Não é desconhecido o fato de que ao término da 2ª Guerra Mundial, diversos nazistas se refugiaram na América do Sul, sobretudo na Argentina e no Brasil. Joseph Mengele e Adolf Eichmann talvez sejam os nomes mais famosos.
Com tal premissa em mente, Ricardo Labuto Gondim criou o enredo de B., um romance ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1950. Na história, Blasko de Lugos, Barão da Valáquia (uma província da Romênia), é resgatado de sua prisão e trazido para o Brasil pela Odessa, a organização criada para proteger no pós guerra os antigos membros do partido nazista.
Logo, o episódio passa a ser investigado pelo detetive Pedro Ribeiro Pinto, mais conhecido por “Dick”, que descobre que vinda do famigerado Barão está acobertada pelos altos escalões do governo brasileiro.
No início do livro, a história remete à atmosfera típica dos filmes noir dos anos 1940. Há o detetive cínico, as belíssimas mulheres e os parceiros em quem não se pode confiar demais. Especialmente a prosa empregada pelo autor do livro soa, em diversos momentos, como uma homenagem ao cinema daquela época. Os clichês são utilizados em profusão, mas, ao contrário do que se pode pensar, esse uso é inteligente, bem sacado e permeado de bom humor. A própria confusão que se faz com o nome do protagonista indica isso.
No entanto, à medida que a narrativa se desenrola, à medida que Dick descobre os meandros do mistério, o tom da história deixa o noir clássico e mergulha num suspense bastante eficaz.
Do meio para o fim, quando fica clara a intenção da Odessa e a urgência quanto à solução do caso, é que se percebe a habilidade singular do autor em amarrar as pontas sem se perder. Isso sem esquecer o jeito apaixonadamente canastrão de Dick e, grata surpresa, elaborando divagações filosóficas inesperadamente profundas.
De fato, Ricardo Labuto Gondim conduz o leitor por um labirinto deveras interessante, fazendo com que o virar de páginas seja uma necessidade premente. Por vezes, a impressão que se tem é que se faz parte de um roteiro cinematográfico ágil e esfumaçado. Cheguei a ter a impressão de que Bogart e Bacall surgiriam em algum momento da trama.
O final é digno de Hitchcock e demonstra bem a transformação da atmosfera noir em suspense. Reforça isso o fato do arremate se dar durante um concerto de música, algo que me lembrou o fantástico “O Homem que Sabia Demais”, do cineasta britânico.
Enfim, uma leitura rápida, agradável e inteligente. De um autor brasileiro.
Muito interessante.
Resenha muito bem feita e atingiu aqui alguém que não conhece o autor, e desconhece também a questão da história em si.
Fiquei com aquela pulga atrás da orelha!
Deu mesmo vontade de ler o livro, Gustavo, principalmente de onde surge a indicação.
E se o final é “digno de Hitchcock”.. Ah, acho mesmo que não devo ficar sem ler!
Parabéns!