EntreContos

Detox Literário.

O Alvo (Jorge Santos)

1

Suzana olhou para a janela. Lá fora estava um sol preguiçoso, tão típico de finais de Setembro. O vento soprava forte e anunciava tempestade. O telefone tocou.

– Vais almoçar connosco? Vamos ao Pampas. – anunciou Ana. Numa situação normal aceitaria a proposta. Mas hoje não. Tinha outros planos. Pediu desculpa e desligou. A sua atenção centrou-se num envelope grande da FedEx que tinha em cima da secretária, bem em cima do expediente. Olhou para o monitor. Cinquenta mensagens por responder. Algumas urgentes, outras muito urgentes. Nenhuma realmente importante. Consultou o relógio. Pegou no vaso com o pequeno cacto que tinha recebido de presente no Natal do ano anterior. Ou teria sido num outro ano qualquer? Depois de tanto tempo, parecia ter estado ali desde sempre.

Saiu da sala com o envelope numa mão e o vaso na outra. Passou pelo gabinete de Ana. Ela tinha quarenta e poucos anos, dois filhos lindos e ganhava mais 30% que Suzana.

– Tens certeza de que não queres ir? O Fábio faz anos e vai pagar um copo. Ele ainda não sabe, como é óbvio.

Suzana abanou a cabeça.

– Não tenho cabeça para isso. Tenho de ir aos correios.

– Como queiras. Nesse caso o Fábio vai ter de me pagar dois copos, o meu e o teu.

Suzana sorriu. Depois, mostrou o vaso a Ana.

– Ofereço-te. Sempre me gabaste o cacto.

– Não posso aceitar. É teu.

– Não, agora é teu. Já estou farta de olhar para ele.

Ana agradeceu com um sorriso de orelha a orelha e pegou no vaso. O cacto era relativamente bonito, tinha uma forma fálica e duas flores roxas na ponta.

Suzana saiu do edifício com o envelope na mão. Passou pelo lugar onde tinha o carro estacionado (reparou na ironia: nesse dia tinha conseguido estacionar a menos de 500 metros do emprego) e seguiu sempre em frente, passando por um quarteirão de prédios indistintos, cheios de lojas fechadas. A meio ficava o café que costumava frequentar. Esperava que o Sr. Maia não estivesse à porta. Naquele dia tinha pressa, não podia ficar a tagarelar com ninguém.

O vento aumentou. Ameaçava chover. Fechou o casaco e acelerou o passo. No parque havia um banco onde gostava de passar algum tempo. Era frequente ver as crianças a brincar. Esperava que hoje não houvesse ninguém, nem crianças, nem adultos a correr ou a passear os cães. Constatou que o parque estava vazio. Nunca ficara contente com a ausência de pessoas, mas hoje precisava estar sozinha.

Sentou-se no banco de madeira e deixou que a tristeza a invadisse. As lágrimas começaram a escorregar pela cara abaixo. Olhou para o relógio. Estava na hora. Num gesto estranhamente decidido, meteu a mão no envelope, tirou uma granada, encostou-a ao peito e fez-se explodir.

 

2

A notícia apareceu na televisão. Uma mulher de vinte e sete anos tinha-se suicidado com uma granada. Tomou conta dos noticiários, especialistas vieram explicar a problemática do suicídio, as razões, as causas. Suzana era uma mulher solitária, mas parecia feliz com essa escolha depois de alguns relacionamentos falhados. Nada apontava para essa decisão. Não deixara nenhuma mensagem. Para os colegas parecia estar normal. Passados três dias o assunto morreu e a comunicação social virou-se para a conjuntura nacional e internacional. O mundo estava à beira da terceira guerra mundial, o que interessava o destino de uma contabilista?

Sofia tinha uma ideia formada sobre o assunto. Suzana, a quem apenas conhecia pelas notícias, era uma pessoa desequilibrada e carente. Olhou para o relógio. Daí a cinco minutos sairia da loja. Depois apanharia o Metro até ao colégio da filha. Fez mentalmente a lista de coisas que ainda tinha de fazer.

A cliente aproximou-se. Uma senhora de meia-idade, muito forte. Era o grande problema da loja de roupa onde trabalhava – as marcas não faziam roupa para todos os corpos e ia demorar tempo até encontrar algo que a satisfizesse. Não se enganava. A senhora varreu literalmente a loja toda à procura daquilo que Sofia sabia perfeitamente que não ia encontrar. Quando conseguiu sair, já era tarde e apressou o passo, mais uma vez.

Para complicar, apanhou a entrada do Metro em obras, pelo que teve de correr até à estação mais próxima. Num passo mal calculado tropeçou e caiu. Um rapaz de mau aspecto pegou-lhe na bolsa. Uma dor profunda no tornozelo fê-la gritar e esquecer a dúvida de que poderia ser roubada. O rapaz ficou parado, com a bolsa dela na mão. Vieram outras pessoas. Um homem ajudou-a a levantar-se.

– Magoou-se? Está sempre a acontecer. Não há meio destes cabrões repararem isto. – criticou o homem.

O rapaz aproximou-se dela e deu-lhe a bolsa, com um olhar enigmático. Sofia agradeceu. Depois retomou o caminho, a coxear. Por algum motivo, não conseguiu esquecer o olhar. A custo, chegou à estação de Metro. O calor era insuportável, o ar irrespirável. A carruagem estava cheia – ela fez a viagem de pé, encostada a duas pessoas. Uma delas cheirava a esgoto e Sofia teve de prender a respiração para não vomitar. De qualquer forma, não teria espaço para o fazer sem ser para cima de alguém. Ao notar que a sua saída se aproximava, encaminhou-se para a porta, contorcendo-se através da multidão com o tornozelo a ganir.

Chegou ao exterior e respirou de alívio. Depois, olhou para o relógio e percebeu que tinha um grave problema. Quando chegou ao colégio, situado num morro, já passava meia hora. Maria esperava cá fora, as portas fechadas.

“Cabras”, pensou Sofia, mas logo compôs o seu melhor sorriso, esforçando-se para parecer feliz.

– Estás ferida, mamã?

– Não é nada, Maria. Caí. Não dói nada. Só coxeio um bocadinho.

Mais uma mentira. Só conseguia manter uma falsa aparência de felicidade com aquelas pequenas mentiras. Não podia dar-se ao luxo de entrar em depressão. A filha abraçou-a. Aqueles pequenos gestos recompensavam o resto e as duas fizeram lentamente o caminho até à estação do Metro. Depois tinham de apanhar o comboio para Almada, num ritual diário que Sofia há vários anos tinha a sensação de não aguentar mais.

 

3

A Laika deu sinal. Era uma cadela rafeira, de pequeno porte. Fazia uma festa sempre que chegavam ao pequeno apartamento onde viviam. Depois era o tempo de procurar os dejectos que ela deixava espalhados pela casa. Nunca aprendera a conter-se e fazia onde calhava. Isso deixava no apartamento um cheiro característico ao qual Sofia era já indiferente.

Viviam numa zona degradada da cidade. Sofia sabia disso, mas também sabia que era o único sítio que podia pagar. Não se dava com nenhum vizinho. Para todos os efeitos, ela não existia. Que saudades dos tempos antigos, quando o Rui estava com ela e não com a outra. Tentava não pensar nisso. Num momento era feliz, no seguinte estava sozinha, com a filha para criar. Preparou o jantar, deu banho à Maria, pôs a roupa a lavar. A sua vida era uma lista interminável de tarefas. Aliás, não era vida. Algures no seu percurso tinha-se tornado escrava de si própria. Agora, ansiava apenas por um bocado de tempo para pôr o tornozelo no gelo e descansar para começar tudo outra vez – não fosse necessário passear a cadela que estava eufórica, a ladrar aos saltos. Sofia, já mais morta que viva, pegou na trela e saiu do apartamento com a cadela.

Um homem passou por ela a fumar. Não lhe disse nada. Sofia sentiu-se invisível. Como se tivesse deixado de existir desde que chegara àquele bairro. As poucas vezes que lhe tinham dirigido a palavra era para se queixarem do barulho que a Laika fazia. Na praça que ficava a curta distância do prédio, um grupo de adolescentes conversava. Pareciam mais interessados nela do que era hábito. Sofia acendeu um cigarro enquanto a Laika fazia as suas necessidades na relva.

“Despacha-te, porra!”, pensou. Por algum motivo, não conseguia tirar da cabeça o olhar estranho do rapaz que lhe tinha apanhado a mala. Tinha a certeza de que a ideia dele fora fugir com a mala. Também não levaria grande coisa. Deu-se conta, aliviada, de que os rapazes tinham desaparecido. Estava sozinha na noite com uma cadela esquizofrénica. Regressou lentamente, a coxear. O tornozelo estava a ficar com a forma de uma bola.

Ouviu um som. Virou-se, mas não viu ninguém. Continuou o caminho. Pelo reflexo do vidro viu um vulto, ao longe. Virou-se novamente, não viu ninguém. No seu espírito, porém, havia a certeza de que estava a ser perseguida. Acelerou o passo, certa de que, quem a visse, deveria achar anedótica a sua forma de andar. Chegou ao apartamento, certificou-se de que a porta estava fechada e enfiou-se no quarto.

 

4

– Mas eu não tive culpa, irmã Rosa!

Discutir com uma freira era o mesmo que discutir com uma parede. Os horários eram sagrados, uma parte importante para a formação das crianças. “Também seria importante para a formação de uma criança de 5 anos ser deixada à porta do colégio?”, pensou, sem dizer nada. Deixou ali Maria e fez o percurso de Metro até ao Centro. Entrou na loja de roupa onde trabalhava sob o olhar atento da gerente da loja, que reprovou o aspecto de Sofia. Ela não tinha dormido nada com as dores. A meio da manhã sairia para ir ao médico. Antes não podia. A colega estava de licença de parto, só viria em Novembro. Sofia por vezes pensava que o melhor seria voltar a engravidar, para ter algum sossego.

No caminho para o Centro de Saúde, chocou com um rapaz de bicicleta. Tinha sido uma desatenção, nada mais. Ele pediu desculpa e foi-se embora. Ela tinha agora uma nova mazela, desta vez no braço. Chegou ao Centro de Saúde sempre à espera de um novo acidente. Depois de uma longa espera na sala superlotada foi, por fim, chamada. O médico observou o tornozelo e mandou-a ficar três dias em casa.  Não era uma licença de maternidade, mas daria para descansar. Informou a patroa de que não iria trabalhar e a irmã Rosa de que a Maria iria ficar três dias em casa com ela e foi-se embora aliviada, com a filha toda animada. Na estação de Metro viu um rapaz que não tirava os olhos dela. Seria o mesmo do dia anterior? Eram todos iguais, hoje em dia. Vestiam as mesmas roupas, tinham os mesmos penteados. Ele fez um gesto subtil mas perceptível em qualquer parte do mundo. Sofia agarrou com mais força a mão da Maria.

Um desconhecido tinha acabado de lhe fazer uma ameaça de morte.

 

5

– O seu cão ladrou a manhã toda.

De novo a conversa do cão. Sofia estava cansada disso. Tinha acabado de chegar a casa, estava cansada. Ia ter pela frente três dias de baixa com uma filha de cinco anos. Queria paz e sossego, não uma discussão com um vizinho. O homem tinha voz rouca e o hálito tresandava a tabaco e a álcool.

– Pensava que era permitido ter cães neste prédio. Além disso, é uma cadela.

O homem, que devia ter uns cinquenta anos, olhou para ela como quem olha para uma criança. Ela sentiu-se uma anã ao seu lado.

– Isso vai mudar, vai ver. Espere só pela próxima reunião do condomínio.

O vizinho entrou no apartamento dele, Sofia seguiu pelo corredor. Notou que a luz em frente à porta do seu apartamento estava fundida. Abriu a porta às apalpadelas. Normalmente Maria entrava a correr pelo apartamento dentro, mas desta vez estava escuro, e ela não gostava do escuro. Nem ela nem a mãe. Sofia tacteou na parede até encontrar o interruptor. Tentou ligar a luz, mas não conseguiu. Lançou a mão ao smartphone e acendeu a lanterna. Maria apertava-lhe a mão com força. Era naquele momento que a Laika costumava saudá-las, com ou sem luz. Mas a casa estava em silêncio e às escuras. Foi até ao armário onde estava o quadro da electricidade e ligou o disjuntor. A sala ficou iluminada e sentiu-se aliviada até ao momento em que Maria começou a berrar.

A parede estava manchada de sangue. Tinham desenhado um pénis a ejacular e escrito “MORRE, CABRA!”. Sofia tapou os olhos da filha, enquanto o seu coração disparava. Não parava de pensar que tinham estado no seu apartamento. Tinha sido assaltada. A sucessão de pensamentos levou-a rapidamente a uma ideia ainda mais assustadora: o assaltante podia ainda estar ali. Quis sair do apartamento, mas uma visão fê-la ficar. A Laika estava ali, ou o que sobrava dela, no meio de uma poça de sangue, carne e entranhas.

6

– Nada a fazer? Como é que não há nada a fazer?

A Sofia não acreditava no que o polícia tinha acabado de dizer. Não havia impressões digitais, nem testemunhos de ninguém.

– Ouça, isto é a vida real, não é uma série policial. Não há pistas, apenas podemos preencher o relatório da ocorrência. Nada mais. Se estava preocupada com a sua segurança, nunca deveria ter vindo para este bairro.

A verdade era dura, como todas as verdades. Alguém tinha entrado por uma janela, tinha-lhe matado o cão e vandalizado a parede. Não tinham feito outros estragados nem roubado nada. Desconfiava do vizinho. Mas ele não seria tão estúpido ao ponto de se ter queixado do barulho depois de ter feito aquilo. Ou seria? Ela começava a duvidar de tudo, tendo uma única certeza, a de não querer ficar naquele apartamento. Até conseguir mudar de casa, reforçou a segurança da porta e das janelas com o que tinha à mão. Iam ser dias complicados.

– Mamã, o que é que vamos fazer com a cama da Laika?

Sofia abraçou a filha. Agora só a tinha a ela. Era avassaladora a ideia de perda, mas sentiu-se de alguma forma aliviada – sempre teria menos trabalho e deixaria de ir para a rua à noite. Enquanto fazia gelo e Maria dormia ao seu lado na cama, deu-se ao luxo de chorar. Não se podia ir abaixo, mas reconheceu que podia dar parte de fraca. Tinha esse direito. O smartphone tocou. O número não era identificado. Atendeu.

– Quem é?

Do outro lado ouviu uma voz sintetizada.

“Morre, cabra!”

Desligou. O coração disparou. Foi à cozinha e tirou uma faca da gaveta, que guardou na mesinha de cabeceira, por baixo de um guardanapo. Não conseguiu pregar olho durante toda a noite. Era já de madrugada quando adormeceu e sonhou com a Laika. Um sonho estúpido. Elas eram perseguidas pela cabeça da cadela até um precipício. Sofia pegava em Maria e saltava.

Acordou estremunhada, com um barulho na persiana. Percebeu serem pedras. Uma, duas, três. À quarta vez, pegou na faca e foi espreitar pela janela, mas não viu ninguém. Depois bateram à porta com força.

– Desapareçam! – gritou, mas quem quer que fosse continuava a bater. Demorou algum tempo até que decidiu perguntar quem era e foi abrir, com a faca em riste. O vizinho do lado pareceu indiferente à arma branca.

– Ouvi barulho. Vim ver se estava bem. Soube do que fizeram ao seu cão.

Ela pousou a faca. E tentou sorrir, mas os nervos não deixavam.

– Obrigada. Pelo menos assim não se pode queixar do barulho.

Ele ignorou o sarcasmo.

– E o barulho?

– Alguém a bater na janela. Talvez o mesmo tipo que me matou a cadela.

– Estão a meter-se consigo. Algum inimigo?

– Eu não tenho inimigos. Não tenho nada, nem amigos, nem inimigos. Tenho a minha filha, tinha a minha cadela. Percebe? Vim morar para aqui porque é o único sítio que posso pagar, mas todos estão contra mim. Especialmente o senhor, sempre a queixar-se da merda da cadela. Está a perceber? Não tenho nada contra si, nem contra ninguém. Quero que me deixem em paz! E agora acontece esta merda e…

Ela começou a chorar. Apareceu a esposa dele. Estranhamente simpática. Fizeram chá, conversaram. É necessário tão pouco para que a vida pareça normal.

 

7

Voltou ao trabalho. Durante duas semanas a sua vida regressou à normalidade. Depois ela apareceu. Era uma rapariga dos seus catorze, quinze anos. Mascava chiclete e andava sempre com o telemóvel na mão, mas aquilo que realmente a diferenciava das demais adolescentes era o facto de parecer mais interessada na Sofia do que na roupa. Havia outras empregadas, mas insistiu em ser atendida por ela. Entrou no gabinete de provas com uma blusa e depois pediu ajuda. Insistiu que fosse a Sofia a ajudá-la. Esta entrou no gabinete de provas que tresandava a chiclete de morango.

– Precisa de ajuda?

A rapariga tinha a blusa no cabide. Era óbvio que nem chegara a experimentá-la.

– Eu não preciso. Mas a Sofia precisa.

– Eu? Porquê?

– Vou ser rápida… Foda-se, nem devia ter vindo! Descobri que o meu namorado é um deles. Vi no telemóvel dele. Se ele sabe que estou aqui mata-me.

Sofia estava a ficar cada vez mais confusa.

– Eles usam o facebook, o instagram e o whatsapp para se organizar. Escolhem um alvo e fazem tudo para o aterrorizar. Tem de sair daquele apartamento, mudar de emprego.  Eles não vão parar, podem demorar meses, anos. É a merda de um jogo, percebe? Quando os jogos de computador já não dão pica, usam a realidade como jogo. E a Sofia é o alvo. Se quer sobreviver, fuja.

A rapariga saiu do gabinete de provas. Sofia começou a pensar nas palavras dela. Faziam sentido. Dirigiu-se de imediato à polícia, mas eles nada fizeram. Não havia provas, nem crime. Não conseguiam identificar a pessoa, logo o testemunho não valia nada. A única coisa certa era mudar de casa. Ela foi mais longe. Mudou de casa, de emprego e de cidade.

 

8

A 220 km de distância, Sofia sentiu-se segura e confiante como não se sentia há semanas. A fuga tinha sido a única forma de ganhar paz de espírito. Tinha ainda algumas raízes naquela terra. Uma tia vivia com o neto, de quinze anos, nos arredores da cidade. Sofia arranjou emprego num restaurante. A Maria tinha reagido mal à mudança de cidade – mais por causa das amigas do colégio do que pela vizinhança, mas rapidamente se ambientou. Vivia agora num bairro menos problemático, numa cidade mais calma, cheia de luz e de jardins onde passavam as tardes de domingo.

No dia do aniversário de Sofia, no meio das contas e da publicidade dos supermercados, encontrou um envelope com o seu nome. O envelope tinha motivos infantis.

– De quem é, mamã? – perguntou Maria, com a curiosidade típica dos seus 5 anos.

– Não sei, fofinha. – respondeu Sofia, abrindo o envelope. Dentro estava o que parecia ser um postal. Mas já ninguém envia postais, nesta época em que a internet tomou conta de tudo. Não se enganava: em vez de um postal, encontrou uma fotografia de uma rapariga nua, enforcada numa árvore. Na barriga tinham escrito “TRAIDORA” com cortes profundos na carne. Reconheceu a rapariga que tinha falado com ela no gabinete de provas da loja de roupas onde trabalhara em Lisboa. Na parte de trás da fotografia, um aviso para não falar com ninguém.

Percebeu que não havia segurança em lado nenhum. A filha pressentiu a mudança no seu estado de espírito e Sofia esforçou-se para fingir que estava bem. Por dentro, tremia de medo. Precisava de fazer uma nova alteração na sua vida. Desta vez, não fugiria. Enfiou-se no comboio em direcção ao Porto com a filha. Apareceu de surpresa na casa de Magda, uma amiga de infância. Ela vivia com o marido, não tinham filhos.

– Precisava que me fizesses um favor. Daqueles que só se pedem aos grandes amigos. E queria que considerasses a sério o que te vou pedir, sem fazeres perguntas, por favor.

Magda não fez perguntas. Bastou-lhe olhar para o ar desesperado de Sofia para saber que algo de sério se passava. Aceitou o seu pedido e Sofia regressou sozinha a Coimbra. Durante um mês, Maria estaria a salvo.

 

9

Sofia regressara do trabalho, fazia o trajecto para casa sempre a tentar perceber se estava a ser seguida. Não entrava em contacto com Magda e tentava matar as saudades da filha da melhor forma possível. O álcool servia-lhe de refúgio e consolo. À noite mantinha as luzes acesas e tinha uma faca de cozinha na cabeceira da cama. O mínimo barulho deixava-a em sobressalto. Deu por si a ter medo da própria sombra. Olhava-se ao espelho e não se reconhecia – escondia tudo com a maquilhagem, mas o próprio patrão já reclamava.

Num dia perfeitamente normal, chegou a casa já de noite. Despiu-se e tomou um banho. Depois, vestiu uma camisa de dormir e deitou-se. Resistiu à tentação de ligar à Magda. Ela também tinha instruções para não ligar, não importava a razão. Olhou para as horas, no relógio que tinha na mesa-de-cabeceira. Quase 21h. Depois deu-se conta de que algo não estava bem. Faltava a faca. Levantou-se de um salto, no mesmo instante em que a luz se apagou.

– Quem está aí? – perguntou. A voz era trémula e enfraquecida, quase um murmúrio. Ouviu um barulho. Sentiu uma presença no quarto. Foi para o meio da cama. Com as persianas corridas, não se via absolutamente nada.

– És uma cabra. E as cabras têm de morrer.

A voz soou praticamente aos ouvidos dela, que tentou fugir. Mãos fortes agarraram-na e forçaram-na a deitar-se. As luzes ligaram-se. Eram três, com máscaras do Mickey, do Pateta e do Pato Donald. Um deles tinha uma câmara na mão. O outro amordaçou-a enquanto o terceiro a imobilizava – tarefa que não era fácil, dado que ela se debatia como um animal selvagem. Por fim levou um murro na cara que lhe partiu o nariz e a deixou inconsciente.

 

10

Acordou lentamente, oscilando entre os períodos de consciência e inconsciência. Tinha o corpo dorido e uma dor aguda na cabeça. Não conseguia ver. Percebeu que estava no chão do quarto, às escuras. Não se conseguia levantar. Arrastou-se penosamente até ao interruptor da luz. Pelo caminho, sentiu que se cortava nos vidros espalhados pelo chão. Apenas o silêncio a reconfortava – estava aparentemente sozinha, e nunca se sentira tão aliviada com esse facto.

Chegou a custo ao interruptor e ligou a luz. Teve vontade de gritar com o que viu. Todo o mobiliário do quarto estava partido. As roupas espalhadas pelo quarto, rasgadas. Nas paredes, símbolos satânicos pintados a vermelho – percebeu não ser o seu sangue, mas tinta. Ouviu bater à porta. Deu um salto. Apanhou um robe que lhe parecia estar minimamente decente e tapou com ele a sua nudez. Perguntou quem era e ficou feliz por saber que era uma vizinha, acompanhada pela polícia. Desfaleceu nos braços dela.

 

11

 Acordou no hospital, ainda sob o efeito de sedativos. Demorou algum tempo até se recompor do choque. Depois, foi informada de que tinha sido operada ao nariz. Sofia aceitou o facto com a resignação possível.

– A senhora foi vítima de extrema violência. Há outras medidas que pode ter de considerar.

A voz do médico era calma, como se fosse hábito apareceram casos como o dela.

– Desculpe?

– Foi vítima de estupro. Aconselho que faça exames o mais rapidamente possível.

A ideia do seu corpo ter sido usado por monstros era avassaladora. As lágrimas começaram a escorrer pela cara. O médico deixou-a sozinha. A humilhação e a raiva tomaram conta dela. A polícia veio depois, fez perguntas. Nada revelou. Para todos os efeitos, tinha sido assaltada e estuprada. Na realidade tinha sido apanhada num pesadelo do qual não conseguia acordar.

 

12

– Bom dia, Sofia.

– Bom dia, tia Helena.

Sofia estava de volta ao seu apartamento. Tinha reforçado a segurança da porta e das janelas. A tia veio visitá-la, mais uma vez. Desta vez tinha trazido o filho, Diogo. Era um jovem que vivia alheado no mundo da informática, tão comum nos jovens de quinze anos.

“Tão comum nos jovens de quinze anos.”

A ideia arrepiava agora Sofia, que passara a não conseguir ver um jovem da mesma forma. Agora, partia do princípio de que poderia ser um monstro. Até mesmo um rapaz de aspecto inofensivo e distante como Diogo. Ele era baixo para a idade, a cara coberta de acne. Tinha alguns resquícios de barba e indícios claros de que a higiene não seria a sua prioridade. Fora Sofia que pedira à tia que trouxesse o neto. Para todos os efeitos, era apenas uma visita como qualquer outra. Na realidade, toda a esperança de Sofia estava depositada nele. Pediu para falar com ele a sós, subiu o volume do rádio (bolas, tinha de estar a dar a merda da “Despacito”?) e explicou ao Diogo o que se passava. Não adiantava ir à polícia. Tinha de combater o fogo com fogo.

 

13

Voltou ao emprego duas semanas depois. Magda tinha aceitado ficar com a Maria mais algumas semanas. As duas estavam a dar-se bem e isso era um alívio para Sofia. Finalmente foi chamada pela tia, que a convidou para jantar. Sofia sabia a verdadeira intenção. Deu por si no quarto de um adolescente, viciado em informática. A roupa estava espalhada pelo quarto, Sofia conseguia ver roupa interior debaixo da cama. Encostado a uma parede estava um computador.

– Tens notícias para mim?

Diogo abanou a cabeça.

– Não tenho boas notícias. A rede em que foi apanhada é muito perigosa. Há muita gente doente. A Sofia é um alvo.

– Eu sei. A última pessoa que me falou sobre isso acabou executada por eles. Como é que eu deixo de ser um alvo?

– Só há duas formas. O jogo termina sempre com a morte do alvo.

Sofia levantou-se.

– Isso não é opção! Qual é a segunda forma?

– O alvo pode sugerir outro alvo. Se for aceite, o jogo recomeça.

– Jogo? Isto não é um jogo, é a realidade. A minha realidade. Será que eles não conseguem separar as duas coisas? Eu não vou fazer com que outra pessoa passe por isto! Isso faria de mim um monstro como eles!

– Não há outra forma, Sofia.

Sofia pensou por momentos.

– Isso significa que alguém me indicou a mim como novo alvo?

– Sim. Não posso saber quem sem me pôr em risco a mim próprio.

A ideia era avassaladora: alguém que a conhecia tinha sido vítima do mesmo esquema. Tentou imaginar quem tivesse sido, mas depressa desistiu.  

– E como indico outra pessoa?

Diogo escreveu um endereço de e-mail num pedaço de papel.

– Só funciona no teu caso. Escusas de dar este endereço ao novo alvo. E não me peças para fazer isto outra vez.

Ela guardou-o na bolsa. Aquele pedaço de papel significava, agora, a sua vida.

Foi para casa e meditou sobre o assunto. O objectivo do jogo era exactamente aquele, transformar as pessoas em monstros. E ela teria de se tornar num. Quem seria o novo alvo? Conheceu uma rapariga que trabalhava num café. Meteu conversa com ela. Chamava-se Irene e vivia sozinha em Coimbra. Demorou dois dias até se decidir a enviar o e-mail com o nome dela e o local de trabalho para o endereço que o Diogo lhe dera. Sentiu-se um lixo. Passados dois dias, recebeu uma resposta simples: “Estás livre, cabra.”

Percebeu que tudo acabara e dirigiu-se ao Porto para ir buscar a filha, esforçando-se para não pensar no destino de Irene.

 

Epílogo

Sofia não conseguiu a paz de espírito que procurava. O medo ficou sempre. Um barulho estranho sobressaltava-a. Chorava sem motivo aparente. Durante dois meses não menstruara. Pensou dever-se à tensão, mas um exame médico tirou-lhe as dúvidas. Estava grávida. Aconselharam-na a recorrer ao aborto. Tinha todos os motivos e mais alguns para isso. Iria gerar o filho de um monstro. Chegou a considerar a hipótese, mas depressa desistiu. Chegava de violência. A criança não tinha culpa e seria amada, mesmo que nunca conseguisse esquecer o que acontecera sempre que olhasse para a cara dela.

E depois havia o pesadelo que Sofia guardaria para sempre em segredo. Ela e o bebé, à beira de um precipício. Perseguidos por uma jovem armada com uma faca. No seu olhar selvagem, sedento de sangue, Sofia mal conseguia reconhecer a sua doce filha.

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54 comentários em “O Alvo (Jorge Santos)

  1. Miquéias Dell'Orti
    11 de novembro de 2017

    Olá,

    Não há medo mais aterrador do que aquele que vem da própria realidade. sua história me lembrou um pouco do filme Uma Noite de Crime.

    Gostei de tudo. A narrativa cativa a gente, nos faz querer chegar ao final e saber o que acontece. A ideia da “seita”, do jogo dos alvos foi uma sacada de pura criatividade.

    Os personagens também estão muito bem construídos. A inocência de Maria é tocante, principalmente sua reação pela morte da cadela (que, tenho que admitir, não queria que tivesse morrido).

    Acho que é isso.

    Parabéns e boa sorte.

  2. M. A. Thompson
    11 de novembro de 2017

    Antes de qualquer coisa, obrigado por nos presentear com essa pequena amostra do seu trabalho.

    Gostaria de apresentar o critério de votação que usarei no Desafio “Terror”.

    Por ter participado já leva um ponto e mais um ponto por cada item a seguir:

    [ ] Gramática e ortografia aceitáveis?
    [ ] Estrutura narrativa consistente (a história fez sentido)?
    [ ] O terror está presente?
    [ ] Foi um dos contos que mais me agradou?

    Dito isto, vamos a análise:

    O CONTO
    Uma jovem se vê envolvida em uma espécie de jogos mortais, porém sem qualquer relação com o filme. 🙂

    O QUE ACHEI
    O conto é muito bem conduzindo e demonstra domínio sobre a arte de escrever. Não duvido se o autor/autora já não tenha obras publicadas. Apenas o início me incomodou um pouco, dando a impressão de que estava faltando a primeira página de algum livro. Mas na continuação da leitura fiquei preso ao ritmo da narrativa e fomos assim até o final.

    GRAMÁTICA E ORTOGRAFIA
    Não é o português que conheço. Provavelmente português europeu. Incomodaram as seguintes escolhas frasais:

    “ganhava mais 30% que suzana” no lugar de “ganhava 30% a mais do que suzana” ou coisa parecida

    “tenho que ir aos correios”, vai em quantos correios? Correios é nome próprio, da empresa. Correio é qualquer estabelecimento postal. Então “ao Correios” ou “ao correio”, no meu entendimento.

    “sempre me gabaste o cacto”, deve ser como escrevem em Portugal. Soou-me estranho.

    “para a cara dela” ficou horrível, paracaradela, uma cacofonia que não combinou com a excelente qualidade do texto.

    O Terror está presente?
    Sim. Da melhor qualidade. Nada de devaneios com coisas que alguns têm medo e que ninguém jamais viu. é um conto de terror real e contemporâneo.

    Foi um dos que mais me agradou?
    Foi sim. Parabéns.

    Boa sorte no Desafio.

  3. Renata Rothstein
    11 de novembro de 2017

    Terror psicológico e moderno do melhor!
    Excelente conto. Do início ao fim, pude sentir o drama de Sofia, e a necessidade de escolher alguém para ser entregue em troca da própria vida, o trauma, eternizado na figura da filha, fruto da terrível violência..ufa, isso realmente é de causar terror na gente.
    Tudo muito real.
    Meus parabéns!

  4. Fil Felix
    10 de novembro de 2017

    Um conto que traz uma temática bastante atual, a coisa dos jogos virtuais insanos, e que coloca uma personagem que não é afeita a esse universo, mas que deu seus pulos pra tentar resolver o assunto (como falar com o adolescente). O terror é bem visível, e por se tratar de algo mais realista, também nos aproxima melhor das situações. A perseguição, o suspense, o abuso sexual, o medo de ser a próxima vítima, de ter que indicar outra, tudo muito interessante e bem construído. A linguagem foi uma barra pesada pra mim, esse português mais característico e forte me travou em vários momentos, claramente não é culpa do autor, mas das nossas diferenças de linguagem. A pessoa falar “a Sofia” a todo momento, em vez de “você” (não sei se realmente diz assim ou se referiam ao Alvo, meio que indiretamente) me dava um toc terrível.

  5. Rafael Penha
    10 de novembro de 2017

    O conto é bem interessante, um excelente terror psicológico. Algumas passagens ficaram excessivas, podendo ser retiradas do texto sem prejuízo da história. Achei o primeiro ato um tanto desconexo também.

    Apesar de interessante, a história as vezes se arrasta a ponto de causar sonolência. Talvez alguns detalhes poderiam ser omitidos para dar mais fluidez à leitura.

    Achei interessante a abordagem da tal “rede”. Como a história parece se passar alguns anos à frente, poderia ser muito bem a evolução dos jogos e seitas que vemos atualmente nas redes sociais que influenciam jovens e crianças. Muito bem explorado.
    Boa sorte.

  6. Daniel Reis
    10 de novembro de 2017

    Estimado entrecontista lusitano: eu realmente adoro as construções frasais de vocês. Leitura limpa, com pronomes sempre bem colocados. E com relação ao enredo, acredito que esse foi um dos textos mais bem construídos, unindo a escolha de Sofia com Baleia Azul. Não tenho muitas críticas, ainda que tenha sentido que o terror ficou subjacente ao enredo. Boa sorte, meus parabéns! (P.S. tive que procurar “cabra” no dicionário, para ter certeza do significado aí) Abraço.

  7. Marco Aurélio Saraiva
    9 de novembro de 2017

    =====TRAMA=====

    Seu conto faz ecoar “Black Mirror” na minha cabeça, rs rs rs. Eu gostei muito da série então, é claro, gostei muito também do seu conto.
    É óbvio que Black Mirrror, se teve alguma influência na sua escrita, foi apenas isso: uma influência ou inspiração. Seu texto é bem original. Enquanto a série foca em tecnologia, o seu conto foca na frieza da natureza humana. Na anonimidade, as maiores atrocidades podem acontecer.

    Seu conto levanta uma velha questão: qual caminho seguir? O de Suzana, no início do conto, que ao invés de indicar alguém resolveu matar a si mesma; ou o de Sofia, que, cansada, indicou outra pessoa para sofrer em seu lugar? Não é a toa que o nome do personagem é Sofia, dada a escolha difícil. Morrer ou matar um inocente desconhecido?

    Quão fácil é saber que alguém que você nem conhece sofreu e possivelmente faleceu por sua escolha, mesmo que não por sua culpa?

    Apesar da trama excelente, que gruda os seus olhos nas letras até o final, o desfecho foi um pouco anticlimático. Nada realmente aconteceu: o jogo continuou, Sofia apenas conseguiu se ver livre dele. A frase final indica que Sofia viveu com medo da própria filha tornar-se um dos monstros que jogava o maldito jogo… mas nada além de pesadelos. Acho que um conto com história tão boa e bem trabalhada merecia um final mais elaborado.

    =====TÉCNICA=====

    Sua escrita é muito gostosa. Seu português lusitano é forte, a tal ponto que não sei se me sinto apto a avaliar qualquer deslize na sintaxe ou erros de digitação.

    De qualquer forma, a leitura fluiu muitíssimo bem, sem travas, e quando menos notei, chegava ao fim do conto.

    Parabéns!

  8. Jose Paulo
    9 de novembro de 2017

    Um espetáculo. O autor (a) tem o completo dominio da escrita. Sabe envolver o leitor e não faze-lo afastar um só segundo do texto. Frases bem compostas, troca de pontos de vistas, relatos lineares…tudo isso deu a esse conto uma excelência no aspecto redação. Como não bastasse isso, uma história pra la de criativa arrepiou-me meus poucos cabelos. Tramas….dramas…alusoes e críticas a uma vida moderna ainda não tao digerida. Seu conto eh de uma riqueza absurda. Vou tentar dar cinco e meio pra ver se cola. Se não colar, peço desculpas pelo cinco. Parabéns.

  9. Pedro Luna
    8 de novembro de 2017

    Putz, até agora foi meu preferido e talvez seja assim até o fim. O conto já começa com uma situação totalmente louca e que prende a atenção: o suicídio da moça, nada sutil, usando uma granada. kk

    Depois, uma nova personagem surge e o conto a acompanha. Fica tudo meio nebuloso, mas aos poucos o sorriso nasce no rosto do leitor ao perceber que o conto está indo de encontro ao anunciado no título. Ela é um alvo, escolhida de maneira aleatória. Sinistro. O drama da personagem, da perseguição que ela sofre, é bem desenvolvido. É um ótimo conto de suspense. O fim, dramático, lembrou o filme Corrente do Mal, em que pessoas precisavam passar uma maldição para outras, desconhecidas. Mas você fez do seu jeito e ficou ótimo. Deu para sentir o peso dessa decisão de prejudicar alguém que você nem conhece, para salvar sua vida. Gostei bastante do seu conto, até porque ele conseguiu me prender a atenção em plena 1 da manhã.

  10. Leo Jardim
    6 de novembro de 2017

    # O Alvo (Lilith MacBeth)

    Autor(a), desculpe-me por não ter tempo para formatar o comentário melhor. Em caso de dúvida, é só perguntar.

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫):

    – boa, bem amarrada, bem desenvolvida
    – personagem protagonista muito bem desenvolvida
    – boa construção de tensão, mas o ritmo no início foi bem lento
    – algumas passagens sobraram, como a parte da escola, por exemplo, não acrescentando à trama
    – vários personagens surgiram tarte na trama, somente qdo necessário; exemplos: Magda e tia Helena; pior: Irene, surgiu só para morrer, se fosse outro personagem já apresentado, o impacto teria sido bem maior, sendo alguém por quem não nutria nenhuma afeição, ficou parecendo só um camisa branca (quis existem só para morrer)
    – no fim houve um Deus-Ex, qdo Sofia descobre que pode se livrar do jogo indicando outra pessoa; acho que ficaria melhor essa informação vindo mais cedo e ela não tendo coragem, somente depois do episódio do estupro Weir ela, arrependida, mudaria de opinião

    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫):

    – por ser um texto lusitano, tive dificuldades em avaliar gramática e escrita das palavras
    – achei, porém, a técnica muito madura; mesmo com algumas palavras diferentes, tive total compreensão da trama e senti a tensão passada
    – pontuação no diálogo: Vamos ao Pampas *sem ponto* – anunciou Ana.
    – Se for *aceite* (aceito), o jogo recomeça

    💡 Criatividade (⭐⭐▫):

    – usa elementos modernos, como o jogo da Baleia Azul e isso cria uma identidade única ao texto

    🎯 Tema (⭐⭐):

    – a cena da escuridão adequa o texto

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫):

    – gostei bastante da tensão criada
    – me importei com a personagem e fiquei tenso por ela
    – o Deus-Ex do final não chegou a me incomodar durante a leitura (somente depois) e, apesar de terminar em baixa, foi bastante satisfatório

    OBS.: sobre pontuação no diálogo, recomendo essa leitura: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279

  11. Ricardo Gnecco Falco
    3 de novembro de 2017

    Olá! Segue abaixo o resultado da Leitura Crítica feita por mim em seu texto, com o genuíno intuito de contribuir com sua caminhada neste árduo, porém prazeroso, mundo da escrita:

    GRAMÁTICA (1,5 pts) –> Sim, escrever é a arte de cortar palavras… E sem se esquecer de cuidar das que foram poupadas! Ou seja, uma boa e atenciosa revisão é FUNDAMENTAL em um texto — e não apenas para este quesito —, ainda mais em um trabalho que estará concorrendo com os de outros escritores… Gramática muito boa (Lusitana) e revisão muito boa. Só me incomodei na verdade aqui: “…”Não posso saber quem sem me pôr em risco a mim próprio.” 🙂

    CRIATIVIDADE / ENREDO (2 pts) –> Este é, sem a menor sombra de dúvida, o quesito MAIS IMPORTANTE de todos (e consequentemente possuidor do maior peso em sua nota final)… Gostei da história. Li tudo de um salto só. Contudo, acredito que o jogo no qual a autora tenha se baseado seja o tal da Baleia Azul, tirando um pouquinho a inovação da trama. Mas está bem escrito. Outro ‘senão’ é o fato da Sofia ter sido violentada (talvez até por 3 homens) e somente horas depois, no hospital, ter recebido a ‘notícia’ do fato. Não sou mulher, mas acho que estupro deixa dores físicas também, não? Principalmente ali pela área do ‘atrito’. Ou será que eles eram ‘realmente’ os famosos personagens animados da Disney, sem carne, ossos e, consequentemente, sem… Bem, já ‘deu’ pra entender. 😐

    ADEQUAÇÃO ao tema “Terror” (0,5 pt) –> Como estamos em um Desafio TEMÁTICO, não tem como avaliar sua obra sem levar em consideração este “pequeno” detalhe, rs! Assim sendo, mesmo eu o tendo valorizado apenas com meio ponto, ao final do somatório isso poderá representar a presença (ou não) de seu trabalho lá no pódio. Sim, é um conto bem tenso e ficamos aterrorizados com os acontecimentos todos que Sofia passa. Mesmo que povoado por ‘monstros humanos’, o conto está adequado ao tema Terror. 🙂

    EMOÇÃO (1 pt) –> Beleza! Gramática (e revisão!), criatividade (enredo), adequação ao tema… Tudo isso é importante para um bom texto. Mas, mesmo se todos os demais quesitos estiverem brilhantemente executados, e o conto não mexer de alguma forma com o leitor, ou seja, não o emocionar, o trabalho não estará perfeito… Como disse lá no início, gostei bastante deste conto! A autora escreve muito bem e conseguiu passar o sentimento de medo, ansiedade, desespero… Enfim, todo sofrimento vivido por Sofia também é vivido pelo leitor. Parabéns! 🙂

    Boa sorte no Desafio!
    Paz e Bem!

  12. Pedro Paulo
    30 de outubro de 2017

    Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto em bom uso dos elementos de suspense e terror. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tem que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário sirva como uma crítica construtiva. Boa sorte!

    Vou começar dizendo que este é um conto em que precisei de um momento para redigir o comentário final. Admito que a agonia provocada pela sua leitura (estranhamente posso dizer que no bom sentido) me deixou sem fôlego. Foi um conto escrito em “precisão”, por assim dizer. Isto é, o início com Susana e a transferência para o ponto de vista da atormentada Sofia, com a construção rápida do seu cotidiano e o aumento gradual dos terrores que a cercam e a perseguem… tudo isto agrega com uma fluidez tamanha que faz a leitura ser fácil e, consequentemente, aterradora.

    Sobre o tema, este foi abordado com maestria, extraindo todo o perigo da era digital, a nossa era, algo tão contemporâneo e palpável que sentir medo é inevitável. Inclusive, intercalei a leitura com umas olhadelas temerosas para a lente do notebook. Parabéns!

    É um conto que explora a atual fragilidade da privacidade em um mundo dominado pela tecnologia. A invasão da vida da personagem chega ao ápice com a brutalidade do estupro pelos monstros que a perseguiam. Durante toda a leitura, vamos agonizando na percepção de que a personagem está ficando sem saída, algo que aumentado na gravidez posterior e na compreensão de que é morrer ou repassar aquele inferno para outra pessoa. Talvez, o final em que ela aceita a criança possa significar alguma superação, tão necessária a uma história tão horripilante, mas, ainda assim, a autora não ignora o trauma que permanece com isto, outro ponto bastante positivo.

    Ainda não dei notas aos contos que avaliei, mas eu sei que a nota deste deverá ser a máxima. Repito: parabéns!

  13. Vanessa Honorato
    26 de outubro de 2017

    Ainda bem que não havia pessoas por perto! Corajosa essa menina. “Magoou-se? / cabrões / Metro (metrô) / carruagem / cabras / dejectos (etc), palavras usadas em Portugal, acredito eu, distraem um pouco a leitura, mas nada significante.
    O conto desenrola-se de uma forma boa, o suspense vai crescendo conforme a vítima vai sendo perseguida e atormentada. A parte terror ficou com a cena da mulher se explodindo, o restante é suspense, o que não é ruim, já que adoro também esse gênero. Achei que o alvo que ela indicaria seria a mulher da bomba, que aliás, se tornou uma heroína no fim, não é? Pois se ela morreu, é porque não quis indicar uma nova vítima. Seria a filha a próxima a jogar o jogo? Internet serve tanto para o bem quanto para o mal, e esses ditos ‘jogos’ estão cada vez mais na moda e mais assustadores. Parabéns pelo conto tão atual.

  14. Gustavo Araujo
    25 de outubro de 2017

    Rapaz, que conto foi esse? De longe, na minha opinião, o texto que melhor gerou medo, na acepção clássica da palavra. Isso porque é real, é factível, é verossímil e está acontecendo agora mesmo. O autor foi muito feliz (em termos literários) ao utilizar a questão do jogo da Baleia Azul e criar uma atmosfera claustrofóbica, angustiante, em que a ansiedade se sobressai e nos surpreende a cada parágrafo. Somos cúmplices de Sofia, de seu dilema universal – salvar a si mesma e condenar outra pessoa ou agir de forma altruísta e entregar-se aos lobos? Aliás, só por aí já dá para ver a perspicácia do autor ao nomear a personagem principal da mesma forma que a protagonista do famoso filme estrelado pela Meryl Streep. Gostei muito da maneira como o texto se desenvolve, num tom intimista, quase monótono, com as fugas e as tentativas de retomar a rotina, o trabalho, mesmo com as ameaças à espreita. Enfim, sou só elogios para esse conto perturbador, no melhor sentido da expressão. Parabéns!

  15. Jorge Santos
    24 de outubro de 2017

    Olá, Lilith.
    Gostei do seu conto. Está bem estruturado, com espaço para a narrativa respirar. A tensão evolui gradualmente, o leitor fica preso. No entanto, não se pode dizer que seja um conto de terror. Será mais de suspense ou policial. A linguagem é simples e correcta (e que bom que é ler um texto em português), verificando-se, no entanto, algumas repetições que a autora poderia ter evitado com uma revisão mais atenta. O desfecho poderia ter sido melhor trabalhado, mas estamos perante um bom conto. Parabéns,

    • Jorge Santos
      25 de outubro de 2017

      Onde está “português”, leia-se “Português de Portugal”. Isto de não se poder corrigir um comentário é o que dá….

  16. Anorkinda Neide
    23 de outubro de 2017

    Olá!
    Muito bom!! Embora eu considere mais o terror como algo sobrenatural, não é possível dizer que este conto não tem terror, pois ele tem!
    Pra não dizer que não faltou nada… a cena do triplo estupro deveria ser mais detalhada, para daí sim, não haver dúvidas sobre o gênero terror neste conto.
    Achei fortíssima a participação de Suzana e ficou claro para mim que ela suicidou-se como forma de livrar-se do jogo. Coisa que Sofia não poderia fazer por causa da filha, também por causa dos filhos (com o nascimento do novo bebê) ela não se suicidaria, mas carregaria para sempre o trauma e a culpa, devido a esta é que os pesadelos traziam a propria filha a perseguindo, é uma forma de se punir.(coisas do inconsciente)
    Você está muito de parabéns!
    e nem preciso lhe desejar boa sorte no desafio!
    Abração

  17. Iolandinha Pinheiro
    22 de outubro de 2017

    Um thriller policial com tintas de suspense que atravessa todo o conto, não dando folga ao leitor. Fico imaginando que coisas como esta ocorrem e que pessoas inocentes morrem todos os dias na mão de psicopatas que vivem impunes. A ineficácia da polícia (muito real) e os mecanismos que protegem a identidade dos algozes, causam uma sensação de frustração o tempo inteiro. O conto é bem escrito e envolvente, mas a personagem, com todo o sofrimento pelo que passa não consegue causar empatia ao leitor. É uma pessoa amarga e os poucos sentimentos que mostra são de insatisfação com tudo e todos. Cria uma cachorra, mas parece que o faz por obrigação e sente alívio quando o animal morre. Tenta proteger a filha, mas não parece ter muito afeto pela menina. Talvez seja assim pelos dissabores da vida, mas o tempo inteiro eu antipatizei com ela, especialmente quando escolheu alguém completamente inocente para atribuir o próprio fardo. Fora isso, um texto muito bom. Parabéns.

  18. Luiz Henrique
    21 de outubro de 2017

    Um ótimo conto de suspense, engendrado com o terror dos novos tempos. O perigo das redes sociais para com os desavisados de plantão. Principalmente as crianças, mas que nem os adultos escapam. Enredo e argumento muito bem tramado. Um autêntico terror. Alguns dos críticos acharam a personagem Suzana difícil de entender. Não achei tanto. Eu a considerei como mais uma das tantas vítimas e também algoz, como foi a Sofia. A narrativa mais que original no legítimo Português lusitano. Para nós, o exótico uso do verbo no infinitivo. O que torna a escrita Mui elegante. Enfim, um trabalho soberbo.

  19. mariasantino1
    18 de outubro de 2017

    Boa noite, autora!

    Legal essa mistura de Black Mirror e A Caixa. Acho que este foi o conto mas visual que os outros e daria uma ótima película. Gostei bastante da concepção do universo da Sofia. Você mantem o nível do suspense e aflição do início ao fim e isso é muito bom porque o leitor segue interessado no desenrolar dos fatos.
    Gostaria de saber um pouco mais sobre o lance de sair do jogo, mas acho que essa exigência só existe por eu ter me interessado bastante.
    Gostei muito disso aqui “Quando os jogos de computador já não dão pica, usam a realidade como jogo.”
    Enfim, um conto bem visual que não deixa de ofertar suspense e aflição.

    Parabéns!

  20. Evelyn Postali
    17 de outubro de 2017

    Caro(a) Autor(a),
    Tenebroso. Seu conto me tirou do sossego. Estava eu aqui, a ler os outros, que têm pouco terror e, esse, realmente me causou desconforto. Apesar de estranhar as diferenças da construção, a leitura foi agradável e não teve entraves. Pude seguir tranquilamente até o final. Tema atual, o que escolheu. Gostei de como desenvolveu o roteiro até o fim. Boa sorte no desafio.

  21. werneck2017
    14 de outubro de 2017

    Olá!

    Um conto cativante desde seu primórdio. A cena da mulher se explodindo serve como estopim para que a leitura continue. O leitor indaga a si mesmo sobre o motivo, quer se enfronhar nas linhas seguintes numa voragem literária que só termina na última palavra.
    Quanto às dúvidas que alguns colegas tiveram a respeito de certas passagens eu respondo que o conto dá margem às várias interpretações. As imagens foram lançadas, cabe ao leitor escolher com qual se identificar, qual q que melhor responde suas indagações. Perfeito.
    A autora demonstra domínio sobre o tema, atualíssimo – diga-se de passagem- , e sob o gênero do desafio e sobre a gramática perfeita.
    Parabéns!

  22. Lolita
    12 de outubro de 2017

    A história – O mal é algo inexplicável e que, muitas vezes, surge para pessoas que nada fizeram para merecê-lo. Não há como escapar, nem o que dizer. Em O Alvo uma mãe deverá enfrentar o terror (lembrei aqui dos ataques de grupos fundamentalistas que apontam a sua monstruosidade para alvos aleatórios) e, por sua filha, se arrastará até as profundezas da monstruosidade. Uma trama instigante e atual, só lembrar dos Baleias Azuis que surgem nas redes sociais…

    A escrita – O sotaque lusitano nada atrapalha, pelo contrário, ajuda na composição da atmosfera pretendida. Dos contos lidos até aqui, Sofia é a personagem de melhor construção. Eu simpatizei e torci por ela, de verdade. As sequências de perseguição são bem construídas e, apesar do exagero da granada, considerei instigante o começo do conto – tirar a própria vida, tão gratuitamente assim, é assustador. Faz o leitor temer por si mesmo.

    A impressão – Um conto assustador, me lembrou as melhores creepypastas do gênero (mas com qualidade literária). Parabéns e boa sorte no desafio.

  23. Roselaine Hahn
    11 de outubro de 2017

    Narrativa que prima pelo suspense, um terror psicológico. Gostei da forma como foi conduzida a trama e o drama de Sofia, a construção do personagem, uma mulher transbordando melancolia e as angústias de um cotidiano opressivo. Fiquei em dúvida na descrição: “Pelo reflexo do vidro viu um vulto, ao longe”. Não percebi na cena o tal espelho, visto que ela estava na rua. Também a fala do adolescente, Diogo, acho que poderia ser mais carregada com tintas próprias da idade. O que achei mais interessante no conto foi a linguagem do mundo cinza de Sofia: “Só conseguia manter uma falsa aparência de felicidade com aquelas pequenas mentiras. Não podia dar-se ao luxo de entrar em depressão”. Acredito que se a cena do estupro fosse detalhada, com seus pormenores, teria causado um impacto ainda maior no conto. Parabéns pela escrita. Abçs.

  24. Lucas Maziero
    11 de outubro de 2017

    O conto prima pelo bom prosear, e através dessa linguagem escorreita a atenção e o interesse ficam focados, e o entretenimento acontece. Do começo ao fim, a leitura é prazerosa, acompanhei Sofia em suas peripécias até o desfecho, Sofia fugindo de seus perseguidores, o descobrimento de que ela estava envolvida em um jogo cruel, e o terrível dilema de ter que escolher outra vítima para se ver livre. É uma boa ideia, e o terror aqui foi bem construído, equilibrado ao longo de toda a história, embora não tenha havida um clímax, uma vez que se esperava a qualquer momento o lance em que Sofia cairia nas mãos dos jogadores psicopatas.

    O conto me ofereceu algumas dúvidas, a saber: o que significa o sonho de Sofia? Tem algum fundamento para o conto, ainda mais como fechamento? Ou o final nos dá a entender que Maria, já crescida, também se torna vítima do jogo e por conseguinte persegue a própria mãe? E quanto ao começo? Suzana também estava envolvida com o jogo e, não aguentando, abreviou o que imaginava inevitável?

    Pois bem, esses são os pontos que para mim permanecem sombrios.

    Mas é um bom conto, gostei bastante.

    Parabéns!

  25. Fernando.
    8 de outubro de 2017

    Lilith de além mar a me trazer um conto lusitano. E que história. Gostei muito. Uma linguagem diferente, sem precisar tomar cuidado em camuflar palavras e expressões. Um conto de alguém que domina a dinâmica do conto. Gostei da circularidade que me apresenta, desde Susana a se explodir, fiquei com a impressão que estaria às voltas com algo ligado à questão política mundial e foi legal ter sido enganado. No início do conto algumas repetições de palavras, mas que estão bem justificadas em cima, em cima, urgente, mais urgente. Realmente gostei muito. A história me gerou tensão e medo do que iria acontecer em seguida à nossa protagonista. Parabéns.

  26. Ana Maria Pires Monteiro
    6 de outubro de 2017

    Olá, Lilith. Por fim encontro um texto em português de Portugal, li-o como “peixe na água”. Que bom! E que bem! Não acredito que fui a única a pensar que ia ler um conto sobre terrorismo, e afinal… bem, afinal encontrei o terrorismo de cada dia (mais pernicioso que o tal outro tão noticiado). É agradável ler algo bem dentro do real. Gostei muito, a língua está impecavelmente tratada e se existiram lapsos na revisão, não os detetei.
    A história é atual e perfeitamente ambientada ao urbano-depressivo que se vive no nosso país e um pouco por toda a parte, está bem delineada e conduz o leitor, de percalço em percalço, pelo itinerário de Sofia.
    Deduzo que Suzana tenha indicado Sofia como sua sucessora para “alvo” em lugar de si mesma e não tenha conseguido lidar com o sentimento de culpa que tal facto lhe acarretou, associado a todos os horrores que viveu e a ele terão levado.
    Gostei muito do seu conto. Não me aterrorizou, (“mea culpa”, a quem nada aterroriza, além de abelhas), mas isso não lhe retira o brilho ou a excelência – muito menos o facto de ser pertinente e oportuno em tempos de “baleia azul” e todos os seus aterradores derivados, muitos dos quais – provavelmente – serei desconhecedora.
    Só o final ficou difícil de encaixar no todo. Se fosse o bebé nascido de tudo isto a seguir as pisadas psicológicas e factuais do pai, ter-me-ia feito mais sentido. Mas é tudo o que tenho a apontar. Quanto ao resto, perfeito:
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  27. Fheluany Nogueira
    6 de outubro de 2017

    Enredo e criatividade – Instigante, atual. Os jogos de RPG (Role-Playing Game), que são diferentes dos convencionais, pois não há ganhadores nem perdedores, trazem essa extensão para o dia-a-dia real. Aqui um personagem escolhido aleatoriamente é manipulado pelo medo, até a morte (caso da primeira parte) ou deve escolher o substituto (parte mais fraca no conto, em relação ao todo). Não é novidade, o ”Baleia Azul” esteve nas mídias recentemente. Eu mesma já escrevi um conto com o assunto.

    A narrativa foi muito bem desenvolvida, diálogos convincentes, a surpresa do encaixe da introdução que parecia solta, personagens bem construídas.

    Terror e emoção – Trama psicológica, alguns dirão ou disseram que falta o sobrenatural. Eu gosto assim, deixou-me ansiosa, revoltada, preocupada. Boa dose de suspense. Lembrou-me a obra de Shakespeare, homenageada com o pseudônimo.

    Escrita e revisão – Sotaque encantador deu um toque especial à leitura.

  28. Angelo Rodrigues
    6 de outubro de 2017

    Olá, Lilith.

    Não fica a dúvida de onde nos vem o conto.
    Gostei bastante da fluência, ritmo e contemporaneidade do conto.
    Coisas que, tão doidas e terríveis, podem mesmo ser verdadeiras.
    Um conto do qual não se pode dizer muito. Sem falhas de escrita ou estruturação lógica. Um tobogã no qual se escorrega até chegar ao final, sem quinas ou cercas.
    Traz um enigma em si. Não faço ideia se proposital ou não, mas deixou-me a impressão de que a mulher que se mata com a granada viveu, possivelmente dois sentimentos:
    Fora vítima dos jogadores macabros e resolveu não jogar com eles, matando-se, dado que sabia morta por eles em breve. Fora vítima dos jogadores e, passando a Sofia o mal destino, matara-se em arrependimento.
    Só vi essas duas possibilidades a explicar o trânsito da mulher da granada pelo conto.

    Boa sorte e obrigado por haver compartilhado conosco o seu conto.

  29. Luis Guilherme
    6 de outubro de 2017

    Olá, amiga, tudo bem?

    Esse desafio me toca particularmente pois amo o gênero, então, tp ansioso pelos contos.

    Dito isto, vamos ao seu conto:

    Seu conto é um dos que fizeram valer a expectativa! Muito, muito bom! O suspense criado é espetacular, e talvez seja meu conto preferido até o momento, não decidi ainda. Pra mim, é muito mais assustador o tipo de historia que lida com os perigos reais, como os psicopatas. Esse grupo que você retratou, por exemplo, é algo bem palpável e bem provável que exista ao redor do mundo.

    É como o caso do filme “O albergue”, extremamente assustador por não tratar monstros ou fantasmas, mas sim pessoas perigosas e poderosas.

    No caso da rede que você criou, são pessoas anônimas que podem estar em qualquer lugar e tem uma ferramenta poderosíssima na mão, mais poderosa que uma bomba: a internet. Não tem como fugir nem se esconder dela.

    O clima de suspense e tensão é super bem construído, e me peguei angustiado com a personagem eu diversos momentos.

    Com as diferenças linguísticas, fica mais difícil apontar se houve erro gramatical ou de revisão, mas me pareceu praticamente impecável.

    O único porém que trago é o desfecho, que achei meio sem graça comparado ao restante. Achei meio sem sal, sabe?

    Não que isso atrapalhe o todo, mas se tivesse um desfecho à altura, eu afirmaria de cara que é o melhor que li até agora. Do jeito que está, digo que briga entre os 2 ou 3 primeiros com folga.

    Enfim, um belíssimo conto, excelente.

    Parabéns e boa sorte!

    • Luis Guilherme
      6 de outubro de 2017

      Ah, queria acrescentar algo (note que ainda to pensando no seu conto heheh):

      Acho que a chave do suspense da dua historia eh o elemento acaso. As pessoas sao escolhidas ao acaso, e isso eh assustador pois causa aquela sensaçao de “poderia ser eu”.

  30. Evandro Furtado
    6 de outubro de 2017

    Gosto da forma como o conto é desenvolvido, com suspense constante. A leitura gera um incômodo e é possível enfuriar-se com alguns acontecimentos. Os horrores descritos contribuem para compor uma ambientação que auxilia em todo esse movimento catártico. A resolução da trama, no entanto, me incomoda. Ela me parece abrupta e sem o preparo necessário. A vítima, por exemplo, da escolha de Sofia, surge de repente, quando faria mais sentido que fosse outra personagem que houvesse aparecido anteriormente na trama. Creio que isso poderia gerar um impacto maior em vez de uma vítima aleatória. A descrição do sonho final também me pareceu desconectada do resto, sem uma explicação plausível para tal.

  31. paulolus
    5 de outubro de 2017

    São os terrores da modernidade. Esse tema já é uma realidade pelas redes sociais. Crianças e adolescentes e suas respectivas famílias já vivem as turras com mutilações e suicídios. E sabe lá quantos mais trágicos problemas estejam a perturbar as consciências. Conto muito bem arquitetado. Um Terror com letra maiúscula. Para alguns dos analistas houve dúvidas quanto à personagem Suzana, para mim ficou claro sua participação como mais uma das tantas vítimas e também algoz, assim como a própria Sofia. A escrita no português original torna a leitura bem peculiar e agradável, a habilidade do constante uso do verbo no infinitivo é admirável. Mais um autor deste desafio que se faz pronto.

  32. angst447
    4 de outubro de 2017

    T (tema) – O conto está dentro do tema proposto pelo desafio. Terror!

    E (estilo) – Mais um conto com sotaque lusitano. Muito bom perceber as particularidades da linguagem. Estilo cuidadoso com o uso de palavras e imagens. Ainda não entendi muito bem o começo, aquela Suzana explodindo com uma granada. Parece que ela teve de cometer suicídio seguindo as regras de um desafio – tipo Baleia Azul.

    R (revisão) – Não percebi nada que chamasse a atenção.

    R (ritmo) – Um pouco mais lento no começo,mas depois ganha velocidade pelo desenvolvimento da trama. O leitor é puxado pelo suspense criado.

    O (óbvio ou não) – Nada me pareceu óbvio na narrativa. Senti medo, curiosidade, alívio, angústia. Tudo junto.

    R (restou) – Respeito pelo(a) autor(a) que soube nos trazer um texto de qualidade e demonstrou grande habilidade em lidar com o tema terror.

    Boa sorte!

  33. Antonio Stegues Batista
    2 de outubro de 2017

    ENREDO; Grupo de pessoas, escolhidas aleatoriamente, entram num jogo mortal. A trama é parecida, mas não igual, à história do filme Nerve, um jogo virtual, com risco de morte.. Bom enredo.

    PERSONAGENS: Bons. Bem construídos, fortes, marcantes.

    ESCRITA: Regular. Em princípio, a primeira parte não entendi, a da Suzana, mas depois com a segunda parte, veio a resposta, Achei legal. De início não sabia que a autora era portuguesa, estranhei as palavras “carruagem” e “Comboio e depois falou em Lisboa, uma coisa levou à outra. Achei algumas partes do conto um pouco enfadonhas, com descrições muito longas e certas situações meio sem graça, como a do sapato. O resto tá legal.

    TERROR: O terror se refere ao que a personagem sente, um terror psicológico, eu como leitor, não achei nada horrendo.

  34. Paula Giannini
    2 de outubro de 2017

    Olá, Autor(a),

    Quando seu conto teve início, pensei que se tratasse de um texto que falaria sobre o preconceito. A primeira cena explode uma mulher bomba, em seguida, a protagonista não é bem vinda, em absoluto, no bairro onde precisa viver por questões financeiras. Então pensei, que o autor falasse sobre as ideias preconcebidas que temos de outras pessoas, outras culturas.

    No entanto, o trabalho evolui para uma temática tão atual quanto a que imaginei, que é a questão dos absurdos jogos ao estilo Baleia Azul, ou mesmo, algumas passagens do cultuado “Jogos Mortais” do cinema. Quando o jogo online e a perversidade humana são levados aos extremos da insanidade.

    A premissa é excelente, bem como a execução do conto em si. Um trabalho muito agradável de se ler, cheio de suspense e ação, gerando curiosidade, sem deixar o ritmo se perder do início ao fim.

    Confesso, entretanto, que a imagem criada no início é por demasiado forte para que o leitor se esqueça dela. E a figura recorrente da mulher explodindo, rondou meu imaginário durante toda a leitura. Eu pensava: seria ela a pessoa que indicou a protagonista a ser vítima do jogo, teria ela sido obrigada a fazer isso consigo mesma com, na verdade, terroristas por trás do jogo, seria ela a própria protagonista no futuro. Como vê, as pistas que plantamos, são seguidas pelo leitor.

    Um ponto que me chama atenção é o modo como o autor trabalhou com os artigos frente aos nomes dos personagens.

    Quando se diz: “Maria é perigosa”, falamos descritivamente, de uma Maria que se conhece, mas não assim, tão de perto. Por outro lado, ao se colocar o artigo, dizendo: “A Maria é perigosa”. Maria torna-se muito mais perigosa e a frase soa quase como um aviso, visto que o “A”, demonstra que a conhecemos de perto.
    Não sei se é assim no Português de Portugal. Mas aqui no Brasil, sim.

    Eu fiz um curso no qual a professora brincava com as alunas dizendo que se queriam descobrir uma traição do namorado, bastava perguntar ao suspeito o que ele achava de “Maria”, e se este respondesse com “A Maria”, eram grandes as chances de a conhecer de perto. rsrsrs

    O que disse acima não faz diferença alguma na qualidade do conto em si, aliás muito boa. Mas levantei essa questão, pois me pergunto quem é a narradora do conto. E…. Como fiquei intrigada com valor que o(a) autor(a) deu à idade dos agressores. 15 anos. Isso, somado ao pesadelo no final, me fez pensar que, talvez, a filha da protagonista não tivesse 5, mas 15. O que justificaria o pesadelo e o fechamento do conto como um todo. Imaginei que, talvez, a narradora pudesse alguém que, de fato, conhece a vítima bem de perto. Talvez a filha. Mais que isso, talvez a narradora/filha fosse a tal que indicou a vítima no jogo. Terror total.

    Parabéns.

    Desejo-lhe sorte no desafio.

    Beijos
    Paula Giannini

  35. Edinaldo Garcia
    1 de outubro de 2017

    Escrita: Excelente qualidade literária. Profissional eu diria. Eu adoro textos lusitanos.

    Terror: Perfeito. Um exímio conto de terror. Muito bem trabalhado. Adorei a ambientação, a descrição das personagens principais; me fez sentir tensão e temer que o pior acontecesse. Isso é terror: fazer o leitor se preocupar com os personagens. Apenas senti falta disso quando se referiu à Irene. Talvez se pudesse ter colocado um patrão ruim do primeiro emprego para receber a maldição, o ex-marido… sei lá. Senti que o final ficou pouco trabalhado, talvez o foco fosse mesmo na personagem Sofia e sua filha, e eu não consegui compreender isso.

    Nível de interesse durante a leitura: Senti total imersão na trama. Muito bem elaborada.

    Língua Portuguesa: Ótima. É bom ler algo totalmente diferente do que estamos acostumados com usos de outras expressões, palavras inexistentes em nosso vocabulário. Eu confesso que me incomoda um pouquinho a falta (inexistência) de gerúndio no sotaque português, mas isso é frescura minha. Hehe. Outra coisa que me incomodou foi o fato de dois personagens se referindo a Sofia na terceira pessoa sendo que estavam falando diretamente com ela. Nada que tira o brilho da obra. Muito boa

    Errinho: Não tenho nada contra si – Não tenho nada contra ti

    Veredito: Excelente. Arroz de marisco muito bem feito e temperado.

    P.S: Se alguém puder me explicar a imagem.

    • lilithmacbeth
      2 de outubro de 2017

      Olá, Edinaldo.

      Prometi a mim mesma que não iria responder tão cedo a nenhum comentário, mas o seu merece uma resposta.

      Em primeiro lugar, obrigado pelas suas palavras. São altamente motivadoras e fazem-me sentir que estou no bom caminho.

      Quanto ao erro que aponta, preciso fazer um reparo. Aqui em Portugal diferenciamos a utilização do “seu/sua” e do “teu/tua” em função da familiaridade com o sujeito (“seu/sua” implica maior distância, reservamos “teu/tua” para amigos e familiares directos). Da mesma forma, diferenciamos o “si” e o “ti” em função da familiaridade, sendo que a frase indicada está, de facto, correcta.

      Quanto à imagem, representa apenas pessoas anónimas à espera de algo, talvez o melhor momento para atacar o alvo.

      Abraço,

      Lilith

      • Edinaldo Garcia
        2 de outubro de 2017

        Olá, tudo bem.
        Não sabia sobre a utilização dos artigos desta maneira. Lembra bastante o espanhol. Muito obrigado por explicar isso. Obrigado também pela explicação acerca da imagem.

        Boa sorte no desafio. E gostaria de manter contato depois de tudo ter acabado.

  36. Nelson Freiria
    1 de outubro de 2017

    Sei que não faz parte da avaliação, mas gostei da imagem adicional, combinou com o texto.

    O conto é mto bem escrito, não há dúvida. Por mais que o limite de palavras seja maior dessa vez, entendo que o autor(a) não sentiu compelido a criar um primeiro parágrafo instigante, na intenção de desenvolver uma progressão nos acontecimentos. Achei a parte “1” um pouco morosa, a “2” também. Mas levando em consideração a progressão, essa morosidade inicial não foi problema. Porém, ainda sobre a estrutura, o epílogo me deixou um pouco pensativo sobre se fazer necessário… confesso que ele trouxe uma carga emocional dramática a mais para o desfecho, mas não vejo pq essa carga emocional não poderia ser inserida sem essa divisão. Se o conto fosse bem mais longo, até entenderia. De qualquer forma, isso não interfere na nota.

    O português me pareceu impecável. Estranhei umas duas passagens pela diferenças do pt-br/pt-pt. Tem ótimas frases com ‘sacadas’ mto boas, bem dirigidas a reflexões do cotidiano, o que revela um autor(a) com vocação para o drama.

    Quanto a adequação ao tema, achei OK. O suspense crescente chega ao ponto de aterrorizar com macabras cenas, como a do postal da morte da menina. Acredito que dava para ter extraído um pouco mais de ‘maldade’ durante a investigação virtual, elencando outras atrocidades, ou então acrescentando algum ato aterrorizante junto do (já aterrorizante) ato de ter de escolher alguém para substitui-la no jogo. Agora, sobre a citação do “despacito”… quebrou o clima total kkk.

    Já vi alguns thrillers americanos que usam de elementos tecnológicos/virtuais de forma semelhante. Na verdade o cinema já os transformou num mundo de clichês, o que me faz olhar para o conto e procurar nele outras qualidades, além de somente assustar. E felizmente as encontrei 🙂

  37. Regina Ruth Rincon Caires
    1 de outubro de 2017

    Escrita fluente, enredo tenso, suspense adensado aos poucos. Duas narrativas independentes que só percebi ao final. Sou lenta…
    Texto bem estruturado, lógico, de linguagem fácil. Riqueza do português lusitano.
    O autor possui tremenda familiaridade com a linguagem, total domínio.
    Temática moderna que abraça o pavor que se espalha através da mídia, muito atual. O terror psicológico vivido pela personagem é lindamente desenvolvido e narrado pelo autor.
    Parabéns, Lilith MacBeth!

    • lilithmacbeth
      2 de outubro de 2017

      Olá Regina.

      Não há duas narrativas independentes… apenas um preâmbulo que pertence à mesma narrativa e cujo objectivo único foi o de reforçar a ideia de que as personagens fazem parte de um jogo que já iniciou há algum tempo. No entanto, a linha narrativa é a mesma.

      Abraço,

      Lilith

  38. Eduardo Selga
    1 de outubro de 2017

    Quando se avalia uma narrativa curta, ponto importante a ser perscrutado é seu ritmo. Particularmente quando ele não é acelerado, fica-nos o seguinte desafio: a lentidão apodrece a narrativa ou esta pede a lentidão?

    Em “O alvo” temos o segundo caso, ou seja, o objeto narrado pede o ritmo compassado, de modo a externar, em minha opinião, duas situações: o suspense e certo vazio existencial da personagem. Na verdade, das personagens, na medida em que Suzana, a que se explode no início do conto, também traz em si o mesmo deserto emocional de Sofia. Por causa disso, a pachorra de algumas passagens, como a da cadela Laika, fazem parte desse “cenário humano”.

    Fica-me uma dúvida: estamos diante de um conto policial ou de um terror psicológico? Uma coisa não invalida a outra, ou seja, é possível a coexistência de ambos os gêneros, e acredito que em “O alvo” habite tanto um quanto outro.

    Há uma ciranda de morte. Suzana se matou por não suportar o peso de ter indicado Sofia para morrer, subentende-se. Esta, por sua vez, se incomoda muito por ter indicado Irene à morte, de modo a livrar-se do destino traçado pelos psicopatas. Isso gera outro subentendido: fatalmente também ela cometerá suicídio nesse jogo terrível.

    Jogo. Esse é um aspecto bem interessante do conto, intimamente relacionado ao mundo contemporâneo, em que se avança tecnologicamente e se retrocede em comportamento e mentalidade. Vivemos dentro de uma lógica em que tudo está monetarizado e objetificado, de modo que, por exemplo, cada vez menos há namoro: INVESTE-SE numa relação, ou seja, a vida se transforma num jogo. Muitas vezes macabro, como demonstra o seguinte trecho: “Isto não é um jogo, é a realidade. A minha realidade. Será que eles não conseguem separar as duas coisas?”. O trecho mostra também algo muito comum: a mistura dos campos ficcional e real.
    .
    Uma questão é levantada: a filha de Sofia e também o rapaz de quinze anos talvez façam parte do grupo homicida. Isso é sugerido no epílogo, mas não apenas. Pelo trecho “Eram três, com máscaras do Mickey, do Pateta e do Pato Donald”, percebe-se no grupo assassino a predominância do universo infantil, ao qual pertence Maria e talvez também o rapaz.

    Esse ponto é também uma referência à espetacularização e mitificação do universo infantil, via indústria cultural (Walt Disney), estruturas importantes para a manutenção desse horror contemporâneo que muitos gostam de chamar de moderno.

    • lilithmacbeth
      2 de outubro de 2017

      Olá, Eduardo.

      Obrigado pelas suas palavras. Há sentidos no texto que o Eduardo descobriu que nem eu própria imaginava. Suzana foi apenas uma vítima do jogo. Outra pessoa indicou Sofia como próximo alvo. Com uma extensão maior do texto poderia explorar essa linha narrativa, bem como a história de Irene. Mas seria mais do mesmo.

      Abraço,

      Lilith

  39. Zé Ronaldo
    1 de outubro de 2017

    Ótimo texto. Precisão e fluência na escrita. Um terror psicológico de primeiríssima qualidade. O leitor chega a ficar ansioso pelo desenvolvimento da história.
    A personagem principal é forte, densa. Estereótipo da mulher atual, independente às custas das circunstâncias, mas que não se rende ao mundo e vai, a trancos e barrancos, galgando seu triunfo em prol da prole. É fácil tomar partido dessa mulher e torcer por ela. Sofia nos cativa, mesmo sendo cativa do jogo.
    Os diálogos são primorosos e complementam o clima de terror psicológico do texto.
    Gostei muito do início do texto, achei a morte por granada fenomenal, nada comum de se ler e isso é muito bacana. Mas a forma como Sofia se desvencilha de seu problema mortal, realmente, foi muito rápido. Outra coisa, sentimos em Sofia, um resquício de remorso pelo marido por ter se divorciado dela, nada mais natural do que ela ter escolhido o nome dele ou da outra, para realizar a troca.
    No mais, é texto de gente grande. Trabalho digno de ser publicado. Parabéns.

  40. Pedro Teixeira
    1 de outubro de 2017

    Gostei muito do conto. Traz uma narrativa segura, firme, diálogos críveis e uma atmosfera claustrofóbica e aterrorizante. Há elementos de clássicos do terror aqui, tais como “O Inquilino”( este especialmente na parte inicial, com um certo clima de isolamento e solidão muito bem construído), “Violência Gratuita” e “Cabo do Medo”, e também um certo toque de “Black Mirror”, mas tudo com grande inventividade. A cena da granada é impactante e gera enorme curiosidade sobre o desenvolvimento da trama. O único senão é a parte final, na qual o conflito interno da personagem poderia ter sido melhor trabalhado. Mas no geral é um ótimo trabalho, com belíssimas construções tais como “O tornozelo a ganir” e “tinha-se tornado escrava de si própria”.
    Dicas: Fez mentalmente a lista de coisas que ainda tinha de fazer – repetição do verbo fazer.

  41. Andre Brizola
    1 de outubro de 2017

    Salve, Lilith!

    De cara gostaria de comentar a temática. Achei sensacional. É atual, é moderno e, sobretudo, é muito próximo da realidade. E o terror pelo que passa a protagonista é palpável, não só pelo medo daquilo que o ser humano é capaz, mas também pelo absoluto desconhecimento o que passa.
    Tive alguma dificuldade com o texto no começo, mas daí percebi que se tratava de um texto lusitano. Aí recomecei sob essa ótica, e a coisa fluiu melhor. Só ainda não entendo muito bem a utilização de Sofia como terceira pessoa em diálogos em que Sofia estava presente. Mas esse é um problema meu, como leitor.
    Maldade, estupro, assassinato, é um conto com tudo o que há de pior no ser humano. É um dos melhores contos até agora!

    É isso! Boa sorte no desafio!

  42. Rafael Soler
    1 de outubro de 2017

    Um dos melhores contos do desafio, na minha opinião. O texto é muito bem estruturado, com uma narrativa extremamente dinâmica e com uma trama muito envolvente. É fácil se colocar no lugar da protagonista e sentir seu medo e impotência perante a situação.

    O único ponto que não gostei foi quando a personagem principal teve de passar a “maldição” adiante. Talvez se o conflito fosse um pouco mais explorado, o peso da escolha seria maior.

    No geral, foi um conto primoroso, que provavelmente estará entre os melhores desse desafio.

  43. Olisomar Pires
    30 de setembro de 2017

    Impacto sobre o eu-leitor: médio quanto ao gênero do desafio e alto quanto à qualidade da escrita.

    Narrativa/enredo: mãe e filha são tragadas pela violência psicótica de um grupo de maníacos.

    Escrita: muito boa, fluida e envolvente, mesmo existindo o forte “sotaque” lusitano e suas construções que não são costumeiras no português “brasileiro”. Aliás, isso dá um charme extra ao texto.

    Construção: inicio, meio e fim muito bem desenvolvidos. Um escritor muito maduro em seu ofício.

    Lamentavelmente, em minha interpretação, estamos diante de um notável conto policial e não de terror.

    • Jorge Santos
      13 de novembro de 2017

      Olá, Olisomar Pires.

      Obrigado pelo seu comentário. Quanto ao terror, este conto nasceu há muitos anos como a ideia para um livro. Nele, toda a acção seria mais desenvolvida e a personagem central entraria na rede e tornar-se-ia, ela própria, um membro activo, como única forma de se salvar. Decidi alterar ao transformar para o formato de conto. Talvez tenha perdido algum do terror e assumido um formato de policial, mas acredito que o terror esteja, ainda, bastante presente.

  44. Fabio Baptista
    30 de setembro de 2017

    Excelente!

    Muito bem escrito, com uma linguagem clara e direta, meio com ar de crônica até. Destaque para os diálogos, bem verossímeis. Antes eu estranhava bastante o “sotaque” português, hoje acho charmoso… não sei se me acostumei ou se os textos que têm aparecido são melhores mesmo. São pouquíssimas as expressões que me fazem travar, a maior parte das coisas diferentes ficam engraçadas (de um jeito bom) – nesse texto, a menção honrosa vai para “já não dão pica” kkkk

    A trama também é muito boa, moderna. Impossível não lembrar do jogo “Baleia Azul” que encheu o saco e causou apreensão há alguns meses. Gostei do desenvolvimento, das personagens, da tensão criada pela perseguição e dos alívios cômicos, raros mas cirúrgicos “(bolas, tinha de estar a dar a merda da “Despacito”?)” rsrs.

    Não curti o jeito que a primeira vítima se matou – uma granada? Meio exagerado, não? E o final me pareceu meio apressado também, o jeito que Sofia “passa a bola” foi muito rápido, apenas duas frases e estava resolvido, nem deu tempo de sentir pena da Irene.

    Não sei se captei muito bem o epílogo – era um medo de que a filha se tornasse uma das jogadoras?

    Enfim, esses detalhes de lado, posso dizer que foi meu preferido até o momento.

    Abraço!

    • Jorge Santos
      13 de novembro de 2017

      Olá, Fábio.

      Obrigado pelo seu comentário.

      Quanto à dúvida, no final: a personagem tem medo de que a filha se torne um monstro, ao crescer. Tem a ver com as mudanças que todos os pais sentem, quando vêem um filho crescer, em especial quando vivem num meio potencialmente perigoso, como aquele no qual Sofia vive, a classe média-baixa.

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Informação

Publicado às 29 de setembro de 2017 por em Terror e marcado .
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