– Desligue o telefone! – exibindo a arma, o amigo de Aísa ordena ao motorista.
– Boa noite, Renan! – minutos antes, ela o cumprimentara e mais uma vez ocorreu ao condutor que toda viagem começa bem quando o saúdam pelo nome. Melhor ainda se a passageira é bonita e se senta ao seu lado.
Essa preferiu sentar-se trás. Ainda assim, ele pôde distinguir as sutis notas que compunham seu perfume. Tudo lhe parecia bem, até tocar em “iniciar viagem” e verificar o destino.
– Moça, perdão. Espero que você compreenda, mas São José, assim tão tarde, não vai dar…
– Compreendo sim – disse Aísa, interrompendo-o com um tom indulgente –, na verdade, já esperava por isso.
Renan ainda não havia arrancado, então desligou o carro e destravou as portas esperando que a passageira desembarcasse.
– A essa hora você não traz mais ninguém de lá, não é mesmo?
– Pois é… Que bom que você compreende. Poderia cancelar, por favor?
– Ainda não.
Com expressão grave, o condutor virou-se para trás:
– Oi?
– É que, como eu lhe disse, já esperava mesmo por isso. – Aísa emendou. – Diga-me uma coisa, e se eu lhe pagar o retorno?
Ao invés de responder, o motorista consultou o aplicativo e verificou que a passageira optara por debitar a corrida no cartão de crédito.
– Desculpe a indiscrição, mas o que você vai fazer naquele fim de mundo a essa hora?
Ela sorriu obliquamente.
– Evento ao ar livre com DJ famoso – respondeu, após breve pausa.
Incrédulo, Renan a examinou pelo retrovisor. Distinta, bem vestida e sobriamente maquiada. Decerto já passara dos trinta, mas mesmo não lhe parecendo uma balzaquiana clássica, não pôde imaginá-la numa festa rave.
– Isso, mais o pagamento no cartão, deve fazer sua viagem valer a pena – disse ela enquanto, atravessando com o braço o limite imaginário entre passageiro e motorista, estendia-lhe uma cédula graúda.
– Sendo assim… – respondeu ele, disfarçando o entusiasmo enquanto recolhia a nota.
– Apenas precisaremos fazer uma paradinha para pegar um amigo, tudo bem?
– Basta me avisar.
– Aviso sim.
– Você está confortável aí, quer que eu ligue o ar?
– Não precisa, obrigada. Eu prefiro assim, só uma fresta na janela… Mas o que você está ouvindo, jazz? Poderia aumentar um pouquinho?
Durante os primeiros minutos da viagem, as palavras não lhes fizeram falta e a música só fez amplificar o silêncio, até que ela resolveu quebrá-lo:
– Há quanto tempo você dirige profissionalmente?
– Uns seis meses… – ele mentiu, há dois anos o magistério não lhe garantia renda suficiente para pagar as contas e ajudar Denise.
– Pois já deve colecionar algumas histórias.
– Algumas.
– A viagem deve ser longa, você se importaria de me contar uma?
– Bem… – o motorista coçou o queixo como quem folheia um cardápio – certa noite busquei uma passageira que, por alguma razão, me lembrou minha filha…
“Você não adicionou o destino, né?” Disse eu, enquanto manobrava. A moça, saída de um condomínio, havia embarcado com a ajuda de outra, aparentemente mais velha, a qual recomendando-me que cuidasse da amiga, fez ainda um sinal às costas dessa, dando a entender que a colega havia bebido. Menos mal que então ela trazia consigo uma lata de refrigerante providencialmente munida de canudinho.
“Para casa, moço!” Disse-me, depositando a latinha aqui, nesse mesmo suporte. Eu então, desengatei a marcha, desacelerei e puxei o freio de mão. Virei-me e encarei a mocinha ao meu lado. Como sempre, eu estava de bom humor e, tal qual às vezes faço com meus alunos, esperei que meu sorriso falasse por mim. Ela não demorou a se dar conta: “Desculpe, o senhor não tem obrigação de saber onde moro…” Disse, olhando-me constrangida. Alarguei o sorriso, descartando aquele pouquinho de ironia. “Só um minutinho, já vou inserir aqui.” Ela completou.
E enquanto a passageira, com dificuldade, tentava adicionar o próprio endereço no aplicativo, eu reparava no tipo. Franzina, não mais que vinte anos, olhos clarinhos, cabelos quase vermelhos e o charme de umas poucas sardas no nariz. Biótipo um tanto raro na nossa região, você há de convir. Ademais, o sotaque… Bem, nesse ramo, reconhecer sotaques é uma espécie de passatempo social, e o dela não parecia ser mesmo daqui.
“Vamos agilizar? Permita que eu adicione pra você.” Propus, ante a dificuldade dela em digitar. Bruna – acho que era esse o nome – contou-me que nascera no Sul. Filha de militar, a família vivia se mudando, até que vieram para cá. Entrou para a faculdade, arranjou emprego e, quando o pai foi novamente transferido, ela decidiu ficar. Alegou-lhes não suportar mais o frio lá de baixo, mas me segredou que queria mesmo era livrar-se do julgo do pai autoritário. Na verdade, exceto por me deixar apreensivo com seus pequenos espasmos nas raras vezes em que eu freava ou acelerava mais bruscamente, a menina não parecia tão mal.
– Qual é mesmo seu nome, Aísa? Moira? Aísa Moira! Diferente… Você tem filhos, Moira? Pois eu tenho, uma só. E acho que mesmo ela não morando comigo – a mãe de Denise e eu somos divorciados –, não a deixaria mudar-se sozinha para uma metrópole distante. Mas afinal, o que é que estou falando, né? Ela já é maior de idade – cursa medicina, sabe? – então, mesmo não sendo nenhum sargento, só me resta rezar.
Mas enfim, a passageira – sim, realmente se chamava Bruna –, contou-me que teria um plantão de doze horas no dia seguinte. Bem, era sexta-feira, um pouco depois das vinte e duas, então, não apenas por cortesia, eu disse que ela não parecia estar tão ruim e recomendei-lhe que, chegando em casa, tomasse bastante água e fosse logo dormir. O sábado não seria fácil, mas ela certamente sobreviveria.
A conversa fluía. Além de carismática, a garota era bem articulada – ou talvez só estivesse tão falante devido às cervejas que havia tomado no churrasco da amiga – e então, estranhamente eu me peguei falando da minha vida pra ela, quando o habitual, você deve saber, é o contrário, ou seja, o passageiro nos tomar por psicólogos.
Mas, de volta à história, em dado momento, o celular tocou. Ela pediu licença e atendeu. O rapaz claramente chamava de uma festa, pois berrava ao telefone, de maneira que não pude deixar de ouvir a conversa toda. O engraçado é que, apesar de eu haver baixado o volume do rádio tão logo ela pegou o aparelho, Bruna também gritava. Resumindo, o amigo a intimava a comparecer imediatamente ao aniversário dele. Muito polidamente, ela alegou que já vinha de um churrasco, que havia bebido e teria o plantão no dia seguinte. Mas o cara insistiu tanto que Bruna me pediu para alterar o destino da viagem.
Claro que não achei legal, mas o que eu poderia fazer? Apenas me perguntei se, uma vez no lugar dela, Denise teria sido mais assertiva. No entanto, para o meu alívio, mal rodamos umas quadras e a passageira me pediu para retomarmos o rumo de sua casa. Eu a parabenizei, disse que aquela sim era uma decisão madura e acertada. A menina me sorriu, mas não disse mais nada, seguiu viagem mexendo no telefone que logo voltou a tocar.
– Exatamente! Era o tal carinha outra vez. Ricardo! Lembro agora dela o ter chamado por esse nome. Imagino que nessa fase da vida todos tivemos um ou dois “Ricardos” sempre prontos a nos tentar por caminhos tortuosos, não é mesmo?
Àquela altura, Renan e Moira encontravam-se num trecho de rodovia ladeado por galpões, já todos fechados. Aísa, ou Moira, Aísa Moira, interrompendo a narrativa, pediu-lhe que encostasse. O tal amigo os aguardava em frente a um barracão industrial. Rapaz mais jovem que ela. Alto, magro, malares salientes e barba por fazer. Desafiando a noite quente, trajava jaqueta de couro e suéter de lã. Embarcou após cumprimentar o motorista com um grunhido. O condutor não se importou, estava acostumado à apatia de alguns passageiros. Provavelmente um motociclista sem capacete, pensou consigo. Não lhe deu maior atenção e retomou a história. O moço acomodou-se no banco da frente, olhou-o uma vez mais e contraiu os olhos, como se tentando encontrar o fio da meada.
– Aísa, tanto o cara insistiu, que a menina cedeu: “Moço…” Sim, já sei, toca pra festa! Disse eu, sem disfarçar minha contrariedade. E então, quadras adiante, adivinha? Sim, ela desistiu da festa e me pediu para direcionar outra vez pra casa. Detalhe: a festa do suposto amigo e a casa de Bruna ficavam em sentidos totalmente opostos. Pois é, afinal, do que eu poderia reclamar, já que receberia por cada minuto e quilômetro rodado?
Como você já deve ter deduzido, o cara não tardou a ligar novamente. “A festa está bombando aqui, você já está chegando?” Olha, confesso que a voz dele já estava me aborrecendo. Concluí que se a festa estivesse mesmo boa, ele não ligaria a cada cinco minutos, mas não comentei.
E assim, seguimos viagem, ela toda indecisa e ele cheio de argumentos: “Venha, depois te levo de moto!” Disse o talzinho, e eu imaginei o quão bêbado ele estaria na hora de levá-la. “Você pode dormir aqui.” Propôs, e então não tive dúvidas, ele queria mesmo era se aproveitar da garota. Resumidamente, Aísa, a ideia de que Denise também estava à mercê de sujeitinhos como aquele foi me irritando, irritando…
À certa altura, ainda íamos em direção à casa da menina, quando ele ligou mais uma vez. Entretanto, tão logo ela atendeu, surpreendi a mim mesmo: “Bruna, pode dizer pro seu amigo que o motorista não vai mais alterar o destino e que agora você está indo pra sua casa! Pra sua casa, entendeu?” Eu disse em alto e bom tom.
Enquanto o segundo passageiro apenas encara Renan com ar de reprovação, a gargalhada de Aísa interrompe a narrativa.
– Jura?
– Juro. Contando agora, soa engraçado, mas não foi. Fiquei tão perplexo quanto ela ou você, e esperei que a menina me soltasse o verbo. Quem eu pensava que era para me meter na vida dela? Mas não, talvez até por questão de formação – afinal, ela era filha de militar –, Bruna não me respondeu, ao invés disso, falou pro amigo ao telefone: “Você escutou o moço, né?”
Nem ele esboçou qualquer outro argumento, disse boa noite e desligou. O celular dela não tocou mais. Ao chegarmos, precisei ajudá-la a livrar-se do cinto. “Muito obrigada, moço. Foi realmente a melhor decisão.” Disse-me com olhos baixos, acendendo um cigarro tão logo deixou o carro.
Eu ainda fiquei um tempo parado lá, até que ela entrasse.
– Desligue o telefone! – o suposto amigo de Aísa ordena ao motorista, como se estivesse apenas esperando a história acabar.
– Oi? – Renan responde.
Responde, mas não se mexe. Enquanto o braço armado treme, o braço ao volante enrijece e o próprio tempo parece desacelerar.
– Não ouviu, não? – vocifera o rapaz – Deixa comigo – complementa para o motorista ainda embasbacado –, mas ao menos vê se olha pra frente, idiota!
E então, com a mão livre arranca o celular do painel e atira-o pela janela entreaberta. Num relance, ambos ainda vêem pelos retrovisores o aparelho estilhaçar-se sob as rodas do bitrem que, como paquiderme desembestado, bufa na traseira do carro.
– Agora acelera, imbecil, ou os próximos seremos nós! – declara gargalhando, enquanto habilmente pula para o banco de trás.
Recuperado do estupor momentâneo, o condutor troca de pista e acelera até o limite da via. Agora, tendo ao seu lado o indivíduo, Aísa assiste a tudo com indiferença frívola.
O rapaz se acomoda atrás de Renan e, percebendo que o motorista o sonda pelo espelho, encosta o cano em seu ouvido:
– Olhe apenas para frente e dirija.
O condutor obedece. Não está propriamente chocado, já fora rendido antes, mas dessa vez há uma energia sinistra no ar, algo como um déjà vu.
– Conte-me mais uma história, Renan! – pede Aísa, metros adiante, como se tudo transcorresse normalmente.
– Oras, e vocês acham que há clima pra isso? Me poupem! – o motorista resmunga, claramente irritado.
– Sobre ele, não sei, mas eu acredito sinceramente que contar outro caso lhe ajudará a relaxar um pouco.
– Pois não vou contar mais caso nenhum.
– Cara, você está falando com quem? Tá doidão? Presta atenção na estrada aí! – brada o rapaz, levantando o braço de maneira que o revólver se faça visível no retrovisor.
– Fique tranquilo – diz Aísa –, ele não vai atirar em você, pelo menos não enquanto o veículo estiver em movimento.
– O que vocês querem de mim, afinal? Levem logo o dinheiro. O carro, um de vocês mesmo pode dirigir, mas me deixem ir embora. Tenho uma filha…
– Cara, dirige de boa, aí. Vou te liberar quando eu quiser e se eu quiser, estamos entendidos? – diz o marginal, dando uma leve coronhada em sua nuca.
Intimidado, o motorista se cala, até que:
– Renan, você leciona o quê? Conhece mitologia grega?
– Mitologia, a essa hora? Qual é a de vocês? Que papo é esse?
– Então meu nome não lhe lembra nada… Pois sou a primogênita das moiras, e essa noite vou cortar o fio da vida a um de vocês, ou aos dois, isso nós ainda veremos.
– Cara, você está mesmo doidão! Motoristas de aplicativo são que nem caminhoneiros, também costumam cheirar uma, às vezes, não é mesmo?
– É você, Ricardo, o amigo de Bruna! – exclama o motorista, finalmente reconhecendo a voz da outra noite.
Em seguida, atinando com a bobagem que acaba de fazer, dá uma guinada para esquerda, jogando o carro contra a mureta.
O que se segue é uma mistura de ruídos. O baque e o estampido. A gargalhada e o palavrão. O gemido e os estilhaçar dos vidros. O jazz no rádio e a buzina com seu interminável refrão… Como se controlados por um dimmer, o som e as luzes, o motorista e os passageiros, tudo vai esvanecendo, até que ele próprio apaga.
Ao acordar sobre o volante – a buzina ainda grita, o rádio ainda toca -, Renan levanta a cabeça, abaixa o som e tateia cuidadosamente o corpo com as mãos. Nada quebrado, exceto o carro. Procura pelos passageiros no banco de trás, mas encontra apenas Ricardo que, sem o cinto, parece morto após haver acidentalmente disparado contra si mesmo. Desesperado, o condutor abandona o automóvel e sai correndo pela penumbra do acostamento. Para, quando algum raro veículo se aproxima. Acena, grita por socorro. Ninguém sequer desacelera.
Após cansar-se, segue apenas andando, até que os vislumbra no sentido oposto da via. Dois vultos semi-iluminados por um par de faróis distantes. Aísa, totalmente nua, conduz o moribundo Ricardo pela mão. De repente, como se o pressentisse, ela estaca em meio ao asfalto. Vira-se e, demoradamente, encara o motorista, paralisando-o com seus olhos vazios e rosto desfigurado. Finalmente os faróis o alcançam. Um caminhão encosta, o meu.
Claramente perturbado, esse pobre diabo tremia ao me implorar por uma carona até o próximo posto policial. Acolhi-o e ele adormeceu ainda há pouco, logo após me contar essa história, não o incomodemos. Mas e você, qual é a sua história? O que fazia sozinha na estrada a essa hora?
Olá Maria,
O conto tem uma premissa interessante, histórias de um motorista de aplicativo. Daí pode sair qualquer coisa.
Entretanto, achei o texto um tanto quanto confuso. Muitos nomes, muitos personagens, em muitos momentos, não sabia quem falava o quê.
Outro problema que me atrapalhou demais a leitura foram as súbitas mudanças de narrador. Da primeira, para a terceira pessoa, depois voltava para a primeira, eu já não sabia mais o que era história e o que era a história dentro da história.
Há algumas palavras e pontuações que estão empregadas da forma errada, e também me submergiram da história, mas vou deixar para colegas mais capazes apontarem.
O final seria muito interessante, mas o enredo em momento nenhum deu pista de nada sobrenatural e de repente, aquele final. Achei meio fora do tom, apesar de ser bom.
Neste conto, creio que o principal problema foi a confusão. Creio que mais algumas revisões, em voz alta ou mesmo um leitor beta poderia ajudar a resolver esse problema.
Grande abraço!
Resumo: um motorista de aplicativo, estilo Uber, recebe como cliente uma misteriosa moça que, minutos depois, o rende com a ajuda de um amigo.
O forte do conto é o clima de suspense, conseguindo sustentar a trama a partir de diálogos (o que não é fácil), criando certo drama, questionamentos ao leitor, ação e terror. Tudo flui muito bem e naturalmente. Em questão da escrita, há uma liberdade em usar pontos de vistas diferentes sem separação. Então ora temos o ponto de vista do Renan, o motorista, ou do narrador que descobrimos ao final do conto. Confesso que me confundiu um pouco no início, mas depois consegui me localizar. Ao fim, temos um mistério para resolver, deixando o leitor também para interpretar a história, juntar os pedacinhos e a mitologia, lembrar das Moiras ou Parcas que tinham o controle sobre o destinho dos homens.
🗒 Resumo: um motorista de aplicativo inicia uma corrida com uma mulher misteriosa. Conta a história de um rapaz assediando uma jovem. Um rapaz entra e o ameaça com uma arma. Era o mesmo assediador e a mulher era uma moira, que finaliza a vida das pessoas. O carro bate e o jovem morre, o motorista sobrevive e vê a moira levando o jovem. No fim, um caminhoneiro o encontra, mas parece ver a moira também.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): a história contada é interessante e a estrutura não-linear é sempre bem-vinda. Falta só estruturar melhor essas diversas mudanças de narrador (no início é um narrador externo, depois uma história do Renan e, por fim, do caminhoneiro), pois está um pouco confuso.
Ainda sobre narradores, a parte narrada pelo Renan poderia ter mais trejeitos dele e não parecer tanto com a voz do autor (quem diz “ademais” no meio de uma conversa?). Seria legal, também, uma interação com a personagem para tirar essa sensação de narração.
Além disso, o Renan não teria, com tamanho choque, conseguido contar a história completa para o caminhoneiro no final (“logo após me contar essa história”). Talvez fosse melhor continuar com o narrador externo, sem passar a narração para o caminhoneiro
Ou seja, o conto é bom, mas precisa de alguns ajustes para funcionar completamente.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): é boa e com boas descrições. Só faltou mesmo melhorar essa parte da troca de narradores, como disse acima, e fazer os diálogos parecerem mais naturais.
▪ Essa preferiu sentar-se *atrás*
▪ Tempo verbal estranho: arranca o celular do painel e atira-o pela janela (até aqui o texto estava sendo contado no passado)
🎯 Tema (🆓️): cotidiano 🚗 / mitologia 👹
💡 Criatividade (⭐⭐▫): é um tema que tenho visto sendo abordado com frequência, mas o recheio deixa um gostinho de criatividade.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): o conto é legal e a história também. O impacto final seria bem legal se fosse um pouquinho só menos confuso.
RESUMO:
Motorista de aplicativo conta história para passageira, sobre uma noite em que uma garota ficou refazendo o caminho várias vezes, indecisa se ia à festa ou voltava pra casa.
Entra um amigo da passageira e eles ameaçam o motorista. Esse amigo era o rapaz que convidou a garota da história pra festa.
O motorista faz uma manobra brusca, o rapaz morre. Um caminhoneiro o encontra (o motorista, não o rapaz morto) e descobrimos que era ele o narrador e está dando carona para a passageira (a de hoje, não da história) do motorista de aplicaticvo e na realidade era a Moira da mitologia, ou alguma outra entidade sobrenatural relacionada.
COMENTÁRIO:
Os diálogos são bons, revelando um(a) autor(a) de técnica apurada, mas a história é muito confusa. Tem história dentro de história, revelação de narrador (trocando terceira pra primeira pessoa), e, principalmente, fatos sem qualquer conexão, ações sem qualquer motivação e um cenário inverossímil.
Eu uso muito pouco esses aplicativos, mas os caminhos são definidos antes, não? Só aí já não teria a surpresa/recusa com o destino logo no começo, nem o vai e volta (repetitivo além da conta, por sinal) da Bruna.
Por que a Moira queria ferrar o taxista? De todas as histórias que ele poderia pensar, foi se lembrar logo da que tinha relação com o outro passageiro? Ele reconheceu a voz do cara ao se lembrar da ligação que outra pessoa (Bruna) escutava? Houve influência sobrenatural da Moira para essa coincidência? Por que Rafael queria se vingar? Estava sob domínio da Moira?
Meu Deus, e como esse caminhoneiro sabia de tantos detalhes?
Enfim… um conto bastante aquém do potencial mostrado em trechos isolados.
NOTA: 3
Resumo: Renan, um ex-professor, motorista de aplicativo é sequestrado por uma mulher, Aísa, e seu comparsa Ricardo, que é reconhecido por ele depois como o amigo de uma passageira sobre a qual ele contava uma história à Aísa, de outra passageira, que pedira para ir numa rave mas que acabou não indo se encontrar com o tal amigo Ricardo. Mesmo com o sequestro, Aísa quer saber como acaba a história. Mas não há clima. O motorista dá uma guinada e bate na mureta, desmaiando. Ricardo está morto, após ter disparado contra si, e Aísa segue como Moira, nua, pela estrada. O narrador, caminhoneiro que o socorreu, na verdade conta uma história para uma caronista que estava sozinha na estrada, e que julgamos ser Aísa.
Método de avaliação: “Análise Jacquiana”
Receita: um thriller de sequestro com uma história dentro de outra história, dentro de outra história.
Ingredientes: encontros fortuitos, vingança e uma pitada de mistério grego.
Preparo: personagens medianamente desenvolvidos, ainda que suas motivações não estejam bem claras. Muita coisa fica na mão do destino e do acaso.
Sabor: Mais ou menos. Se não é memorável, também não é esquecível, tem o mérito de se diferenciar das outras histórias desse grupo.
Frases motivacionais (quase aleatórias) do Eric Jacquin (ou coisas ele possivelmente diria) : “Parece que está fazendo a autópsia do prato.”
App Driver (Maria André Khalil) (2,8)
Resumo: Um relato de um acontecido sobrenatural, com pitadas de “além da imaginação” e Creepy Pasta.
Preciso confessar que no inicio do conto lembrei-me do 1Q84 do Haruki Murakami, quando a protagonista, Aomane, pega um taxi e vai batendo papo com o motorista. Enfim, as similaridades param por ai.
Então, não curti a jornada não. Achei tudo meio caótico, narrado no presente, depois no passado, construído com diálogos pouco criveis, no final descobrimos que é um caminhoneiro narrando história dentro da história num estilo causos de mistério. Tem um “ademais” em uma fala, só faltou um “outrossim”.
Revendo esse trecho, é possível perceber a falta de verossimilhança, porque é um caminhoneiro contando uma história que ouviu de alguém que contava uma história para um terceiro, soa falso em razão de todas as vozes que estão misturadas. “Como sempre, eu estava de bom humor e, tal qual às vezes faço com meus alunos, esperei que meu sorriso falasse por mim.” É o tipo de destaque que um terceiro contador jamais faria, aliás só se ele fosse um savante.
No que diz respeito a trama, achei tudo meio rocambolesco, sem sentido, com lição moral e mitologia grega meio que gratuita. Reconhecer a voz do cara que ele escutou por celular é muito forçado, coincidências fazem parte da vida, mas quando surgem assim, sem preparo, ou seja, gratuitamente, tira toda a credibilidade da história para o leitor. Uma sequência de eventos meio inusitada, toda meio aleatória. O Ricardo é amigo da Deusa, está armado?! Até então o cara é só um mala, tanto quanto o motorista abusado, Moira está vestida, depois aparece pelada?! Esse diálogo é… “então meu nome não lhe lembra nada… Pois sou a primogênita das moiras”, “ah claro”, deveria ter respondido o motorista com essa revelação de que agora tudo faz sentido,
Sinceramente, fiquei meio boiando com tudo. Achei até interessante o final no estilo meio creepypasta, mas infelizmente não mudou minha percepção.
De qualquer modo, espero que outras pessoas possam curtir mais essa viagem, comigo não funcionou.
Renan, motorista de aplicativo, recebe uma mulher em seu carro, Aísa. A corrida, para um destino afastado, o desestimula, mas ela o convence a não cancelar o serviço. Durante o caminho, ela pede que ele conte uma história. Eles param para buscar um amigo de Aísa. É um assalto. O que Renan não esperava é que Aísa era uma entidade mitológica que decidirá sobre a continuidade de sua vida ou a do assaltante.
Maria André, seu texto tem muita qualidade. Dá pra perceber que o seu nível é de Série A, se não veio de lá, deverá participar do Olimpo em breve. Sua narrativa está bem construída, você utiliza bem elementos que prendem a atenção do leitor. Iniciar o conto com o anúncio do sequestro, quebrando a cronologia, é uma boa forma de fazer isso, deixando, a partir dali, a informação de que algo ruim vai acontecer com nosso herói, Renan – aliás, eu acho que vi uma brincadeira com Choque de Cultura aí, Rogerinho… Realmente, é um recurso importante. Porque, sinceramente, a história que o motorista conta para Aísa é uma história bem morna, né? Acho que ela estava esperando algo mais engraçado, não sei. A narrativa da Bruna não empolga, ela poderia colocar em risco o conto se não houvesse aquela tensão lançada no início do conto, o anúncio do assalto.
Mas chega o assalto e a história acelera o ritmo – talvez até com a autora pressionada pelo limite de caracteres. E você se sai bem com essa pressão – a história da Bruna poderia ser mais curta, mas não compromete. O desfecho do Ricardo é um pouco afobado, mas a razão é nobre: trabalhar um fim do conto, que é inserir a história dentro de outra história. Ideia muito boa, Maria André, finaliza bem o conto, passando para o leitor imaginar o que vai ocorrer a partir dali. A autora está de parabéns, desejo sucesso no desafio e acredito que será um dos líderes da Série B.
O surpreendente que não surpreende muito.
Resumo: Renan é um motorista de aplicativo. Numa noite, ele decide levar Moira para uma festa, mesmo bem longe, e se distrai contando histórias de outras viagens. Quando pega outro passageiro, amigo da menina que levava, é rendido e passa por uma experiência sinistra. Moira estava brincando com os dois, decidindo seus destinos.
Querida autora, no fundo, esperava algo surpreendente na história. Pesquei o nome da menina e fiquei esperando por algo que provasse que era apenas uma paranoia minha. Não foi o que aconteceu. A Moira era mesmo a Moira da Mitologia Grega. O problema é que você ficou um tempão na parte da Bruna, pensei que teria um peso maior, mas a única relação é que o rapaz que a importunava era o outro passageiro. Uma descoberta nada surpreendente. E uma coincidência muito chata que ele tenha decidido contar a história que o rapaz estava envolvido para a entidade que decidido brincar com ele. Muito conveniente. Muito artificial e maquinal.
A escrita está muito boa, porém. Gostei da organização do texto, a forma como você contou a história da Bruna, sem colocar em caixas de diálogos. Você conseguiu ser dinâmica. E isso ajudou muito na história. O conto está longe de ser ruim, só não brilha, mas isso é normal. De cinco contos que escrever, 4 são medíocres. Alguns autores são extremamente talentosos, mas eles são um ponto fora da curva, haha.
Enfim, esperava um pouco mais, pois você é bem hábil.
Resumo: Renan, motorista de aplicativo, após insistência da passageira mediante pagamento extra, decide fazer a viagem, mesmo para um lugar perigoso. No meio da viagem, Renan pega mais um passageiro, Ricardo, possível amigo de Aísa, a passageira. O novo passageiro, aponta uma arma para o motorista e o ameaça, enquanto Aísa age como se nada estivesse acontecendo. Em um acidente, Ricardo morre e Renan o vê sendo puxado por Aísa, totalmente nua e com o rosto desfigurado. Ele é resgatado por um caminhoneiro que conta essa história para outro passageiro misterioso.
Hahahaaha! Que conto divertido! Eu amei! Parece muito com um conto meu neste tema, ele está até aqui no site, depois dê uma olhada (se você tiver tempo): “Rolê no Inferno”. Sem dúvida um conto leve, mas que deixa o leitor apreensivo a todo instante. Possivelmente muitos irão dizer que a primeira fala do conto dá um baita spoiler e que se tivesse omitido ia ser mais interessante. Mas, não! Eu entendi a sua, Maria André! Ficou perfeito justamente por essa jogada estilística. Eu fiquei apreensiva do início ao fim, pensei: eu sei que isso vai dar merda, mas como será isso? Quando? Que fim isso terá? E que amigo é esse? E que parceria criminosa é essa? Muito bem construído seu conto! Parabéns pelo seu trabalho. Alegrou minha tarde de sexta-feira! Escreva mais contos assim. 🙂
O que entendi: Um motorista de aplicativo pega uma corrida com uma garota que gosta de ouvir histórias. Ele conta sobre uma passageira indecisa se vai pra casa ou para a festa Ricardo. Lá pelas tantas um cara, que por motivo que desconheço trata-se do tal Ricardo, entra no carro e rende o motorista, que reage jogando o carro contra a mureta.
Técnica: Descritiva. A narrativa carece de maior atenção, pois se confunde entre o caminhoneiro e Renan. E os diálogos também.
Criatividade: Premissa boa e envolvente, mas a história de Bruna ficou meio perdida no citoplasma, assim como o argumento geral.
Impacto: Não me agradou algumas incongruências gratuitas, como a mulher pelada e a falta de justificativa para o sequestro.
Destaque: “– Boa noite, Renan! – minutos antes, ela o cumprimentara e mais uma vez ocorreu ao condutor que toda viagem começa bem quando o saúdam pelo nome.” – Pitadinha de humor negro. rsrsrs
Sugestão: Reescrever o final. Ficou meio atropelado.
Resumo: Um caminhoneiro conta a história que um taxista contou de como ele contava uma história sobre uma passageira para outra passageira que no final era a morte que pagou pra ele ir em tal lugar pegar um cara que ela precisava matar. rsrsrsrsrs
Olá, autor!
Seu conto é muito bem escrito e em momento algum temos a sensação de confusão que o meu resumo demonstra. É uma história muito interessante que no começo parece chatinha e surpreende no final. O fato da Moira ser a morte é bem legal e depois percebi que tinha pistas na conversa do taxista com o cara que tava assaltando ou sequestrando ele, sei lá. O conto é muito inteligente, com uma pegada sobrenatural no final muito boa… e ainda tenho a teoria de que o caminhoneiro esteja contando a história toda para a própria Moira.
Enfim, uma ótima história, muito bem escrita, fluida, inteligente. que no começo não aparenta ser grande coisa e surpreende no final. Gostei! Parabéns e boa sorte!
Resumo: Motorista de aplicativo recb uma passageira que lhe pede que conte uma história enquanto dirige. O rapaz conta a ela sobre uma garota que, certa ocasião, queria ir para casa mas era a toda hora interrompida pelo celular, quando um namorado exigia que ela fosse encontrá-lo; ainda nessa história, o motorista conta que acabou convencendo a menina a ir para casa. De volta à cena principal, o motorista e a passageira param para apanhar um amigo que dela que, depois de entrar no carro, rende todo mundo com um revólver. Não demora muito para que o motorista perceba que o rapaz é o mesmo que havia exigido que a garota da história fosse para a casa dele. Aparentemente em busca de vingança, ele quer que o motorista continue dirigindo, mas logo um acidente acontece; o carro capota e o motorista abandona o veículo; horas mais tarde, enquanto busca uma carona, ele vê a passageira e o amigo cambaleando. Logo, o motorista encontra carona com um caminhoneiro, que é o narrador do conto, e pede que ele o deixe num posto policial.
Impressões: o início do conto é bastante promissor. Logo no primeiro parágrafo temos uma espécie de prólogo em que nos é revelado que o motorista de aplicativo será abordado por um assaltante. Com isso em mente, mergulhamos na história a fim de saber como os fatos chegaram a esse ponto. O encontro inicial entre o motorista Renan e a passageira Aísa-Moira mantém o interesse, dada a agilidade das frases, as perguntas e as respostas, permitindo ao leitor imaginar a cena sem qualquer dificuldade.
Porém, toda essa fluidez se perde no instante em que Renan começa a contar à passageira a história da tal Bruna. Desse ponto em diante — demarcado pelas primeiras aspas no corpo do texto — o interesse se esvai como água no ralo. Isso porque a história de Bruna e seu amigo ciumento é um tanto enfadonha e longa. Não desperta interesse e se arrasta por várias e várias linhas. Além disso, a naturalidade inicial percebida no diálogo de Renan e Moira simplesmente desaparece. O motorista expõe seu relato como se estivesse numa peça de teatro, totalmente artificial — quem usa pretérito-mais-que-perfeito num diálogo? Quem usa “ademais” numa conversa informal?
Enfim… Achei que o conto se recuperaria no momento em que o amigo de Moira entrasse no carro e brandisse seu revólver, mas o que ocorreu foi exatamente o contrário: o amigo era Ricardo, o namorado ciumento de Bruna, a garota da história interminável… Claro que já dava para imaginar isso desde muito antes, mas eu fiquei torcendo para que o autor não caísse nessa armadilha, desejo esse que não me foi atendido, infelizmente.
O acidente no fim vejo como um Deus-ex, utlizado para dar cabo da história, socorrendo-se de um ar mitológico-sobrenatural. O mistério que se denota nos últimos parágrafos — com Aísa-Moira nua conduzindo um Ricardo morto pela noite — não conseguiu salvar o conto. Assim como o motorista-de-caminhão-narrador, que apareceu do nada para servir de repassador dessa história.
Tecnicamente o conto é adequado, mas o autor resvala em alguns pontos, como por exemplo quando escreve “livrar-se do julgo do pai autoritário”, sendo que o correto seria “jugo” — algo que talvez tenha sido um lapso de digitação. Mais grave foi a falta de paralelismo verbal nos trechos narrados de forma onisciente (não tão onisciente assim), entre a primeira parte, quando Moira entra no carro, narrada no passado, e o desfecho, quando ocorre o acidente, narrado no presente.
Em suma, uma ideia bacana, de início bastante instigante, mas que do meio para o fim se perde em enfado. Minha impressão, pelo menos. Espero que outros leitores possam gostar. De todo modo, parabéns e boa sorte no desafio.
App Driver (Maria André Khalil)
Resumo:
História de Renan, motorista de Uber, Denise (filha dele), Aísa – Moira (passageira), Bruna e Ricardo. Um trem enrolado, história dentro de história, narrativa em primeira e terceira pessoas (pra dar nó nos neurônios). Interessante. Só não sei quem é quem, no finalzinho. Pelamor! Quem morreu?! Morreu, né?!
Comentário:
Texto de muita técnica. Trabalhar com narrativa em primeira pessoa e, ao mesmo tempo, em terceira pessoa não é para qualquer um. Confesso que, para fazer a leitura, fiz muitas anotações no texto impresso, precisei dividir os parágrafos dos diferentes narradores. No final, apesar de ler e reler atentamente, não posso afirmar quem morreu. Morreu?! Não se preocupe, caro autor, a falha é minha. Tenho dificuldade para compreender aquilo que não é preto no branco. A escrita é excelente, nada de deslize. Percebe-se que é um trabalho de quem tem tarimba. A estrutura do conto é bem diversa, sai do lugar comum. Forma um quebra-cabeça danado. Muita criatividade do autor.
Parabéns, Maria André Khalil!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Bem um thriller. A abertura nos dá um entendimento de que algo ocorrerá mais adiante e depois daí a leitura já segue tensa, tudo na passageira de Renan sendo desconcertante. A opção de ter o protagonista narrando uma história se mostrou interessante, pois justamente pela banalidade do ocorrido é que podemos ver o protagonista em sua disposição comum, ali reveladas preocupações e valores que o enriquecem enquanto personagem. E, como ele narra para uma segunda pessoa, não perdemos de vista o contexto inicial em que ele se inseriu e a periculosidade da questão. Já não gostei tanto da ideia do Ricardo ser o rapaz que Renan pegou no meio do caminho, pois deixa tudo um pouco forçado e tirou um pouco da força que teve a abertura do conto, revelando ser uma questão um tanto simplória e sem efeito. O mesmo não pode ser dito sobre a natureza da passageira, que logo se revela mitológica e premonitória. Mesmo isso ficou mal explicado e apressado com a conclusão final. Em verdade, o conto tem alguns momentos confusos em que não se sabe se é o personagem narrando ou se ele está sendo narrado em sua corrida atual. A revelação final de que era um caminhoneiro narrando deu mais um desses nós na cabeça, sem saber que referente seguir. Apesar desses problemas técnicos, que poderiam ter sido resolvidos com um uso pontual de aspas ou separações mais claras entre as narrativas, o conto prende o leitor e o protagonista cativa. Boa sorte!
Acho que o sobrenatural surge no conto de uma maneira muito abrupta, sem uma sequencia coerente de eventos que o justifique de alguma forma. Os diálogos e as reações dos personagens também não soam muito naturais, e o mote da trama(passageiros sobrenaturais que de alguma forma representam a morte) é bastante batido, tendo sido explorado à exaustão em muitos e muitos enredos, de modo que teria sido mais interessante mudar algo nisso para criar algum impacto. Interessante o uso da mitologia grega, e o texto tem momentos muito bons, como o “coçar o queixo como se folheasse um cardápio”, por exemplo.
Sinopse
Renan é um motorista de aplicativo que complementa o salário de professor. Numa noite qualquer, ele faz uma corrida para a intrigante Aísa Moira. Ao longo do caminho, ela lhe pede para que o motorista lhe contasse uma história. Relembrando de sua jovem filha Denise, relata uma corrida feita para uma garota há uns meses passados. O que Renan não esperava era que esse episódio lhe trouxesse perigo.
Comentários
A narrativa, entremeada de uma metanarrativa, possuindo dois narradores num conto que começa com um confuso diálogo, soa cacofônica. Só vim entender o caráter de memória do texto no fim, e não como uma grata surpresa, mas com desapontamento, pois retirou o aspecto de realismo mágico do conto. Nesse gbênero narrativo, o fantasioso é factível e aceitável, e não uma miragem cambiante. Os elementos psicológicos e o espaço do automóvel como lugar de sociabilidade subsumiram na narrativa entrecortada e vápida.
Notas de Leila Carmelita
– A Gata de Luvas – 4,0
– A Hora da Louca – 4,5
– A Onça do Sertão – 3,6
– A Pecadora – 5,0
– App Driver – 1,0
– Estantes – 5,0
– Famaliá – 3,5
– Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada – 5,0
– Lágrimas e Arroz – 1,0
– Muito Mais que Palavras – 1,5
– Na casa da mamãe – 3,5
– O Legado da Medusa – 4,5
– O que o Tempo Leva – 1,8
– O Regresso de Aquiles – 4,0
– O Vírus – 2,5
– Suplica do Sertão – 5,0
– Trilátero Ourífero – 4,5
– Uma História de Amor Caipira – 1,0
Contos favoritos:
Melhor técnica – Estantes
Mais criativo – Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada
Mais impactante – A Pecadora
Melhor conto – Suplica do Sertão
Resumo
Narrador conta a história de Renan, um motorista de aplicativo, que busca a sua passageira, Aisa, com quem acaba conversando durante o trajeto, contando um caso ocorrido com outra passageira. No meio do caminho, ele vai buscar Ricardo, o namorado de Aisa, o qual ele descobre ser o rapaz relacionado com o caso da passageira anterior. Ricardo aponta o revolver para Renan, que faz um movimento brusco com o carro e capota. Quando Renan recupera a consciência, ele vê Ricardo aparentemente morto e sai do carro, caminhando pela estrada em busca de ajuda. Vê no sentido oposto o casal que acabara de sofrer o acidente com ele (não e entendi) e consegue carona com um motorista de caminhão, que é o narrador da história.
Comentário
O texto está bem escrito, mas algumas partes ficaram um pouco confusas. O começo, por exemplo, com a fala do Ricardo, que ocorreu bem depois, antes da fala da Aisa, que veio antes. Entendi a sua ideia de aguçar nossa curiosidade pelo momento descrito, mas não funcionou muito bem da forma como foi feito.
A parte em que Renan relata o ocorrido com a outra passageira ficou um pouco cansativa.
Outra parte bastante confusa é o final. Desculpe, mas não entendi como o Ricardo aparece com a Aisa se estava morto no carro… E esta parte: “Mas e você, qual é a sua história? O que fazia sozinha na estrada a essa hora?” tb não entendi…
Destaque para este parágrafo que achei bem legal: “O que se segue é uma mistura de ruídos. O baque e o estampido. A gargalhada e o palavrão. O gemido e os estilhaçar dos vidros. O jazz no rádio e a buzina com seu interminável refrão… Como se controlados por um dimmer, o som e as luzes, o motorista e os passageiros, tudo vai esvanecendo, até que ele próprio apaga.”
“Decerto já passara dos trinta, mas mesmo não lhe parecendo uma balzaquiana clássica” – que raiva desta frase… mais de 30 já é balzaquiana? kkkk
sentar-se trás (atrás)
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado (ou tentativa de, hehehe): slice of life, aventura? hahaha
Resumo: garota pega um uber, pede pra ele contar uma historia, recolhe um amigo no caminho, e todos embarcam numa viagem maluca que termina na morte do caronista. No fim, descobrimos que o narrador é um motorista de camimhão que deu carona pro motorista do uber após o ocorrido.
Comentário: gostei! Uma história com uma dose de insanidade do jeito que gosto.Vamos por partes.
Seu conto tá super bem escrito. Super mesmo. Dá pra notar sua qualidade como escritor pela beleza da linguagem e pela estrutura e estética apuradas. Tirando um ou outro erro de revisão e/ou gramática, como uma crase a mais e coisas do tipo, o conto me parece quase impecável.
Eu diria, por outro lado, que achei que você exagerou em alguns momentos no uso de termos rebuscados, sem necessidade. Isso me obrigou a parar a leitura para pesquisar no google, o que me incomodou um pouco, pq tirou a fluidez da leitura. Acho que deixar a linguagem mais simples, sem rebuscar à toa, tornaria a leitura ainda mais prazerosa (note que eu disse “ainda mais”, pq eu realmente gostei de ler o conto, isso que falei agora é só uma opinião, mas não tira a beleza do todo).
Sobre o enredo, é bem insano, adoro. No final, o narrador está contando a história do Renan pra outro caroneiro, o leitor. Ou seja, eu estou ouvindo a história do caminhoneiro, que ouviu do Renan. Na maior parte da história, o Renan estava contando outra história, que acaba se entrelaçando quando aparece o Ricardo. Hahahah. Bem louco!
Gostei muito do enredo. Achei bem pensado contar uma história do ponto de vista de um motorista de app. Soou natural e bem divertida.
Enfim, gostei do seu conto. Apesar de uma ou outra travada que dei na leitura quando me deparei com uns trechos meio rebuscados, ta tudo muito bom, tanto tecnicamente quanto na diversão da leitura.
Parabéns e boa sorte!
Car(x) autor(x)
Estou aproveitando esse desafio para desenvolver um sistema de avaliação um pouco mais técnico (mas não menos subjetivo). No geral, ele constitui nas três categorias propostas no tópico de avaliação: técnica, criatividade e impacto. A primeira refere-se à forma, à maneira com a qual x autor(x) escreve, desde o uso de pontuação, passando por ortografia e mesmo escolhas de estruturação. A segunda refere-se ao conteúdo, ou seja, a que o conto remete e quais as reflexões que podem ser levantadas a partir disso. Por fim, a terceira refere-se ao estilo, quais as imagens construídas e as emoções que elas evocam. Gostaria de pontuar, também, que, muitas vezes, esses critérios têm pontos de intercessão entre si, sendo que uma simples palavra pode afetar dois ou mesmo três deles. A pontuação final é dada, portanto, pela média dos três critérios, sendo que uma nota elevada em um deles pode elevar a nota final. Dito isso, prossigamos à avaliação.
Resumo: Um motorista de aplicativo pega uma garota e seu amigo no meio da noite. Ele descobre que ela é uma moira e ele um bandido.
Técnica: Uma coisa que me incomodou bastante foi a alternância de narrativa. A história em primeira pessoa dentro da narrativa em terceira pessoa é um pouco desnecessária e poderia ser substituída pelo discurso livre indireto. Os diálogos apresentam marcas de oralidade, mas, ao mesmo tempo, tem um vocabulário um pouco complexo demais para uma conversa cotidiana. Por fim, o final é definitivamente um corta-tesão. A revelação do narrador e a quebra da quarta parede ao falar com quem lê é demasiadamente cafona.
Criatividade: O desenrolar da história é bem interessante. Gosto com o plot twist se dá. Talvez teria sido interessante dar uma explicação melhor do porquê do motorista ter parado para pegar o rapaz no meio da noite. Eu entendo que a entidade enganou ele, mas por que o rapaz estava lá naquele lugar e por que ele entrou no carro? Isso não prejudica o andamento, mas é algo que eu gostaria de saber. Para além disso, a história dentro da história também é interessante.
Impacto: Além do supracitado final que realmente prejudica o “feeling” final em relação ao conto, senti falta de algumas imagens mais catárticas. Gostei da narrativa linear, mas gostaria que ela tivesse sido permeada por um pouco mais de poeticidade ao longo de seu andamento. De repente algumas descrições fazendo um paralelo entre o modo de dirigir e os sentimentos do protagonista seriam suficientes.
RESUMO:
Renan é um app driver pega uma passageira que quer ir a um bairro afastado. Ele se desculpa e diz que ir a São José àquela hora seria arriscado. Aísa, a passageira, diz que vai a um evento ao ar livre com DJ famoso e dá uma grana para compensar o transtorno. Como a viagem é longa, Aísa pede a Renan que conte alguma das suas histórias como motorista. No meio do caminho, ainda pegam o amigo de Aísa Moira. Aí ele começa a relatar uma experiência que teve com uma outra passageira, chamada Bruna, já bem embriagada, que durante o trajeto, atendeu o celular, recebendo a pressão de um amigo/namorado para encontrá-lo em uma festa. Renan não concordou com a submissão da moça e logo se impôs dizendo que iria levá-la para casa e pronto.O rapaz no carro, esperou Renan terminar a história, para ordenar que desligasse o celular e seguisse em frente. Era um assalto ou algo assim. Na verdade, só havia o rapaz, Ricardo, no carro, Moira só era vista por Renan, pois como ser mitológico, estava ali para cortar o fio da vida de um dos dois. Renan dá uma guinada, e Ricardo acaba sendo atingido pelo próprio revólver. Depois, Renan avista na estrada Moira, completamente nuca, conduzindo pela mão o moribundo(ou morto mesmo) Ricardo. Renan consegue carona com um caminhoneiro e pede para ser levado até o próximo posto policial. Acaba adormecendo e, o caminhoneiro se dirige a uma moça que estava sozinha na estrada. Seria Aisa Moira novamente?
AVALIAÇÃO:
Conto com enredo de suspense/terror. A narração, ora em primeira pessoa, ora em terceira pessoa, deixa o texto um tanto confuso. Não entendi o porquê da primeira linha do conto, parece deslocada e sem sentido ali.
Há algumas falhas na revisão, como:
– […] preferiu sentar-se trás > preferiu sentar-se ATRÁS.
O ritmo do conto é até bom, pois a trama desperta a curiosidade. No entanto, o ir e vir da narrativa, o relato dentro do relato, tornam a leitura um pouco travada e confusa. Tive de reler duas vezes antes de fazer esse comentário.
A ideia, baseada na mitologia grega, de apresentar a personagem Aisa Moira como suposta passageira, mas só enxergada pelo motorista, foi boa. Porém, seria preciso fazer alguns ajustes para que a trama ficasse mais fluída e clara. Tudo bem manter um certo mistério, mas não a ponto de fazer o leitor querer desistir de prosseguir a leitura.
Vale a pena reescrever o texto, pois há potencial.
Parabéns por participar deste último desafio de 2019. Feliz Natal! Que 2020 seja um ano de belas realizações. 🙂
App Driver
Resumo:
Motorista de caminhão relata uma história sobre um motorista de Uber que relata uma história sobre uma passageira e seu namorado. Essa história que o motorista do Uber relata, que é relatada pelo motorista do caminhão, indica que os passageiros da história corrente são os mesmos da história relatada pelo motorista do Uber. Um possível acerto de contas do namorado Ricardo com o motorista de Uber que tirou dele uma chance de dar um amasso na garota.
Comentários:
Cara Maria André Kalil,
Fiquei lendo seu conto, atento, e o li por três vezes até compreendê-lo, a sua mecânica. Histórias dentro de histórias, movimentos de antecipação de acontecimentos – como o primeiro parágrafo -, que se devem explicar mais adiante.
Senti uma grande dificuldade de encaixar o puzzle formado no decorrer da história. Certamente uma deficiência minha, que esperava por algo mais fluido.
Este tipo de estruturação formal de se contar uma história – uma dentro da outra, dentro da outra -, representa um risco e tanto para a compreensão textual. Creio que tenha ocorrido isto comigo.
No que diz respeito a história, não é má, não é surpreendente. Cumpre o seu papel de contar. Creio que aqui no EntreContos esta seja a segunda ou terceira vez que vejo contos acerca de motoristas e passageiros de Uber.
Se posso dizer algo além, diria que o conto merecia um pouco mais de fluidez, que fosse um pouco mais retilíneo na capacidade de contar que facilitasse a compreensão. Tudo está ali, claro, mas, como um puzzle, você tem que montá-lo na cabeça, compreendendo o valor de cada peça. Isso pode não ajudar.
No que diz respeito à condição de escrita, creio que tenha havido algumas dificuldades no modo de relatar, às vezes não permitindo saber quem efetivamente relata a história, se o narrador primordial ou o motorista do Uber, talvez pela impropriedade do uso do travessão e das aspas duplas na indicação do diálogo, ou mesmo na decorrência do relato. De certa forma, esta confusão traz dificuldade de compreensão quanto a quem efetivamente conta, em certo momento, uma história.
Boa sorte no desafio.