EntreContos

Detox Literário.

Verdade Roubada (Cronos)

A detetive chegou ao Pantheon e subiu as escadas um tanto apressada e circunspecta, sempre acompanhada do seu fiel secretário Tasso. Sabia, pelas circunstâncias do chamamento, que não se tratava de um caso corriqueiro e, internamente, vibrava com a iminência do desafio que estaria a enfrentar.  Sempre solícito e observador, Tasso, igualmente, sentia a adrenalina correr nas veias, o que tornava a cena do crime ainda mais interessante.

Jordana dirigiu-se a um grupo distinto de personas, cuja aparência e comportamento sinalizavam autoridade naquele empíreo. Após uma breve apresentação, iniciou o seu habitual trabalho de apuração dos fatos.

— O que ocorreu?

— A verdade encontra-se desaparecida — respondeu uma senhora altiva, de aspecto solar e leonino, cujo nome era Certeza.

— Acho que ela apenas se aborreceu e não quis mais estar entre nós. Palpitou uma outra senhora um tanto esquálida, de nariz aquilino e feições que a deixavam com um ar um tanto intrometido. Soube, mais tarde, que seu nome era Opinião.

A detetive ouviu calada, ponderou, e se dirigiu a uma outra senhora que estava próxima:

— A senhora teria algo a acrescentar?

— A Verdade sequer existiu. Nunca passou de especulação, superstição ou mera opinião.

Jordana soube, mais tarde, que o nome daquela senhora baixinha e de aspecto truculento era Ignorância. Ao se aproximar, constatou que usava uma bengala e deduziu que fosse desprovida de visão.

Tasso chamou a sua mentora em particular, a um canto na cena do crime, e mostrou sinais que poderiam denotar ter havido o emprego de violência.

A investigadora dirigiu-se novamente ao distinto grupo e indagou:

— Afinal, de quem a Verdade foi subtraída?

— A Verdade, com certeza, foi roubada da linguagem, respondeu Nietzsche.  É óbvio que ao criarem conceitos a partir de metáforas, os homens acabam criando a ilusão de uma joia multifacetada e brilhante que, no entanto, é só motivo de engano e perdição.

Com visível ironia, Sócrates discordou:

 — A Verdade só pode ter sido roubada das mentes, posto que sempre esteve escondida na alma humana, dia após dia, só aguardando ser despertada. Nenhuma ilusão ou dogma poderia restar de forma intocada diante de sua presença.

— Permitam-me, senhores — reverberou Kant, se aproximando — Considerando o alinhamento perfeito entre o pensamento e a realidade, dentro de uma catedral lógica, a Verdade só pode ter sido roubada da Confusão.

Diante do debate já um tanto acalourado, a Certeza interveio, como um facho de luz na escuridão:

— A Verdade foi roubada de todos nós.

— Será? — questionou a Dúvida — Uma senhorinha obesa, de faces avermelhadas, olhos assustados e perninhas frágeis. — Teríamos sido agredidos e surrupiados sem sequer termos percebido?

— Se considerarmos essa premissa, não estaríamos diante do paradoxo formulado por Epimênides? — Indagou Jordana — Sem a presença da Verdade, tudo mais se tornaria, no mínimo, questionável. Ou pior, considerando que só restou o que é falso, no que poderíamos confiar de agora em diante?

— Estaríamos todos mentindo? É isso que a ilustre investigadora está nos tentando dizer?

Jordana fitou a Dúvida de forma atenciosa, porém, considerou que não tinha valor algum responder que sim ou que não, posto que se encontravam num ambiente, supostamente, sem verdade.

— Estamos diante de uma questão Machadiana? Capitu traiu Bentinho? Questionou a Ignorância, imitando a Dúvida, se fingindo de culta e alçando a ares de Certeza.

— Como eu disse, uma questão de linguagem — argumentou Nietzsche.

— Ora, a linguagem é apenas uma ferramenta, ironizou Sócrates. Só a mente pode elucidar essa polêmica.

Kant preferiu não opinar. Também inferia que não adiantaria muito firmar opinião, naquele ambiente de incertezas. No entanto, entendia que a conversa apenas reforçava seu pensamento de que, sem a Verdade, o que restava era caos e confusão.

. . .

Perto dali, sem conhecer o acalourado debate instaurado pela sua ausência, a Verdade mirava-se em um lago calmo, que lhe servia de espelho. Porém, seu reflexo invertido não era ela mesma e sim, sua opositora, a Falsidade, popularmente apelidada de Mentira.

Imaginava se, em outro multiverso, seria possível se desvencilhar dessa perspectiva tão binária e limitante. Afinal, esse universo de testes em que se encontram os humanos, não poderia ser o mesmo se não houvesse o Falso, ou a Mentira. Ainda que quase sempre se ouça a afirmativa de que tudo que se quer no mundo é que a Verdade prevaleça.

Sim, fora violentamente roubada e esse crime acontece todos os dias, seja no âmbito da linguagem, da mente ou dos redutos do pensamento e da realidade. Jamais teve um segundo sequer de paz.

Seu reflexo, a Falsidade, limitava-se a negá-la, gesto a gesto, quadro a quadro, com a ventura feliz de quem apenas cumpre um destino, sem questioná-lo.

. . .

Jordana entendeu que se tornava importante e urgente resolver logo aquele caso. Ainda que, até agora, as pistas e as evidências que pode coletar apontassem para um caminho obscuro. Com o olhar, comandou a Tasso que se distanciassem do grupo para trocarem impressões.

— Jordana, só eu estou achando que caímos numa armadilha filosófica, ou você também pensa assim?

— De fato, não vejo como prosseguirmos sem considerar que estamos num labirinto.

— Que bela metáfora! Jamais teria pensado nisso! E como se saímos desse um labirinto?

— Com o fio de Ariadne.

— Fio de Ariadne? Que fio é esse?

— Quando Teseu enfrentou o labirinto do Minotauro, levou a sua espada mágica e um novelo de lã, dado pela sua amada, Ariadne. E foi graças a esse fio que conseguiu vencer o monstro e encontrar novamente a saída do labirinto, no qual tantos haviam sido devorados ou se perderam.

— E qual seria, então, o nosso “fio de Ariadne”?

— Primeiramente, distanciemo-nos do caos e da confusão, das metáforas de linguagem e até mesmo das vaidades da mente humana. Precisamos ver o labirinto do alto, isto é, termos uma percepção mais ampla do contexto desse crime.

— Entendi.  Carece de perguntarmos, a quem interessaria esse caos, que se segue à ausência da Verdade, não é mesmo?

— Sim, com certeza! Quer dizer, sim, com certeza ou não, dadas as nossas condições atuais. Quem lucraria com a ausência da Verdade?

— A julgar pelo cenário atual do mundo, sempre os poderosos.

— Isso. A não verdade amplia o caos, mascara a realidade e a deturpa.

— Algo do tipo: “A terra é plana”, ou “vacina não é eficaz e tem chip”.

— Isso.  A mente das massas é muito susceptível a toda essa propaganda que o Algorítmo trouxe para o nosso meio.  As redes sociais, muito eficientes para infiltrar informações falsas ou, ao menos, duvidosas.

— Dessa forma, a Ignorância, a Dúvida e a Opinião acabam prevalecendo sobre a Certeza.

— E os grandes mestres, poderiam nos salvar?

— Nem sempre.  Considerando que seu pensamento iluminador e sua influência só chegam às mentes quando se busca informação e conhecimento. Pelo visto, a mente da massa encontra-se cada dia mais desconectada – o que por si só – já é uma fala paradoxal, pois quanto mais conectada às redes, mais a mente da massa se desconecta da realidade.

— Então, o que fazer?

— Primeiro, assumimos que é impossível existir a nossa realidade sem a Verdade.

— Então o roubo da Verdade simplesmente não existiu?

— Claro que existiu e existe. Em verdade ele acontece a cada instante.

— E como, então, a Verdade pode continuar existindo?

— Digamos que podemos usar um outro mito, para ilustrar esse fenômeno.

— Qual?

— O da Hidra de Lerna.

— Entendi. Da mesma forma que a Hidra, ao ter uma cabeça cortada, se regenerava e no lugar de uma nasciam duas cabeças, a Verdade, também, se regenera e prospera.

— Fato!

. . .

De volta ao grupo, Jordana anunciou que o caso estava solucionado.

— Como pode ter solucionado esse caso tão rápido, se acabou de tomar conhecimento dele? — indagou a Dúvida.

— Aposto que é pura presunção — afirmou a Ignorância.

— Calem-se e ouçam! Imperou a Certeza.

Jordana, então, concluiu:

Embora tentem extingui-la, a Verdade impera na ordem que sustenta esse mundo. Não podemos existir sem ela. Por isso, ainda que seja deturpada, aniquilada, roubada, repetidas vezes, sempre ressurge.

— Isso não seria apenas uma mentira na qual você quer acreditar? — Indagou a Dúvida.

— A Mentira, ou a Falsidade, é apenas a contraprova da Verdade. Seu reflexo inverso e, da mesma forma, não existe sozinha.

— Afinal, houve ou não um roubo?

— Sim. Fomos roubados do nosso precioso tempo.

Sobre Fabio Baptista

17 comentários em “Verdade Roubada (Cronos)

  1. Mauro Dillmann
    14 de maio de 2024

    Conto bem escrito.

    Já no início usa de distintas palavras e expressões, mostrando erudição.

    Na sequência, a referência a nome de filósofos para nomear personagens e toda o enredo construído, acaba por confirmar a impressão inicial.

    Entrentanto, considerando a proposta do conto, há sentido.

    É um texto que exige do leitor pelos sentidos conotativos e denotativos.

    Pensando na estrutura do conto, onde estaria o ápice? Não captei.

    Talvez o conto contribua para construir experiências sobre o que vivemos no Brasil contemporâneo em termos de verdades e falsidades. Talvez. Não estou dizendo que tem ou deveria ter essa preocupação. Na verdade, o enredo relativiza bastante.

    O roubo (tema do desafio) seria do tempo. Logo, amparado na filosofia, o leitor é conduzido a perceber a inutilidade do debate.

    O final é bom, mas passa certa lição. O texto encerra o assunto, dando pouco espaço para o leitor.

    Parabéns !

  2. Jorge Santos
    13 de maio de 2024

    Olá, Cronos, senhor do tempo. Ainda não tenho a certeza da verdade da última frase do seu texto. Percebi a intenção. O discurso filosófico de quem percebe do assunto. A busca incessante da Verdade (nota, reparei que no início não tem maiúscula, o que é um erro grave num texto como o seu), num tempo em que parece dominado pela Falsidade. Existe uma série que adorei que pega na mesma temática, Sandman, baseada num livro de Banda Desenhada (como se diz aqui em Portugal), escrita pelo génio Neil Gaiman. Nesta série, existe a personificação do Sono, da Morte, da Inveja, … etc. Se não viu e gostar de sensações fortes, não perca. Existe um episódio onde as pessoas agem de forma “verdadeira”, conforme as suas naturezas – e, escusado será dizer, a coisa corre bastante mal, porque as pessoas não conseguem lidar com a verdade absoluta. Lembrei-me disto ao ler o seu texto, que só peca por ser excessivamente ambicioso. Poderia ter simplificado, reduzindo os intervenientes e investindo no momento em que a verdade se vê ao espelho. A ideia base é interessante, mas o leitor perde-se pelo caminho, ficando a pensar que o autor se deu conta da emaranhado do texto e que a última frase (aquela que realmente mostra a adequação ao tema) surge como um desabafo.

  3. Queli
    11 de maio de 2024

    Tema ok. Texto super bem redigido, claro, fluido e envolvente. Quando vi, acabou…. E deixou aquela vontade de ler mais.

    A história é muito boa, bem bolada, é fácil de compreender, apesar da profundidade filosófica e mitológica. Quase um conto de fadas ou fábula. Adorei a conclusão também.

    Muito bom! Parabéns e boa sorte!

  4. Cícero Robson
    5 de maio de 2024

    A linguagem fluida, até de fácil compreensão, aliada a uma narrativa que combina mitologia e filosofia, fazem do conto um exercício de reflexão sobre a nossa realidade. Nele estão tanto os dilemas do mundo contemporâneo, tais como informação/desinformação, bem como a eterna interrogação que perpassa os tempos históricos: como encontrar a verdade e evitar a mentira?

    Um conto bem escrito e criativo, que nos convida a uma leitura crítica da realidade que nos circunda.

    Gostei muito.

  5. Antonio Stegues Batista
    4 de maio de 2024

    Conto bem escrito, tem lá sua arte literária. está bem escrito, mistura conceitos filosóficos com personagens históricos, míticos, abstratos. um pouco de humor. Uma alegoria, uma metáfora, loção moral, não sei e ela mesma se auto analisa ” É óbvio que ao criarem conceitos a partir de metáforas, os homens acabam criando a ilusão de uma joia multifacetada e brilhante que, no entanto, é só motivo de engano e perdição”.

  6. Regina Ruth Rincon Caires
    4 de maio de 2024

    Sempre que leio um texto filosófico, leio com muita atenção. Mas é preciso entender que o teor filosófico requer estudo, é um conteúdo complexo.

    E, lendo este texto, veio a lembrança de um debate em que, questionado sobre não compreender o que ele dizia, José Geraldo (professor da UNB) respondeu: “Não tenho como discutir com visão de mundo de outra pessoa, sua percepção só lhe permite enxergar o que ela já tem escrito na sua cognição”. E, isso, neste conto, vale para mim. Eu não tenho conhecimento para assimilar a profundidade das questões exploradas no conto. Eu precisaria estudar muito para chegar ao patamar de quem escreve um texto como este. Eu consigo ler como se fosse uma fábula, mas de maneira rasa. E, com certeza, existe um universo de ideias a ser entendido nas entrelinhas.

    Posso dizer que a escrita é competente, a construção é brilhante, o autor tem técnica apurada. Deve ser um veterano na arte de escrever.

    Cronos, parabéns pelo trabalho!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

  7. Gustavo Araujo
    3 de maio de 2024

    Em linhas gerais, quer-se descobrir o que aconteceu com a Verdade. Nesse caminho surgem a Dúvida, a Opinião, a Certeza e a Mentira, entre outras entidades, cujos nomes coincidem com suas ações, além de filósofos como Sócrates, Kant e Nietzsche. Apenas a detetive Jordana e seu secretário Tasso aparecem como pessoas reais, permitindo, assim, a identificação do leitor.

    Não vejo exatamente um conto aqui, mas uma espécie de fábula, uma parábola talvez, com direito inclusive a moral da história. Não é algo que me agrada, devo dizer, ainda que esteja muito bem escrito. Sim, da parte técnica não há o que reclamar: as palavras são bem empregadas e o texto revela-se inteligente. O problema, a meu ver, é que não gera empatia, assemelhando-se mais a uma lição de vida. Claro que não há nada de mal nisso e é perfeitamente possível que muitos leitores apreciem essa viagem metafórica nesse mundo onde conceitos filosóficos ganham vida. No entanto, falando por mim, prefiro algo mais dramático, algo que permita uma experiência mais autêntica, permeada por emoções diversas e quem sabe inesperadas – o que não ocorre aqui.

    Penso que este é um daqueles textos que poderiam figurar perfeitamente em livros didáticos do ensino médio, eis que convida a pensar e a refletir sobre o significado do que nos permeia, além de trazer a lume provocações existenciais. Não é, porém, uma trama que envolva o leitor, que provoque emoções catárticas, que traga suspense, que provoque risos ou lágrimas – a meu ver, pelo menos. E no fim, é isso que conta para este leitor em específico.

    De qualquer maneira, não posso deixar de agradecer o autor pelo trabalho e pelo empenho em disponibilizá-lo neste espaço. Gostemos ou não, é evidente que nos obriga a refletir sobre o que é verdade e o que é falta de tempo.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  8. Amanda Gomez
    3 de maio de 2024

    Oláá, Bem?

    Gosto de contos assim, com esses pareceres filosóficos, diálogos inteligentes. Um “Q” de fábula. “Cutuca’’ a mente.

    Temos aqui a investigação sobre um roubo, a verdade sumiu… quando a verdade some o que resta? ela precisa mesmo estar sempre integrada em tudo para que as coisas sejam como são? A inquietude dos outros sentimentos com sua ausência demonstra que sim, tudo ficou suspeito depois dela sumir, mesmo que necessariamente ela nunca fosse presença cativa quando os cercava.

    Quem deu falta da verdade primeiro?

    O mais legal é a dúvida de que ela sequer existiu.

    A descrição dos outros…’’sentimentos’’ ? É muito legal, cada um dentro da sua razão, as características físicas moldam muito bem para a imaginação do leitor.

    No decorrer das discussões vemos a verdade olhando a si e não se reconhecendo, vivendo uma crise existencial. Qual sentimento psicólogo poderia ajudar nisso?

    E então o texto dá um levíssimo tropeço. É mais ou menos o que observei em outro conto, do nada estamos assistindo o desenrolar dos acontecimento e de repente as luzes apontam para o astro principal: O autor(a) e sua opinião que ninguém pediu. rs

    Voltando… O conto seria perfeito se não tivesse uma solução, ou se fosse entendido que a verdade nunca existiu.

    Pq uma coisa que se sabe, e que de nada sabemos. Ao mesmo tempo que o certo e o errado a maioria das vezes são tão evidentes.

    Na VERDADE, retifico, acho que o final foi satisfatório, é, pensando bem ficou ótimo assim!

    Qualquer discussão sobre opiniões divergentes, o saber mais do que saber nos levam a esse sentimento, que na verdade o roubo foi do nosso tempo. Que às vezes é melhor cada um ficar com sua verdade e ir pra casa feliz, mesmo que isso não resolva nada.

    Parabéns pelo conto. Pela escrita impecável, pela imaginação e conhecimento filosófico invejável.

  9. Thales Soares
    3 de maio de 2024

    Poxa, fiz cagada e perdi o comentário que eu estava fazendo a respeito deste conto (meu notebook acabou a bateria e desligou)… enfim, vou ter que refazer.

    O que eu estava dizendo em meu comentário anterior é que antes de iniciar a leitura deste conto, eu primeiro dei uma rápida passada nos comentários. Li meio por cima, para não pegar tanto spoiler, e vi a galera reclamando da história e dando notas baixas para este conto. Então, me prontifiquei e já fui escolhendo um pedra bem pontuda para atirar neste conto, antes mesmo de ler. No entanto, conforme eu ia avançando na leitura, a dúvida que mais me intrigava era “Quando será que essa história vai começar a ficar chata?”. Pois então… li inteirinho, do início ao fim, e tive que largar minha pedra no chão, pois eu adorei! Não entendo o que desagradou meu colegas, mas vou falar por mim, e pelo meu gosto pessoal.

    Primeiramente, vamos falar sobre a imagem de capa. O pseudônimo deste conto é Cronos, e sem querer li Cornos. Assim pensei “Poxa, mais uma história em que todo mundo é corno?”. Ainda mais com uns velhinhos ao fundo, imaginei que cada um deles seria chifrado, e que a mocinha do centro era amante de possível esposa de todos. Mas quando comecei a ler, compreendi que o conto não tinha nada a ver com isso, e que eu apenas tinha lido errado o pseudônimo! No entanto… não entendi porque a capa mostra tantos velhinhos! Havia muitas mulheres no palco da discussão, e poucos eram os sábios que estavam ali. Mas de qualquer forma, devo admitir que esta é a imagem de capa mais bonita do desafio, por mais que tenha sido feita por uma IA. Essa possibilidade de criar imagens por IA só deixa as capas dos contos dos desafios ainda mais divertida!

    Agora acho que vou utilizar meu procedimento padrão para continuar este comentário, para que minhas ideias não fiquem tão confusas e jogadas de forma aleatória. Então vou separar tudo aqui nas sessões: Escrita, Tema, Enredo, Conclusão:

    Escrita:

    Este conto, assim como um outro deste desafio, que é do maguinho que some com o sol, possui MUITOS personagens. Isso não é algo necessariamente ruim, desde que o autor saiba trabalhar com todos eles. E, para a sorte de todos aqui, esses dois contos conseguiram administrar os personagens muito bem, e todos ficaram perfeitamente encaixados. Por falar no conto do Sol, este conto há uma similaridade com ele, que é a questão da discussão entre a galera. Essa estratégia de condução de história eu acho muitíssimo interessante, e tantos diálogos assim, escritos com tanto esmero, dá um excelente ritmo para a história. Então, por mais que o assunto a ser discutido aqui você bem pesado, com muitas metáforas e um nível de discussão filosófico denso, eu achei bem lúdico e divertido a forma como tudo se desenrolou. Diferente de muitos contos que li neste desafio, este não me deixou nem um pouco cansado ao longo da leitura. Outra coisa que contribuiu para isso, é o fato de este conto ter um tamanho reduzido. Não sei quantas palavras foram utilizadas, mas dá pra ver que não foi usado nem a metade do limite. Se por acaso o autor tivesse utilizado as 3500 palavras, talvez eu me queixasse que ficou um pouco cansativo, devido ao assunto denso aqui tratado. Mas não foi o caso.

    Minha única reclamação em relação à escrita foi nos diálogos, onde algumas partes pareciam que faltava o travessão, para indicar que aquilo não era mais a fala do personagem. Teve outro momento também em que disseram que a Verdade foi roubada, e eu pensei que o termo “sequestrada” se encaixaria melhor… até demorei um pouco para compreender por que razão as palavras foram trocadas, já que há uma personificação da Verdade. Mas então me lembrei do tema do desafio, que é Roubo. Só que… em outro contexto, em que as pessoas não soubessem a temática da história, não sei como isso ficaria.

    De qualquer forma, quero ressaltar que todo o conto foi muito bem escrito! O autor conduziu tudo com muita inteligência, e dá pra notar que a lógica deste escritor é bem aguçada. Gostei bastante.

    Tema:

    O engraçado é que muitas coisas foram roubadas neste desafio. Dinheiro, carteira, beijos, pessoas, esperança, cadáveres, futuro, tempo, e até mesmo o próprio sol. Esses ladrões roubam de tudo mesmo, viu! E agora… roubaram a Verdade! O conto encontra-se totalmente dentro do tema, apesar daquele meu questionamento a respeito de que “Será que sequestro não seria a palavra mais apropriada?”. No entanto, se pensarmos na forma lúdica em que a Verdade pode ser representada, como se ela fosse uma coisa que pode ou não estar conectada a uma proposição, acredito que o termo roubo poderia estar bem empregado. Se eu disse uma proposição do tipo “O céu é azul”, e alguém roubar a verdade da minha afirmação, ela perderia sua credibilidade, e se tornaria uma “não verdade”, ou uma mentira. Então acho que é possível dizer que a Verdade foi roubada, e não sequestrada.

    Enredo:

    Os personagens aqui mostrados são todos incríveis, e gostei bastante da forma como cada um deles se comportou. De início, fiquei com medo! Quando começou a aparecer aqueles filósofos que eu nem sei direito o nome, achei que eu não teria bagagem o suficiente para apreciar esta história. No entanto, percebi que isso não era um requisito para a leitura, e já fiquei mais tranquilo. O que eu senti, ao ver a Dúvida, a Ignorância, a Opinião, e toda a galera reunida, foi um sentimento muito semelhante ao que eu tive quando li pela primeira vez a Estação das Brumas de Sandman (que inclusive vai ser adaptada agora na segunda temporada da série), onde os irmãos do Sandman são apresentados, tal qual a Morte, o Destino, a Loucura, o Desejo e o Desespero. Eu acho esse tipo de coisa MUITO legal, e essas personificações de conceitos sempre me deixa empolgado. Aqui não foi diferente. Cada personagem se comportou tão bem com o seu arquétipo que ficou convincente, e todos os diálogos foram bem produzidos.

    Outro momento da história que me encantou foi quando damos uma pausa na assembleia, e vemos a Verdade, num laguinho, olhando para seu reflexo invertido, que tem a forma da Mentida. Achei isso genial! Eu gosto, inclusive, dessa questão de Verdadeiro e Falso. Sou programador, e trabalho bastante com dados booleanos, true e false. Então ver isso representado de forma lúdica, para mim, foi bastante especial. Minha única reclamação, por parte da história, é que tudo acaba muito rápido! Eu gostaria de ver mais discussões fantasiosas entre os personagens que foram tão bem apresentados. Eu queria que a situação da ausência da Verdade no mundo fosse mais explorada, mostrando situações hipotéticas e desastrosas, mostrando as outras entidades confabulando planos para lidar com a situação. Gostaria de ter visto mais consequências sobre tudo isso. Mas… como se o autor estivesse já ficando cansado de usar o máximo de seu QI para proporcionar diálogos tão inteligentes e interessantes ao leitor, ele decidiu encerrar tudo de forma acelerada. Rapidamente caímos para um ponto em que a falta de verdade é diretamente aplicada ao nosso mundo real, fazendo um claro paralelo com a propagação de fakenews. Eu geralmente não gosto de críticas desse tipo em histórias, por ficarem muito panfletárias, mas confesso que aqui ficou absolutamente genial, e eu gostei bastante! Então, temos o desfecho, com base nessa discussão final a respeito das informações falsas propagadas no mundo atual, e que a Verdade, assim como uma hidra, possui várias cabeças (ok, desculpe, não consegui sintetizar com tanto esmero sua conclusão… mas eu confessor que AMEI a referência do fio de Ariadne e da Hidra de Lerna).

    E logo depois disso, a história é concluída com chave de ouro, apresentando conceitos inteligentes e divertidos para o leitor. A conclusão meio que foi “A verdade ainda está entre nós”, pois isso, de fato, é uma tautologia, já que é a regra que rege a nossa existência. Foi muito bom a forma como essa sacada surgiu.

    Ao meu ver, em momento nenhum a história ficou maçante… muito pelo contrário! Eu me senti bastante curioso e empolgado para ler tudo até o final! Confesso que meu cérebro só não acompanhou a última linha:

    “— Afinal, houve ou não um roubo?

    — Sim. Fomos roubados do nosso precioso tempo.”

    Como assim? Fomos roubados do nosso tempo? Ou seria o precioso tempo deles é que foi roubado? Fiquei confuso nessa parte, e não entendi exatamente o que o autor quis dizer.

    Aliás, uma última coisa que eu gostaria de acrescentar, é que seria legal também se tivéssemos um culpado pelo sumiço da Verdade. Digo, sei que foram os próprios humanos que fizeram essa cagada… mas seria interessante se fosse devido à manipulação de terceiros, que se beneficiariam com isso. Inclusive, eu até achei que a história seguiria por essa linha, quando começamos a perceber que, com a ausência da Verdade, a Ignorância e a Opinião se beneficiariam disso! A Certeza, por sua vez, se daria mal. Gostaria de ter visto um pouco mais de profundidade nos personagens. Eu não vi tanta preocupação na Certeza, ela estava lá só discutindo igual todo mundo, sem perceber que ela era a mais impactada com todo esse caos. Por isso, novamente reitero, que as Consequências de todo esse causo poderiam ser mais exploradas.

    Mas no geral, eu adorei esse conto!

    Conclusão:

    PONTOS POSITIVOS:

    -Vários personagens, e todos muito bem apresentados e utilizados.

    -Desenvolvimento de uma linha narrativa balizada por meio de diálogos, que tornam o texto e a discussão muito interessante.

    -Elementos filosóficos e cultos extremamente divertidos utilizados para enriquecer e dar profundidade à história, tais quais o fio de Ariadne e a Hidra.

    -Uso da verdade e da sua inversão, a não verdade.

    PONTOS NEGATIVOS:

    -Eu gostaria que a discussão se estendesse um pouco mais, principalmente na ótima mais fantasiosa de tudo isso, dando um ar ainda maior de Fábula para esse conto.

    -A imagem de capa é LINDA, mas só tem véio (que eu inicialmente pensei que eram todos cornos). Cadê as personificações da Ignorância, Dúvida, Opinião, e demais personagens?

    -Falta de exploração das consequências e impactos da ausência da verdade no mundo.

  10. Angelo Rodrigues
    2 de maio de 2024

    Olá, Cronos.

    Comentários:

    Há no conto uma caracterização facial de substantivos, com uma certa humanização caricata: certeza, opinião, ignorância, dúvida etc. Coitadas. Todos os substantivos são femininos, e ganharam caras de mulheres.

    Há, no meio do discurso narrativo, o surgimento de Nietzsche, que, do nada, surge como regulador da Verdade. Sócrates discorda. E assim vai.

    Esquecemos, no decorrer da leitura, que o texto pretende ser uma fábula metafórica acerca das razões – ou desrazões – humanas, onde tudo, como num vórtex tempo-espacial, cabe a presença histórica de opiniões diversas.

    O autor admitiu no texto passear pelos conceitos históricos acerca da Verdade, fazendo um jogo de ideias entre muitos figurões da filosofia.

    Está no jogo que assim seja.

    Entretanto, esse jogo de conceitos, basicamente exige que o leitor esteja afiado com valores que podem estar distantes do seu conhecimento. O texto cobra um acompanhamento conceitual que não pode ser obtido com facilidade, quase obrigando a que o conto-fábula-metáfora seja algo de nicho bastante específico, de difícil aceitação como leitura prazerosa, com o bom perfume das aulas de filosofia antiga – ou nem tanto.

    Em determinado ponto, o autor passeia também por questões morais, num jogo de certo e errado, do dito e do que não se deveria dizer etc. Não imagino que isso instigue no leitor um acompanhamento que não seja decorrente de uma visão política do autor. Visão esta, boa ou ruim, pode ocasionalmente estar distante do que pensa o leitor, o que faz com que o conto assuma um caráter personalíssimo à compreensão do autor, quase afim com um desejo didático de compreensão do seu ponto de vista – do autor. Não sei se isso é bom para estar num conto, que, creio, acima de tudo, deve ter o dom de encantar – de alguma forma – aquele que o lê.

    Digressão: toda vez que leio algo que fale acerca do Labirinto do Minotauro – como está no texto -, não consigo deixar de lembrar de uma crônica do Luis Fernando Veríssimo chamada O Zelador do Labirinto, que, para mim, é uma espécie de prova contraintuitiva de muitas coisas, onde mostra que até mesmo as Certezas/Verdades/Esperanças podem ser absolutamente voláteis.

    Recomendo a leitura a quem o encontrar. É curtinho.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  11. Luis Guilherme Banzi Florido
    1 de maio de 2024

    Olá, Cronos! Tudo bem?Eu estava seguindo um padrão bem organizadinho de comentários, que eu copiava e colava usando a mesma estrutura pra todos. Infelizmente, agora estou voltando pro Brasil e no avião preciso usar o cel, de modo que todo meu padrão foi pro beleléu. Desculpe. Ainda assim, vou comentar com o mesmo empenho e usando os mesmos parâmetros e seriedade. Vamos lá!

    Primeiramente, você tem um conhecimento filosófico admirável, li seu texto impressionado com as figuras de linguagem, metáforas, referências e inserções de conceitos filosóficos complexos em forma de personagens, caracterizando-os de forma admirável e explicando os conceitos propostos por meio dos comportamentos, falas e reações de cara um. Esse sem dúvida foi o ponto alto do conto, e o aspecto que mais me agradou: a construção de personagens. Ah, as descrições físicas deles também foram uma ótima sacada! Parabéns!

    Sobre a técnica, está realmente excelente. você escreve muito bem e claramente é um escritor experiente, que domina a escrita e a usa a seu favor. As únicas ressalvas que faço aqui são alguns trechos com excesso de vírgulas, além de algum exagero no uso de palavras rebuscadas, quando palavras mais simples causariam o mesmo impacto. Nenhum desses dois aspectos incomodou nem atrapalhou a leitura, mas acredito que seja válido mencionar como parte da construção do meu comentário.

    Agora, infelizmente, preciso falar do que não me agradou tanto, que é o enredo e o fio condutor da história. Seu conto me pareceu muito mais um estudo filosófico (excelentemente escrito), algo que seria perfeito numa aula de mestrado de filosofia (eu tive aula de filosofia no mestrado no semestre passado, meu professor amaria esse texto!), mas que não pareceu funcionar bem enquanto entretenimento. Me parece um excelente ensaio metafórico para explicar conceitos filosóficos complexos, o que não é de modo algum um defeito. O problema é que não me causou impacto e não me entreteve muito, e a leitura acabou ficando cansativa e chata em alguns momentos. Para ser justo, a reta final é mais cativante e me pegou mais, mas ainda assim o resultado final me deixou com aquele gostinho de que faltou algo, sabe?Em outras palavras, enquanto estudo filosófico, metáfora, qualidade de escrita, é um excelente conto. Mas comigo, acabou falhando no que parece ser o objetivo principal de uma história curta, que é cativar, prender a atenção e entreter.

    Construção de personagens: 10,0

    Técnica: 9,0

    Enredo: 4,5

    Ritmo: 6,5

    Desfecho: 7,0

    Nota final: 7,4

    Parabéns e boa sorte!

  12. Kelly Hatanaka
    1 de maio de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Conto dentro do tema. Jordana é chamada para resolver o roubo da Verdade.

    Escrita
    Muito boa, correta.

    Enredo
    Jordana é chamada ao Pantheon para desvendar o roubo da Verdade. Segue-se uma conversa entre os outros “deuses”: Certeza, Dúvida, Opinião, etc. Jordana conclui que a Verdade faz parte do mundo e não pode ser roubada.
    Os personagens são descritos de forma a encaixar com a ideia que temos a seu respeito. O conto tem cara de fábula e, nestes casos, é difícil fugir do tom didático.

    Impacto
    O texto não me impactou, pois não há uma história. O enredo serve como base para o autor discorrer a respeito da verdade.

  13. Givago Thimoti
    29 de abril de 2024

    VERDADE ROUBADA (CRONOS)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Avaliação + Impressões iniciais

    Resumidamente, Verdade Roubada me lembrou muito “O Mundo de Sofia”, do Jorstein Gardner. Uma personagem que vai descobrindo a filosofia por meio da interação com alguns filósofos e vai conhecendo o universo ao seu redor. Por isso, olhei inicialmente para esse conto como quem lê uma fábula infantil. Mas não é infantil, é filosófica. E penso que é por aí que eu vou escrever minha avaliação.

    HISTÓRIA (1/3)

    Verdade Roubada conta a história de Jordana e Tasso, ao estilo de Sherlock Holmes e Dr. Watson, que são chamados para investigar o sumiço da Verdade, uma entidade das várias entidades presentes no universo filosófico desse conto, como a Dúvida, a Certeza.

    Pois bem, após uma breve investigação filosófica, Jordana e Tasso concluem que a Verdade não foi roubada, ela é uma espécie de pedra-base que sustenta o mundo.

    Aqui surge, na minha opinião, o primeiro grande problema desse conto. Dentro do que é esse conto (evitando cair numa celeuma filosófica impossível de responder rs), o que é a Verdade? Pergunto por que ora ela é tratada como uma coisa, que pode ser roubada, ora ela é uma Entidade, que estava tirando férias a la Narciso, mirando-se no seu reflexo do espelho d’a água. E isso mexe, na minha opinião, com a própria adequação ao tema, porque entidades, pessoas não são roubadas como um objeto, uma coisa (muito embora exista a figura do sequestro, que é roubar a liberdade da pessoa). E aí, ao final, o que é esse roubo?

    Um outro grande problema nesse conto está na falta de um desenvolvimento da história. Ou, melhor dizendo, um cuidado maior com o desenvolvimento da história. Digo isso porque percebi uma enorme preocupação do escritor/da escritora em fazer referências, coisa que irei comentar mais no próximo item. Mas, de história em si, não teve tanto desenvolvimento. O que motiva a Verdade se refugiar, por exemplo? O que move Jordana e Tasso?

    TÉCNICA (1/3)

    Aqui vem a grande crítica: muitas referências filosóficas, pouca literatura! Sócrates, Nietzche, Kant, Hidra de Lerma, Narciso… Especialmente as referências aos filósofos, a sensação que tive foi a que li uma resenha crítica de faculdade, uma redação do ENEM que você precisa ter argumentos de autoridades para dar solidez à sua mensagem, o que não é o caso. São vários retalhos diferentes. Era um conto, uma fábula. Ao final, senti uma grande falta do lúdico, do que faz a literatura ser literatura. A poesia, o lirismo, a metáfora… Faltou e muito.

    A linguagem é culta, formal. O argumento é racional. Faz sentido. Trata-se de uma investigação. Tem de ser frio! Mas, chegamos ao final (embora no meio, já percebemos), não há crime algum. Apenas roubo do tempo (o que aqui já me pareceu uma forçação para falar “temos um roubo!”. E o sentido? Todo aquele racional por trás da investigação se esvai por ser desnecessário.

    Enfim, a frieza do conto, da técnica, congelou por completo.

    No mais, sobre erros gramaticais e coisas do gênero, não vi nenhum digno de nota. Talvez uma vírgula ali, outra acolá.

    TEMA (0,75/1)

    Como citei na parte da história, como eu não consegui delimitar direitinho o tempo, eu senti uma menor adequação ao tema escolhido pelo autor/pela autora. Então, 0,75

    IMPACTO (1/2)

    O impacto foi baixo em mim em níveis de literatura, de expectativa de ler algo “uaaau”, arrebatador. Mas literatura não é só se arrebatar, também é pensar, também é refletir. E acho que seu conto, por mais que eu discorde da execução (Alguém aí tá pronto para vir bater boca comigo), me fez pensar. E, dentro da filosofia, provocar os,pensamentos da pessoa é um grande passo, é um passo importantíssimo.

    ORIGINALIDADE (0,25/1)

    Originalidade… Como eu disse anteriormente, olhei para o conto e logo lembrei de “O Mundo de Sofia”, de Jorstein Gardner. Eu sei que é uma covardia comparar, mas eu precisei fazer: por que em “O Mundo de Sofia” funciona a filosofia e os ensinamentos expressos dos filósofos funcionam, por assim dizer, e aqui em “Verdade Roubada” não?

    Porque um é um livro, enorme, no qual o autor junta bem os ensinamentos dos filósofos com o lirismo, enquanto no conto não. Pouco lirismo, muitas referências filosóficas.

     Ao final, na minha opinião, a originalidade do conto é extremamente prejudicada por essas referências.

    Nota: 4

    Trecho interessante: Perto dali, sem conhecer o acalourado debate instaurado pela sua ausência, a Verdade mirava-se em um lago calmo, que lhe servia de espelho. Porém, seu reflexo invertido não era ela mesma e sim, sua opositora, a Falsidade, popularmente apelidada de Mentira.

    Imaginava se, em outro multiverso, seria possível se desvencilhar dessa perspectiva tão binária e limitante. Afinal, esse universo de testes em que se encontram os humanos, não poderia ser o mesmo se não houvesse o Falso, ou a Mentira. Ainda que quase sempre se ouça a afirmativa de que tudo que se quer no mundo é que a Verdade prevaleça.

  14. Vladimir Ferrari
    29 de abril de 2024

    Na MINHA OPINIÃO, trata-se de uma crônica adaptda ao tema do desafio, discorrendo sobre o conhecimento apurado de filosofia do autor. É válido? Deve ser, pois atendeu ao tema proposto. O fluxo narrativo é prudente e a estória é bem conduzida.
    No entanto, o texto está NA MINHA OPINIÃO, com vírgulas demais em alguns trechos e uma das frases ficou estranha na MINHA avaliação: “que poderiam denotar ter havido o emprego de violência”.
    No mais, o enredo flerta com a crônica e claramente reflete uma crítica aos tempos atuais, onde cada um aceita a verdade conforme lhe convém, sem nem mesmo apurar se há sustentação dos fatos, por pura preguiça de interpretar e variar as fontes de informação.
    Apesar da minha opinião sobre parecer-se com uma crônica, atendeu ao tema e contou uma estória. Sucesso ao autor.

  15. Marco
    29 de abril de 2024

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    —————————————–

    Avaliação

    O conto tem essa pegada contemporanea, com criticas aos tempos atuais disfarcadas de ficcao. Aqui, porem, o disfarce eh quase inexiste, ja que o autor decidiu ser literal ate mesmo nos nomes dos personagens.
    Achei a mensagem do conto valida, e ate um tanto pertinente para os tempos de hoje, mas conto assim sempre soa mais como um discurso do que como uma historia. Eh como se fosse uma coluna de jornal, mas o jornalista decidiu exercitar um pouco do seu musculo da ficcao e escreveu um artigo em forma de conto ou fantasia, mas na realidade eh apenas um discurso sobre os perigos da falsa informacao, etc.

    TÉCNICA ●◑◌ (1.5/3)
    O conto eh bem escrito. Gostei especialmente de como cada um dos personagens age da maneira esperada para o seu nome. A duvida sempre fala em perguntas, e a certeza sempre fala em afirmacoes contundentes. Porem, parte da tecnica tambem eh transmitir a historia de maneira atraente e interessante, e nao sei se foi o caso aqui.

    HISTÓRIA ●◌◌ (1/3)
    Ha uma certa sugestao de historia, mas o texto esta mais para um artigo criado para gerar reflexoes no leitor, do que um conto propriamente dito.

    TEMA ●● (2/2)
    O conto encaixa-se perfeitamente no tema “Roubo”.

    IMPACTO ◌ (0/1)
    Sinceramente, nao sou o publico-alvo deste tipo de texto, e mesmo que eu tente le-lo de forma imparcial, a verdade eh que este tipo de texto raramente me impacta.

    ORIGINALIDADE ● (1/1)
    Tenho que admitir que a imaginacao do autor brilhou no texto. Fazer a verdade ser roubada e outros conceitos e mestres do passado discutirem o seu sequestro foi bem original.

    Trecho inspirado

    “— Algo do tipo: “A terra é plana”, ou “vacina não é eficaz e tem chip”.

    — Isso. A mente das massas é muito susceptível a toda essa propaganda que o Algorítmo trouxe para o nosso meio. As redes sociais, muito eficientes para infiltrar informações falsas ou, ao menos, duvidosas.

    — Dessa forma, a Ignorância, a Dúvida e a Opinião acabam prevalecendo sobre a Certeza.

    — E os grandes mestres, poderiam nos salvar?

    — Nem sempre. Considerando que seu pensamento iluminador e sua influência só chegam às mentes quando se busca informação e conhecimento.”

    Este trecho para mim eh o coracao do conto, a mensagem que o autor queria passar. Tanto eh que este eh o unico trecho que o coloca em um ponto no tempo, citando terraplanismo e negacionismo de vacinas. Eh quase como uma quebra da quarta parede.

  16. Thiago Amaral
    29 de abril de 2024

    Oi Cronos, tudo bem?

    Gostei do seu conto. Filosofia é o meu ponto fraco, e já de início achei um tema interessante, numa metáfora bastante pertinente aos nossos tempos.

    Achei divertidas as representações físicas dos conceitos de Dúvida, Ignorância, etc. Descrever a Verdade também poderia trazer reflexões interessantes. Só achei que a coitada da Ignorância foi meio mal-tratada. Ela não tem culpa de ser cega, poxa!

    Outra coisa que curti foram as referências às filosofias de Nietszche, Sócrates, etc. Até onde pude ver, estão de acordo com o que foi dito pelos caras na vida real.

    Meu único grande problema com o texto foi que ele desvia da metáfora e cai rapidamente num discurso opinativo sobre nossos tempos. Eu teria achado mais interessante se tudo tivesse sido explorado ainda no âmbito literário, fantástico. Acabou destoando para um ensaio, explicitando a mensagem (caso alguém não tivesse entendido ainda). Acho que teria ficado melhor se você tivesse mantido a criatividade e poeticidade na hora de passar a moral, também.

    Outra coisa, essa mínima, que estranhei foi a Jordana perguntar de quem a Verdade foi roubada. Por que ela perguntaria isso? Eles não são seres antropomórficos, vivendo no Panteão? Pareceu uma desculpa no roteiro pros filósofos filosofarem hahahah Podemos dar uma licença poética por ser tudo metafórico, mas acho que dava pra conduzir um pouco melhor o diálogo para chegar onde deveria.

    É isso! Obrigado pelo conto, até a próxima.

    • Thiago Amaral
      29 de abril de 2024

      Eu estava aqui contando pra minha esposa sobre o conto, e acabei me esclarecendo sobre o último ponto do meu comentário anterior.

      Eu esqueci que o conto fazia parte do tema “roubo” hahahaha E faz mais sentido a pergunta quando sabemos que Jordana está investigando um roubo, ou seja, a subtração dde um objeto que pertence a alguém.

      O que aconteceu comigo, e que poderia acontecer a alguém que lesse o conto fora do contexto do desafio, é acreditar que se trata de um desaparecimento ou sequestro. Afinal, a situação do conto nos leva a crer que a Verdade é um ser antropomorfizado. E de fato é, como se revela depois.

      Portanto, acho que a lição aqui não seria que a pergunta serve de pretexto no roteiro pros filósofos filosofarem, como eu disse acima, mas que o texto não esclareceu o crime e deixou a pergunta meio estranha e jogada. Pelo menos foi assim que me aconteceu, já que esqueci o contexto do conto. Algo a se considerar.

      De qualquer forma, agradeço novamente pelo conto e até mais!

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Informação

Publicado em 28 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.

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