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Junte Deus, um relógio, um coronel e chame Sebastião (Cicero Lopes)

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Raramente, percebemos que fazemos parte de uma singular engrenagem; responsável por fazer este mundo girar. Excepcionalmente, conseguimos enxergar onde exatamente, os nossos atos interferem na roda e no alheio. Nada é aleatório! É fato! Comprovado, registrado, firma reconhecida em cartório e dipostos nos manuais, que tudo o que fazemos; cada respiração; cada gesto, mesmo involuntário; cada olhar; cada palavra solta, interferem no voar das borboletas. Um beijo, um tapa, o desprezo, a facada, a manipulação… Tudo faz com que a engrenagem em que estamos conectados, siga em direção ao caos.

Sebastião, igual a todo mundo, também não imaginava que fosse parte dessas engrenagens. Nem lembrava de como tinha sido fundido, só lembrava da fome, dos animais maiores que ele, sempre afringindo violência ao seu corpo, à sua alma, espírito e mente. Talvez, isso tenha contribuído para torná-lo forte, então, não reclamava. Retrato de uma natureza feroz. Fisicamente era um homem poderoso, alto, esguio, de temperamento frio, distante das paixões. Não lembra de ter brincado, de ter relaxado a ponto de sorrir. Não lembra.

De tanto rodear o matadouro, arrumou a ocupação de matar bois. Gostava disso. Gostava de assistir o bicho, de repente, ao receber a bordoada, assumir o olhar caído em névoa, tombar atônito e sem tempo algum para reflexão, inflexão, motivação, desespero, medo… Morria de surpresa. Sebastião tinha certeza que os animais nem sofriam.

Foi o Coronel Santos Dias quem lhe reconheceu o talento em matar e deu-lhe a primeira missão: levar as contas do inferno a um desafeto.

E Sebastião que gostava de matar bois, também gostou de matar homens. A sensação era diferente. O golpe menos violento. Sim, os matava com um golpe de martelo. A única diferença, comparando homens e bois na hora da morte é que os “cabras” sabiam do cruel destino. Entendiam a derrota e choravam, esbravejavam, fediam de medo e mais… A imensa maioria apelava à Deus.

Sebastião perguntava, quem é que vocês chamam? Quem é Deus?

— Quem é Deus? Sebastião perguntou ao Coronel. Estavam num lugar deserto, cercados de mandacarus, ponto de encontro para recebimento das missões e pagamentos dos assassinatos. — Esse nome que eles gritam. E nossa senhora? Quem é? Falam da senhora sua irmã? O coronel riu com muito gosto, tossiu, perdeu o folego. Quanta ignorância! Pensou! Que bicho bruto era aquele?

— Nossa senhora? Minha irmã? Aquela jararaca? E ria comprometendo as pregas.

Sebastião só esperava uma resposta e aquela risada sem necessidade, começou a lhe deixar aborrecido. O coronel, talvez, vendo o semblante duro do seu assassino mais letal, guardou o riso “afolozado”, acendeu um charuto, não sem antes oferecer um, ao bruto e disse: “Vamos andando”. “Até o lugar em que nos separamos, acho que dá tempo de lhe contar uma ou duas coisas sobre Deus”!

Sebastião pensou em cobrar também, uma resposta sobre nossa senhora, mas desistiu. Primeiro porque já não tinha certeza se aquela que os moribundos evocavam na hora da morte, se tratava mesmo da irmã do coronel e ainda que fosse, o Coronel não ia querer debater com a gentalha – igual ele, as intimidades da sua camarada de sangue. De resto, Dona Conceição, a dita irmã do coronel era uma veterana, solteirona, invicta, silenciosa, de olhar feroz, beiços sempre espremidos uns contra os outros e braba! Foi uma estupidez supor que alguém quissesse sua companhia na hora do sufoco.

— Deus… Iniciou o Coronel. — É o Todo-Poderoso! Responsável por tudo o que você enxerga aqui ao redor. A poeira na minha bota, as folhas de palma, os lagartos, as formigas, as cobras, os bois… Tudo o que existe! E nesse balaio está a gente, também.

O assassino pensou um pouco e cheio de dúvidas, perguntou:

— Criar esse mundão todo, com tudo que tá dentro, deve ter sido um trabalhão! Por que alguém se meteria a fazer isso? O que Ele ganhou? A terra se enche de mato e erva daninha. Os bichos só se ocupam de comer e cagar. A gente morre sem saber o que é viver… Porque Ele perdeu seu tempo com esse mundo?

— Sebastião, você sabe o que é uma engrenagem?

— Sei não, senhor!

— Imagine esse relógio. Disse o velho de barbas brancas e pelos desalinhados, mostrando o relogio que tirou do braço. — Dentro, tem uma engrenagem que faz ele caminhar certinho e me mostrar os segundos e as horas. As engrenagens possuem rodas de tamanhos variados e com todo tipo de dentes, muitos dentes, poucos dentes… É isso que faz com se vá para frente, ou para trás, de um jeito mais corrido ou mais lento. É como um trem guiado por um maquinista cego. Esse maquinista é Deus!

O jovem matuto, logo imaginou que o o velho senhor estava delirando por causa do sol em sua cachola.

Sem conhecimento desse julgamento “abusado” o coronel continuou sua pequena palestra. Lhe agradava falar com aqueles ignorantes; lhe fazia bem, exibir sua compreensão do mundo. Afinal ele era ou não, um coronel? Continuou expondo sua metáfora.

— igual a esse relógio, nós, no mundo somos tudo uma corrente soldada. Tudo junto, tudo misturado. Se confundem os parafusos, as roscas sem fim, as molas, as manivelas, as rodas dentadas… Cada peça criada com uma função.

— As engrenagens? Titubeou, Sebastião.

— Iguais a isso tudo, somos nós, peças da grande engrenagem criada por Deus! Eu sou uma peça que movimenta alguma coisa. Na verdade eu sou uma grande peça que movimenta muita coisa.

— E foi esse Deus que?

— Criou primeiro o lugar! Depois o encheu de gente, e, para alimentar essa gente, criou os bichos, as frutas, a mandioca, o milho, a cebola… Tudo! Para que a criação crescesse, criou as mulher para ser mãe!

— Mas o que faz essa coisa toda, Coronel?

— Progresso! Riqueza!

— Mas poucos prosperam e são ricos! Aqui mesmo, tem o senhor e… Tem só o senhor!

— Por que Deus não podia criar uma engrenagem de peças iguais. Algumas tinham que ser maiores, mais poderosas assim como eu! Pessoas capazes de suportar o peso do mundo em suas costas.

Depois de dizer a ultima fala, o coronel sentiu-se envaidecido como uma galinha que põe um grande ovo! Que bela frase tinha cunhado – “Pessoas capazes de suportar o peso do mundo em suas costas”.

— E eu?

— Você também tem seu valor, meu filho! Mesmo um pequeno parafuso é necessário para firmar as peças maiores e importantes!

À noite, em seu casebre miserável, construido de barro segurado por estacas, coberto com telhas usadas, de lotes diversos e por isso, irregulares, muitas quebradas, tendo a visão da iluminação lunar, Sebastião pensava na conversa com o Seo Dias e foi na hora em que a lua surgiu curiosa, pela fresta do teto, que ele desenhou em sua própria mente, a imagem da terra, como fosse um relógio. E tentou organizar tudo o que conhecia, das coisas e seres que ocupavam o mundo, como fossem partes das faladas engrenagens. O homem era sem dúvida a peça mais importante. Era quem plantava os pastos que alimentas os bois, que alimentam os homens. O homem, que nascia sabendo que tinha que aprender as regras do caminho, crescer, amadurecer, trabalhar o campo ou se fundir às máquinas, casar e morrer. Mas, não sem antes produzir um filho, a próxima peça nesse trilho. Mas havia homens que fugiam dessa corrente. O coronel era um deles, nunca trabalhou, não precisava – o pai possuía dinheiro que vinha desde o avô. Não casou-se – preferia deitar-se com as meninas que ele escolhia, filhas dos sitiantes. Irene, irmã de Sebastião, tinha sido uma das que o coronel “comeu”! Filhos, também não apareciam na conta, somente abortos! E quase adormecendo, pensou em sua própria condição. Onde ele estava conectado? Sua única função no mundo foi destruir. Contra tudo o que ouvira do coronel na conversa daquela tarde – ele era a assombração, o rio seco, a fruta podre, a saúva, a ferrugem, serpente… Não era uma peça, reconheceu com uma certa tristeza em seu peito. Era um martelo. Uma serra, um facão, o pé de cabra… Sentiu-se melhor. Se o relógio de Deus tinha um defeito, precisava de um “cabra” para ajustar os ponteiros. Talvez, fosse ele, o martelo de Deus, usado para esmagar e arrasar o mecanismo que não contribuisse para relógio marcar direitinho; as seis da tarde, as cinco da manhã e a hora da morte. Segundo antes de se apagar feito uma vela que o vento assopra, decidiu: amanhã, iria matar o coronel.

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37 comentários em “Junte Deus, um relógio, um coronel e chame Sebastião (Cicero Lopes)

  1. Andrea Nogueira
    21 de março de 2021

    Para compor Sebastião e seu destino, o autor dá a fórmula, já no título do Conto: “Junte Deus, um Relógio, um Coronel”.

    É com essa alquimia metafórica, que ele cria a história de um jagunço, de um lugar indefinido, mas árido e desigual, que a vida e os poderosos o fundiram (tomando de empréstimo uma das belas imagens do Conto).

    E não é pouca coisa, para definir Sebastião: homem rude, duro, “o retrato de uma natureza feroz”. Homem que se soube, depois, arma destruidora de Seo Coronel e a serviço de sua justiça particular. Homem levado pelo cabresto, que tomou por função destruir – nem ele mesmo sabe o porquê, e que se comprazia com a dor, do outro, da sua.

    No decorrer da narrativa, o Conto nos faz acompanhar o ganho de consciência do personagem, a ampliação de sua visão de mundo, sua missão de vida.

    É interessante e inteligente a forma de que o autor de vale para contar o processo de evolução, de natureza maiêutica, pelo qual Sebastião passa e de fortalecimento de sua subjetividade, ao longo da história: se de início, suas ações são alienadas – em prol de interesse individuais, ao final são de livre-arbítrio e em prol do coletivo.

    E o autor o faz de forma expressiva didática, em linguagem coloquial, simples e clara. O vocabulário é adequado e pertinente à localização regional e cultura retratados (Nordeste brasileiro).

    Merecem destaque a poética da narrativa e suas preciosas figuras de imagem:

    “Nem se lembrava de como tinha sido fundido”, “[…] levar as contas do inferno a um desafeto”. “[…] ele era a assombração, o rio seco, a fruta podre, a saúva, a ferrugem, serpente…”

    No desfecho, bem arquitetado e escrito, vemos um Sebastião senhor de suas decisões e atos, ciente de seu poder e missão: contribuir para colocar ordem ao caos. Era chegada a hora de eliminar o Coronel.

    Um único reparo, uma ressalva, ao texto: são muitos os erros de pontuação – vírgula, ponto e vírgula, sinais – usados tanto fora de lugar, quanto desnecessárias. Corrigir essas falhas de escrita não só é fundamental por uma questão de preciosismo formal, mas porque podem atrapalhar o entendimento de ideias.

    Ainda assim, e neste caso, a trama do Conto é tão forte e envolvente (emociona traz esperança), a história tão factível e sua moral tão relevante, que nem essas falhas impedem de seguirmos presos à leitura, entendendo seu desenvolvimento e contexto geral.

  2. Renato Silva
    21 de março de 2021

    Olá, como vai?

    Primeiramente, não serão considerados gosto pessoal e nem adequação ao tema, já que o mesmo passou a ter entendimento extremamente esparso. Para evitar injustiças por não compreender que o autor fez uso dos termos escolhidos, ainda que em sentido figurado, subjetivo, entenderei que todos os contos terão os pontos correspondentes a este quesito.

    A minha avaliação é sob a ótica de um mero leitor, pois não tenho qualquer formação na área. Irei levar em questão aquilo que entendo por “qualidade” da obra como um todo, buscando entender referências, mensagens ocultas e dar algumas sugestões, se achar necessário.

    Agora, meus comentários sobre o seu conto:

    O conto é muito legal, bem fluído, com um personagem bem construído e que fez compreender (nunca concordar) com seus propósitos. Sebastião é o típico “fruto do meio”, que só sabe fazer aquilo que lhe ensinaram – ou aprendeu sozinho, como uma criança largada no mundo. O coronel, em sua arrogância e ar de superioridade, subestimou o perigo que estava ao seu lado. Ao permitir a convivência com um homem sem qualquer senso de valores, não percebeu que também poderia ser uma de suas vítimas. Pra falar a verdade, já tinha percebido que isso uma hora poderia acontecer. E o mais interessante é que o raciocínio de Sebastião faz todo sentido.

    Só acho estranho ele não saber quem é “Deus” ou “Nossa Senhora”. Por mais pobre, miserável, “atrasado” que seja um lugar, não falta uma igreja, um sacerdote ou missionário para “levar a palavra do senhor”, ainda que falte comida. Um povoado pode não ter um único que saiba ler, mas todos sabem sobre Deus. A não ser que Sebastião tenha sido criado no meio do mato, alimentado pelo leite de uma jumenta.

    Parabéns pelo conto, te desejo boa sorte.

  3. Elisabeth Lorena Alves
    20 de março de 2021

    Junte Deus, um relógio, um coronel e chame Sebastião

    O enredo é o que salva e salva bem este conto. Há alguns erros gramaticais – de concordância, de pontuação e também na marcação dos diálogos. Em umas partes aparecem com travessões e em outras com aspas, mas em nenhuma dessas são marcas de diferença entre discurso direto e indireto (pensamento). Há ainda alguns erros básicos e não irrelevantes, mas creio que outros comentaristas os abordarão, então, vou ao que é de interesse para minha loucura acelerada.
    A ambientação física do conto é em alguma caatinga qualquer,
    Sebastião é um contraste entre inocência e perigo. E talvez a sua ingenuidade tenha sido o que aumentou sua periculosidade. Sua inocência encerra uma alma repugnante e em nada há marcas de humano, porém, não é pérfido, haja visto que não entende ainda que matar é errado, que é uma forma de interferir nas engrenagens que coordenam o destino alheio. É uma arma acionada por alguém que se julga poderoso e que tem o poder de determinar quem vive e quem morre.
    É interessante sempre pontuar que por mais romântico que pareça uma personagem que mata, ela não é inofensiva nem ao texto nem aos reflexos na Sociedade. O escritor russo Varlam Chalámov adverte que o autor que transforma qualquer criminoso em um ícone acima do bem e do mal atinge a formação dos jovens, para ele é justamente por isso que existam ainda entre os bandidos o apelido Jean Valjean. Não entre os nossos, porque brasileiro nem lê, não vai conhecer Victor Hugo e “Os Miseráveis”. Vão no máximo adorar algum jagunço ou cangaceiro. Na verdade, a maioria dos bandidos não luta contra a hipocrisia dos dominantes, nem mesmo Sebastião. Ele mata por prazer e um soldo horrível, que pode ser observado por seus parcos bens: uma casa mal ajambrada.
    Sebastião é uma figura que desconhece sua força e seu poder sobre o outro. Para ele muita coisa era como estava posto, natural, sem relevância em outro plano. Não conhece o pecado, a culpa e nem Deus. Seu conhecimento é só sobre a dor e a fome: “só lembrava da fome, dos animais maiores que ele, sempre (sic) *afringindo violência ao *seu corpo, à sua alma, espírito e mente”. Reconhece que sua força vem do sofrimento: “Talvez, isso tenha contribuído para torná-lo forte, então, não reclamava.” Seu poder de matar vem de “De tanto rodear o matadouro, arrumou a ocupação de matar bois.” E tinha prazer: “Gostava disso.”
    De natureza feroz, tem a força no corpo e temperamento próprio para suas atividades mortíferas: frio. E sua falta de infância e de amores cooperam para a construção de sua personalidade perigosa e arredia.
    Para a Justiça, é válido dizer que Sebastião não é imputável. Para as leis ele apenas apresenta uma inadequação de personalidade, sendo um ser cujas as aquisições de valores éticos foram inadequadas e seus instintos foram deformados pelos hábitos contrários ao ordenamento jurídico e às leis morais.
    Sua inadequação social surge real no texto quando ele nota que as vítimas, em sua “maioria apelavam a Deus” e a Virgem Maria, assim, ele vai perguntar exatamente para o mandante de seus crimes. O Coronel Dias aproveita para mostrar sua sapiência e apresenta o Mundo como engrenagem – o tema do Desafio. Mostra sua posição e a posição do assassino de aluguel. E depois disso, refletindo sobre tudo o que ouviu, vemos as barbaridades que esse mandatário faz pelo lugar: ceifa as vidas dos fetos, dos homens e tira a oportunidade de escolha das mulheres, rompendo-lhes a honra. Nesse ponto o texto é o retrato dos crimes de poder sejam eles praticados em terra nacional ou internacional, quem crê em seu poder e o coronel crê, como aparece no seguinte fragmento: “Algumas tinham que ser maiores, mais poderosas assim como eu!” e crendo ser um semideus, usurpa o direito do outro pelo simples desejo de provar quem é que manda.
    O coronel é o oposto de seu homem de serviços. Se julga culto: “fazia bem, exibir sua compreensão do mundo”, também se via superior em conhecimento aos outros. “agradava falar com aqueles ignorantes” e melhor que os outros: “ Afinal ele era ou não, um coronel?”, se reconhece como detentor de poder: “Na verdade eu sou uma grande peça que movimenta muita coisa”. É o único homem poderoso e rico que Sebastião conhece: “— Mas poucos prosperam e são ricos! Aqui mesmo, tem o senhor e… Tem só o senhor!”
    O coronel também não crê que o ordenamento do mundo esteja correto, afinal, afirma que tudo é “guiado por um maquinista cego.” Mesmo esse maquinista sendo Deus, aquele que criou todas as coisas. Para a noção de mecanismo social, tanto o coronel, quanto a irmã não fecham o ciclo pois nunca pensaram em “produzir um filho, a próxima peça nesse trilho”. Seu poder e dinheiro eram herança dos antepassados. Não trabalhava. Não se casou, só produzia dor e medo, insegurança e miséria. E sendo um defeito na engrenagem, merecia um final excepcional.
    Na Linguagem há alguns acertos interessantes. Eufemismo bem sacado aqui: “ levar as contas do inferno a um desafeto.” Assim como essa sinestesia: “fediam de medo”. Personificação em “a lua surgiu curiosa, pela fresta do teto”. Comparação: “o coronel sentiu-se envaidecido como uma galinha que põe um grande ovo!”
    No plano geral o conto tem a capacidade de resumir bem as novas reflexões do capanga de Dias. Apequenado pelas metáforas e comparações que ouviu do outro homem, ele se vê inferior, um componente sem espaço na engrenagem: “ele era a assombração, o rio seco, a fruta podre, a saúva, a ferrugem, serpente” e logo depois se reconhece como algo que conhece, o martelo que fere e limpa o caminho para um bem maior, um enviado para ajustar “o relógio de Deus” que “tinha um defeito”. E o clímax vem no instante final. Para ajustar as coisas, decide “matar o coronel”.
    Sucesso no desafio, Parafuso Solto.

    Notas:
    *(sic) afringindo (afligir ou infligir) violência
    *seu corpo, à sua alma, espírito e mente” + isso era tríade, mudou?

  4. Felipe Lomar
    19 de março de 2021

    Incrível! um dos melhores que li até agora. A ambientação, na m inha opinião, funcionou muito bem. Mesmo com pouca descrição, as características dos personagens e suas relações sociais dão uma bela pista de onde a história se passa. Também achei ótimo a forma de abordar o tema “engrenagens” de uma forma mais figurativa e não literal, como boa parte dos outros autores que abordaram esse tema o fizeram. E acho que o final não poderia ser outro. Acho que ele matar o coronel era realmente a conclusão mais óbvia

    • cgls9
      22 de março de 2021

      Obrigado Felipe. Ser entendido é tudo o que queremos, não é mesmo? Assim, qdo o leitor compreende a mensagem que enviamos, é por demais gratificante. Abraço.

  5. danielreis1973
    19 de março de 2021

    Prezado Entrecontista:
    Para este desafio, resolvi adotar uma metodologia avaliativa do material considerando três quesitos: PREMISSA (ou Ideia), ENREDO (ou Construção) e RESULTADO (ou Efeito). Espero contribuir com meu comentário para o aperfeiçoamento do seu conto, e qualquer crítica é mera sugestão ou opinião. Não estou julgando o AUTOR, mas o produto do seu esforço. É como se estivéssemos num leilão silencioso de obras de arte, só que em vez de oferta, estamos depositando comentários sem saber de quem é a autoria. Portanto, veja também estas observações como anotações de um anônimo diante da sua Obra.
    DR

    Comentários:

    PREMISSA: um conto regionalista, que antepõe o poder do mandante (o coronel) ao mandado (o assassino Sebastião), sendo que o próprio “mecanismo” volta-se contra o seu funcionamento.

    ENREDO: um conto que começa com elucubrações machadianas e se desdobra em relacionamento de dependência e servilidade, até que a menor parte do mecanismo percebe que, além de essencial ao todo, ela pode parar de vez a máquina.

    RESULTADO: um conto muito fluido, com diálogos críveis e personagens bem construídos. Minha única dúvida foi só ao final o assassino direcionar sua revolta com os malfeitos do coronel, apesar dele já ter feito mal até à sua irmã. A dúvida teológica dele também me pareceu um pouco estranha, forçada no contexto para dar ao Sebastião o tom do “sem necessidade de perdão”. Mas é material muito bom, eu é que sou chato.

    • cgls9
      21 de março de 2021

      Obrigado pelo seu comentário cirúrgico e verdadeiro.

    • cgls9
      22 de março de 2021

      Comentário rico e muito construtivo. Obrigado por sua disposição e gentileza. Abraço.

  6. Regina Ruth Rincon Caires
    17 de março de 2021

    *deixam

  7. Regina Ruth Rincon Caires
    17 de março de 2021

    Junte Deus, um relógio, um coronel e chame Sebastião (Screw Loose)

    Comentário:

    No seu conteúdo, um dos mais lindos contos do desafio. Daquelas narrativas que tocam o caboclo de maneira flechada, deixa o cabra de joelhos. A consciência do matuto a construir a engrenagem da vida é o ponto mais forte da narrativa. Observe o trecho:

    “Contra tudo o que ouvira do coronel na conversa daquela tarde – ele era a assombração, o rio seco, a fruta podre, a saúva, a ferrugem, serpente… Não era uma peça, reconheceu com uma certa tristeza em seu peito. Era um martelo. Uma serra, um facão, o pé de cabra… Sentiu-se melhor. Se o relógio de Deus tinha um defeito, precisava de um “cabra” para ajustar os ponteiros.”

    Uma boniteza, né? Parabéns, muito bem escrito! É de tirar o fôlego. Toda a narrativa é muito rica de conteúdo, de criatividade. Amei!

    Agora, há uma necessidade danada de revisar a pontuação do texto. Há uma miscelânea desencontrada de vírgulas, ponto e vírgula, dois pontos. Isso trunca a leitura. A pontuação é essencial para a compreensão do texto. Da mesma maneira, para marcar os diálogos, é necessário seguir um padrão: travessão ou aspas. Caso contrário, confunde o leitor. Colocação pronominal também exige certa regra, assim como a acentuação correta das palavras. Querido autor, Senhor Parafuso Solto, a pressa deixou passar uma pequena desordem. Mas, posso afirmar para o senhor, não retirou o encanto da sua história. O trabalho é lindo, a ideia é maravilhosa, a criatividade foi genial. Um conto que me levou pra Minas, lá pro Vale do Jequitinhonha, bem acima de Cordisburgo.

    O desfecho do seu conto é comovente, tamanha a sensibilidade. Daqueles que deixam um nó no “grugumilo”…

    Parabéns, Senhor Parafuso Solto! Obrigada pelo presente!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

    • cgls9
      21 de março de 2021

      A senhora e de uma gentileza ímpar! Sou seu fã. Qdo crescer quero escrever como você. Adorei seu conto.

  8. Bruno Raposa
    16 de março de 2021

    Olá, Screw Loose.

    Excelente o título do seu conto. 🙂

    Vou dividir meu comentário em algumas sessões para facilitar minha análise. A elas.

    Primeiro parágrafo – Confesso que me incomodam narradores em terceira pessoa que sejam tão impositivos. Fosse um narrador em primeira e ficaria fácil aceitar que são os pensamentos do personagem sendo manifestados. Mas, em terceira, esse tom impositivo soa como o próprio autor tentando forçar sua visão de mundo. Aqui o tom dessa narração inicial casa bem com o restante do conto, mas, creio, se as ideias fossem transmitidas de forma mais suave, haveria menos risco de afastar o leitor logo no início do texto.

    Personagens – Sebastião é um personagem interessantíssimo e desperta empatia mesmo cometendo atos tão bárbaros. A maneira como o pensamento dele é construído – ponto alto do conto – faz parecer que sua lógica é até justificável, embora, obviamente, não o seja. Foi uma ótima sacada mostrá-lo primeiro como um matador de gado e fazer a transição para um matador de pessoas algo quase natural. Já o coronel é uma figura bem menos interessante. É um personagem típico desse tipo de história e está ali apenas para cumprir sua função na trama, sem ter muito o que acrescentar. Não chega a ser um defeito comprometedor, mas gostaria de ver um personagem com mais carne, com mais singularidades.

    Enredo – A trama é bem simples, embora eficiente. Sebastião não saber quem seja Deus ou Nossa Senhora foi pedir muito da suspenção de descrença do leitor. Comprometeu bastante minha imersão na história. Mas, superando essa barreira, há uma divertida construção de diálogo entre os personagens, ideias interessantes e um humor implícito que é muito bacana. O final foi um bocado previsível, bem típico desse tipo de narrativa. Não há nenhuma surpresa ou impacto. Porém, a conclusão de Sebastião parecia inevitável dentro da lógica do personagem, que já é uma lógica torta desde o início. Então, se não há brilho no desfecho, certamente há coerência. Particularmente, gostaria de ver elementos que encorpassem mais o enredo, que criassem um conflito real. Algo assim poderia nascer do diálogo entre os personagens, por exemplo. Mas é apenas uma sugestão.

    Escrita – O ponto fraco do texto. Sei que não é um comentário agradável, mas há muitos problemas com a escrita do conto. A ausência de uma revisão apurada salta aos olhos, o conto tem muitos erros ortográficos e uma pontuação equivocada, sobretudo no uso das vírgulas. Não sou muito atento a essa questão, mas incomoda quando ela fica tão evidente. Além disso há um excesso de pontos de exclamação, sobretudo nos diálogos. São tantas as falas com exclamações que dá a impressão que os personagens falam de forma sobressaltada o tempo todo, em todas as frases. São vinte e cinco exclamações num texto curto, algumas completamente injustificáveis, como nesse trecho:

    “Quanta ignorância! Pensou! Que bicho bruto era aquele?”

    Qual a função da exclamação depois de “Pensou”?

    As aspas em termos regionais também me pareceram desnecessárias e a separação entre diálogos e narração é bastante confusa em alguns pontos.

    No todo, foi uma leitura agradável, divertida. Mas a falta de polimento do texto e a trama um tanto irregular me impediram de embarcar totalmente no conto.

    Um abraço e boa sorte no certame.

    • cgls9
      21 de março de 2021

      Obrigado pelo seu comentário e dicas. Preciso de um revisor urgente ou pelo menos ser menos ansioso. Abraço.

  9. Kelly Hatanaka
    14 de março de 2021

    Plantar o que colheu é ótimo, né? kkkkk Bom, vc entendeu, vai!

  10. Fheluany Nogueira
    11 de março de 2021

    Sebastião é um homem simplório que sabe apenas matar, primeiro os bois no matadouro e depois, homens a mando do Coronel. Este tenta explicar as engrenagens do mundo e o papel de Deus, mas consegue apenas convencê-lo de que sua morte traria benefícios para todos.

    Uma história sendo contada com nuances bastante reflexivos sobre questões religiosas, filosóficas e com forte crítica social e ironia. O título já chamou minha atenção. O relógio foi ótimo recurso narrativo.

    As personalidades dos protagonistas são bem delineadas e, por isso, o conflito final é bem assimilado pelo leitor, diante de um drama que, se por um lado, cativa; por outro, revolta e entristece.

    O senão fica por conta da previsibilidade. Apesar de bem construída, a narrativa não surpreende justamente por ser uma situação que eu considero clichê (o matador de aluguel se voltar contra o mandante).

    Alguns aspectos, como gramática e revisão, construção frasal, emprego dos tempos verbais, regência, uso da crase, precisam ser revistos. Uma ajeitada aqui e acolá.

    Parabéns pelo trabalho! Boa sorte no desafio! Abraços.

    • cgls9
      22 de março de 2021

      Vc está coberta de razão quanto as falhas gramaticais, quanto ao resto, são as visões de quem lê e interpreta, então, cada um tem seu olhar. Obrigado. Abraço.

  11. Leda Spenassatto
    8 de março de 2021

    Bárbaro!
    A criatividade aqui foi muito além do que Sebastião pudesse sequer imaginar.

  12. Priscila Pereira
    4 de março de 2021

    Olá, Parafuso solto! (Amei o pseudônimo)

    Uma história interessante sobre um pedacinho da vida de Sebastião e de como ele entrava na engrenagem da vida…

    Não sei se foi a intenção do autor, se é um estilo próprio, mas… Notei algumas falhas na revisão, falta de palavras, pontuação estranha, falta de travessões depois das falas… Se foi intencional, me desculpe, não entendo esses estilos novos, se não foi, eu recomendo uma leitura atenta, em voz alta, para sanar essas pequenas falhas.

    Gostei do Sebastião, de como funciona a cabeça dele, e o final foi ótimo! O entendimento do seu real papel nas engrenagens era matar o coronel! Muito bom!

    Parabéns pela participação e pelo texto interessante!
    Boa sorte 😘

    • cgls9
      22 de março de 2021

      Obrigado por seu comentário. Faltou sim, esse apuro de revisão. Se estou criando um estilo e melhor que não me sigam. Rs abraço

  13. Fabio D'Oliveira
    2 de março de 2021

    E o matuto começou a pensar, né?

    Sua narrativa não é ruim, mas senti, pelo menos nesse conto, pressa nela. Alguns erros de digitação, que poderiam ser resolvidos numa revisão mais calma, alguns momentos de atropelo, onde há quebra de ritmo, além de perceber variações no protagonista. Por vezes, ele questionava como um homem inteligente, noutro momento, como um homem burro. Essa foi a sensação que tive. Acho que o texto merece uma enxugada, assim como uma atenção especial na organização. Ele tem espaço pra melhorar.

    O que mais gostei do conto, na realidade, foi o título. Amo essas chamadas mais extravagantes. Embelezam o conjunto, ao meu ver. Achei interessante a forma como mesclou os temas, focando na questão das engrenagens, uma reflexão até comum, mas mencionando levemente a questão da criação do mundo. Aprecio o esforço, acima de tudo, de colocar os dois temas no conto. E pareceu natural, pra mim.

    Um detalhe que achei legal, que você manteve até o final do conto, foi a personalidade do Sebastião. Ele é um psicopata. Ele não sente empatia por outros seres vivos. No final, inclusive, parece que ele se ilumina: encontra um sentido para sua existência. Corrigir o mundo de acordo com os mandamentos de Deus. Mas que mandamentos são esses? Provavelmente o que ele idealizar. Gostei desse personagem. Ele teve uma construção excelente, ao meu ver. O coronel também, mas ele ficou muito caricato, ou seja, o que já imaginamos que um homem de sua posição seja. Então não me cativou muito.

    É um bom conto. Talvez tenha sido escrito na corrida, no final do prazo, ou você se deixou dominar pela ansiedade. Tenha mais calma e com certeza vai lapidar ele melhor, numa próxima olhadinha. Gostei da leitura, em linhas gerais.

    • cgls9
      22 de março de 2021

      Obrigado Fábio, tanto pelos elogios quanto pela críticas. Não sei cara, talvez me acometa algum tipo de dislexia. Rs. Enfim, vamos seguir e corrigir essa ansiedade. Abraço

  14. Jorge Santos
    1 de março de 2021

    Olá. Gostei bastante deste conto, que narra a história de Sebastião, um homem simples, com o estranho talento para matar. É usado pelo Coronel como assassino. As vítimas pedem por Deus e por Nossa Senhora, mas Sebastião não entende esses conceitos. O Coronel ensina a Sebastião o seu entendimento de Deus, como criador – Sebastião percebe que é exactamente o contrário e que o seu destino para consertar o mal que fizera é um único.
    Como já referi, gostei do conto, mas tenho bastantes reservas sobre a forma como foi escrito. Tenho por norma nestes desafios não tecer comentários sobre a ortografia ou gramática. Primeiro porque não sou um expert, depois, porque não estou minimamente habituado à forma como usam essa mesma ortografia e gramática no Brasil. No entanto, parece-me que o texto merece uma revisão mais cuidada.
    De resto, a forma como é caracterizada a personagem principal é genial, apenas dando umas pinceladas mínimas para dar força – o que denota já o talento do autor.

    • cgls9
      21 de março de 2021

      Obrigado. Não foi questão de estilo, foi relaxo mesmo. Preciso ser menos ansioso.

    • cgls9
      22 de março de 2021

      Obrigado Jorge. Muito correta a sua análise. Fico feliz que tenha gostado. Um abraço.

  15. Fabio Monteiro
    28 de fevereiro de 2021

    Resumo: Sebastião é um homem comum, da lida, dos afazeres que muitos não aceitariam fazer parte. Trás nas suas particularidades curiosidade sobre a existência do mundo. Por esta razão, para ele, matar um boi e um ser humano, é quase a mesma coisa. A única diferença que Sebastião percebe neste ciclo de matar é que, o homem pede pela sua vida, enquanto que o boi sequer sabe sobre seu cruel destino.

    Pontos fortes do texto: O (A) autor(a) faz uma amarração incomodativa quanto a semelhança de matar um animal e um ser humano. Para o personagem isso é quase a mesma coisa, não fosse pela capacidade que o homem tem de pedir pela sua vida. O que observo é que Sebastião não percebe haver diferença. Ele não nota fazer parte de um ciclo de vida. De uma engrenagem chamada tempo. Que tudo tem um por que, uma razão e um motivo para acontecer.

    Ponto fraco: Quando o coronel tenta explicar a Sebastião sobre Deus e sobre o ciclo da vida, noto que este parece ter empatia pelo personagem. Na minha opinião um personagem frio, desprovido de sentimentos, que mata sem um motivo, questionando a sua própria existência. A narrativa tornou-se um diálogo aceitável dando aquela sensação de que está tudo bem. Ponto para o Sebastião que parece que nunca levará a pior.

    Comentário Geral: Reflexivo. Viver e morrer é tudo a mesma coisa. Tanto faz, tanto fez se o destino é esse. Se foi bom, bom. Se foi ruim, dá na mesma. O ciclo é igual. O tempo é isso. A analogia do relógio condiz com essa afirmativa. Não importa, ele não para. Alguns vão nascer. Outros vão morrer. É fatídico, mas é verdadeiro. É assustador, mas é inevitável. O texto me causa esta impressão. É um pouco, verdade seja dita. Não fosse a justiça terrena ou divina, sabe se lá Deus quantos Sebastiões a mais teríamos por ai.

    Boa Sorte autor(a)

  16. Catarina Cunha
    28 de fevereiro de 2021

    Criação: O raciocínio de Sebastião manteve-se sóbrio e frio do começo ao fim, como um relógio, um complemento da engrenagem de Deus. O personagem foi muito bem construído.

    Engrenagem: Colega, não conheço “afringindo”, “dipostos” , acho que cabe revisão. No meio do conto, com as explanações do coronel, houve perda de velocidade, mas muito bem recuperada com a força do último parágrafo e o final perfeito.

    Destaque: “É como um trem guiado por um maquinista cego. Esse maquinista é Deus!” – Uau! Uma das melhores definições do Cara.

  17. Fernando Dias Cyrino
    27 de fevereiro de 2021

    Ei, Screw Loose, pois é. Estou aqui matutando a respeito da sua história. Não a respeito de Deus e muito menos do relógio, mas de como a vida é uma engrenagem e nela há peças grandes e importantes e outras pequenas e que não contam muito. O martelo me lembrou o Thor, o grande super herói da Liga da Justiça e, enfim, Sebastião fará justiça limpando o mundo de uma engrenagem ruim tal qual é o seu patrão. Conto muito bem narrado, história de quem sabe das coisas, das manhas do bem se escrever. Só tive, Screw Loose, um pouquinho de dificuldade com a questão do nosso herói Tião ser tão ignorante a ponto de nem saber quem era deus/Deus e logo em seguida se mostrar bem filosófico a matutar nas engrenagens do relógio, nas maldades do coronel que nem casar quis para poder usufruir das meninas que depois do usufruto obrigada ao aborto (inclusive a irmã de Sebastião. Achei que o homem pintado no início da história não condizia bem com o que brilhou na segunda parte da narrativa. Bem, amigo, acho que se trata de chatice de leitor rabugento, então releve. Fica com o meu abraço.

  18. Luciana Merley
    26 de fevereiro de 2021

    Junte Deus, um relógio, um coronel e chame Sebastião

    Olá, autor.

    Um conto realmente muito interessante. Gosto de contar histórias de matador, pistoleiro. Na minha terra escutei dezenas porque lá foi um lugar assim no passado.
    O título é especialmente instigador.

    Critério de avaliação CRI (Coesão, Ritmo e Impacto):

    Coesão – O texto tece um enredo em torno da violência, da ignorância e da miséria humana em vários sentidos. Um homem, por não conhecer valores superiores, que dignificam, por ter sido castigado duramente pela vida, se deixa levar pelo que há de pior. Como em toda boa história de matador, a gente sente cheiro da morte o tempo todo. Por isso, seu texto é um ótimo texto.

    Ritmo – A linguagem é simples e bem ajustada ao assunto. É como alguém contando pra gente e pausando nos momentos de maior tensão. Uma ressalva é por conta do início. Me pareceu uso anormal de pontuação, o que gerou um desconforto na leitura.

    Impacto – Foi muito bom. A história gera interesse e tensão. Particularmente, não aprecio muito quando o autor inicia com explicações, sejam filosóficas ou práticas, sobre o que vai escrever. Como trata-se de uma história curta, penso que o melhor seria iniciar logo com a ação e apresentação dos personagens. Mas, isso é preferência pessoal.

    Parabéns, autor.

  19. Rubem Cabral
    26 de fevereiro de 2021

    Olá, Screw Loose.

    Resumo do conto:

    Sebastião é um homem que foi maltratado na infância paupérrima e que cresceu embrutecido, sem amor ou empatia. Começou a trabalhar num abatedouro e gostava do serviço de matar animais, de observar as expressões do gado quando viam que a morte se aproximava. Logo o Cel. Santos Dias, impressionado pelos talentos do homem, encomendou-lhe a morte de um vivente humano. Sebastião cumpriu a tarefa sem pestanejar, embora tenha ficado surpreso pelas diferenças de como homens e animais encaram o fim. Depois de muitas outras tarefas similares, ao ouvir falar de Deus e de Nossa Senhora, voltou curioso. O Cel. explicou-se os conceitos de quem era Deus, o autor da máquina-mundo, onde todos eram engrenagens e ferramentas a desempenhar diversas tarefas. Refletindo em seu barraco sobre seu papel no grande plano, Sebastião descobriu-se uma ferramenta do mal, mas que ajusta e corrige o mecanismo, o relógio do mundo. E decidiu então matar o Coronel.

    Análise do conto:

    A escrita do conto é boa no uso de expressões e os diálogos estão bons também. Sebastião é um personagem interessante, embora seja estranhíssimo ele nunca ter ouvido falar de Deus. A revisão do conto teve seus cochilos: falta separar bem diálogos e narração, pontuação um tanto estranha no primeiro parágrafo. O tema do desafio foi bem abordado. E o resultado, como um todo, foi positivo.

    Abraços e boa sorte no desafio!

  20. Anderson Prado
    25 de fevereiro de 2021

    É o melhor título! Do que li até agora, é o conto que melhor evidenciou a abordagem do tema. Gostei do tom regionalista e do senso de humor. Adorei o desfecho! Poderia ter havido um pouco mais de capricho e paciência no acabamento do conto. O tom moralizante não me agradou muito (gosto de ser ensinado, mas prefiro que o ensinamento se dê de maneira mais sutil). A leitura foi agradável e veloz.

  21. antoniosbatista
    24 de fevereiro de 2021

    Gostei do conto. Personagens bem construídos, conexões frasais perfeitas. Engrenagem e Criação, mesmo sendo uma metáfora, obedece ao tema. Não percebi falhas na escrita, na ideia. A analogia, a metáfora sobre o tema, ficou perfeita. Embora não seja um conto espetacular, original, é bom pela pela ideia, pela escrita, descrições e conexões frasais. Boa sorte.

  22. angst447
    22 de fevereiro de 2021

    Conto bem escrito que aborda os dois temas propostos pelo desafio: engrenagens e criação. Sebastião representa a criação primária, com instintos rasteiros, sem conhecimento do mundo fora das porteiras do seu cotidiano. O coronel se dá ares de importância, julgando-se engrenagem fundamental no mecanismo da vida. O matuto assassino, ignorante de quem seja Deus ou Nossa Senhora, vive o seu dia a dia na mesmice dos acontecimentos. Despertada a sua curiosidade, indaga ao patrão sobre aquelas denominações e recebe uma explicação sobre quem seria o Criador responsável pelas engrenagens da vida.
    A sensibilidade do autor revela-se no despertar de Sebastião, que finalmente percebeu a desigualdade de tudo a sua volta e que se havia um criador de problemas [mas que se recusou a criar vida, filhos] esse era o coronel, e ele, Sebastião, era o martelo feito para ajustar os ponteiros, para eliminar as engrenagens que atrapalhassem o mecanismo do Criador.
    O desfecho é excelente, com Sebastião decidindo-se a matar o coronel, afinal na sua lógica simplista, ele era o grande criador das dores e mazelas. O único ser superior que conhecia, a engrenagem que precisava ser martelada até a morte.

    A narrativa está toda no pretérito perfeito, aí destoa a passagem – Não lembra de ter brincado, de ter relaxado a ponto de sorrir. Não lembra.
    […] apelava à Deus > apelava a Deus
    […] perdeu o folego > perdeu o fôlego
    […] aquela risada sem necessidade, começou > aquela risada sem necessidade começou> nunca se separa sujeito do predicado
    […] oferecer um, ao bruto > oferecer um ao bruto
    […] pensou em cobrar também, uma resposta > pensou em cobrar também uma resposta OU pensou em cobrar, também, uma reposta
    Há outros pequenos lapsos em relação a vírgulas, mas nada que atrapalhe a leitura
    […] beiços sempre espremidos uns contra os outros – quantos beiços tem essa dona? > beiços sempre espremidos um contra o outro. Aliás, poderia ter parado em beiços espremidos.
    […] construido de barro > construído de barro
    […] os pastos que alimentas > os pastos que alimentavam
    […] que alimentam os homens. > que alimentavam os homens
    Não casou-se > Não se casou [ o NÃO funciona como partícula atrativa do SE]

    O conto apresenta bom ritmo, sem entraves que prejudiquem a leitura. Um ótimo texto.
    Boa sorte.

  23. Kelly Hatanaka
    22 de fevereiro de 2021

    Muito bom! Personagens muito bem construídos, com vozes bem distintas. Achei bem interessante o caminho do pensamento de Sebastião. Não partiu para o óbvio da revolta e sim para uma fria constatação de seu papel no mundo. E o coronel termina por plantar o que colheu.

  24. thiagocastrosouza
    22 de fevereiro de 2021

    Screew Lose, achei seu conto rápido, direto e impactante, com um estilo cru e árido. Um conto que parte do micro, das mazelas de Sebastião, de sua formação violenta, carente e seca, para o macro, nas injustiças mundanas e na cosmologia do universo. Neste ponto, o tema do desafio foi abrangido: Sebastião se percebe criatura, peça menor de alguma lógica cruel que precisa de subversão. Se há quem cria, para o bem e para o mal, há quem o destrói pelas mesmas razões. A conclusão é satisfatória e libertadora, quando o personagem toma consciência da sua existência e passa a pensar sobre sua condição, ainda que de forma violenta. Matava bois e homens, praticamente, mecanicamente, e agora o fará consciente do seu alvo e de suas motivações.

    Grande abraço!

  25. Eduardo Fernandes
    21 de fevereiro de 2021

    Não acho que o primeiro parágrafo tenha favorecido o texto. Sendo uma estória de Sebastião muito interessante, o devaneio filosófico inicial é um degrau desnecessário para o leitor. Eu teria tirado-o.

    De resto o texto está muito bem escrito. Talvez eu tivesse dado um final diferente. O teu deixa algo em aberto, como se fosse o início de algo maior, mas, de uma maneira, está muito bom.

    Parabéns!

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Publicado às 21 de fevereiro de 2021 por em Engrenagens da Criação e marcado .
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