Quando os dois entraram, juntos, no mesmo vagão em que ela estava, Adriana de cara reparou que se tratava de pai e filho. Um pai idoso junto de seu filho adulto. O primeiro, na casa dos setenta e muitos; o segundo, na indefinível faixa dos quarenta.
Por razões tão implícitas que talvez nem mesmo Jung ousasse arquetipar, Adriana não conseguiu mais tirar os olhos dos dois recém-chegados passageiros. A porta automática então se fechou, logo após o ruidoso aviso cessar, e a composição metálica partiu em velocidade crescente por dentro do túnel escuro, rumo à próxima estação.
Submersa em pensamento e solo rochosos, Adriana acompanhou o lento caminhar daquele pai — que evitava ficar na zona próxima à saída e entrada do coletivo — em direção ao centro do vagão; local menos suscetível a movimentações apressadas e, consequentemente, esbarrões.
De certo, como a expressão amena que o rosto daquele ilustre senhor denotava, ele já se acostumara às graduais limitações impostas pelo Tempo e, provavelmente, procurava — agora já de modo automático — dirigir-se sempre para os pontos onde ‘menos atrapalharia’ o livre-fluir da vida e seu vai e vem dinâmico; encenado por aqueles que, por mais alguns ciclos, ainda fariam parte da chamada parcela produtiva da sociedade.
As momentâneas estrelas — muito em breve cadentes — a pisarem no palco veloz do agora.
O filho ficou ao lado dele até uma moça bem jovem se levantar e, oferecendo gentilmente seu assento para o idoso, exacerbar de vez a discrepância de altura existente entre as duas gerações daquela família. Outra notória característica exercida pela ação incansável do avançar sorrateiro dos anos sobre as indefesas carcaças humanas…
Tão ágeis, quanto frágeis.
Deixando o pai já acomodado no assento cedido, o filho partiu para o outro lado do vagão, onde avistara um banco recém-liberado devido à diminuição da velocidade da composição, significando sua proximidade do ponto de parada seguinte. No entanto, o contraste entre o pequeno número de passageiros que saíam e a massiva quantidade dos novos que adentravam em cada uma das estações adjacentes aumentou tanto que, em pouco tempo, tornou-se impossível até mesmo a mera visualização entre os dois membros daquela linhagem.
Separados por um bloco encorpado de pessoas, pai e filho passaram a se comunicar por mensagens de texto, via celular. Adriana pôde facilmente deduzir isso enquanto acompanhava, com os olhos, os movimentos do idoso sentado próximo a ela; e viu quando este, provavelmente sentindo a vibração do aparelho, retirou do bolso da calça o telefone, logo passando a interagir com a tela do dispositivo.
Na sequência, Adriana observou o senhor procurar — sem sucesso — pelo filho, olhando na direção que o descendente havia, supostamente, informado ao patriarca estar sentado, através da mensagem previamente recebida.
Depois, acompanhou a lenta digitação do septuagenário no aparelho, seguida por um tenro sorriso, que trouxe até Adriana tanto a certeza de uma resposta engraçada por parte do filho ao pai, quanto um desejo pessoal da observadora — quase incontrolável — de saber os detalhes daquela comunicação pra lá de singela; e que ela, simplesmente, não conseguiu em momento algum da viagem parar de acompanhar.
Porém, o mais curioso não foi nem o fato de Adriana ter ficado agindo como uma clássica vizinha fofoqueira de cidade pequena, daquelas que se colocam nas janelas de suas casas para bisbilhotarem o vai e vem dos transeuntes na rua… O inusitado, mesmo, foi o sentimento de paz e aconchego que — tendo participado secretamente daquela interação entre pai e filho — lhe tomou de golpe, e por completo, o coração.
Adriana não se sentiu como uma intrusa, alguém de fora a espionar dois desconhecidos sem ser chamada; ou percebida. Pelo contrário, aquelas cenas vivenciadas no metrô lhe pareceram um convite; uma estranha forma de reencontrar-se consigo mesma; com a essência de quem ela um dia — não tão distante daquele — já foi.
Lembranças que o Tempo não apenas levara, mas que também trouxera de volta, inesperadamente, embutidas naquela bonita intimidade presenciada entre pai e filho. Sentimentos profundos já enraizados nas cicatrizes de troncos podados. Perfumadas seivas de árvores ceifadas, que emergiram nas cinzas das horas, florescendo dentro daquele vagão lotado, em meio à ausência do impreterível avançar dos ponteiros do relógio.
A cumplicidade de quem conhece o âmago da alma de outrem. Os traços, os atos e trejeitos. O que pensa, como processa e de que forma age outro ser que, mesmo fora, dentro mora. Empatia; reciprocidade. Compreensão profunda e mútua.
Rara.
Adriana fez, então, a conexão. A ligação que faltava. A resposta que, talvez, já até soubesse; mas que, por algum motivo, sua razão não ousara sibilar, retirando-a da placidez embebecida em mel que somente o onírico mundo da emoção podia oferecer. E acomodar.
Suzana.
Aquele grau de intimidade; aquela forma de cuidado, zelo… A cumplicidade emanada pelo brilho do olhar, do sorrir, do buscar… Adriana só experimentara com ela. Por ela. Através dela.
Seus afagos, suas carícias, o tom sereno de sua voz. Seus abraços, suas delícias, o som ameno do ‘nós’. Tudo era motivo de expansão interior. Tudo nela trazia ao seu coração a quietude necessária para alcançar a felicidade, a plenitude-mor.
A completude do ser, do estar.
Com Suzana, as batidas de seu coração não eram mais batidas. Eram toques. Estímulos suaves para tudo em volta preencher, rechear de cores e sabores, eclodir… Para o mundo inteiro colorir. Mesmo sem padre, sem filhos, sem véu.
O amor seria o legado do casal. Imortal. Assim como as saudades dela. Duas essências indeléveis. Atemporais… Mesmo muitos anos depois da despedida, poder chegar do trabalho e ainda sentir o perfume dela pela casa; ou dentro de um livro…
Isso, o tempo não leva.
Adriana experimentava estas sensações com a mesma frequência com que aquele pai sacava o celular do bolso da calça. Ela acompanhou cada uma das manobras durante todo o trajeto que fez naquela composição. O senhor tirava o aparelho do bolso, colocava o dedo indicador da outra mão sobre a tela, e lia a mensagem do filho. Depois, guardava novamente o dispositivo na calça.
No entanto, a partir de determinado momento daquela viagem, Adriana percebeu que o idoso passou apenas a colocar a mão sobre a perna, como se sentisse a vibração do aparelho no bolso, e, sem demonstrar mais o ânimo pregresso, não o sacava da vestimenta nem lia a mensagem recebida.
De certo, padecia com um efeito que a leitura em meios de transporte — durante movimentações — pode causar em algumas pessoas, não necessariamente idosas: o enjoo. E, muito provavelmente por conta disto, ele manteve, dali em diante, o telefone o tempo todo no bolso.
Pelo menos até a estação em que Adriana saltou; não sem antes desferir uma última olhadela para seu já saudoso parceiro de viagem, que tantas lembranças boas havia lhe trazido à mente e ao coração…
Mas, então, ela se deparou com a cena do senhor, ainda sentado e com o telefone agora em mãos, terminando de ler a série de mensagens que tinha perdido. E logo percebeu nele um ímpeto de preocupação, que se iniciou quando o idoso deu início a uma busca — levantando a cabeça e espremendo os olhos — pelo nome da estação na qual o trem estava parado.
Sendo arrastada pela massa humana, e sem a menor possibilidade de retorno, Adriana compreendeu, já do lado de fora da composição, que seu companheiro de jornada não sabia onde estava. E, já testemunhando nas feições daquele pai o momento exato em que ele descobriu que aquela era a estação em que deveria descer, ela pôde apenas acompanhar a tentativa vã do idoso que, levantando-se, não conseguiu chegar a tempo até o ponto de saída do vagão.
Foi quando, pela primeira vez, os olhos daquele pai cruzaram com as enormes gemas azuis daquela mulher, separados apenas pelo vidro da porta de um coletivo atemporal. Um meio de transporte interinamente dialético, etéreo… Respaldando um torpe desencadeamento de ideias, memórias e sentidos.
O trem começou a se mover, levando junto o rosto brando de sua amada…
Adriana ficou parada ali. Ali plantada. Florescendo naquela estação lotada, em meio à presença do imponderável. Lembranças bonitas; compreensão profunda e mútua que o Tempo não apenas trouxe, mas que também levou de volta, inesperadamente, dentro da locomotiva das horas.
Conexão rara.
A composição partiu em velocidade crescente por dentro do túnel escuro, rumo à próxima parada. Emergindo do transe, Adriana acompanhou o lento esvaziar da plataforma onde centenas de pessoas desapareceram, levadas para o alto, em incansáveis escadas rolantes.
Menos uma.
Com seu par de gemas azuladas brilhando na direção daquele único espécime, além dela, que por ali restara, Adriana reconheceu o homem a digitar no aparelho. Era o filho. Tendo saltado por outra porta, ele aguardara o esvaziar da estação para igualmente certificar-se do óbvio: seu pai havia mesmo ficado dentro do trem.
Com os fones do aparelho nos ouvidos e ainda digitando uma mensagem para seu progenitor, o homem sequer notou a mulher que o observava; mesmo Adriana sendo a única outra pessoa que restara ali.
Sentou-se.
Ela, não. Nem conseguiu ir embora… Ficara com a imagem daquele pai, por trás do vidro da porta cerrada, sendo levado para dentro do túnel escuro, contra a própria vontade; separado — à força — de sua descendência. A cada segundo ficando mais e mais distante de sua prole, de seu companheiro de jornada…
Sua seiva.
Caminhou enfim, lentamente, na direção do banco onde o homem estava sentado, ainda a mexer no aparelho. Passou por ele, sem ser notada, e entrou no corredor de metal inclinado, formado pelos corrimões da escada rolante. Sabia para onde iria.
Para onde iriam…
Pouco tempo após ela atravessar para o outro lado da plataforma, onde os trens em direção oposta paravam, o filho subiu pela escada e fez o mesmo trajeto. Conforme o esperado, o pai deveria saltar na estação seguinte, mudar de composição/direção, e voltar para lá, onde ambos por ele aguardavam.
Adriana, dessa vez, foi quem decidiu sentar-se. O filho se dirigiu para o final da plataforma, de onde poderia acompanhar por completo o desembarque dos trens que chegassem, sem risco de perder a movimentação de saída dos vagões.
A primeira composição logo chegou.
O mesmo mafuá ocorrido no desembarque do outro lado. Aglomerações, esbarrões, correrias… E nada do pai. De certo, não teria dado tempo para o idoso desembarcar, subir as escadas, atravessar para o outro lado da plataforma, descer mais escadas, e entrar no próximo trem — que poderia inclusive já estar de saída antes mesmo da chegada dele por lá.
Mais ou menos sete minutos depois, chegou o segundo trem.
O filho continuou a postos e, como da vez anterior, a plataforma foi se esvaziando até sobrarem ali apenas ele… e ela. Fez mais algumas digitações no celular, caminhou em círculo, consultou por respostas no aparelho — aparentemente em vão — e, sete minutos depois…
Chegou a terceira composição.
Até Adriana já estava afoita nessa hora. De pé, observava com atenção a profusão de formigas humanas que brotavam do formigueiro de lata. Nenhum idoso passou despercebido por ela. E nenhum idoso era o pai…
Aquele pai.
A sensação de esvaziamento não se limitou mais ao cenário devastadoramente desértico daquela estação. Adriana sentiu-se desolada também. Um tom cinzento tomou conta das meninas de seus olhos e as batidas apressadas de seu coração trouxeram um gosto amargo à saliva.
As feições do filho, voltando a digitar palavras de refugo em meio à onipresente ausência de respostas, não ajudavam em nada Adriana; em busca por esperança de um desfecho animador para aquela inesperada viagem que empreendera, repleta de significados latentes.
Os sete minutos seguintes foram os mais difíceis.
Quando o chão de concreto começou a tremer e o ruído ensurdecedor de toneladas de ferro e carne, se aproximando em alta velocidade, rugiu através daquela boca negra a se iluminar, a respiração de ambos parou por alguns instantes.
Com a eclosão metálica surgida de dentro do vão forrado por pedra bruta, Adriana não quis nem esperar pela parada e abertura das portas dos vagões… Já foi ali mesmo, com o trem em pleno movimento, analisando e filtrando a profusão de cabeças brancas em sequência que passavam diante dela, por trás de vidros igualmente sequenciais.
No final da plataforma, o filho também não piscava.
Já havia se passado meia hora, desde que o filho desembarcara daquele outro trem; sozinho. Sem o seu pai, ele se sentia sozinho. Não fazia diferença onde, nem com quantas pessoas, nem com quem estivesse. Não importava o que fizesse. Seu velho era o seu melhor amigo; seu melhor companheiro. Seu maior orgulho, sua maior alegria, sua melhor sorte…
Seu pai era o seu Norte.
A quarta composição finalmente parou e, com o abrir de todas as portas, ao mesmo tempo, nova rebelião foi instaurada. Adriana, que não estava — desde o outro trem — mais sentada, agora também não conseguia ficar parada.
Avançando pela plataforma, ela se esgueirou entre a massa humana apressada, rumando em direção oposta à ponta em que o filho estava. Precisava de se certificar que nenhum desencontro ocorresse ali; que nada lhe escapasse e lhe impedisse de participar daquilo que mais almejava presenciar:
O reencontro entre aquele pai e aquele filho.
Só faltava aquela cena para que seu dia, sua semana, seu ano… sua vida inteira pela frente valesse a pena. Adriana precisava daquilo. Necessitava daquele final. Um final feliz.
Mas, a aglomeração foi definhando. O vai e vem frenético de pessoas foi se esfacelando. Muros se transformaram em cercas; cercas em arames, arames em fiapos de gente…
Quando Adriana chegou ao final da plataforma, e por consequência também ao fim da composição, o apito inconfundível do fechar das portas soou, trazendo junto um arrepio que gelou sua alma. Relutando por alguns instantes, finalmente encontrou coragem e virou seu corpo para trás, na direção da outra ponta do coletivo, onde sabia que o homem estava posicionado.
Ainda havia alguns retardatários na estação. O trem fechou suas portas e partiu, deixando um vácuo sobre os trilhos e também no coração da mulher que, somente então, visualizou seu parceiro de espera lá no final da plataforma.
Como uma nuvem escura a se dissolver lentamente no céu, permitindo que os primeiros raios de sol tocassem a copa das árvores de uma floresta sedenta de luz, Adriana foi atingida pelo calor daquela cena: pai e filho dividindo o mesmo espaço, a mesma paisagem, a mesma ação.
O mesmo abraço.
Caminhou em direção aos dois, já com o sorriso de volta a estampar seu rosto e preencher de alegria seu espírito. Ao se aproximar do final da plataforma, escutou o idoso justificando o motivo de sua demora ao filho; que agora pouco se importava com aquilo. Pois, o principal — seu pai — estava de volta ali, ao seu lado.
Firme e forte.
Sorridente como a despercebida mulher a passar por eles rumo à escada rolante, e com um braço apoiado sobre os ombros de seu melhor amigo, o homem mais jovem falou para o mais velho:
— Vem, vambora!
E Adriana, alguns degraus acima, agradeceu em seu íntimo por mais aquele presente.
* * *
Resumo: uma mulher observa um senhor e seu filho entrarem no trem, trocando mensagens por estarem separados, e vive o drama de ver o senhor não conseguir descer na estação certa e a aflição do filho esperando o retorno.
O conto traz uma cena que é bastante comum e muitos leitores podem se identificar: as histórias que acabamos vendo e nos apegando nos transportes públicos. Engraçado que os dois contos que dei nota máxima trazem esse aspecto, algo do cotidiano ou que faz parte do nosso imaginário. A protagonista se apega a conversa dos dois, tem lembranças com isso e ao mesmo tempo torce pelo retorno dos dois, talvez o retorno que não teve com sua antiga parceira. Quantas vezes não estamos no ônibus ou metrô e nos pegamos prestando atenção na conversa dos outros? E acaba chegando nossa vez de descer (ou dessas pessoas) e ficamos apenas imaginando o término da história. Eu mesmo presenciei um tempo desses uma menina entrando no metrô lotado e sua mãe ficou do outro lado, não conseguiu entrar. A criança ficou chorando e as pessoas tentando acalmar, dizendo que a mãe iria encontrá-la na próxima estação. Acabei descendo antes e não vi o desenrolar, mas fiquei intrigado imaginando as possibilidades. Iriam demorar a se achar? E se desencontrassem? E se acontecesse algum acidente? O conto brinca com muitas dessas fantasias e faz o leitor entrar no suspense de adivinhar o final (graças também à ótima escrita e narrativa), que por mais feliz que seja, também alegra o nosso dia.
Valeu, Fil! Fico muito feliz em saber que você curtiu a viagem! 🙂 Quem dentre nós (pretensos escritores) pode dizer que nunca se viu em uma situação dessas… prestando atenção nas pessoas/personagens a nossa volta?
Muito obrigado pela sua leitura atenciosa e seu comentário carinhoso! Abração e um Feliz Natal/Ano Novo! 😉
Paz e Bem!
RESUMO:
Mulher observa dois desconhecidos, pai e filho aparentemente, que entram no mesmo vagão em que ela estava.
Os dois homens se separam e o filho acaba descendo do trem sem o pai. A mulher então, desce também e fica aguardando o retorno do velho, tão apreensiva quanto o filho.
No final os dois se encontram e tudo fica bem.
COMENTÁRIO:
Um conto onde o autor pesou demais a mão no açúcar e nos adjetivos. A ideia é singela e até tem seus momentos bonitos, mas o jeito com que foi escrita acabou deixando tudo extremamente arrastado e repetitivo, tirando todo o peso dramático que poderia ter.
Tipo, para passar a ideia de que pai e filho se separaram dentro do vagão é usado um parágrafo, uns 10 adjetivos e outros 10 sinônimos para “pai”, “velho”, “filho”… e praticamente tudo é nessa linha, tornando a leitura cansativa.
Como em alguns outros contos, não sei se havia uma grande metáfora aí por trás da história. Se houve, em duas leituras não consegui captar.
NOTA: 3
#fabioranzinza!
😦
🗒 Resumo: Adriana, em sua viagem rotineira de metrô, observa com carinho a amizade tenra de pai idoso e filho. Acaba, com isso, viajando em sua própria história de amor interrompida. Pai e filho se perdem e, após angustiante espera, se reencontram, tornando aquele dia “comum” em um momento que ficaria marcado para sempre.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): a trama é bastante simples, mas de uma beleza e sutileza que impressiona e encanta.
Usa de uma premissa banal: um desencontro, mas aborda diversos temas complexos e profundos, como separação, envelhecimento, conflito de gerações e amor familiar.
Há um histórico de separação na vida de Adriana, uma sugestão que fica para o leitor completar: uma filha ou um amor… o conflito apresentado e a resolução angustiante, mas feliz fecham bem a trama. Como já disse: simples, mas redondinha.
📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐⭐): só mesmo um autor que domina a arte da escrita é capaz de nos conduzir por essa trama e nos levar de carona, como um voyer adicional, nessa viagem de metrô. Não vi defeito algum. Uma técnica invejável.
🎯 Tema (🆓️): rotina 🚇
💡 Criatividade (⭐⭐▫): esse conto é a prova de como fazer muito com uma ideia tão simples.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐⭐): confesso que sou, também, como a Adriana: de vez em qdo tenho essa mania “feia” de imaginar um mundo, um universo, só observando algumas situações. Em nossa defesa, não costumo fazer fofoca com as pessoas. Todos os personagens são anônimos. Acho que, por isso, pela forte conexão com a narradora, que esse texto funcionou tão bem pra mim.
Fiz também a minha análise de separações, algumas abruptas e tristes. Fiquei bastante angustiado com o sumiço do velhinho e muito aliviado qdo ele apareceu. Ou seja, mergulhei no conto e fui totalmente conduzido por ele. Missão cumprida do autor. Parabéns!
Nossa, gente…! O Leo gostou de um conto meu!!! (rs!) Ganhei até 5 estrelinhas em dois tópicos de análise! 🙂
Brincadeira, queridão… Valeu mesmo pela leitura e pelo comentário tão atencioso. Fiquei bem feliz em saber que minha história (finalmente!) conseguiu penetrar (êpa!) esse coração de pedra aí! (rs!)
Curti muito o seu conto também (você já deve ter visto a nota!); então acho que 2019 fechou com todo mundo feliz, hein! 😉
Abração, melhoras pro filhote e que em 2020 tenhamos Tempo de sobra para aproveitarmos a vida com e com quem mais gostamos!
Paz e Bem!
Gostou nada do meu. Me deu 3,8 😤
Mas gostei muito do seu. Meu favorito da série B. Parabéns!
Um pequeno trecho do que parece ser uma vida…
Resumo: Adriana acompanha, com os olhos, um pai e filho durante uma viagem de metrô enquanto analisa sua vida e sua felicidade.
Querido autor, sua escrita demonstra certa sensibilidade, principalmente emocional. Ao menos no entender, espero que no sentir também. Mesmo a escrita sendo relativamente densa, ela não cansou tanto. Credito isso à melhor cena: a agoniante espera do filho pelo pai. Essa cena me remeteu à perca, ao luto, numa analogia da morte, quando o pai se foi, deixando o filho para trás, na vida, e ele, tendo o progenitor como norte, ficou atordoado, esperando-o de alguma forma. Eu até diria que o final deixou a desejar exatamente por ter dado um final feliz para eles. Ouso alegar que o desfecho misterioso, onde ela cansa, ou precisa ir embora por causa de um compromisso imperdível, antes do reencontro, ficaria muito melhor. Seria a conclusão perfeita para essa analogia funcionar plenamente. O início brando, onde eles estão juntos, como na infância, a separação, causada pelo tempo e vida adulta é o fim definitivo; a morte.
Mas tudo bem, foi uma leitura agradável, mesmo não tendo um final impactante. Às vezes, durante a escrita, criamos certo apego aos personagens que fica difícil dar um final triste para eles. Se esse foi o caso, seja mais corajoso e forte na próxima vez. Se o melhor for a tristeza, que seja ela a rainha do conto.
Resumo: Adriana repara, no vagão do metrô, em velho e seu filho, também já na faixa dos quarenta. Acompanha o desconforto deles na viagem, e como acabam se desencontrando, primeiro afastando-se e conversando por celular, depois na descida do filho em uma das estações e o pai continuando a viagem. Estabelece uma ligação com seu relacionamento com Suzana, que se foi (morreu). E testemunha o reencontro do filho com o pai, após mais de meia hora de desencontros.
Método de avaliação: “Análise Jacquiana”
Receita: uma história sensível, ainda que carregada de tempero e figuras de linguagem. Narrativa em linha reta, mas que conta com um subtexto admirável.
Ingredientes: abandono, pai e filho, o filho que perde o pai, o pai que vê se filho descer do trem antes do tempo, um casal de mulheres que se separa antes da hora.
Preparo: o conto é muito bem preparado, na medida, sem sentimentalismos que poderiam comprometer a narrativa. Em um ponto ou outro, há um rebuscamento de adjetivos, mas que não atrapalha a história em si.
Sabor: uma história saborosa, apesar do travo agridoce.
Frases motivacionais (quase aleatórias) do Eric Jacquin (ou coisas ele possivelmente diria) : “Eu gosto de purê, purê é comida de bebê, e eu sou um bebê”
O que o Tempo Leva (Carl Canhotto)
Resumo: Mulher acompanha as ações de um pai e seu filho em um vagão do metrô. Aos poucos vai desenvolvendo afinidade com a dupla e projetando suas próprias emoções. Ao final sente-se agraciada por ter vivido um pouco dos outros e consequentemente um pouco de si.
Esse conto é a prova cabal que é possível escrever sobre tudo e o que é aparentemente banal para alguns pode ser um turbilhão de emoções para os outros. Confesso que me identifiquei pois sou uma dessas pessoas do metro que quando não estou lendo estou inventando vida para os outros, criando histórias, elaborando teorias, ampliando os gestos. A história vence pela simplicidade do contexto e pela complexidade das emoções. O Tempo, sempre com maiúscula, permeia toda a história, dos personagens ao clímax, implacável. O texto é bem escrito e recheado de beleza, exemplos caros e claros do que digo:”Adriana fez, então, a conexão. A ligação que faltava. A resposta que, talvez, já até soubesse; mas que, por algum motivo, sua razão não ousara sibilar, retirando-a da placidez embebecida em mel que somente o onírico mundo da emoção podia oferecer. E acomodar.” E este aqui ó “Quando o chão de concreto começou a tremer e o ruído ensurdecedor de toneladas de ferro e carne, se aproximando em alta velocidade, rugiu através daquela boca negra a se iluminar, a respiração de ambos parou por alguns instantes” (o que é absolutamente diferente do que apenas dizer a composição entrou na estação, sacou jovens amiguinho, o mais fácil, às vezes preguiçoso, nem sempre é a melhor saída)
Enfim, um texto que não tenho muito o que dizer além de sentir. Meu único porém vai para a imagem que destoa da sutileza do conto e parece capa de erótico dos anos 80
Valeu, Rafa! 🙂
Fico (muito) feliz que o conto tenha lhe tocado a alma. Obrigado pela leitura atenciosa e o comentário condescendente! Agora quero saber é quando que você vai marcar aquele chopex com a galerinha nota 10 aqui do Rio, pra gente falar bem dos nossos contos e mal dos coleguinhas ausentes!(rs!)
Abração querido! E Boas Festas! 😉
O que entendi: Mulher observa um pai com seu filho no metrô. Eles se sentam separados e o idoso perde a saída do vagão. O filho troca mensagens com ele para que salte na próxima estação e volte para encontrá-lo. A mulher resolve esperar o desfecho do drama e só abandona a cena depois que pai e filho se reencontram.
Técnica: A delicadeza do estilo, inicialmente, pareceu-me prolixo, com muitas descrições desnecessárias. Mas isso é um TOC meu (enxugamento de texto), estou lutando para dominá-lo. No entanto, o conto foi crescendo e se interiorizando nos valores e perdas de Adriana (Calcanhotto, viúva de Suzana, que era bem mais velha que ela). De tal forma que o final feliz se torna uma busca necessária da personagem. Esse meu entendimento só foi possível graças ao exímio trabalho de indução emocional do (a) autor (a).
Criatividade: Escrever sobre uma cena do cotidiano é fácil, se o objetivo é apenas o relato dos fatos. Mas o cronista vai além, dá pinceladas na memória e agulhadas em feridas. Aqui foi feito com esmero.
Impacto: Caiu aqui um cisco no olho. Isso raramente acontece comigo.
Destaque: “As momentâneas estrelas — muito em breve cadentes — a pisarem no palco veloz do agora.” Forma poética de dizer como a vida é breve.
Sugestão: Cabe revisão de pontuação e concordância , exemplo: “ solo rochosos”, etc. Mas nada que tire o brilho do conto.
Oi, C@t! 🙂 Muito bom ter um trabalho lido e comentado por alguém que conhecemos (no mundo real – e nada mais real do que tomar umas num boteco, junto de outros escritores feras!) e admiramos! Obrigado pela leitura e comentário atenciosos, queridona! Lembra daquele nosso papo sobre escrever “pra fora” ou “pra dentro”? Pois é… Nessa edição do Desafio posso dizer que escolhi (ou será que fui escolhido?) dar um baita de um mergulho pra dentro, viu… (rs!) Tenha certeza de que a pena também ‘ciscou’ forte meus olhos do lado de cá! 😉
Beijo grande, coleguinha! E um feliz 2020! ❤
Paz e Bem!
Valeu Falco! fechou o ano magnificamente. Beijão.
Adriana está no metrô e repara em dois senhores que entram no vagão, provavelmente pai e filho. O vagão se enche e ambos ficam distantes. Adriana percebe que os dois estão se comunicando por mensagens. Ao descer, Adriana percebe que houve um desencontro e o pai continuou no metrô, enquanto o filho saltou na estação. À distância, ela acompanha a tensão do filho, enviando mensagens e aguardando, a cada metrô vindo do sentido contrário, que o pai desembarque. Ela também está aflita, envolvida no episódio que acomete os dois desconhecidos. Intermináveis minutos depois, o pai desembarca, para o alívio de Adriana e do filho.
Carl Canhoto, seu conto é simples na trama, mas muito bem executado. Sua escrita é apurada, elegante, com poética, deixando a leitura bastante agradável. Gosto também da história, sobre um episódio tão cotidiano, bobo, dependendo do ponto de vista, mas quem já perdeu alguém, ou se perdeu, sabe como a sensação é angustiante.
E é isso, nenhum suspense é melhor do que aqueles que compreendem o psicológico dos personagens e, de tabela, do leitor. Acabei de avaliar um conto com reviravoltas, ação, sobrenatural… Tudo muito bagunçado, sem muito propósito. Quando você envolve o seu leitor com uma trama simples, mas na qual ele pode se reconhecer, o impacto é muito maior.
Fiquei pensando se a história não ficaria melhor narrada em primeira pessoa, pela Adriana. Não sei, pode ser só uma bobagem, coisa de quem tem preferido escrever em primeira pessoa para deixar as histórias mais convincentes. É que fica meio “Inception”, o narrador onisciente observando a mulher que observa a história. A personagem também poderia ser melhor explorada, afinal, não é qualquer pessoa que pode ficar ali, só observando uma cena dessas, sem lugar para ir, obrigações, compromissos…
Mas é isso, seu texto deve se sair bem na disputa. Boa sorte!
Obrigado, Fernando! Agradeço muito pela sua leitura e seu comentário, querido! Um grande abraço e um Feliz Ano que já está chegando na estação! 😉
Resumo: Uma mulher observa pai e filho no vagão do metrô. O pai se perde do filho na hora de desembarcar, ficando dentro do vagão e seguindo para outra estação. A mulher decide acompanhar a espera do filho, o qual aflito, tenta falar com o pai pelo celular. Depois de minutos de espera, pai e filho se reencontram na plataforma, trazendo paz também à observadora aflita.
Que conto maravilhoso! Repleto de sentimentos, um jogo de olhares MUITÍSSIMO bem trabalhado. O narrador observa Adriana, que observa pai e filho. Perfeito. Sem palavras para expressar a minha aflição (compartilhada por Adriana) enquanto me aproximava do desfecho da história. Eu fiquei perguntando a mim mesma: o senhor vai olhar para ela? Vai lembrar de seu olhar? Ela vai falar com o filho dele? Não, nada disso. Eles permaneceram desconhecidos a ela e ela a eles. Mas não é bem assim que acontece conosco por muitas e muitas passagens por nossas vidas? Quem nunca foi tocado por uma cena que foi capaz de marcar durante toda a vida? Que conto incrível, delicioso e muito bem construído. Parabéns! Você “arrebentou” (rsrsrs)! 😀
Ah, Carol… Que gostoso ler isso! 🙂 Muito obrigado pela sua leitura atenciosa e pelo comentário pra lá de carinhoso para comigo! Fiquei muito feliz em sentir que consegui ‘transportar’ os sentimentos que viajavam dentro do meu coração para dentro do seu também! Missão cumprida! 😉
E que 2020 seja repleto de bons momentos e sentimentos para todos nós! Grande abraço,
Paz e Bem!
Resumo: Uma mulher assiste a interação de pai e filho e lembra de sua própria vida. Quando o pai se desencontra do filho, fica observando o filho até que o pai o encontre.
Olá, Autor!
Seu conto é um cotidiano simples em que o enredo é extremamente simples e até mesmo por isso a escrita se destaca muito. Esse estilo poético e introspectivo é muito bonito e você conseguiu executá-lo perfeitamente. Para mim, a história ficou um tantinho longa, e me peguei com vontade de fazer outras coisas algumas vezes durante a leitura, mas isso é questão de gosto mesmo, prefiro mais ação e uma narrativa direta, claro que isso não tira o valor do seu conto, nem diminuirá a sua nota. Os personagens estão muito bem delineados, tanto a principal quanto os coadjuvantes, dá para perceber seu empenho em deixar tudo perfeito. É um ótimo conto! Parabéns e boa sorte!
Valeu, Pri! E parabéns pela ótima classificação no seu grupo, também! Curti muito o seu conto 😉 Um grande abraço e muito obrigado pela leitura e pelo comentário carinhoso, como sempre! Abração e um Feliz 2020!
Resumo: mulher que está no metrô testemunha a relação entre pai e filho. Os homens sentam-se distantes um do outro e ela percebe que se falam pelo celular. Na estação que deveriam descer, o pai acaba ficando na composição. A mulher, que também desceu, assiste, de longe e imperceptível, às tentativas do filho em se comunicar com o pai e instruí-lo a voltar. Nada dá muito certo e vários trens passam de volta sem que o pai estivesse em qualquer deles. Depois de muito tempo, por fim, os homens voltam a se reunir e ela, que a tudo testemunhara, dá-se por feliz.
Impressões: gostei deste conto. Talvez seja o meu favorito neste grupo. Isso porque tenho certa fraqueza por histórias que se passam em metrôs, trens e afins, ainda mais se se tratarem de dramas humanos. Mas, neste caso, a razão de eu ter gostado vai além da ambientação. Assistir ao drama de pai e filho pelos olhos de uma terceira personagem foi uma sacada muito inteligente. O autor poderia ter simplesmente ter jogado a nós, leitores, essa trama de perda e reencontro de forma direta, mas não. Preferiiu fazê-lo por meio de interposta pessoa, o que acrescenta um terceiro drama à receita. É como se estvéssemos ao lado de Adriana o tempo todo, percebendo sua agonia, sua aflição e, mais do que isso, a maneira como a relação entre os dois homens a influencia a lidar com seus próprios problemas.
Confesso que no início torci o nariz para a profusão de advérbios e adjetivos, mas logo me acostumei a esse estilo hiperbólico do autor e pude, assim, aproveitar a viagem. No fim, quase achei que o conto estava se arrastando demais, mas o reencontro entre pai e filho, e principalmente o modo como Adriana lidou com esse tão desejado final feliz, acabou salvando a narrativa.
Interesante notar como essas relações indissociáveis da natureza humana nos tocam. Impossível não sentir o drama (ou quem sabe a culpa) do rapaz que deseja se reunir com o pai. Isso porque todos nós ou enfrentaremos uma situação similar, de fragilidade de nossos genitores, ou já a enfrentamos. O ocaso da vida daqueles que amamos é sempre uma fonte de boa literatura. Claro, desde que não se sucumba à pieguice, o que, felizmente, não foi o caso aqui.
Deixo aqui meus parabéns e desejos de boa sorte ao autor neste desafio.
Obrigado, campeão! 😉 Sua leitura e seus comentários são sempre motivo de muita honra e orgulho para mim! Desde as primeiras estações… 🙂
Abraço GRANDE (para não poupar adjetivos!) e desejos de um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações, saúde, paz, amor, felicidade e fé para você e os seus! ❤
Paz e Bem!
Valeu, Rick! Ótimo 2020 para todos nós! E mais uma vez, parabéns pelo conto.
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado: cotidiano, drama familiar
Resumo: mulher testemunha o amor de pai e filho no metro, e compartilha da preocupação do filho quando o pai não consegue descer com ele na estação, ficando aflita até o reencontro.
Comentário: cara, você tem aqui uma bela metáfora sobre vida e passagem do tempo.
Acredito que o conto todo se trate disso. O próprio enredo, com todos seus personagens (sendo o trem, que representa o tempo, talvez tão protagonista quanto pai, filho e observadora), representa uma metáfora viva sobre vida e passagem do tempo.
A mulher, que pelo jeito passou por um rompimento/perda recente, e desde então mergulhou num turbilhão do tempo e foi levada à frente sem refletir muito sobre si mesma, acabasendo profundamente tocada pelo carinho e amor entre os familiares.
Isso faz com que ela olhe para si propria e repense sua propria vida.
O trem, sempre seguindo em ritmo inexorável, separando e juntando pessoas, foi uma boa metáfora. A maioria das pessoas simplesmente embarca no trem, louca pra chegar no destino logo. E assim também é a vida, acho. Tão ansiosas por chegar ao destino, as pessoas acabam não curtindo a viagem.
Uma bela lição de amor e reflexão sobre a vida.
Outro ponto positivo do conto é que tudo meio que soa como música (aliás, boas referências à Adriana Calcanhoto, especialmente o Vambora, do final). Destaco a frase:
Seus afagos, suas carícias, o tom sereno de sua voz. Seus abraços, suas delícias, o som ameno do ‘nós’. Tudo era motivo de expansão interior. Tudo nela trazia ao seu coração a quietude necessária para alcançar a felicidade, a plenitude-mor.
Ela até rima, num gostoso ritmo musical
Por outro lado, como nem tudo são flores, também tem alguns pontos que me incomodaram um pouco. Especialmente, destaco o fato de o conto trazer uma linguagem exageradamente formal e técnica, como se a Adriana estivesse escrevendo um relatório formal sobre o encontro dos pais.
Destaco, por exemplo, a passagem:
Na sequência, Adriana observou o senhor procurar — sem sucesso — pelo filho, olhando na direção que o descendente havia, supostamente, informado ao patriarca estar sentado, através da mensagem previamente recebida.
Essa linguagem exageradamente formal acaba deixando a leitura um pouco arrastada e chata. Teve parágrafos que eu até tinha vontade de pular, pq já tinha entendido a info que seria passada, e via que era um longo parágrafo só com infos meio rebuscadas, sabe?
enfim, é um bom conto, com ótimas metáforas, uma verdadeira parábola sobre vida e tempo, que conta com uma linguagem poética e até musical, mas que sofreu um pouco no ritmo devido à linguagem técnica e rebuscada demais.
Ainda assim, um bom trabalho. Parabéns e boa sorte!
Obrigado Luis! Agradeço pela leitura, elogios e, principalmente, pelas críticas construtivas que irão me ajudar muito a melhorar (sempre!) minha escrita! Valeu mesmo! 😉 Abração e tudo de bom pra você no ano que se aproxima!
Car(x) autor(x)
Estou aproveitando esse desafio para desenvolver um sistema de avaliação um pouco mais técnico (mas não menos subjetivo). No geral, ele constitui nas três categorias propostas no tópico de avaliação: técnica, criatividade e impacto. A primeira refere-se à forma, à maneira com a qual x autor(x) escreve, desde o uso de pontuação, passando por ortografia e mesmo escolhas de estruturação. A segunda refere-se ao conteúdo, ou seja, a que o conto remete e quais as reflexões que podem ser levantadas a partir disso. Por fim, a terceira refere-se ao estilo, quais as imagens construídas e as emoções que elas evocam. Gostaria de pontuar, também, que, muitas vezes, esses critérios têm pontos de intercessão entre si, sendo que uma simples palavra pode afetar dois ou mesmo três deles. A pontuação final é dada, portanto, pela média dos três critérios, sendo que uma nota elevada em um deles pode elevar a nota final. Dito isso, prossigamos à avaliação.
Resumo: Uma mulher observa enquanto pai e filho se separam na saída do metrô. Enquanto aguarda pela reunião, ela pondera sobre a vida e a existência.
Técnica: É muito clara, desde o início, a habilidade dx autor(a) com a narrativa. A pontuação, o uso do vocabulário e as construções sintáticas pavimentam o caminho para uma narrativa muito sólida e competente, além de original e impactante.
Criatividade: De certa forma, a situação pela qual pai e filho passam me fez refletir sobre a vida e a morte e como as pessoas acabam se afastando na vida. As reflexões de Adriana sobre as relações humanas acompanham um pouco essa ideia. A crítica que tenho é que talvez tenha faltado um maior detalhamento sobre o destino de Suzana, o que, nesse caso, teria melhorado ainda mais o conto.
Impacto: A construção do suspense é feita de forma magnífica. É possível sentir a tensão dos personagens na espera pelo próximo trem. E cada vez que o velho não sai, isso aumenta ainda mais. Tudo isso resulta, por fim, em um reencontro emocionante que coloca x leitor(x) na pele de Adriana.
Valeu, Evandro! Sua nova forma de avaliação é… OUTSTANDING! 😀
Obrigado pela leitura e comentário, queridão! Desejo um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações para você e sua família! Abração!
Paz e Bem!
Sinopse
Adriana está numa viagem de trem. Algo lhe chama a atenção: pai e filho adentram no ônibus e passam a conversar por mensagens pelo celular. No entanto, na primeira estação em que param, só o filho desce. O pai a procura desesperado e acabam se perdendo um do outro. Adriana, preocupada com a situação, decide esperar o desenlace.
Comentário
O conto é bem escrito no que diz respeito a ortografia e a gramática, mas o enredo não me tocou em nada. Nem mesmo o pai e filho se perderem provocaram algum tipo de tensão, nem seu encontro alguma reviravolta interessante. Adriana me parece alguém que não tem muito a fazer, a não ser bisbilhotar a vida dos outros. Talvez se houvesse uma maior interação entre ela e os personagens, teria realçado sua personalidade e criado uma maior identificação, até mesmo um motivo mais exequível para ela ficar tão preocupada. É uma narrativa apática, sem nenhuma ação de verdade. A única coisa que chama atenção é o desencontro entre pai e filho, mas sem nenhum suspense. E mesmo assim, não traz nada novo com a resolução totalmente previsível. Acredito que no final houve algum erro na digitação do conto, pois há uma pausa de parágrafo no final, quando poderia ter sido usada antes para demarcar que os protagonistas já estavam no trem. Como o final em si é meio confuso, possa ser que eu mesmo tenha errado nesse diagnóstico.
Notas de Leila Carmelita
– A Gata de Luvas – 4,0
– A Hora da Louca – 4,5
– A Onça do Sertão – 3,6
– A Pecadora – 5,0
– App Driver – 1,0
– Estantes – 5,0
– Famaliá – 3,5
– Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada – 5,0
– Lágrimas e Arroz – 1,0
– Muito Mais que Palavras – 1,5
– Na casa da mamãe – 3,5
– O Legado da Medusa – 4,5
– O que o Tempo Leva – 1,8
– O Regresso de Aquiles – 4,0
– O Vírus – 2,5
– Suplica do Sertão – 5,0
– Trilátero Ourífero – 4,5
– Uma História de Amor Caipira – 1,0
Contos favoritos:
Melhor técnica – Estantes
Mais criativo – Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada
Mais impactante – A Pecadora
Melhor conto – Suplica do Sertão
Resumo
Em um vagão do metrô, Adriana se depara com dois homens, pai e filho, e acaba voltando a atenção para eles durante toda o caminho até a estação de destino. A relação entre os dois, o modo como se tratam a faz recordar de um antigo amor, sentimento que o tempo não levou embora de vez. Quando ela desce na estação, o filho também desce, mas o pai fica no vagão. Adriana acompanha de longe a espera ansiosa pelo retorno do senhor na composição que vem na direção contrária. No fim, o pai retorna e vão todos embora, felizes.
Comentário
Conto lindo. Você conseguiu transformar um acontecimento, inicialmente simples, como a observação de pai e filho em um vagão, em algo profundo e interessante. Quando veio a parte da espera pelo pai, conseguiu trazer ansiedade e velocidade ao texto. Muito bom tecnicamente, personagens que nos cativam logo no início, bom título. Parabéns.
Só fiquei me perguntando por que um deles não foi até a outra estação ao encontro do pai… mas isso é um questionamento do leitor que nada interfere no valor do texto.
Não encontrei erros gramaticais.
Obrigado pela leitura e pelo comentário, Fê! Que em 2020 nos esbarremos muito por aqui, em nossas andanças literárias! Abração e Feliz Natal! 😉
RESUMO:
Adriana observa um pai e um filho no metrô. O rapaz com cerca de 40 anos bastante atencioso com o pai idoso. Os dois só conseguem se sentar um longe do outro e passam a se comunicar por mensagens via celular. Por distração e limitado pela idade, o idoso perde a estação onde teria de descer. Adriana percebe a situação e passa a acompanhar a espera do filho pelo pai que deveria voltar da estação seguinte. A cumplicidade entre pai e filho, faz com que Adriana se lembre de Suzana, um amor que se foi. Depois de muito esperar, pai e filho se reencontram e Adriana também se reconhece naquele abraço.
AVALIAÇÃO:
Conto que aborda uma cena cotidiana , a relação de pai e filho, pelo olhar de uma passageira de metrô. Apesar de um enredo bastante simples, é notável a sensibilidade do autor ao descrever a cumplicidade entre pai e filho. Tanto que pude imaginar facilmente a cena.
Também a habilidade com as palavras possibilitou fazer com que eu ficasse aflita com a demora do reencontro. Um clima de suspense ficou ali estabelecido, o que prendeu e muito a minha atenção.
O ritmo do conto é bom, pois apesar da angústia criada pela falta de notícias do idoso, há uma agilidade do fluxo dos acontecimentos/pensamentos.
Se houve falas de revisão, não as percebi, pois estava entretida com a narrativa.
Parabéns por participar da última rodada do desafio da Liga 2019. Feliz Natal e que 2020 só traga boas notícias e felizes encontros.
Obrigado, Claudinha! Desejo tudo de bom para você também, coleguinha de tanto tempo! Que 2020 seja repleto de bons momentos! 😉 Paz e Bem!
O que o Tempo Leva
Resumo:
Garota observa a separação entre pai e filho dentro do metrô, tece considerações acerca de sua vida. Pai e filho se reencontram, a garota segue sua vida feliz enquanto pai e filho já podem trocar mensagens no zap-zap sem qualquer problema, dado que estão um bem pertinho do outro.
Comentários:
Caro Carl Canhoto,
Estou aqui, diante da tela imaginando o que escrever. O que dizer do seu conto. Como estimular humildemente algum aprendizado, dado que é disso que falamos e fazemos por aqui, nos desafios do EntreContos.
Gosto de contos que dizem coisas simples, encontros e desencontros, a felicidade íntima de cada um, os desejos, os arrependimentos… nada muito grandioso, dado que acho que a vida, ao final, é feita exatamente disso, de momentos comuns. Há que exaltá-los, acredito.
Seu conto aborda esse tema. O desencontro entre pai e filho, as expectativas e as frustrações. Isso é bom.
Há, entretanto, acredito, alguns problemas. Seu conto se alongou demais para dizer exatamente isso, a simplicidade das coisas da vida.
Creio que com palavras incomuns, com a busca por uma poesia melancólica além da conta, o conto foi crescendo, se avolumando, dando voltas, retornando, buscando empatia para com os personagens.
Não sei se foi a sua intenção, mas, de uma forma ou de outra, ao construir esse mundo vivido por pai e filho, por Adriana e sua – não sei o quê, dado que não foi explicitado – Suzana, você tornou seus personagens frágeis além da conta, aborrecidos demais. Não consegui acreditar na fragilidade daquele pai, não consegui acreditar na inominada apatia do filho e não consegui acreditar no legítimo interesse de Adriana. Todos me pareceram arquetípicos de uma melancolia administrada pelo autor. Acredito que o texto acabou “gordo” demais, além da conta, uma vez que com palavras simples e construções ligeiras, toda a situação se tornaria amorosa e agradável, talvez trazendo ao texto alguma comicidade pelo desencontro entre pai e filho numa estação de metrô. Não era uma mãe que perdeu seu filho de cinco anos. Eram dois homens crescidos que se desencontraram, e tinham nas mãos seus celulares que os fariam reencontrar com extrema facilidade.
Com base nessas considerações, acho que o conto deveria ser rescrito dando a ele mais tonicidade, talvez tirando da jogada o narrador onisciente e dando a ele a narração de Adriana, fazendo-a ter sensações legítimas acerca do que ocorria.
Recomendaria uma revisão de poda no texto mantendo nele apenas as essências narrativas, dando a ele agilidade, interesse, dinâmica cenográfica, fortalecimento dos personagens.
Fiz algumas anotações acerca da escrita formal, mas deixo de as trazer até aqui.
Boa sorte no desafio.
O que o Tempo Leva (Carl Canhotto)
Resumo:
O conto traz a história de Adriana, de um pai e um filho. A narrativa é feita partindo da observação de Adriana, em uma viagem de metrô. Excelente texto.
Comentário:
Um conto que se passa num curtíssimo espaço de tempo e num ambiente único: o metrô. Texto carregado de sensibilidade, nascido da mais profunda reflexão. O autor usa linguagem interna, tudo é sentido e contado sem fala. A personagem Adriana, que a tudo assiste e deduz, consegue levar para o leitor um mundo “percebido” misturado com sua história, com a sua própria vida. O texto é uma poesia. Comovente. Narrativa lindamente construída, bem estruturada, terna, real, encantadora. O autor tem um poder de construir frases poéticas e pertinentes. Observei:
“Sentimentos profundos já enraizados nas cicatrizes de troncos podados. Perfumadas seivas de árvores ceifadas, que emergiram nas cinzas das horas, florescendo dentro daquele vagão lotado, em meio à ausência do impreterível avançar dos ponteiros do relógio.”
“Foi quando, pela primeira vez, os olhos daquele pai cruzaram com as enormes gemas azuis daquela mulher, separados apenas pelo vidro da porta de um coletivo atemporal. Um meio de transporte interinamente dialético, etéreo… Respaldando um torpe desencadeamento de ideias, memórias e sentidos.”
“Florescendo naquela estação lotada, em meio à presença do imponderável. Lembranças bonitas; compreensão profunda e mútua que o Tempo não apenas trouxe, mas que também levou de volta, inesperadamente, dentro da locomotiva das horas.”
“Quando o chão de concreto começou a tremer e o ruído ensurdecedor de toneladas de ferro e carne, se aproximando em alta velocidade, rugiu através daquela boca negra a se iluminar, a respiração de ambos parou por alguns instantes.”
“De pé, observava com atenção a profusão de formigas humanas que brotavam do formigueiro de lata.“
“Mas, a aglomeração foi definhando. O vai e vem frenético de pessoas foi se esfacelando. Muros se transformaram em cercas; cercas em arames, arames em fiapos de gente…“
A leitura é fluente, não há qualquer deslize que interrompa a “viagem” do leitor. Enfim, Carl Canhoto (Adriana Calcanhoto), parabéns pelo lindo trabalho, e confesso que pesquisei se existia alguma música da cantora que tivesse o mesmo título do conto. Um primor de texto, uma leitura agradável, atraente, daqueles contos que você diz: queria ter escrito esse trem…
Parabéns e boa sorte no desafio!
Abraços…
Nossa, Dona Regina… Cheguei agora aqui para ler os comentários (somente agora liberados) e já me deparo de cara com todo esse carinho pelo meu texto exposto pela senhora aqui… Obrigado, mesmo! 🙂 A canção da Adriana Calcanhotto que me inspirou a escrever (e enquanto eu escrevia!) esta história existe sim; chama-se “Vambora” e é uma de minhas preferidas da artista! Ela tocava também no fone de ouvido quando eu estava no metrô (praticamente nas vésperas do prazo de entrega dos textos para o Desafio) e tive a ideia do conto…
Seu texto é daquelas coisas que a gente guarda no peito. Muito bom! Parabéns! Feliz Natal!!!!!!!!!!!!!