Quando emergi das águas do rio, o Sol fazia um arco laranja no horizonte, como um gigantesco gomo de tangerina. Lembrei, ao olhar para aquilo, do que Bartolomeu contava em suas histórias com as meninas de época de festa. Ele sempre chegava ao lado delas carregando a fruta, jogando um gomo de um lado para o outro, e dizia sem um pingo de timidez “Oi, quer um bago?”.
O olhar matreiro e o jeito fácil faziam sucesso. Algumas, mais resistentes, o esbofeteavam, reprimindo o Desejo no fundo de sua alma. Outras, porém, sorriam com um grande sim nos lábios molhados. Mais tarde, a Castidade seria enforcada por seus dedos grossos pressionando a carne quente. Ele era dos bons, talvez o melhor de nós, mas isso não me importava mais. A Inveja não me fazia companhia a muito tempo.
Quando o Sol se escondeu, covarde, abaixo do horizonte e deixou uma marca vermelha no começo do céu, a Lua já havia rasgado algum pedaço do Infinito e mostrava sua face como uma ferida de pus aberta.
Saí na margem e olhei em volta. Somente o matagal me devolvia o olhar. Caminhei por uma trilha coberta com galhos secos. Ela atravessava um mangue completamente morto e se quebrava em diversas bifurcações que eu conhecia bem. Todas retornavam para a margem do rio, com exceção de uma que dava numa campina e, por fim, numa estrada.
Os galhos retorcidos do percurso se enroscavam entre si como um ninho de cobras transformadas em pedras e, caminhando sobre ele, lembrei de um jovem que corria em um labirinto de ervas daninhas que se erguiam até quase tocar o azul do céu. Ele era perseguido por criaturas com rostos que pareciam humanos, e patas que pareciam de gado. Vislumbrar essa imagem fez com que eu me perguntasse se aquilo era a lembrança de um passado perdido, mas o devaneio desapareceu quando cheguei ao descampado e peguei a estrada de terra.
Caminhei sobre o luar por alguns minutos. Pensei em tirar o chapéu para respirar um pouco, mas a Vergonha não permitiu que eu me mostrasse demais e o puxei para baixo, projetando sua sombra sobre meu rosto e só permitindo que meus lábios fossem apreciados.
Parti para a cabana, devagar. Havia tempo. O olho pútrido no céu ainda teria que atravessar toda a noite. Era a sétima vez que me permitiam sair. Sete vezes em que pude me divertir um pouco. Nunca, porém, havia me sentido tão eufórico como nesse dia. Só de pensar em Thereza. Ah… Thereza. O meu amor proibido. Diziam ser impossível para um ser como eu, amar. Inconcebível e impossível. E talvez por isso eu não tenha sido repreendido. Talvez, por esse motivo, tenham permitido que eu voltasse mais uma vez.
Para a surpresa deles, ao contrário do que acreditam, não há outra verdade senão a de que Thereza é minha alma gêmea, não há outro motivo para que meu desejo em a rever seja tão forte. Cinco anos. Exatos cinco anos da última vez que estive aqui. Tempo demais para ela, mas não para mim. Afinal, para seres como eu, cinco anos passam num piscar de olhos.
Combinamos, quando parti, que ela usaria um sinal para eu me aproximar quando voltasse. Ela deixaria uma lanterna pendurada na porta ao anoitecer. Essa seria minha mensagem de boas-vindas.
Avistei a casa e a fagulha de luz. Meus pensamentos ficaram confusos, acelerados e felizes. Era a sensação da Saudade sendo destruída pelo instante derradeiro e súbito do reencontro.
Apertei o passo, o sapato fincando marcas fortes na terra fofa. Já estava a pelo menos dez metros da cabana quando a luz apagou, desapareceu de forma misteriosa como se algum ser invisível a tivesse tocado e a tornado invisível como ele.
Parei ao ver aquilo. O medo subiu-me pela espinha e o pressentimento de que algo não estava certo me tomou completamente.
Da distância em que eu estava era impossível enxergar ou ouvir algo. Resolvi dar a volta por trás da casa. Entrei pelo mato alto e contornei a construção, parando logo atrás dela. Me abaixei e rastejei pelo gramado. A casa foi construída suspensa por vigas de madeira que a protegiam em dias de cheia. Fui devagar para baixo desse vão e parei entre dois sarrafos de assoalho.
Fiquei em silêncio até ouvir um som fraco, um gemido dolorido e o choro calado de uma mulher. Thereza.
Me preparei para voltar e perguntar, com toda a preocupação cega que o amor nos causa, o que a afligia. Então, ouvi sussurros que não eram os dela. Sussurros roucos e nervosos, o tilintar de esporas e o engatilhar de uma espingarda.
Me encolhi embaixo da cabana. O terno branco sujo de barro, o sapato submerso na lama e o chapéu com as abas amassadas e tortas.
Aproximei o rosto do tabuado para tentar escutar e ouvi a voz de um homem.
― Pare de choro ― ele dizia. ― Pare com esse choro agora, sua rapariga ou eu te furo aqui na frente da criança.
― Por favor, paizinho ― era a voz de Thereza. ― Sou sua filha.
Ouvi um baque seco e um gemido curto.
― Se você não calar essa boca, mato vocês duas antes da maldita criatura que fez tudo isso ― o homem levantou a voz e Thereza ainda gemia. ― Filha minha? Filha minha não ia se engraçar com demônio nenhum. Eu devia mandar você para o inferno.
Ouvi outro baque e o choro de uma criança. Meu corpo tremia, queria correr até lá, chegar por trás daquele homem, agarrar seu pescoço e apertá-lo até que sua cabeça soltasse do restante do corpo e eu pudesse puxá-la junto com a sua espinha.
― Cale essa criança, agora. Agora, Thereza! ― Gritou o homem. ― Cadê aquele ser dos infernos? Apareça ou atiro em todos aqui, seu verme filho da puta. Você amaldiçoou minha família. Tirou a pureza da minha filha e a enfeitiçou com esse amor demoníaco.
― Não, meu pai ― Thereza gritou. ― Por favor…
Todo o meu corpo berrava para que eu fizesse algo. Foi então que, parado embaixo daquela casa, tive uma nova visão: a cena de uma deusa que, um dia transformada em peixe, fugiu pelos mares para se esconder da morte. Observei-a sentada sobre uma rocha a beira-mar, com uma veste de seda, acariciando os cabelos negros de um jovem enquanto dizia: “Sê bravo com os tímidos, coragem para enfrentar os corajosos não é seguro”. Me mantive, após essa revelação, parado e a escutar os lamentos e as declarações de guerra e vingança do homem.
― Você destruiu tudo o que eu construí por causa de um coito com aquela cria do Satanás — continuou o homem para Thereza. — E mesmo depois de descobrir que era um boto, continuou com a insolência. Fez com ele um romance. Casou-se com o diabo. Bruxa ― gritou o homem. ― É isso que você é, desgraçada. Uma maldita bruxa.
Ele bateu nela novamente, mais forte dessa vez pelo grito de dor que ecoou na casa. A criança começou a gritar para que parassem.
― Não, meu pai ― a voz de Thereza era fraca, desesperada. ― Eu lhe peço, seja misericordioso. Me poupe da sua raiva. Sou sua filha, sua família. Helena, ela também… não…
Permaneci em silêncio mesmo com o estrondo ensurdecedor, mesmo com o som do corpo desfalecendo pelo assoalho de madeira e com os berros de uma criança clamando por socorro. Permaneci em silêncio diante da morte de alguém que me nutriu amor, que me esperou por cinco anos com a certeza de que eu voltaria para seus braços. Permaneci, sim, receoso pelo sinal que haviam me dado… o sinal dos deuses.
As botas do homem trovejaram sobre o piso acima de mim. Ele saiu pela porta da frente e gritou para a floresta.
― Maldito. Monstro. Demônio do rio. Onde está você? Por que não aparece? Covarde ― ele desceu pela escada e começou a dar a volta na casa. ― Me fez matar minha filha, minha única família. Carrasco do Satanás. Onde você está, boto maldito? Vou arrancar suas vísceras e comê-las com você ainda vivo… eu vou… vou…
Ouvi seus passos pela lateral da cabana. No céu, a Lua amarela iluminava a figura. A bota de cano alto, a barba grossa, o chapéu de palha e a espingarda ainda com o cano quente na mão esquerda.
Ao meu destino, reservei o silêncio e o homem parou de costas para mim. Ofegando, ele olhou para o céu, para o olho que tudo vê, que rasga o manto negro para espiar e se divertir com a crueldade da natureza humana e das criaturas que coexistem com ela.
― Era isso, então ― disse calmamente. ― Era isso que você queria, afinal? Que eu passasse o resto dos meus dias com esses olhos em mim, os olhos da minha filha morta ― ele ergueu a espingarda e gritou. ― Acha mesmo que vou viver com isso? Acha que sou homem de viver minha vida enterrado no sofrimento e na lamentação?
O homem que era pai de Thereza olhou para o horizonte negro da floresta.
— Pois você está muito enganada — disse e enfiou o cano da arma na boca.
Antes que eu pudesse entender o que aconteceria, a espingarda rugiu pela última vez e o estrondo ecoou pela escuridão. O homem caiu para trás, o sangue brotando dos cantos da sua boca e da sua nuca, vertendo pelo gramado. O luar o iluminou e eu vi seu rosto e seus olhos vidrados, amarelos como a própria Lua cheia que nos assistia. Pareciam ainda guardar a raiva que tinha dos deuses, embora sua alma em fúria não estivesse mais ali.
Fitei-o por um breve momento, compadecido pelo castigo a que fora acometido. O silêncio da morte só não me envolveu completamente devido ao soluço baixo que vinha de dentro da cabana de madeira. Dei a volta na casa e entrei pela porta da frente. Thereza estava caída de bruços, o buraco de bala na nuca mostrava parte do seu cérebro e o cabelo estava empapado de sangue e grudado sobre seu rosto. A criança estava deitada ao seu lado, com o braço em volta do seu pescoço e com a outra mão acariciando um tufo de cabelos que não estava ensanguentado. A menina olhava-a como se esperasse que a mãe acordasse de algum sono profundo que não a deixou chegar até a cama.
Parei em frente às duas. A menina levantou a cabeça e eu vi, naquele casarão esquecido no meio da infinita floresta, o verdadeiro encanto, a verdadeira perfeição, um rosto duro, arredio, mas belo como o de Thereza, uma beleza bruta, antiga, animal.
Então, vi seus olhos. Eram olhos de outro mundo, um mundo escuro, distante, escondido em profundezas mais antigas que o universo. Entendi, naquele momento, o que eu deveria fazer. Compreendi finalmente o significado da visão que tive.
Peguei-a no colo, aquela pequena e linda criança. Cinco anos agora e eu via a mim mesmo dentro daqueles olhos. Caminhei com ela nos braços pela estrada. A orbe amarelada terminando seu ciclo sombrio.
Entrei pelo labirinto de galhos retorcidos mais uma vez, pensando em meu passado esquecido, vendo a mim mesmo matando a fera das feras para depois abandonar meu verdadeiro amor à própria morte por luxúria e covardia.
Não me apeguei a esse vislumbre. Comigo seria diferente. Estava sendo diferente. Eu tinha a ela. Meu amor incondicional e verdadeiro, como nenhum outro poderia ser igual. Helena. Esse era seu nome, como eu ouvira da boca de sua mãe pouco antes de morrer.
Cheguei às margens do rio e caminhei para o seu leito. Tive que segurar forte Helena e tentar acalmá-la enquanto ela se debatia e gritava de medo. A criança parecia ainda não entender, mas não havia problema. Logo, tudo ficaria claro para ela. Afinal, para seres como nós, cinco anos passam num piscar de olhos.
Olá! Para organizar melhor, dividirei minha avaliação em três partes: a técnica, o apelo e o conjunto da obra.
Técnica: notei um estilo mais “engessado”, no sentido de preocupado com os padrões ortográficos, em contraste com algumas imagens muito criativas (colega boto e seu bago que o digam). Apesar da preocupação, alguns detalhes sempre passam, como “a muito tempo”, o que não diminui o valor do conjunto. Não há o que questionar em relação ao tema.
Apelo: se há uma figura que me deixou a sensação de ser um pouco forçada, seria o pai da moça. Matar a própria filha e se matar em seguida por não aceitar a relação dela com o boto soa um tanto trágico demais, embora compreenda a escolha. Em contrapartida, a “covardia” do boto em ficar escondido me fez bem mais sentido.
Conjunto: acho que com um pouco mais de liberdade, de naturalidade nos acontecimentos, o conto cresceria bastante. A narrativa está legal, mas a visão de que as coisas estão acontecendo exclusivamente em função da trama atinge o leitor, o que não é algo muito agradável.
Parabéns e boa sorte.
Olá Wender,
Cara, muito obrigado pelo seu comentário. Passaram alguns erros (crassos, inclusive) na minha revisão… Você não foi o único que os pegou por sinal. O trágico aqui é que eu peguei pesado nesse ponto em minhas avaliações e no final acabei provando do meu próprio veneno kkkk.
Gostei da sua análise sobre a história se passar exclusivamente em função da trama, foi de uma ajuda e tanto pra mim porque eu não havia percebido isso até ler seu comentário. O comportamento um pouco inverossímil do pai foi outro ponto que, para mim, só ficou claro depois de ler os comentários, apesar de ainda achar provável, sim, essa atitude fervorosa mesmo cinco anos depois (resistência do autor ON).
Mais uma prova de que o EC é um dos melhores lugares pra vc desenvolver a sua escrita.
Mais uma vez, muito obrigado.
Legal. Gostei. Um conto forte, que também aborda a intolerância, assim como o meu. O boto foi covarde, mas não tinha muito o que fazer. Gostei principalmente da cena dele levando a filha para o fundo do rio – angustiante -, e de detalhes sugeridos, como quando ele diz que “o deixaram sair”, me fazendo pensar em uma espécie de conselho de botos. Bem legal o conto.
Fala Pedrão,
Muito obrigado pelo comentário, cara. Que bom que você gostou.
A intolerância está presente de muitas formas, explícita ou velada, infelizmente.
A pegada de um conselho deliberativo de votos (e quem sabe outras coisas mais) foi uma ideia pra um universo maior que eu tive e decidi arriscar um pontinha dele na história. Legal que tenha percebido. Valews.
Interessante a narrativa ser por parte do próprio mito. Isso passa ao leitor outra visão da história. Bem narrado.
Boa sorte!
E ae Vitor,
Obrigado pelo comentário =)
Fluidez da narrativa: (4/4) – Fluiu muito bem a leitura, li de uma vez só, querendo chegar ao final e o interesse em saber o que ia acontecer não diminuiu.
Construção das personagens: (3/3) – Gostei, me conquistaram. O narrador personagem tem uma prosa boa e todos estão bem delineados.
Adequação ao Tema: (1/1) – Sim, adequado à temática.
Emoção: (1/1) – Gostei muito! Me prendeu a atenção e foi uma leitura interessante.
Estética/revisão: (0,5/1) – Narrado de forma simples, porém adequada. Agora, o final poderia ter sido mais bem cuidado. Terminou de uma forma, creio eu, que não justifica, desnecessária a afirmação a respeito dos tais 5 anos, meio deslocada, até.
Olá, autor (a). Parabéns pelo seu conto. Vamos aos comentários:
a) Adequação ao tema: sim, claro
b) Enredo: interessante e original. Contar a historia do boto sob o ponto de vista do próprio foi uma excelente ideia. Há um crescente suspense e, ate o ultimo instante, pensei que o boto iria intervir para salvar Thereza. O final e’ trágico mas ainda assim deixa um tom positivo.
c) Estilo: o conto e’ de boa qualidade, bem escrito, acredito que o autor tenha um bom domínio da língua portuguesa.
d) Impressão geral: Um conto muito bom, bem preparado e envolvente. Boa sorte no desafio!
Um dos únicos, se não me falha a memória (que, debalde, falha), que usa o próprio personagem mítico como narrador.
Um conto bem escrito, com personagens que não chegam a ser marcantes, mas possuem uma humanidade (ou uma botonidade) latente, que se expressa nas suas falhas morais.
Vamos às notas:
Média 9,92
introdução 10,0
Enredo 10,0
Personagens 9,5
Linguagem 10,0
Cenário 10,0
Coerência 10,0
Um pouco de dramalhão para falar sobre o boto. O sentimento amor, nesse conto, foi mais para uma tragédia e sem sentido na brutalidade.
O conto está bem escrito no geral. O início, principalmente, está carregado de uma atmosfera poética que permite enxergar o sobrenatural com naturalidade. As reminiscências do boto lhe conferem algo humano e por isso verossímil, não sendo difícil compreender seu amor por Theresa. O problema é que a trama em si padece de certa incongruência. Entendi que o Boto e Theresa iriam se encontrar exatos cinco anos depois da última vez em que estiveram juntos; nesse contexto, o pai da garota, tomado por uma raiva incontida, aguarda aquele que violou a castidade da filha. É esse o ponto: a raiva do pai. Cinco anos depois e o homem está cuspindo ódio, como se o coito tivesse acabado de ocorrer… Não ficou muito legal, não… O natural seria que montasse uma tocaia, que o aguardasse escondido e não agisse num impulso (?) com cinco anos de duração… Enfim, é uma história bacana, mas a execução deixou um pouco a desejar. O final, entretanto, conseguiu restabelecer um pouco do brilho inicial.
Fala, Moacir.
Então, tenho feito algumas críticas aos contos que começam falando do ambiente, como se houvesse uma cartilha da literatura que ordenasse isso. Mas nesse conto, há um aproveitamento da paisagem remetendo a uma memória. Ou seja, não está só ali para florear, tem um propósito maior.
O texto tem belas e detalhadas descrições, outras nem tanto, mas em nenhum momento se torna enfadonho. A jornada do protagonista é simples, em termos de ação, mas bem complexa em relação ao seu psicológico. Ele é enigmático, e definitivamente não é Bartolomeu.
Tem mérito de ser lacônico e abrir margem ao leitor.
O final não é arrebatador, porém funciona para a história.
Obs: Não entendi as maiúsculas em algumas palavras, aguardo uma possível explicação, rs.
Parabéns!
o conto está bem estruturado e trouxe uma característica que não estou vendo em muitos outros contos daqui (inclusive no meu), a narração em primeira pessoa da criatura folclórica, achei essa parte criativa. o final ficou um pouco confuso, acho que pedia as reais intenções do boto mais bem explicadas , fora isso a escolha de linguagem estava ótima
Acho que esse foi o conto com mais jeitão de conto de fadas (à moda antiga) do desafio. A cena toda do pai matando a filha e se matando depois (com o boto coincidentemente estando ali por perto para poder acompanhar) foi bem nonsense se encarada de um jeito mais convencional. Mas com esse viés de conto de fadas ganha outra perspectiva. Não sei se foi essa a intenção do(a) autor(a), mas no decorrer acabei gostando da história.
E achei bacana esse final: é um pouco meigo e um pouco bizarro ao mesmo tempo.
– A Inveja não me fazia companhia a muito tempo
>>> há
– até que sua cabeça soltasse do restante do corpo e eu pudesse puxá-la junto com a sua espinha.
>>> Sub-Zero Wins! 😀
Abraço!
NOTA: 8,5
Um drama clássico, no qual o autor inteligentemente dá pistas sobre o que vai acontecer, sem entregar a história. Gostei muito do ritmo da ação, e da escolha pela narrativa em primeira pessoa. Um dos meus preferidos, sem dúvida. Parabéns!
O texto tem alguns desacertos, mas funciona. Não me cativou, mas não posso dizer que é um texto ruim. Suspeito que os diálogos é que não funcionaram pra mim, talvez por serem muito explicativos. História trágica que se encerra com um alento, mas que não despertou minha atenção.
Algumas observações:
Há: “A Inveja não me fazia companhia a muito tempo.”
Sob: “Caminhei sobre o luar”
Sonoridade ruim, ser/ser: “Diziam ser impossível para um ser como eu, amar. ”
Saudade já é uma sensação: “Era a saudade sendo…” >> “Era a sensação da Saudade sendo destruída pelo instante derradeiro e súbito do reencontro.”
Lindo o conto, de uma beleza poética absurda, e também um tanto inovador, porque essa é a primeira história que eu vejo o Boto se apaixonar por uma pessoa, e ainda se importar com ela.
Excelente conto, um tanto triste, mas excelente.
abração ao autor.
Texto um pouco enfadonho no início, mas se torna interessante ao fim. Leitura fácil e o plot final me pareceu oportuno demais e um pouco confuso. O enredo é interessante, mas não empolga muito, entregando uma história simples e direta.
tema: adequado
pontos fortes: Bem, gostei da inovação que fizeste com o Boto, personagem folclórico. Este aqui, ao contrário dos outros, se apaixonou por alguém e iria voltar a rever a mesma mulher. No fim ainda leva a criança com ele. Um comportamento atípico.
Gostei de algumas descrições, como a do personagem pai da Thereza. Botas de cano alto, espingarda, crença na lenda, imaginei algo assim de muitos anos atrás.
pontos fracos: bem, me pareceu que o protagonista da história, não participou tanto assim dela. Boa parte do conto foi uma cena em que ele apenas ouvia o que acontecia com outros personagens. E confesso que fiquei confusa no final. Ele ia matar a filha? O que ocorreria depois de mais 5 anos? Perguntas que eu não achei respostas
Olá, como vai? Vamos ao conto! Mais uma história de boto? É uma epidemia? O Brasil é rico em folclore, um pouco de pesquisa vai bem, acho que escrever
sobre a primeira lenda que vem à cabeça mostra uma certa preguiça intelectual, coisa inadmissível numa pessoa dedicada à escrita, não acha? Uma história de boto narrada em primeira pessoa pela criatura. A história não me convenceu muito. Explico. O Boto se comporta de forma muita ingênua, como se não soubesse o que fazer diante daquela situação, não soubesse como agir. Ora, uma criatura com séculos ou milênios de idade pode ser tudo menos ingênua, pois deve ter passado por todo tipo de experiência em sua longa vida. Um linha de diálogo soou particularmente ruim: “― Você destruiu tudo o que eu construí por causa de um coito com aquela cria do Satanás — continuou o homem para Thereza”. A palavra “coito” não é praticamente usada pela população em geral, e, aliás, nem pela literatura, na maioria dos casos, ficou bem artificial isso. Um conto regular, desejo para você Boa Sorte.
Interessante. Bom conto, embora tenha me passado a impressão de um tanto longo demais.
É bem escrito e tem cadência regular.
O uso do verbo haver sem o h incomodou bastante. O fantástico aqui está presente no dia-a-dia da população e o tom da história é dado pela tragédia que o protagonista se envolve. Ele é o boto e nas mãos do autor ele não é dado a atos heroicos, deixando toda a ação da história por parte do antagonista. As personagens ficaram superficiais, mas ainda é possível se envolver com o drama de Thereza à beira da morte.
Oi Moacir, que dó da menininha… me partiu o coração!! Foi bem original essa história do boto, o depois, ele acabar ficando com a filha… Tem um suspense bem interessante, está bem escrito, bem coerente, achei algumas metáforas meio forçadas… mas nada que prejudique seu texto. Parabéns!!
A colocação do protagonista como observador da história, um observador imposibilitado de agir, passa uma sensação de agonia claustrofobia – o mundo abaixo d’água – que vi em poucos contos por aqui. As distorções da caminhada anterior à cena de morte, galhos suturados, raízes enroladas e escuro, corroboraram para impactar a conclusão do conto, tão crítica e pesada.
Um conto diferente sobre a Lenda do Boto, com um homem boto apaixonado, a filha do boto sendo uma mutante, e a namorada sendo morta pelo pai. Não entendi a raiva do pai só cinco anos depois do ocorrido (gravidez da filha). No mais, uma escrita que busca ser poética, investindo em construções metafóricas. O conto inteiro se resume à noite em que a mulher do boto é assassinada pelo pai, e a cena é testemunhada pela entidade sem que este faça qualquer coisa para evitar, apesar de declarar o seu amor pela namorada ao longo de todo o conto, ele é incapaz de interferir e evitar a sequência de eventos que se desenrolam até a morte do algoz. Achei os diálogos muito artificiais, especialmente as falas do pai assassino. Não é um conto ruim. Existem boas construções, ainda que ache um certo exagero no lirismo. Desejo boa sorte no desafio.
Algumas coisas ficaram sem explicação para mim na sua história. A julgar pelo título que você deu ao conto, talvez tenha sido essa a sua intenção. Para mim, como leitora, entretanto, ficou uma certa frustração. O ponto alto do seu conto foi a atmosfera melancólica que envolve o pai-boto apaixonado e covarde que você criou. Boa sorte!
Oi, Moacir,
Eita! Que trágico. Mesmo. Muito trágico. Acho que foi o segundo conto tenebroso que li nesse desafio. Mas gostei de todo o drama. Gostei de como você desenrolou a história e inseriu a lenda. Muito bom.
Helena viraria a Iara? Interessante. Gostei da leitura! Sua escrita flui muito bem, e você parece ter se dedicado muito para destilar algumas frases excelentes nas suas descrições. A crítica à violência natural que mora dentro do homem (como espécie, mas também como gênero) é clara, e dá o que pensar.
Seu conto não é “mais uma história sobre botos”. Desde o início, quando o personagem sai do lago e fala em como “eles deixaram que saísse”. há um ar de mundo fantástico e autoral que permeia todo o texto. Seus devaneios sobre o amigo bartolomeu e também sobre si mesmo emprestam veracidade ao personagem, e um quê de humanidade.
Gostei do tema “os botos também amam”. Gostei do conto todo em geral. Muito bem executado, com uma escrita quase impecável, envolvente e com o ritmo certo.
Parabéns!
Olá, Moacir,
Tudo bem?
Seu conto é muito interessante. De vários aqui, abordando o mito do Boto, este é o primeiro que nos mostra o ponto de vista da narrativa a partir da visão da própria lenda. A visão do Boto. Um personagem que também ama, teme e se enternece. Por que não?
Imaginar o instinto paternal da entidade, é algo, no mínimo, criativo.
Quanto ao conto em si, a história instiga e prende o leitor na narrativa.
Parabéns por seu trabalho e boa sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
O conto é bem escrito, nos passa bem as sensações do personagem. Algumas palavras em maiúscula ficaram meio sem sentido, e as regras, dos cinco anos, das vezes que pode sair, enfim, poderiam ter sido melhor explicadas, ou abandonadas de vez. Acho que se a criança tinha olhos diferentes o avô já teria dado um fim bem antes nela, creio eu. Sobre o tema, nem há o que comentar, temos o boto como personagem principal, dificilmente encontrei neste desafio algo parecido…
O terceiro parágrafo ficou exagerado; sobrou. As imagens comparativas não deram liga (ex: “ lembrei de um jovem que corria em um labirinto de ervas daninhas que se erguiam até quase tocar o azul do céu.”). “O olho pútrido no céu” é uma construção sem sentido. De onde vem o olho podre? Gosto de subverter as palavras e suas regras, mas gosto mais ainda de sentir seu significado. A partir do meio o conto pega velocidade e cria uma tensão dramática interessante. Mas o pai esperou 5 anos para matar a filha? Talento exigindo revisão estrutural.
Gostei da história, uma versão da lenda do boto cor-de-rosa. Não gostei muito de algumas expressões, como por exemplo referindo-se a Lua: “uma ferida de pus aberta”.” Olho pútrido”. Acho que ficaria melhor num conto de terror.
Não entendi a frase: “caminhando sobre o luar”. É sobre o chão coberto pela claridade da lua ou “sob o luar”? Se não me engano faltou a letra h em “a muito tempo” que se refere ao passado. Tem alguns probleminhas com virgulas.
A lenda do boto rosa por aqui, novamente, mas com uma nova roupagem. Logo, o tema proposto pelo desafio foi abordado.
O autor tentou construir um clima misterioso, com o narrador em primeira pessoa, o próprio boto, suponho. Funcionou, mas nem tanto que cativasse meu interesse de vez.
Há lapsos que escaparam à revisão, como por exemplo:
companhia a muito tempo > companhia HÁ muito tempo
Caminhei sobre o luar > caminhei SOB o luar.
O final achei bacana, deu uma certa densidade emocional ao enredo.
Boa sorte!
“Encantamento” é um dos contos que tratam do boto por mim já lidos neste desafio. Em meu comentário, eu disse que o autor foi muito feliz ao quebrar um paradigma da narrativa do referido mito ao fazer dele alguém que saboreia relações homoafetivas.
Em “Verdades submersas” também há um padrão rompido: assim como em “Encantamento”, o machismo inerente ao mito expresso no ato de engravidar e abandonar a mulher grávida, é deixado de mão, ao menos relativamente. Aqui isso ocorre pelo sentimento de paternidade, de responsabilidade para com a criança gerada e pela manifestação de amor a uma mulher com quem se relacionara há cinco anos. Ou seja, ao contrário da transa fortuita, um sentimento sólido, inclusive com claros sinais de amor romântico, um padrão bastante comum em indivíduos femininos.
Mas talvez não seja uma ruptura assim tão grande. Talvez nem seja, de fato. Ao conduzir sua filha para o rio de modo a protegê-la, há um outro viés que se mostra, sutil: incesto e pedofilia, considerando a natureza libidinosa do mito. Entendo que a seguinte passagem reforça minha suspeita: “[…] tudo ficaria claro para ela. Afinal, para seres como nós, cinco anos passam num piscar de olhos”. Ou seja, para ele a idade não é um problema.
Assim sendo, se eu estiver certo em minhas hipóteses, é uma ruptura parcial, pois o machismo se mantém na sutileza citada.
Notei muitos erros quanto ao posicionamento do pronome oblíquo, como em “me preparei para voltar e perguntar […]”, inadmissível em função do ME iniciar frase.
Em “caminhei sobre o luar por alguns minutos” a frase não faz sentido se realmente a palavra for SOBRE. Pelo que entendi é SOB.
Olá Moacir, um texto – principalmente do gênero conto, pelo formato de história curta – deve prender o leitor nas primeiras linhas. E o seu me fisgou com a ótima metáfora da tangerina. A sua prosa é fluída, concisa, por vezes poética, um belo conto. Interessante a sua releitura para a lenda do boto, uma criatura humanizada, a ponto de não ter atacado, com os seus poderes sobrenaturais, o pai da mulher da sua vida, aquele que tirou a vida dela. A psiquê do boto aparece nas palavras em maiúsculo “Desejo, Castidade, Vergonha e Saudade. Fiquei na dúvida se foi proposital a letra minúscula em luxúria e covardia, se foi para dar um contraste em relação aos outros componentes da personalidade do protagonista. Parabéns, vai para o Top10.
Ele ficou ouvindo o cara matar a mulher que ele amava e não fez nada? Esse boto é um covarde, isso sim… Porém faz sentido: se ela continuasse viva não deixaria que ele levasse a filha para as águas, onde era seu lugar.
Bom conto, parabéns
Destaque: “Parei em frente às duas. A menina levantou a cabeça e eu vi, naquele casarão esquecido no meio da infinita floresta, o verdadeiro encanto, a verdadeira perfeição, um rosto duro, arredio, mas belo como o de Thereza, uma beleza bruta, antiga, animal.”
Este boto é bem diferente, fiel ao seu amor, encanta-se com a filha que leva consigo e é o narrador da história de trama simples, mas cheia de emoção e descrições poéticas.
Notei alguns deslizes:
• “A Inveja não me fazia companhia a (HÁ) muito tempo.” — impessoal, o verbo “haver” é utilizado em expressões que indicam tempo decorrido, assim como o verbo “fazer”.
• “Me abaixei e rastejei pelo gramado”, “Me preparei para voltar” , “Me encolhi embaixo da cabana” e outras — não se inicia frase com pronome átono.
Leitura fluente e agradável. Bom trabalho. Abraços.
O pseudônimo será homenagem ao pianista, irmão do cantor Cauby Peixoto?
Uma tragédia folclórica, estranha essa expressão? Mas foi oque senti. E a emoção do texto ficou só nisso. fluente e coerente, mas pouco criativo.
Olá “Moacir Peixoto”. Parabéns pelo seu conto. Ele está muito bem construído e é mais um dos que eu gostaria de ter em livro de contos, para ler sempre que quiser. Abçs.
Resultado – Average
Há aspectos bastante interessantes como, por exemplo, a história contada pela perspectiva do boto. A construção de imagens também foi bem feita. No início, o autor também fez uso de figuras de linguagem inovadoras, se tivesse mantido isso ao longo do texto, o resultado seria ainda melhor.
Olá, Moacir.
Gostei do conto: o narrador-boto é misterioso e traz alguma densidade. As metáforas e as descrições ficaram boas também, embora eu não tenha apreciado muito alguns substantivos grafados com a primeira letra em maiúscula. Outra coisa que me incomodou foram os diálogos, eles não estão naturais. Não vejo palavras difíceis feito “coito”, “misericordioso”, por exemplo, saindo da boca dos ribeirinhos.
Nota: 7.5
Um bonito conto você me trouxe. Um enredo pesado, como costumam ser as histórias do boto. O encontro com a sua amada e sua filhinha que irá com ele para os fundos do rio. Bacana a maneira como você narrou a história. Ela flui bem. Os solavancos que senti, vez por outra, aconteceram por conta de alguns cuidados que precisará ter com a revisão. Sugiro um novo olhar então sobre o seu conto. Há alguns detalhes a serem revistos. abraços.