do protagonista, o que me cansa durante a leitura, consigo ler os 3 primeiros parágrafos e depois perco totalmente o interesse, tendo q reler muitas vezes pra poder continuar a leitura sem perder textos e não prejudicar quem escreveu (só li e reli, pois é necessária a crítica). O texto só me desperta novamente na parte da areia movediça, porém, logo volta no estágio linear da história.
Por todo esse cansaço de leitura e morte previsível, o impacto que o texto poderia ter em mim, ficou bem afetado, por isso uma nota tão baixa neste quesito.
Ele induz Elenice a atirar nele e morre, não ela.
Resumo:
Um homem de campana em um apto em ruínas na área portuária, revive os motivos que o levaram aquele momento. Compõem sua sinfonia: os dramas dos vizinhos próximos; um cachorro latindo r suas memórias, combustível para sua loucura. Foi uma paixão avassaladora; ela mais jovem, do tipo “perigosa”, repleta de fascinantes defeitos; ele pai de família, com netos. Não deu certo. Abandonou a família, a casa, endividou-se, foi ao fundo do poço e agora ele a aguarda para colocar um ponto final na história, com três balaços na carcaça de Elenice. Ele só não pode dizer que ela não lhe avisou.
Considerações:
Um bode velho, um capim novo; uma velha composição, sucesso de bilheterias; esta é a história que o autor nos oferece. Sinceramente é difícil para mim, tecer críticas sobre o trabalho alheio. As características dos contistas aqui, são todas, muito semelhantes quanto a técnica e a qualidade da escrita, então não consigo escapar ao chavão que tenho utilizado sem dó – “Muito bem escrito”! E este é só mais um exemplo disto. Qualquer outro comentário descambaria para uma visão particular ou gosto pessoal – eu por exemplo, nessa história apostaria mais no brega.
Ele induz Elenice a atirar nele e morre, não ela.
RESUMO: É a história de um homem adulto, já próximo da terceira idade, que além da família oficial, mantinha uma amante, Elenice. Quando a mulher descobriu a traição do marido, colocou-o pra fora de casa. O homem não se importou muito com a expulsão, pois agora estaria livre para morar com a amante. Ocorre que amante não queria ser sua mulher e não aceitou morar com ele. Com a impossibilidade de voltar para a mulher e sem o amor correspondido de Elenice, ele arquiteta um plano de acabar com a própria vida, mas ele não queria se matar, ao contrário, planejou tudo para que a própria amante o matasse, sem perceber que estaria matando o próprio amante.
CONSIDERAÇÕES: Conto bem escrito, com uma gramática impecável, mas não é um conto fácil de se ler. É necessário estar com a mente descansada e com o tempo disponível para ler mais de uma vez e absorver o que o texto quer dizer.
Arre, foi um dos únicos que entendeu o final . Obrigada pelo comentário!
Areia movediça – Sr. Desatino
RESUMO: Num ambiente inóspito, um homem maltratado relembra suas decisões, erradas e corretas motivadas por um amor doentio, até seu derradeiro fim.
COMENTÁRIO: Um conto introspectivo, detalhista e extremamente sofrido. Ante a riqueza de detalhes, é possível nos transmitir para a pele e carne do protagonista, que lamente decisões tomadas, mas sabe que não poderia ter feito diferente. O texto é muito hábil ao mostrar o que é uma relação doentia, unilateral, e o pior, a vítima tem ciência disso, mas não consegue, nem quer se livrar. Uma espécie de síndrome de Estocolmo.
Me parece que o autor estava muito focado a descrições no início, mais do que realmente na história, e assim, o início do conto me pareceu muito “mais do mesmo” uma torrente de descrições bonitas, cheias de significado e beleza literária, mas pouca função em realmente levar a história adiante. Esse aspecto é um pouco abrandado a partir do meio do conto, onde a personagem Elenice se instaura e passa a ditar o ritmo e a direção.
O final é interessante, perspicaz, e com uma reviravolta pouco esperada, porém verossímil.
Não há o que dizer da qualidade gramatical, que é um ponto forte, mas ao mesmo tempo, a meu ver, se perde nessa força, como se o autor tivesse precisado se alongar nas descrições para “engordar” o texto. Talvez esses momentos poderiam ser trocados por um pouco mais da antiga vida que o protagonista abandonou, para termos noção das coisas que ele desistiu pelo amor tóxico em que vivia.
Ainda assim, um belo conto, com um final dramático, digno de um Nelson Gonçalves.
Grande abraço!
Olá, Sr. Desatino, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu conto.
Resumo: Homem vive momento antes de seu suicídio programado, enclausurado em um velho apartamento que fora seu. Sofre, revivendo sua paixão por uma amante-prostituta, numa auto flagelação que o fez perder tudo: família e posses. Sua vingança será sua estúpida morte diante aquela que o pôs no abismo, a amante.
Gramática: Leitura correta, sem problemas gramaticais aparente.
Comentário crítico: O conto é muito bem desenvolvido em seu enredo, com uma linguagem bonita em alguns trechos com períodos de prosa/poética. Entretanto perde um pouco por enfatizar por demais suas perdas materiais, (Chega quase a citar valores). O conto enfatiza as dores de uma paixão não correspondida. Provavelmente por incompatibilidade de valores de personalidade distintas, ou teria sido por questões financeiras, já que a personagem reclama tanto das suas perdas monetárias? Só achei o desfecho um tanto trágico. Será que não haveria uma solução mais rica em valores humanos? Embora esse direito seja exclusivamente do autor. Entretanto, um bom conto.
Em uma espécie de monólogo interior, um homem reflete sobre seu relacionamento tóxico com certa Elenice enquanto se prepara para dar um desfecho em sua história com ela.
Um enredo bem linear, a despeito das reminiscências ao longo da narrativa, um narrador coerente e uma reviravolta nem tão surpreendente no final.
O que mais me agradou foi a ambientação sórdida bem construída no início do conto e essa apresentação da Elenice que acabou dando nome ao conto. Gostaria de ter visto essa “areia movediça” ocupando mais linhas do seu conto. Se bem que, pensando melhor, talvez a empatia com ela decorra justamente das lacunas na configuração da personagem…
A linguagem muito adjetivada, com farto uso de advérbios e as vezes forçadamente metafórica, travou um pouco a minha leitura, mais no início do que do meio para frente, felizmente.
Não é uma história lá muito criativa mas você conseguiu prender minha atenção em uma leitura interessante e agradável.
Desejo-lhe sorte!
Um abraço.
Inquietante. O conto investe bastante em uma experiência sensorial, com uma sucessão de parágrafos curtos que nos colocam na pele do protagonista, nos fazendo saber como ele se sente quanto ao espaço que o cerca, os cheiros e os sons daquele lugar, tudo descrito para criar um aspecto claustrofóbico e tumular. A maneira como a situação vai sendo esclarecida e rememorada, como um longo arrependimento, faz parecer que, de fato, o protagonista afunda na areia movediça. Tanto a decadência do homem como seu rancor cada vez mais evidente são perturbadores e auxiliam na construção do clímax, este alcançado com a chegada de Elenice. Há um pouco de “Capitu” – sempre estranho citar sem nunca ter lido. Não conhecemos Elenice para além das mágoas do narrador e, portanto, embora criemos alguma empatia, toda a raiva é ainda duvidosa e se mantém forte a dúvida de que aquilo resolveria qualquer coisa. Em toda uma descendência, o personagem parecera se posicionar para descer ainda mais e é sobre essa queda completa que lemos e aguardamos, representada no seu enigmático e fatal encontro com Elenice. Quem morreu? Quem disparou? Tenho minhas próprias respostas, alinhadas ao que acho melhor. Enfim, o conto é bom, mas eu o teria lapidado um pouco mais, talvez reduzido o seu tamanho, retirado alguns trechos e deixado o mergulho nas memórias e reflexões mais sucinto.
O conto é muito bem escrito, apresenta uma técnica apurada, e traz um bom desenvolvimento do personagem. Mas, sei lá, toda a lamentação do protagonista e narrador fez com que em determinado ponto eu já nem me importasse com o destino dele, talvez por ser esse perfil, o do homem de classe média, explorado à exaustão em outras narrativas. Senti falta de mais descrições e sensações, de um modo que envolvesse e me colocasse na perspectiva do personagem, apesar da boa técnica. Enfim, pode ser apenas questão de gosto pessoal, mas a trama e personagem não me cativaram.
Areia Movediça
Resumo: Um homem de sessenta anos que mantem uma vida dupla, dois relacionamentos e o fim da sua estabilidade emocional ao fazer as escolhas erradas. Elenice, a vadia, conforme narrada, parece ser uma figura exótica, do tipo que leva o homem a sua destruição. Ela vive em um apartamento pago pelo amante, lugar sujo e mal estabelecido. O homem percebe que sua vida chega ao fim com as escolhas ruins que fez. Espera a amante chegar para dar cabo de sua vida. Enquanto espera ele descreve fatos que o levaram ao fim. Quando a amante chega ela é surpreendida com a sua presença. Mas, acaba sendo morta pelo homem que parecia ama-la de alguma forma.
Ponto forte: Texto típico da realidade. De certa forma, até um tanto comum. O que o diferencia de muitos é a maneira como foi sendo conduzido. Descrições detalhadas de fatos que ligam bem o personagem ao título escolhido.
Ponto Fraco: Apesar de gostar muito de narrativas do tipo, sinto que, este tipo de drama precisa ser melhor explorado, mostrando por que o (então amante) chegou a triste condição de vida. Talvez, uma briga com sua esposa perfeita, mas que, acabou sendo traída pela vaidade masculina.
Considerações: Me chama a atenção imaginar o cenário usado na narrativa. Foi como se estivesse assistindo um filme, mas, no final, eu já sabia no que ia dar. Ou ele, ou ela, morreriam. Histórias deste tipo nos levam a tal conclusão. De modo geral, gostei. Não se trata de uma critica negativa. Quem sabe, tivesse criado uma cena mais impactante para quebrar a similaridade que teve com outras histórias.
Ele induz Elenice a atirar nele e morre, não ela.
Num ritmo lento, este conto narra a história de um homem que foi abandonado pela mulher e posteriormente pela amante. No final dá-se o reencontro dele com a amante, assassinando-a.
O ritmo desta história bem contada pareceu-me a dada altura que estava a reler ” O crime e castigo”, de Dostoiévski. A lógica é em tudo semelhante, excepto que neste caso primeiro dá-se o castigo da solidão e posteriormente o crime.
Em termos de linguagem não encontrei problemas, tal como era expectável numa primeira liga de contos. O ritmo poderia ser algo melhorado, mas o texto ficou elegante e nunca perdeu o interesse, pelo que foi cumprido o objectivo.
Ele induz Elenice a atirar nele e morre, não ela.
Areia Movediça
Resumo:
Areia movediça é uma narrativa em tempo real, em sua maior parte traduzida pelas reflexões do personagem-narrador que, em tocaia, aguarda a amante em seu apartamento num bairro decadente da suposta cidade de Santos.
Comentários:
Conto ousado em que o autor assume uma série de riscos, por vezes contornados, enquanto noutras…
Areia movediça possui bom fio condutor – ainda que prejudicado por pontuações equivocadas, construções ruins e figuras questionáveis ou desgastadas; vide, por exemplo “sucessivas ondas de tortura”(?) e “o sorriso amarelado pelos anos” – traduzindo-se durante grande parte da narrativa como um quebra-cabeças relativamente agradável.
O leitor demora a entender a ambientação da história, propositadamente ocultada e revelada aos poucos. O cenário é lentamente edificado. As alternâncias narrativas entre presente e passado se dão naturalmente, de forma quase imperceptível. E quanto ao enredo, à certa altura somos induzidos a pensar em suicídio (ainda que não deixe de sê-lo), quando de fato, o arremate contém uma vingança, um assassinato, inusitado, porém nada original. A analogia entre Elenice e a areia movediça me soa excelente, a caracterização da amante é bem elaborada e convincente.
Ponto baixo para o monólogo do protagonista narrador que me parece forçado, exagerado, com suas frases de efeito de construção questionável, metáforas desgastadas e figuras de linguagem, por vezes ineficazes, não raro, ruins. Há um quê de dramaticidade demasiadamente explícita (e até mesmo piegas) no discurso. Vale principalmente pela ousadia, ainda que infelizmente, também aqui, ao meu ver, o autor tenha sido sutilmente tragado por um virtuosismo maligno.
Em Números:
Título e Introdução: 9
Personagens: 7
Tempo e Espaço: 8
Enredo, Conflito e Clímax: 7
Técnica e Aplicação do Idioma: 7
Valor Agregado: 7
Adequação Temática: 10
Nota Final: 3,8
Observação:
As parciais, baseadas nos critérios, variam de 0 a 10, mas possuem pesos distintos na composição da nota final, que varia de 0 a 5.
O retrato da decadência de um homem. Desiludido e falido, ele revive as suas perdas enquanto espera a amante chegar para um acerto final.
TÉCNICA
– A linguagem sombria e depressora combina com o enredo.
– Com relação ao início, penso que num conto ele deve ser revelador, com uma apresentação mínima do conflito e quem sabe dos personagens. No seu caso não foi isso que vi. A apresentação do ambiente, confundindo-se apropriadamente com o estado emocional, foi longa e poderia ter sido postergada para uma fase posterior do conto. Penso que o parágrafo seguinte seria um melhor início: “Aqui não é o meu lugar. Nunca foi. Sei que sou melhor do que isso. Dizem que sou um homem atraente, culto, e bem-disposto para a minha idade… obra do mesmo profissional que tratou dos dentes de Elenice.”
CRIATIVIDADE
Não é um enredo novo (e nem te que ser) mas foi bem trabalhado, principalmente com relação à linguagem.
IMPACTO
A linguagem impacta pelo “peso”, pela angústia crescente e que marca a própria história do personagem.
Como já disse, o início é pouco revelador e gera um pouco de enfado.
O final não me surpreendeu, mas foi bem montado, deixando uma certa dúvida de quem morreria. Foi bom o final.
Parabéns
Olá, Sr Desatino!
Seu conto está muito bem escrito, com cada palavra perfeitamente em seu lugar, muita técnica. Imagino que tenha sido sua intenção dar esse tom pesado, moroso, angustiante ao conto inteiro, claustrofóbico como a areia movediça mesmo, foi muito eficiente nisso. Entretanto, eu não gosto desse estilo monocromático, tipo 50 tons de desespero, angústia, arrependimento, miséria… Pra mim faltou uma pitada de luz, alegria, encantamento. Gosto mais das misturas de cores. Em todo o caso, é um conto muito bom para quem aprecia o estilo. Boa sorte!
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado (ou tentativa de, hehehe): drama
Resumo: os últimos momentos de um homem que, após ter a vida destruída num romance toxico com uma amante, perder sua familia e tudo que tinha, decide se suicidar em sua frente (o que só descobrimos no fim, pois o conto mantém um suspense sobre quem ele matará)
Comentário: cara, sendo totalmente sincero, achei que o conto tá exagerado na carga dramática, o que prejudicou minha conexão com o conto/protagonista. Mas vamos por partes.
Primeiramente, temos o enredo. Pelo excesso de divagações, acabamos demorando pra conseguir definir um enredo. Só comecei a ter uma noção do que aconteceria do meio pra frente. Porém, logo no quarto parágrafo, lembro de ter falado pra mim mesmo em voz alta: ele vai se suicidar por causa de uma mulher. Não sei dizer bem pq percebi isso, mas acho que pela impressão de inferno que a vida dele transmitia. Tudo era tão terrível e sofrido, que parecia que ele estava queimando, uma sensação de inferno mesmo, sabe?
Do meio pra frente, começa a ser criado o mistério, que conduz o enredo, sobre quem ele mataria. Porém, eu meio que tinha criado uma convicção de que era ele quem morreia, já. Então o desfecho acabou não me impactando tanto.
Por outro lado, o conto tá super bem escrito. Dá pra perceber que você domina a escrita, tanto na parte técnica e gramatical, quanto no uso de metáforas e metalinguagem. Acho que o problema no conto mesmo foi o tom excessivamente dramatico e de total sofrimento, sabe? Começou a me cansar, pq meio que toda frase tinha muitos adjetivos e algo terrível, principalmente os primeiros parágrafos.
Ah, outra coisa que pensei durante o conto é que, apesar de tudo que falei acima, você retratou uma situação muito real! Conheço casos de homens que eram casados, com família, filhos e bom emprego, e de repente se viram sem nada graças a um caso como esse. É realmente algo muito triste e real. Acredito que o desfecho é muito real nesses casos, tbm.
Desculpe a sinceridade no comentário, mas acho que esse conto teria realmente me tocado muito mais se o peso dramático fosse um pouco menor, até pq foi isso que entregou o desfecho pra mim.
De qualquer forma, um conto que demonstra alguém muito maduro na escrita. Parabéns e boa sorte!
Ele induz Elenice a atirar nele e morre, não ela.
Conto muito bem escrito, parabéns. Gostei do desfecho, apesar de imaginar desde o início que a sua intenção era realmente o suicídio… mas isso não é um demérito. Gostei bastante do texto.
Destaque para este parágrafo, apesar de eu ter gostado de muitos: “O grito repercute pelo corredor, rasgando as paredes. O tom agudo assemelha-se ao timbre de um violino desafinado. Decerto, mais uma prostituta loira, com cabelos tão naturais quanto os de uma boneca paraguaia. Posso adivinhar sua aparência, a penúria exposta em cada passo, o perfume barato, e o sorriso amarelado pelos anos. Talvez exiba ainda um bom rebolado de carnes. Talvez seja atraente. Mas eu duvido.”
Obs: esta não é uma leitura obrigatória para mim neste desafio, por isso não há resumo. É apenas a minha breve impressão sobre o texto.
Resumo: Um homem espera pela amante no quarto dela para se despedir.
O que achei: A história é boa, mas sempre que me via lendo uma palavra complicada, dessas que não costumam estar no reportório comum, via-me jogado para fora da história.
Tentei me convencer de que isso era próprio da personagem, mas mesmo assim…não me convencia. Afinal: quem usa palavras como “insone”, “sincopado” e “volúpia” num papo franco com seu semelhante (ou com seus botões) hoje em dia?
Mas fora isso, o resto está legal. Principalmente o final.
Eu esperava um estrangulamento, não um suicídio. Por isso fiquei surpreso. Positivamente.
Obrigado por este conto.
Ele induz Elenice a atirar nele e morre, não ela.
AREIA MOVEDIÇA- Resumo- Homem larga a família para ficar com a amante. Tempos depois, quando ela o manda embora, ele retorna ao apartamento quando ela não está e fica a espera para matá-la.
COMENTÁRIO- A história tem um enredo bem curto; homem expulso pela amante, retorna ao apartamento para matá-la. Um crime de feminicídio. É sobre esse curto enredo que o texto é desenvolvido, construído. Até eu entender o que estava acontecendo, tive que ler muitas frases que discorriam sobre o mesmo assunto e não explicavam nada, quer dizer, a maioria das frases só deram extensão ao texto. Foi uma opção do autor, falar horas sobre um homem esperando no escuro. No início achei que ele estava ferido, moribundo, preso naquele lugar. A introdução no assunto foi muito longa. A escrita é muito boa, o autor tem capacidade para escrever um romance, mas num conto é melhor ir direto ao assunto. A conclusão é rápida, explica tudo, e é previsível, não impressiona, não é novidade. É como acaba, quando uma das partes de uma relação amorosa, resolve se vingar.
O protagonista aguarda a mulher pela qual abandonou a família e provocou sua decadência física e moral. Era proprietário do apartamento, mas foi expulso pela amante. Distrai-se com seus pensamentos e a movimentação natural no prédio, sem perder o objetivo: ele induz a mulher atirar nele e morre.
A areia movediça, do título e como a personagem se retrata, conota o perigo de se envolver com coisas de que não se tem controle, por escolhas imprudentes, que sobrecarregam as emoções, um possível perigo.
O relacionamento abusivo de Elenice e o Sr Desatino, portanto, é o que move a trama. O tom maniqueísta adotado pelo protagonista para construir a personalidade da amante é compreensível, já que ele é o narrador e quer se transformar em vítima.
Até as últimas palavras, o leitor tem dúvidas sobre se o personagem vai matar ou ser morto. A dose de suspense foi bem acertada, ao transformar culpa/inocência em sugestões mais sutis.
No final, é um drama com bons acertos. A história é contada em flashs que nos situam tanto no começo e no desenrolar do relacionamento do casal até os detalhes de suas famílias e o momento do crime. Os flashs funcionam, criando um interessante mosaico da vida do protagonista e como ele é levado a buscar a morte de forma planejada. Essa estrutura fez-me lembrar a série sueca homônima, da Netflix. Gostei.
Parabéns pelo trabalho consistente. Boa sorte na Liga. Abraço.