− Pode dar meia-volta, Belarmino, hoje você não trabalha. Vai descansar a carcaça por um bom tempo. Pode até ficar mais bonito, sabia?
Só de ouvir a voz enfadonha do gerente, Belarmino sente um arrepio. É uma aversão que se avoluma a cada encontro. De repente, vem aquela vontade danada de perder a paciência, mas, talvez por intercessão de todos os santos, desvia o corpo e entra na loja. Se o infeliz imaginasse a angústia que o subalterno enfrenta a cada minuto da vida, se ele vestisse a pele do outro por um dia apenas, não seria tão impiedoso. O sorriso mangador, afetado, há muito tempo está entalado na garganta de Belarmino. Uma hora, isso não vai dar certo.
Empurra a porta do escritório:
− Licença, patrão.
− Entra, Belarmino, senta…
− O senhor vai me dispensar?
− Que é isso, homem? Ficou louco? É o seguinte: recebi orientação de que, a partir de hoje, o empregado que tem mais de sessenta anos deve ficar em casa. É exigência trabalhista, essa pandemia traz muito risco. Vamos obedecer, não é, meu velho amigo?
− O senhor que sabe.
− Pode ficar tranquilo, você vai receber o pagamento e a cesta básica na sua casa. Não precisa sair. Nada de correr riscos. Vai acompanhando as notícias, não demora muito e tudo isso passa. Confia em mim?
− Claro que confio, patrão. O senhor é cópia do seu pai, que Deus o tenha… Direito que nem ele.
Segurando a sacola com a marmita ainda morna, e estranhando inverter o percurso àquela hora da manhã, o empregado obedece. Se bem que sente um alívio gigante de saber que poderá ficar em casa, enfurnado. Sem horário, sem compromisso. E, o melhor de tudo, sem exposição.
Bota fé no patrão, ele tem os mesmos olhos mansos do pai. E o velho Deodato lhe traz saudade. Entrou na vida de Belarmino quando este ainda era moço, num tempo em que ele mais a mãe vendiam ovos com a carrocinha de mão. O velho era cliente. E, quando Belarmino ficou só, já madurão, Deodato ofereceu o trabalho na loja. Na loja, não. No depósito, ao lado. Logo o empregado compreendeu a razão de ser colocado lá. Realmente, não era uma figura agradável de ser vista. Isso não foi falado, foi entendido. Sabia que era extremamente feio. Não só feio, era estranho. Desengonçado, excessivamente alto e magro. As pernas compridas se encontravam apenas nos joelhos voltados para dentro, o que lhe conferia um andar arrastado. Não lento, apenas arrastado. E os olhos eram apavorantes, horrendos. Grandes, desmedidos e saltados das órbitas. Mas Belarmino não era mau, nunca foi. Apenas ressabiado, arisco. Resmungão.
Caminhando em direção de casa, sentia novo ânimo. Teria dias e dias para trabalhar com seus carrinhos de brinquedo. Para estimular a sua intenção, avista ripas de madeira descartadas na lixeira da floricultura, do outro lado da rua. Não pestaneja, cruza o asfalto e junta a quantidade que cabe nos imensos braços. Com isso, o estoque de matéria prima estaria reforçado.
O percurso é relativamente curto, menos de hora. Mérito do velho Deodato. Assim que empregou Belarmino, mediou a venda do terreno deixado pela mãe do empregado e que ficava muito distante, com uma casa de fundos, bem mais centralizada, de quatro cômodos amplos e um quintal acolhedor, sombreado por generosa pitangueira. Esse era o reino de Belarmino, sua guarida.
No quarteirão seguinte, avista um camburão da polícia quase atravessado na rua, o que traz desassossego a Belarmino. É um mal-estar que o acomete sempre que vê alguém fardado. Jamais foi abordado, mas a fala corretiva da mãe ressoa na cabeça: “se não fizer a coisa certa, a polícia prende!”. Um verdadeiro pavor. Ainda mais desengonçado e sem querer saber a razão do cerco, Belarmino procura sair de cena pela esquina mais próxima.
Quando abre o portão e caminha pelo corredor, é tomado pelo sentimento de libertação. Como se grilhões dos pés fossem rompidos. Até pouco tempo, saía de casa ainda escuro, e só retornava quando o sol desaparecia por completo. Era o último a deixar o depósito. Preferia andar na sombra, a escuridão não exigia acanhamento, livrava-o dos olhares de repulsa ou de piedade. Ultimamente, como por milagre, essa preocupação ficou arrefecida. A idade passou a exigir mais tempo de cama, acordava mais tarde, o sono ficara mais esticado. O mudar de calçada ou o horror estampado nos olhos das pessoas que o avistavam não trazia mais o desconforto de antes. Aquele tormento que abalava as ideias sempre que precisava amortecer no peito um gesto de repúdio, a necessidade de assimilar a abominação, tudo isso passou a ser detalhe de somenos importância. Não deixou de machucar, mas a ferida secava instantaneamente.
Em casa, retira o uniforme, macacão marrom com emblema da loja de material de construção apenas no bolso. Tem vários, três novos e outros bem usados. Cuida deles no final de semana, lavados e passados com desvelo. Agora, ficarão esquecidos por um tempo. Terá início a era do calção. E da montagem de carrinhos de brinquedo. Sua fábrica terá produção acelerada.
Belarmino trabalha bem com artesanato em madeira. Faz caminhões, carriolas, automóveis, tudo com perfeição. Desde sempre, quando buscava ovos para revenda, no mercadão, recolhia ripas para a sua obra. E, repetidamente, ressoava a voz de reprovação da mãe: “isso é coisa de moleque, não é coisa de homem”. De começo, usava apenas canivete, lixa e tachinhas. Mas, com o fazer constante, especializou-se: faz carrinhos tão caprichados que até as rodinhas giram. Também fazia pandorgas, mas parou. Para que fiquem perfeitas, é necessário usar bambu verde. Bambu seco não dá o mesmo envergamento, o voo não fica apurado. Belarmino já não tem a mesma disposição de buscar bambu pelas beiras das estradas, caminhada que, ida e volta, leva meio dia. Então, deixou de lado.
É morador silencioso, não tem bichos de criação. Coloca o rádio sempre em volume baixo, e a televisão é só para os jogos de futebol.
Quando se mudou para a nova casa, percebeu que os muros laterais, instantaneamente, foram erguidos. As janelas ganharam grades, a vizinhança reforçou a segurança. Aborrecia-se quando ouvia, em sussurros, opiniões sobre ele. Pela figura, todos o viam como louco, perigoso. Protegiam-se uns aos outros, as crianças o olhavam de esguelha, amedrontadas. Mas acostumou-se. Isso já não importava mais.
Enquanto transforma os paus em brinquedos, pensa em qual árvore irá colocar o próximo carrinho. Sempre assim. Terminado um trabalho, ajeita-o num saco plástico, desses de supermercado, e dependura em árvores perto de escola, creche, parque. Alguém encontra o brinquedo e uma criança ganha o presente. Claro que tem vontade de entregar nas mãos de um garoto, mas teme assustá-lo. Além de constrangedor, a criança poderia recusar o brinquedo. Nem pensar.
E, então, vem a lembrança dos colegas do depósito. São cinco. Alegres, fortes, dispostos. Não fossem as piadas grosseiras, Belarmino até poderia ser mais chegado. Se bem que, há alguns anos, ele trabalha na parte de distribuição e controle de estoque. Os oito anos de estudo serviram para que tivesse bom entendimento da escrita, e aprendesse rápido todo o processo de entrada e saída do material da loja. O serviço pesado, de carregar e descarregar mercadoria, já não lhe cabia. Apenas comandava. Mas, por mais que evitasse ficar aborrecido com as brincadeiras cruéis dos companheiros, brotava aquele incômodo recorrente quando, das conversas cruzadas, escapava o som de palavras como: mal-acabado, zé bonitinho, belzebu, belafera, zumbi…
Um dia, quis saber da mãe a razão de ser tão estranho. Perguntou: “mãe, por que eu sou tão feio?”. A mãe, sem buscar o olhar dele, respondeu: “você não é feio, só é muito parecido comigo”. Esta resposta selou tudo. Nunca mais questionou, nunca mais perdeu tempo com essa indagação. Se era parecido com a mãe, seria amado. Ele a amava, outras pessoas a amavam. A mãe também não era bonita. Tinha o mesmo rosto comprido, traços estranhos, braços exageradamente compridos, mas os olhos em nada se igualavam aos dele. Os olhos da mãe eram pacíficos, um tanto vazios, mas serenos. As mãos eram imensas. Belarmino, quando criança, ficava assustado quando via a mãe carregando oito ovos na mão. E pensava que aquela mão poderia dar conta de cobrir, por inteiro, a sua cabeça num afago. Mas nunca soube, não conseguiu medir, não havia afagos. Mesmo com toda estranheza e secura no trato, a mãe era retidão, amparo. Ele também seria.
E Belarmino amava com serenidade, um amar que o tranquilizava. Amava o velho Deodato, e também amava o patrão. Amava a primeira professora, única pessoa, além da mãe, que lhe segurou a mão. Isso quando o ensinou a desenhar as letras. Professora Izabel foi o anjo que procurou minimizar o terror que brotava no peito dos coleguinhas quando estes olhavam para Belarmino. Eles temiam aqueles olhos esbugalhados querendo saltar do rosto, entendiam como olhos de louco. Além do que viam, era o que ouviam: o filho da “oveira” é doido, cuidado com ele! Mas não era. E provar isso foi a luta de toda uma vida.
O pior acontecia quando, na época de calor inclemente, Belarmino não escapava dos surtos de piolho que se alastravam pelas cabeças da molecada da escola. No sol, as lêndeas prateavam a vasta cabeleira encaracolada do menino. E para a mãe, sem saída, só sobrava o raspar da cabeça. E doía. No couro todo ferido com as constantes picadas dos parasitas, a lâmina discorria feito lixa, deixando a pele quase em carne viva. E, como se fosse possível, Belarmino ficava ainda mais assustador. A cabeça estreita e comprida, totalmente disforme, ficava totalmente exposta, perdia o disfarce da cabeleira.
O último domingo de maio amanhece muito mais bonito que de costume. Belarmino completa sessenta e dois anos, acorda disposto. O dia merece um passeio, o sol não está forte. Olhando no espelho, percebe que o cabelo carece, urgentemente, do cuidado do Lazinho da barbearia. Aliás, em março, quando seria o combinado, declinou do compromisso. Depois disso, a quarentena chegou e a cabeleira só se agigantou. A barba, propositadamente, deixou de aparar desde que não precisou mais ir ao depósito; cuidado desnecessário, não tem compromisso que justifique o sacrifício.
Ajeita a casa, prepara o arroz e quando ele está ainda secando, desliga o fogo, embala a panela em duas folhas de jornal e guarda no forninho. Aprendeu com a mãe. Fazendo isso, o arroz ficará aquecido e totalmente cozido. Corta os tomates e a cebola, deixa a salada na geladeira. Retira a vasilha de feijão do freezer e coloca sobre a pia. Quando voltar, o almoço será finalizado num instante.
Escolhe a bermuda mais nova, a camiseta tricolor, calça chinelos, ajeita a carteira no bolso com documentos e dinheiro suficiente para, na volta, comprar um frango assado. Se encontrar… Mais uma vez, não era uma figura bonita de se olhar, ainda mais com a profusão de pelos da barba e do cabelo. Sim, era estranho, um quê de assustador.
Antes de sair, o mais importante: coloca cuidadosamente um carrinho de madeira na sacola plástica, mas não sem antes admirar a beleza do brinquedo. Perfeito!
Confere o fogão desligado, janelas fechadas, passa a chave na porta.
Hoje quer andar. Caminha em direção contrária daquela que sempre segue. E tem tanta coisa para olhar. Lugares diferentes, casas diferentes, pessoas diferentes.
Sente-se tão satisfeito, tão absolutamente em paz, que nem percebe o rosto das pessoas com as quais cruza. Se percebe, não revela. Mas nada mudou. O trocar de calçada, os olhares piedosos, os arroubos de aversão, a apreensão no desviar de corpo, o temor por um ataque. Tudo tão visível até para os menos avisados. Mas Belarmino releva. Hoje não vê. Ou não quer ver.
Depois de mais de hora caminhando, chega numa praça enorme, arborizada, entre o colégio e a igreja.
Com a sacola plástica na mão, senta-se num banco mais isolado. Há muita gente na praça, contrariando as orientações das autoridades. As gangorras não sobem e descem, não há o vaivém dos balanços. A área dos brinquedos está toda abraçada por fitas pretas e amarelas, acesso proibido. Apenas os triciclos das crianças se esbarram. Um amontoado de vozes, gargalhadas e gritos alegres das crianças. Nada de pipoca, sorvete, balões coloridos.
Apenas um menino, infringindo a regra, está na areia. Só ele. Belarmino aperta nas mãos a sacola com o brinquedo. Sente vontade enorme de, pela primeira vez, entregar um brinquedo assim, olhando para a criança. Mas teme que o menino fique assustado, que chore.
Procura um banco mais próximo dele. Precisa de tempo para tomar coragem.
Em nenhum momento percebe o olhar enviesado dos adultos. Nem se preocupa com isso. Está maravilhado. Finalmente irá entregar nas mãos de uma criança um brinquedo feito por ele. Deseja ver o sorriso, sem susto.
Sem que perceba, os adultos começam a se juntar em conversas paralelas. Ele não vê. Aos poucos, as crianças vão sendo levadas pelos pais, pelos avós… E houve quem acionasse o guarda da praça e, então, uma viatura policial chega.
Belarmino só percebe algo estranho quando a mãe, bruscamente, retira a criança da areia.
E então vê, na sua frente, o policial com uma arma apontada para o seu peito.
− Você é louco, homem? Como se atreve a chegar perto da criança? O que quer com ela?
− Não, eu não sou louco…
− Largue a sacola no chão e ergue os braços, vamos!
Desesperado, Belarmino obedece. Solta a sacola no chão e começa a erguer os braços. O pavor sem medida quase o paralisa, os braços pesam. Sente a cabeça rodar, pensa na mãe, no velho Deodato, no patrão… Quer ajuda, precisa de ajuda. Mas, ali, não tem ninguém. Atormentado, num repente, gira o corpo e tenta correr. Só ouve um tiro.
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Texto atualizado em 15/12/2020
Seu texto mexe com as nossas emoções, Regina. Como não se sentir cativado por alguém a quem nunca foi dada a chance de desabrochar? O pobre Belarmino (o nome começar por Bela foi alguma ironia?) não vivia, se escondia.
Vivia nas sombras do caminho, na escuridão das esquinas, na casa oprimida entre vizinhos hostis, e nos fundos do depósito tendo que conviver com o deboche dos colegas cruéis.
O mundo odeia o diferente e sempre julga pela pior regra possível, a da aparência.
Ao ler seu excelente texto, só não enxerguei loucura no infeliz Belarmino, porque o mundo em torno dele era que estava doente.
Beijos.
Isso mesmo. Quis mostrar a loucura em que vivemos, os loucos somos nós, que julgamos e condenamos. O desfecho com a morte pela polícia é exatamente o que acontece, uma denúncia feita pelos frequentadores da praça sem qualquer direito de defesa do Belarmino. Ele nutria um medo incontrolável por policial, imagine a confusão mental no momento em que se viu diante de um “fardado”, ainda mais com um revólver em punho, apontado pra ele! Tentou correr. O que a polícia faz?! É, menina, a loucura está na sociedade que julga, julga, julga… Abraços… Obrigada pela leitura! ❤
Olá, autor’
Um homem muito feio e muito terno e um final injusto e muito triste.
Impressões Iniciais – Uma história “de verdade” com personagem sendo construído desde a primeira linha. Um final que nãome agradou, mais me entrsiteceu e acho que para o último conto que lerei nesse desfio, eu esperava um fim acalentador.
Coesão – O texto é coeso ao construir a narrativa em torno do que a aparência muito divergente pode causar, tanto em âmbito emocional e psicológico, quanto social. É como se um mundo fosse sendo construído em torno da feiura, até o ponto de essa aparência não ser mais suportada.
Ritmo – Ótimo. Muito bem escrito e fluido. Percebi algumas explicações que sobraram, como essa: “Alguém encontra o brinquedo e uma criança ganha o presente. Claro que tem vontade de entregar nas mãos de um garoto, mas teme assustá-lo. Além de constrangedor, a criança poderia recusar o brinquedo. Nem pensar.”
Impacto – Gostei muitíssimo, apesar de o final ter me surpreendido com uma tristeza imensa.
Parabéns.
Claro que não gostei do final por expectativas previamente criadas, não porque o seu final foi ruim.
Olá, “Vizinho do Lado”.
Resumo: Belarmino é um ser fisicamente estranho para as pessoas e, desde cedo, afugenta-se. Durante a pandemia, ele poderá se voltar às atividades artesanais de construir brinquedos para crianças. Brinquedos esses que, no entanto, nunca poderão ser entregues diretamente a elas.
Comentários: um ótimo conto! Um texto muito sensível, uma construção muito boa do personagem. Talvez tenha faltado mais dinamismo e força no miolo. A condução linear que, no entanto, anda sob uma aura melancólica cumula-se devagar no final. Ali as coisas tomam mais força, mais ímpeto e, de repente, o impacto.
Eu fico dividido entre ter gostado ou não, ter achado crível ou não o tiro. A suspeição da descrença foi um tanto afetada, mas eu posso estar sendo crítico demais. O ponto é que trata-se dum conto muitíssimo bem escrito, que não carece de revisão pelo que eu me lembre, e que tem muitíssimos méritos.
Parabéns e boa sorte.
Resumo: Belarmino, um sujeito simplório que acaba morrendo por querer agradar uma criança.
Comentário: A história de Belarmino não é a história de um louco, mas de alguém socialmente indesejável, porque feio, muito feio, como a mãe. Essa é a loucura dele: ter herdado a feiura da mãe. A narrativa, muito bem conduzida, apresenta essa personagem estranha e, ao mesmo tempo, cativante. Mas que, infelizmente, é rejeitada por todos. Ele quer agradar, mas sua atitude não é aceita. Quer presentear uma criança com um carrinho de madeira, mas acaba morto pela polícia. Loucura!
Perguntou: “mãe, por que eu sou tão feio?”. A mãe, sem buscar o olhar dele, respondeu: “você não é feio, só é muito parecido comigo”, adorei essa passagem de conformismo, aliás, o tom consciente do conto, é muito bem realizado.
*Repetição: uso do como e principalmente do ‘mas’, são evitados por sinônimos e às vezes pela ausência, já que a oposição (o ‘mas’), é tema do conto – o qual foi construído de maneira antagônica, em cima da delicadeza de Belarmino ante sua aparência medonha.
Gostei da escolha do presente, realmente é tempo no qual estamos, não vi deslizes. De tão presente, me questionei sobre o uso da máscara em Belarmino (rs!).
Gostei da simplicidade, do dualismo do interno x externo, da beleza interna x feiura externa, a qual o autor toma partido ao final do conto, sentenciando que a feiura, a aparência, é o julgo da sociedade e, portanto aí reside toda a loucura. Essa tomada de partido é motivada pelo amor, pelo sentimento de Belarmino em presentear, em, finalmente, ver o singelo sorriso aprovando seus atos, o sorriso infantil, o qual puro (e até negado a ele, tadinho!). Gostei disso, é coerente.
A morte de Belarmino parece do ‘nada’, mas não é, é proveniente da ruptura do conto, tive até estranheza em aceitá-la, porém seria equivocado da minha parte.
Parabéns pelo conto é muito do bom!
Obs.: A nota final não se dará simplesmente pela soma da pontuação dos critérios estabelecidos aqui.
Resumo: Belarmino sofre ao ser tratado como louco pelas pessoas por ser muito diferente dos padrões de beleza aceitos pela sociedade.
Parágrafo inicial (2/2): início ok, que não diz muita coisa, mas que serve para despertar o interesse do leitor pelo que pode vir a seguir.
Desenvolvimento (2/2): gostei muito do conto, de poder acompanhar a vida de Belarmino, todas as dificuldades, suas perdas, a sorte de achar um patrão que o tratasse bem, de como era sua rotina e da tristeza que era ser tratado daquela forma pelas outras pessoas. Negócio triste é esse, de julgar os outros, seja pelo que for, ainda mais por esse motivo. Lembrei do Quasimodo… O texto é narrado no presente e no pretérito, quando das lembranças. Por esse motivo não fiquei triste ao final, me pareceu uma lembrança a narração do tiro, com o verbo no pretérito, e é só o que consigo pensar, espero que depois quem escreveu esse texto não tire minha esperança dizendo que sim, ele morreu. A loucura está presente no texto de forma diferente da maioria. Aqui temos a loucura de uma sociedade doente, que dissemina a falta de empatia, de gentileza, que já vai atirando, enfim, cidadãos de bem.
Personagens (2/2): Vontade de ir lá e conversar com o Belarmino, de dizer pra ele que no fim vai dar tudo certo, apesar dessa falta de empatia toda.
Revisão (1/1): na parte dos verbos no presente houve alguma troca para verbos no pretérito. Isso de escrever no presente requer muita atenção. Mas não atrapalhou em nada a leitura, de tanto que mergulhei na vida do querido Belarmino.
Gosto (3/3): Não gostei não, amei. Simples assim.
Belarmino, sujeito pacífico e resignado, já na casa dos sessenta, segue a enfrentar a rejeição social que o perseguiu durante toda a vida, por conta de sua aparência incomum. Sente-se um pouco revigorado durante o isolamento da quarentena e, no dia de seu aniversário, decide passear pelos arredores. As consequências do passeio são terríveis.
Olá, Vizinho do lado.
Seu conto acabou mexendo comigo de uma forma pessoal. Tive um Belarmino em minha vida: Zé Lito. Também um senhor de idade de aparência estranha, mas esse tinha realmente problemas mentais. Não que fosse perigoso: ao contrário, era dócil e infantilizado. Minha avó o acolheu, sempre lhe dava refeições e o ajudava de diversas formas. Eu, criança, morria de medo dele. Pela aparência estranha, os olhos esquisitos, as orelhas enormes, as unhas grossas e amareladas. Mas sobretudo sua voz me assustava. Falava de um jeito estranho, difícil de entender e tinha uma voz muito rouca, acentuada pelos muitos cigarros que consumia por dia. Sua risada era particularmente apavorante pra mim. Sempre fugia dele e o ouvia reclamar “não sei o que fiz pra esse menino ter medo de mim”.
Um pouco mais velho, ali pelos 12, passei a conseguir ficar no mesmo ambiente que ele e dizia ter perdido o medo. Mas não era totalmente verdade, algo ainda me afligia diante de sua presença, mas eu aprendera a disfarçar. Passei a vê-lo muito pouco, apenas soube da notícia de sua morte durante a adolescência. Nunca consegui dizer a ele que meu medo era bobo e ele era uma figura divertida.
Quando criança, provavelmente recusaria um brinquedo do pobre Zé Lito. 😦
Desculpa pela longa história, mas quis compartilhar minha vivência com meu próprio Belarmino, que não me saiu da cabeça durante a leitura.
Só o fato de você ter me evocado essas lembranças, mostra o quão habilidosa é sua escrita.
Mas você foi além, criou um personagem palpável, cativante e podemos sentir cada aperto que seu coração sente. Linda a cena que ele entende que, sendo parecido com a mãe, as pessoas o iriam amar também. O seu cuidado ao construir brinquedos e a forma como ele presenteia as crianças também foram imagens muito fortes, muito bem construídas.
Como ressalvas eu diria que o começo é um tanto confuso. O gerente diz para ele dar meia volta porque não vai trabalhar, então Belarmino entra na loja. Só que nesse momento não sabíamos que ele trabalhava no depósito, então soa estranho. Parece que ele está entrando no local de trabalho, não saindo. E, por não perceber essa mudança de ambiente, quando Belarmino conversa com o patrão, achei que estivesse ainda falando com o gerente. Não sei se foi só comigo esse efeito, mas fiquei meio perdidão nesse início.
Também não gostei muito do final, achei demasiada a reação das pessoas. Mas, na verdade, achei que a reação de todos à imagem de Belarmino é exagerada durante o conto inteiro. O que me fez imaginar que você subverteu o tema da loucura: a sociedade aqui é que é louca, quase caricata. É uma boa sacada. Mas senti a aderência ao tema meio fraca, em segundo plano.
E talvez eu não tenha gostado do final porque estava torcendo por Belarmino, rs.
Pequenos incômodos à parte, seu conto é excelente. Sensível, traz beleza e dor em iguais proporções e cativa o leitor. Foi uma ótima leitura.
Parabéns, seu Vizinho.
Um abraço.
Resumo📝 Belarmino passou a vida inteira sofrendo discriminação por sua aparência. Artista talentoso, tem um sonho de entregar um brinquedo em mãos a uma criança. Acaba encontrando a morte nessa tentativa.
Gostei 😃👍 Ah, que conto difícil…Novamente uma história que trás um personagem muito real e cotidiano de nossas vidas. Quem nunca viu um Belarmino passar pela rua e teve essas reações que as pessoas têm com ele? Esse preconceito, essa crueldade com quem é diferente, incompreendido. É um texto muito bem escrito, pensado e executado. Impossível não sentir empatia por esse personagem, não sentir tristeza pela vida de dor e privação de amor que ele teve. Eu já sabia que seria um final trágico, ainda assim senti o impacto. O mais triste é que isso é tão comum… Um pessoa boa e talentosa desperdiçada. É assustador pensar em quantos Belarminos existem por aí. Não há o que dizer sobre esse conto, apenas que é cruel, real e belíssimo. E vem aquela reflexão difícil, quantas vezes eu, nós não fomos esse olhar cruel para alguém? Parabéns!
Não gostei 😐👎 O final pode ser sim considerado apelativo, uso daquela fórmula mágica e conhecida para arrebatar o leitor. Mas… não sei, a construção antes dele foi tão bem feita que retiro o meu ‘’ não gostei’’. Parabéns!
O conto em emoji : 👤🚂❌😔
Você é um autor sensível, Vizinho, nota-se em todas as linhas do seu conto. É tudo medido, tudo bem delineado, muito bem construído e com uma humanidade gigante. O meu problema com o conto, afinal, é que o enredo é apelativo demais.
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Ele é construído para emocionar. Todas as técnicas, todas as frases comedidas, todo o direcionamento, tudo, ao meu ver, é direcionado para o final. Quando ele acordou e teve aquela sensação de leveza, pra mim ficou claro que alguma tragédia viria. É o grande clichê desse tipo de narrativa. A pessoa acorda leve e solta, feliz, querendo aproveitar o dia, tudo parece maravilhoso, até que algo dá errado. A construção antes dessa tragédia, sua relação com o empregador, cujo a admiração sobrepõe tudo, a rejeição subliminar que recebe dos colegas de trabalho que o entristece, o desejo de ser amado, ser admirado pelo que faz, pelos brinquedos que cria habilmente; enfim, tudo é criado estrategicamente para ligar o leitor ao personagem. Empatia, sabe? Quando nos ligamos ao personagem, sentimos por ele. Aí está o grande mal do conto: a imposição da emoção. Eu gosto de me emocionar com as histórias, Vizinho, mas somente se for natural. Não gosto de filmes, livros, seja o que for, que força uma situação. Eu crio um repulsa natural. Claro, é uma técnica válida, usada ao cansaço nos bluckbusters, por isso mesmo são tão populares. E tudo usá-la. Mas, pela sua narrativa, eu diria que seu potencial acaba sendo disfarçado com técnicas tão fracas e preguiçosas. Você conseguiria fazer muito melhor, Vizinho, sem forçar nada. Tenho certeza disso.
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O argumento do tema é um pouco frágil. É válido a discussão sobre o que é a loucura. Se é, afinal das contas, um julgamento social ou uma condição física e irrefutável. Pode ser um pouco dos dois, ou somente um dos dois, etc. Mas o foco do conto é outro. A loucura fica no plano de fundo, a acusação dos outros existe parece existir para justificar a tragédia do final, ao meu ver. Ao meu ver, teve, sim, uma sutil crítica social, sobre como tratamos os diferentes, aqueles que não se encaixam ao padrão, mas poderíamos trocar o maluco por psicopata, por monstro, que daria na mesma. O conto continuaria sólido em sua proposta. Monstro, na realidade, convenceria mais do que o louco, pra mim.
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Enfim, esse tipo de enredo acaba de desagradando muito, ao menos ultimamente. Estou cansado dessa estagnação nas histórias, essa preguiça dos autores, sempre apostando no certo, sem arriscar. Entonces, eu criei esse afastamento natural. Mas, como você mesmo sabe, é um escritor nato. É seguro de si, sabe o que faz, então não acredito que foi um conto criado na base da ignorância. Você sabia muito bem o que estava fazendo. Isso é ótimo. Precisamos de escritores assim. Seria bom se optasse por desenvolver histórias mais complexas e naturais, sem tanta apelação, mas tudo bem se não quiser. Temos que fazer o que nos realiza, não é?
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Parabéns pelo ótimo texto!
Resumo: A trágica história de Belarmino. Um homem abandonado e julgado não só pela sua aparência.
Que texto…Que perfeição. Belarmino é o retrato de muitos. É a perfeita combinação de real e fictício. Pensamos que essas situações, como as vivenciadas por Belarmino acontecem longe dos nossos olhos. Elas estão mais próximas do que imaginamos. Um homem triste, solitário, cheio de dons, vitima de uma personalidade cativa. Por essa razão não teve outra condição se não viver conforme a vida lhe permitiu. Acabou julgado pelas ações de pessoas de coração maldoso.
Por alguma razão o texto me lembrou um pouco a história do corcunda de notre dame. Acredito que tenha suas similaridades.
O tipo de transtorno descrito no texto é causado e não ocasionado por condições próprias, hereditarias ou fisiologicas. Infelizmente, o opersonagem não pode ter um final feliz como desejei ao longo do texto.
Boa Sorte autor.
Belarmino do Depósito (Vizinho do lado)
Resumo:
A história de Belarmino, homem solitário, que, pela aparência “de louco”, enfrenta a rejeição social durante uma vida.
Comentário:
Texto melancólico que conta a vida de uma pessoa feia, com aspecto anormal – fora do padrão, e que, lutando contra o preconceito, procura não se deixar contaminar por revolta, tentando seguir o exemplo daqueles que lhe foram caros.
Narrativa suave, tudo é contado sem querer incitar ódio no leitor. O texto quer despertar reflexão, mostrar que nada pode ser “visto” apenas com os olhos. O amor envolve o contexto. A loucura pode não estar no outro, pode estar em nossas ações, no julgamento compulsivo, no “suspeitar”…
Alguns deslizes na pontuação, uma leve revisão ajeita o texto.
Parabéns, Vizinho do Lado!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
RESUMO: a história de Belarmino, um trabalhador idoso, quase patrimônio da empresa, e que foi relegado a trabalhar no depósito por ser muito feio. Com a pandemia, o filho de seu antigo patrão o libera para ficar em casa, pois é do grupo de risco. Como sua vida não tem mais nada de interessante, e ele não sabe o que fazer para relaxar além de construir carrinhos de brinquedo, vai até um parque para entregar a uma criança qualquer, o que o faz ser visto como pedófilo e morto.
IMPRESSÕES: um dos contos mais marcantes deste desafio, no qual o autor soube delinear o perfil do protagonista e colocar o absurdo de sua vida e sua morte na perspectiva da pandemia em que vivemos. Na parte técnica, a narrativa é bem desenvolvida, gostei particularmente das descrições e análise do narrador, mais do que do diálogo inicial. Boa sorte no desafio!
RESUMO: Belarmino é um homem de dura aparência física. Vemos um pouco sua trajetória de vida.
COMENTÁRIO: O conto é baseado na comoção e simpatia pelo excluído.
Com uma narrativa ágil e fluída, o conto é bem sucedido ao captar a minha atenção como autor e prendê-la até o fim.
O enredo é simples, sem grandes reviravoltas ou fatos memoráveis, praticamente uma linha reta do início ao fim, o que tornaria a leitura enfadonha, não fosse o carisma do personagem e a capacidade do texto de nos fazer simpatizar com ele.
O personagem é a alma, o coração e o corpo do texto. Não é original, o tema do “feio de bom coração” já foi exaustivamente utilizado, mas aqui, mesmo não trazendo nenhum aspecto novo, ainda consegue nos comover e prender á história, credito isso à habilidade narrativa do autor.
O final é o trágico fim que costuma vir em histórias como essa. O que entristece e revolta. Minha maior ressalva ao conto é não ter sentido aqui o tema do certame: loucura. Talvez esteja implícito na sociedade que o trata como um monstro sem conhecê-lo. Caso a loucura esteja no próprio Belarmino, não consegui discernir, me pareceu perfeitamente são, mais que a maioria das pessoas, inclusive.
Um grande abraço!
RESUMO:
A história de um personagem que é discriminado em função de sua aparência.
ABERTURA:
Gostei da abertura. Bem escrita, já traz o tom da história que virá a seguir e conseguiu despertar meu interesse logo nas primeiras linhas pela qualidade da construção do parágrafo.
DESENVOLVIMENTO:
O conto apela para a comoção e o autor é eficiente nisso. Cria personagens quase palpáveis e não perde a mão a colocá-los dentro de uma narrativa dramática e envolvente. A história traz arquétipos sociais que pedem a nossa atenção: o preconceito, o julgar o livro pela capa, a falta de conteúdo humano nas relações etc. Tudo inserido numa atmosfera também desenvolvida com capricho pelo autor.
DESFECHO
Desfecho que fluiu para o único fim possível dentro da narrativa criada pelo autor. Seguiu a linha da sensibilidade e da dramaticidade que a história exigiu. Um bom conto. Boa sorte.
Resumo
Homem idoso é dispensado de seu trabalho por conta da pandemia e resolve dedicar seu tempo à construção de carrinhos de madeira que dá às crianças. A sociedade o rejeita e o julga por sua aparência.
Comentário
Seu conto é bonito, sensível, bem escrito. Traz uma reflexão importante sobre as aparências, sobre o julgamento que fazemos das pessoas.
Um texto triste, melancólico, que traz crueldade, mas que também apresenta a benevolência e o amor de Belarmino pelas crianças e do senhor Deodato para com ele. Mostrando que há pessoas de bom coração também.
Talvez você tenha se detido muito em alguns detalhes que criaram uma expectativa em mim como leitora, mas que no fim se mostraram apenas detalhes mesmo, como a relação dele com o gerente, .
No início, a sua opção por trazer de uma só vez o gerente e o patrão causou certa estranheza… pensei se tratar da mesma pessoa em uma primeira leitura.
Gostei bastante do final, ele acreditando poder entregar o carrinho à criança e sendo abordado pela polícia. Uma cena muito triste, tocante.
Na minha opinião, faltou trabalhar melhor a loucura. O tema apareceu, mas foi pouco explorado.
Parabéns pelo texto.
Resumo: Senhor idoso, trabalhando numa loja, é dispensado por causa da pandemia. Em casa ele fabrica brinquedos para dar a crianças. Como é uma pessoa feia e desengonçada, foi confundido com um psicopata e alvejado por um policial.
Comentário: Achei um bom conto. Personagem marcante, as descrições de sua vida foram interessantes. A personalidade boa e bonita, em contraste com sua aparência, foi bem executada, dando plasticidade ao argumento. É uma mensagem mostrando que não podemos julgar uma pessoa por sua aparência física.
RESUMO: Acompanhamos a vida de Belarmino que, sendo muito feio, tem problemas sociais desde a infância. Carrega consigo o asco e o afastamento de todos ao redor até a velhice, quando aprendeu a fazer carrinhos de brinquedo para dar anonimamente para as crianças da vizinhança. Quando toma coragem de dar de presente um carrinho pessoalmente pela primeira vez, é confundido com um pedófilo e morre a tiros da polícia.
O conto foca no dia a dia sofrido de Belarmino, em todos os problemas que enfrenta com a sua péssima aparência física e em seu sofrimento sem cabimento. O objetivo, para mim, foi explorar este costume natural que toda a sociedade tem de julgar muitos pela aparência. Berlarmino sempre foi considerado louco mesmo nunca tendo demonstrado ser: apenas por sua aparência feia.
O problema para mim foi que o conto se alongou demais na desrição de Belarmino e seu sofrimento. Basicamente temos um ato inicial de poucos parágrafos onde seu chefe o libera graças ao COVID-19, então todo um corpo longuíssimo com descrições detalhadas do presente e passado de Belarmino, e finalmente um desfecho com mais alguns curtos parágrafos. Praticamente nada acontece no meio. Apesar de este trecho servir para construir o personagem de Belarmino, acredito que se estendeu mais do que deveria. Apesar disso, gostei da abordagem de “loucura”. Gosto quando um escritor busca explorar o tema do desafio de outros ângulos e seu conto foi um destes casos: Belarmino não era louco, mas era julgado louco por todos ao redor apenas por sua aparência. Um tapa e tanto na cara da sociedade.
Uma nota quanto a história: entendo que nossa polícia não é lá das melhores, mas abordar um senhor de idade desarmado com ameça de força letal? E aí ATIRAR nele pelas costas por que ele fugiu? De novo: um senhor de idade desarmado? Mesmo nas ficções mais distópicas, achei bastante exagerado, rs.
Sua escrita é bem boa. Gostosa de ler, com uma boa variação de vocabulário e palavras bem colocadas. Infelizmente costumo me incomodar com a escolha da narrativa no tempo presente. QUASE SEMPRE vejo problemas em quem tenta escrever no presente. Por exemplo, olhe o trecho a seguir:
“Caminhando em direção de casa, sentia novo ânimo. Teria dias e dias para trabalhar com seus carrinhos de brinquedo. Para estimular a sua intenção, avista ripas de madeira descartadas na lixeira da floricultura, do outro lado da rua. Não pestaneja, cruza o asfalto e junta a quantidade que cabe nos imensos braços. Com isso, o estoque de matéria prima estaria reforçado.”
Temos “sentia”, que é verbo conjugado no pretérito, seguido de “avista”, que é verbo conjugado no presente, para no final termos um “estaria”, que é verbo conjugado no futuro do pretérito. Isso para mim machuca muito a leitura e acontece algumas vezes no conto. Outro exemplo:
“O último domingo de maio amanheceu muito mais bonito que de costume. Belarmino completa sessenta e dois anos, acorda disposto.”
Se o domingo “amanheceu”, Belarmino “completou”. Se Belarmino “completa”, o domingo “amanhece”, certo?
Enfim, não vejo problema em escolher a narrativa no presente mas geralmente isso exige o triplo de atenção na escrita por quê acredito que nossa tendência é escrever no pretérito =)
Olá, Contista,
Tudo bem?
Resumo – A dor do preconceito durante toda uma vida.
Minhas Impressões:
Escrito em tempo presente, este conto traz a triste e bela história de um protagonista que passa toda sua vida sob o olhar do julgamento social. Aquilo que convencionou-se feio é também considerado, às vezes mesmo sem querer, como perigoso, culpado. Assim, a narrativa no presente, de certo modo, aperta o parafuso deste olhar ao sugerir ao leitor que este tempo é hoje, aqui e agora. Hoje julgamos, hoje temos preconceito, hoje condenamos sem direito à defesa. O protagonista é fruto real de nossa sociedade.
Interessante notar que, embora trate de um tema forte e até pesado, o conto é conduzido de modo leve e, embora escrito em terceira pessoa, coloca o foco narrativo sob o ponto de vista do bom homem, que segue sua vida, alheio a suas mazelas.
O conto me remeteu ao maravilhoso “À Espera de um Milagre” – dirigido e roteirizado por Frank Darabont, com base no livro homônimo do mestre Stephen King. Aqui, porém, o personagem não faz milagres. Ou melhor, até os faria, se as pessoas aceitassem seus brinquedos, não é?
Se posso fazer uma pequena observação que em nada fere a integridade de seu conto, para esta leitora aqui, a última frase, escrita no pretérito, causou certo estranhamento. Se o conto vinha no presente e se a escolha do autor foi a de usar pretérito apenas nas recordações do personagem, então, com este arremate no pretérito, o leitor imaginará que, igualmente, a última sentença se trate de uma recordação. Só agora, comentando, dou-me conta de que o protagonista pode estar vivo. Seria a mão misericordiosa do(a) autor(a) poupando seu personagem tão sofrido?
Parabéns por seu lindo trabalho.
Como digo a todos, se minhas impressões erram o alvo de seu belo trabalho, desconsidere-as.
Muita sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Ei, Vizinho do Lado, você me traz a história de um homem extremamente feio e que por isto é rejeitado. Um homem bom e simples, mas do qual as pessoas sentem medo. Uma história tocante que me trouxe emoção. Gostei da maneira como você foi me apresentando o personagem. Isto enriqueceu a percepção que, como leitor, eu tive dele. O conto está bem construído e você apresenta um domínio bem legal do nosso idioma. Além do que, como já lhe disse, me traz emoção ao lê-lo. Gostei da história, gostei da maneira de narrar, gostei do cuidado que teve com a escrita. Parabéns, Vizinho do lado. Meu abraço e que seu sucesso no desafio seja bem grande.
Olá, Vizinho.
Conto sobre Belarmino, um homem já idoso que trabalhou a vida toda para uma família em um depósito. Feio, cresceu observando a reação da sociedade à sua aparência. Tornou-se arisco, afastado, e quando resolveu externar a boa vontade, foi entendido como pedófilo e morto a tiros pela polícia.
Um enredo melancólico e triste que se adequa à realidade de muitas pessoas, feias ou não. Me parece um retrato da depressão, um paralelo criado à imagem de uma pessoa que quer, que tenta, mas que esbarra em uma impossibilidade nata, auto imposta de forma inconsciente, aqui espelhada na feiura do personagem.
O texto está muito bem escrito com alguns poucos deslizes nos diálogos do começo do texto (notei algumas vírgulas faltantes), mas que não atrapalham a leitura. Belarmino foi criado de forma muito cuidadosa, e alguns detalhes são dignos de nota (“Mesmo com toda estranheza e secura no trato, a mãe era retidão, amparo. Ele também seria”).
Aqui a loucura é tratada como imposição da sociedade. Belarmino, ressabiado, feio, recluso, é descrito como louco por aqueles que não o entendem, não o conhecem. É o “louco da aldeia”, como meu pai dizia. O cara estranho, que era alvo das brincadeiras maldosas das crianças. É uma abordagem totalmente válida ao tema do desafio.
É isso. Boa sorte no desafio!
Resumo: Belarmino, um idoso que trabalha para um amigo da família, é dispensado por conta da pandemia; em um dia qualquer, muda seu itinerário costumeiro e acaba passando por uma praça, ao abordar uma criança é surpreendido por um policial que acaba o baleando.
Olá, autor, parabéns pelo texto! Um exímio trabalho, esse é um daqueles contos que aquece o coração, onde pensamos: como o EC é um chamariz de gente boa. Gostei de tudo, do enredo, do Belarmino, do retrato da quarentena, etc. Você escreve muito bem, as imagens são muito bem criadas, eu enxerguei perfeitamente a cena da personagem preparando o almoço; a descrição da cena final também ficou ótima, principalmente quando nos mostra a reação das pessoas na praça em contraponto a Belarmino que nada percebe. Incrível mesmo, boa sorte!
RESUMO
Belarmino sofre discriminação por causa do seu aspecto físico. Leva uma vida pacata, até que a pandemia avança e por ser já idoso, Belarmino é afastado do trabalho. Começa então a trabalhar com madeira e faz brinquedos, fica satisfeito com o resultado e quer dar um brinquedo a criança. Em um parque, aproxima-se entusiasmado de um menino, mas as pessoas a volta o veem como uma ameaça. Mal interpretado, é baleado por um policial.
AVALIAÇÃO
Conto muito bem escrito que transborda sensibilidade e beleza. Há o olhar poético para o personagem que apresenta a pureza de uma criança, mas é rechaçado pela sua aparência.
Um recorte do cotidiano, trabalhado com maestria. O personagem é muito bem construído e provoca imediata empatia.
O ritmo do conto é bastante adequado ao enredo desenvolvido. A leitura flui fácil, e é de fato um prazer ler cada linha deste texto. Apesar de triste, o final traz uma beleza melancólica, um impacto causado pela retratação de uma realidade que apesar de parecer loucura, não é rara.
Boa sorte e que Belarmino possa entregar brinquedos aos anjos.
Belarmino é feio demais e discriminado. Idoso é afastado do serviço por conta da pandemia. Quer presentear um garoto com o brinquedo que ele mesmo confeccionou. Ao se aproximar, é confundido com um louco e recebe um tiro do policial.
Leitura fluida e interessante; texto pungente de ritmo lento, bem estruturado, sem equívocos gramaticais; assunto sensível e forte; personagem cativante. E, um patrão “politicamente correto”.
O texto é simples, mas criativo, e mantém o carisma, a capacidade de ser verdadeiro, espontâneo e sincero; mas, talvez para mim, previsível, lembrando-me de obras como “O Fantasma da Ópera” ou “O Corcunda de Notre-Dame”. Desde o início, senti que teríamos um monstro sensível e que a loucura não seria do protagonista e, sim, das pessoas que desenvolviam medo pelo estranho, pelo diferente. Final impactante: a inocência e doçura do feio X o preconceito, a violência.
Bom trabalho. Sorte no desafio! Abraço.
Resumo: a história de belarmino e como suas características físicas foram o estopim para o preconceito e a solidão que o perseguiram por toda vida.
Olá, caro autor.
Eu adorei o seu conto. É bonito, é bem amarrado, não deixa nada pra trás. Senti uma empatia tremenda por belarmino, que tristeza essa vida. Seu texto me fez no quanto deve ser triste e solitária a vida de pessoas assim, e que se torna ainda mais desolador quando vemos a pessoa que o personagem é, humilde, trabalhador, sonhador, apesar de tudo. Um bom homem fadado ai eterno julgo daqueles que não tem moral nenhuma pra julgar os outros.
A loucura ficou um pouco longe, não achei que teve muito disso aqui, por mais que exista a menção de que visto de fora ele era um louco, é só um acessório pra história da vida dele. E nessa vida podemos perceber que a questão física causava mais repulsa do que a mental, ainda que uma estivesse atrelada a outra.
De qualquer forma, é um texto excelente, cara! Parabéns pelo belíssimo trabalho e boa sorte!
Resumo: Belarmino é tratado como louco e perigoso só por sua aparência, e morre (?), tentando entregar o brinquedo que fez para uma criança.
Olá, Vizinho!
Que conto maravilhoso! Me emocionou de verdade! Que tristeza, que realidade horrível a de um homem tão bom e tão pacífico que só queira um pouco de afeição e dignidade, mas o preconceito, a superficialidade das pessoas, excluiu completamente do convívio.
Está muito bem escrito, ambientado, os personagens profundos e verossímeis, uma história que pode muito bem, infelizmente, ser real. O medo do estranho , do desconhecido, quase sempre faz vítimas inocentes.
Como já disse, parabéns pelo conto maravilhoso! Espero ver no pódio!
Boa sorte!
Até mais!
Olá, Autor.
Resumo: Belarmino é um homem diferente, disforme, feio, uma figura perturbadora e por todos estes motivos é, desde sempre, votado ao ostracismo por toda a sociedade, teve, apesar de tudo, a sorte de conhecer o Sr. Deodato que lhe ofereceu trabalho quando a mãe morreu. Condenado à solidão, Belarmino dedicou-se ao seu trabalho e passatempo, fazer brinquedos de madeira. No dia em que conseguiu tomar coragem para se aproximar de uma criança para lhe oferecer um carrinho feito por si, foi tomado por pedófilo e morto a tiro pela polícia.
Comentário: Um conto maravilhoso e maravilhosamente escrito e conduzido. Uma história extremamente triste, pintada com traço de artista, um autor que sabe puxar a emoção sem exagero e usando de extrema sensibilidade e segue uma técnica narrativa perfeita e adequada ao que pretende contar e, neste caso, usa de uma lentidão compassada que permite que o leitor se vá aproximando devagarinho, criando uma ligação com Belarmino, com o seu mundo, o seu quotidiano, a sua bonomia, a sua pureza.
Nada disso impede que a lente do autor denuncie a exclusão a que são votados todos aqueles que não são conformes ao protótipo socialmente aceite, a crueldade da ditadura imposta pelo preconceito que se instala desde a mais tenra infância e que se faz presente logo ao olhar.
“Somos o que parecemos.” Assim somos criados e cultivados e mais tarde aproveitados por toda uma máquina que nos consome, enquanto a vida passa.
Achei o final perfeito, consegui imaginar a cena, quase como uma recordação de algo que (ainda bem) nunca assisti, mas acontece cada dia e em toda a parte.
Obrigada pela leitura.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Boa tarde!
Belarmino é um homem feio e estranho, excluído pela sociedade por estar fora dos padrões. Trabalha, tem seu hobbie e segue sua vida como qualquer um, mas tem seu fim trágico pelo preconceito das pessoas.
Um conto muito bonito e bem escrito, sendo desenvolvido aos poucos e sem pontas soltas. Somos apresentados ao protagonista, Belarmino, que provavelmente possui alguma doença genética (devido a mãe também ser assim) que ocasionou algumas deformidades no corpo. Ele é tido como feio, desengonçado e estranho. Nesse sentido, o texto utiliza muito do arquétipo (digamos assim) do monstro sensível: apesar de todo o seu exterior, ele é sensível por dentro, cria carrinhos de brinquedos, é um artesão e sonha o dia que poderá entregá-los pessoalmente às crianças. É uma personagem bastante presente no imaginário literário, desde o Quasimodo ao monstro do Frankenstein.
E o conto também aborda várias questões sociais e que estão em alta. A pandemia e o coronavírus é evidente, mas também tem aí questões como o preconceito social e racial, o medo (e o ataque) ao desconhecido, até mesmo a cena final, que achei emblemática. É uma situação que acontece aos montes pelo nosso país. Quantas pessoas não foram assassinadas simplesmente porque não estão dentro dos padrões? Ou que estavam segurando um guarda-chuva nas mãos? Também é interessante comentar essa associação que fazemos ao feio, ao estranho ou fora do padrão como algo negativo, ruim, que fará algum mal (como Belarmino). Em relação ao tema do desafio, confesso que também não visualizei muito e não quis forçar que o conto entrasse nele, como uma visão da sociedade sobre os loucos excluídos ou algo assim. Apesar disso, o conto é ótimo e ganha pontos por nos permitir essa leitura em camadas e novas interpretações.
RESUMO: Belarmino carrega a sina de ter que se explicar como uma pessoa “sã” frente a um conjunto de preconceitos que enfrenta devido à sua aparência. Paralelo a isso, quer presenciar a felicidade que pode resultar do seu hobby. No dia em que finalmente toma coragem para fazer esse belo gesto, esquece-se do quão grotescas podem ser as pessoas. A polícia chega, o tiro ressoa.
COMENTÁRIO: Mais um conto que trabalha o tema a partir da “não-loucura”, isto é: aquele comportamento que é chamado de loucura pela sociedade, mas que não é de forma alguma um diagnóstico, sendo apenas o duro estigma. Centralizado na perspectiva do personagem, o conto se equilibra bem entre contar a sua estória e nos mostrar o que faz do seu cotidiano em quarentena, nos aproximando do protagonista e nos fazendo realmente sentir a dor de uma existência solitária e estigmatizada. O desfecho é interessante, pois mostra que, ao passar algum tempo sozinho, Belarmino perde a ojeriza de si mesmo, então quando sai para entregar o presente manufaturado, esquece-se que pode até mesmo correr perigo. Ou seja, o contato cotidiano com a sociedade o inibe a um ponto em que se afastar apenas um pouco o faz finalmente ter a coragem para algo que havia evitado durante toda a vida. É um conto bonito, que peca um pouco no ritmo, explorando os pormenores da infância e do cotidiano do personagem, mas que no final consegue entregar uma situação que se amarra a tudo que vinha sendo apresentando antes, entregando um desfecho satisfatório.
Olá. Gostei bastante do seu conto que narra a história de um homem solitário, vítima de preconceito por causa do seu aspecto físico, pelo qual ele tenta isolar-se. Durante a pandemia, é enviado para casa pelo patrão. Ali ele pode dedicar-se ao seu hobby, que é a construção de brinquedos de madeira. Este será também o seu fim, num desfecho dramático.
Aqui a loucura não se centra na personagem principal, mas na sociedade que não aceita aqueles que saem dos padrões. Não duvido que outros comentadores vejam nisso um defeito, eu vejo uma qualidade. Todo o conto é feito de forma elegante, desde a caracterização física à caracterização psicológica. Até a caracterização dos espaços e das personagens secundárias é feita com bastante competência, não prejudicando a fluidez do texto, algo que demonstra a maturidade literária do autor ou autora. Parabéns.
Homem feio e estranho, embora possua um coração generoso, é julgado por sua aparência o que acaba o levando a um final trágico.
Personagem interessante e narrativa bem tensionada tornaram a leitura agradável.
O ritmo mais lento combinou bem com a descrição do personagem apresentada de forma fragmentada fazendo com que o leitor o vá arredondando e a ele se afeiçoando aos poucos, ao ritmo da leitura. A estratégia funcionou perfeitamente comigo.
O texto merece uma revisão atenta sobretudo da harmonização verbal.
O que não gostei: para o meu gosto, a mão pesou um pouco no sentimentalismo. Mas não se preocupe porque o que me desagradou tem grande chance, creio, de agradar a maioria dos leitores por aqui.
O que gostei: da forma como abordou o tema. A loucura julgada por quem está de fora. Achei brilhante. Fiquei com uma invejinha
Um bom conto. Desejo sorte do desafio. Grande abraço.
Resumo:
Um homem discriminado por ser diferente é morto ao tentar entregar um carrinho,feito por ele, a uma criança.
Comentário:
Belarmino e um querido, boa gente, trabalhador e, por cima, gosta de fabricar carrinhos de madeira que dependura nas árvores para que as crianças os peguem.
Seu conto é bem escrito, flui levemente.
O tema é bom, porém a loucura, para mim, ficou a desejar. Ainda assim, gostei muito e vou torcer para que você tenha uma ótima pontuação.
A trajetória dramática de um homem feio e solitário que tem por hobby a fabricação de brinquedos.
Adorei este conto. Tem tudo o que eu gosto: o tom melancólico, o personagem que nos comove, o encerramento que vem como uma bomba – ou um tiro. Bem construído, com um ritmo lento, boa ambientação, descrições primorosas. Nada sobra; até mesmo a primeira menção à viatura da polícia, aparentemente só jogada ali, veio explicar sua reação impensada ao final. Maravilhoso.
Só não vi a loucura em lugar nenhum, mas gostei tanto do resto que isso é o de menos!
Tecnicamente, só notei a falta na vírgula em alguns vocativos (“− Entra Belarmino, senta…”; “Vamos obedecer, não é meu velho amigo?”). Já o início me pareceu truncado e tive dificuldades em entender o que estava acontecendo: se o patrão se dirigiu a Belarmino assim que ele chegou, por que o funcionário pede licença para entrar no escritório, e o patrão o convida a entrar? Foi uma cena que não consegui visualizar; pareceu haver ali um erro de continuidade. Mas o resto do conto é, na minha opinião, impecável. Ao menos para mim é um grande candidato ao pódio.
Parabéns pelo lindo texto e boa sorte no desafio!
Lendo uma segunda vez, percebi que falei besteira: o gerente é uma pessoa e o patrão é outra, dãã! Olha o perigo da pessoa fazer a leitura quando não dormiu direito! Desculpe, Vizinho, por esta falha besta minha! 🙂
Queria também complementar que achei curiosa a crítica de alguns sobre a reação da polícia parecer exagerada! A mim foi perfeita: se a polícia atira às vezes até em quem está parado, imagine se não atirariam em quem eles julgam ser pedófilo em fuga!
Parabéns mais uma vez!
Resumo : Belarmino é um idoso que está temporariamente afastado do trabalho por conta da quarentena. Ele é extremamente só porque sua aparência física causa espantamento. No desfecho é morto por um policial que pensa que nosso herói é um pedófilo.
Comentário : De alguma forma somos todos Belarmino. As pessoas nos julgam pelo que somos por fora sem tentar compreender o que somos por dentro. Belarmino é uma pessoa extraordinária que só busca amor e aceitação. Esse conto é marcante e sempre o levarei comigo em minha memória. Parabéns escritor ou escritora. É comum vermos protagonistas extremamente belos em uma espécie de romantismo moderno mas o feio também pode ser belo e esse conto reflete bem isso.
Resumo: Belarmino é empregado numa casa de material de construção. Devido a pandemia, toma seu tempo nas atividades domésticas e na feitura de brinquedos, ofício que lhe dá verdadeiro prazer. Convicto a fazer contato com uma criança no intuito de presenteá-la, as consequências de seus atos selam seu destino de maneira trágica.
Comentário: Ritmo moroso, no tempo do personagem e seus hábitos, resignados e pacíficos. A loucura é inexistente no protagonista, mas está no julgamento que fazem dele, impiedosamente, muito pela sua aparência física. Há uma reclusão em Belarmino, que representa quase uma figura eremítica e incompreendida, sendo que toda benevolência que para ele é destinada deriva-se de pena. Triste e belo na singeleza de fazer brinquedos, mesmo velho. Me lembrou figuras da literatura como o corcunda Quasímodo, entre outros que convivem com a feiura e a sensibilidade, a criatividade artística com a monstruosidade de sua forma.
O final do conto foi duro para com o leitor, sem redenção. Não duvido do que a polícia possa fazer em seu descontrole, mas achei o tiro exagerado, porém, encerrou o conto com uma nota triste definitiva. Reconheci Belarmino em pessoas da minha infância, assim como no texto da Maria Mulamba.
Parabéns e boa sorte no desafio!
Resumo : Belarmino sofre por ser muito feio, as pessoas se afastam dele. É um homem extremamente solitário mas muito bondoso. Faz brinquedos de madeira para as crianças e deixa perto de escolas e praças para que elas encontrem, seu maior desejo é entregar diretamente para uma criança para ver o sorriso dela. No final do conto se senta perto de uma criança para criar coragem de entregar o brinquedo, mas pensam que ele é um pedófilo e chamam a polícia, assustado Belarmino tenta correr e leva um tiro.
Comentário : A loucura do texto está no fato de excluir Belarmino da sociedade apenas por ele ser feio. As pessoas não conseguem entender que ele pode ser uma pessoa maravilhosa, nem tentam descobrir, preferem ficar trancadas em seu preconceito e excluir Belarmino.
Narrativa da vida um homem simples, solitário e bondoso, marginalizado por sua feiura e estranheza desde criança. Já idoso é assassinado pela polícia confundido como um pedófilo.
Vizinho do lado, seu conto é suave, delicado e sensível. Em uma narrativa sem pressa, detalhista, mostra o protagonista em sua essência e aparência, esta última razão (louca razão) para que a maioria das pessoas o encarem como ameaça.
Para ler seu conto, é preciso primeiro serenar o coração apressado nosso de cada dia. Geralmente desejamos a situação pronta, a imagem instantânea de uma situação, quando, para ela se mostrar bela, precisa ser lentamente erigida.
O contraste presente entre o interior e o exterior da personagem, sua beleza de alma e feiura de corpo realça a impressão que boa parte de nós tem: a aparência, se está conforme os padrões estabelecidos, o que é esperado, o que é exigido. Como é fácil marginalizarmos e repudiarmos o estranho a nós, sem ao menos olharmos uma segunda vez para analisar a quintessência.
O protagonista tinha tudo para ser exatamente o que viam dele, porém ele não negou sua natureza. Isso é impressionante. Acontece, mas geralmente não somos testemunha dessa… beleza!
Acredito que faltaram mais palavras no limite permitido ao conto para você detalhar melhor o desfecho , mais demorada e gradualmente a situação limite que culminou em um tiro. Óbvio que a aversão da comunidade ao protagonista foi dito ao longo do texto; porém talvez o conto tivesse sido fechado melhor caso a cena final fosse mais descrita.
A loucura nesse enredo está muito sublinear em virtude que ela é difusa, como um perfume. Está presente sempre… e só as brisas (ou tempestades…) como a presença de alguém diferente do que é desejado pode fazer a fazem visíveis e palpáveis.
Autor(a), lindo conto! Aquele que dói o coração, aperta, e deixa um engasgo na garganta. Se era essa sua intenção… conseguiu.
(não faça isso comigo – ainda não fiz o meu check-up).
Resumo:
Homem peleja com a vida difícil que leva. Mal diagramado, sua feiura espanta, leva-o à solidão. Ao final é punido com a morte. O que é estranho precisa ser exterminado.
Comentário:
Conto tocante. Gostei do modo como o personagem foi construído, pouco a pouco, tijolo por tijolo, montando a sua personalidade dócil, sua falta de beleza, no motivo que acabaria por matá-lo.
O conto fala de muitos males. Um deles, o eterno bullying dando seus resultados ruins, levando à solidão, ao desespero – que foi bem contornado pelo nosso protagonista.
Há uma frase – na verdade um diálogo – bastante exemplar, que é quando Belarmino pergunta à mãe por que é tão feio e ela diz que ele não é feio, é apenas parecido com ela. Uma linda transferência de amor. Se é como a mãe, não é possível que seja tão feio como imagina. Muito legal.
Durante todo o tempo de leitura, fiquei imaginando que, em algum momento, a loucura – ou algo parecido – se sublevaria. Interessante saber que a loucura não estava em Belarmino, mas no seu entorno que, de um homem feio, tornou-se um monstro.
Compreendo que o conto cumpra o requisito pelo viés expresso ao final. Na loucura subjetiva expressa pelos atos de pais e do policial que, tão feio que era Belarmino, lhe pareceu razoável meter nele um tiro, como se fosse um animal.
Boa sorte no desafio.
Parabéns pelo conto, camarada.
A tentativa de construir um cenário de loucura condizente à proposta do concurso foi meio superficial e um tanto exagerada. A morte do Berlamino reflete uma loucura da parte de quem a comete, mas tal proposta não é desenvolvida previamente, simplemente acontece.
No mais, faltou dinamismo na narrativa.
Resumo:
Homem estranho é confundido com um pedófilo.
Comentário:
Conto escrito com muito domínio da língua! No geral, gostei demais! A descrição do protagonista e sua história ficou bela e comovente. Embora a morte tenha soado abrupta e exagerada, achei que a abordagem na praça, a confusão com a polícia, o choque com o diferente, o outro, o louco, ficou tudo muito bom. Porém, ressalvo que Belarmino ser preso, conduzido para a delegacia, apanhar da polícia ou da comunidade, sofrer processo judicial etc. teria me soado mais natural do que uma morte com um tiro nas costas, sem perseguição nem nada. É que o erro policial acabou tomando uma dimensão muito grande, prejudicando a verossimilhança.
Não gostei muito da narração no tempo presente, na verdade, normalmente não gosto mesmo. O pouco uso de diálogos e a ocorrência de poucos fatos tornou, na minha opinião, o miolo do texto (com parágrafos, inclusive, relativamente longos) pouco dinâmico.
Parabéns pelo conto, do qual gostei, e boa sorte no desafio!