— Quem nunca sonhou reviver um momento mágico? — uma voz jovial perguntou enquanto a mesma frase se formava no enorme telão. Centenas de pessoas na plateia suspiraram e concordaram baixinho. Estavam ansiosas para aquele que prometia ser o maior lançamento da década.
— Os primeiros passos do filho. A felicidade de uma festa perfeita. Aquele beijo. — Vídeos em altíssima resolução eram projetados exemplificando cada situação. — Uma noite especial. — Imagens carregadas de tons quentes com corpos nus, revelando pouco, mas sugerindo muito, começaram a ser exibidas. Um calor percorreu as partes baixas da maioria dos presentes.
***
— Você está distante — Helena disse, deitada em seu peito.
— Fica comigo — Pedro pediu. — Vamos morar juntos.
— Você sabe que não posso — ela, nua, linda, respondeu. — Bora aproveitar esse momento sem papos tristes. — Beijou-o daquela forma calorosa e amorosa ao mesmo tempo. Beijos molhados e mordidinhas, transpiração quente no ouvido.
Ela sabia como o deixar doido. Em pouco tempo, já estava pronto para mais uma. Ela aproveitou a ereção e colocou-se por cima do rapaz.
Então o montou como nunca. Parecia que sabia que aquela seria a última vez. O corpo perfeito da jovem subia e descia com sensualidade. Ele não parava de admirá-la. De reparar seus cabelos escorrendo em ondas pelos seios empinados. Também sabia o que fazer para satisfazê-la. Estava em sua melhor forma.
Iriam chegar lá juntos. Ele se sentou. Abraçaram-se, corpos suados e unidos. Ela respirando ofegante em seu ouvido, gemendo baixinho. Ele se segurando para o momento derradeiro. O mais inesquecível de toda sua vida…
— Papai! — Foi interrompido por uma voz impaciente de criança. O som não vinha daquele quarto. — Papai, papai.
Removeu o pesado e estranho dispositivo que ocupava quase toda cabeça. Uns óculos de realidade virtual conectados por fios a algo parecido com um capacete neural. O retorno era confuso e desconfortável. Conforme as imagens iam se estabilizando e a tontura passando, observou o filho sacudindo seu braço.
— Que foi? — perguntou, com a voz rouca, enferrujada.
— Fiz um desenho da gente. — Abriu um sorriso daqueles capazes de iluminar a alma dos condenados.
— Já falei que não pode interromper quando o papai tá trabalhando — disse, calmamente, removendo os eletrodos da cabeça. Reparou que o sorriso havia sumido do rosto da criança. — Não fica assim. Vai pra sala que papai já vai, tá?
— Tá bom.
O pequeno caminhou obediente para fora do quarto. Pedro levantou-se e reparou uma ereção que não se resolveria sozinha. Trancou-se no banheiro e finalizou o serviço.
— Vai ficar aí até que horas? — perguntou sua esposa, Joana, aos gritos, enquanto ele tomava o banho.
— Tô terminando. — Secou-se, observando a saliente pança de chope e as grandes áreas devastadas que se formaram nos últimos anos em sua cabeça. Abriu a porta segundos antes de o próximo grito histérico irromper.
— Por que trancou essa merda? Preciso trabalhar, sabia? — Já esperava o argumento que vinha em seguida: — Não ganho dinheiro pra ficar jogando.
— Você sabe que não é um jogo.
— Eu sei. Mas é porque parece muito com um — ela disse enquanto se maquiava. — Você não tem hora e eu tenho. Não pode se trancar no banheiro.
— Eu estava enjoado.
— Já disse que isso não faz bem, né?
— Já.
— Se te pagam uma fortuna pra ficar em casa com um capacete na cabeça é porque deve ser perigoso.
— É só um enjoo. Só acontece quando sou interrompido. Se você tivesse controlado o Enzo. — Mudou da defesa para o ataque, um movimento que raramente funcionava.
— Não vem com esse papo. Enquanto você fica perdido naquela merda de jogo, quem que dá comida e arruma seu filho pra escola sou eu. Ele só tá com saudades de você.
Aquela discussão acontecia com uma frequência irritante. Pedro já não aguentava mais e resolveu ficar quieto para não piorar a situação. Lembrou que o garoto queria mostrar alguma coisa e foi vê-lo.
— Olha, papai. — Enzo exibiu um desenho dos dois jogando futebol.
— Que lindo, filho! — Uma umidade surgiu em seus olhos. Precisava realmente passar mais tempo com ele. — No sábado vamos jogar, tá bom?
— Oba! Faltam quantos dias?
***
Assim que a esposa e o filho saíram, pegou o tablet e, terminando o café, iniciou o app do projeto. Foi recepcionado pela robô assistente:
Olá, Pedro. Como foi o último teste?
— Foi muito gost… — hesitou — satisfatório.
Verifiquei que simulou novamente o mesmo período. Essa é a décima quarta vez. Posso saber o motivo?
Maldita inteligência artificial, ele pensou.
— Os testes anteriores não foram totalmente conclusivos — respondeu.
Obrigada, Pedro. Agora farei as perguntas de praxe. Responda com “sim” ou “não”: Essa simulação possui apenas um personagem, denominado Helena Pinheiro. Confirma?
— Sim.
A cena ocorreu exatamente como na data simulada?
— Sim.
O ambiente, os cheiros e sons eram os mesmos?
— Sim.
O personagem se comportou da maneira esperada?
— Sim.
Você executou alguma ação ou reação diferente das executadas na data real?
— Sim.
A IA aguardou segundos a mais que o normal processando essa última resposta.
Você confirma a intervenção?
— Sim, por quê?
Como o personagem simulado reagiu?
— Ela respondeu de forma evasiva e continuou o fluxo da narrativa.
Obrigada, Pedro. Suas informações foram muito valiosas. Seu pagamento foi autorizado.
Guardou o tablet e voltou à cama. A robô não o repreendeu pela interferência, então se sentiu à vontade para mais testes. Percebeu até uma possível sugestão.
Conectou o conjunto de eletrodos na cabeça pensando novamente como o pessoal do design ia fazer para tornar essa parte menos complicada ao público geral. Não importava muito, ele concluiu. Qualquer pessoa ia querer aquele dispositivo.
Colocou o capacete com os óculos e um calendário virtual surgiu em sua frente. Ainda era muito pouco amigável. Melhorar o design e a interface do usuário seria fácil. O que ele estava testando era a parte mais difícil: as simulações. Deveria verificar como o dispositivo varria sua memória e montava a cena desejada. E, já que ele era um testador muito bem pago, tinha que ir até os limites.
Selecionou a data de sempre. Após alguns segundos de escuridão, estava novamente naquele quarto onde se amaram pela última vez.
— Você está distante — Helena disse, deitada em seu peito, exatamente como naquele dia.
— Quer casar comigo? — perguntou, de repente.
— O quê!?
— Você quer?
— Claro que quero — ela olhou para a janela por alguns segundos. Ele imaginou que era a forma da inteligência artificial analisar essa intervenção e tentar trazer de volta à narrativa principal. — Mas você sabe que não posso. — Ela subiu nele e começou a beijá-lo.
— Pode, sim. — Segurou-a pelos ombros, com lágrimas nos olhos. — Sei que essa faculdade é importante, mas você é muito inteligente. Se continuar estudando, vai passar numa federal aqui na cidade. Não precisa mudar de país. — Ele disse, sem espaço para reação. — Casa comigo. Eu te amo. Vamos ser felizes juntos!
Ela o observou por quase um minuto inteiro. Lágrimas de emoção escorreram pelos seus olhos verdes. O abraçou e começou a soluçar.
— E, então, o que me diz? — ele perguntou, acariciando-a.
Ela o encarou com olhos inchados, mas felizes. Abriu um largo sorriso.
— Sim, meu amor. Eu aceito!
Pedro não acreditou a princípio. Nesse momento, esqueceu que estava em uma simulação e a beijou. Era o sonho de sua vida realizado. Gargalharam abraçados. Beijaram-se, então, mais intensamente. As línguas dançando nas bocas. As mãos acariciando os corpos, apertando um no outro na esperança de tornarem-se um só. Fizeram amor não mais como se fosse a última vez. Amaram-se daquela forma que somente é possível uma vez na vida: uma sintonia única.
***
— Qual dia é melhor? Onde vai ser? Será que o pessoal vem? — Helena começou a conjecturar, deitada ao seu lado.
— Você decide, meu amor. O que achar melhor, eu aceito.
— Podemos casar lá no sítio da mamãe. Sempre achei lindas essas festas ao ar livre. Seus pais podiam ficar lá. Pros convidados, a gente arruma um hotel.
Ele a observou. Era tão linda. Como desejava que aquilo fosse verdade! Que sua vida tivesse sido exatamente assim. Beijou sua boca, seus seios, sua barriga e seguiu o caminho abaixo, mas ela levantou-se.
— Depois, amor. Agora preciso ligar pra mamãe para dar as notícias. Papai vai ficar puto da vida com essa história de desistir da faculdade, mas acho que acaba aceitando.
Vestiu o robe, pegou o telefone e começou a discar. Pedro pensou que não podia continuar ali. Olhou o relógio. Estava conectado há horas e a esposa já devia ter chegado com o filho. No dia seguinte testaria se as alterações poderiam ser salvas para continuar vivendo essa história paralela.
Com pesar, desconectou o aparelho. Ainda estava recuperando a visão do mundo real e removendo os eletrodos quando ouviu o ressonar da esposa ao lado. Havia ficado tempo demais na simulação. A barriga roncou e lembrou que precisava comer. Entrou no quarto do Enzo. Estava dormindo com um anjinho. Deu um beijo em sua testa e o observou por um longo período.
Quando chegou à cozinha, viu Helena de robe com um copo de leite na mão.
— Também está ansioso, né, meu amor? Temos tanta coisa para resolver.
Ela apoiou o copo na pia e o beijou apaixonadamente. A perna o abraçou pelo quadril, deixando-o imediatamente ereto. Não entendia bem, mas nessa hora o sangue quente enublava qualquer compreensão. Removeu o robe e beijou o corpo nu da amada. Apoiou-a sobre a mesa, abaixou a bermuda e a penetrou. Uma lata de achocolatado, talvez envergonhada, rolou para longe e caiu no chão. Helena gemia e declarava seu amor a ele num sonho tão vívido que parecia de verdade.
— Pedro, o que houve? — a esposa perguntou do quarto.
Helena não estava mais ali. Ele ergueu a bermuda e arrumou os produtos.
— Foi nada, não. Só uma tontura.
— Hoje você ficou conectado muito tempo. Já disse que não tá te fazendo bem.
Reparou que na pia repousava um copo de leite pela metade.
***
Sábado de manhã, o pequeno Enzo não se aguentava de ansiedade:
— Já posso acordar ele, mamãe?
Vestia o uniforme completo de futebol que ganhou do pai anos antes. Estava apertado, mas não se incomodava.
— Escove os dentes primeiro.
Pouco depois, com a boca suja de pasta, correu em direção ao quarto dos pais. Sacudiu o braço e gritou o mais alto que podia. Queria despertar o pai do maldito jogo. Esperou ansiosamente esse dia chegar. Teria ele finalmente um pouquinho para si. Mas, estranhamente, ele não despertava.
— Mamãe, o papai não tá acordando!
Joana veio e também tentou, em vão, tirá-lo do transe. Tateou com cautela o dispositivo até encontrar um botão de desligar. Apertou e nada. Pressionou novamente, dessa vez segurando por alguns segundos. As luzes piscaram e se apagaram.
Pedro sacudiu, como se tivesse um calafrio. E, então, continuou tremendo. Parecia estar sofrendo um ataque epilético. Joana se desesperou e Enzo chorou.
— Papai, papai!
Então parou de temer, levou as mãos à cabeça e começou a remover o espalhafatoso dispositivo. Parecia tonto. Abriu os olhos, ainda sem enxergar. Piscou diversas vezes.
— Por que fez isso? — finalmente se manifestou.
— Você não respondia.
— Papai, ainda vamos jogar futebol? — o menino perguntou, inocente.
— Filho, dá um tempinho pro seu pai — a mãe interferiu.
— Filho? Que filho, Helena? — Pedro perguntou.
— Quem é Helena?
— Cê tá doida?
Ele levantou e foi ao banheiro. Ajoelhou perante o vaso e rezou a oração de expurgo da pouquíssima comida que havia em suas entranhas.
— Papai tá bem?
— Enzo, vai lá pra sala ver desenho. Seu pai tá dodói, mas daqui a pouco melhora.
O menino saiu hesitante. Ninguém viu, mas se escondeu atrás da porta. Com os ouvidos colados, escutou o restante da conversa.
— Tá melhor? — ela perguntou.
— Melhorando.
— Pedro, qual o meu nome?
— Helena, por quê?
— E do nosso filho?
— Por que tá fazendo essas perguntas?
— Só pra saber se tá bem.
— Você sabe que não temos filhos — respondeu, irritado. — Culpa sua, né? Fica sempre dizendo que precisa passar na prova primeiro.
— Ela… eu não passei na prova? — Joana lembrou, finalmente, da ex-namorada do marido, que viajou para longe.
— Tá maluca?
— Devo estar. Mas não sou só eu.
— Não adianta jogar a culpa em mim. Se soubesse que seria assim, não teria casado. — Ele gritou a última frase: — Não tenho culpa do seu fracasso!
***
O telão, que ocupava toda a parede atrás do palco, se apagou e um faixo de luz iluminou a subida de um jovem elegante. Ele trazia nas mãos um bonito aparelho semelhante a um capacete de ficção científica.
— Senhoras e senhores, eu os apresento o DreamSim. — Atrás dele, o aparelho era exibido em 360 graus com impressionantes detalhes. — Com ele, vocês não só poderão reviver momentos especiais. Esses que estavam pensando pouco antes de eu subir aqui. Sei muito bem.
A plateia sorriu e alguns enrubesceram. O jovem aguardou todos ficarem novamente em silêncio.
— Reviver bons momentos é bom, podem apostar. Mas o DreamSim permite mais. Com ele, vocês serão capazes de simular como a vida poderia ter sido!
Um sonoro “uau” preencheu o auditório.
— Se tivesse escolhido engenharia? Se não me separasse? Se tivéssemos tido aquele filho? — O telão, como no início, mostrando belas imagens representativas. — Se eu tivesse pedido ela em casamento? — Centenas de vídeos de situações ideais eram projetadas com cortes bem rápidos, acompanhada de uma música no mesmo ritmo.
Todos aplaudiram de pé. Era muito mais do que imaginavam. O evento era transmitido ao vivo por streaming. O mundo inteiro vibrava.
— Mas nada disso seria possível sem as milhares de horas de simulação de nossos fabulosos testadores.
Centenas de fotos começaram a ser projetadas.
— Um deles, porém, eu preciso destacar: — continuou — o nome dele é Pedro Monteza, meu pai. O principal responsável por tudo que estamos apresentando. Isso só é possível e seguro graças à coragem desse homem. — A foto do pai surgiu no centro. Todos aplaudiram. — Te amo, pai.
Seu rosto ocupou o telão. Ele olhou para a câmera de olhos marejados.
— Com o DreamSim, nós pudemos jogar futebol naquele sábado, pai. E foi fantástico!
***
Em um pequeno quarto de paredes brancas, Joana segurou a mão enrugada do marido. Ela via seu filho na TV. Diversos sentimentos se digladiavam em seu combalido coração: orgulho, compaixão, tristeza, saudades. Ao seu lado, Pedro jazia com o dispositivo conectado à cabeça e centenas de fios e tubos ligados ao corpo.
— Ouviu isso, amor? — perguntou, com carinho.
Mas ela sabia que não. Estava preso para sempre em sua triste e solitária realidade.
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CONTO AVALIADO: Simulando Sonhos
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Olá Felipe C. Pinto; tudo bem?
O seu conto é o décimo sétimo trabalho da Série B que eu estou lendo e avaliando.
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O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
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Gostei bastante da sua história! Ficou muito legal o arco do protagonista e foram bem desenvolvidas as transições dele para que chegasse até o final; incluindo aqui o “encontro” com a Helena na cozinha e o misterioso copo de leite pela metade sobre a pia.
Gostei também do grau emocional acrescido à narrativa, através do personagem do filho do protagonista, que serviu para o plot twist do penúltimo parágrafo do texto. Ficou muito bom.
O conto foi bem planejado e bem escrito. Não percebi nada que me fizesse travar na leitura e que diminuísse minha imersão na história. Penso que o último parágrafo nem fosse necessário para fechar a narrativa; deixo aqui então a sugestão como leitor.
Parabéns pelo bom trabalho e boa sorte no Desafio!
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho da história avaliada, para comprovar minha leitura. Então, vamos lá:
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RESUMO DA HISTÓRIA
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Um testador de um produto de Realidade Virtual, que prometia ao usuário reviver suas melhores lembranças, caba trocando a vida real para viver em uma fantasia criada pelo próprio aparelho que ele não apenas testara, mas também servira de cobaia para permitir que o mesmo, além de acessar memórias antigas, também criasse novas realidades com base nas lembranças. (Nota: 4,5)
RESUMO: Homem simula aparelho que vasculha as memórias e permite “reviver” momentos da vida como se fossem sonhos. Ele acaba se perdendo nesse mundo de sonhos, confundindo-o com a realidade.
No final, descobrimos que o filho desse homem (negligenciado devido ao experimento) tocou o projeto adiante, enquanto o pai definhava preso a seu mundo fictício.
COMENTÁRIO: Muito bom. Só não leva nota máxima pela premissa já ser um tanto batida (impossível não se lembrar de Inception, por exemplo), mas o trabalho feito em cima dessa premissa foi excelente.
O foco na parte humana do experimento, sobretudo no “abandono” de Enzo, foi o grande diferencial. Quem nunca disse um “agora não, papai tá cansado” pra uma criança sorridente e se arrependeu depois, pensando sobre o que de fato importa na vida?
Além disso, foi interessante notar que o mundo dos sonhos não foi um… sonho… a vida segue e a felicidade é absorvida pela rotina em qualquer realidade.
NOTA: 4,5
Para ganhar o dinheiro que tanto precisava, Pedro aceitou testar uma nova tecnologia: o DreamSim, que o fazia reviver memórias antigas. Sem conseguir tirar a sua ex-namorada da cabeça, Pedro revisitava a mesma memória vez após vez. Até finalmente resolver mudar o que havia acontecido e, para a sua surpresa, funcionou. Ele passou a viver uma realidade alternativa em sua cabeça, a passo que sua esposa e filho, no mundo real, acompanharam a sua loucura. No fim, seu filho foi o responsável pelo lançamento da DreamSim, anos depois. E pedro nunca mais saiu daquela realidade simulada.
Foi um conto e tanto! Muito bom de ler, muito bem escrito e trabalhado. Todos os personagens são bem explorados, até Helena. O conto lembra um pouco Vanilla Sky; ao menos, é a mesma premissa. Talvez uma mistura entre Vanilla Sky e Total Recall, com muito da sua autoria e originalidade. Os dois mundos são bem descritos: o mundo virtual é onírico, com tudo funcionando, e o mundo real é decadente, com Joana irritada com o casamento, responsabilidades, a velhice se aproximando. Então, até mesmo a realidade virtual perde o brilho; afinal, ela tornou-se a realidade de Pedro.
Sua escrita é muito boa. Não notei erros, mas notei alguns exageros desnecessários, como por exemplo:
“Ele levantou e foi ao banheiro. Ajoelhou perante o vaso e rezou a oração de expurgo da pouquíssima comida que havia em suas entranhas.” – Não poderia ser só vomitou?
“Secou-se, observando a saliente pança de chope e as grandes áreas devastadas que se formaram nos últimos anos em sua cabeça.” – não poderiam ser só entradas?? rs rs rs
Acho que nem sempre, por mais criativa que seja, uma descrição dessas ajuda. Mas, de qualquer forma, o conto me prendeu. É muito bom, até o final. Um dos melhores! Parabéns!
Categoria: Sabrinesco com teor 40% / FC com teor 60%
Utilizando um equipamento de realidade virtual, como ferramenta de trabalho em home office, Pedro revive repetidamente o amor perdido de Helena, enquanto a vida real corre ao seu redor, com a esposa e o filho Enzo, que lhe cobra mais tempo no mundo real. Como desenvolvedor de gameficação, Pedro reiteradamente revive o momento em que perde Helena no passado, até que ela aceita. E ele não consegue mais se desconectar da realidade alternativa, misturando o que vive e o que simula, até que rompe os laços com o filho e a mulher real. No final, o filho dele se torna o apresentador da versão melhorada do jogo, e homenageia os desenvolvedores, entre eles seu pai, que está internado e assiste o evento de lançamento na tevê como alheio a tudo.
PREMISSA: a realidade virtual como fuga e alienação. Se não totalmente original, o tratamento e a técnica utilizada pelo autor conduzem a história com verossimilhança – ou seja, a gente sente que poderia mesmo ter sido assim.
TÉCNICA: uma história bem desenvolvida, seguramente conduzida pelo narrador onisciente, na qual as partes formam o todo e conduzem ao final inexorável. Parabéns, foi o meu preferido no certame nesse quesito.
EFEITO: uma história que resultou memorável, e que poderia tranquilamente fazer parte da série Black Mirror. Parabéns!
Resumo
Um homem testa uma inovação tecnológica que o leva à insanidade.
Sensação
Apesar de um pouco esperada achei que a história trouxe algumas interpretações originais, mas senti a execução do texto fraquinha.
Técnica/Narrativa
O conto tem uma construção simples demais, o narrador não consegue dar a intensidade em algumas situações e a construção da narrativa é pobre em vários momentos, com muitos clichês.
A parte sexual tinham umas frases muito… “precisava terminar o serviço”, acho que poderia ter sido melhor trabalhado esses quesitos, colocado de uma maneira que fosse tão indicativa quanto, mas muito mais rica para a narrativa.
Também senti que a intervenção do personagem na simulação deu um pulo muito grande, foi de uma pequena mudança da trajetória da lembrança, para uma mega mudança. Para mim, como leitora, senti falta de mais tempo dele se questionando sobre esse experimento.
Achei interessante os saltos entre passado e presente, mas não sei se eu teria começado com o presente, talvez ter começado o conto com o início da simulação tivesse fica interessante.
Título
Acho que duas palavras começando em S para o título gerou um incômodo, também achei muito alto explicativo, mas ainda assim, apropriado para o conto.
O que entendi: Um homem trabalha de casa,como cobaia, em um projeto que promete realizar sonhos ou repetir momentos importantes da vida. O inesperado acontece, em detrimento da família ele se apaixona por Helena, um personagem virtual. Seu cérebro entra em curto e ele esquece sua vida real e fica preso na virtual. Seu filho dá prosseguimento ao projeto e Pedro vira um mártir da causa.
Técnica: As cenas de sexo e a evolução da dependência de Pedro foram muito bem construídas.
Criatividade: Uma versão mais emotiva de Matrix. Nada contra, mas também nada de novo na premissa.
Impacto: Fiquei emocionada com o dramalhão. Foi uma boa sacada a importância que o filho ganhou com o final do conto. De coadjuvante à principal em um parágrafo.
Destaque:” — Se te pagam uma fortuna pra ficar em casa com um capacete na cabeça é porque deve ser perigoso..” – Ótimo raciocínio.
Sugestão: Cabe uma revisão apurada.
Um protagonista que se vê embebecido pela simulação, ao mesmo tempo em que tenta levar sua vida ordinária adiante. Em determinado momento os mundos se cruzam em um desfecho que surpreende.
O autor de cara já demonstra uma certa predileção ao Philip K Dick em sua homenagem abrasileirada em sua alcunha. O conto tem uma pegada de “black Mirror” para falar a verdade até me lembrou de um episódio especifico onde dois amigos jogam um simulador de luta e acabam se apaixonando um por outro, obviamente o episódio é muito mais polemico e provocativo.
O autor foi corajoso em misturar ficção cientifica e “sabrinesco”. Apesar de não conseguir ser inesquecível em ambos os temas, creio que conseguiu criar algo acima da média. De quebra, também conseguiu gerar emoção na história e uma certa reviravolta no final.
Misturar realidade e simulação foi uma grande sacada para conseguir espremer ambos os temas dos desafios. No que diz respeito aos diálogos, creio que foram muito superficiais e pouco acrescentaram a história. O questionário com perguntas protocolares é absurdamente enfadonho e quebra sobremaneira a dinâmica do texto e a própria função do diálogo, que arrasta ao invés de dar agilidade.
Algumas frases dão inspiradas como “daqueles capazes de iluminar a alma dos condenados” outras nem tanto; “Um calor percorreu as partes baixas da maioria dos presentes.“;
Enfim, um conto criativo , com uma premissa que não é nova, mas que está longe de estar esgotada. Com diálogos mais afiados e frases mais lapidadas o autor poderia ter conseguido alcançar um top 3 da minha lista. De qualquer modo, parabéns e boa sorte.
Um protagonista que se vê embebecido pela simulação, ao mesmo tempo em que tenta levar sua vida ordinária adiante. Em determinado momento os mundos se cruzam em um desfecho que surpreende.
O autor de cara já demonstra uma certa predileção ao Philip K Dick em sua homenagem abrasileirada em sua alcunha. O conto tem uma pegada de “black Mirror” para falar a verdade até me lembrou de um episódio especifico onde dois amigos jogam um simulador de luta e acabam se apaixonando um por outro, obviamente o episódio é muito mais polemico e provocativo.
O autor foi corajoso em misturar ficção cientifica e “sabrinesco”. Apesar de não conseguir ser inesquecível em ambos os temas, creio que conseguiu criar algo acima da média. De quebra, também conseguiu gerar emoção na história e uma certa reviravolta no final.
Misturar realidade e simulação foi uma grande sacada para conseguir espremer ambos os temas dos desafios. No que diz respeito aos diálogos, creio que foram muito superficiais e pouco acrescentaram a história. O questionário com perguntas protocolares é absurdamente enfadonho e quebra sobremaneira a dinâmica do texto e a própria função do diálogo, que arrasta ao invés de dar agilidade.
Algumas frases dão inspiradas como “daqueles capazes de iluminar a alma dos condenados” outras nem tanto; “Um calor percorreu as partes baixas da maioria dos presentes.“;
Enfim, um conto criativo , com uma premissa que não é nova, mas que está longe de estar esgotada. Com diálogos mais afiados e frases mais lapidadas o autor poderia ter conseguido alcançar um top 3 da minha lista. De qualquer modo, parabéns e boa sorte.
Resumo: Um homem testa um novo dispositivo que é capaz de fazer as pessoas reviverem alguma época de suas vidas, e até criar uma história paralela sobre o que poderia ter sido. Ele acaba ficando preso nessa outra realidade.
Olá, Felipe, seu conto é bem legal! Apesar de não ser uma ideia tão original, foi muito bem executada e ficou interessante de acompanhar e verossímil, Eu gostei dos personagens, acho que você conseguiu aprofundá-los apesar do limite e ainda criar a cena paralela sobre a “inauguração” do produto que foi testado. Seu conto ficou em um FC sabrinesco, um dos únicos que conseguiu unir os dois temas tão bem. Achei muito pertinente e acertado a cena onde ele vê a outra moça lá na cozinha, misturando o real com o virtual, e depois mostrar que ele ficou preso no virtual, no que poderia ter sido e o mais interessante é que parece que o casamento virtual dele também não deu muito certo, parece que ficou pior do que o real, eu gostei disso, mostrar que o virtual nem sempre é o ideal, que pode começar bem e terminar pior do que o real. Enfim, gostei bastante e desejo sorte!
Pedro testa um novo dispositivo de uma empresa, capaz de reviver lembranças. Ele acaba viciando e tenta tomar outro rumo dentro das memórias, acabando por ficar preso lá.
Um conto de ficção científica muito bem construído, com início, meio e fim bem definidos, além da construção das personagens ser ótima. Temos o evento de lançamento do aparelho em paralelo às simulações de Pedro. A esposa que é abandonada, mas continua ao seu lado. O filho que é deixado de lado e, como se fechando um ciclo, consegue reviver o fatídico dia do futebol. Tudo muito bem amarrado. Quanto ao tema principal, o DreamSim, é algo bastante comum em histórias do gênero. Recentemente vimos em Black Mirror ou Jogador n1, quase sempre as memórias são nostálgicas demais ou essa nova realidade é mais interessante, culminando da pessoa querer ficar lá pra sempre. Então o leitor, no caso eu, já fica meio familiarizado. Mas a construção dá um novo ar à trama e fecha tudo muito bem.
Boa tarde, amigo. Tudo bem?
Conto número 52 (estou lendo em ordem de postagem)
Pra começar, devo dizer que não sei ainda quais contos devo ler, mas como quer ler todos, dessa vez, vou comentar todos do mesmo modo, como se fossem do meu grupo de leitura.
Vamos lá:
Resumo: homem trabalha de testador num produto inovador: capacete de realidade virtual que permite simular momentos do passado. Ele tenta ir além e modificar a realidade no simulador, e acaba ficando preso pra sempre na memória. Porém, à partir dessas experiências, seu filho consegue desenvolver um simuldor ainda melhor, que permite eficientemente alterar a memória de forma segura.
Comentário:
Gostei! uma ideia bem interessante,e muito bem explorada!
Vamos por partes.
Pra começar, quero falar do enredo, que me agradou muito. Gostei muito da ideia. Afinal, quem nunca teve uns sonhos doidos desse tipo, né? De reviver vividamente momentos do passado (o que também foi muito bem explorado naquele episódio de Black Mirror), e, ainda mais, quem nunca pensou em ter um aparelho que permitisse saber como seriam as coisas se você tivesse feito tal ou tal coisa diferente.
Porém, ainda bem que não existe, né? Imagina que destrutivo, se em vez de vivermos a realidade, nos responsabilizando e arcando com nossas decisões, passássemos a viver numa fantasia, pensando e nos arrependendo pelo que seria se tivessemos agido diferente.
O protagonista acaba pagando com a própria sanidade esse preço,. O final foi bem triste, ainda que não siurpreendente.
O que mais surpreendeu foi o filho dele ter seguido com a ideia. Fiquei imaginando que efeito teria ele ficar ouvindo a situação atrás da porta. achei que ele fosse ficar piradão, também hahaha.
O ritmo do conto foi bom, também. A leitura fluiu facilmente, e quando percebi, já tinha terminado de ler.
A escrita é segura e sem problemas que valham a pena ser ressaltados.
Enfim, bom trabalho! Parabéns e boa sorte!
RESUMO: Num futuro não definido, Pedro trabalha em casa testando o protótipo de um equipamento de realidade virtual baseada em memórias reais. À medida que passa mais e mais tempo experimentando versões alternativas do próprio passado, Pedro se afasta da família e da própria realidade.
TÍTULO E INTRODUÇÃO: O gerúndio apresentado no título parece não lhe conceder um formato devidamente incitante, tal qual o discurso publicitário do parágrafo de abertura que, a propósito, possivelmente ficaria melhor como mera narrativa, entre as aspas e sem os travessões característicos das falas dos diálogos. Nota: 7
PERSONAGENS: Personagens estereotipados, sem traços de individualidade, sem profundidade. Nota: 7
TEMPO E ESPAÇO: Apesar da importância do tempo no conto, pareceu não ter havido qualquer preocupação em demarcá-lo ou situar o leitor; da mesma forma, a preocupação com os cenários se limita à ambientação científica e futurística. O conto não é geograficamente situado e, na maior parte da narrativa, o leitor não encontra elementos que o ajudem a inserir-se no contexto. Nota: 7
ENREDO CONFLITO E CLÍMAX: O enredo é bom, o conflito é claro, porém não há um crescente, logo, a narrativa não incita apreensão ou ansiedade. Nota: 7
TÉCNICA E APLICAÇÃO DO IDIOMA: Observa-se uma série de erros e construções questionáveis que prejudicam a leitura, tais como “Estavam ansiosas para aquele que prometia” (por aquele); “Ela sabia como o deixar doido” (como deixá-lo); “Iriam chegar lá juntos” (chegariam lá juntos); “Então parou de temer” (tremer); porém observei um elogiável “loop”, já que o discursos publicitário apresentado na introdução parece ser retomado no arremate, caracterizando um belo recurso técnico que provavelmente ficaria ainda melhor sem o último parágrafo. Nota: 7
VALOR AGREGADO: Um bom conto de FC considerado que profetiza não a realidade virtual, cada vez mais iminente, mas o vício e efeitos colaterais, já claros atualmente, por exemplo, no uso desmedido dos smartphones. Nota: 8
ADEQUAÇÃO À TEMÁTICA: Totalmente adequado ao tema FC, ainda que enfatize prioritariamente aspectos sociais e praticamente ignore aspectos científicos e tecnológicos, sugerindo pouca ou nenhuma pesquisa sobre tecnologias e ciências afins. Nota: 8
Caro(a) escritor(a)…
Resumo: DreamSim é um simulador de sonhos e de realidades que seu usuário quiser. Pedro foi seu piloto de testes inicial e ficou preso para sempre no mundo virtual do simulador.
Técnica: A técnica é apuradíssima. Diálogos pontuais, muito bem construídos. Sem erros. Narrativa que flui muito bem.
Avaliação: Uma ficção científica que lembra outros universos já trabalhados nesse tema, mas é sempre muito bom ler algo que, apesar de já ter sido escrito, nos leva pela mão do começo ao fim da leitura. A construção dos personagens está bacana também.
Boa sorte no desafio.
Pedro trabalha como testador de um aparelho de realidade virtual que simula como seria sua vida, se suas escolhas tivessem sido diferentes e ficou preso para sempre em seus sonhos. Ele tinha mulher e filho. Este, depois alguns anos faz a apresentação para o público do dispositivo usado pelo pai.
A narrativa, bem articulada e conduzida, traz uma mescla dos dois gêneros propostos: no núcleo da realidade é FC; no núcleo virtual é sabrinesco, com cenas eróticas críveis e sugestivas. O núcleo de ciência futurista e de ficção especulativa está bem explorado e, o mais legal é que expõe as consequências da descoberta tecnológica no nível emocional, social. Faz pensar, pois o novo aparelho é descrito de forma viável, lógica e complexa.
Gostei da ideia do conto, da construção do cotidiano de uma família, mas o ritmo ficou meio lento, ocorrem algumas repetições e desde o título já previ que o testador ia se perder nos sonhos. A tensão poderia ser mais trabalhada, faltou um clímax. Um fator interessante é a naturalidade dos diálogos e a escrita bem estruturada.
Uma boa história, identificável, reflexiva, porém sem muita emoção.
Parabéns pelo trabalho e boa sorte. Um abraço!
Funcionário responsável por testes em um dispositivo tecnológico emulador de vidas alternativas parece preferir a realidade virtual à vida real. Paralelamente à narrativa da evolução dos testes realizados pelo homem, o dispositivo está sendo demonstrado ao público em um evento transmitido pela TV.
Um SciFi erótico, nada sabrinesco. Um argumento de FC interessante, um enredo bem construído e as melhores cenas eróticas que encontrei até agora, fizeram de seu conto uma ótima leitura para essa leitora aqui. O que apontaria como problema foi certa aceleração no final da narrativa em contraste com a temporalidade real.
Explicando, o menino Enzo se tornou em uma quebra de parágrafo um homem, ou seja passou-se muito tempo em um espaço narrativo muito pequeno. Para mim, esse tipo de situação narrativa soou abrupto demais. Pensando aqui, essa sensação não teria acontecido se você tivesse preferido narrar o pequeno Enzo como espectador da apresentação do produto ao invés de, já adulto, como seu mestre de cerimônia.
Pessoalmente não gostei do final ultra melancólico que você deu ao conto, como leitora me senti afundar, sensação que não gosto de ter ao final de um texto, por isso adoro finais abertos – nem felizes, nem melancólicos em excesso. Mas isso é apenas um gosto pessoal que em nada afeta minha avaliação do seu conto.
No mais, só me resta parabeniza-lo pelo ótimo trabalho. Sucesso!
Resumo: Pedro é encarregado de testar um aparelho que, por meio de realidade virtual, traz à vida suas lembranças mais cândidas — no caso, o momento em que ele e a antiga namorada, Helena, se separaram depois de uma noite de amor, para que ela seguisse destino fazendo faculdade no exterior. Pedro está viciado nesse capítulo de sua vida, tanto que o utiliza como fuga de sua realidade atual, com a esposa Joana e o filho Enzo. O aparelho, no entanto, o suga cada vez mais, até o ponto em que ele se vê refém do que poderia ter acontecido caso Helena desistisse de sua ida para a faculdade e se casasse com ele. Nesse ponto de desdobramento, Pedro começa a confundir a realidade verdadeira com a virtual, até enlouquecer. Anos depois, quando o produto foi testado e aprovado, o filho Enzo, agora adulto, apresenta essa maravilha para o público e agradece ao pai, que está numa espécie de coma junto de Joana.
Impressões: Gostei bastante deste conto. Há diversas questões interessantes aí levantadas, que nos fazem indagar sobre os limites da ciência e até que ponto gostaríamos de reviver nossos melhores momentos. É certo que não raro nos perguntamos como teria sido a vida se em vez desta decisão tivéssemos tomado aquela – quais seriam as consequências, como teria se desenrolado nossa existência e assim por diante. É um exercício meio sado-masoquista, mas que adoramos experimentar. O conto, assim, trata disso e o faz com muita competência. Não há uma linguagem rebuscada ou profunda. Ao contrário, a prosa é simples, perfeita para o tipo de mensagem que deseja passar, para lançar essas questões incômodas. Diálogos ágeis e cenas verossímeis contribuem para a nossa imersão, na medida em que nos dão tempo para, subliminarmente, imaginar essas repercussões em nossa própria história pessoal. Em certos momentos, confesso, me vi na pele de Pedro, dividido entre meus afazeres pessoais a obrigação auto-imposta de dar atenção aos filhos. Touché!
Entendi a intenção do autor em colocar cenas de sexo no meio da narrativa, talvez para aproximá-la do sabrinesco. Porém, acho que ficaram deslocadas, sobrando, já que o mote do conto é muito mais filosófico e existencialista do que erótico. O que quero dizer é que essas cenas ficaram sobrando e, a meu ver, poderiam ser limadas numa eventual revisão sem qualquer prejuízo para o texto. Isto é ficção científica das boas, não precisa de cenas eróticas para se fazer ouvir.
Em resumo, um conto muito bom, desses que fazem pensar. Parabéns a(o) autor(a). Desejo boa sorte no desafio.
Simulando Sonhos (Felipe C. Pinto)
Resumo:
A história de Pedro e Joana (casados), Enzo (filho) e Helena (amor virtual de Pedro). Ele trabalha como testador de realidades virtuais para uma empresa. A pesquisa visa criar o DREAMSIM – simulador que proporciona ao “usuário” experimentar a vida como poderia ter sido. Os testes foram extremamente intensos, varriam a memória para que houvesse espaço para a realidade virtual. Esses testes proporcionaram confusão e perda de memória e Pedro adoeceu, “jazia com o dispositivo conectado à cabeça e centenas de fios e tubos ligados ao corpo”. Ao filho Enzo coube a importante tarefa de mostrar ao mundo o DreamSim, um aparelho semelhante a um capacete de ficção científica que transportava a imaginação, através de simulação, para o mundo fictício do que a vida poderia ter sido.
Comentário:
Outro ótimo conto. O texto traz uma perfeita ficção científica mesclada com narrativa erótica. Proporciona uma leitura fluente, possui enredo bem coeso, interessante. O desfecho é tocante. Fiquei emocionada. É um texto que, mesmo tratando de criações científicas, aparelhos construídos com materiais concretos, através da linguagem perfeita, consegue tocar sentimentos humanos. A culpa, o amor, a gratidão, o orgulho, a saudade, tudo aparece na narrativa. Não encontrei deslizes na escrita, a leitura não sofre qualquer interrupção por conta de erros.
Parabéns, Felipe C. Pinto!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Resumo
Pedro trabalha como testador de um projeto de realidade virtual que permite que as pessoas revivam suas memórias. Constantemente, ele revive a última noite com sua ex-namorada que o abandonou para estudar em outro país. Durante os testes, ele acaba alterando a memória e conseguindo fazer com que aconteça o que ele gostaria que tivesse ocorrido na ocasião. Graças ao uso exagerado da tecnologia ainda em desenvolvimento, ele começa a confundir a realidade com a realidade criada artificialmente. No futuro, o filho de Pedro apresenta ao mundo a nova tecnologia capaz de não apenas permitir que se reviva as memórias, mas que elas sejam alteradas de acordo com o desejo dos usuários, graças aos testes realizados por seu pai anos atrás. No final, o pai está conectado ao capacete, vivendo uma vida artificial.
Comentário
Gostei bastante do texto. Além de seguir o tema FC, conseguiu colocar umas pitadas de sabrinesco, romance, critica social. Parabéns. Gostei bastante da ideia de fazer com que Pedro começasse a misturar o real e o virtual, boa sacada, pra mim foi o ponto alto do texto.
Muito bem escrito. Encontrei apenas um deslize: “Centenas de vídeos de situações ideais eram projetadas com cortes bem rápidos, acompanhada (acompanhadas) de uma música no mesmo ritmo.”
Simulando Sonhos
Resumo:
Testador de realidade virtual mergulha de cabeça no que faz e fica preso em uma realidade ideal para si. Seu filho, o moleque negligenciado pelo pai testador, torna-se o cara do app de realidade simulada e agradece ao pai, que ainda jaz em sua cama com o velho capacete de realidade virtual, vivendo a sua realidade particular.
Comentários:
Caro Felipe C. Pinto.
Conto com pegada característica de ficção científica.
Gostei do seu conto.
Não encontrei nada que o desabonasse, nem nos personagens, nos cenários ou na condução do enredo.
Não é uma temática nova e nem sequer chega a surpreender o enfoque dado ao conto, mas tem um misto interessante de vida real com vida simulada, tratando da questão das exigibilidades proporcionadas pelo trabalho excessivo ou pela diversão proporcionada por apetrecho tecnológicos associados à negligência a filhos e família. Ficou de bom tamanho e foi oportuno na condução do texto.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
RESUMO:
Pedro é um testador de tecnologia de ponta, um simulador de sonhos. Consegue voltar a viver episódios do seu passado, fazendo até mesmo intervenções. Sua mulher, Joana, não gosta daquele trabalho e alerta sobre possíveis prejuízos à saúde do marido. O filho, Ennzo, sente falta da companhia do pai, de brincar e jogar futebol com ele. Mas Pedro está obcecado em reviver determinada passagem da sua vida, quando Helena era ainda sua namorada e não havia se mudado para outro país. Pedro modifica os fatos – pede Helena em casamento e ela aceita. O problema é que Pedro não consegue mais voltar à realidade e fica preso naquela vida que criou para si mesmo, com Helena e sem filhos. Enzo torna-se um cientista e afirma que o sucesso do simulador de sonhos se deve aos corajosos testadores, principalmente ao pai, que dedicou a vida àquele invento.
AVALIAÇÃO:
Conto de FC, com toques pontuais de sabrinesco. Embora, a ideia do simulador de sonhos não seja muito original, a narrativa prende a atenção pela espontaneidade dos diálogos e reflexões sobre o que poderia ter sido a vida de Pedro se tivesse optado por pedir Helena em casamento. O texto me fez lembrar do filme A Mulher Invisível, já que só Pedro via Helena.
Não encontrei grandes problemas de revisão, ou talvez não me dei conta deles pelo envolvimento na trama.
O ritmo da narrativa é bom e o equilíbrio entre ação e devaneios torna a leitura agradável e fluida.
Parabéns pela participação no certame. Boa sorte!