EntreContos

Detox Literário.

Do que mais me recordo… (Sergio Sola)

De sorriso embargado abri, com gestos trémulos, com as mãos enrugadas das vicissitudes do tempo, aquela caixa de cartão. Os meus 80  anos estavam quase todos ali. Aquela caixa… toda uma vida passou diante do meu olhar de velha, do meu olhar velho como o tempo, dos meus olhos velhos e húmidos, de rugas feitas de lembranças… de lembranças que dão vida a uma saudade, a uma saudade que agora é sempre presente e feita de emoções.

Aquela fotografia, presa com um clip a um papel, amarelado por dias, meses, anos de espera silenciosa… mil camadas de pó esperaram, pacientes, este momento. Toneladas… toneladas pesadas de pensamentos iludiram a minha mente antiga, tornando-a outra vez jovem, outra vez menina, outra vez com pensamentos de menina, agora com pensamentos de menina feita mulher de muitas décadas.

Li, algures, que o tempo é um conceito relativo. Será? Os meus 17 anos estavam ali, naquelas letras bem desenhadas, naquelas letras cheias de sonhos… diz-se que entramos neste mundo com o destino já traçado… não me parece. Todo aquele percurso sonhado naquelas palavras, o percurso das palavras, foi-se diluindo ao longo de todas estas rugas, ao longo de todo este tempo. Velho. Velho como o tempo.

“Será que vou encontrar alguém que me toque o coração? Que sinta o que os poetas cantam nos seus versos? Será que vou ser feliz?”

“…Sei que ninguém manda no coração, mas… se pudesse ter um desejo concretizado para o meu futuro, escolheria ter o meu coração feliz, ter o meu coração transbordante daquela felicidade que dá vida à palavra, que dá vida à felicidade.”

Conseguia ver o brilho dos meus olhos de menina naquela foto, amarelecida, como eu agora, amachucada, como eu agora, velha, como eu agora… sonhos de menina, brilhantes de antecipação, brilhantes como os sonhos de meninas, sonhadoras como as meninas… eu era menina, era o que tinha que ser naquela altura. Menina!

Se o presente é uma dádiva, escolheria ter outro presente, outro que me trouxesse os pensamentos de outrora, outro que me concretizasse os pensamentos de outrora, quando todos os sonhos eram possíveis. Os nossos pés podem ter abandonado o passado, mas o nosso coração permanece lá. A alma? A alma também.

A minha mente, turva agora, turva como o meu cérebro já toldado, toldado por inúmeras recordações, recordações que me afloram o pensamento, quais ondas numa praia.

Diz-se que, na hora da morte, nos passam pela cabeça os momentos da nossa vida, aqueles que mais nos marcaram, tal como filmes em que somos espectadores comodamente sentados na plateia.

E que dizer daquele pedacinho do filme da minha vida, que agora me passa na frente dos olhos, destes olhos de velha… de velhinha trémula com as emoções, de velhinha sentimental com os sentimentos, de velhinha de lágrimas que deslizam neste rosto feito de pele enrugada. Daquele pedacinho de filme que passa a imagem através de mais um papelinho amarelecido. Um papelinho que, através de letras combinadas em palavras, palavras combinadas em frases, me conduzem àqueles tempos, tristes mas agora tão saudosos:

“Hoje de manhã, ao encaminhar-me para a escola, para a nossa, minha e vossa, escola, veio-me à memória uma história que há muito li. O chefe dos piratas, no conto de Peter Pan, estava sempre a fazer o seu discurso de despedida, porque receava que, quando chegasse a hora de morrer, talvez não tivesse tempo para o fazer. Pois bem, acontece-me, hoje, coisa muito parecida… estou a morrer um pouco, sim, estou a morrer um pouco. 

Sinto que Deus me deu um dom. Sinto que Deus me disse: “Toma, é isto que tenho para ti. É este o dom com que vais viver! O melhor meio para alcançares a felicidade é contribuíres para a felicidade dos outros!”

Sempre pensei que, um dia, se alguém me perguntasse como foi a minha vida de trabalho, do que tenho mais saudades, eu pudesse responder: “A palavra nostalgia tem, agora, um sentido para mim. Mas não consegue transmitir tudo o que a saudade comporta… há, também, a sensação de perda, a sensação de falta, a sensação de distância, os afectos, laços que foram sendo criados ao longo do tempo”… mas é tudo isto que faz com que o passado me seja entregue, me seja conduzido ao presente, a este presente sem vocês…

Nem sempre estivemos de acordo, nem sempre foi fácil… mas se assim o fosse, todos o faziam, não é? Ao fim de todos estes anos, sinto que cresci, a minha personalidade evoluiu com vocês. Serão o conjunto das nossas memórias a nossa personalidade? Seremos nós essas memórias? Então vocês são a minha personalidade!

De manhã, também pensei numa série de conselhos para vos dar. Conselhos de uma velha professora, que um dia, talvez, não mais recordem. Só isto: não coloquem a vida em espera, nunca!

Hoje o Sol empalidece, para mim!”

Com as lágrimas nos olhos, recordo com saudade este texto que publiquei no jornal da escola… agora, tudo não passa de recordações que deslizam com as lágrimas nestas rugas… rugas que têm tanto que contar, rugas que contam a minha história, a história de uma velha a quem nada mais resta senão estas rugas, a história destas rugas.

Vasculhando na caixa de cartão, eis que meus dedos, encarquilhados do tempo, roçam um pequeno livrinho. Que emoção, meu Deus! Neste livrinho, eu partilhava todas as minhas alegrias, todas as minhas tristezas, tudo o que me acontecia. Era o meu diário!! O meu coração pulou no peito como já há muito não acontecia. Que recordações, meu Deus! Será que meu coração aguenta? Vou tentar folhear… sei que esta velhinha talvez não aguente…

Como me lembro de cada uma destas histórias. Histórias não, história, História da Minha Vida. Assim se podia denominar este pequeno livrinho. História da Minha Vida! São as recordações que dão vida a esta saudade que agora sinto, esta saudade que magoa, esta saudade também que faz brilhar estes olhos de velhinha…

Olha… olha esta página! Tão actual… com pensamentos tão actuais. Que viagens, meu Deus…

Pensando bem, será que viajar no tempo, esse grande feito que o homem sempre perseguiu… será que não existe já? Será que as máquinas de viajar no tempo não existem já? Não serão as recordações, as nossas recordações, viagens ao passado? Não serão os sonhos, os nossos sonhos, viagens ao futuro? Não existirão já estas máquinas do tempo? Não persegue o homem um feito que existe desde sempre? 

Voltando a focar a minha atenção no diário e naquela página, os meus olhos percorreram aquelas palavras gastas pelo tempo, pelo tempo de uma vida:

“Envelheci… e não me dei conta. O tempo passou, o tempo, essa roda infernal, passou, também por mim e não me dei conta. Amanhã, desaparecerão as pessoas que me são mais queridas, o tempo levá-las-à… o tempo… esse mesmo tempo que me embranquece as têmporas, esse mesmo tempo que faz os olhos do meu neto luzir, “já tenho mais este ano, avó”, diz levantando o dedinho indicador, “já sou quase um homem”.

Um homem não chora, ouço dizer desde menina… e uma mulher? Chora? Uma mulher pode chorar? Hoje apetece-me chorar e até choro sem me apetecer. Hoje choro, hoje não sou menina. Não sou mais menina!

Para onde caminho? O nosso propósito, enquanto homens e mulheres, enquanto humanidade, é só e apenas, “viver”? Passar, deixar passar, o tempo… é só isto? É este o fim único da nossa existência? Passar este tempo, da infância a esta fase, à fase velha? Deixar passar…? Sinto que quase foi isso que fiz… e fui relegada, agora, para segundo plano, para um plano mais “triste”, para um plano da existência mais triste. Dizem-me que a velhice é bonita… bonita? Mas quem diz isso?  Quem nunca foi velha… velho é um tempo que não permite ir lá e voltar, ir lá ver como é e voltar. Velho, ser velho, é um lugar feio. Se puderem, nunca vão lá!

Os olhos de um velho estão sempre tristes, ausentes… estará a pensar na juventude, na infância. Nos anos que perdeu, diria eu. Afinal não os viveu? Mas o que é viver os anos? É, sempre, ver a engrenagem de um relógio avançar, inexorável, rumo a um destino, a um fado, já escrito!”

Dei.me conta que as lágrimas me molhavam o rosto… agora, já as lágrimas me molhavam o rosto…

Aqueles tempos, todos aqueles tempos, retratados nas páginas deste velho diário, foram parte da minha vida, escreveram parte da minha vida.

Envelheci!  Envelheci e não me dei conta. A Vida passou por mim… pensando bem nesta frase que faz cócegas nos trilhos do meu cérebro… A vida passou por mim ou fui eu que passei pela vida? Se, quando partir, alguém lá no céu ou na outra dimensão, me perguntar do que mais me recordo, saberei responder?

Acho que sim, que saberei. Apesar de me sentir velha, esta velhinha saberá responder, sim! Do que mais me recordo?

Da Vida!!

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22 comentários em “Do que mais me recordo… (Sergio Sola)

  1. M. A. Thompson
    11 de abril de 2020

    Olá autor(a)!

    Antes de expor minha opinião acerca da sua obra gostaria de esclarecer qual critério utilizo, que vale para todos.

    Os contos começam com 5 (nota máxima) e de acordo com os critérios abaixo vão perdendo 1 ponto:

    1) Implicarei com a gramática se houver erros gritantes, não vou implicar com vírgulas ou mínimos erros de digitação.

    2) Após uma primeira leitura procuro ver se o conto faz sentido. Se for exageradamente onírico ou surrealista, sem pé nem cabeça, lamento, mas este ponto você não vai levar.

    3) Em seguida me pergunto se o conto foi capaz de despertar alguma emoção, qualquer que seja ela. Mesmo os “reprovados” no critério anterior podem faturar 1 ponto aqui, por ter causado alguma emoção.

    4) Na sequência analisarei o conjunto da obra nos quesitos criatividade, fluidez narrativa, pontos positivos e negativos, etc.

    5) Finalmente o ponto da excepcionalidade, que só darei para aqueles que realmente me surpreenderem. Aqui, haverá fração.

    Dito isso vamos ao comentário:

    TÍTULO/AUTOR: 7. Do que mais me recordo (O Velhinho)

    RESUMO: Divagações de uma professora ao olhar uma antiga caixa de recordações.

    CONSIDERAÇÕES: O conto é comovente, porém não empolga. Resume-se as divagações de uma professora cuja idade a alerta de que está mais perto de ir do que de ficar. Nennhuma das lembranças narradas se destacou e os questionamentos também.
    Apesar disso é um conto angustiante, de alguém que sabe estar perto do fim. Só faltou um pouco mais de tempero, de lembranças mais marcantes e curiosas.

    NOTA: 4.0

    Independentemente da avaliação aproveito para parabenizar-lhe pela obra e desejo sucesso na classificação.

    Boa Sorte!

  2. Daniel Reis
    10 de abril de 2020

    7. Do que mais me recordo… (O Velhinho)
    Tema: as reminiscências de uma anciã.
    Resumo: A narradora, aos 84 anos, faz um monólogo interno ao manusear uma caixa com suas recordações, entre elas seu antigo diário, que, pode-se dizer, representa a juventude perdida e toda a sua vida.
    Técnica: a escrita, bem portuguesa, com certeza, tem uma cadência muito própria, inclusive com repetições de palavras em sequência em algumas frases, quase como a dicção da uma idosa. A história, em si, não progride, mas reflete.
    Emoção: um sabor de lembranças agridoces, apesar de não conter drama explícito, somente a de uma vida realmente vivida.

  3. Valéria Vianna
    10 de abril de 2020

    As reflexões de uma senhora diante de uma foto e também de um diário da juventude após tantos anos de trabalho como professora. Suas recordações, suas esperanças, suas perdas e conquistas. Até a resposta que ela mesma se dá sobre o que de fato importa nisso tudo.

    Nota: 4,9

    O autor trabalha bem o tema, usando como recurso os pensamentos da própria personagem. Consegue passar lentidão, solidão, aspectos e situações típicas do envelhecer por meio de coisas que passam pelas mãos da personagem. Os textos escritos na juventude e vistos agora com outros olhos… a fotografia dos seu 17 anos… a reflexão sobre a morte, mais próxima naturalmente. Usou muito bem esses mecanismos textuais. Esperava um final mais à altura, o que, em hipótese alguma, desmerece o conto.

  4. Fernanda Caleffi Barbetta
    9 de abril de 2020

    Resumo

    Senhora pega uma caixa de cartões e começa a recordar-se do seu passado. Na caixa, busca um papel amarelado, no qual está presa uma fotografia sua aos 17 anos de idade. O papel é um texto escrito por ela, em sua mocidade, para o jornal da escola Na mesma caixa ela encontra seu diário e passa a se questionar sobre sua vida, sobre as saudades, sobre o tempo. Se as recordações não são uma viagem ao tempo. Percebe que envelheceu e que a vida passou por ela sem que ela percebesse.

    Comentário

    Lindo o seu texto, escrito de forma quase poética. Bastante reflexivo, apresenta questionamentos comuns a todos nós a respeito da nossa existência. Envolvente, consegue prender a atenção do leitor do início ao fim, em busca de mais informações. Parabéns.
    Muito bem escrito, fluido, atende perfeitamente o tema envelhecer e traz uma mensagem muito bonita. Só incomodou-me um pouco o uso demasiado de reticências em todo o texto. Não encontrei erros gramaticais relevantes.

  5. Amanda Gomez
    9 de abril de 2020

    Olá!

    Resumo 📝 História de uma idosa, que visitando seu passado através e um baú com objetos da juventude, tem uma espécie de…surto. Tenta relembrar os momentos, como era, o que se tornou. Mas no fim o saldo é positivo.

    Gostei 😁👍 O conto é basicamente o que é o resumo. A paixão da personagem pelo seu eu jovem é palpável, gostei da escrita e algumas vezes da intensidade dela. O texto me parece bem ligado ao autor, a emoção posta, quase desesperadora. Eu acreditei nos sentimentos da personagem isso causa identificação e por fim cativa o leitor.

    Não gostei🙄👎 O texto me deixou em uma posição contraditória, o que eu gostei também desgostei. A escrita intensificada pelas ações e descrições se tornaram cansativas do meio pro final. As repetições de palavras que no começo dava um tom poético ficou exagerado. Foi como se vc abusasse demais de uma fórmula. Ficou pesada… a personagem parecia derreter, desintegrar com tantos adjetivos sobre…sua velhice, sua pele…sua fragilidade. Aí penso agora, não é proposital? O objetivo era transbordar os sentimentos revoltosos da personagem com sua condição de apaixonada pelo passado e sem perspectiva com o presente? enfim.. no fim, acabo por gostar de tentar imaginar o motivo pra tanta intensidade.

    Destaque📌 “Sinto que Deus me deu um dom. Sinto que Deus me disse: “Toma, é isto que tenho para ti. É este o dom com que vais viver! O melhor meio para alcançares a felicidade é contribuíres para a felicidade dos outros!”

    Conclusão = 😣Um texto complexo, com uma estrutura questionável, mas bem escrito. Da vontade de chacoalhar a senhorinha ( com carinho) e pedir pra ela se acalmar, que vai ficar tudo bem.

  6. Priscila Pereira
    8 de abril de 2020

    Resumo: Uma professora velhinha remexe seus tesouros e viaja nas lembranças!

    Olá, Velhinho!

    Seu conto me trouxe muito forte a lembrança da minha tia avó que era professora e que eu ajudei a cuidar dela no final de sua vida… parecia até que eu estava vendo ela enquanto lia… foi bem difícil… penso que você retratou extraordinariamente bem a essência de ser velho, digo isso com base na experiência que tenho cuidando dos meus tios avós, e é isso mesmo, envelhecer não é bonito, é triste e feio, e desesperançoso, mas necessário…
    Imagino que você autora, também conviva de perto com a velhice, não necessariamente a sua, mas de alguém próximo. O conto é intenso, visceral, transborda sentimentos reais. Só isso já o qualifica como um bom conto.
    Parabéns e boa sorte!

  7. Fabio
    7 de abril de 2020

    DO QUE MAIS ME RECORDO… (O VELHINHO)
    Resumo: Uma caixa que guarda além de fotos e escritos, memorias de uma vida, alegrias e tristezas que se revelam ao dedilhar relíquias que se ocultam pela casualidade do tempo.

    Comentário: Quem nunca? Quem é que nunca teve esta sensação?
    A sensação de ver suas memorias voltarem por causa das imagens e escritos que, muitas vezes, guardamos sem nem perceber.
    Texto maravilhoso e digno de muitos elogios. Gostaria apenas que o seu criador explorasse um pouquinho mais a casualidade do encontro com este momento de recordações.
    De toda forma. Lindo.
    Boa Sorte no desafio.

  8. Felipe Rodrigues
    7 de abril de 2020

    Idoso reflete sobre seu curso de vida abordando questões existenciais e sobre a forma como a idade impiedosa recai e é enfrentada por cada um. Ao final, percebe-se chorando e conclui que o local ao qual a velhice nos leva é ruim, mas é a vida.

    Achei de tom excessivo e rebuscado, o que tornou as reflexões cansativas de acompanhar. O texto embasado somente na reflexão, por si, ja arremete o leitor a fazer uma leitura mais pausada, contemplativa, por isso necessita ser simples. Há muita emoção no conto, sinceridade, e no olhar embargado de quem conta pode-se por vezes sentir o cair das lágrimas, a tristeza, este foi o ponto alto do conto, embora uma via de estilo um pouco menos adornada pudesse ter conduzido o leitor por esses sentimentos.

  9. Marco Aurélio Saraiva
    6 de abril de 2020

    Uma senhora senta ao lado de sua caixa de lembranças e vasculha suas antigas memórias, desde os seus dezessete anos, até a época como professora, passando por seu antiquíssimo diário. No fim, pensa que tudo aconteceu rápido demais mas, ainda assim, aproveitou bem a vida.

    Estas abordagens são as que mais tocam em mim, por quê eu também tenho muito medo de, no futuro, achar que o tempo passou rápido demais e ficar na dúvida se fiz com ele o melhor que pude fazer. Tenho 34 anos e já me pego em momentos de nostalgia e olhos marejados pensando na época que se foi. Neste sentido o seu conto é exemplar pois explora justamente este momento que, se entendo bem, fica mais intenso com o passar dos anos.

    Por outro lado, a leitura é sofrível. Não por erros de digitação ou português ruim – seu vocabulário é bom e sua revisão parece estar em dia. Mas a repetição extrema de palavras incomoda DEMAIS. No início, achei interessante as repetições propositais por quê elas conferem um passo lento à leitura, que conversa com a mente lenta da pessoa idosa, traz o leitor mais para perto, convida-o a ler tudo lentamente e pausadamente. Mas então… caramba, é tanta repetição que eu não aguentava mais, rs. Note este parágrafo:

    “Conseguia ver o brilho dos meus olhos de menina naquela foto, amarelecida, como eu agora, amachucada, como eu agora, velha, como eu agora… sonhos de menina, brilhantes de antecipação, brilhantes como os sonhos de meninas, sonhadoras como as meninas… eu era menina, era o que tinha que ser naquela altura. Menina!”

    “Menina” é repetida seis vezes!
    “Como eu agora” é repetida três vezes em sequência!
    “Sonho” também, três vezes seguidas!

    Isso pode ficar bonito em um ou dois parágrafos, mas no conto inteiro cansa demais de ler.

  10. Elisa Ribeiro
    3 de abril de 2020

    Mulher de 80 anos reflete sobre a passagem do tempo ao examinar uma caixa onde guarda algumas recordações do passado e um antigo diário.

    Um conto bastante melancólico. O que se destacou para mim foi o uso da linguagem. Alguns recursos como as orações intercaladas e a repetição de palavras ditam o ritmo de leitura pausado e reflexivo, elemento essencial na composição da obra. Nesse sentido, a forma contribui para valorizar o conto, a despeito de certo excesso, sobretudo no uso das repetições.

    Para mim, o conto retrata uma visão muito convencional da velhice como um momento de vazio existencial cuja única alternativa é voltar-se para o passado, no caso da personagem, sem sequer ressignificá-lo. Daí que para mim o conto deixou a desejar pela falta de criatividade na abordagem do tema e pelo baixo impacto da narrativa no geral.

    Um bom conto bom cujo maior mérito, repito, me pareceu o uso da linguagem
    sensível e bem modulada considerando a proposta do texto.

    Parabéns pela participação. Desejo sucesso no desafio e em tudo mais. Um abraço.

  11. Cilas Medi
    3 de abril de 2020

    Olá O velhinho.
    As reminiscências de uma velha senhora. Não se precisa escrever mais sobre o assunto do conto.
    Cansativo, monótono, repetitivo, ou seja, ou seja, repetitivo, repetitivo… sim, é assim que parece, ao leitor, ser ele um ser sem um discernimento ao ler as palavras repetidas para conseguir chegar (quando isso acontece) em um final de frase ou parágrafo. Não vou dar exemplos diretos do texto porque eles são mais do que patentes e latentes.
    Enfim, parece que não gostei.
    Boa sorte no desafio.

  12. Luciana Merley
    2 de abril de 2020

    Olá, autor.
    Uma mulher de 80 anos, saudosa de seu passado, rememorando e revivendo suas experiências ao abrir uma velha caixa de cartões.

    AVALIAÇÃO: Utilizo os seguintes critérios: Técnica + CRI (Coesão, Ritmo e Impacto) sendo que, desses, o impacto é subjetivo e é geralmente o que definirá se o conto me conquistou ou não.

    Técnica – O autor faz a opção por uma narrativa lenta e poética, mais parecida com uma crônica do passado ou até mesmo uma poesia moderna. O vocabulário é bastante rico, bem pontuado e o uso das rimas e repetições de palavras faz-me sentir como se lendo uma poesia.

    CRI – O passado é o tema, mas não há foco em nada específico. Senti falta de um recorte da realidade que é o que diferencia um conto. O ritmo é, como disse, poético e parecido com o andar da senhora (bem empregado, portanto). O impacto fica por conta da beleza da narrativa e do uso adequado dos sinônimos.

    Do que senti falta – De um enredo que focasse em alguma experiência e, a partir dela, toda a reflexão que você fez. Senti falta da ação.
    Mas, um belo texto. Parabéns.

  13. Fernando Cyrino
    2 de abril de 2020

    Ei, Velhinho, cá estou eu a me encantar com esse seu belo conto. Esse fluxo de consciência tão triste quanto belo. E repito a palavra belo porque achei que ficou muito bem, bastante poético o recurso que você utilizou de repetir as palavras fortes que foram ditas logo em seguida, como se as quisesse frisar. Parabéns pelo seu velho conto, Velhinho de Além Mar. Você escreve muito bem. Sua narrativa me trouxe encanto. Abraços fraternos.

  14. britoroque
    2 de abril de 2020

    Que conto chato, meu deus. Que chatice. Sem criatividade, sem imaginação, sem nenhuma surpresa. Pura chatice em forma de texto.

  15. Gustavo Araujo (@Gus_Writer)
    2 de abril de 2020

    Resumo: velha professora abre uma caixinha com recordações da juventude. Lá estão uma foto, anotações e um diário, tudo para levá-la aos dias de juventude e permitir digressões sobre a brevidade e o sentido da vida.

    Impressões: este é o tipo de narrativa que eu mais aprecio. É profunda e tocante ao mesmo tempo. Não apela a sentimentalismos, mas provoca o leitor, colocando-o com honestidade e coragem na pele da personagem principal. Se eu pudesse arriscar, diria que de fato a pessoa que concebeu esta narrativa tem 80 anos e que abriu a tal caixinha com dedos trêmulos, encarando a própria foto de quando tinha 17 anos, além de mergulhar em anotações antigas, congeladas no tenpo. Tudo soa autêntico e verdadeiro, o que faz muita diferença em qualquer tipo de texto. Por isso me referi à honestidade em sua concepção. É daqueles textos que convida a uma segunda e terceira leituras, já que as digressões funcionam como uma espécie de redemoinho, quase um espelho daquela fase da vida pela qual todos esperamos passar mas que, ainda assim, nos enche de medo. Ainda me faltam diversos contos para ler, mas creio que será difícil que algum me encante mais do que este, especialmente devido ao mergulho psicológico e filosófico que proporciona. Um trabalho excelente. Parabéns e boa sorte no desafio.

    Nota: 5,0

  16. Pedro Paulo
    1 de abril de 2020

    Este é um conto sobre o qual a impressão é a de ter lido algo que gira em torno de si mesmo. Caso eu fosse obrigado a resumi-lo, poderia escrever em uma linha que se trata de uma idosa diante de uma foto, refletindo melancolicamente. O conto é muito bem escrito e identifiquei um bom uso da anáfora como recurso para investir emoção ou dar mais elementos descritivos. Num parágrafo, o uso repetido da palavra “menina” dá o contorno obsessivo do apego da personagem à juventude, enquanto que noutro, a palavra “velha” é repetida para nos delinear a imagem da personagem diante da foto. Ela está fragilizada e, de tanto lermos sobre o que pensa, sabemos e sentimos com ela.

    O conto pinta uma imagem bastante tristonha da terceira idade, apresentando-nos uma personagem que, pelo visto, deixou a vida passar por ela. “Pelo visto”. Acaba sendo um conto oco, um pouco conceitual. Por quê? Todo o enredo se encaminha a resposta para uma pergunta que é implícita ao conto: do que, enfim, ela se recorda? A resposta, em duas exclamações: da vida. Mas que vida? Todos vivemos e conjeturamos sobre o que é a vida, assim como a personagem. O problema é que não sabemos o que é a vida dela. Sabemos que foi jovem e que teve sonhos, mas isso é comum de várias pessoas e, portanto, apesar da escrita bem empregada, arrisca o conto a ser genérico, evocando uma tristeza que é antes um sentimento proposto para o leitor do que realmente sentido por ele. Não se sente pela personagem poque, no fim das contas, não a conhecemos. Conhecemos apenas o seu arrependimento. E isso não basta para incitar a empatia.

    É, ao meu ver, um conto de belíssima forma, mas de pouco conteúdo.

  17. Regina Ruth Rincon Caires
    30 de março de 2020

    reticências

  18. Regina Ruth Rincon Caires
    30 de março de 2020

    Do que mais me recordo… (O Velhinho)

    Resumo:

    A história de uma mulher, hoje velha, num relato de lamento a partir dos guardados que traz em uma caixa: cartas, fotografias, diário. Triste, muito triste. Fala sempre como se o tempo lhe tivesse roubado a vida. Puro queixume. Lamúria.

    Comentário:

    Texto que revela a reflexão feita por uma pessoa sobre toda a sua vida. Ao revirar uma caixa de guardados, as lembranças brotam e a “idosa” comenta seus erros e acertos durante a caminhada até ali. Texto triste, denso, lamurioso.

    Há uma repetição intencional de palavras, talvez em busca de marcar a mensagem. Ou, quem sabe, para reforçar a carga poética. Acho que este recurso interrompeu um pouco a fluência da leitura.

    Não compreendi o pseudônimo masculino. Percebe-se que a narrativa é feita em primeira pessoa e por uma mulher. Fiquei pensando se o “velhinho” seria o tempo… Não entendi.

    Texto lusitano bem escrito, linguagem carregada de emoção, triste. Um lamento. Talvez a pontuação com reticência pudesse ser raleada.

    Enfim, texto denso, de enorme carga emotiva, pranto escrito.

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

  19. Jorge Miranda
    29 de março de 2020

    Manuseando uma caixa de cartão, uma mulher já aos 80 anos, recorda toda a sua vida. Uma foto e um livrinho escrita aos 17 anos desencadeiam recordações de um tempo que passou, mas também constatações de um tempo presente.
    Temos aqui um conto com uma pegada melancólica, lê-lo deixou-me com aquela sensação de que o tempo é como a água que escorre por entre os dedos, nós nunca conseguimos retê-lo, a não ser parcialmente através de um diário, de uma foto ou mesmo quando um aroma ou música evoca um fato com toda a sua carga de afetos.
    Gostei do que li, mas achei que a repetição constante de palavras tornou-o um pouco cansativo, claro está que pode ter sido um artifício do autor para imprimir uma marca ao texto, para reforçar um certo sentido.
    Parabéns pelo texto e atribuo a nota 3,0 a ele.

  20. Angelo Rodrigues
    28 de março de 2020

    Do que mais me recordo… (O Velhinho)

    Resumo: Mulher idosa tece considerações sobre o tempo que passou. Observa em sua caixa de recordações as memórias dos tempos que viveu.

    Comentários: Fiquei em dúvida quanto ao que pensar acerca do conto. Ok. Todo conto é um recorte, e esse é o recorte de uma mulher que envelheceu e busca em uma caixa os fragmentos de sua vida que, aos poucos, se extingue. Preferi ver assim, sem outro juízo.
    Um conto que fala da autopiedade, da comiseração. Compreendi assim, dado que no conto não há ação, apenas a releitura da protagonista sobre o seu passado.
    O autor usa um método de reforço para as ideias que deseja passar, marcando a cada momento uma ideia através da repetição de termos. Tais como:
    “…de lembranças que dão vida a uma saudade, a uma saudade que…”
    “…outra vez menina, outra vez com pensamentos de menina…”
    “…escolheria ter o meu coração feliz, ter o meu coração…”
    Há outros que não reporto. Busquei ver nesse método o próprio jeito da protagonista pensar, talvez vendo nisso, nessa sistemática repetição, uma forma de cansaço, de autoindulgência que faz por meio das palavras que pensa e pronuncia no texto, que reforçam um pensamento que quer tornar marcante.
    É o conto de uma mulher que se deparou com algo para o qual (me pareceu) não se preparou devidamente. Espanta-se com a velhice.
    Um conto do qual se poderia falar por muitas laudas, particularizado o jeito com que a protagonista percebe a vida. Diria que o uso da reticência, logo no título, expressa um certo desânimo da protagonista, algo que se extingue lentamente.
    Boa sorte no desafio.

  21. antoniosbatista
    28 de março de 2020

    Resumo: A personagem do conto, divaga sobre a velhice, enquanto revê cartões antigos e um diário.

    Comentário: No início, fiquei em dúvidas se o personagem era homem ou mulher. O final mostra que é uma senhora idosa. Há muita repetição de palavras, mas acho que não é um erro do autor, pois os velhos não fazem isso? E eles não fazem perguntas para eles mesmos? O problema é que a velhinha falou muito e disse pouca coisa. A história ficaria mais interessante, se você intercalasse os pensamentos da velhinha, com o cotidiano escrito no diário. A falha está nas afirmações diversas e desnecessárias da idosa, sem contar algo mais interessante, como as lembranças de seu diário, alguns acontecimentos curiosos e relevantes de sua vida. Tens uma boa escrita, só precisa de originalidade. Boa sorte.

  22. Julia Mascaro Alvim
    26 de março de 2020

    Uma velha abre uma caixa de papelão com lembranças de sua vida. Ao manipular os objetos, ela discorre sobre o que viveu. Olhar fotos antigas fizeram-na sentir jovem novamente. Em seu discurso há um sentimento saudoso e um desejo de transformar o passado. A narradora se sente próxima à morte. Vive , nesse momento a saudade e perdas. Aconselha a viver a vida sem colocá-la em espera. Ela conclui ser a velhice algo triste. Mas o que mais se recorda é da própria vida.
    O texto é claro. Esbarra nos sentimentos comuns do estado da velhice. As recordações da protagonista edificam algo esperançoso porém triste. nota 2,5

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Publicado às 22 de março de 2020 por em Envelhecer, Envelhecer - Grupo 1 e marcado .
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