Era sujeito de pouca conversa. Dele, o que mais me marcou a infância, além do cinto de couro e a vara de marmelo, foi o silêncio desconfortável que trazia para casa, à noite, tão logo atravessava a soleira da porta. Carregava na fisionomia o cansaço de quem busca oportunidade para trabalhar na profissão que havia aprendido, muito bem e ainda jovem, enquanto vivia na Itália; a decisão de ter vindo para a terra nova, recém-casado, pesaria ainda mais sobre seus ombros naquela altura, perto dos trinta anos, caso aceitasse um emprego qualquer na lavoura, dez ou doze horas sob o sol, por muito menos dinheiro do que achava que merecia.
Ainda pequeno, eu pressentia a sua chegada e corria para o quarto, com medo do temperamento toscano e da obrigação do beijo nas mãos grossas, manchadas de fumo. Ficava intimidado pela voz rouca, de grave profundo, quase tão apavorante quanto os ruídos estranhos que ouvíamos ao longe, às vezes, e que meu irmão mais velho dizia que eram os gritos das almas penadas. Muitas vezes, preferi fingir que estava dormindo para evitar a ceia em família. Mas, como a fome era maior, acabava enfrentando o medo; algumas vezes, mamãe me buscava no colo, ou meu irmão ia até o nosso quarto para me trazer, pela mão. Podíamos contar com os quatro pratos, copos e talheres; de resto, buscava-se o pouco que havia na despensa ou, em dias especiais, as receitas simples da terra de origem, como polenta, pappa al pomodoro ou gnocchi de batatas da terra. Às vezes, suco de uva para nós, vinho ou grappa para o pai – esses últimos, não podiam faltar à mesa. Nos meses frios, sobre a chapa do fogão a lenha, estalavam pinhões catados nos bosques. Quando havia galinha pronta no quintal, a mãe ficava responsável por torcer-lhe o pescoço, temperar e preparar, pois o pai não gostava de mexer com esses bichos em casa. Dizia que dava azar. Mas, uma vez pronta a canja, era sempre o primeiro a se servir. Depois de ter jantado, buscava a chaleira com água quente e ia até a varanda aliviar o desconforto dos pés na tina grande, de madeira. Pedíamos licença ao passar por ali, cabeça baixa, a caminho da casinha das necessidades, que ficava no fundo do quintal.
As coisas começaram a melhorar em casa quando a fama do pai se espalhou pelas querências da redondeza. Decidiu que meu irmão devia começar a ir junto com ele, para ajudar no trabalho e aprender. Eu era pequeno demais. Em uma dessas saídas, meu irmão foi e não voltou. A morte veio buscá-lo. Não me contaram como, nem por quê.
Depois disso, o pai se ensimesmou. Mamãe também; ainda que fosse jovem e tivesse dentes perfeitos, arrancou definitivamente o sorriso do rosto e envelheceu, em aparência, trinta e dois anos de uma vez só.
Quando alcancei os dez, última idade que meu irmão teve, só me lembrava de sua fisionomia pela foto incrustada na lápide. A única, post mortem, feita especialmente para ficar ali para sempre. Mas a chuva e os anos já haviam borrado bastante o seu retrato e a minha memória. Gostava de ir ao cemitério à tarde, sozinho e escondido, e imaginar que ele estava ouvindo tudo o que eu dizia. Guardei os seus brinquedos, o pião de madeira e o bilboquê, e o som de sua risada, na minha imaginação, continuava reverberando pelas paredes vazias da nossa casa. Também herdei as roupas que sobraram e um par de calçados, tão novos que bem poderiam ser meus sapatos de missa, não houvéssemos abandonado a igreja. Mamãe ainda guardava suas rezas, não mais nas missas ou novenas, mas para os momentos em que visitava o cemitério; ou, escondida em casa, baixinho, durante tarefas cotidianas – e desde que o pai não estivesse por perto. Acabava rezando bastante, pois ele quase sempre estava fora. E havia dito a ela, um dia, que Deus é que devia estar morto.
O inverno chegou às últimas, mas ainda se respirava o sopro da friagem, com chuvas finas e constantes. Lembro que, naquela noite, havíamos nos recolhido mais cedo do que de costume. Sozinho, deitado em minha cama, tentava escutar o que meus pais diziam no quarto ao lado – e entender o que não eram capazes de dizer, um ao outro. Palmas tímidas do lado de fora, seguidas de um “ô de casa” e batidas insistentes na porta, fizeram o pai se levantar, contrariado. Lá estava o menino, um mulatinho, de doze ou treze anos, que raramente víamos na vila. Mamãe serviu de intérprete até que o pai entendesse do que se tratava o trabalho a fazer. Mas como o faria, sozinho, naquela hora da noite? Decidiu que já era tempo de eu ir com ele. Nós dois, mais o menino-mensageiro, daríamos conta do serviço. Mamãe tentou evitar, argumentando que eu ainda era muito pequeno. Sem medir palavras, o pai retrucou que, na minha idade, meu irmão já ajudava. Ela ainda tentou me segurar, chorando, mas o pai, inflexível, me afastou dos seus braços. Vestiu-se e me fez vestir uma roupa surrada; saímos, então, eu, ele e o menino, com os lampiões a óleo acesos, em meio à escuridão. Não eram nem dez horas da noite.
Descemos com cuidado a trilha íngreme a caminho da estância, que ficava a algumas léguas. Para mim, aquilo tudo era aventura. Já para o menino, era só o caminho de volta do armazém de secos e molhados na vila. À escola, nunca tinha ido. Até por isso, ficava ansioso por fazer amigos e, sem perceber o mau humor do meu pai, não parava de perguntar as coisas.
— O sinhor não se caga de medo nessas hora, não?
— Che paúra, di cosa? – grunhiu o meu pai.
— Das alma penada… minha mãe diz que eles também têm esprito, como a gente têm, e dispois de morto vem trás de nóis, como m´boi de fogo azul…
Meu pai fingia não entender para abreviar a conversa. Mas eu conhecia bem a história do boitatá, a cobra de fogo m´boi, que vinha para buscar e exterminar os que fazem mal aos outros. Apesar de disfarçar, senti um medo danado; e ao perceber isso, o menino continuou falando sem parar sobre assombração, para ver se eu me entregava. Como não dei trela, a conversa morreu por ali. O menino foi se aquietando e, ao ficar para trás, distraia-se a chapinhar as poças que a chuva do dia anterior havia colocado pelo caminho.
Chegamos à propriedade, onde nos aguardava o estancieiro. Era um português atarracado, manco e bem baixo, que nos anos seguintes acabou arruinado pela cachaça, os ciúmes e a geada. Vivia amasiado com a mãe do menino, mas nunca não teve coragem de apresentá-la como sua esposa na vila, e nem o menino como seu filho. Falou sobre alguns parentes que deveriam chegar nos próximos dias, e o quanto precisava que o serviço fosse bem feito, ainda naquela noite. A mulher, grávida, nos espiou pela fresta da janela; depois, ao perceber que havia sido vista, escondeu-se no interior da casa-grande, para cuidar da vida e dos seus afazeres.
Papai forçou a porta de madeira com um tranco de joelho e, ao abri-la, iluminou com o lampião todo o ambiente; depois, pendurou-o em um prego na coluna principal, acima da bancada de madeira. Mesmo tênue, havia luz suficiente para inspecionar os instrumentos e organizar o espaço de trabalho. Até aí, eu e o menino estávamos do lado de fora do galpão, só observando; o pai acendeu a fogueira de lenha entre pedras, e colocou o balde de latão com água para ferver.
Veio até a porta nos chamar e, em italiano, deu a instrução:
— Non lasciarlo scappare! (Não o deixem escapar!).
Olhei para o menino e percebi que, mesmo sendo mais velho do que eu, ele estava tão apavorado quanto.
O vulto moveu-se nas sombras, devagar, e emitiu um ronco curto. O bácoro, porco relativamente pequeno e cevado há alguns dias, aproximou-se de nós, tremendo de medo. Na penumbra, percebi que o animal tinha uma pelagem longa, de fios lisos e quase dourados, sobre a pele rosada. O menino o chamou e o bicho, dócil, veio e deitou-se à frente dele. Meu pai aproveitou essa chance e, contornando pelo outro lado, agarrou as patas traseiras do porco, amarrando uma corda com duas ou três voltas ao redor delas. Assustado, o porco começou a se debater e a grunhir. Tentava fugir de nós e do seu destino certo. Descobri ali de onde vinham aqueles gritos que tanto nos apavoravam quando éramos pequenos.
O golpe certeiro do malho, aplicado com força na testa, fez o animal desmaiar. O mulatinho levou um choque, horrorizado, quase como se tivesse sido com ele. Enquanto amarrava o focinho do bicho com um barbante, o pai ordenou que eu trouxesse a bacia com vinagre e sal, que estava preparada na bancada. Obedeci, o mais rápido que pude. A seguir, mandou que eu ficasse de joelhos e segurasse bem as patas da frente, enquanto o menino da estância ficaria encarregado das patas traseiras do animal. O toque da pele do porco era quente e eu podia sentir nas mãos a sua pulsação acelerada.
Então o pai ajeitou a bacia no chão, bem próxima ao rosto do animal. Rapidamente, e com um só golpe, enfiou a lâmina fina até o cabo, na base do pescoço, girando a faca para abrir o corte de uns quinze centímetros, antes de puxá-la, com força, de volta. O sangue esguichou longe, escorrendo em volta da bacia e por entre os meus joelhos.
O porco recobrou a consciência e olhou para mim.
Em seus olhos eu vi a surpresa e o desespero da morte. E tenho certeza de que ele viu a mesma coisa nos meus.
Começou a gritar e gemer, cada vez mais alto.
O pai arrancou a bacia das minhas mãos, aparando o jorro da ferida aberta. Rosnou que eu segurasse direito, senão todo aquele sangue não serviria para nada.
Mas o porco não morria. Sangrava, sem perder as forças; debatia-se, agônico, tentando morder a mão que o golpeara.
Só então o pai entendeu o que havia acontecido. Pediu ajuda para que deitássemos o bicho do outro lado. Com um estertor horrível, praticamente entregue, o porco ficou quieto por um instante e o pai aplicou o segundo e definitivo golpe na lateral do pescoço. Dessa vez, acertou direto o coração, que naquele porco estava do lado contrário à natureza.
Ao ver o bicho inerte, o pai deu ao menino a tarefa de buscar água na fogueira. Deixou a carcaça um tempo de ponta cabeça ainda, pendurada num gancho da trave do galpão, para drenar o resto do sangue e amaciar bem a carne. Quando o menino voltou com o balde de água fervente, o pai levou a carcaça do porco até a bancada. Começou esfregando o couro com uma pedra afiada, enquanto pedia que jogássemos a água fervente com canecas, de tempos em tempos, até remover toda a pelagem da lateral. Repetiu o processo do outro lado, depois no dorso e no ventre. A seguir, soltou o final do intestino para não contaminar o resto da carne e, com um talho da barriga até o peito, fez escorrer as vísceras moles que o menino recolheu em um cesto de vime. Deveriam ser lavadas no rio e preparadas adequadamente, pela mãe dele, em algumas horas, ainda antes do nascer do sol.
O pai esfregou as mãos no avental manchado de sangue para receber do estancieiro o dinheiro devido pelo serviço. Guardou bem o pequeno maço dobrado no bolso da calça, onde encontrou um cigarro de palha enrolado, o qual que foi aceso ali mesmo, nas últimas brasas da fogueira. Nem o menino, nem a mãe, vieram se despedir de nós.
Madrugou. Caminhávamos, sem dizer nada. O pai, que ia sempre um pouco à frente, escolheu a trilha mais longa para o nosso retorno, bem menos íngreme do que na ida, mas que nos obrigou a passar em frente à igreja e a contornar o cemitério. A lua nova iluminava pouco e os lampiões bruxuleavam, praticamente sem óleo. Nessa hora, na direção do cemitério envolto em escuridão, percebemos o espocar e o brilho fugaz das chamas azuladas, que bailavam no ar e se desvaneciam, em instantes.
Era M´boi.
O pai estancou o passo, virou-se e me perguntou, como se aquilo não fosse nada de extraordinário:
— L’hai visto?
Fiz que sim com a cabeça. E tomei a coragem de perguntar:
— Pai, será que Deus não teve pena dele?
Ele não tinha a resposta. Foi a única vez em que vi meu pai chorar e, mesmo assim, ele estava de costas para mim. Depois, enxugou o rosto nas mangas da camisa e voltou até onde eu estava. Permanecemos sentados e em silêncio, admirando o fogo fátuo por um tempo que me pareceu a eternidade. Compreendi que o meu pai ainda não havia sido totalmente sangrado. E que lâmina fina de Deus continuava ali, atravessada no lado errado do seu peito.
Este conto foi um dos primeiros que li, logo depois da publicação. Gostei bastante da premissa, da relação familiar que se exala de cada parágrafo, com aquele aroma de infância, de segredo, de medo e de assombro ao mesmo tempo. É o tipo de atmosfera que tendo passar no que escrevo e, por isso, posso dizer que me atrai bastante. A visão que o menino tem do pai, aquela coisa de herói, é o que mais prende nessa trama que fala de valores universais. Talvez você tenha se excedido um tantinho no que diz respeito ao preparo do porco, mas no geral a trama me ganhou pela delicadeza com que é narrada, em especial o fim.
Um belo conto sobre a relação de um filho com seu pai. O que parecia uma história banal de homem que leva seu filho para ajudar com a matança de um porco, revela fortes emoções no final, com o fogo fátuo servindo de estopim para revelar um homem endurecido pela vida, mas ainda sensível e saudoso do filho que morreu. Gostei da analogia com o porco que tinha o coração do lado “errado”. Parabéns.
Resumo: É a estória de um garoto que narra um episódio que passou com o pai. Os dois saem à noite e andam através da escuridão até uma propriedade para matar um porco. Depois do trabalho feito, o garoto e o pai voltam para casa, ao passarem pelo cemitério encontram o fogo fátuo.
Comentários: No geral, é uma estória bem interessante. A escrita é boa, retrata bem a dureza da vida do garoto. As partes de suspense são bem construídas também, a questão do folclore, quando bem explorada; e esse é um caso, é sempre algo que deve ser enaltecido. Tem alguns problemas de revisão, mas nada que comprometa a estória.
Fogo Fatuo
Ignis
Resumo: Uma criança conta sua experiência com seu pai.
Comentário: *Ignis Fauus, você me convenceu! A sua narrativa sobre a vida difícil de um “descarneador” de porcos sendo traçada-acompanhada pela perspectiva de uma criança é muitíssimo interessante.
O texto inicia-se com a apresentação de uma figura paterna distante e fria e depois move-se para uma nova imagem, a de um homem moído por suas dores desconhecidas, que é capaz de perder a fé e chorar. Gostei como você trabalhou a narrativa de forma intimista, sem nomear ninguém, porém apresentando a intimidade de todos: o pai que tenta relaxar os pés da lida em água quente, a mãe que reza escondida, o irmão que protege e guia, o narrador que se amedronta. Há ainda a apresentação da hierarquia e dos gostos da casa.
Conheci essa arte pecuária de matar e descarnar, ou melhor “descarnear” peças suínas e é interessante como é diferente o resultado emocional adquirido entre a personagem paterna do texto e meu quarto pai adotivo, que dizia que mexer com a morte de um animal o aproximou da vida e da reflexão.
Foi uma experiência maravilhosa de leitura. Obrigada.
Resumo: o texto narra a história de um menino, filho de italianos que vieram para o Brasil, cujo irmão mais velho morrera ao ajudar seu pai no trabalho, quando tinha dez anos. Ao atingir a mesma idade do irmão, o protagonista vai ajudar o pai a matar um porco e na volta se deparam com uma aparição.
Impressões: não entendi a história, mas o texto está bem escrito e as personagens bem caracterizadas. Há um certo mistério na profissão do pai e que, mesmo após o final da leitura, permanece.
O conto narra a história de um garoto de família simples que tem medo do pai. No decorrer da história o irmão mais velho do menino morre ao ir trabalhar com o pai deles. O menino cresce mais um pouco, completa dez anos de idade, e chega a hora de ir trabalhar com o pai. Só então sabemos que o trabalho do pai é de matar porcos.
Gostei do conto. A narrativa começa lenta e depois vai acelerando aos poucos, não muito, deixando uma certa melancolia. Também tem um ar de mistério para saber no que o pai do garoto trabalha, e como o irmão mais velho dele morreu. Quando enfim ficamos sabendo que o pai trabalha matando porcos, podemos intuir que o menino morreu pelo ataque do animal, embora não tenha nenhuma referência a isso no texto. Apesar de ter gostado, acho que a aparição do fogo fátuo não é necessariamente importante a história. Se ele não fosse mencionado, acho que não faria falta. Os últimos parágrafos são excelentes. Faz com que nos aproximemos mais dos personagens, e vemos que a relação do menino com o pai mudará completamente, transformando o medo que ele tinha, em admiração e carinho, pelo fato dele perceber que o homem calado e bruto, também podia chorar. Boa sorte no desafio.
História contada pelo filho de um homem que perde o filho mais velho e não consegue se recuperar da perda. Depois de anos da morte, o filho mais novo presencia pela primeira o pai chorar.
Técnica: 4,5
Criatividade: 4,0
Impacto: 4,0
Texto muito bem escrito, porém não conseguiu segurar minha atenção. Precisei ler duas vezes para pegar a história. Um história complexa (com muitos detalhes), acredito que por conta disso não é de fácil assimilação firmar do texto.
Acredito que ele tem muitos detalhes e as junções estão um pouco “distantes”. Quando eu estou me prendendo a uma história, logo vem outra parte que me distancia dela e fica o tempo inteiro assim no texto. Fico procurando a conexão entre as mini histórias contadas e não consigo encontrar de ímpeto, o que torna o ritmo do texto ser um tanto prejudicado. Acredito que esta costura um pouco melhorada, faria o texto ser mais fluído e melhoraria na leitura.
Resumo:
O conto trata da relação sempre delicada entre pai e filho e é narrado por esse menino que chega a temer o sujeito rude e bruto que é seu pai, um homem de pouca conversa, que tem uma sombra a lhe cobrir como fosse um escudo. O ofício deste pai também é um mistério, mas aparenta ser perigoso, o irmão mais velho do narrador, um dia sai de casa para ajudar ao pai e não retorna com vida. Quando finalmente o menino cresce para se tornar o novo ajudante do pai descobre que ele é um matador – de porcos!
Considerações:
A construção nos faz imaginar uma coisa e nos entrega outra, ponto para o autor. No mais, é uma história cara a todos nós; a relação pai e filho; a coisa não compreendida, o homem, o gigante, o Deus misterioso que criamos em nossas mentes infantis e tememos, mas que invariavelmente, sempre se revela somente um homem. Um belo escrito.
RESUMO: História de imigrantes italianos que vivem no interior do Brasil. A família, humilde vive do trabalho do pai, que leva seus filhos para ajudá-lo quando os julga em idade apropriada. Em dado momento, quando levou o filho mais novo para um trabalho a noite, tem uma experiencia diferente e se dá conta das dores que carrega.
COMENTÁRIO: Um conto extremamente baseado na realidade de muitas famílias brasileiras. Com uma leitura elegante, sem rodeios, narra bem a origem e a vida da família.
O pai é mostrado como o clássico pai duro e altivo das famílias pobres de interior, e o filho caçula, o puro. Quando ambos são obrigados a passar por uma situação juntos, um acaba entendendo o outro. O conto tem um final extremamente aberto e interpretativo. Gostei da história, mas creio não ter conseguido chegar no ponto que o leitor almeja. Talvez um final um pouco mais palpável ajudasse, e um desenvolvimento maior dos desdobramentos do último trabalho.
A gramática me pareceu excelente, sem erros, sem malabarismos. Suficiente para contar a história sem forçar frases de efeito ou uma beleza sem significado.
Um grande abraço!
RESUMO: É a história de um garoto filho de um imigrante italiano. O home chegou ao Brasil ainda jovem e precisou trabalhar em subempregos a fim de se sustentar, e isso o transformou em um homem frio e sem sentimentos. Ao completar 10 anos, o garoto é forçado pelo pai a acompanhá-lo a determinada casa a fim de matar um porco. No momento de matar o animal, o homem não conseguiu matá-lo com apenas um golpe, o que causou sofrimento ao porco e, pela primeira vez, despertou no italiano algum sentimento.
CONSIDERAÇÕES: Com uma gramática impecável, o(a) autor(a) escreve de forma clara e objetiva, utilizando expressões regionais e frases em italiano, o que dá maior realismo à narrativa, nos fazendo imaginar, inclusive, a aparência do personagem.
Olá, Ígnis, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu conto.
Resumo: Imigrante italiano, um tanto taciturno, vive em área rural com a família, como abatedor de animais. Sem esclarecimentos, um filho vem a falecer que o faz viver mais embrutecido. Ao realizar a tarefa de abater um porco, na volta para casa com um outro filho, ao passar por um cemitério visualizam um fogo fátuo.
Gramática: Alguns problemas com coesão frasal como esta a seguir: “o qual que foi aceso ali mesmo”. E também problemas com a pontuação, as vírgulas principalmente.
Comentário crítico: O conto a princípio parece se empenhar em apenas fazer um recorte da vida rural. Mas deixa transparecer em nuances que a não esclarecida morte do filho esteja relacionada com a visão do fogo fátuo vista no cemitério. Foi o máximo que consegui compreender deste enredo. Se o autor (a) quis dizer mais alguma coisa ficou só pra ele.
Olá, autor!
Seu conto é muito bom mesmo, tirando alguns lapsos de revisão, está perfeito! Uma história diferente do que encontramos aqui, tão intimista e rural. A cena do abate do porco foi angustiante, foi bem visual e auditiva, muito incômoda de seguir, por isso mesmo muito boa, me senti quase lá. Só não entendi esse final… eles estavam falando do irmão dele né? Bem, isso não tira a qualidade do conto! Gostei muito mesmo, parabéns e boa sorte!!
Menino narra reminiscências de seu relacionamento com o pai, um imigrante italiano que por necessidade de sustentar a família exerce um ofício que o desgosta.
Sua história me surpreendeu. A narrativa bem tensionada constrói um suspense crescente. Há uma atmosfera de horror tanto nas referências aos elementos e personagens sobrenaturais como na cena forte do abate do porco, mas ao final o conto se revela, digamos, um drama familiar. Gosto bastante dessa mistura de gêneros. Ao final, a inversão de expectativa relativamente à personalidade do pai do menino valorizou bastante o conto.
O que me deixou um pouco frustrada na sua narrativa foi a ausência de explicações sobre a morte do irmão do protagonista. Acho que, uma vez incluído no enredo, o episódio poderia ter sido mais valorizado no conto.
Embora ainda ache que cabem alguns aprimoramentos na história, sobretudo a questão da morte do irmão, seu conto me agradou bastante.
Desejo sucesso no desafio e em tudo mais. Um abraço.
FOGO FATUO
Resumo: Um jovem narra sua história vivida com seus pais de origem italiana. Perdeu o irmão quando ainda era bem jovem. Desde então, passou a ter uma relação maior com espíritos. Ajuda o pai na sua labuta, tendo de encarar a triste função que ele tem quando precisa tirar a vida de um animal.
Ponto Forte: Relações familiares solidas, pai, filho, família. A tristeza da perda de um ente querido. A relação com o folclore brasileiro.
Ponto Fraco: Alguns acontecimentos me pareceram um pouco sem conexão. O estrangeirismo também dificultou o entendimento da narrativa.
Comentário Geral: Gosto da relação familiar existente neste tipo de narrativa. Me pareceu bem consolidada ao texto. O uso do folclore também me agradou bastante. Creio que se tivesse explorado mais este cenário teria chamado ainda mais a atenção.
Resumo:
O conto, narrado em primeira pessoa por um garoto, filho de pobres imigrantes italianos e vivendo em área rural, conta um pouco da relação do menino com seu pai que, entre outros trabalhos, sustentava a família recebendo pelo abate de animais de criação de terceiros. Antes o irmão mais velho do protagonista acompanhava o pai nestes trabalhos, porém, certa vez ao sair com o pai para uma dessas tarefas, o primogênito morreu em circunstância não comentadas, o que tornou o pai ainda mais rude e soturno. Finalmente a vez do menino chegou e, já mais crescido, fora convocado a tomar o lugar do falecido irmão e acompanhar o pai, à noite, num trabalho que até então desconhecia. Finalizado o abate de um porco em fazenda vizinha, ambos retornam para casa a pé e, ao passar por um cemitério, testemunham o fenômeno do fogo fátuo, folcloricamente denominado boitatá, a cobra de fogo m´boi.
Comentários
Um conto em que o autor desfila habilidades. Ele é hábil em caracterizar personagens sólidos, seja na forma de crianças ou de imigrantes enrijecidos pelas responsabilidades e agruras de trabalhador em pátria estranha. Ele é hábil em caracterizar a vida no campo e os cenários rurais, e é igualmente hábil em nos apresentar a religiosidade e crendices das pessoas. Não obstante, o conto não me agradou. E porque não me agradou?
Não agradou porque é basicamente um “causo” fundamentado no saudosismo do protagonista. E todas as habilidades previamente descritas parecem infimamente atreladas a este saudosismo. Ok, provavelmente me perguntarão: e alguma dessas coisas é pecado? Não, longe disso, como citei, são habilidades, mas ao meu ver isso apenas não basta.
Falta ao conto uma trama, falta vivacidade aos eventos narrados com nítido distanciamento temporal, falta ao protagonista qualquer coisa que o torne mais do que “esquecível”, falta um conflito, uma revelação, a redenção talvez. A mera conclusão de um pai “penitente” passa longe de soar como epifania e termino a leitura com a sensação de que o autor ficou a me dever, apesar da generosidade e eficiência demonstradas através das virtudes que antes citei.
P.S.
Não pude concluir sobre a validade do título que, precocemente desmistifica a crendice popular, principalmente se considerarmos que no arremate, o garoto descarta a superstição e refere-se ao fenômeno por fogo fátuo, porém, em contrapartida, associa o evento específico a uma conclusão própria, com embasamento religioso.
Em Números:
Título e Introdução: 7
Personagens: 8
Tempo e Espaço: 7
Enredo, Conflito e Clímax: 7
Técnica e Aplicação do Idioma: 7
Valor Agregado: 6
Adequação Temática: 10
Nota Final: 3,6
Observação:
As parciais, baseadas nos critérios, variam de 0 a 10, mas possuem pesos distintos na composição da nota final, que varia de 0 a 5.
Este conto narra a história de uma família de agricultores, na qual o patriarca, um emigrante em Italia, é aquilo que em Portugal chamamos de tarefeiro. Tem dois filhos, sendo que um morre aos dez anos enquanto o ajuda nos seus trabalhos, nunca sendo revelado o que na realidade aconteceu. O resto do conto é a história da primeira vez que o outro filho o acompanhou, a uma matança a meio da noite.
Gostei do ambiente do conto e do seu ritmo lento. Tem algumas incongruências. A Itália não era um destino tradicional para um emigrante português. Está passagem suou-me algo estranha, tal como suou estranha a matança do porco sem a sua característica mais arrepiante: o terrível grunhido que é ouvido à distância e que é uma das minhas piores memórias de infância. Estranhei o silêncio no conto.
Um belo conto. Bem escrito, com um tom intimista e excelente desenvolvimento de personagens. O final em aberto dá o que pensar. Muito inteligente a maneira como o conto aborda temas como família, mortalidade e perda, evitando um tom piegas e a exploração superficial e banal de emoções, fazem com que esses se tornem detalhes de pouca importância. O boitatá parece simbolizar a morte, e gostaria muito de saber do autor(a) se a intenção foi realmente essa. Acho que este é meu preferido até agora.
Resumo
A dura rotina de uma família de imigrantes italianos contada pelo seu filho mais jovem. Um pai brusco, de modos bastante peculiares, com uma profissão pouco comum e que depois, viemos a saber ser de matador de porcos. A perda misteriosa do filho mais velho e a dor enclausurada de seu pai.
Técnica
Muito boa. Frases impactantes como “Mamãe também; ainda que fosse jovem e tivesse dentes perfeitos, arrancou definitivamente o sorriso do rosto e envelheceu,…” me deram um choque e eu pensei..”queria ter escrito isso”. A condução do texto nos deixando apreensivos sobre a atividade do pai, os gritos, a morte misteriosa do irmão…gera um clima tenso e arrefece no fim transformando-se numa história de dor e introspecção.
Criatividade
Meu pai tinha essa como uma das suas atividades, era um conhecido “capador” de porco e matador de leitão da minha terra. Gostei muito de rememorar alguns fatos. Além disso, histórias sobre possíveis fantasmas são sempre criativas.
Impacto
Fiquei impactada pelo escrita direta, sem rodeios e pela virada (arrefecida) no final. Senti falta de mais detalhes sobre a morte do filho mais velho. Mas compreendi que esse é o ponto que cabe ao leitor imaginar.
Excelente, parabéns.
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado: suspense, mistério, folclore
Resumo: menino tem relação difícil com o pai, italiano fechado e rigoroso. Um dia, é obrigado a ir com o pai ao trabalho, e descobre que o pai mata animais. Ao voltarem para casa, avistam o boitatá, e o pai sente a dor das vidas que tirou.
Comentário: Cara, admito que a leitura do conto foi um pouco difícil pra mim, mas gostei bastante. Vamos por partes.
Primeiro, quero explicar pq a leitura foi difícil. Eu sou vegetariano, então você deve imaginar que não é fácil ler sobre a morte do animal, ainda mais nas circunstâncias que foram. o mais importante aqui, é que a leitura me foi angustiante justamente por causa da sua habilidade na escrita. A cena foi vívida e chocante, a descrião foi precisa (demais, pra mim kkkkkk).
Enfim, me senti bastante mal lendo o conto, mas isso se deve mais à sua habilidade (e ao meu fraco por animais sofrendo kkkkk), que a qualquer coisa. Dito isso, já emendo que você escreve bem demais! Caraca, que técnica! A leitura foi fluida e impecável, com ótimos personagens, descrições, e, ainda que um enredo simples e direto, carregado de significados e ideias. Tudo muito bom.
Durante boa parte do conto, eu achei que o pai do menino fizesse algo errado, ou ainda que fosse algum tipo de exorcista ou algo do gênero. Foi criado todo um mistério sobre isso, principalmente pela personalidade dura e taciturna do homem. Foi uma surpresa quando, na hora do celeiro, só era um porco kkkkk.
A subtrama com o irmão e o pai foi concluída com maestria na metáfora do pai que nasceu com o coração do lado errado, e por isso não conseguia sangrar até o fim.
A aparição do boitatá, servindo de metáfora e base para as relações familiares, o trabalho “sujo”, a morte do irmão. Tudo no tom certo. Excelente trabalho, parabéns!
FOGO FÁTUO- Resumo- Um imigrante italiano trabalha como matador de porcos para os estancieiros. O filho mais velho o ajuda e acaba morrendo no trabalho. O filho mais novo o substitui. A história é narrada pelo menino que acompanha o pai, quando é contratado para matar um porco. Ao voltar para casa, eles passam perto do cemitério e veem um brilho na escuridão. Eles acreditam que o fogo fátuo é a alma dos porcos.
COMENTÁRIO – Achei uma história bem simples. A introdução me pareceu confusa, meio travado, mas depois flui melhor. Acho que as coisas não combinaram na história, principalmente a relação do fogo fátuo com a alma dos porcos mortos pelo homem. Um argumento muito frágil. Nem mesmo a origem italiana do personagem, deu vigor ao seu perfil, tampouco ao conto. Faltou trabalhar melhor esses detalhes. As descrições do pai, feita pelo filho, ficaram excelentes, além dos detalhes da morte do porco. Porém é muito pouco, isso não consegue melhorar a história como um todo
Garoto mostra a visão que trazia do pai, imigrante italiano. O irmão mais velho morre, pai e mãe se tornam taciturnos. No dia em que vai ajudar o pai, é que o protagonista descobre que o ofício dele era matar porcos e passa a compreendê-lo melhor.
Achei o conto bom e interessante. Não houve grandes revelações ou momentos de emoção, mas a história entretém. Detalhes da nova vida do imigrante, o elementos sobre o relacionamento em família, os italianismos contribuíram bastante para fugir da mesmice.
Vocabulário e estilo estão bem adaptados ao assunto, no entanto, não há uma sensação de artificialidade em algumas cenas, como a do fogo-fátuo, que deu origem ao título. Também não vi um conflito bem definido.
A trama traz uma série de situações identificáveis ao leitor. Nessas cenas, sobretudo nas descrições da ação do garoto, o ritmo calmo e constante usado não confere tanto impacto e tenho a sensação de ver a intenção de emocionar, mas amornada pela naturalidade com que o personagem-narrador as apresenta. Contudo, traz envolvimento, pela empatia com o protagonista.
Parabéns pelo trabalho. Sorte na Liga. Abraços.
Resumo: Em Fogo Fátuo o narrador personagem conta como era tensa, desde que se lembra por gente, a relação com seu pai; tendo a morte de seu irmão mais velho (ainda criança) dado ainda mais angústia à situação. A narrativa se detém nessa época de dificuldades financeiras e afetivas. O pai, segundo o autor é alguém que é preferível manter distância por causa de seu temperamento difícil, mas chega um momento no qual o protagonista precisa acompanhá-lo em uma súbita tarefa noturna a pedido de um vizinho.
Impressões: A história é cativante e não vi nenhum problema em sua forma de ser contada e conduzida. Só a expressão “post mortem” é que, da forma que eu vejo, deveria ter ficado entre parênteses.
No mais, está tudo bem descrito. Os personagens a ambientação, as emoções que brotam do âmago de cada frase…tudo se encaixa e se completa. Assim como nhoque e molho de tomate. 🙂
Está de parabéns!
Uau que texto lindo. A história é muito bem contada, sensível, interessante, gostoso de ler. Muito bom. Parabéns. E esse final? “Compreendi que o meu pai ainda não havia sido totalmente sangrado. E que lâmina fina de Deus continuava ali, atravessada no lado errado do seu peito.” encerrou com chave de ouro.
Obs: este não é um comentário obrigatório neste desafio, por isso não há resumo nem observações gramaticais.