[…]Quando algo muda, o que era perece,
e é gerado o que não é[…]
Julia abriu os olhos e teve que prender a respiração, a umidade invadiu suas narinas e o cheiro pungente de bolor pareceu percorrer sua laringe e se espalhar pelo seu pulmão. O telhado de fibrocimento formava gotículas teimosas no topo invertido das ondulações. Como estalactites, prontas para descolar do teto e atingi-la, rasgando sua pele.
Sentou-se na ponta da cama e o chão de cimento espetou os pés descalços, mas ela não sentiu nada. O costume era uma venda nos olhos da realidade e Julia usava a sua desde criança.
Caminhou até uma pequena pia de metal do outro lado do cômodo. Um cano marrom saía da parede, com um registro improvisado como torneira, e gotas de água pingavam sobre o metal cinzento do lavatório. Ao lado, uma privada amarelada pelo tempo, sem tampa. Jogou água no rosto e se acomodou na privada, demorando ali por alguns minutos com os olhos fechados e o sono martelando sua cabeça.
Ainda sentada, puxou para si um relógio de pulso que repousava, esquecido, no cesto de roupas ao lado dela. Acoplou o relógio no punho e tocou a tela. Um mapa surgiu na sua frente, uma projeção holográfica que mostrava marcações coloridas em diversos pontos. Um deles vibrava em azul no meio da tela. Julia esfregou os nós dos dedos nos olhos e então leu o nome que se destacava:
“CLIENTE CLASSE A+ – G_PAX4”
Viu aquilo e, na medida em que o sono permitia, se apressou para sair. Vestiu uma minissaia vermelha e um top preto. Havia uma cômoda ao lado da cama e sobre ela um objeto circular. Ela deu um toque leve no topo da esfera e outra projeção se desenhou diante dela. Uma câmera mostrava seu próprio rosto, com olheiras profundas e o cabelo armado como uma guerra de fios endurecidos.
Cobriu as olheiras com uma maquiagem e passou um batom claro. Acertou as sobrancelhas, afinando-as um pouco. Puxou o cabelo para trás, pegou um frasco de laquê e expeliu o fluido, moldando os cachos aos poucos. Quando terminou, os cabelos cacheados caíam sobre os ombros, os olhos brilhavam e a pele não desvanecia mais.
Deu uma última olhada no quarto onde estava, talvez pensando no quanto mais teria que fazer até finalmente poder sair daquele lugar. Suspirou profundamente, se virou e saiu pela madrugada fria.
Não havia postes de iluminação naquela parte da favela. A viela estreita se confundia com o céu noturno e as vigas de madeira de cada barraco se elevavam de ambos os lados, tortas como galhos das árvores mortas que eram.
Julia caminhava rápido e, ao dobrar uma esquina, deu de frente com duas mulheres. Uma delas, que segurava um fuzil de assalto, a mediu e disse:
“Se é pó que tu quer, vai ter que ir até a próxima viela…”
Ela agradeceu sem contestar e continuou. Já sabia da rotina, dos pontos em cada esquina, da vigilância. Incontáveis foram as vezes em que acordou no meio da noite, assustada com o barulho de rojões misturado ao de tiros. Nunca se esqueceu da voz do irmão, que repetia a mesma frase toda vez que os estouros rompiam a madrugada:
“Três vêiz pra chegada do carregamento, duas pros coxinha… entendeu? Se ouvir só dois, corre!”
Julia se agarrou a essa memória e se lembrou também de que nada daquilo havia adiantado. No fim, o irmão morrera, o pai morrera. Todos morreram mesmo com os avisos, mesmo com a falsa sensação de segurança que aquelas tábuas de madeira que chamavam de lar proporcionavam. E a cada vez que ela caminhava entre os becos úmidos da Favela da Invasão essa lembrança a atingia e ela se via de novo na mesma cena, com nada à vista além da escuridão que envolvia seus olhos e dos sons que ressoavam ao longe:
Um estouro.
Dois estouros.
Silêncio…
Passos rápidos no barro ressecado. Mais passos. Latidos. Portas se abrindo e se fechando do lado de fora do barraco.
Uma menina de doze anos embaixo da cama, sozinha.
“Polícia, vagabundo. Para, para, para!!!”
“Sô trabalhador, senhô… tô limpo, tô limpo…”
Clac… Bum!
Corpos estendidos sob o chão.
Morte.
No dia seguinte, nada. Só mais uma criança sem pai como tantas outras. E mesmo assim, Julia caminhava inabalável na direção do CLIENTE CLASSE A+ – G_PAX4, no encalço de uma esperança baseada em ascensão econômica na qual foi submetida a acreditar.
Saiu da viela em uma rua larga. Postes de luzes amareladas não conseguiam iluminar a via, mas era possível ver a luz brilhante de um bar aberto no fim dela, vibrando, distante, como uma saída dos confins do purgatório para o paraíso. Ela foi pela calçada, passos curtos e rápidos. O salto teclando no concreto.
No bar, um homem aguardava atrás do balcão. Olhando pacientemente para a rua vazia. Julia entrou.
— Fui a primeira a chegar, Sálvio. — Ela disse, mostrando o relógio ao balconista e clicando na tela. — Sei lá o que significam esses códigos de vocês, mas esse é meu.
Um holograma surgiu na parede do bar. Nele havia um mapa e a indicação do cliente, como um cartão de registro, mas sem nenhuma outra informação além da sigla.
— Sem foto nem nada? — perguntou ela. — Quem é esse? O presidente?
O homem do balcão entregou um envelope à Julia sem dizer uma palavra. Ela o abriu e decidiu relevar o fato de ter sido ignorada ao conferir o volume de notas do seu interior.
Virou-se para a rua no momento em que um carro preto parou em frente ao bar. Corrigiu a postura, tentou sorrir e entrou no veículo.
***
O carro preto atravessava a madrugada e Julia perdia-se em pensamentos no banco de trás. O vidro fumê refletia sua silhueta e ela observava os contornos do seu próprio rosto. O tempo transcorria devagar e ela batia com os nós dos dedos nos joelhos.
Olhou pela janela, para as ruas desertas e esfumaçadas e para o brilho fosco dos prédios que preenchiam a cidade. Sem se dar conta, adormeceu.
O som dos freios.
Uma porta se abrindo.
Depois, fechando.
Batidas no vidro, fortes, mas abafadas. Três batidas.
Uma…
Duas…
Três…
Julia abriu os olhos e a porta do carro estava aberta. Do lado de fora a noite escondia-se por cima de uma fachada verde e azul iluminada. Assim que ela saiu do carro, a porta se fechou e ele partiu sem rodeios, ela sabia como funcionava.
Decidida, caminhou até a porta e entrou em um saguão enorme. Subiu até o andar superior e entrou por um corredor estreito. No fim dele havia uma porta. Julia foi até ela e estendeu a mão até a maçaneta, mas não a virou, algo dentro dela suscitava, ainda tímido, o medo de passar dos limites da privacidade do cliente e botar tudo a perder.
Afastou a mão e deu um passo para trás. No mesmo instante, viu logo acima dela a luz vermelha de uma câmera. Abaixou o olhar e levou os dedos à nuca para acariciar os cachos do cabelo, mas parou no meio do caminho, como se tivesse lembrado de algo vergonhoso, e puxou com as duas mãos a minissaia, fazendo-a chegar até a altura dos joelhos.
Houve o som da fechadura se movendo e o brilho vermelho da câmera tornou-se verde. Instintivamente, Julia abriu a porta e entrou em uma sala sem janelas. Havia uma mesa de madeira cor de mogno nos fundos e um homem sentado atrás dela.
O homem se virou deu um sorriso acolhedor. Seus olhos eram de um caramelo penetrante e Julia se lembrou — sem entender o porquê — do seu pai, do seu irmão e — ainda mais sem motivos — do seu primeiro namorado. Todos mortos, mas vivos na figura daquele homem, como se ele fosse a personificação do seu desejo mais primitivo, íntimo e passional. Algo dentro dela se aqueceu e subiu do diafragma até a garganta, tomando seu rosto e sua nuca de um calor ofegante e confortável.
— Olá. — Disse o homem e se levantou. Era muito mais alto do que ela, uma mulher de um metro e oitenta de altura. — Estava esperando por você, Julia.
Julia abriu a boca para responder, mas a única coisa que conseguiu expressar foi um “ah…” desafinado. Ela pigarreou, passou a mão nos cabelos e então conseguiu se recompor.
— Desculpe… — Ela começou, sorrindo. — Muito prazer, senhor…
— Me chame de Tomás.
— Tomás… — Ela disse mais para si mesma e caminhou até a mesa, se debruçando sobre ela. — Espero que eu possa satisfazer seus desejos.
Tomás se levantou foi até ela. Julia sentiu as pernas tremerem quando as mãos fortes tocaram seu ombro e a colocaram sobre a mesa de mogno. Tomás disse:
— Espero que ambos possamos satisfazer um ao outro.
Então eles se beijaram.
***
Cinco homens de terno que pareciam apenas um assistiam ao que estava sendo mostrado no telão. Julia havia sido colocada sobre a mesa por Tomás, que estava sem camisa por cima dela. A câmera se aproximou de seu rosto e era possível ver o prazer nos olhos da jovem mulher.
Alexandre estava em um canto escuro do lado da tela e observava os homens sentados, ainda tentando compreender se eram gêmeos, clones ou apenas velhos que figuravam os mesmos trejeitos para confundir seus concorrentes. Pausou o vídeo e deu um passo à frente.
— Como os senhores podem ver, essa tecnologia usa estímulos visuais para que as experiências sejam de fato legítimas aos clientes. Julia é uma profissional de valor, mas atender a determinados públicos pode fazer com que ela não tenha o desempenho esperado mesmo que isso não ocorra conscientemente. Nesse caso particular, se não tivéssemos feito esse trabalho quando ela entrou no quarto do cliente, o resultado poderia ser devastador. O que vou apresentar aos senhores é uma demonstração em tempo real de como a manipulação de consciência pode trazer benefícios nunca ante vistos. Observem, novamente, a cena da mulher que se aproxima do quarto de nosso cliente.
Alexandre pressionou o botão e o vídeo retornou à parte em que Julia virava a maçaneta e entrava na sala, porém a câmera agora não mostrava mais um escritório com uma mesa de mogno, mas um quarto cinza com a luz baixa.
Havia uma cama nos fundos, com um homem deitado nela. Era velho e suas feições demonstravam que a saúde o abandonara há um tempo considerável. A pele amarelada e enrugada, os olhos baços, manchas marrons que salpicavam no seu pescoço e desciam pelo seu peito. Esse homem usava uma fina camisola de paciente de hospital e respirava difícil e pesadamente.
— O senhor Tomás é um cliente de longa data de nossa companhia. — Explicou Alexandre. — Um apreciador de prazeres exóticos e, por isso, trouxemos Julia ao seu encontro.
Julia estava parada na frente da cama e era possível perceber que não nutria nenhuma repulsa pelo que via. Pelo contrário, os presentes assistiam seus olhos brilharem da mesma forma que no vídeo anterior.
A câmera se afastou um pouco e mostrou dois homens, altos e de terno, parados ao lado da cama de Tomás. Olhos e feições que não demonstravam nada, eram como estátuas de carne ao lado daquele homem.
Tomás fez menção a um deles, que o ajudou a sentar na cama. AO fazer isso o lençol que o cobria foi puxado de lado, mostrando as coxas enrugadas e a ponta dos joelhos. Abaixo deles, não havia nada. Tomás tinha as duas pernas amputadas.
— Olá. — Disse ele, com uma voz fraca e nasal. — Estava… esperando por você, Julia.
Todos os homens daquela sala viram Julia caminhando até a cama, se inclinando sobre ela e sussurrando da mesma maneira que antes, como numa encenação em que repetia as mesmas falas, mas em um lugar totalmente diferente e avesso ao tom que usava. Então, um dos homens a pegou e a deitou sobre a cama enquanto o outro ajudava o velho a colocar-se por cima dela.
Alexandre pausou o vídeo e as luzes se acenderam. Ele olhou para os homens, ainda mais impassíveis, sentados em suas cadeiras.
— Eu quero oferecer aos senhores nova tendência nos serviços neurodigitais. Não há prazer mais real do que esse, o que vem do fundo da alma humana, e nossa profissional desempenhou seus deveres com um amor do qual ninguém seria capaz de simular. Podemos criar milhões de sensações artificiais, bilhões de estímulos nervosos em nosso cliente, mas nada se compara à experiência da cumplicidade pura, da aceitação mútua de uma entrega verdadeira. Essa é nossa meta. A prostituta não tem consciência sobre a ferramenta e por isso ela também pode ter uma experiência envolvente, ou seja, de certa forma ela também aproveita o atendimento. Tudo o que ela vê é baseado nos seus registros cerebrais e se transformam, até certa medida, em realidade.
Os cinco homens permaneciam em silêncio. Alexandre continuou:
— O cliente, se optássemos por métodos tradicionais, estaria consciente da manipulação mental, o que também não é satisfatório. Não mais nos tempos em que vivemos. Mas com essa tecnologia… — Alexandre clicou no controle e a câmera se aproximou do rosto de Julia e focando seus olhos encarando os olhos do velho, puro prazer e deleite. — Com essa tecnologia ele pode, real e verdadeiramente, sentir-se desejado do começo ao fim.
Os cinco homens, pela primeira vez, se olharam. Ou pareceram se olhar, Alexandre ainda nutria dúvidas de que todos eles eram, na verdade, projeções.
— Pensem, senhores, — Ele finalizou. — Nas outras aplicações que a manipulação mental pode fornecer.
Os homens se entreolharam. Pela primeira vez pareceram se mexer de forma aleatória e não como um corpo só diante de uma dezena de espelhos. Até que um deles disse:
— Isso é…
— Ultrajante!
— Perigoso!
— … Inovador. — Disse, por fim, o único deles que ainda não havia dito nada e se levantou.
Só nesse momento Alexandre percebeu que, apesar dos cinco homens terem a mesma fisionomia, os mesmos bigodes volumosos com as pontas enegrecidas pelo tabaco, os mesmos óculos com hastes pretas de polietileno e terno engomado, o homem que se levantava não estava de gravata, usava óculos com hastes transparentes e o bigode volumoso era completamente branco.
Os outros executivos pareceram desconfortáveis, mas assentiram num gesto sutil com a cabeça, um a um, e então deram um inconcebível e aterrorizante sorriso idêntico.
— Está decidido.
—Está…
— Decidido.
— Por favor, reúna sua equipe com nossos especialistas amanhã para começarmos.
— Como os senhores quiserem.
Alexandre retribuiu um sorriso dissimulado e os homens se levantaram. Ele apertou as mãos de todos enquanto saíam pela porta e, ao se ver sozinho na sala, não sabia mais dizer se havia apertado cinco mãos ou a uma só.
Oiiii. Um conto sobre uma garota de programa chamada Julia que vai ao encontro de um novo cliente e sem saber se ver no meio de um experimento de manipulação de realidade . No começo vemos Julia acordando e vemos o ambiente em que ela vive. Alguns detalhes indicam que se trata de uma realidade futurista como o relógio que indicava o cliente e a própria manipulação da realidade. Depois de se encontrar com o cliente a cena muda para uma sala em que executivos discutem uma nova tecnologia de manipulação e podemos ver que a Julia foi um tipo de cobaia e que o cliente é muito diferente do mostrado no primeiro momento. Os homens discutem o uso dessa tecnologia e no fim decidem a favor do seu uso e fica no ar a dúvida do que era realmente real e holograma na reunião. Gostei da atmosfera criada no começo do conto, mas achei que a passagem do momento que a Julia se encontra com o cliente para o que discutem a tecnologia foi muito rápido. Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
O conto narra a história de Julia, uma garota de programa que esta participando, sem saber, de uma experiência de manipulação mental, que consiste em mudar aparências e ambientais, pelo ponto de vista da profissional do sexo, com a finalidade de satisfação total do cliente, inclusive, da garota de programa.
Gostei mais do início do que do fim. no início a narrativa é segura, fluida, com ótimas frases e despertando bastante a atenção e a curiosidade. Na segunda parte, quando descobrimos sobre o experimento, ficou para mim um tanto confuso e meio sem sentido. Também fiquei querendo saber como é que acontece a tal da manipulação mental. A garota tem alguma coisa implantada nela? É uma droga que tem que ser tomada? São hologramas? Como é que conseguiram fazer com ela visse o ambiente e a figura física do seu cliente modificados? Não ter uma ideia, mesmo inverossímil, de como a manipulação é feita me deixou um pouco frustrado. Também tive a sensação que foram dois contos independentes que foram adaptados para virar apenas um. Mas isso é o que menos importa. No geral, até que eu gostei. Boa sorte no desafio.
Olá autor(a). Parabéns pelo seu conto.
TÍTULO: Realidade Fluida
GÊNERO:
[ X ] Ficção Científica
RESUMO: A narrativa ocorre no futuro. Uma jovem prostituta e favelada vai ao encontro de mais um cliente e o acha atraente, atendendo-o com certo prazer. Depois descobrimos que na verdade o cliente era um senhor que causaria repulsa, mas graças a tecnologia de manipulação neural a prostituta não visualizou o sujeito como ele é. Paralelamente o personagem que está apresentando o serviço a um grupo de executivos ficou em dúvida se esteve diante de pessoas reais ou hologramas.
ORTOGRAFIA E GRAMÁTICA: Uso incorreto da vírgula em “Ela começou, sorrindo”, “ante vistos”.
O QUE ACHEI DA HISTÓRIA:
Um conto bem contado de ficção científica que agrada por não ser previsível e apresentar um desfecho bastante satisfatório. O fato de ter duas realidades inventadas dentro do mesmo conto, sem que uma tenha atrapalhado a outra, revela um domínio da arte de escrever que senti falta na maioria dos contos.
O conto não deve ser previsível e o seu não foi. Parabéns!
Desejo sorte e torça por mim também. 🙂
Abçs.
Resumo: garota, moradora de favela, que trabalha como prostituta, dirige-se até um endereço misterioso, onde acaba transando com um homem atraente. Numa mudança de perspectiva, ficamos sabendo que o sujeito e até mesmo o lugar em que o encontro acontece, é uma manipulação. Trata-se de um velho aleijado, cuja imagem é alterada por uma espécie de software que faz a garota ter a ilusão de que está com outra pessoa.
Impressões: o conto é desenvolvido em dois núcleos que se tangenciam. Primeiro, a garota Julia, que deixa a favela em que vive e tem que se encontrar com um cliente que lhe é designado por um tipo de aplicativo. O encontro ocorre num local misterioso, mas ela fica de certa forma contente por se tratar de um homem que considera interessante. O segundo núcleo é como se fosse os bastidores, pois pessoas estão assistindo à cena de sexo com interesse científico e, pelos diálogos que têm entre si, sabemos que tudo ali é uma manipulação computacional/neurológica, pois Júlia tem seus sentidos alterados para achar que está com um sujeito atraente, mas na verdade está com um homem já alquebrado, aleijado.
O conto na verdade é um grande introito para algo mais abrangente. Sim, trata-se de uma introdução, um preâmbulo talvez, de uma história maior. Não há fecho em si mesmo, mas apresentação de personagens. Seria bacana ver essa história desenvolvida, saber mais de Julia, de Alexandre, até do senhorzinho que tem, talvez, seus últimos momentos de prazer.
Enquanto conto, a história não me satisfez porque faltou-lhe um arremate, algo que fechasse ao menos esse ciclo. A sensação que tive no fim foi de “e agora?”. Sinal que a história é interessante mesmo e que deve ter uma continuação.
De todo modo, parabenizo o(a) autor(a) e desejo boa sorte no desafio.
Resumo: Garota que trabalha como prostituta recebe um chamado de um cliente. Chega ao local do encontro transa com um cliente charmoso, porém a garota passou por um processo de controle de consciência e não sabia que o cliente era um velho doente.
Considerações: É uma boa estória, o enredo é interessante e o final bem construído. Achei que não se afastou do tema, mas houve exagero na descrição de alguns detalhes sobre Júlia que não acrescentam nada à estória. Outro ponto a ser revisto é a questão dos homens de bigode, ficou confuso, melhorando esses detalhes vai ficar uma estória ótima. Em relação à revisão vi algumas falhas. Boa sorte no desafio!
RESUMO: Uma jovem órfã de classe baixa e deixa seus aposentos e segue para o lugar de onde consegue seus serviços. Pouco depois, ela se vê pronta a oferecer seu trabalho sexual a um homem que em muito lhe lembra seus entes queridos perdidos. Ela não sabe que é cobaia de um experimento de implantação mental que pode manipular a mente alheia. Enquanto isso, Alexandre tenta vender o experimento a uma estranha plateia que assiste ao ato sexual.
COMENTÁRIOS: O conto é uma ficção científica em seu cerne. A história é original e o leitor sente empatia pela personagem principal. O problema é que demora demais para engrenar. Divaga mostrando a realidade de Julia, quando poucas palavras poderiam descrever. Sendo o tema ficção científica, o autor passou tempo demais descrevendo a realidade de Júlia, quando poderia desenvolver o funcionamento e as consequências da nova tecnologia.
A personagem Julia é bem desenvolvida. Sua aparência e realidade são narrados sem pressa, dando uma excelente ideia do que é sua vida. Sua personalidade foi pouco mostrada, mas não havia tempo para isso.
O texto é muito bem escrito e a narrativa é fluída, fácil de ler e com toques de elegância. Há um pequeno problema que me saltou os olhos no início: “ o cheiro pungente de bolor pareceu percorrer sua laringe e se espalhar pelo seu pulmão.” O correto seria “ o cheiro se espalhou pelo pulmão”, mas nada que uma revisão mais atenta não resolva.
O conto é bom, mas a meu ver, pecou ao desprezar o potencial de Ficção científica que tinha ao se deter tempo demais narrando a vida da personagem principal.
Grande abraço!
Realidade Fluida
Resumo: Uma garota encontra um relógio e através dele uma espécie de mensagem ou mapa que a guia até um cliente especial. Trata-se de um homem poderoso com certa idade, membros inferiores amputados e o gosto pelo prazer. Julia o satisfaz enquanto é assistida por alguns dos seus subordinados. A realidade se mistura com uma tecnologia onde o prazer pode ser sentido nas mais diferentes formas.
Ponto Forte: Me parece que o escritor buscou envolver os dois temas SCI-FI com Sabrinesco. Uma grande sacada dada as circunstâncias que estes dois gêneros podem ter em comum.
Ponto Fraco: Alguns pontos do texto ficam meio confusos em algumas partes. É real ou imaginário?
Comentário Geral: O texto criado não pende nem para um lado e nem para o outro. Explorar dois gêneros pode deixar confuso (opinião pessoal). É claro que isto é irrelevante, pois, temos muitos filmes policiais que misturam romance no seu gênero. Isto provoca aquela sensação de paixão que se tem quando um ou mais personagens nos cativam de alguma forma.
Júlia uma garota de programa tem seu passado coberto de memórias tristes pelos seus pais e irmãos. Vai a procura de seu cliente.
Opa, fiz o comentário do “Outono” no conto errado. Perdão
Resumo “Realidade Fluída”: Julia, devido às vicissitudes da vida, entrega-se à prostituição. Ela encaminha-se para o encontro com mais um cliente e, ao topar com ele, sente uma estranha atração e familiaridade com aquele homem. Ambos se beijam e fazem sexo. Porém, o que ela não sabe, é que do outro lado da câmera que registra todos os seus movimentos, um engenheiro tecnológico (Alexandre) realiza uma sabatina para um grupo de homens explicando uma nova tecnologia que utiliza estímulos visuais para que as experiências sejam mais legítimas. Em suma, o cliente que Julia estava agora copulando tinha uma beleza ilusória, sendo na realidade um velho decrépito de pernas amputadas.
Considerações: Incrivelmente bem escrito. Todas as palavras se encaixam com perfeição e a forma como o enredo foi conduzido me pareceu primoroso. O começo é bem arquitetado. O meio já começa a decair um pouco. E o fim, infelizmente para mim, é desanimador. Acho que o grande vilão desse trabalho quase impecável foi a própria história. Veja, tudo nela parece brilhar, porém ela envereda por um caminho simples e que termina muito aquém à capacidade que o(a) autor(a) nos demonstrou.
Resumo “Outono”: Avô conta para o neto uma história de seu passado; um evento fantástico em que ele conheceu um ser maravilhoso em forma de mulher e se apaixonara perdidamente. Ambos se entregam a um momento de afeto nas águas da cachoeira e, depois disso, tudo se torna uma saudade.
Considerações: É uma historia bonita e até empolga um pouco com todo o mistério. Porém, quando tudo nos é revelado, o desfecho não corresponde a todo o hype. Algumas descrições me pareceram muito bem-feitas, no entanto achei que faltou mais capricho para o enredo.
Resumo: Serviço de “realidade melhorada” é oferecido a executivos mal encarados que o aceitam depois de ver como isso fez uma prostitua “bonita” e um homem velho e feio serem levados a ver um ao outro como parceiros sexuais ideais.
Comentários: Brilhante! É uma mistura perfeita dos gêneros propostos neste desafio. Além de ser o melhor conto daqui que já pude ler.
A história poderia se passar em qualquer lugar do mundo que tenha uma favela, mas, mas não pude deixar de achar que se passava em nosso país.
Foi uma história criativa e muito bem contada.
Está de parabéns!
Resumo:
Ao invés de pagar um extra generoso para prostitutas fazerem sexo com amputados nojentos, um cara resolve gastar bilhões numa tecnologia inovadora de controle mental para fazê-las pensarem que estão carcando um cara bonitão (quem eu quero enganar, ele quer é dominar o mundo).
Comentário:
O texto tem duas partes, a primeira parte sobre a Júlia, sobre seu passado e sua vida e a segunda sobre controle mental. A primeira parte achei muito descritiva, o que para mim deixa o texto cansativo, então foi meio chato de ler. A parte da reviravolta foi melhor, mas ainda assim achei com um ritmo muito lento, foi muito texto para pouca coisa contada.
A primeira parte achei inútil, o passado e a vida da Júlia não serviu para nada, a gente lê sobre ela e aí ela some da narrativa para nunca mais voltar. Talvez fosse mais interessante contar sobre a tecnologia, tem um parágrafo em que o cara fala sobre isso, mas para falar a verdade eu achei bem enrolado e não entendi muito bem, controle mental para fazer as prostitutas gostarem de transar com clientes nojentos, mas… Não era mais fácil só oferecer o serviço pros clientes? Fazer eles delirarem com a tecnologia e mais uma parada aromática com insenso e tal? Tem uma parada de sexo tântrico que dizem que o orgasmo acontece no cérebro e não no órgão sexual, falam que ter um orgasmo pelo cérebro e bem mais poderoso que o orgasmo, digamos, normal. Pra mim, seria bem mais fácil eliminar a prostituta e deixar o cara viajar nessa parada sozinho, até porque fica uns caras no quarto para manipular os dois, achei um pouco forçado o que me quebrou a história.
Resumo: Julia é uma garota de programa improvável em um tempo em que a realidade foi modificada. O conto narra um encontro entre a moça e um cliente, ficamos sabendo que ela, mora numa comunidade pobre e violenta e que o encontro está sendo observado e usado como apresentação de negócios, para vender uma tecnologia que usa estímulos visuais para que as experiências sejam de fato legítimas aos clientes. É uma manipulação de realidade. O que para os usuários é uma experiência repleta de luxúria, vivida por corpos magníficos, a realidade é bem menos glamourosa. Mas, no final, fica provado que os humanos não querem a verdade.
Considerações: Como já disse Caetano – “ninguém acredita na vida real!” Acho que é essa a mensagem, muito bem desenvolvida pelo autor, que constrói sua história aos poucos e traz revelações que nos surpreendem. Boa ficção científica. Parabéns.
Boa tarde, amigo. Tudo bem?
Conto número 46 (estou lendo em ordem de postagem)
Pra começar, devo dizer que não sei ainda quais contos devo ler, mas como quer ler todos, dessa vez, vou comentar todos do mesmo modo, como se fossem do meu grupo de leitura.
Vamos lá:
Resumo: prostituta se encontra com cliente com quem se identifica. Descobrimos, depois, que ela teve a consciência manipulada, e o cliente na verdade é um velho com as pernas amputadas. O homem tenta vender essa tecnologia de manipulação da consciência – e consegue.
Comentário
Um conto bem interessante. Começa de um jeito, parecendo que vai ser um sabrinesco sobre prostituição, passa para uma crítica social sobre a vida nas favelas, e acaba num FC interessante. Vamos por partes.
Pra começar, gostei de ler, a leitura foi agradável e a temática, bem interessante.
Pra ser sincero, comecei com poucas expectativas, pois pensei que se trataria de um sabrinesco sobre a vida de uma prostituta, o que, em si, não me chama muita atenção.
Porém, gostei bastante da crítica social que você trouxe. A vida nas favels é realmente algo terrível, não somente pelo tráfico, mas pela polícia, que chega detonando e matando tudo que vê.
Surpreendentemente, o conto não para por ai, e apresenta um FC interessante. Até certo ponto, anotei aqui que o único FC que aparecia no conto era o “espelho-holograma” que ela usa pra se maquiar. Achei que isso era desnecessário, e me parecia uma tentativa de inserir algo de FC na história.
Porém, o ponto mais alto do conto acaba se tornando justamente a parte FC. Foi bem inesperado. Quando ela transa com o cliente, e vai pra cena da câmera, fiquei bem curioso. De que se trataria, a partir de então?
E foi bem legal a ideia de manipulação da consciência. E, novamente, a crítica social do homem branco, “tudo igual”, que detém o poder.
Enfim, um bom conto, com um conteúo interessante e com um enredo bem conduzido, utilizando as mudanças de enredo a favor.
Parabéns e boa sorte!
Resumo:
Prostituta recebe chamada através de um serviço do género do “UBER FUCKS”, sem saber que vai participar de uma experiência. A sua mente ia ser manipulada e o resultado iria ser mostrado numa reunião onde esse mesmo dispositivo de controlo mental seria demonstrado.
Comentário:
Conto brutal, que faria sucesso caso fosse adaptado ao cinema. É de leitura fácil e absorvente. Somos transportados para a acção do texto de uma simples, o que demonstra que o ou a autor(a) já têm alguma maturidade literária. Acho apenas que o desfecho deixa algo a desejar. A ideia é a de que a própria reunião era um teste do dispositivo. Talvez. Neste capítulo fiquei com dúvidas e a dúvida estraga a magia de um bom texto.
Muito bom. Adorei. ideia muito boa, texto bem escrito, fluido e coerente. Final inteligente. Parabéns.
Bom, para ser honesto, esse texto me deixou confuso. Para relato de uma invenção de inteligência artificial associado a manipulação psíquica das pessoas. A deixa final, me intrigou, não sei se o inventor (Alexandre) fez os testes em si mesmo ou não 🙂
Num mundo altamente tecnológico e virtualizado, uma prostituta e seu cliente são submetidos a um experimento inovador e muito surpreendente.
Gramática – Não encontrei erros de ortografia ou sintaxe.
Pontos fortes
– A curiosidade é o termômetro de um conto na minha opinião. E seu texto me deixou extremamente curiosa e interessada sobre o desfecho, ou seja, é bom.
– O enredo é de Ficção Científica e você já mostra isso logo de cara quando apresenta os elementos de alta tecnologia mesmo num ambiente de extrema simplicidade (desleixo, miserabilidade) – e isso foi também um sacada legal – esse contraste. A presença de uma prostituta confirmou aos poucos o toque sabrinesco, mas veja, sem apelação da linguagem em nenhum momento, e isso pra mim é essencial. Eu tenho asco por linguagem chula, erótica pura em um texto que não se vende como erótico (acho um desrespeito ao leitor e largo na hora).
– A sacada Freudiana do desejo foi muito boa, assim como a ideia de isso ter sido planejado e manipulado. Seu texto daria um novo episódio de Black Mirror tranquilamente.
– Você mostra e não conta, ou seja, básico para bons escritores. Nos faz sentir os aromas, a decadência dos lugares, o clima…
OBS: Nessa frase “o chão de cimento espetou os pés descalços, mas ela não sentiu nada” tive uma percepção (bastante subjetiva) de que poderia ser melhor, já que “espetou” é muito associado à sensação de dor. De repente usar algo como ” o chão de cimento marcou os pés…” mas não é uma dica essencial ao texto.
Parabéns pelo texto. Um abraço.
Julia era uma jovem favelada que perdera a família para o tráfico. Ela se torna uma prostituta que simulava por meio de tecnologia avançada um namoro com cumplicidade verdadeira através de manipulação mental. Cinco homens a observavam por uma câmara, e ela não sabia quantos eram.
A abertura do conto ficou boa, parecia real e quando entrou na parte tecnológica ficou maçante. A história progride dando muitas voltas, isso amarrava a narrativa. Não encontrei erros.
RESUMO: Garota acorda e se arruma para ir ao encontro de um cliente. Ela é garota de programa e mora em uma favela. Sozinha, pois seu pai e seu irmão haviam sido mortos em conflito com a polícia.
Sem que ela soubesse, estava participando de um programa de serviços sexuais aprimorados tecnologicamente.
CONSIDERAÇÕES: Conto muito bem escrito, linguagem clara e consegue prender a atenção do leitor. Entretanto, tive a impressão de se tratar de um conto sabrinesco, mas ao fim era um conto FC. O fim do conto achei broxante, uma pena, pois esperava mais. Minha humilde opinião, caro autor(a), mas se conto merecia um final mais marcante e envolvente e assim combinaria com o conto em si.
Caro(a) escritor(a)…
Resumo: Jùlia é uma prostituta que serve de cobaia para testar uma nova tecnologia que usa estímulos visuais para experiências parecerem legítimas.
Ficção científica. Narrativa fluída, palavras acertadas, construção idem. Conto linear apesar das mudanças de cena. Cenário visível através da descrição. Descrição na medida certa.
Gostei desse conto. É um ótimo conto. Faz-nos refletir até onde vamos com a tecnologia, até onde a ética pode ser questionada. A leitura segue sem percalços e vai prendendo minha atenção até o final.
Boa sorte no desafio.