À espera sei lá de quê, talvez nada, numa mesa redonda para as ideias não pararem. Entre os dedos, um cigarro que não vai à boca. Esfumasse, acaba no fumo, como a vida perde-se no ar. O fumo e a vida transformam-se em ar. Sendo a vida ar voltará para os meus pulmões, cresço cheio de ar, de vida. Grito VIDA! Se grito cai-me na pele, cresce a pele como a vida, cresço como um sexo, sou vida a pulsar. Vivo!
Lembro-me do ranger da porta ao passar o homem dentro da bata branca, cara fechada e dedos na cabeça a procurar as palavras certas. Vejo a minha vida a esfumar-se na ponta daqueles dedos, naquele curto silêncio, mesmo infinito. Não o deixo falar, cresço e decido que morrerei sem estar doente.
Puxa! Gostei do que você fez aqui. O texto todo é nebuloso como o observar entre fumaça. Também liguei a vida com o cigarro, que não vai à boca, não se toma longos haustos por medo de se findar. Muitas evocações por aqui, gosto bastante disso.
Parabéns!
Que show, o pensamento de que numa mesa redonda as ideias não param… circulam?
Já me ganhou aí!
Sei que a gramática de Portugal é diferente do Brasil, mas esse ‘Esfumasse’ na segunda frase… é assim mesmo?
Pois outros verbos vieram acompanhados do pronome, o proprio esfumar tb : esfumar-se, transformam-se, cai-me.
Enfim, eu não sei… só achei…rsrsrs
Gostei demais da comparação do esfumar-se do cigarro com a vida nas mãos do médico, uma sentença ali contida. Muito bonito.
Lembrei de minha avó, já bem velhinha, a cada consulta ao médico ela perguntava: Doutor, qual é a minha sentença?
rsrsrs sendo q ela não teve doença nenhuma, nunca. É … ela morreu sem estar doente…hhehe olha o que você me fez lembrar!
Não entendi o verbo ‘cresço’. É no sentido de amadurecer? imaginei o doente levantando-se da cadeira, por isso ‘cresceu’…rsrsrs
Muito bonita mesmo, introspectiva e rica esta prosa. Obrigada por aqui estar, Vitor!
Abração
Quando bati o olho na estrutura, torci o nariz para a falta de estrofes, mas a leitura já mudou meu humor logo de cara.
Gostei bastante do fluxo de pensamentos meio caóticos e esfumaçados.
Teria colocado essa frase “naquele curto silêncio, mesmo infinito” no final de tudo.
Abraço!
Vida e palavras misturam-se em uma nuvem de fumaça. Parabéns!
Olá, Vitor Leite. Achei espetacular sua prosa em estrofes e a poética incrustada aqui, a negação do narrador que pode ser fortaleza ou autoengano… Realmente muito bom! Abraços.
muito obrigado José Leonardo.
Se entendi bem é a negação de alguém em estar doente. Achei isso o máximo! Adorei.
isso mesmo Neusa, aqui em Portugal, agora e por vezes, o melhor é negar a realidade e então estou a começar a escrever umas coisas assim, a negar o real o físico… vamos ver para onde vou