Naquele ponto, bastou-lhe um escorregão. Uma casca de banana deixada à toa no caminho do trabalho e ali estava ele, a epítome do patético: o homem no auge da evolução, trajando sua roupa de sucesso, caído desarticulado como uma marionete privada de suas cordas, exposto publicamente ao ridículo de sua condição de bípede caído.
Já passara por todas as agruras e prazeres que a vida podia lhe oferecer, concluindo que a pouca satisfação das delícias não compensava o muito dano das dores. O mundo, concluíra, não valia o esforço de habitá-lo, mas, na falta de outra alternativa, precisava seguir em frente.
Até que seguiu para baixo. Entre o pé na casca da fruta e a cara esborrachada no chão, seu destino se fez claro. Não conseguir se equilibrar sobre suas patas era a humilhação derradeira.
Precisava deixar o planeta.
Recompôs-se e seguiu em passos firmes tentando conciliar o óbvio de sua constatação com o óbvio de sua impossibilidade. Morrer seria submeter-se ao escárnio final da desistência, estava fora de questão. Isolar-se em lugar ermo tampouco seria escapatória — o mundo é mundo em qualquer lugar do mundo, e os ecos da humanidade ressoam em todos eles.
Precisava, então, criar um novo planeta.
E assim o fez. Se não era possível sair do chão, faria do chão embaixo de si seu próprio mundo. Ao avistar um enorme terreno baldio no caminho, dirigiu-se até o centro do lugar, sentou-se e decretou que de lá não arredaria mais pé. A terra embaixo de si seria seu novo planeta. Não pensou em como supriria suas necessidades, a maior de todas já estava suprida. Escapara. Renascera. Era senhor do seu universo. Sua nova vida começava ali.
***
Com o tempo, aquela figura despertou atenção. Sujeito bem apessoado, saudável, vestindo terno e gravata, parado no meio do nada. O terreno há muito estava ali, sequer sabiam a quem pertencia, há anos acumulava lixo e capim. Os vizinhos, intrigados, se aproximaram, fazendo perguntas, oferecendo ajuda. O homem se mantinha impassível, olhar fixo no vazio, não dizia palavra. Alguns até o sacudiram tentando lhe trazer de volta à realidade, sem sucesso. O homem era insensível a qualquer estímulo.
Os mais caridosos lhe deixavam comida. Ele não agradecia, mas aceitava, com uma curiosa exceção com as bananas, sempre as arremessando longe. Os mais cruéis o provocavam, zombavam, o fustigavam com empurrões e objetos arremessados. Mas, diante sua indiferença, as agressões rapidamente perderam a graça.
Não demorou para sua fama se expandir. A história se espalhou pelas redes sociais, ganhou matéria na televisão e logo curiosos aparecerem de toda parte para vê-lo, tirar selfies com ele — que não posava, mas tampouco reagia –, dar-lhe presentes e questionar se algo de maior havia em sua obstinação. Nunca conseguiam extrair-lhe uma palavra, o que só aumentava o mistério, a admiração e até certo temor ao redor daquela figura fascinante.
***
Bastaram algumas semanas para aparecer o primeiro. Sem nome ou justificativa, igualmente engravatado, sentou-se no terreno, não tão próximo a ponto de incomodar seu guia, mas perto o suficiente para admirá-lo em toda a sua transcendência. Dias depois, a segunda, mal saída da adolescência, trajando terno masculino e se fixando no terreno. Os próximos não tardaram; mesmas vestes e comportamento. Em poucos meses já passavam de dezenas. Os vizinhos primeiro acharam graça, depois acharam estranho, demoraram até perceberem que era assustador: ali, à luz de seus olhos, estava se formando um culto silencioso.
Que silencioso deixou de ser com a chegada de Pedro. Com traje e sorriso impecáveis, carismático e comunicativo, chegou ao terreno — que já ganhara a alcunha de Templo dos Engravatados — tentando estabelecer diálogo entre os participantes. Encontrou resistência, mas sabia construir argumentos convincentes.
Contou que fora ao Templo após receber, em sonho, a visita do Gravata — nome que lhe fora anunciado durante o encontro onírico. Nele, o mestre lhe revelara que sua mensagem estava sendo mal interpretada: não era silêncio que ele queria, e, sim, uma melhor comunicação. O mundo estava beirando o apocalipse por conta das palavras que todos gritavam e ninguém entendia, pelo veneno das redes sociais, das notícias falsas, das agressões verbais, dos discursos de ódio. Esse era o mal da sociedade moderna. E o Gravata — um profeta! — teve a iluminação de perceber que não se podia combater palavras com palavras. Fez, então, o grande sacrifício. Poupou todas as suas palavras para que os outros entendessem que estavam desperdiçando as deles. Ele silenciou por nós, repetia Pedro.
Aos poucos os engravatados foram sendo convencidos pelo novato. Sua ideia fazia sentido e, embora não admitissem, estavam ansiosos para falar. Tanto que não mais calaram: debatiam sobre as ideias não ditas do Gravata, reuniam-se em círculos à sua volta para louvá-lo, entoavam canções sobre sua sabedoria e abnegação.
Esse novo padrão tornou o culto ainda mais atrativo para as almas perdidas que para lá migravam e ainda menos suportável para os vizinhos. Passaram a hostilizar os engravatados e a chamar a polícia frequentemente. Mas não havia crime sendo cometido e as tentativas de negociação eram sumariamente ignoradas.
Eles pareciam frágeis, mas eram imbatíveis.
***
Quando o número de engravatados atingiu o terceiro dígito, e o terreno já parecia pequeno para a expansão habitacional, Pedro teve outra revelação: dali a alguns dias, aniversário de silêncio do Gravata, ele diria suas primeiras palavras. Talvez uma única frase, mas que serviria de pedra fundamental para o renascimento da civilização.
A ansiedade fez o tempo acelerar e prontamente estavam todos prostrados perante o Gravata, esperando seu direcionamento divino, mas o homem permanecia mudo e indiferente. O que queres de nós, oh, mestre, clamou Pedro, sendo imediatamente ecoado pelos demais, criando um coro contínuo da indagação.
Durante horas o homem manteve-se estático, mas aos poucos a insistência da pergunta entoada foi desmanchando sua inércia. Os olhos fitaram sua multidão de seguidores, o rosto enrubesceu intensamente, as veias do pescoço dilataram e ele finalmente liberou sua voz, respondendo à questão com a força que apenas um ano de silêncio permite resguardar.
— Quero que vocês vão para a casa do caralho!
O som do vociferar reverberou por todo o terreno, pela vizinhança, pelos arredores e atravessou cada um dos que ouviram seu brado ensandecido. E seguiu reverberando pelo tempo.
Porque foi ali a gênese do Caralhismo.
***
Alguns engravatados ficaram atônitos diante do berro do Gravata, que, de pronto, voltou à sua quietude habitual. Mas Pedro não titubeou em sua função de intérprete da Palavra.
Caralho! Sim! A mensagem estava clara. Nos dias de hoje, o profeta não viria com palavras doces. Porque era isso que estava faltando à sociedade: virilidade. Chegara a hora dos homens assumirem o poder com ordem e autoridade. Moralizar o mundo. E o pênis — o tão relegado pênis — assumiria de vez o seu protagonismo. Afinal, não é ele quem jorra o leite da vida? Não foram sempre os homens o vetor de mudança da humanidade? O mundo se desvirtuou e era preciso voltar ao centro de tudo: o pênis. Por isso as bananas não eram comidas. Tal fruto fálico havia de ser sagrado.
A ala masculina do grupo se encantou com a ideia. As mulheres, a princípio, relutaram. Mas depois viram que não estavam em posição diferente da qual sempre estiveram em qualquer outro culto. E nesse, ao menos, tinham direito à igualdade de vestimenta.
***
A palavra do Caralhismo se expandiu rapidamente. O interesse daqueles que detinham o poder foi súbito. Não tardou para que se construíssem templos, as grandes Casas do Caralho, onde os caralhistas se reuniam para celebrar o poder do Pênis.
Curiosamente, a população homossexual, temerosa pela ascensão de um ideário de masculinidade conservador, foi a primeira beneficiada. O conceito de homossexualidade simplesmente deixou de existir. Sendo o pênis o centro do universo, não havia incômodo que outros homens se interessassem por ele — a virilidade e a força haviam de ser admiradas também pelos viris e fortes. Para muitos, essa foi a resposta para os sentimentos que sempre resguardaram dentro de si. Até líderes religiosos largaram seus cultos e se juntaram à causa caralhista.
Já relações entre mulheres pararam de ser vistas como sexo. O que, mais uma vez, mostrou que o Caralhismo não mudava muito a vida feminina.
A penetração na política também foi rápida. Brasília foi tomada de assalto por uma esmagadora maioria de homens rústicos em ternos mal ajambrados. As mulheres tinham pouca representatividade, e só eram bem quistas aquelas que se apresentavam submissas. A engendrada estratégia fez com que poucos notassem a diferença.
Pedro, o grande guardião da Palavra, encaixou-se perfeitamente na vida pública. Logo tornou-se presidente. Com sua retórica infalível, seduzia com o discurso do Pênis acima de tudo e de todos e estava sempre pronto para posar com seu famoso gesto fazendo pequenos falos com os dedos.
O povo caiu de amores por figura tão imponente.
Também houve ruídos. A subida caralhista deixou cicatrizes. O momento de maior tensão foi a Revolta das Bananas, quando uma emenda constitucional proibiu o consumo da fruta, considerando-o escárnio de objeto de culto religioso. Os que argumentavam que a banana era apenas um fruto comum, consumido até por animais na natureza, eram taxados pejorativamente de bucetistas e atacados ferozmente pelos engravatados que se multiplicavam por todos os lugares.
Ficou claro que o Caralhismo venceria: a maioria dos homens estava realmente disposta a colocar o pênis acima de tudo. E de todos.
***
Hoje, a expansão caralhista rompe fronteiras rapidamente. Tem se espalhado por todos os continentes, angariando seguidores em cada um deles. O mundo tem se tornado uma grande Casa do Caralho, e o planeta, segundo o revisionismo caralhista, um enorme falo: criou-se a ideia de que o universo se formou através da Ejaculada Divina e que a Terra tem formato peniano. Polos Norte e Sul são a base escrotal do planeta, responsáveis por resfriar o grande magma terreno que um dia explodirá numa onda a conduzir a humanidade ao paraíso. Mas é preciso aceitar a Palavra do Pênis para ascender no dia do Gozo Final.
O meio científico é agora o último bastião de resistência ao avanço do Caralhismo. Historiadores se recusam a acreditar que as pirâmides ao redor do mundo, ícones de diferentes civilizações, sejam afiadas pontas fálicas apontando para o céu; biólogos se opõem à ideia de que os primeiros seres humanos foram gerados espontaneamente de uma poça do sêmen primordial; astrônomos lutam contra a tese de que a Via Láctea recebeu esse nome por uma impublicável inspiração divina.
Porém, os ataques caralhistas contra seus opositores são cada vez mais virulentos. A imprensa é posta em descrédito e outras religiões são vistas como amaldiçoadas. Ganha força o movimento dos Nacionalistas Austeros Zeladores Imaculados — ou simplesmente NAZI — formado por caralhistas extremistas, que pregam um confuso ideal de eugenia masculina. Seu brasão, formado por duas bananas cruzadas, mais conhecido como Cruz de Aço, causa pânico em parte da população. Os adeptos justificam o uso dizendo se tratar apenas de um antigo símbolo religioso.
Os que ainda lutam contra o Domínio do Pênis estão cada vez mais desanimados.
O futuro, ao que parece, já foi pro Caralho.
***
Décadas se passaram e o homem continuava ali, sentado em meio ao nada, imerso em seu próprio universo. No começo recebia muitas oferendas. Tinha o suficiente para começar uma vida de riqueza. Mas permanecia quieto, imóvel, calado.
Com o passar do tempo, foram lhe dando menos atenção. Alguns até se aproximavam e tentavam comunicação. Mas ele nada dizia. Muitos já questionavam se em algum momento ele realmente falara algo e, nesse caso, se fora compreendido. Tudo nele parecia contrário à filosofia criada após sua única frase.
Demorou, mas o mundo do qual ele desistira eventualmente desistiu dele. Jamais o removeram do lugar; sua figura ainda causava algum temor. Mas os presentes espalhados pelo terreno foram saqueados, esculturas feitas em sua homenagem quebraram e viraram pó, tudo voltou a ser lixo e capim. Até mesmo a comida começou a rarear; poucos ainda se importavam em alimentá-lo.
Por fim, seu corpo velho e esquelético quedou inerte. Tão quieto em morte quanto fora em vida.
Olá, como vai?
Primeiramente, não serão considerados gosto pessoal e nem adequação ao tema, já que o mesmo passou a ter entendimento extremamente esparso. Para evitar injustiças por não compreender que o autor fez uso dos termos escolhidos, ainda que em sentido figurado, subjetivo, entenderei que todos os contos terão os pontos correspondentes a este quesito.
A minha avaliação é sob a ótica de um mero leitor, pois não tenho qualquer formação na área. Irei levar em questão aquilo que entendo por “qualidade” da obra como um todo, buscando entender referências, mensagens ocultas e dar algumas sugestões, se achar necessário.
Agora, meus comentários sobre o seu conto:
Olha, não gosto muito de textos “panfletários”, pelos menos não em um desafio de contos. Considero-os voltados para um nicho mais particular, como aquele blog onde falamos abertamente sobre tudo que pensamos e aí postamos contos, crônicas, detonando tudo e a todos, mas quem lê o blog, com certeza vai achar as críticas certeiras. No entanto, acredito que não seja tão apropriado para um desafio como este. Claro, é apenas uma opinião minha; você tem suas justificativas.
O conto tá bem escrito. Começou de um jeito e seguiu um rumo diferente do que eu tinha imaginado, isso me decepcionou um pouco. Mas o sarcasmo e linguagem ácida são essenciais para a narrativa e me agradam; também escrevo assim, quando estou com muita raiva. Você devia estar com bastante raiva quando escreveu este conto, não?
O enredo que gera em torno de um culto político foi bem legal. Só a forma direta de expressar isso para falar de política achei desnecessária. Acredito que aqui ficaria melhor ser mais sutil. Novamente, ressalto que é apenas uma opinião de como eu faria e entendendo que você tem o seu estilo. A ortografia está ok, não detectei erros.
Por fim, te desejo boa sorte.
Definitivamente, este Conto não atende ao tema proposto. Aliás, pode-se mesmo perguntar a que tema ele atende? Será ao do fanatismo religioso? Ou ao da crise existencial?
Inicialmente é do ‘engravatado’ que o Conto trata: um ” homem no auge da evolução, trajando sua roupa de sucesso…” (um executivo?), aparentemente desgostoso com a vida, que ao sofrer uma queda banal se desequilibra literal e metaforicamente. É quando decide desistir da vida que leva, mas sem deixar de seguir a diante.
“Se não era possível sair do chão, faria do chão embaixo de si seu próprio mundo” – nos conta o narrador onipresente. Pensando em fundar seu próprio planeta, o personagem se estabelece, impávido, isolado e incomunicável, sentado no centro de um terreno baldio.
A história segue com a conquista, involuntária, de muitos adeptos ao culto do silêncio e da abnegação do “engravatado. Num segundo momento, esses seguidores convencidos de que agem conduzidos pelo profeta, quando na verdade são influenciados por Pedro, um ‘marketeiro’ oportunista, fundam um novo culto sob a égide da virilidade é do poder do pênis. Acreditam que essa é a solução para os desvios da humanidade
Feito esse pequeno resumo do Conto, é notório que essa transição entre a crise existencial do “gravata’ e criação de um culto à virilidade e ao pênis, a trama sofre uma quebra narrativa e deixa de ser sequencial.
O conto dá início a uma nova história, pouco articulada com a inicial. Esse salto narrativo é tal forma abrupto e profundo, que põe em cheque a sequencialidade do enredo (problema de continuidade). O ritmo ganha agilidade, novos e muitos personagens são introduzidos, a problemática filosófica é outra – a das crenças, do fanatismo irracional, do coletivo social. Por tudo isso é justo ao leitor se perguntar:
Qual é o tema do Conto? Qual história ele quer contar?
Ao final, o conto retoma a ponta solta da história – o “engravatado’ reaparece, tão só como de início, só que agora não é ele que desiste do mundo, mas sim o mundo que desiste dele – mas sem amarrá-la à outra ponta – o culto do pênis. Da “Genesis”, do título, só resta a decadência e a morte.
Resta ao leitor, se for de sua vontade, tentar encontrar nexo, relação nessa trama e construir a ‘lição moral’ desse Conto.
Observações finais:
Alguns aspectos redacionais exigem reparos:
– No parágrafo “O primeiro […]. […] a segunda, […]. Os próximos[…].”, que fala da adesão ao culto do “engravatado”, não fica claro a quem o autor se refere, falta a nomeação;
– Erros de concordância e pontuação se fazem notar:
• […] queria, e, sim,
• […] um culto silencioso. Que silencioso deixou de […]
• […] estabelecer diálogo entre (com) os participantes
Um sujeito, outrora um homem de bem, desiste de tudo e se refugia num terreno e lá permanece sentado, imóvel e calado. Passado a surpresa, outros aparecem e se juntam a ele, inspirados por ele. Sem que fosse convidado ou escalado para isso, surge Pedro e se coloca como o profeta do homem engravatado. Ergue teorias e convence a todos que o engravatado é uma espécie de Messias… E está fundado o CARALHISMO.
Que maravilha! Criatividade 10! Humor 10! Ironia 10! Sátira, provocação, crítica… é tudo dez! parabéns e boa sorte!
Prezado Entrecontista:
Para este desafio, resolvi adotar uma metodologia avaliativa do material considerando três quesitos: PREMISSA (ou Ideia), ENREDO (ou Construção) e RESULTADO (ou Efeito). Espero contribuir com meu comentário para o aperfeiçoamento do seu conto, e qualquer crítica é mera sugestão ou opinião. Não estou julgando o AUTOR, mas o produto do seu esforço. É como se estivéssemos num leilão silencioso de obras de arte, só que em vez de oferta, estamos depositando comentários sem saber de quem é a autoria. Portanto, veja também estas observações como anotações de um anônimo diante da sua Obra.
DR
Comentários:
PREMISSA: a gênese de uma religião, ou seita, se preferirem – a do Caralhismo. E sabe de onde vem o caralho? Soube esses tempos – era um cesto que ficava no alto do mastro do navio, para onde eram mandados, como castigo, os insubordinados. Por isso, “ir pro caralho” era ir para o topo do mastro… Voltando à premissa, a história do líder involuntário de uma seita desenvolve-se num ambiente farsesco, mas muito representativo das atuais paixões políticas e ideológica, até deslanchar no arrefecimento das paixões e no esquecimento.
ENREDO: o autor soube construir um enredo envolvente, ainda que absurdo, para representar os empenhos que as pessoas fazem nos “mitos” e suas “falas”. Recomendo muito, e sempre, um documentário do Netflix chamado Kumare, no qual um neto de indianos nascido nos Estados Unidos resolve se passar por legítimo guru e ver até onde vai a credulidade das pessoas.
RESULTADO: o resultado final é muito bom, um texto divertido e inteligente, que apesar de pouca aderência ao tema (apenas se considerarmos o mecanismo da criação de uma seita como representado), foi uma leitura muito marcante. Parabéns!
Gênese (Duk)
Comentário:
De início, afirmo que o conto é trabalho de gente gabaritada. Traz escrita fluente, correta, e a construção da narrativa é perfeita. É um contar claro, direto. E a condução do enredo é feita com tanta competência que o leitor é instigado a buscar o desfecho da trama. Desperta a curiosidade.
Um texto muito interessante se comparado ao momento atual do nosso país. De repente, a verborragia grosseira passa a ser coloquial, não constrange, está sistematizada. A situação está brilhantemente retratada.
Olhe, acredito que esse texto, além de instigante, ficaria hilário se fossem usados termos do meu tempo. Sou antiga. Lá, no tempo do sarampão, havia um certo “recato” para nominar essas mesmas coisas que existem hoje, e também para falar sobre elas. Sempre existiram, o trem existia da mesma maneira que hoje. Mas, POETICAMENTE, e como éramos PUDIBUNDOS, dávamos nomes de ZEZIM e DIRCE. Depois, mais recentemente, vieram BRÁULIO e (…). Não vou citar o nome da menina, posso ofender alguém do grupo, e não tenho essa intenção.
Duk, parabéns pela criatividade do texto! O trem é bruto!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Olá, Duk.
Resumo da história:
Depois de escorregar numa casca de banana, homem engravatado cria, sem querer , um movimento em louvor do falo: revendo todos os conceitos sobre essa nova ótica, de que o pênis é o criador de tudo.
Análise do conto:
Um bom conto, cheio de humor negro e crítica aos movimentos políticos recentes. Bem escrito, bem sacado, com boa adesão ao tema do desafio. O caralhismo lembra um pouco o bolsonarismo, em sua sanha por rever e estabelecer novas verdades absolutas. O homem engravatado lembra Forrest Gump quando ele começou a correr sem motivo.
Abraços e boa sorte no desafio.
Olá, Duk!
Olha, se vc participa do grupo do Facebook, já deve saber que eu não gostei do seu conto. Se não participa, me deixe explicar:
Apesar de bem escrito e até certo ponto original, o seu conto é bobo, sem graça e até mesmo ofensivo contra as mulheres, a religião em geral e certo posicionamento político. Creio que vc pretendeu essa aversão de alguns e de outros, que pensam como você, a completa aceitação, então, já esperava que alguns não fossem gostar.
O tema está perfeitamente enquadrado, a linguagem é fluida, os personagens são bem fundamentados e o enredo é interessante.
Parabéns pela participação!
Boa sorte😘
O conto tem um argumento diferente, original. Aborda culturas, costumes, crença, com sarcasmo e bom humor. Gostei do argumento. A escrita é simples, mas as descrições, imagens frasais, são claras e interessantes.
O tema Criação é evidente, quando o homem engravatado decide criar seu próprio mundo (planeta), enquanto os outros, criam suas fantasias ao redor dele (satélites). Boa sorte
Olha, eu realmente achei o seu conto do caralho! Tem realmente uma penetrante crítica social. Vou tomar cuidado para não endurecer nas críticas negativas, pois realmente achei que você tem um glande talento.
Brincadeiras a parte, gostei muito do texto. Acho que tem várias críticas que podem ser retiradas dele, sobre cultos, mal- entendidos, poder, religião, conservadorismo, etc… mas tenho medo de ser igual ao pedro que não entendeu nada a mensagem do “mestre” (ou será que inventou uma história para se aproveitar?). Enfim, esse Pedro me lembra um certo Jair… será???
Gênese (Duk)
Comentário
Uma outra criação, aqui de um universo ideológico-religioso voltado para a imagem do masculino, cujo criador nada mais é que um novo William Foster em seu dia de fúria após-queda em que irritado com a vida, ao invés de sair por aí desafiando policiais e pedindo café na hora do almoço resolveu deixar o planeta. O “criador nada de falocêntrico criou, mas um tal Pedro “acémila’ porém dotado de lábia, usa da figura silenciosa para ascender-lhe ao posto de deus Gravata. E cria culto, templos e doutrinas todas baseadas no falocentrismo arrancado de uma frase de fúria em que o latino caraculu surge como destino aos chatos que acreditavam ter entendido o chamado do silencioso homem que chegou ao terreno baldio de terno e gravata e de lá nunca saiu.
O Conto é uma construção crítica que mostra coisas muito interessantes, tais como o uso das redes e meios de imprensas para dar voz ao que nada significa. Uma vez criado o planeta, ou apropriado de um pedaço de chão, o ser silencioso recebeu audiência. Redes sociais, televisão e sabe-se mais o quê deram visibilidade ao que nada dizia e logo ele conquistou, primeiro curiosos e depois seguidores.
As oferendas em alimento foram sendo depositadas ali e sendo descartadas as bananas, sempre. Homens e mulheres se assomaram, regidos pelo silêncio até a chegada de Pedro, que no texto surge depois que a fama do templo dos engravatados estava pronta..
Aproveitando-se da ojeriza do primeiro engravatado às bananas, Pedro inicia seu trabalho de sociopata transformando a fruta tropical em objeto símbolo do culto ao Gravata que só proferiu a locução interjetiva por pura raiva e que Pedro, com ideias apostolar de araque, transforma em doutrina.
Ao chegar, com seu discurso já montado sobre visões e conhecimentos mediûnicos sobre o ser que ele denomina de Gravata, vence a resistência e começa seu domínio.
Observe que o novo porta-voz do Silêncio já cria a inimizade com aqueles meios que poderiam fazer algo contra sua representatividade e nesse meio vão redes sociais, notícias falsas, discurso de ódio, agressão verbal, aqui elementos todos que podem ser usados contra e a favor, já que o que muitas vezes se considera agressão verbal e discurso de ódio são na verdade pontos contrários a quem cria a acusação.
E Pedro cria dois pontos importantes em seu discurso, primeiro que Gravata é um profeta e segundo que ele é o próprio sacrifício: “Ele silenciou por nós’ . Aqui intertextualidade com o Novo Testamento – Gálatas, Hum, verso quatro.
As novas conversas e ideias debatidas pelos que antes viviam calados só se justificam por aceitarem qualquer coisa, até um guia calado, sem expressividade e com ausência total de qualquer padrão comunicativo.
Depois da instituição de culto alegre, surge, depois da primeira manifestação a promessa de uma segunda e mais eficaz que seria importante, já que seria a “pedra fundamental para o renascimento da civilização”. Então o Pedro e a pedra aqui juntam-se em uma alusão direta ao pescador que se tornou um dos principais apóstolo de Jesus.
Aqui inicia um anticlímax, o conto cria a impressão de que vai ocorrer algo favorável à ideia do louco mercenário da fé alheia: há a ideia de suspensão da inércia, que se dá, há comunicação visual, há manifestação de vida no rosto e enfim ele realmente falou. Ou melhor, liberou sua ira em uma frase só, com poder de eficaz uma locução interjetiva: “ Quero que vocês vão para a casa do caralho!”
Qualquer pessoa com um mínimo de amor próprio abandonaria o tal Gravata, mas as pessoas ali estavam sendo guiadas por um psicopata. Pedro podia não contar com toda a indignação da cena, mas estava preparado para qualquer coisa, é um traço inerente aos que se utilizam da retórica como arma de manipulação, ele “titubeou em sua função de intérprete da Palavra”. E ,obviamente, criou da fala uma nova seita. Tendo o órgão genital como base de respeito e adoração.
E surge a discussão de gênero, o papel da mulher na seita – que nessa tinha a vantagem de igualdade ao menos nas vestes -, a raiva dos homossexuais, que no caso se prova injustificada.
Aparece a política, na Falocracia o presidente não poderia ser outro, o tal Pedro. O poder nas garras erradas – e sempre está em mãos equivocadas, afinal elas sempre estão cheias de retóricas e de promessas.
E com todo déspota vem as proibições, primeiro do consumo da banana por sacrilégio e depois as acusações e perseguições aos de pensamento contrários. E o conto continua criando comparações com religiões e pensamentos políticos, extremismo e globalismo
Saindo do ambiente do Conto, há algo que já é visto como fálicos segundos alguns teóricos, afinal há por aí os falocentristas – meus professores quase todos são – e eles vêem sim as edificações como torres e até pirâmides como símbolos fálicos representativos do homem como divino.
O final é esperado, afinal o povo esquece seus guias, principalmente quando a postura dele não responde às suas indagações e assim morre o Gravata.
O Conto obedece ao Tema, escolhe a Criação como foco, trabalha bem personagens e enredo, tem uma linguagem bem centrada no campo semântico falocêntrico. Tudo certinho.
***
Como estudante de Literatura aceito a tarefa de ler e analisar um texto com uma temática assim, mesmo sendo cristã, e até por ser, afinal, aprendi com meu livro de Fé que devo examinar tudo e guardar o que é bom. Entretanto, de verdade, acho agressiva certas abordagens, parece que quem as faz não as executa por crítica e sim para chamar para si a ignorância do cidadão comum – que há em qualquer ideologia, religião ou não-religião.
Acredito que uma boa crítica é válida e aceito. Tanto que meu filme predileto hoje é o Livro de Eli, o roteiro de Gary Whitta, trabalha de forma grandiosa o que é possível quando um livro de fé pode ser usado como arma de manipulação. Porém, acredito em uma crítica respeitosa. obviamente que não ando pela internet lendo textos como este que acabei de ler e analisar e, só para contrariar, ficar comentando, Não o faço. Entretanto, se sou obrigada por qualquer circunstância o faço e, claro, exerço meu direito de dizer o que penso.
Infelizmente a História hoje nega a contribuição de muitos religiosos para a Civilização, inclusive muitos dos que acreditam na Teoria do Big Bang desconhecem que ela foi originalmente pensada por um padre jesuíta, o belga Georges Lemaître, que era, além de usuário da batina sacerdotal, usuário das vestes científicas. Só para ficar no tema da Criação e tal…
Bem de resto, boa sorte no Desafio.
É um conto do caralho, né?
Está muito bem escrito, foi uma delícia de leitura, desceu tudo redondinho, sem sacanagem, hahaha. Eu gostei das tiradas, arrancou algumas risadas, apesar de achar que o tema está um pouco fora de foco, há uma criação, mesmo que no decorrer do conto se desenvolva muito mais aquilo que foi criado, não tendo a criação do movimento no destaque. É mais ou menos como colocar o item ali pra encaixar no desafio, mas focar em outros elementos. O conto poderia se encaixar em vários temas, nesse sentido.
Tem uma crítica forte ao movimento bolsonarista que enfrentamos atualmente, né? Eu, pelo menos, enxerguei assim. Também fala sobre o machismo, como nossa política é frágil e totalmente suscetível aos populistas, fato representado pelo Pedro. Achei um conto parcial, meio panfletário, meio óbvio, mesmo concordando com tudo, não me soou uma crítica natural. Mas acho que esse não era o intuito. Você queria exagerar mesmo. Acho que é uma consequência por ter um tom mais forte, nesse caso. Não funciona completamente com todos os leitores.
Eu gostei, em linhas gerais. Não me encantou, admito, mas foi uma leitura agradável, sem qualquer tropeço, me fez rir em alguns momentos, então é um conto que cumpre seu propósito.
Olá. Este é um verdadeiro conto do caralho. Parabéns. Nele é narrada a história de um homem que desiste de viver em sociedade e se torna um eremita, sentando-se num terreno abandonado, vestindo terno e gravata. Aos poucos foram-se aproximando pessoas que seguiram o seu exemplo, até se formar um movimento religioso que toma o Caralho como centro.
A história está bem contada, com ritmo e bom humor. Não é possível desligar da leitura, o que é um sinal da qualidade literária do texto. Notei aqui e ali alguns problemas com a pontuação, mas nada de mais.
O lema do conto é poderoso, lembrou-me o Fight Clube de Brad Pitt e Edward Norton. Também este filme é rodeado de um surrealismo que se desenvolve de forma elegante.
Resumo: Homem cria uma teoria caralhista sobre a criação do mundo após escorregar numa casca de banana. Ganha fama pela sua ideologia, mantendo o silêncio como ferramenta de poderio para avançar com suas crenças.
Pontos fortes. Diria que o texto foge aos padrões, extrapolando a palavra por meio de palavras pouco aceitáveis. Uma forma de narrar que o mundo é uma merda, cheio de armadilhas e indiferenças.
Criar um padrão para aceitação é uma grande jogada. Embora os termos, acredito eu, não devam ter agradado a todos.
Pontos fracos. O texto tem um desenvolvimento bem singular. A idéia de criar um conceito diferente é bem estruturada. Fazer da terra um pênis ficou, para mim, pecaminiso. Não no sentido religioso, mas no quesito geográfico. É claro, é um conceito, uma metáfora até bem elaborada. Mas achei muito sádico.
Comentário geral: Deve atingir o ápice das notas pela estrutura da narrativa. Tudo parece ser crítica e um belo “estamos nos fudendo dia após dia”. Foi inovador. Mas ficou aquém do esperado. Como se forcasse o leitor a pensar que tudo é escroto.
Enfim, desejo boa sorte.
Autor, seu texto é mesmo do caralho. Crítico na medida desmedida…
A imagem escolhida também faz jus ao seu texto. Muito bem posicionada na condensação de sua narrativa.
Excelente! Começou como quem não quer nada e arrebentou! Sagaz e contemporâneo! Inteligentíssimo! Diz pra caralho sem dizer porra nenhuma! A cena da queda lembra um pouco o primeiro capítulo do romance “Fim”, da Fernanda Torres. A analogia entre o culto ao Caralhismo e a realidade contemporânea brasileira foi de me fazer rasgar de inveja!
Ei, Duk, cá estou eu às voltas com a sua criação. Que bacana ficou a sua história. Quanta criatividade nela. Um conto que traz uma grande metáfora com tudo que estamos vivendo no mundo. Aliás, a terra já não é mais plana, mas caralhada… O futuro foi para o caralho… também estou achando, amigo. Ri muito com sua narrativa. Muito bem contada, você domina a arte de relatar a história. Achei que funcionou legal ter dividido a história em pequenos capítulos. O final ficou muito legal. Falar o que mais? Parabéns, Duk, excelente seu conto.
Um homem escorrega em uma casca de banana, cai e se sente ridículo. Decide, então, criar seu próprio espaço e se isola, mas surgem seguidores, como ele, silenciosos. Aparece Pedro, falante e que interpreta o “mestre” à sua maneira. Cria-se, assim, uma seita que se espalha e domina toda a sociedade, até que vem o declínio.
Texto criativo em que elementos da realidade e da fantasia se misturam, gerando um todo crível, explorando outra noção da realidade. As imagens a que se recorre não fazem parte da ordenação lógico-científica, mas se refletem nela, levando o leitor a refletir sobre fatos religiosos e políticos — uma sátira.
O título está bem relacionado à trama ao retratar a origem e o conjunto de elementos que contribuíram para produzir uma situação. Percebi o trabalho com arquétipos e também a criatividade ao camuflar as figuras públicas sob a máscara desses estereótipos e, assim, criticar gregos e troianos. Pena que, ao meu ver, a narrativa tenha se prolongado na repetição da mesma estratégia associativa, o que a tornou um pouco pesada. E, o epílogo veio meio apressado. Mas, no todo, bom domínio da escrita, com mudanças de perspectiva, amarrando cada corte em sua devida ponta (o mestre, Pedro, o povo).
Parabéns pela participação, boa sorte. Um abraço.
Criação: O poder nasce do acaso de alguém, o descaso de outros e o oportunismo de uns para controlarem outros. Com linguagem direta e construções simples, a trama é ótima. Não há belas passagens, mas sim belíssima construção do cotidiano. União singular entre o fantástico e o real.
Engrenagem: O conto é ascendente e descendente, nasce de uma topada e morre numa queda. A narrativa, aparentemente descompromissada, amarra o leitor em um laço apertado, indissociável da realidade atual.
Destaque: “Eles pareciam frágeis, mas eram imbatíveis.” Síntese do conto e dos tempos sombrios em que a Casa do Caralho nos enfiou.
Não tenho nem palavras para comentar este conto. Talvez um palavrão fosse mais apropriado.
É muita criatividade para um texto só, mesmo que se vislumbre inspiração na caótica desordem nacional. A criação de uma seita, de uma nação de gente que só pensa com a cabeça de baixo.
Interessante a representação do início de uma seita, de um culto muito inusitado. No filme A Onda, fica nítido como a manipulação das massas pode ser feita de forma gradual. No caso do Caralhismo, os seguidores apareceram do nada, não foram chamados, apenas foram presas fáceis do tédio. Mas sempre tem um manipulador que inventa ideais onde nem há ideias. O terreno baldio é a mente das pessoas, abandonada, sem nada que preste.
Há muitas possibilidades de interpretação do texto, até mesmo margem para se criar teses de Filosofia, Sociologia, Antropologia, essas coisas que nem sei soletrar direito.
Apesar do tom de comédia, há uma clara crítica voltada`à sociedade brasileira, sobretudo quanto à política. Estamos ferrados porque escorregamos na casca de banana?
O jogo das palavras é genial, tudo se encaixando perfeitamente à trama criada. Nada foge ao contexto caótico, non sense. Parece tudo uma grande brincadeira, mas não é. Construção da narrativa muito bem elaborada, pensada e repensada. Pode ser divertido sim, mas também é triste. O final então, aff…
Enfim, parabéns pelo trabalho do car@lhooooo.
Gênese
Olá, autor.
Devo concordar que é uma história de muita criatividade e engraçada também. Interessante é que ela revela o que poderia ser, conforme alguns, e eu concordo, o verdadeiro grande mal dos séculos: a IMBECILIDADE COLETIVA por absoluta falta de apego às coisas realmente importantes da vida.
Critério de avaliação CRI (Coesão, Ritmo e Impacto):
Coesão – Sim, na minha avaliação, o texto é coeso em torno disso que eu tomei emprestado como “imbecilidade coletiva”. A expectativa de que algo muito surpreendente aconteça, como a própria formação de um culto à personalidade, tendo como base a irracionalidade e os absurdos, paira na mente do leitor o tempo todo. Mesmo quando o texto parte para os paralelos muito atuais e as muito claras interpretações críticas ao Cristianismo, a coesão em torno da imbecilidade dos envolvidos permanece.
Ritmo – A linguagem é bem construída e confere fluidez ao texto.
Impacto – Como disse no início do comentário, um texto muito criativo, bem escrito e engraçado. O início foi especialmente instigante enquanto o autor manteve-se numa postura linguística mais desafiadora ao leitor, mais metafórica e com construções críticas menos óbvias. Do meio para frente, senti como se o autor dissesse para si “Ah! quer saber…?” e descamba para críticas afiadas e com menor cuidado com a FORMA do texto.
Veja! Estou dizendo que gosto da forma como você escreve, que poderia chutar ao seu texto a autoria de alguns dos maiores escritores do EC, e claro, você escreve sobre o que quer, da forma que acha melhor, mas eu, e nunca escondi isso aqui, tenho muita aversão a textos que parecem encomendas para debates atuais.
Além disso, a crítica à questão feminina no Cristianismo me parece ter sido inserida como uma lição de moral, de um modo óbvio demais. A frase seguinte foi especialmente brochante (para entrar no clima do seu texto kkkk): “Mas depois viram que não estavam em posição diferente da qual sempre estiveram em qualquer outro culto. E nesse, ao menos, tinham direito à igualdade de vestimenta.” Fiquei bastante desanimada ao ler, enquanto mulher Cristã que sou, e por saber que essa conclusão não tem nenhuma base teórica no Cristianismo, mas, principalmente enquanto leitora, pela “forçada de barra” na imposição da conclusão, e porque não esperava isso de um texto tão bem escrito.
Peço que desconsidere meu desânimo na questão específica, pessoal (apesar de que o leitor também avalia um texto pelo quanto se ofende), e considere mais minhas sugestões técnicas, se assim o desejar.
Grande abraço e parabéns pela criatividade.
Que conto do caralho!!!! Amei! Começou devagarzinho, como quem não quer nada e de repente, deslanchou. Um retrato crítico da nossa patética busca por messias e por sentido. E pensar que tudo começou com um escorregão numa casca de banana! E o engraçado e assustador é ver as referências a atualidades, que mostram que esta é uma ficcção com muito real.
Posso dizer que achei esse conto “Do caralho”?
Duk, trocadilhos infames à parte, gostei do seu conto. Ágil, irônico, cheio de críticas diretas e indiretas ao nosso Brasil e, por que não, ao conservadorismo de extrema-direita que assola o país em figuras bombadas e falocêntricas que ganham cada vez mais destaque na vida política. Interessante que toda a ação se inicia com um ego masculino ferido, com sua imagem arranhada que só se restaurará, diante da humilhação pública, com a criação de um mundo próprio. Todo o caminho que você construiu a partir daí, ficcionando absurdos que se aproximam do mundo real foi muito criativo e ácido. Seu conto caberia perfeitamente no desafio anterior. O tema “Criação”, no meu ver, aparece na forma como os caralhistas interpretam o mundo e a história, falseando a realidade, a ciência, moldando tudo ao redor do pênis.
Quanto ao final, há uma tragédia embutida sobre nossa condição, sobre o silenciamento que nos relega ao esquecimento. Para quem lê, fica um misto de sentimentos, uma vontade de rir de nervoso.
Bom conto! Se eu fosse dar uma cara para Pedro, seria a do deputado Daniel Silveira, do PSL, que até a publicação deste comentário, permanece preso.
Grande abraço!
Resumo: homem cai na calcada, vai morar num terreno baldio, e inicia, inadvertidamente, a criação de uma nova seita. Seus adeptos procuram se vestir como ele, debatem suas ideias e vão se acumulando em sua moradia. Quando chegam a certo número partem para Brasília, para pregarem suas ideias em nível nacional. É aí que se percebe que suas ideias não são realmente claras e que no fundo talvez não existam. A seita começa a de desfazer, o guru vai deixando de receber suas doações e acaba por morrer de fome.
Crítica. Bom conto, com viés humorístico e traços nítidos de surrealismo. Mas fico na dúvida se chegou a abordar o tema proposto. Acho que não e por isso deve ser desclassificado. A não ser que vocês pensem que, ao falar do processo de criação de uma seita, ele estava se referindo, metaforicamente, ao processo de criação da obra de arte. Caso você pensem assim, então não haveria por que desclassificá-lo.
Nota (de 0 a 10): 5
Resumo: após uma queda numa calçada, nasce um novo guru. Um homem bem vestido, elegante, calado, trajando uma indefectível gravata. Esse guru passa a morar num terreno baldio e a receber seguidores. Os seguidores debatem suas ideias. Depois que chegam a um número significativo, partem para Brasília, para defenderem suas ideias em cadeia nacional. É aí qui se percebe que ele não têm um conjunto de ideias claras, não têm realmente o que pregar. Então o grupo vai se dissolvendo, a seita vai sendo paulatinamente abandonada e o guru acaba por morrer de fome quando escasseiam as doações que recebia.
Crítica: Conto divertido, bem escrito, com traços claramente surrealistas. É um bom conto, mas penso que deva ser desclassificado por não tratar do tema proposto. A menos que vocês pensem que o processo criativo de artista se assemelha ao processo criativo de uma seita. Creio que não, mas deixo a decisão por conta de vocês.
Gosto da escrita, gosto do trocadilho e gosto da edição. Tenho até medo de fazer um comentário mais mordaz, para não ser mandado para o caralho.
Parabéns!