EntreContos

Detox Literário.

Lei da Sorte (Marcia Dias)

Era noite quente naquelas bandas. Gente direita não dava o ar da graça nas ruas danadas de incerteza. Enquanto fumava, Roberto olhava da janela uma cena velha. Um menino aparentando uns 11 ou 12 anos traficando na rua quinquilharias do que o dia lhe rendeu:  um relógio, uma pulseira, uma carteira. O canto escuro escondia os objetos, mas também flagrava as pequenas mãos negociando como profissionais. Roberto mirou a cabeça da criança, bem no meio da testa. Ele era bom nisso. Sorriu marotamente, enquanto viu o garoto se desesperar com a luzinha vermelha no seu terceiro olho. A turma da nova geração fadada aos maus hábitos se dissipou em fração de segundos. Roberto riu alto. Seu whatsapp notificou uma mensagem. Leu e, aliviado, ligou para o pai.

– Consegui tua operação. Mas ó, tu tem que tá no hospital amanhã bem cedinho, senão passa outro na frente!

– Não acredito! Meu Deus! Meu filho, como tu conseguiu isso? Eu sou o quatrocentos e pouco na fila!

– Depois eu te conto, vai dormir, meu velho!

Nem Roberto acreditou que conseguiu. A cara orgulhosa acompanhou o brilho cintilante de sua Carlinha, uma Taurus G2C que adorava ser alisada por uma flanela velha. Ninguém ia acreditar no preço que ele pagou por ela também. Quase nada. Era um homem de muita sorte, sabia disso. E contava com isso.

Roberto não falava quase nada, mas tinha muitas perguntas. Não era muito inteligente, por isso não entendia muito bem as coisas. Não entendia por que o pai esperava por longos quatro anos uma vaga para operar urgentemente os olhos, se o hospital público nem fila tinha. Médico? O hospital tinha. Equipamentos? O hospital tinha também…

Outro dia teve uma crise de riso quando prestou atenção na telinha do trem, que anunciava a proibição de venda de produtos por ambulantes dentro e fora dos vagões. Na hora, ele comia um chocolate de R$ 2,50, muito gostoso. Onde mais, senão em um vagão de trem,  na Central do Brasil, ele pagaria um preço tão justo por um Suflair? – “Moço, pode ser tudo roubado!” – uma estudante se indignou. – “Quem garante que a tua mochila também não é?” – Roberto ria mais ainda. – “Ah num é não. Comprei na loja, tá?” – “Tá bom, minha querida…”. Sem saber, a estudante defendia o art. 40 do Regulamento de Transporte Rodoviário. Sem saber, Roberto concordava que os ambulantes eram Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do estado.

O dia nasceu, afinal ele nasce para todos, não? Para os que cumprem e também para os que não cumprem o seu dever. Roberto se preparou para mais um dia de labuta. Trancou a casinha e saiu. A poucos metros de sua residência, um pedido do mesmo moleque que Carlinha apontou na noite anterior:

– Oi, tio! Tá indo cedo pro trabalho hoje!

– Moleque, quantas vezes eu tenho que te falar pra não me chamar de tio? Eu não sou da tua família, pirralho! Aí tu faz merda por aí e vão atrás do teu “tio”… Que que tu quer?

– Meu cartão do passe livre deu ruim. Falaram que só vou ter outro no mês que vem. Se eu não for pra escola, vai cortar o dinheiro da mãe. Tu pode me dar alguma intera na passage, tio?

– Não.

– Mas, tio…

– Vai se foder moleque, tenho nada aqui não. E se tivesse não ia te dar. Quem garante que tu não tá mentindo?

Que dia aborrecedor! Foi um dia escaldante, não houve ar condicionado que desse jeito naquele trem. No meio daqueles trabalhadores já esgotados do futuro do dia, um ser humano suou mais que todos. Era eu. Minhas mãos inquietas olhavam o bolso a todo instante, querendo se certificar de algo importante. Meu lenço. Ninguém notou, exceto Roberto. Apenas Roberto cumprimentou com a cabeça as minhas mãos e meu rosto. Ao chegar a Estação da Central do Brasil, a multidão galopou para fora dos vagões. Os últimos a aparecerem em meio à poeira de sol fomos Roberto e eu, o homem suado. Os dois andamos lado a lado, passos lentos, pesados e precisos. Passos de quem sabia andar por ali. Após alguns metros juntos, nos separamos da nitidez do dia. Esqueci de dizer, meu nome é Jorge.

– Fala, Geraldo! Tudo bem, meu chapa? – entrei no restaurante que eu andava frequentando. Era modesto e ficava muito cheio às segundas. Aliás, era uma segunda-feira.

– Salve, Jorge! Veio cedo hoje! Tu deve tá passando mal de fome, suando desse jeito – falou o empático dono do restaurante.

– Pois é cara, tô morrendo de fome!

– Então se apressa porque hoje tá cheio aqui. Segunda é sempre assim! Ou vai ter que esperar repor a comida. Ou volta mais tarde, tu trabalha aqui perto? Eu me esqueci.

– Ah, tá bom… vou fazer meu prato… Geraldo, tu tá sabendo o que tão falando por aí? – cochichei.

– O que, cara? Depois tu me conta, tenho que dar um gás aqui… – uma fila começou a se formar no caixa do restaurante.

– Bicho, um amigo meu me falou que aquela mulher que sentava ali no canto teve uma infecção depois que almoçou aqui. A mulher tá internada e tudo! – falei baixinho no ouvido do caixa e dono do restaurante.

– Que isso, mermão?! Aquela loura? Ah cara, mas quem garante que foi porque comeu aqui? – sussurrou de volta pra mim, sem disfarçar sua preocupação. Os clientes começaram a ficar irritados com a demora no atendimento. Um homem apareceu com uma nota de R$ 200 com um lobo-guará estampado nela, para pagar um refrigerante.

– Amigo, não tem menor?

– Putz, cara! Só tenho isso!

Geraldo ficou nervoso do calor, da fila, da mulher internada e daquela nota do lobo-guará que nunca viu antes. Abriu abruptamente a caixa registradora. Tentou pensar, mas os clientes já reclamavam na fila. Contou o troco de R$ 195 reais.

– Geraldo, vou te deixar trabalhar cara, tá bem cheio… – claro que percebi o grande movimento do restaurante.

– Amigo, tô bem atrasado, meu horário de almoço já acabou – pressionou o homem da nota do lobo-guará.

– Tem certeza que não tem menor? Vou ficar desfalcado aqui, cara.

– Ei! Ei! A gente aqui também tem hora! Bora aí! – um outro cliente gritou no fim da fila.

– Cara, melhor tu dá logo esse troco. Neguinho tá ficando bolado na fila! – dei um empurrãozinho nas mãos do pobre dono do restaurante. E Geraldo deu o troco de R$ 195. Otário!

Depois de dobrar a esquina, Roberto contou as notas, uma a uma. 

– Porra, achei que ele fosse chamar alguém para ver se a nota era falsa – eu disse, derretido de suor.

– Jorge, a gente tem que cuidar desse tempo aí. Demorou muito, cara! Se der tempo para eles, fode tudo! Essa nota tem um relevo muito alto, bicho! Não quero mais trabalhar com ela não! Vamo diminuir o olho e trabalhar com as de 100 que é mais tranquilo. E a propósito, bicho, tu tá suando feito um gambá!

– Esquenta não, brodage, tô pensando numa outra situação, mais segura pra gente – eu disse enquanto cheirava minhas axilas para tirar minhas próprias conclusões. 

– Valeu, então. Vou lá que meu pai vai internar amanhã. Toma aqui tua parte.

– Vai com Deus, irmão!

Roberto se apressou para o próximo trabalho, estava atrasado. E esse trabalho era o mais gostoso. Tinha Mariana. O galanteador trotou até a casa lotérica que frequentava duas vezes na semana. Na frente da loja estava uma mesinha pequena de fórmica branca descascada e uma banqueta. E as coxas de Mariana. Lugar certo para se perder, mesmo aquele que acha que tem rumo. Eu mesmo já me perdi nelas. Por pouco tempo, infelizmente. O pai da bela me enxotou para longe. Ele tinha um armário que “guardava” a filha e a banca do jogo do bicho. Chamava-se Reno. Costumava usar um chapéu preto e também costumava ter mais de dois metros de altura. Mas essa altura variava muito, quando estava perto de Roberto ele diminuía o próprio tamanho e ficava bonachão. Filho da mãe. Eu já falei que Roberto era um cara de sorte?

– Como tá hoje, Reno?

–  Tá fraco, Roberto. Só  dez apostas, mano.

– Calma amigo, agora são onze – sem tirar os olhos das coxas e da dona delas – , e vou de coelho hoje – continuou Roberto. Mariana sorriu, sem disfarçar.

– Hahaha tu é uma figura, cara! Tu já pegou seu dinheiro com o pai da princesa?

–  Esquenta não cara, tá tudo certo. Seu Brás já desenrolou uma parada comigo de uma vaga no hospital… eu passei aqui pra ver se tava tudo certinho. Amanhã eu dou uma força aqui. Valeu!

– Até mais, mano.

O pão do dia já estava garantido e o encontro de sexta à noite já estava marcado com Mariana. Sempre que iam transar um deles apostava no coelho. Era o código acertado entre os pombinhos.

Roberto chegou a casa à noite. Cansado bastante, mas não o suficiente para não polir Carlinha, aquela Taurus G2C.  Acabou cochilando do jeito que chegou, mas o barulho de alguma maldita festa de algum vizinho desocupado o fez se levantar de sobressalto. Que trabalhador poderia dormir com aquela balbúrdia? Abriu a porta e saiu para pegar um ar e acender um cigarro. Em frente à casa, viu o moleque que lhe pediu dinheiro no começo do dia. Estava vendendo uns cigarros de maconha para uns garotos abastados da classe média. Roberto não perderia essa chance, então se aproximou do bando. 

– Seguinte, vou falar só uma coisa pra vocês: VAZA! – bastou pisar no cigarro ainda inteiro e aceso, e dar uma escarrada no chão, para que todos evaporassem para os seus lares confortáveis de maconheiros da Zona Sul carioca. Só ficou o moleque, tremendo no âmago de sua base de existência.

–  Tu vai me matar, tio?

Roberto enfiou a mão no bolso de trás da calça. O pobre menino fechou os olhos e esperou o destino, já contando estar no inferno, mas ao abrir um olho, viu os dedos de Roberto contando R$ 100.

– Toma aqui moleque. Pra tua passagem de ônibus. Quero ver você na escola. Todo dia. Se tu não for, eu vou saber e o negócio vai ficar ruim pra tu – escarrou de novo, virou lentamente e voltou para casa com uma paz que não se compra, e com um passo de quem sabe aonde vai.

Daquele dia em diante, o menino nunca mais faltou uma aula sequer! Passado algum tempo, não se viu mais Roberto também. Uns dizem que morreu de um tiro certeiro de um vingador.  Outros dizem que o pai de Mariana arrancou suas bolas. E ainda há quem diga que, de tanto golpear de bairro em bairro, o amigo enriqueceu e foi para o estrangeiro. O pai dele diz que ele foi aprovado em uma faculdade de Direito no interior de Minas Gerais e foi morar com parente, mas nessa última verdade ninguém acredita porque é descabida demais. Fato é que até hoje todos os que o conheceram se perguntam por onde anda Roberto, se vivo. 

Quanto a mim, eu não sou um cara de sorte, não fiquei com Mariana e perdi o meu parceiro de trabalho. O sumiço de Roberto me intrigou muito. Perdi a coragem de continuar com os furtos e  trambiques. Poucos dias depois, eu encasquetei e fui à casa onde ele morou. Eu tinha uma cópia das chaves dele, mas jurava que a proprietária tinha um mínimo de massa cinzenta. Fui até lá só por ir ou por intuição, sei lá, o fato é que a chave se encaixou perfeitamente na fechadura e, adivinhem o que encontrei sob o assoalho rachado do quarto? Sim, Carlinha. Estava reluzente como sempre!

Senti que a Taurus G2C me daria sorte como deve ter dado para o Roberto. Usaria a bichinha para seguir o meu cronograma: o plano de assaltar uma mulher solitária e cega, que iria até agradecer a minha companhia, no final! Não tinha como dar errado, ainda que as coisas estivessem um pouco diferentes do planejamento original. Roberto não estava mais comigo, quem estava era a Carlinha… eu só precisava acreditar nela, em mim, na sorte, em qualquer coisa, sei lá!

Neste dia suei por um ano! Senti uma tontura e um sono profundo, típico de quem amarela na hora de agir. Dormi para não encarar minha vergonha, meu medo e, principalmente, minha frustração. Acordei e vi Carlinha brilhando como nunca. Entendi seu recado e suas palavras não me saíram da cabeça dali em diante. Para o resto da vida.

– Delegado, chegou um alvará de soltura!

– Claro que chegou! O cara não tem antecedente criminal e tava vendendo Suflair no trem! Enquanto isso, os cachorrões estão soltos por aí! Putz, que calor infernal! Alguém viu meu lenço? – fingi não reconhecer o menino que o Roberto costumava ajudar. Foi para a escola, mas a vida não lhe deu oportunidade de trabalho formal. No trem, entretanto, era o rei de vendas daqueles chocolatinhos aerados! E não seria eu quem arrancaria a sua majestade de sobreviver, quem lhe roubaria a Sorte.

22 comentários em “Lei da Sorte (Marcia Dias)

  1. Jowilton Amaral da Costa
    9 de outubro de 2021

    Ambientação: Boa. Conseguimos nos ver em um conto dos dias atuais, urbano e em meio a “malandragem”.

    Enredo: De médio para fraco. A trama é confusa, a meu ver. A mudança na narrativa chegou a me fazer pensar que Roberto e Jorge fossem a mesma pessoa. Como se Jorge fosse esquizofrénico ou tivesse uma dupla personalidade. Jorge o homem da lei e Roberto sua personalidade fora da lei.. Só que não é isso, né? Aí, ficou bem confuso para mim. Achei bom o uso das gírias.

    Técnica: Mediana. A condução narrativa me pareceu ainda imatura, dificultando o entendimento da história e travando a leitura em alguns momentos.

    Considerações Gerais: Um conto mediano..

  2. misapulhes
    9 de outubro de 2021

    Olá, Homem Suado.

    Resumo: o texto narra algumas cenas da ação criminosa de Jorge, o narrador-protagonista (que, descobrimos ao final, era delegado de polícia), e de Roberto, seu parceiro de crime, que, do nada, some na vida.

    Comentários: é um texto divertido, dinâmico, ágil. Mas eu penso que se perde demais em muitas cenas, muitos personagens, muitas ramificações. De forma que ao final, a tentativa de amarrar tudo parece falha.

    Um exemplo dessa perda de foco é a história de Roberto, que começa protagonista, e, de repente, some. Do nada. Além disso, o foco na arma parece injustificável pro enredo da história.

    Quem sabe num espaço maior, uma novela, talvez, houvesse mais espaço para desenvolver os personagens.

    Boa sorte, Suado!

  3. Bruno Raposa
    9 de outubro de 2021

    Olá, Homem Suado.

    Numa vã tentativa de ser mais objetivo, resolvi, para este desafio, pegar emprestado o modelo de comentários do EntreMundos. Então vou dividir meu comentário em ambientação, enredo, escrita e considerações gerais.

    A eles.

    Ambientação: Um tanto confusa. O conto não segue um caminho firme, vai se bifurcando, apresentando novas situações, lugares e personagens, e nem tudo se conecta de forma harmônica. Até o narrador muda no meio do caminho. Assim, fica difícil imergir na história, que parece meio sem foco. O que se destaca é o clima de malandragem, algo caricato, mas que funciona para situar o leitor. De forma geral, o conto carece de atmosfera.

    Enredo: Outra vez, confuso, rs. O conto apresenta situações, como a operação do pai de Roberto, que não levam a lugar algum. A mudança de narração de terceira para primeira pessoa é um recurso interessante, mas não creio que tenha funcionado bem aqui. Não faz muito sentido que Jorge estivesse narrando desde o início, as informações que ele tem sobre Roberto só poderiam pertencer a um narrador onisciente.

    Também parece inverossímil que o menino tenha passado a frequentar a escola assiduamente por conta de cem reais.

    Os personagens são excessivamente estereotipados, agem e falam de maneira quase caricata. Os golpes que aplicam não são bem definidos e não dá pra entender qual a função da arma na trama. Parece tudo meio jogado e misturado sem muita liga. E o final deixa mais dúvidas do que respostas.

    Escrita: É sempre desagradável dizer isso, mas, aqui, a escrita ficou bastante aquém do esperado. Muitas palavras e informações repetidas. A palavra “dia”, por exemplo, aparece quatro vezes num mesmo parágrafo. Já a informação de que Carlinha é o nome da arma aparece duas vezes.

    Há também um excesso de pontos de exclamação. São quarenta e cinco durante o decorrer do texto, que é até curto, abaixo do limite de palavras do desafio. Muitas dessas exclamações se aglomeram em frases seguidas, sobretudo nas falas, gerando um efeito estranho, como se os personagens falassem o tempo inteiro de forma exaltada. E se assim for, parece menos intrusivo que a narração pontue o tom de voz do personagem, ao invés de empilhar exclamações.

    Considerações gerais: Sei que parece que estou dizendo que o conto é um desastre, rs. Mas não é o caso. Acho que o texto cresce quando trabalha com humor e superstição. Gostaria de ter visto mais disso. Talvez limando situações que não acrescentam muito, como a já citada operação do pai e o envolvimento de Roberto e Mariana. A leitura flui facilmente, tem agilidade, e os diálogos colaboram para isso. Creio que faltou mais polimento, mais calma para amarrar melhor o enredo e eliminar pequenos problemas com a escrita. Acho que um processo de reescrita, sem preocupações com o prazo, faria bem ao texto.

    Desejo sorte no certame.

    Abraço.

  4. Jorge Santos
    7 de outubro de 2021

    Olá. Este seu conto narra a história de aquilo que no Brasil chamam de trambiqueiro, o vigarista que vive de golpes. Não consegui situar no tempo a acção. Não sei se é no presente ou num futuro distópico. Para o caso, não é relevante. Há um sentido muito forte de realidade, um protesto contra as filas de espera no hospital e a falta de emprego. No desfecho vê-se a ligação que faltava, o envolvimento da polícia. No entanto, o enredo ficou algo confuso porque nunca se consegue identificar o sujeito, especialmente no último terço do conto. Senti que faltou algo na estrutura da narrativa.

  5. Anderson Prado
    5 de outubro de 2021

    1. o tema do desafio está presente: o protagonista é um fora da lei, e o enredo se dedica a apresentar sua rotina de golpes e fraudes;

    2. o domínio das técnicas de narração é mediano, o que leva consigo o enredo; por exemplo, causou-me profundo estranhando a mudança abrupta de voz narrativa, alternando entre a terceira e a primeira pessoa; também não me agradou o salto tempo-espacial ocorrido no desfecho, em que nos defrontamos com o a cena da delegacia;

    3. o domínio da língua está encaminhado, mas ainda pode melhorar; por exemplo:

    a. o autor possui bastante dificuldade para usar o pretérito mais-que-perfeito: autor, ações passadas anteriores a outras também passadas têm que ser apresentadas no pretérito mais que perfeito;

    b. o autor abusa do uso de pronomes como aquele, aquela, naquele, naquela etc.; por exemplo, na primeira linha há um “naquela” gratuito (a exclusão dele não promove alteração de sentido);

    c. o autor comete repetições de palavras; por exemplo, em um mesmo parágrafo, há duas repetições: “muitas”/”muitos” e “entendia”;

    d. o autor descuida do uso de vírgulas nos vocativos; exemplos: “Ah cara, mas quem…”; “vou te deixar trabalhar cara”; “Calma amigo, agora são…”.

  6. Emanuel Maurin
    3 de outubro de 2021

    Oi Homem suado, Deus te abençoe.

    O enredo é urbano, bem escrito e as cenas são vívidas e fáceis de imaginar. Os diálogos dão ainda mais realismo à história, mas, por vezes, o autor parece perder-se em sua própria escrita.
    Outra coisa: a repetição de palavras é um problema. Em especial aquelas terminadas em “mente”, os terríveis advérbios, que poluem e enfeiam o texto.
    Quando escreve um diálogo, o autor, no afã de “oralizar” a escrita, por vezes torna as frases cansativas ou desagradáveis aos olhos, sobretudo com palavras como “passage” (corruptela de “passagem”) que salta aos olhos. Ainda que tal recurso seja valioso, é preciso tomar cuidado para não o utilizar em demasia, uma vez que o texto, assim escrito, pode maçar quem o lê.
    Enredo: é bem ruim. Uma história que tem pouco de original, mas muito do velho senso comum. Não é grande, nem pequeno. Não serve nem para distrair. E é uma leitura facilmente esquecível pelo leitor.
    Odiei.

  7. claudiaangst
    3 de outubro de 2021

    O conto aborda o tema proposto pelo desafio.
    Foi uma estratégia bem arriscada mudar o foco narrativo no meio da narrativa, mas não chegou a causar tanta confusão. O que me desconcentrou um pouco foi o excesso de informação ou o que poderia se definir como enredos paralelos. No fim, fiquei sem entender direito a intenção de cada personagem. Jorge era um delegado que aplicava golpes com o comparsa Roberto? Mas golpe pequeno de resultado 195 reais? Ou ele só se tornou um delegado anos depois?
    Seria bom fazer uma nova revisão. Lapsos em relação a tempos verbais e pontuação.
    Há repetição de palavras e de ideias. Uma frase parece querer reforçar o que foi dito anteriormente, o que torna cansativa a leitura. Confie mais na capacidade de compreensão do seu leitor.
    Conto com potencial a ser desenvolvido.
    Parabéns pela sua participação e boa sorte no desafio.

  8. Fabio D'Oliveira
    2 de outubro de 2021

    Buenas, Suado!

    Nesse desafio, irei avaliar três fatores: aparência, essência e considerações pessoais.

    O que ele veste, o que ele comunica e o que eu vejo.

    É uma visão particular, claro, mas procuro ser sincero e objetivo. E o intuito é tentar entender o texto em sua totalidade, mesmo falhando miseravelmente, hahaha.

    Vamos lá!

    APARÊNCIA

    É um pouco estranho: a escrita é hábil, mas houve uma pequena falha no planejamento dela. Até o sexto parágrafo, o conto parece estar em terceira pessoa, tendo um narrador mais informal, mas ainda assim onisciente (para reproduzir o diálogo exato do Roberto com o pai, se o personagem-narrador não estava presente, apenas se ele for onisciente; fora isso, soa como uma incoerência na narrativa), mas, depois, descobrimos que se trata de uma narração em primeira pessoa, com o Jorge narrando sobre as atividades do velho amigo que sumiu e como sua amizade se construiu. Isso me pegou desprevenido e, ainda, causando certa estranheza e confusão, principalmente por ser um personagem-narrador que sabia demais, até em cenas que, aparentemente, ele não estava presente. Eu costumo encarar isso como uma incoerência narrativa.

    No meu ponto de vista, o ideal é situar o leitor das suas intenções. Avisá-lo, de alguma forma e no começo, que se trata de uma narrativa em primeira pessoa e focada em memórias. Um trecho informativo resolveria isso, algo como: “sempre fui azarado, mas Roberto sempre teve sorte, aquele desgraçado”.

    Fora isso, a escrita é correta e ágil. Quando me recuperei da confusão, a leitura transcorreu bem, mas tive que reler para capturar bem a essência da história.

    ESSÊNCIA

    É interessante como a arma vira um amuleto de sorte.

    Quando Roberto some, ele deixa para trás o objeto que amava, mostrando, talvez, um destino infeliz. Sumir assim, do nada, nunca é bom, né? Jorge, que nunca teve sorte, fica com a arma, sentindo que poderia carregar um pouco dessa sorte consigo, mesmo sendo uma ilusão.

    É uma trama boa.

    Simples, mas eficiente.

    Os personagens são complexos e bem construídos. Gostaria de ver Roberto numa linha mais obscura e misteriosa, porém. Acho que combinaria bem com o enredo.

    CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

    A confusão atrapalhou um pouco, admito, porém, ainda consegui extrair algumas imagens bem legais do conto, principalmente o conflito que envolve a arma.

    Parabéns pelo trabalho, Suado!

  9. Elisa Ribeiro
    28 de setembro de 2021

    A amizade entre um bandido e um policial e a relação de ambos com uma pistola amuleto é o tema do conto.

    Seu conto explora dois argumentos bem interessantes: a relação nada canônica entre polícia e bandido e a ideia da sorte associada a um objeto mágico. A escrita é envolvente, a despeito das desarmonias de tempo verbal, a leitura foi agradável e escorreita. Não me incomodei com a alternância de foco narrativo, na verdade até me surpreendi positivamente quando o narrador Jorge surgiu a meio na história. O problema do seu conto para mim foi a desconexão entre alguns episódios contados, que acabou comprometendo a coesão da história. Minha sugestão seria uma revisão de modo a melhorar a liga entre esses episódios (a cirurgia do pai e a namoradinha Mariana, basicamente) e o cerne da história que está sendo contada.
    Ou então retirá-los do conto.

    Finalizo dizendo que é uma boa história, criativa, com um bom enredo e uma estratégia narrativa interessante.

    Parabéns pelo trabalho. Desejo sorte no desafio e em tudo mais. Um abraço.

  10. Andre Brizola
    27 de setembro de 2021

    Olá, Homem Suado!

    Conto sobre a relação totalmente fora da lei de um delegado, Jorge, e um pilantra, Roberto. Os dois são parceiros em golpes e falcatruas pequenas, aparentemente, mas há a suposição de que a sorte de um dos criminosos é derivada de uma espécie de amuleto, uma pistola.

    Acho que esse conto tem uma premissa muito interessante, que é a da sorte orbitar um dos personagens, e a suposição de que ela tem a ver com a arma. Teria sido bem legal, inclusive, se esse tivesse sido o foco principal do texto. Roberto realmente tem certa adoração pela arma de fogo, e penso que essa relação poderia ter sido mais explorada.

    Meu problema com o conto é o personagem Jorge. Colocado em uma posição de narração homodiegética, ele conta e participa da história de Roberto. É através dele que temos acesso a diálogos, pensamentos e comportamentos do personagem principal. Mas, se Jorge é o narrador, e deduzimos que não é onisciente, pois trata-se de uma pessoa, tudo o que é contado sobre Roberto quando este está sozinho é uma dedução, ou uma invenção. Só temos a palavra do narrador sobre a real figura de Roberto, e isso é pouco atrativo para a trama apresentada.

    De forma geral acredito que o enredo pecou no tipo de narração e na escolha dos episódios apresentados. A trama tem seus pontos fortes (a sorte atrelada ao amuleto, o efeito dessa sorte no dia a dia do criminoso, a transferência da sorte com a passagem do amuleto de um para outro), e poderia ter sido escorada nisso. Da forma como ficou, para o meu gosto pessoal, o texto está um pouco confuso e com poucos atrativos.

    É isso. Boa sorte no desafio!

  11. Felipe Lomar
    26 de setembro de 2021

    Bom, gostei bastante da história, uma trama de trambiqueiros e malandragens muito bem ambientada no Rio de Janeiro. A história é concisa e tem um ritmo bom. A narração, porém, é meio confusa. Jorge obviamente é o narrador, mas as mudanças repentinas de foco que ocorrem fazem o leitor se perder em alguns momentos. O final, também, não é Muito bem encaixado. Parece q a pistola G2C vai assumir um papel mais significativo, sendo quase um amuleto mágico da sorte, mas isso não foi bem explorado. No mais, parece que, do nada Jorge vira delegado no final, sem mais nem menos, o que pega de surpresa.
    Boa sorte!

  12. opedropaulo
    26 de setembro de 2021

    Este é um conto sem foco. A princípio, a história parece ser sobre Roberto, mas a súbita transferência de perspectiva para a primeira pessoa – ponto com o qual implicarei mais adiante – nos introduz a Jorge. O primeiro trambique que os dois arrumam parece finalmente introduzir a história que o conto quer trabalhar, mas então duas subtramas aparecem, associadas a Roberto, e em seguida voltamos a Jorge com o súbito desaparecimento do seu parceiro e não se sabe se a história será sobre Mariana, sobre o garoto dos cigarros ou sobre a carreira solo de Jorge. Acaba não sendo sobre nada disso, não há uma amarração e, embora o narrador encerre o texto em uma posição diferente da inicial, a leitura nunca parece ser a seu respeito e, portanto, finaliza-se o conto sem catarse. A escrita é fluida e garante uma leitura confortável, mas o ponto que me incomodou foi uma espécie de indecisão entre narrador personagem e narrador onisciente, dado que o nível de detalhe com o qual Jorge acompanha Roberto elege o segundo como verdadeiro protagonista. Este não é o problema, mas deixa inverossímil que Jorge conseguisse narrar não só as ações que Roberto viveu com outras pessoas sem ter estado presente, mas também o que Roberto pensava. É claro que, sim, esse recurso pode ser utilizado se Jorge se mostrasse ou mesmo apenas se julgasse íntimo conhecedor da natureza do colega, o que não chega a ser explicitado. Enfim, acho que é um conto que poderia ter sido repensado na história apresentada e na maneira como nos apresentou. No tocante ao tema, é mais um texto que se encaixa por apresentar personagens fora-da-lei, embora não discuta a temática.

    Boa sorte!

  13. Priscila Pereira
    25 de setembro de 2021

    Olá, Homem suado! (Cara, muito sugestivo esse pseudônimo, credo 😂)

    Ambientação: boa, dá pra visualizar bem a história.

    Enredo: não sei direito… Me perdi por conta do narrador… É em primeira pessoa, mas o narrador conta a história de um terceiro então parece que metade do texto tá em primeira e metade em terceira… Tá bem confuso…

    Escrita: Achei bem boa 😁 apesar do tempo verbal.
    Os diálogos pareceram bem convincentes, e a a leitura foi relativamente sem entraves…

    Considerações gerais: um conto legal, mas confuso. Bem escrito, mas confuso. Enfim, um conto confuso.

    Boa sorte!
    Até mais!

  14. Luciana Merley
    24 de setembro de 2021

    Lei da sorte

    Olá.
    Gosto da forma como escreve, fácil, de forma fluida, convicta, mas confesso que notei muitos enredos em pouco espaço.

    Coesão – Seu texto não vai muito bem nesse quesito. Não sei bem se alternar vozes narrativas num texto tão curto tenha sido uma escolha acertada. Não que seja proibido, claro que o autor pode optar pelo que quiser, mas, porque não há uma razão para isso. Acrescentar uma segunda voz narrativa sem que ela seja indispensável para o enredo, para a trama, não faz sentido, vira apenas apetrecho narrativo. Outra questão é exatamente a ausência de foco narrativo. Sobre quem é essa história? A que ela se pretende? Relatar delitos aleatórios? Não, porque os personagens tem entre si alguma relação. Porque ele era “de sorte”?

    Ritmo – Prejudicado pela alternância de vozes e pela falta de foco. O início é muito bom, bem construído, com um narrador em terceira bem elegante e instigante, mas depois o texto vai para outros caminhos e aí já não o encontrei mais. Mas, repito, um texto bom de ler pela qualidade e experiência da escrita.

    Impacto – Penso que faltou mais planejamento ao seu texto. Mas gostei muito da forma como usa as palavras.

    Um abraço.

  15. Kelly Hatanaka
    21 de setembro de 2021

    Oi Homem Suado.

    Uma história muito interessante. Gostei de acompanhar Roberto e Jorge em suas falcatruas e fiquei intrigada com o sumiço de Roberto. Como gosto do improvável, imagino que ele esteja fazendo Direito, sim kkkkk

    As trocas de narrador me deixaram meio confusa. Precisei voltar e reler para compreender o que aconteceu. Meio como ocorre com as vítimas dos trambiqueiros. Foi de propósito? Se não foi, poderia ter sido.

    Gostei deste conto realista, cotidiano, reconheci figuras que vejo por aí, o jeito de falar de um velho amigo, coisas que só ocorrem quando as personalidades dos personagens são bem desenhadas.

    Parabéns!

  16. Júlio Alves
    17 de setembro de 2021

    É um texto confuso, que alterna entre as vozes narrativas (ora primeira, ora terceira pessoa) e que se apega em alguns cacoetes que poderiam soar críticos ao governo (a nota de 200; o zap; o vocabulário direitista), mas que não leva a lugar nenhum além de uma moralidade tão dúbia quanto à origem do narrador em primeira pessoa.

    No mais, o conto é interessante e mantém quem lê investido no que é narrado, mesmo com o foco alternando com frequência desnorteante.

    Parabéns pelo conto

  17. Wilson Barros
    17 de setembro de 2021

    Segunda vez que vejo uma Taurus compacta aqui no desafio. Dessa vez é uma pistola.
    O conto é um conjunto de várias crônicas. Mostra um dia de trabalho do malandro. Que quer ver os meninos na escola, pra não ficar igual a ele. Eu acho que esse é um dos poucos do desafio que retratou o crime normal, no caso o golpe da nota.
    Ainda tem o caso do menino que mesmo indo à escola não consegue melhorar de vida. E o de alguém que sai daquilo e vira delegado por um insight.
    Tudo bem encaixado e contrapinado. Bom conto sobre o crime.
    OBS: Na frase “os últimos a aparecerem”, não é que o infinitivo pessoal esteja errado. É só um toque, acho que na maioria das vezes o infinitivo pessoal fica mais eufônico: “os últimos a aparecer.”

  18. Marcia Dias
    17 de setembro de 2021

    História do cotidiano de dois trambiqueiros com uma pegada mais cômica e leve, o que deu uma refrescada, em meio à leitura de tantos contos trágicos, permeados de muito sangue, estupro e violência, pertinentes ao tema proposto no desafio, claro! Aqui, Jorge e Roberto são pequenos vigaristas (vivem de golpes e jogos de azar) que levam vidas normais: tem família, amores, amizades, inveja e também bondade, enfim, tudo indica que são seres humanos, rs. Em certo ponto, um some e o outro toma outro rumo, por sorte ou escolha, o conto não ficou muito claro quanto a isso. Não condeno o(a) autor(a), sorte e escolhas são definições difíceis e, talvez, faces da mesma moeda.

  19. Angelo Rodrigues
    16 de setembro de 2021

    9 – Lei da Sorte

    Um conto que deseja passar uma ideia malandra, de malandros tentando ganhar a vida com pequenos golpes.
    Um conto estereotipado na linguagem e nos supostos hábitos de gente ligada aos pequenos crimes.
    Implico com isso, sempre, dado que costumeiramente me passa a ideia de um João Antônio Ferreira Filho (Ô, Copacabana; Dedo-duro; Malagueta, Perus e Bacanaço; Leão-de-Chácara; etc), sem a vivência de João Antônio, tornando tudo bastante caricato.
    Se o autor realmente gosta do ritmo que deu ao seu conto, recomendo a leitura de, ao menos, “João Antônio, Contos Reunidos”, saído há alguns anos pela Cosac Naify, particularmente pelo encarte “Vocabulário das Ruas recolhidos por João Antônio”. Um primor.
    Retomando.
    O conto sofre algumas viradas, particularmente com a mudança da voz do narrador, quando Jorge entra no texto, mudando o foco do relato. Achei interessante, embora disjuntivo, provocando um certo desconforto na leitura, deixando o leitor, até certo ponto, um pouco perdido no fluxo da narrativa.
    Tem, adjunto ao que disse, uma apropriação constante de clichês que no texto se fazem presentes para justificar comportamentos. Algo do tipo “bandido age assim, bandido trata moleques da comunidade assim…, bandidos bons incentivam o estudo de meninos perdidos”, engrossando o caldo para fixação da idealização do personagem com se deseja que ele seja.
    Bem, bandido é bandido, polícia é polícia, já dizia Lúcio Flávio, em Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia, de José Louzeiro. Aqui o autor busca, como em outros textos que li neste desafio, a romantização da desgraça, da bandidagem. Interessante esta visão, particularmente quando há a “regeneração” do sujeito ao transformá-lo em, quem sabe se de verdade, um Delegado de Polícia.
    Acredito que escrever um conto é uma grande chance de criar, mentir, inventar, onde os clichês têm lugar apenas para passar ideias, outras, que não sejam também elas um clichê.
    O conto é legal de ler, embora acredite que precise ser lapidado para fugir de repetições tão próprias ao gênero.
    Boa sorte no desafio.

  20. Antonio Stegues Batista
    15 de setembro de 2021

    O cotidiano de dois vigaristas, passando notas falsas. A narrativa vagueia por lugares-comuns, sem grandes revelações. Os bandidos parecem perdidos. A situação do pai de um deles, é algo passageiro e perde o motivo de estar ali. O cara suando não traz uma boa imagem verbal. A escrita é boa, os diálogos são bons, mas o enredo é ruim, insosso, as ideias não impressionam. A meu ver, as situações são fracas, sem impacto. Precisa melhorar as ideias, a construção de ações e situações do universo dos personagens além de descrições ambientes sinistros, sujos, limpos, os detalhes do aço frio na mão suada, a madeira que estala, o grito que ecoa na noite sem lua, etc. e tal.

  21. thiagocastrosouza
    14 de setembro de 2021

    Esse conto tem muita personalidade e vontade de contar sua história. Parece que o autor se divertiu um bocado ao escrevê-lo, criando esses personagens e os locais por onde transitam. Há uma linguagem leve e um ritmo bom, além de outras surpresas que agradaram este leitor. Num primeiro momento, estava achando tudo num lugar muito comum, tanto na escrita quanto no enredo, o que é natural após ler uma série de textos com trambiqueiros e assaltantes misantropos ou sociopatas, mas, numa toada mais cotidiana e humorística, a partir da virada do narrador, o conto ganha um fôlego interessante.

    Geralmente, não costumo apreciar quando o narrador para e conversa com o leitor, fazendo perguntas, muitas afirmações, ou se intrometendo para explicar a trama. Contudo, quando percebemos o narrador como um dos personagens do conto e acontece essa virada, a história ganha ares mais burlescos, até de mistério e curiosidade. O final, com o homem se tornando um delegado e poupando o menino injustiçado é no mínimo inusitado.

    Se o texto perde notas comigo, é apenas na condução de algumas frases e deslizes na escrita. Como o trecho seguinte:

    “Roberto não falava quase nada, mas tinha muitas perguntas. Não era muito inteligente, por isso não entendia muito bem as coisas. Não entendia por que o pai esperava por longos quatro anos uma vaga para operar urgentemente os olhos, se o hospital público nem fila tinha. Médico? O hospital tinha. Equipamentos? O hospital tinha também…”

    Algumas repetições e escolhas geram estranheza ao longo da leitura. O mesmo senti no trecho do restaurante. Ali, você tinha ouro bruto nas mãos para gerar a tensão e surpresa necessária. Faltou lapidar um bocadinho mais.

    Ainda assim, está bom. É um conto simpático!

    Boa sorte!

  22. anderson1973
    9 de setembro de 2021

    Bem interessante e realista. Do povo do subúrbio que anda no trem e enfrenta a labuta do dia a dia. As dificuldades, o transporte público lotado e os ambulantes que vendem de tudo no trem. Gostei da narrativa ágil também. Só no encontro do Geraldo e do Roberto que fiquei meio confuso na identificação do personagem.

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Informação

Publicado às 8 de setembro de 2021 por em Foras da Lei e marcado .