– Para que não sintam desânimo peço que o Pai Oxumaré, Senhor das cores e do arco-íris lhes traga a renovação.
Já há 45 dias dentro daquele tumbeiro seus olhos jaziam afundados na fome. Tinha o corpo franzino, os cabelos castanhos eram um amontoado de fios crespos e duros, os braços tão finos quais varetas de bambu. A criança não media mais que um metro e dez centímetros de altura. Não, naquele seu mundo de não faz de contas já não era uma criança. Lhe tomaram tudo. Sem idade, sem nome, tampouco escolha. Era o que a tornaram, o que acreditavam que havia nascido para ser, dentro de toda aquela pele preta.
Antes de estar ali, Dandara, vivia agarrada aos irmãos; três mais novos, outros cinco mais velhos. Era a única menina. De maneira desgraçada foi destinada a assistir um por um perecer. Um deles de fome ainda na Nigéria, outros na viagem, pela escassez de comida e maus-tratos. Dois deles foram mortos quando a família foi abordada pelos traficantes que tomaram suas vidas de assalto. Eram tempos estranhos, tudo quanto podia ser trazido, em meio ao tráfico ilegal, era contrabandeado; o cego, o manco, chefes religiosos, mulheres grávidas, bebês e suas mães ainda amamentando, pais e suas famílias, vidas e mais vidas surrupiadas pela insanidade de homens que não seguiam leis dos deuses, nem dos deles, nem as minhas.
As crianças caminhavam livremente pela embarcação, como se fossem livres, mas não havia liberdade alguma, e Dandara sabia disso. Naquele momento seguia a fila em direção ao convés, onde junto de parte dos escravos iriam se exercitar, eles só faziam isso para manter a mercadoria em condições de uso.
Estava faminta. A pequena porção de farinha, carne seca e a pouca e regrada água não davam sustento ao corpo. Enquanto ouvia seus passos denunciados pelo ranger da madeira oca, o estalido das ripas parecendo que a embarcação iria se desfazer e aquele balançar enjoativo, sentiu seu corpo estremecer. O chio das ondas do mar visitou seus ouvidos, parecia estar mais perto d’água. As vozes e dialetos estranhos dos homens que a olhavam como se fosse um bicho, uma mercadoria, e muitas vezes um prêmio, se misturaram com todos os outros sons. As vistas escureceram. Estava absurdamente cansada, exausta… Dandara sentiu que a embarcação balançou mais forte, parecia que viraria, mas enganara-se, era seu corpo que caía quase que em câmera lenta.
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Aproximadamente quatrocentos dos seus estavam ali, acorrentados pelos pés, envolvidos num ambiente malcheiroso e hostil. Dandara ainda podia ver a imagem do corpo de seu irmão mais novo sendo lançado ao mar.
Akachi havia morrido dois dias antes, seu pai em contrapartida não conseguiu abandonar o filho. Oravam o tempo todo a Exu pedindo que ele o trouxesse de volta, mas não havia retorno para aqueles que partiram, não haveria retorno para ninguém. As lágrimas secas no rosto negro eram rios rasos de lama.
Dandara sabia que seu pai, por ter partilhado sua pouca comida com os filhos restantes estava fraco e doente. Moribundo, mal balbuciava algumas palavras, mas encontrava força o suficiente para orar e abraçar o frágil corpo junto ao seu.
Se sua mãe ainda estivesse viva, talvez seu pai tivesse sido mais forte e com isso os filhos teriam nele uma âncora para lhes dar subterfúgio naquela jornada impiedosa, mas sua mãe morrera quando Akachi nasceu. “A vida tem lá dessas coisas, era tudo plano de Olodumarê, o criador”, diziam. Mas eles estavam enganados a respeito disso.
Certo é que os gritos cada vez estavam mais próximos. Correntes eram soltas, corpos lançados ao mar, seguindo a fila como se fossem premiados para encontrar descanso. Não, era só a embarcação em risco. Naquele ponto o mar era a única luz que podiam enxergar. Alguns pulavam voluntariamente, mas seu pai foi jogado. Uma troca de olhares entre ele e Dandara, sem gritos, sem dor. As mãos dele se perdendo do corpo de Akachi, que seria jogado em seguida. Lembrava-se do corpo do pai, das pernas dele batendo contra a barreira de proteção, e ele caindo para sempre em seus pensamentos. Tão rápido, tão rápido…
Dandara tentou correr para segurar o corpo de Akashi, sem pensar de que valia aquilo, mas os homens maus o pegaram antes, um deles ainda a acertou um golpe, foi tão veloz que não sabia se fora um chute ou um soco, apenas foi jogada para longe. Se chocou contra a parede de madeira. Viu o homem menor pegar seu irmãozinho como se este fosse um boneco de pano e com uma mão atirá-lo ao mar. Não viu mais nada.
Lembrou-se do quanto a mãe e o pai oravam, das velas acesas, recordava-se de cada palavra da avó, ainda viva, lhe contando sobre o Deus que criou tudo que o cercava. As palavras dançavam em seus ouvidos.
“Olodumarê” “criador das águas e das terras” “dos filhos das águas e dos filhos do seio da terra” “Criador das plantas e dos animais de todas as cores e tamanhos”
Um Deus que não aceitava ofertas, afinal ele era dono de tudo. Mas e onde estava esse Deus?
Acordou. Não sabia por quanto tempo ficara inconsciente. A caravela, velha e suja de sangue e de amarguras, carregava pesadelos e verdades clandestinas. Estava deitada, piscou os olhos uma vez, duas. Sentiu-se despida, porém limpa, envolvida em um lençol branco que cheirava um aroma doce, um perfume que nunca sentira antes.
O silêncio imperava naquele cômodo da embarcação, lhe passou pela mente que aquela seria a acomodação do Senhor de todos os outros homens maus. Veio-lhe um frio na barriga, suas mãos abraçaram o próprio corpo. Tentou se erguer, mas ainda estava fraca. Quando conseguiu se sentar na cama percebeu a presença de alguém e então…
– Oi, Dandara.
Que voz era aquela que ecoava em seus ouvidos? Tão forte que chegava a lhe estremecer.
– Quem é você?
– Sou eu, menina. Você está sobre meu domínio agora. Acalme-se. Coma uma maçã.
A menina olhou à sua esquerda e havia uma cesta de frutas, avistou a maçã, bonita, mas viu uma banana com a casca amarelada e repleta de pintinhas, parecia estar madura.
– Posso?
– Sim. Coma o quanto quiser.
Não pensou duas vezes, pegou a banana e descascou com pouca etiqueta, cravou os dentes e mastigou com ansiedade e fome.
– Que bom que você está aqui. Tenho te escutado muito.
Dandara ainda queria saber quem era ele. Olhando-o, aparentava ser um senhor de uns 50 anos, sem barba, tinha um manto azul que lhe cobria o corpo, havia ainda notado uma espécie de marca no meio da testa, nas costas de suas mãos havia o mesmo símbolo, o estranho é que ou ela via coisas ou aquelas marcas brilhavam nitidamente.
– Morri?
– Não, não ainda – o homem alto fez uma pausa, olhou para o teto e havia uma pintura em todo ele. Nela, o espaço, as estrelas, planetas. Dandara olhava tudo aquilo desconcertada, afinal pouco entendia do que estava acontecendo – Eu sou a criação e a vida – disse ele apontando para toda a pintura.
A escrava não entendia como aquela voz poderia estar entrando em seus ouvidos e ao mesmo tempo saindo de dentro de si.
– Olodumarê? – Perguntou, insegura.
– Sim. Aquele que julgam inacessível – Riu.
– Então, se não estou morta, onde estou? – A pergunta veio sem querer, afinal, estava aturdida, se encontrar com o Deus supremo em um sonho?
– Está em Orum.
– Minha vó me contou que só o Senhor vivia aqui. Eu estava tendo um pesadelo onde toda minha família morreu e eu era escravizada.
– Eu vi tudo, menina. A vida é assim para vocês humanos, cheia de infortúnios… a ambição, a conquista, a derrota, a vida e a morte. Tudo se entrelaça em um abismo sem fim de descrença e ignorância.
– Então era mesmo só um sonho. E esse é outro sonho então?
– Queria eu que fosse – A divindade virou-se de costas, olhava para o chão naquele momento – mas não é, pequena. Não são sonhos.
– Então estou sozinha mesmo – uma lágrima, depois outra.
– Sim e não – Ele se voltou para ela novamente, e seus olhos miraram diretamente os dela – sente-se sozinha por completo?
A criança agora olhou para maçã, ele assentiu e ela a pegou. Antes de morder, apreciou-a por um mero segundo. Levou-a a boca e sentiu seus dentes afundarem em toda aquela textura e sabor.
– Quando estava andando pela embarcação me sentia assim. Mas aqui sinto algo diferente, como se não estivesse mais sozinha – falava de boca cheia.
– É o que vejo e sinto também. Nunca estamos sozinhos, apenas queremos estar às vezes, mas tantas coisas nos cercam; criaturas, criações, tempo, espaço, o próprio vazio, ou quem sabe a inexistência de algo…
– Como assim? Inexistência?
– Sim, era assim no princípio, quando era apenas eu. Sabe, sei o que perdeu. Mãe, irmãos, seu pai. De certo isso se deu por minha culpa – uma pausa – Minha única companhia era inexistência, sabe. Era eu existindo e ela inexistindo. Então criei Orum e Aiê, meus próprios universos. Depois, criei as plantas, os animais, mas pareciam tão instintivos, quase mecânicos. Fossem os animais do mar, ou da terra, eu ainda me sentia sozinho, mesmo que cercado de companhia.
– Vovó me disse que você nos criou sem querer nada em troca. Ela estava enganada?
– Toda criação surge de um desejo, seja meu, seja da própria criação. Eu surgi de um desejo de existir. Antes era apenas inexistência, então certo dia, depois de tanto querer uma forma eu me dividi e nasci.
– Então você nos criou, por que queria companhia?
– Eu queria que mais seres pudessem existir, só isso. Não fui eu que lhes criei, sua avó lhe explicou isso numa noite debaixo das estrelas, lembro-me disso. Disse assim: Dandara, Olorum criou tudo, quase tudo – tantos me chamam assim, até prefiro – certo dia ele passou a missão para que Oxalá criasse o homem. Oxalá falhou várias vezes! Criou o homem de pedra, mas este era muito frio. Tentou com a água, não tomava forma. Noutra vez com fogo, mas a criatura se consumia no próprio fogo. Por fim tentou com azeite e o vinho, mas também fracassou.
Olorum gesticulava, e a menina percebeu que ele fazia exatamente como a avó. Sorriu.
– Acho estranho esse jeito de nos criar.
– E eu concordo. Mas o que mais gostei foi de ver que quando ele desistiu, alguém o ajudou.
– Sim, sim. Nanã apareceu quando ele estava triste a beira do lago. Vovó contou-me isso.
– Isso! Com porções de lama, união, companhia e crença, um no outro. Ambos criaram o homem, e foi nele que oxalá soprou a vida. Por isso você existe. Houve um desejo que você existisse.
– Homens maus não deviam existir – Ela fez cara de brava.
– Verdade. A maldade surgiu assim também, como eu, com um desejo de existir. Era outra inexistência no mundo. Mas do mesmo modo que tudo surge, tudo pode acabar.
– Até você?
– Sim, até eu, se eu desejar muito.
– Pode ficar mais um pouco comigo?
– Não. Quero ficar mais um pouco aqui com você.
– Vou ter que voltar para o navio?
– Ah, Dandara, daqui há pouco.
– Vai doer muito?
– Apenas o que você suportar, não mais que isso, prometo.
– Você vai estar comigo?
– Sempre.
– Também estarei sempre com você, tá?
Olodumarê disfarçou sua tristeza, olhou outra vez para Dandara e fez aparecer uma jarra de suco e pães.
– Coma pequena, coma.
Sentei-me ao lado dela, à beira da cama. Conversamos mais um pouco, observei-a saciar a fome e a sede, ela demorou um pouco até dormir, depois voltou a existir.
“Mamãe Oxum derrame sobre todos eles as suas águas divinas do amor; E, se for possível, que o Pai Oxossi expanda o aprendizado em cada um deles e a Mãe Obá aquiete as suas aflições…”
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Olá, Sidney.
Gostei bastante do conto! Boa construção de personagem e boa pesquisa sobre essa mitologia/religião africana. Incomodou- me, contudo, a maçã e o vinho, fruta e bebida exóticas para uma menina nigeriana. O azeite eu vejo como qq óleo vegetal, feito o dendê, por exemplo.Talvez trocar esses elementos deixasse o conto mais “raiz”.
Olá, tudo bem?
Gostei da temática. Misturou aqui uma personagem histórica — e, de certa forma, mítica — com a mitologia iorubá, que casou muito bem e nos proporcionou um belo conto. A introdução nos coloca dentro de um navio negreiro e a proposta de imersão foi acertada. Consegui visualizar todos os acontecimentos e fiquei bastante chocado.
Sobre os diálogos, achei-os um tanto explicativo em certos momentos, mais parecendo um daqueles programas educativos da TV Cultura; pelo menos deu para entender bem os mitos de criação segundo a religião/mitologia iorubá.
O final não me apresentou surpresas, acredito que tenha sido melhor assim. A grata surpresa, no entanto, foi descobrir que o conto é narrado em primeira pessoa, já que o narrador é uma entidade onisciente.
Alguns podem não ter gostado, mas a citação final foi pertinente.
Boa sorte.
Uma abordagem potente para este desafio, com uma força divina se pronunciando no momento de dor e desespero, embora sem interferir diretamente. Não oferece resolução, mas sim alento: um pingo de compreensão da complexidade da existência para uma criança que, à beira da morte, tenta entender o próprio sofrimento. A ambientação é muito bem realizada, seja no piso dantesco do navio negreiro ou no espaço etéreo em que conversa com Olodumaré. Também achei um conto bem estruturado, introduzindo personagem e contexto e, ao nos coloca-la em contato imediato com o Criador, instando a dúvida do que vai ocorrer. O final é poderoso, pois no final não se trata de um deus ex-machina, mas de uma mensagem de esperança, coragem. O encontro da menina em Orum é a renovação da fé.
Olá, mãe Bonifácia. Achei perturbador esta sua reconstituição histórica dos tempos da escravatura. Choca-me especialmente por saber o papel que meus antepassados tiveram no mercado de escravos, um mau momento da nossa história. No entanto, há o reverso da medalha: fomos também os primeiros a abolir essa prática.
Quanto ao seu conto, gostei da reconstituição, mas não fiquei fã das escolhas ao nível linguístico, com bastantes falhas na pontuação e excesso de coloquialismo.
A ligação ao tema é feito através da religião Iorubá, a principal base do Candomblé, e a passagem temporária da menina pelo Orum, que é o equivalente Iorubá do Céu Cristão, em contraste com o Aiê, o mundo real.
Narra a infeliz trajetória/viagem entre sonho e pesadelo de Dandara, num navio negreiro. Traz uma conversa da menina Dandara com um Deus, que pouco ajuda, nada interfere e só se desculpa. Um conto triste, que nos faz lembrar que nada disso é ficção. Trata de uma realidade violenta, absurda que a humanidade (?) tolerou e que mesmo hoje, ainda tem ecos ressoando aqui e acolá. Belo conto! Parabéns!
Mãe Bonifácia, olá. Tudo de bom para você.
Esse é um conto com alto grau de dificuldades. No meu caso, sou mediano na leitura, e então, depois de ter lidos algumas vezes, compreendi. Gostei. Na minha opinião o enredo carrega tristeza e filosofia. É belo, os personagens são profundos e bem construídos e o conto está enxuto, na medida certa. Boa sorte no desafio.
Oi Mãe Bonifácia.
Minha avaliação será feita com quatro critérios: tema (2 pontos), correção/escrita (2 pontos), criatividade (3 pontos), personagens (3 pontos).
Tema (2): Mais uma vez, fico dividida quanto ao tema. Olodumare, criador de Orum e de Aye, para mim é uma entidade religiosa. Como já comentei em outros contos, há quem diga que toda religião é um conjunto de mitos, há quem diga que é tudo a mesma coisa e há quem diga que são coisas totalmente diferentes. Eu não sei. Porém esta história fala sobre o mito de criação e traz significado a questões universais e ,por este motivo, entendo que o tema está presente.
Correção/escrita(2): Uma escrita muito bonita, elegante e cheia de estilo. Correta e fluida.
Criatividade(2):Um conto bonito, que usa os horrores de um navio negreiro como pano de fundo para uma discussão filosófica sobre a existência e sobre o sofrimento. Achei tudo muito correto e agradável de ler, embora sem grandes novidades. É um conto linear, simples e bem conduzido.
Personagens(3): Excelentes. Dandara e sua família são bem desenhados e, assim, é possível compreender sua dor. Olodumare, que adota uma linguagem moderna e coloquial, parece próximo de nós e um tanto afastado daquela realidade de barbárie. Achei esta sacada, do uso da linguagem, genial.
Parabéns e boa sorte
Dandara dos Palmares foi líder do exército feminino em Palmares. Era esposa de Zumbi dos Palmares. Não há registros sobre sua origem e esse conto bem pode retratar a sua infância. Gostei do enredo, da história. Naqueles tempos não se falava “Oi, Dandara” Tampouco “tá”, em vez de “está”. Naturalmente seria um dialeto africano que foi transcrito para os dias atuais. Seria um absurdo reclamar, né?
Achei que o tema está presente no texto. Alguns seres mitológicos são, desde o começo dos tempos, cultuados como deuses e a eles se dedicam cultos e oferendas. Como eu disse antes, essa poderia ser a história de Dandara dos Palmares quando criança. Muito bom.
Perspicaz!
Bem, antes de começar deixarei aqui como estarei avaliando cada conto: Distribuirei 40 pontos em minha avaliação da seguinte forma:
Título: 3
Enredo: 5
Personagens: 5
Originalidade: 5
Gramática: 5
Impacto: 5
Ambientação: 5
Narrativa: 5
Extra: 2 ( A cada uma nota máxima o autor recebe extra 0,4, ou seja se eu julgar que o desenvolvimento dos personagens é nota 5, ganha 0,4. Para ganhar os 2 pontos tem que ganhar 5 notas 5, título não conta para o extra.)
As notas estarão em um segundo comentário para que a moderação libere quando for permitido!
Com relação adequação do tema será acrescido a nota 0 caso eu julgue não se enquadrar no tema e 5 caso se enquadre em minha opinião. 8 ou 80!
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Vamos para minha avaliação, lembrando que ela é apenas pessoal e não tem o intuito de denegrir a imagem do autor(a), apenas quero ser sincero e mostrar no que pode melhorar, afinal estamos em constante evolução:
Título: Dandara – Pesquisei o nome para encontrar alguma referência, não sei se acertei, mas vou evitar spoilers. É um título bom, pois o nome do persona é forte e se trata do personagem central da história.
Enredo: Acredito que o comentário abaixo do Lucas esteja correto em relação a “Teodiceia”. Interessante a abordagem. O autor(a) conta o texto em dois atos, primeiro nos apresenta Dandara, seu sofrimento, nos faz sentir isso e depois nos leva ao tema, a maldade, a criação, os questionamentos acerca disso. Pouco conheço à respeito da mitologia Africana, já escrevi bastante contos de terror utilizando da parte mais macabra dela, mas aqui teve uma suavidade que me mostrou outro lado da história, se é verdade ou não, não sei. Gostei! Ah, tem dois furos, o Deus que está narrando em dois momentos narra como se fosse outro narrador falando dele, não entendi se foi erro ou se foi para mostrar a onipresença dele. Fica a dúvida.
Personagens: Personagens bem construídos, tanto a Dandara, quanto o Deus em si, acho que o autor(a) foi eficiente nesse ponto.
Originalidade: O conto é original sim, talvez não seja mesmo aquele conto de ação, sobre cavalgar em um cavalo Alado e tals, mas tem um lado que mexeu um pouco com meu eu leitor. Valeu!
Gramática: Sem nada a acrescentar, para mim está ok.
Impacto: Diferente dos que li até aqui que se apegavam em sua maior parte a ação ou romantismo, fora, claro, “Ramiro Adotesilé” que curiosamente também fala sobre escravidão e cultura africana, esse texto tem também uma pegada extra de emoção. Para mim o impacto foi claro. Afinal, esse é o segundo texto, perto do dia da consciência Negra, que trata de um assunto tão velho e novo. Para mim aparentemente esse escrito por mãos femininas.
Ambientação: Gostei das descrições, do navio, das mortes, da dor e do sofrimento dos personagens, seja do Deus ou da garota. O autor(a) fez isso com muito singelismo e carisma. Curti!
Narrativa: Uma narrativa pura e doce, de quem parece sentir na pele a dor dessas cicatrizes, quem sabe seja de fato a heroína Dandara que temos por aqui? Ou talvez eu esteja enganado e seja apenas uma coincidência, fato é que a narrativa nos trás a apresentação de uma guerreira que sobreviveu até então a 35 dias de dor em um navio, e tão nova. Gostei!
Não teremos pontos extras aqui também!
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Considerações finais:
No mais desejo sorte no desafio, fico feliz que esteja escrevendo e buscando esse tipo de certame onde aprendemos e ajudamos dando a opinião sincera de nosso “eu leitor” a respeito do trabalho de colegas escritores! Obrigado pela oportunidade de ler e opinar a respeito de seu trabalho!
Um conto singelo e delicado, que consegue achar doçura e delicadeza no cenário terrível da escravidão. A escrita é muito boa e conduz o texto em um ritmo agradável, além de descrever muito bem os cenários e sentimentos da protagonista. A adaptação caprichosa dos mitos de origem yorubá sugerem uma boa pesquisa ou um autor familiarizado com o contexto. Porém, o enredo é um tanto quanto parado, narrando principalmente lembranças e acontecimentos previsíveis, sem nenhuma reviravolta ou acontecimento novo, sendo monótona a leitura em alguns momentos.
Boa sorte!
Eu concordo com tudo o que você falou, mas penso que a monotonia fosse uma escolha de estilo da autora para trabalhar no conto um pouco de melancolia, mas mantendo o clima acolhedor do mesmo. Minhas impressões, no entando.
Um conto singelo, que consegue achar doçura e delicadeza no cenário terrível da escravidão. A escrita é muito boa, conduzindo a narrativa em um ritmo agradável, com riqueza na descrição dos cenários e sentimentos da protagonista. A adaptação caprichosa dos mitos de origem yorubá sugerem uma boa pesquisa ou um autor familiarizado com o contexto. Porém, o conto é um tanto parado em termos de enredo, narrando principalmente lembranças e acontecimentos previsíveis, sem nenhuma reviravolta ou acontecimento novo. Isso chega a ser um pouco monótono em algumas partes.
Boa sorte.
Gostei muito deste conto, na minha opinião é o melhor.
Verdade. Nossa… Que coisa mais linda. Uma conversa sincera com Deus. Quando as pessoas morriam, o conto me tocou. Mas quando Dandara viu as frutas, e pegou a banana, o conto me cativou. A velha discussão da Teodiceia, mas aqui tratada com singeleza e um toque muito acolhedor. Eu não tenho muito a acrescentar. Ele está lindo do jeito que está. Realmente é um dos melhores, senão o melhor.
Parabéns!