A vida inteira sonhara ter um carro esportivo, foi o que disse aos amigos. Aos filhos, não deu satisfação, mas eles logo descobriram. A do meio sugeriu uma reunião de família, comprar um conversível vermelho era uma extravagância, talvez um indício de que a senilidade chegava. O mais velho ressentiu-se. Ao pesquisar o preço, descobriu que daria para pagar por um ano o colégio anterior da filha, trocado por outro mais fraco, o pai sabia, por necessidade. Só a caçula — de longe, tentava a vida na Irlanda — minimizou. Era só um capricho de idoso, que não se preocupassem, logo passava.
O fato foi que a Bela não fez caso do carro, tampouco o percebeu ao volante nos dois dias seguidos em que ele a aguardou — irreconhecível sob o boné nada elegante usado para evitar que o vento despenteasse os fios cuidadosamente arranjados para esconder a calva — em uma vaga bem frontal e visível à saída do edifício da clínica.
Começara a frequentar a clínica fazia um tempo. Sua busca por diagnóstico, primeiro para as dores nos ombros, depois na lombar e por último no quadril, se desdobrara em retornos para exames que ocupavam tardes, menos tediosas então, com tantos compromissos agendados. Os especialistas, um após o outro, nada encontravam além de desgastes normais para a idade e prescreviam fisioterapia e anti-inflamatórios, dizendo que voltasse dali a um mês se as dores continuassem. Os remédios, começou de imediato; a fisioterapia, entretanto, achava ineficaz, implicância de velho, e ignorava.
Saía do elevador no térreo a primeira vez que a viu. Ela subia para o sexto, escutou-a pedir, a voz macia, um sotaque estrangeirado. A mulher mais bonita em suas sete décadas de vida. Virou-se, não pode evitar, mas a porta se fechava deixando-o entrever apenas as melenas de um castanho indefinido caindo em ondas igualmente incertas emoldurando o rosto angelical.
Também não pode evitar tomar o elevador ao lado e apertar o sexto andar. O coração, normalmente sereno, aos pulos, uma emoção irreprimível e violenta – amor à primeira vista — despertada pela visão da jovem.
No corredor vazio, apenas a porta de vidro cinzenta e as letras decalcadas indicando — fisioterapia — em vermelho vivo. Entrou, os fiapos de cabelo alvoroçados, a expressão atordoada, procurou-a entre os pacientes que aguardavam ser atendidos pelas duas moças de azul-marinho atrás do balcão. Em vão, nem sinal de seu andar macio, da pele de seda, dos olhos que, de relance, lhe pareceram cor de açúcar queimado.
Talvez fosse uma aparição, um sinal a indicar-lhe ser a fisioterapia a solução para suas dores indeterminadas, fantasiou, deixando-se levar por um pensamento mágico. A prescrição do tratamento estava guardada no envelope que trazia à mão. Pegou uma senha e aguardou ser atendido pelas moças de azul, vigiando a porta de acesso ao interior da clínica, desejando inquieto vê-la surgir a qualquer momento na sala.
Agendou a avaliação para o dia seguinte e frustrou-se na primeira sessão ao ser atendido por uma senhora de meia idade, bem acima do peso, um buço ralo sob o nariz, os olhos redondos e juntos, uma gotícula de cuspe no canto direito dos lábios. Quis alegar um compromisso quando a mulher lhe pediu que despisse a camisa — a Bela ao longe, ocupada — mas conseguiu se controlar. Sua resiliência foi premiada pois ao passar por ele em certo momento, a Bela lhe sorriu um cumprimento simpático com os dentes grandes naturalmente claros entre os deliciosos lábios rosados.
A partir da segunda sessão, não sem uma pequena manobra de véspera, pelo telefone, com a secretária, passou a ser atendido apenas por ela. Duas semanas depois já estava de carro novo em sua tentativa vã de se valorizar aos olhos da Bela, que, em não surtir o resultado esperado, forçou-o a pensar em outra estratégia.
De perto ela era ainda mais linda e exalava um cheiro — não o do perfume, mas o da pele — de coisa limpa e saudável. Ele respirava fundo, as pálpebras cerradas, sobretudo durante os exercícios. Simulava inépcia, forçando-a a se aproximar e tocá-lo para corrigir as posições inadequadas. As mãos eram firmes e profissionais, porém a privação de afeto em sua pele avelhentada as fazia macias e ternas.
Chamava-se Bibiana e era natural da Venezuela. Estava há menos de um ano no Brasil, emigrara para fugir da falta de futuro e oportunidades concretas em sua terra. Estimulava-a a contar sobre sua vida, ela parecendo gostar de praticar a língua que ainda não dominava, ele querendo, além de conhecê-la melhor, ouvir sua voz grave e aveludada.
Na terceira semana deu um jeito de ser atendido no último horário e ofereceu-lhe carona. Já sabia que ela vivia na zona oeste em um apartamento com duas amigas e inventou ter um compromisso bem próximo do endereço onde ela morava. Esforçou-se para disfarçar a dificuldade em entrar no carro, baixo demais até para um homem sem problemas nas costas. Bibiana, notando o contorcionismo, pensou em ensinar-lhe uma manobra mais anatômica para se acomodar, porém preferiu não falar nada evitando embaraçá-lo.
Voltou para casa eufórico, a capota abaixada, os pneus cantando nas curvas, o vento fazendo mais leves os anos que lhe pesavam depois de trocar dois beijinhos no rosto ao se despedir da Bela naquela noite bem-aventurada.
Rolou na cama de madrugada, sonhando acordado com os lábios úmidos de Bibiana e o roçar sedoso em seu pescoço dos cabelos perfumados dela. Agitado, dobrou a dose do Rivotril, contudo só conseguiu pegar no sono depois de maquinar um plano, que lhe pareceria sórdido pela manhã, factível a tarde e com alguma possibilidade de se concretizar na semana seguinte quando começou a sondar, muito discretamente, com uma conversa despretensiosa enquanto era manipulado nas costas, a hipótese de a Bela aceitá-lo.
Pai zeloso, querendo saber como a filha estava vivendo em sua temporada irlandesa, seu plano tinha como mote uma viagem à Europa com o propósito de visitá-la. Antes da Irlanda passaria em Paris, talvez também em alguma outra cidade europeia, ainda não havia pensado. Dez a quinze dias no máximo, há muito não viajava, estava sentindo falta de respirar outros ares. Gostaria que ela, Bibiana, aceitasse ir com ele. Como sua convidada, antes da visita à filha, durante a primeira parte da viagem. Tudo por conta dele: passagens, despesas com alimentação, hotel. Em quartos separados, obviamente. Além de lhe fazer companhia, ele não precisaria interromper a fisioterapia, foi seu argumento final, bem descabido e forçado.
Mesmo achando estranho o convite, poucos dias e alguma reflexão foram suficientes para Bibiana se acostumar com a ideia. Não era ingênua, ponderou riscos e oportunidades inclinando-se cartesianamente em aceitar a oferta. Que mal havia em dar atenção e companhia àquele senhor solitário, ela também tão sozinha, como a filha dele, naquela terra que não era a dela? Na Europa, depois de se separarem, poderia aproveitar para fazer algum curso ou conhecer a terra natal de seus antepassados, imigrantes como ela, em outra época.
Suava no aeroporto, ansioso, medo de que ela não viesse. Tomou dois cafés e uma garrafa inteira de água antes que ela aparecesse com uma mala média, os cachos presos no alto da cabeça, uma ruguinha na testa. Ele sorriu, os olhos apertados, sem mostrar os dentes, uma cara de pateta; ela torceu a boca numa careta nervosa. Estaria fazendo a coisa certa?
Estava. Tudo correu perfeitamente na viagem. Ele, um cavaleiro durante a maior parte do tempo, exceto quando se insinuava, normalmente após uma ou duas taças. Ela fingia não entender, ele desconversava, os dois em uma espécie de esgrima em que ambos buscavam o empate. As sessões de fisioterapia começaram diárias, no quarto dele, ao retornarem para o hotel, no final da tarde. No terceiro dia da viagem, cessaram de acontecer, os dois em um acordo tácito, aquele pretexto incômodo tornado desnecessário.
A viagem estendeu-se por seis dias em Paris, a medida exata para ele lhe mostrar a cidade luz com calma. Poucos museus e muitos passeios a pé interrompidos a qualquer momento por cafés ou vinho branco gelado, o tipo de viagem que ele sempre sonhara. Bibiana, a companhia perfeita, entusiasmava-se com tudo que ele propunha e ouvia com atenção o que ele contava sem demonstrar impaciência ou tédio.
Sentia-se grata, a Bela. E maravilhada. Faltou-lhe conhecer a noite parisiense, as baladas, mas não se incomodou, era jovem, não faltariam outras oportunidades. À noite, os dois saiam apenas para jantar. Ela sempre escolhia uma salada e bebia no máximo uma taça, fazendo sobrar o restante da garrafa para ele, que voltava ao hotel tropeçando, incapaz de incomodá-la.
Na última noite, brindaram com o champanhe mais caro da casa e Bibiana abriu uma exceção ao pedir um prato em lugar da habitual salada.
Talvez tenha sido o sabor da trufa ou uma espécie de nostalgia antecipada; talvez a bossa nova ao fundo ou a conversa excepcionalmente agradável; talvez ela tivesse aquele desfecho planejado desde o primeiro dia de viagem.
Em vez de se despedirem na porta do quarto dela com os dois habituais beijinhos de boa noite que o faziam levitar, Bibiana o puxou suavemente para dentro, suas mãos mornas sobre as dele prometendo mágicas. Que mal havia em ficarem juntos? Amor não tirava pedaço.
Ele deixou-se conduzir com passos inseguros, alisou-lhe os braços lisos com os dedos gastos e abraçou-a com firmeza, os olhos fechados, o cheiro da pele, da nuca nunca experimentado por tanto tempo de tão perto. No negro das suas pálpebras cerradas, uma versão sua de outra época, a Bela entre os braços, surgiu imprecisa e vaga e ele estreitou o corpo de encontro ao dela. Mas ao abrir os olhos, um velho patético parcialmente eclipsado pela elegância da Bela em seu vestido cinza-claro, ele mesmo, o mirava do espelho no fundo do quarto.
Afastou-a delicadamente, segurou seu rosto entre as palmas e deu-lhe os dois beijos de sempre nas bochechas nacaradas. Alegou que seu voo partiria cedo, que a mala ainda não estava completamente arrumada, que era prudente recolher-se logo ao seu quarto e saiu todo afobado.
Na manhã seguinte lhe entregaram na recepção um bilhete de Bibiana, dizendo-se grata por tudo e desejando-lhe boa continuação de viagem. Ao pousar em Dublin, em outra mensagem no celular, ela dizia já estar em Madrid, chegara bem, o curso em que se matriculara começaria dali a pouco, no final da tarde. Foi a última notícia que teve dela antes do Natal.
Persistiu na fisioterapia por algum tempo. Sem Bibiana, porém, logo achou que estava curado. A mensagem de Boas Festas que ela lhe enviou foi bem simples mas serviu como ensejo para ele argui-la sobre o rumo que a vida dela tomara. Foi então que soube que ela estava na Grécia trabalhando como fisioterapeuta em um campo de refugiados, de Madrid seguira para lá, o trabalho era duro, mas estava realizada.
Aos filhos, que continuaram insistindo na inconveniência do carro, prometeu para encerrar o assunto que o venderia assim que o verão terminasse. Na primavera ainda circulava, um boné sem glamour contendo os cabelos, pelas ruas da cidade.
É quase impossível dissociar este conto do texto da Priscila. Claro que há diferenças – lá a protagonista é uma senhora e aqui é um homem – mas no fundo o mote é o mesmo: o desejo por amor ou sexo que invade o ser humano no entardecer da vida. A pegada lá é mais pela leveza, pelo humor, enquanto que aqui humor há, é verdade, mas o que prevalece é um ambiente psicologicamente mais fechado. Sobressai-se o dilema do homem em entregar-se a um amor de adolescência, depois de se encantar por uma jovem imigrante da Venezuela. Quantas histórias já ouvimos falar sobre sujeitos que se enfeitiçam por beldades e deixam tudo por conta disso? O conto é bom porque trata do assunto sem preconceitos, dando voz a personagens quase reais. Sim, é quase como se os conhecêssemos. Chegamos a torcer por eles, para que o romance engrene, afinal, nosso protagonista merece ser feliz, não é? E o melhor é que Bibiana também queria. No entanto, assim como no desfecho do conto da Priscila, também aqui a realidade se impôs. Um anticlímax, talvez, mas que confere à história autenticidade, fazendo com que não caia em clichês. Um ótimo trabalho, sem dúvidas. Mas ainda torço por eles, no fim.
Quanta gentileza sua em ler e comentar meu conto. Sim, eu e a Priscila falamos do que eu chamaria de crise da sétima década, marcada no caso dos meninos pelo ocaso da sexualidade.Escolhi deixar Bibiana seguir sua natureza altruísta de outro modo e o septuagenário sem nome continuar curtindo a vida em seu carro sem capota, ignorando os filhos desejosos de aprisioná-lo em um estereótipo. Um final feliz também, ao seu modo.
Uma escrita toda elegante. Apenas a palavra Cavaleiro onde deveria ter sido escrito Cavalheiro, e uma frase um tantinho confusa quando fala da reação da filha caçula à compra do carro. O resto, perfeito. A maneira como vc escreve e descreve os movimentos e impressões do homem e da Bibiana, aproximam o leitor de seus personagens de uma maneira muito visual. É como se pudéssemos até sentir os cheiros e ouvir o ruído leve de suas respirações.
Também gostei muito desta forma oblíqua de se expressar, dizendo as coisas muito além das ações explícitas ou pensadas, mas daquilo que os personagens gostariam de esconder.
Um conto muito bom e digno de uma escritora de sua envergadura.
Um grande abraço, querida.
Olá, Elisa
Provável que uns tantos estejam desatualizados, a ler apenas “coisas velhas”, mas a alternância de foco, de contexto e até mesmo de sequência cronológica que se observa do primeiro para o segundo parágrafo é algo bem usual entre os melhores escritores dos nossos dias. Mas antes disso, eu teria uma reserva à construção do último período, quero crer que ficaria melhor “Só a caçula, de longe – tentava a Vida na Irlanda – minimizou.” E outra menor a última palavra do parágrafo, provavelmente teria usado “passaria” ao invés de passava.
No segundo parágrafo, dúvida que prefiro abandonar em se tratando de usar Bela como substantivo próprio e assim iniciado por maiúscula. Creio que o ponto principal ali seja a construção do período, deveras longo (tanto que compreende todo o parágrafo) e intercalado entre travessões por uma observação nem tão útil quão prejudicial à fluidez da leitura.
Na abertura do parágrafo seguinte, nova alternância de foco, essa atenuada pela imediata repetição do substantivo clínica, repetição essa que poderia ter sido evitada. Incomoda-me constatar que, conforme explicitado ao final desse parágrafo, o personagem “ignorava” (como quem descarta) a fisioterapia, no entanto, pelo parágrafo anterior sabemos que lá, na cínica, ou bem próximo a ela, estava ele. E quer me parecer que que não se mostrou o que inicialmente o teria levado a frequentá-la. Poderia ter anulado essa incongruência dizendo que “a fisioterapia, entretanto, achava ineficaz, implicância de velho, e a princípio ignorava.“ Ou ignorou.
O parágrafo seguinte apresenta nova incongruência “Ela subia para o sexto, escutou-a pedir, a voz macia, um sotaque estrangeirado.” Escutou-a pedir o quê, a quem? Entendo a importância de nortear o leitor sobre a idade do personagem, porém teria apreciado algo mais sutil e inexato do que “sete décadas de vida”. Ademais, ao meu ver quem exibe personalidade e ousadia de estilo com “sotaque estrangeirado” não pode se permitir um clichê como “rosto angelical”. Assim como adiante, ponto positivo para os olhos cor de açúcar queimado e um torcer de nariz para “pele de seda”.
A seguir, a observação “amor à primeira vista” é mais que desnecessária. Os “sintomas” foram claramente apresentados, explicitar o diagnóstico subtrai do leitor o prazer de deduzi-la por si mesmo.
Em “No corredor vazio, apenas a porta de vidro cinzenta e as letras decalcadas indicando — fisioterapia — em vermelho vivo.” Eu comecei a me perguntar se a autora teria algum tipo de compulsão por travessões (rs). Fisioterapia poderia ter sido escrita inteiramente com maiúsculas, ou tão somente entre aspas.
“…a Bela lhe sorriu um cumprimento simpático com os dentes grandes naturalmente claros entre os deliciosos lábios rosados.” Predicados demais, deveras e diretamente apresentados. E o período que se segue precisa gravemente de revisão.
“De perto ela era ainda mais linda” a beleza não é algo que se possa simplesmente declarar, como que por decreto. Precisa ser semeada, cultivada, edificada no imaginário do leitor. O adjetivo poderia ser utilizado tão somente para sustentar o “cheiro” que, exalando da moça, adicionava a sua beleza uma nova dimensão. Não obstante “Ele respirava fundo, as pálpebras cerradas, sobretudo durante os exercícios.” Faz exatamente isso, reporta o imaginário do leitor ao deleite do personagem. No parágrafo seguinte, a autora magistralmente nos conta, sem contar, que conversaram e que também com a conversa ele se deitava.
“Bibiana, notando o contorcionismo, pensou…” Não me agrada, nem aqui, nem adiante, as menções que concedem à coadjuvante o foco. Teria preferido que tudo fosse apresentado pela ótica, ainda que indireta, dele. E que mesmo qualquer coisa que eventualmente pudesse ter passado pela cabeça dela fosse então dedução dele, ou meramente deixado na incerteza.
Quando a narrativa aborda a noite de insônia e o plano que esta rendeu ao senhor, propõe-se uma escalada de confiança no que tange a efetividade do plano que, inicialmente lhe pareceu sórdido, depois factível, depois… “com alguma possibilidade de se concretizar”, mas esta não seria a definição de factível?
No parágrafo que se segue à proposta, ou convite, novamente o foco na coadjuvante, dando-lhe, de certa forma, voz. Ao meu ver, tudo isso poderia ter sido apresentado por ele, como razões pelas quais ela lhe teria alegado não haver respondido imediatamente, bem como porque resolvera aceitar. Uma forma mais sútil de explicar a ele – e ao leitor – que a moça não estava se vendendo. E a ruguinha (carinhosa ótica dele) na testa, a boca torcida, a careta nervosa bastam e dispensam o “Estaria fazendo a coisa certa?” que, novamente, furta o leitor. E o parágrafo que se segue parece-me perfeito, exceto pelo “cavaleiro” observado por outros leitores.
“Talvez tenha sido o sabor da trufa ou uma espécie de nostalgia antecipada…” O primeiro período deste pequeno parágrafo (mas não o que imediatamente segue) ilustra perfeitamente minhas recomendações sobre como, ao meu ver, deveria ser tratada a perspectiva da personagem secundária, incerta, no máximo vista pelos olhos dele.
“Foi então que soube que ela estava na Grécia trabalhando como fisioterapeuta” talvez pudesse ter sugerido, de alguma forma arguta, que ela assim planejara desde o início.
Gosto do desfecho (a vida como ela é), bem como do arremate retomando ao início. Gosto da neutralidade da narrativa onde a empatia se nos é conquistada pelas ações do protagonista. Gosto, mais do que da escrita em si, da promissora sensibilidade que se detecta, não apenas em relação às coisas da vida, mas para com as coisas da literatura. Recomendo cuidado com as crases, com as vírgulas e demais recursos de pontuação, mas nem por isso deixo de lhe dar parabéns. Seu texto flerta de boa distância com a crônica, mas sem se deixar contagiar por aquela, tem densidade, porém uma densidade sútil, que não é imposta, mas engenhosa, cuidadosamente construída.
P.S.
Quanto à extensão do comentário, não se espante, foram dois os prazeres, o da leitura, apenas o primeiro.
2) Cinzas na primavera
Senhor idoso comprou carro esportivo conversível vermelho para impressionar mulher mais jovem e fisioterapeuta. Após iniciar tratamento fisioterápico com a mesma, convidou-a para ambos irem à Europa. Ela aceitou o convite. Tudo pago por ele. Durante a viagem, ela o deixou e seguiu outro destino.
ANÁLISE: Escrita confusa, densa, texto cansativo na minha opinião. A história tem movimento, trama, é até interessante no quesito “velho compra carro conversível vermelho para impressionar mulher jovem”. Mas o final é óbvio, um velho burro acreditou nesse romance?
2. Cinzas na primavera (Frotinha)
Uma história de um romance em idade avançada, mas com todas as peripécias de um juvenil. Todos os suores frios, todos os arrepios, todas as borboletas no estomago.
Uma história um pouco atabalhoada, com um final não esperado, mas mesmo assim, um pouco fraca.
Portuação: 2
Resumo: Um idoso já passando dos 70 anos se apaixonou pela fisioterapeuta e fez várias peripécias para atraí-la. Comprou um carro esportivo, mesmo a contragosto dos filhos e finalmente consegui convencê-la a viajar com ele para a Europa. Lá chegando, já no último dia da estadia em Paris, ela o convidou para dormirem juntos, mas ele, ao se ver no espelho, achou-se um velho patético, e preferiu não ir além das carícias. No dia seguinte, sua fisioterapeuta amada deixou um bilhete na recepção do hotel, onde o agradecia pela viagem e informava que estava viajando para outro lugar.
Ao retornar à sua casa, após a viagem, seus filhos ainda o perturbavam por conta do carro conversível e ele afirmou que venderia o veículo assim que o verão acabasse. No entanto, ainda deu várias voltas pela cidade em seu carro conversível.
Comentários: Conto muito bem escrito. Nota-se um escritor de excelente qualidade. Minha única observação seria pelo fato de o conto não relatar o envelhecimento em si, mas sim já o estado de velhice. Talvez eu tenha me atentado muito ao tema, enfim. De qualquer forma, um texto fluido, gosto de ler.
O conto nos mostra o desenrolar da relação entre um senhor doente e a sua enfermeira, pela qual se apaixona e a qual ele tenta conquistar. Acho que há alguns pontos para se criticar. O conto é quase inteiramente narrado de forma a contar a história para quem lê: isto é, na maior parte do tempo somos informados das ações, planejamentos e do que ocorre, mas, em grande parte, nunca nos atendo a um momento específico em que podemos conhecer mais reflexões das personagens para além dos seus desejos centrais (estar com Bibiane; tentar oportunidades na Europa). Isso empobrece a leitura, pois as personagens se resumem ao que querem, desejos que não escapam de cenários comuns que poderiam ser resumidos a, digamos, “um amor proibido”. Lanço outra crítica a uma outra opção do autor, esta agora nos momentos em que a narrativa deixa de ser geral como acima criticada para se ater a pontos específicos. O senhor apaixonado sendo a perspectiva central pela maior parte da leitura, há momentos que fazem os olhos rolarem, como na ocasião em que se encontra com a enfermeira “indesejável” cujas características sugerem uma mulher que deveríamos tomar como intragável, inversamente oposta a tão perfeita Bibiane que, sempre que descrita, tem suas características indo de encontro à paixão do protagonista (“lábios rosados”). isso faz da leitura cansativa e, no episódio específico apontado acima, foi mesmo incômoda a expressão “acima do peso” como pejorativa. Enfim, o conto optou pela resignação do protagonista e aí eu interpretei algumas coisas que não acho merecedoras de desenvolvimento aqui. Acho que em alguns trechos há um excesso de vírgulas e achei um “cavaleiro” quando deveria ser “cavalheiro”.
Espero não ter sido despropositadamente duro. O que acho é que a forma narrativa não cativa e que o tema do conto, talvez “o amor na terceira idade”, careceu de um desenvolvimento mais chocante. Além disso, poderia ter revisado o conto mais uma vez, lapidado alguns trechos.
Resumo: Senhor idoso se sente atraído por sua fisioterapeuta e a convida para viajar com ele.
Desenvolvimento do Enredo: Esse texto me trouxe certo conflito com a leitura. Por um lado, não me animei para lê-lo, mas por outro lado se fosse um livro ou filme eu o leria ou assistiria, sem grandes problemas, sem reclamar de ter que fazer isso, mas seria daquelas obras que não fariam com que eu caísse de amores… É um enredo ok, de narração segura, que trata de um tema cotidiano e que pra mim brincou com a quebra de expectativa. Eu acreditei que alguma coisa fosse acontecer, em algum momento o autor ou autora fez com que eu achasse que Bibiana ia aprontar alguma coisa, ou algo fora do que se espera aconteceria, até mesmo insólito ou surreal, mas claro, assumo que foi a minha expectativa criada para o texto.
Composição das personagens: Pode até ser que as personagens sejam o maior motivo de eu não ter caído de amores pelo texto. A impressão é a de que Bibiana não foi aproveitada como poderia e está ali apenas para que o plot se cumpra. Se fosse um narrador em primeira pessoa seria até compreensível, mas sendo terceira pessoa, por que Bibiana não foi utilizada como poderia? A composição dela ficou interessante, não era apenas mais uma loira de corpo escultural e rosto angelical. Mas parece ter sido criada apenas para a conveniência do autor/autora.
Parágrafo inicial: Não me pareceu, da forma como está elaborado, capaz de prender o leitor. Há muita coisa contada de uma vez só, melhor seria ter desmembrado, escolhendo a parte que mais atrairia o leitor… Talvez começar justamente com a frase que finaliza esse parágrafo, “Era só um capricho de idoso, que não se preocupassem, logo passava.” Aí o leitor se perguntaria: que capricho poderia ser esse? Aí nos próximos começaria a se falar sobre a reunião de família para resolver etc.
Finalização: Ok, o final encerra dentro do esperado, ou não, digamos. Como eu esperava uma reviravolta, algo diferente do que acabou acontecendo, fiquei um tanto desapontada. Ou talvez a rapidez dele foi o que me desapontou mais.
Este conto é um sabrinesco da terceira idade, no qual um idoso cumpre o sonho de comprar um carro “convertível” ou “descapotável”, como dizemos aqui em Portugal. Ele conhece uma jovem e convence-a a ir com ele para Paris. Depois ela segue para Madrid e dali para um campo de refugiados.
Achei a linguagem algo confusa. O autor ou autora tem o domínio da escrita, mas pretende demonstrá-lo complicando a transmissão de ideias, na minha opinião de uma forma desnecessária. No final, fica a ideia de um idoso saudosista a querer ter um último vislumbre da vida, no final, tudo não passa de uma aventura de poucos dias e só ficam as recordações. Fiquei com a ideia de estar a ler uma fábula. Se ele tinha dinheiro para uma viagem a Paris para duas pessoas, o sonho de ter um carro desportivo não seria assim tão ridículo, digo eu, que não tenho dinheiro nem para uma coisa, nem para a outra.
Olá autor(a),
Tudo bem?
Resumo – Homem vive sua “última aventura”, ao comprar um carro esportivo e tentar seduzir sua fisioterapeuta.
Escrito em terceira pessoa, o conto nos traz, após a leitura, a sensação de tê-lo lido em primeira pessoa. Talvez isso aconteça, pois, aqui, vemos uma narrativa como tantas outras, de tantos senhores de idade avançada buscando a glória de seus dias de juventude no amor de uma mulher, na exibição de um status poderoso, na sensação de adrenalina que, em tal idade, ainda consegue sentir ou obter.
Interessante notar que o(a) autor(a) não busca a empatia do leitor, no que tange a personalidade do protagonista. Nem bom, nem mal, nem um herói romântico, ou, algo ao contrário disso, a narrativa nos traz um retrato quase fiel do que poderia vir a ser a realidade de tal senhor. Ele não usa máscaras e, talvez por isso, o tom que soa ao(à) leitor(a) como primeira pessoa. Ao contrário, o(a) autor(a) não nos polpa dos pensamentos de seu personagem, com pitadas de uma sinceridade humana que é o ponto forte desta narrativa.
Parabéns pelo trabalho.
Beijos
Paula Giannini
Um conto muito bom. O protagonista é carismático, a história sedutora, cono Bebiana. Mas depois de tanta entrega, torcida e dedicação nossa e do protagonista, merecíamos a recompensa do final romântico feliz.
Gostaria de entender melhor o que levou o protagonista a tomar suas ultimas atitudes, apesar do texto deixar sutilmente no ar.
Um ótimo conto, mas o final entristeceu.
Resumo: Idoso resolve fazer seus desejos reprimidos. Começa por exibições egocêntricas ao comprar um carro conversível vermelho; fazer aulas de fisioterapia e uma viagem a Paris acompanhado por uma bela mulher, apesar dos esforços que fazia para ser notado por ela, mas a queria, que fosse apenas, para desfrutar de sua presença.
Gramática: Não percebi nenhum deslize que agravasse a leitura.
Avaliação: Longe de ser um bom conto, entretanto singelo. O que mais prejudica o enredo é a narrativa cheia de informações desnecessárias, tipo: a cor das roupas das atendentes, o desejo do filho em usar o dinheirão gasto do pai, nos estudos do seu filho. Tornando a narrativa arrastada e sem muita objetividade com relação direta com o enredo.
Oiiiii. Um conto sobre um idoso que se apaixona por uma fisioterapeuta chamada Bibiana (ou chamada também de Bela provavelmente pela beleza) e a leva em uma viagem para Paris. A história começa falando de como ele comprou um carro para a impressionar e como isso não surtiu efeito e ainda provocou confusão com os filhos. Mas ele não desistiu e depois de um tempo a convidou para uma viagem há Paris, uma experiência que se mostrou muito agradável para eles. Mas quando, na última noite, a moça o puxa para o quarto ele recua, talvez por se sentir velho demais e isso nos faz refletir em como tem uma diferença entre está avançado em idade e se sentir velho. No fim ele diz aos filhos que vai vender o carro, porém na primavera ele ainda estava com o carro. Acho que o carro o fazia se sentir jovem novamente e por isso ele se apegou . Achei interessante como a narrativa foi sendo construída e gostei de ter escolhido Paris como destino da viagem, pois Paris é uma cidade romântica e tem tudo a ver com os sentimentos que ele nutria pela Bibiana.Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
Olá, Frotinha, realmente, um apelido de velho você me arrumou. Gostei. Mas, amigo, que história mais bonita você me arrumou. Um velho que se encanta pela moça e desenvolve um plano para estar com ela numa viagem idílica por Paris. Um resgate da juventude, visto mesmo a partir da aquisição do automóvel conversível. carro Uau. Admirei a riqueza do seu vocabulário, bacana isto. Você me apresenta um conto criativo e interessante na maneira como me traz os detalhes da sedução. O fechamento da narrativa ficou ótimo. O recuo no último momento do nosso personagem ao se reparar ridículo no espelho ficou excelente. Como nada é perfeito, amigo, gostaria de lhe sugerir umas dicas. Avalie se não seria necessária uma crase no “a tarde”. Também achei que de Bela ficaria melhor que “de a bela”, até pelo sutil cacófato que se produz. Quando da espera de Bibiana no aeroporto, após ansioso verifique se não faz falta um com medo. Uma outra saída a ser vista seria colocar ponto após ansioso e aí poderia iniciar diretamente com “Medo”. Acho que vírgula é muito mais questão de estilo, mas lhe confesso que tive estranheza com algumas e senti falta de outras. Meu abraço de parabéns pela bela história, amigo.
Resumo — Idoso se apaixona por fisioterapeuta e vive um grande sonho de amor em Paris. Mas ele acorda do sonho antes que se torne realidade.
Técnica — O gostoso aqui está na riqueza do personagem. A paixão e a sabedoria estão muito bem mescladas tornando o conto uma crônica do cotidiano verossímil.
Trama — O que poderia ser uma história de amor, nascida da união do útil com o agradável, teve uma guinada de sobriedade assustadora. Tapa na cara bem orquestrado.
Impacto — “Voltou para casa eufórico, a capota abaixada, os pneus cantando nas curvas, o vento fazendo mais leves os anos que lhe pesavam depois de trocar dois beijinhos no rosto ao se despedir da Bela naquela noite bem-aventurada.” – A paixão não envelhece, mas também não amadurece.
Numa crise de meia-idade (ou terceira idade) o protagonista desenvolve uma paixão por Bibiana, “a Bela”, uma das suas fisioterapeutas, e num plano designado para se aproximar dela, convence-a a acompanhá-lo (como fisioterapeuta) numa viagem à Europa, com a justificativa de ir visitar a filha, residente na Irlanda. Inclui-se, contudo, uma paragem em Paris, onde de facto a aproximação ocorre, mas é interrompida pelo próprio protagonista quando, ao ver o seu reflexo, vê a situação tal como seria vista por alguém exterior.
O enredo evoca os romances de verão, fadados desde o início a serem intensos mas curtos, pesando mais na memória de quem os viveu que em qualquer outro aspecto da sua vida. A diferença aqui estará não apenas na idade do protagonista (que usualmente é alguém jovem, não idoso) e no facto de focar no desenvolvimento de algo que não se concretizou, por decisão do próprio protagonista. Julgo, contudo, que haveria um maior aproveitamento da premissa caso as personagens tivessem sido melhor desenvolvidas, Bibiana em particular. Não compreendi qual a atracção dela, além dos atributos físicos, e qual as razões pelas quais mudou de ideias sobre a sua relação com o protagonista.
Em relação à narrativa em si, está bem conseguida no seu geral, mas tem detalhes que dão alguns “solavancos” à leitura, de entre os quais se destaca o excesso de vírgulas: muitas vezes não eram necessárias, ou poderia ter-se reestruturado as frases de modo a serem evitadas.
Assumo que as vezes me falta uma certa bagagem, e conhecimento mais técnico para avaliar de forma mais funcional alguns contos presentes aqui no grupo.
Vejo alguns criticando que acharam os contos mornos, e que leram uns quantos e não acharam nada fantástico. Já eu acho quase todos fantásticos, bem escritos e criativos.
Mas bem, acabando o setor de desabafo! 😛
Gostei muito do seu conto, li cinco até agora, e o seu foi o que mais me marcou, muito bem escrito e de uma sensibilidade impar, olha, poderia jurar que você é o tal velinh@ para passar de forma tão intima o olhar do personagem.
Achei a estrutura do texto bem organizada e bem definida, é bem claro para quem lê os nuances de inicio e fim de cada ato no texto. Não achei nenhum erro ou incoerência de pontuação e ou gramatica, mas esse não é nem de perto meu forte.
Parabéns pelo conto, gostei muito de poder vivenciar a leitura.
Sei que não precisamos indicar aqui as notas, mas não tenho como não dar nota máxima para sua obra! 😀
Resumo: Um senhor de idade se apaixona por uma jovem fisioterapeuta. E, assim, numa sucessão de extravagâncias, tenta conquistá-la. No final, quando reconhece que algumas coisas não podem ser forçadas, aceita a verdade e segue com a vida como deveria: sem arrependimentos.
Olá, Frotinha.
Olha, vou te falar, você escreve MUITO bem. E seu dicionário é riquíssimo. Devo admitir que sua narrativa não é do tipo que me agrada, então tive que ler com atenção redobrada. Não foi tão prazeroso, haha, mas isso não vai te prejudicar. É seu estilo e merece respeito por escolher segui-lo.
Não sei se mudança de foco na narrativa está brusca demais, no início, por exemplo, achei que o conto seguiria um rumo muito diferente e demorei um pouco para perceber que o ritmo e tom mudaram. A imagem inicial que criei era mais atraente: imaginei que seria uma revolução do velho, que, por estar encarando a morte de perto, decidiu se jogar no mundo dos prazeres. A premissa do conto não é ruim, mas também não é fantástica. A sua habilidade como escritor que fortaleceu o texto.
Minha parte favorita, com certeza absoluta, é quando o velho fica envergonhado de si mesmo perto de Bibiana. Foi humano. Gosto desses traços. E você abordou isso com propriedade no decorrer do conto.
Talvez algumas pessoas encontrem dificuldade em identificar o tema. Mas, para mim, está bem claro como o “Envelhecer” se encaixa na história, principalmente na parte que apontei acima. A pessoa quando está envelhecendo, muitas vezes, cria uma resistência a isso. Não encara a realidade. para o protagonista, essa resistência se mostra na vã tentativa de conquistar Bibiana. E sua realização, quando percebe, por fim, que está velho e não pode lutar contra isso, é no ato de caridade dela, no final da viagem. Foi bem sutil, a forma como inseriu esses elementos. Gostei bastante!
Não tenho muita coisa para adicionar, mas espero que conquiste tudo que desejo de coração e seja bom! Parabéns pelo texto!
RESUMO:
Idoso apaixona-se por Bibiana, jovem fisioterapeuta. Querendo impressionar a moça, compra um conversível vermelho, o que escandaliza os filhos. Convida a Bela para uma viagem à Europa. A moça aceita o convite, pois é uma oportunidade imperdível. Em Paris, passeiam e jantam juntos todas as noites. Apesar de perceber a insinuação romântica do senhor, Bibiana mantém-se distante, restringindo o contato apenas como fisioterapeuta e amiga. Até que na última noite em Paris, ela resolve relaxar e ceder. Mas aí é ele que pula fora ao perceber o quão ridícula era a situação. Eles se separam, cada um indo para um destino. parte em direção à casa da filha. Trocam poucas mensagens depois disso e ele fica sabendo que Bibiana está na Grécia trabalhando como fisioterapeuta em um campo de refugiados. Ele desiste da fisioterapia e promete aos filhos que venderá o carro assim que o verão termine. Mas até lá, enquanto circula pelas ruas em plena primavera com o seu conversível.
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F Falhas de revisão Esta é a parte que menos importa na minha avaliação. Só para constar mesmo. Não percebi nada além do “cavaleiro” (que monta cavalo) ao invés de “cavalheiro” (homem gentil, nobre e educado).
I Impacto do título Achei o título poético. E o bom é que não entrega nada do enredo.
C Conteúdo da história Os personagens estão bem caracterizados e há um tom quase de comédia na narrativa. Vez ou outra, o narrador se refere à Bibiana como a Bela. Teria alguma relação com A Bela e a Fera? Sendo Bibiana a Bela, e o idoso, a Fera? Um conto de fadas que acabou antes de começar, o fogo de palha que se tornou um monte de cinzas.
A Adequação ao tema O conto aborda o tema proposto.
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E Erros de continuação Não percebi nada que destoasse na trama, nem pontas soltas ao longo da narrativa.
M Marcas deixadas Apesar do tom bem humorado, o conto acaba por deixar um gostinho levemente amargo ao revelar a realidade vencendo a fantasia. A repentina paixão que trouxe uma centelha de juventude ao senhor, mas durou pouco, pois ele logo se deu conta de que seria pouco provável concretizar o seu desejo sem cair no ridículo. Entretanto, também restou a empatia com o personagem e a esperança de que ele possa aproveitar sua maturidade com alegria.
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C Conclusão da trama O título então se justifica – cinzas (o que restou do ardor da juventude) na primavera. “Na primavera ainda circulava” – Mesmo não sendo mais jovem e estando sem grandes expectativas, o idoso deseja aproveitar ao máximo o símbolo da sua breve volta à juventude.
A Aspectos quanto à originalidade do conto Apesar da história – homem mais velho e rico se apaixona por mocinha e a leva a Paris como uma Cinderela – não ser inovadora, o destino dado aos personagens fugiu ao esperado clichê. Gostei disso.
S Sugestões Enxugar um pouco a narrativa no trecho da viagem. Talvez uma pequena alteração na última frase valorizasse ainda mais o final. A expressão “um boné sem glamour contendo os cabelos” deu uma travada, o que tirou o ritmo e impacto do desfecho .
A Avaliação final Conto que foge da generalização, mesmo que a princípio pareça trilhar uma sequência de clichês óbvios. Boa narrativa, que se não chega a surpreender, também não decepciona. E não se preocupe, o conto não é morno. 🙂
Olá, Frotinha.
Resumo do conto: septugenário apaixona-se pela fisioterapeuta venezuela da clínica que ele frequenta, isso durante uma espécie de tardia “crise dos 40”.
Sob o pretexto de visitar a filha e de ter os cuidados da gentil Bibiana, o senhor a convida para uma viagem à Europa, com tudo pago. Bibiana hesita, mas acaba por aceitar. Durante a viagem, eles chegam quase a “algo mais”, mas o senhor preferiu apenas continuar na amizade. Eles se separam: ela vai a Madri, e ele à Irlanda. Tempos depois, continuaram a receber mensagens discretas, e o senhor, embora houvesse prometido livrar-se do conversível, continuava a digirir o “carrão”.
É um conto muito bom, com alguns personagens bem desenhados, em especial o protagonista. O texto está muito bem escrito e passa bem os sentimentos e as personalidades do senhor e da moça venezuelana. A história pareceu, contudo, evitar conflitos, como a reação dos filhos ao namoro tardio do pai por uma mulher muito mais nova. Contudo, penso que foi o caminho mais sensato a se tomar, como escritor, visto o limite exíguo de 2000 palavras.
Boa sorte no desafio!
Cinzas na primavera – Frotinha
Parece que nessa vida estamos sempre fazendo planos para o futuro… de modo que depois de passar a vida inteira sonhando em possuir um carro esportivo, ele o comprou. Os filhos, todos crescidos, estranharam, mas estava na idade em que não mais se preocupava com opiniões alheias. O viúvo desenvolvera uma forma inusitada de se manter ativo, frequentava clínicas em busca de uma doença qualquer. Além do desgaste natural da idade, nenhuma enfermidade. Mas lhe receitavam fisioterapias e um ou outros anti-inflamatórios. Na fisioterapia que encontrou a luz, a cor, o cheiro o sabor, a vida… Chamava-se Bibiana e era natural da Venezuela. O carro comprou para impressioná-la, vibrou quando pode lhe oferecer uma carona e a partir daí, criou mil situações para prolongar os momentos com sua paixão. O auge disso foi convencer a moça a acompanhá-lo numa viagem a Europa, Paris… passeios, jantares, o clima da cidade luz a instigar sentimentos e… aconteceu. A moça cedeu. Porém próximo de realizar sua fantasia mais desejada. Ele se viu um reflexo no espelho e abortou a missão. De Paris foi a Irlanda, visitar um dos filhos. A moça aos poucos foi deixando a sua rotina, o carro seria vendido assim que o verão se encerrasse.
Considerações:
Na vida estamos sempre vivendo no tempo errado. Na juventude trocamos tudo pela corrida desenfreada em busca de sucesso, status, dinheiro, constituímos uma família e o foco se volta para a formação dos filhos, mas um dia… um dia chegará a nossa vez de colher. E quando chega finalmente a nossa hora de colheita as costas, os joelhos o fôlego já não suporta a tarefa árdua. O fruto ali, tão próximo de ser colhido e saboreado e no entanto tão distante do alcance das nossas mãos cansadas. Me parece ser este, o teor do seu conto, meu amigo, minha amiga, autor (a); um conto triste. Principalmente pela broxada final… muito bom trabalho… parabéns e boa sorte.
O amor na velhice é o que se pode declarar a base desse conto. Fluido, bem organizado, tratando-se da paixão forte enquanto não despertou para a realidade. É patente a técnica, a candura, mostrar o lado conquistador, o querer ter mais do que se possa obter por mérito. Voltar para a primeira realidade e de uma conquista mais certa que é a posse de um carro, esportivo, mesmo sabendo tratar-se de atitude que despertaria a preocupação dos filhos. Um pouco piegas, talvez até com clichês, mas bonito e elegante. Gostei.
Idoso compra carro esportivo para chamar atenção da fisioterapeuta da clínica onde se tratava. Como não deu resultado, convidou-a para uma viagem para a Europa. Tardou, mais a moça estava disposta a ter um romance com ele; mas quando ele viu seu reflexo no espelho, ao lado dela, é ele quem desiste. Ela fica na Europa e ele retorna ao Brasil, prometendo aos filhos vender o carro.
A técnica pareceu-me circular: o protagonista, seu carro e o boné para disfarçar a calvice — o texto começa e termina assim. Quer dizer, o idoso passou por diversas situações, mas a vida voltou para onde sempre estivera.
O autor soube muito bem incluir a naturalidade na relação entre os personagens. O cotidiano é retratado com um toque de nostalgia. A trama é crível e fecha bem, mesmo se tratando de um tema meio clichê. Sem erros, bem escrita e fluida, um título sonoro. Faltou mesmo um conflito mais marcante e um pouco mais de emoção.
É um texto bem humorado, não uma verdadeira comédia, pareceu-me mais um drama humorado.
Bom trabalho e um abraço.😂