Na praça, o brilho debochado do sol incomodando os olhos funcionava como bodoque na volta para casa. Tinha mais gosto quando estendia o corpo na velha cama. Não diria mais gosto, mas bem menos cobrança. Janela fechada, imerso na escuridão. Aboiando. Fitando o telhado sem nada querer enxergar. Arriado.
Fazia tempo que o quarto transpirava desmazelo. As dezenas de caixas, empilhadas nas prateleiras, acumulavam sucessivas camadas de poeira. Meses e meses de desleixo. Anos. Januário ficava ali. Naquela prostração em que só a cachola não parava. Uma mastigação descabida de agruras, de ambições frustradas. E de amores. Aquela extrema carência de ânimo dava inquietação. E, povoando tamanha desventura, a imagem de Veridiana.
Naqueles últimos tempos, nem as lembranças daquele engenheiro desgranhento incitavam sua raiva. Nada de fúria. Ninguém poderia carregar a culpa por ele ter sido tão desarmado. Parvo. Também não queria pensar nisso. Foi bom enquanto durou.
A vida lhe cobrou silêncio. Viveu assim, quase mudo. Parecia mais fácil. Não queria mais ouvir conversa. Conversa sempre exigia resposta, e, para ele, responder era custoso.
Não sabia que desvario era aquele de ficar num puxamento do passado, desfiando alusões, amargando os minutos. Não queria mais ter aflição no peito. Tinha a cabeça cansada, corpo cansado. Cansado de ser velho. Não sentia falta dos projetos, das obras, das ferramentas. Não desejava nada. Inerte. Queria não pensar.
Obstinado por futebol, nem mesmo a proximidade da Copa o animava. Tudo estava diferente. Nem carregava mais o rádio de pilha. O time do Santos já não encantava, Pelé não importava mais.
E existiu Veridiana. Por muito tempo, a razão primeira de despertar. A galeguinha dos olhos gateados que morava na casa mais próxima. Raiava como o sol. Era lindo observá-la estendendo roupa no varal. As linhas perfeitas dos braços, a cintura bem marcada com o amarrio do avental, os cabelos aloirados, a delicadeza dos movimentos. Era um bailado. Em sã consciência, ninguém acreditaria que Januário alimentava qualquer esperança. Mas, sim, alimentava. Somente ele sentira os olhares penetrantes, o falar sem palavra. Chamado infinito. E foram inúmeras as vezes.
Na fieira de filhos, Januário era o oitavo. Depois dele, só Marineide. Moleque esperto como os demais, mas veio com defeito na língua. Apesar de todo o empenho que mostrava para articular as palavras, elas saíam estranhas, quase indecifráveis. E o som era anasalado. O pai dizia que era língua presa, e, para definir na máxima simplicidade da ciência, Januário era fanho. Totalmente fanho.
Quem olhasse a casa da família notava que, apesar do ofício de pedreiro dos moradores, nenhum planejamento fora usado. De início, uma casa comum, pequena. Era normal, num único quarto, abrigar todos os filhos. Mas, com o passar dos anos, as idades exigiam certos pudores, certos segredos. E, então, começou o espichamento. Terreno adentro, a fileira de quartos, num total de quatro, com portas voltadas para um grande corredor, lembrava um alojamento. Januário ocupava o último, pareado com o banheiro.
E ficou ali, mesmo depois que todos tomaram novos rumos. Todos, não. Marineide não escolheu outra estrada. Ou não teve chance. Continuava ali, com ele. E preferiu ficar no quarto dos pais, quando eles morreram. Depois, com a velhice assentada, poupando trabalho, ela trancava todos os outros cômodos que não eram usados. Todos em ordem, mas trancados.
Naquele casarão, sobraram os dois idosos, Januário e Marineide. Passavam apuros. Com a carestia, o pouco dinheiro juntado acabou. Não fosse a ajuda do vereador Chico Lopes, difícil imaginar o que poderia ter acontecido.
A ajuda veio num tempo de eleição. Um dia, o carro do vereador parou na frente da casa. Chico Lopes levou a carteira de trabalho de Januário, esfolada, sem qualquer registro, e acompanhou Marineide até o escritório do Doutor Adauto. Providenciou um monte de documentos e, pouco tempo depois, cada um dos dois irmãos recebia um salário mínimo de aposentadoria. Foi uma alegria só. Marineide, pela primeira vez, recebia pagamento. E tudo começou a ficar enfeitado. Os cabelos, o pescoço, as orelhas… O jardim continuava cuidado, mas as flores de plástico encheram a casa.
Na época de escola, a condição de fanho não atrapalhou Januário. Tumultuou, mas não foi empecilho. Aluno brilhante. Terminado o primário, integrou a equipe do pai. Mais um filho no ofício de pedreiro. Pelo talento de trabalhar com números, começou cuidando do estaqueamento. Projetos novos não havia. As obras seguiam padrão único. Casas com dois ou três quartos, comércio com salão simples. Mas, se o dono da obra exigisse qualquer melhoramento na planta, cabia a Januário o cuidado do desenho e das medições. E não parou por aí. Detalhista com amarração dos telhados, madeiramento com entalhes, passou a ser o mestre marceneiro. E passava os dias perdido entre esquadro, formão, grosa, trena, plaina, malho, régua, serrote… E prumo, no trabalho e no juízo. Nada de assentar tijolo, erguer parede. Com ele ficava o zelo pela perfeição. Era o mestre Fanho. Se pudesse, teria escolhido ser mestre Januário. Mas não teve chance, escolheram por ele.
Quando o pai resolveu separar parte do pagamento para o ainda pequeno Januário, brotou nele uma paixão por loteria. Gostava do desafio da aposta. E, criteriosamente, reservava o dinheiro para tentar a sorte. Nem tanto pela ânsia de lucrar, mas pelo prazer de desafiar a sorte ou o palpite. Tornou-se freguês assíduo da banca do Seu Nicolau. Vivia correndo os olhos pelas tiras de loteria federal dependuradas por toda parte. Procurava os números. Por ali, não havia jogo do bicho. Se houvesse, também não apostaria. Gostava das coisas certas, do papel impresso, da chancela do governo.
…
– Januário, a comida tá pronta!
Era Marineide e sua convocatória diária. A voz já foi mais estridente. Arrefeceu um pouco, mas ainda aperreava. Em Januário, provocava suspiros profundos de amolação. Estava enjoado de tudo. Não tolerava mais.
…
Por iniciativa, começou a anotar os resultados dos sorteios da loteria, do primeiro ao quinto prêmio. Anotava os números e a data. Aos poucos, manualmente, foi montando uma estatística dos números que se repetiam em sorteios diferentes, levando-se em conta centena, dezena e unidade. Era a distração das noites. Virou mania.
Jogava com parcimônia, jamais comprou bilhete fechado. Não. Apostava em frações diversas, observando a numeração das premiações mais repetidas num determinado período que ele mesmo balizava. E nada de prêmio grande. Apenas valores menores ou mesmo a troca por outro bilhete. Mas isso não importava. Gostava da aposta, do desafio. Tentar acertar era o atiçamento. Nada de loteria esportiva. Amava futebol, mas separava as coisas. Não interessava apostar em palpites sem lógica.
Um dia, Seu Nicolau mostrou a Januário um manual que havia chegado para ser vendido na banca. Trazia o título: “Como ganhar na Loteria Federal”. Foi amor à primeira vista. Aquela noite foi curta para leitura e anotação de todas as dicas. E, dali, surgiram muitas alterações nos palpites e nos balizamentos das apostas.
As frações não premiadas, o que ocorria com a maioria das apostas, Januário não conseguia descartar. Seguindo rigorosa ordem numérica, levando-se em conta os três algarismos finais, os bilhetes eram guardados em caixas, juntamente com os cadernos de anotação. Foram muitos. E as caixas, sempre numeradas, cuidadosamente colocadas em ordem nas prateleiras. Tudo seguia ordem, tudo matemático, controlado. E Januário achava que a vida era assim, lógica. E, para ele, foi. Foi?!
A vida seguia. Serviço não faltava, trabalhava o ano inteiro. A arte de mestre Fanho só fez crescer. E, já homem maduro, com a morte do pai e a saída de outros irmãos, a equipe de trabalho foi renovada.
Num determinado momento, a prefeitura foi alertada sobre um tal de código de posturas. Alguma coisa não estava sendo observada nas construções. Então, um engenheiro da capital ficaria um tempo por ali, acompanhando as obras. E chegou Doutor Peçanha.
Tipo diferente de gente. Usualmente, trajava calça social, camisa de mangas compridas milimetricamente dobradas até nas proximidades dos cotovelos. Cinto estreito de couro, sempre a combinar com os sapatos. E o inseparável chapéu panamá, puxado mais à frente, carimbava a figura. Aparentemente, trazia um ar de soberba. Com o tempo, a impressão primeira foi afrouxada. Um pouco. Era educado no falar, no tratar, mas marcava território.
Doutor Peçanha apreciava o trabalho de Januário. Era observador contumaz, e isso incomodava. Não economizava elogios. De maneira discreta, deixava claro que Fanho era dos melhores mestres com quem tinha convivido. Januário nem se importava. Quando muito, fazia um gesto com a cabeça, arqueava a sobrancelha ou sorria com um canto da boca. Sabia que era bom no que fazia. Não por ouvir falar, mas por sentimento. Vivia por aquilo. A necessidade de superação, em cada dia, fizera dele seu próprio crivo. E foi capaz.
Pelas prosas alongadas com os ajudantes, Doutor Peçanha inteirou-se do modo de vida de Januário. Descobriu a paixão pela loteria e as engenhosas estatísticas das apostas. E, destilando comentários sarcásticos, amolava Januário. As brincadeiras iam ao limite da paciência. Januário sentia vontade de gritar, de esbofetear o engenheiro. E a contrariedade maior veio quando Doutor Peçanha o chamou de simplório por acreditar em manual para acertar na loteria. Ria alto e dizia que somente um idiota acreditaria num engodo daquele. E afirmou que se o criador do manual tivesse o poder de acertar as apostas, não ensinaria a ninguém, seria vencedor em todos os sorteios. Januário ouvia palavra por palavra, engolia a zanga, cerrava os punhos para controlar a ira, queria exigir respeito. Mas que nada. Se tentasse falar, seria mais um motivo para caçoada. Na vida, sempre foi assim. Silenciar era a escolha certa. Não sabia se era a certa, mas era a menos sofrida. E esse comedimento sem trégua, aos poucos, dilacerou sonhos. Na verdade, nem sabia se eles existiam.
…
– Januário, Januário, num vou chamar mais! A comida tá pronta! Vou descansar as pernas…
Pronto. Depois que Marineide dizia que ia descansar as pernas, podia esquecer. Dormia até que escurecesse. E era um sono profundo. Envelheceu muito, e de maneira repentina. A disposição era pouca. A limpeza da casa, nos últimos tempos, andava precária. Pouco enxergava. Era comum colocar o açúcar no café sem se aperceber das formigas que cobriam o pote. Nem as novelas de rádio a encantavam mais. Estava velha. Velha e só. Tal qual Januário, não formou família.
Veridiana, aquela da casa ao lado, não aparecia no terreiro fazia tempo. Januário estranhou. Depois de uma semana, bastante aflito, perguntou para a mãe o que era feito da galeguinha. A mãe rodeou, desconversou, mas, diante da teima do filho, revelou que Veridiana havia sido levada para outra cidade em busca de socorro. Sangrava em descontrole, sem explicação.
Naquele dia e nos seguintes, Januário perdeu a paz. Não aprumava juízo em nada, não dormia. Nem gostava de olhar o quintal da casa de Veridiana. E logo a notícia chegou. A galeguinha havia deixado de raiar, a vida foi levada pelo sangue. Ele viu o tumulto diante da casa, ouviu o choro gritado da mãe da moça. A multidão tomava a rua. Não quis ver o corpo. Sabia que lá não estaria a formosura que guardava na lembrança. Não veria o brilho dos olhos gateados, a luz dourada dos cabelos, o tom roseado da pele, o sorriso tímido e brejeiro daqueles lábios. Guardava as imagens, precisava daquela lembrança.
E depois de tudo que ouvira daquele engenheiro miserável, Januário tornou-se ainda mais desesperançado. Aos poucos, desencantou-se das anotações, dos palpites. Quando percebeu, cético, já não mais apostava.
…
A noite se aproximava. No quarto, a pouca claridade que vazava do telhado e das frestas era quase nada. E aquela aflição no peito queimava. Tirava o sossego. Depois da noite, viria o dia, depois outra noite e outro dia… Ali, naquela angústia. No sol da praça, na conversa evitada, na cama, na solidão, no remoer, a voz de Marineide, o comer, o dormir. Não. Não queria mais.
Levantou-se. Com os dedos, penteou os ralos fios de cabelo, ajeitou a calça na cintura, meteu os pés nos velhos sapatos, próximos da cama, abriu a porta do quarto. Olhou para os lados. Nada. Ninguém. Esfregou as mãos no peito como se quisesse alisar a camisa, puxou a porta e pôs-se a caminhar rumo ao portão. E continuou, sem parar…
…
– Januário, você num toma jeito! Num almoçou, num guardou a comida… Ara!!!
Comentários:
Conto psicológico com notável profundidade, onde o que não se diz fala mais do que o que é dito (e muito, talvez demais, é realmente dito, por vezes de forma excessivamente direta). O título não me pareceu completamente adequado, já que a deficiência de Januário não é protagonista na história. Apesar de, indiretamente, corroborar muito para a construção do perfil psicológico do personagem.
Há tempos não me deparo no Entrecontos com personagem tão soturno e profundo, bem construído, com traços de caráter, ruminações e dramas pessoais atuais e comuns a todos nós. Não obstante o personagem seja bem construído, o cenário, apesar de não ficar tão atrás, não me pareceu acompanha-lo. O quarto de Januário, por exemplo, lugar em que ele vive seus momentos mais introspectivos, não me pareceu um lugar fácil de imaginar.
Da mesma forma, quer me parecer que, apesar da construção psicológica do protagonista ser o ponto alto do conto, faltou à história uma trama, ainda que secundária, cujo desfecho talvez justificasse o arremate. O homem, ao sair pelo mundo, haveria de ter um propósito mais concreto, senão óbvio. De qualquer forma, é um conto de que gostei muito.
Em números:
Título e Introdução: 6
Personagens: 9
Tempo e Espaço: 7
Enredo, Conflito e Clímax: 7
Técnica e Aplicação do Idioma: 7
Valor Agregado: 9
Adequação Temática: 10
Nota Final: 3,8
Observação:
As parciais, baseadas nos critérios, variam de 0 a 10, mas possuem pesos distintos na composição da nota final, que varia de 0 a 5.
Não faleceu… Endoidou… kkkkkk Feliz Natal!
Não faleceu. Obrigada pela leitura! ❤
O conto é sobre a vida dura de um servente de pedreiro fanho que se torna muito habilidoso e perde seu amor platônico, dando a impressão de que a partir daí nada mais faria sentido, mas seguiria vivendo. Gostei do conto, da forma narrativa, mas a frase final não entendi. O conto encerrou mesmo ali?
Sim. A irmã continuou com a mesma ladainha, não havia percebido que o irmão partiu. Obrigada pela leitura.
Por misericórdia, considere só esse comentário:
Fanho
Servente Ananias
Resumo
A história de um mestre de obras e sua percepção sobre a vida depois da aposentadoria.
Comentário.
Fanho me lembrou um ideal das pessoas mais antigas que diziam que “a aposentadoria mata quando não o corpo implode a alma”. Fanho perdeu a fúria de viver, de existir por um ideal. Bom profissional, não conseguiu o amor de sua vida, passando a viver quase inerte e sem esperanças. Uma vida oca sem o trabalho que alimenta sua alma e que lhe dava prazer: “Sabia que era bom no que fazia. Não por ouvir falar, mas por sentimento.” O narrador e controverso, tenta aniquilar nossa percepção sobre o importância do bem estar de mestre Fanho, afirmando que ele não sentia falta de suas tarefas, mas o restante da narrativa o desdiz.
É interessante também no ponto de vista social. Apresenta um modo de mão-de-obra invisível, já que Januário trabalhou a vida toda e precisou de um político para conseguir seu direito de aposentar. Durante os anos Noventa era essa uma grande realidade, com as mudanças da aposentadoria rural, muitas famílias não conseguiam provar que estavam no mercado de trabalho sem registros…
Ser invisível para Januário era antes uma salvação, não precisava falar e conseguir o desrespeito das caçoadas, mas é mesmo a invisibilidade que anuncia ao mundo sua existência, crédulo, não podia defender seu ponto de vista. Apaixonado, não conseguia se realizar no amor.
O único modo de se fazer notar? Não comer e Marineide “arengar” com ele: “Januário, você num toma jeito! Num almoçou, num guardou a comida… Ara!”
Texto perfeito.
Obrigada, menininha. Você lê as entrelinhas… ❤
Resumo: É a estória de Januário, homem que tem um problema na voz e mora com uma irmã chamada Marineide. Exímio pedreiro e bom com números ficou sendo conhecido como mestre Fanho, embora não gostasse da alcunha. Atormentado pelos problemas causados pela deficiência, velho e solitário mestre Fanho tenta se esconder em seu próprio mundo, mas sucumbe à loucura depois que a mulher que ele admirava morre de repente.
Comentários: É uma boa estória, bastante interessante. A escrita é boa, tem uma boa linearidade e retrata bem o sofrimento e a solidão dos personagens. Parece tudo certinho e bem trabalhado, apenas um ponto ficou meio aberto, em minha opinião: se eles moravam num casarão, porque não alugavam os quartos vazios para sobreviver? No mais, tudo ok. Poucas falhas de revisão. Boa sorte!
Nessa época, numa vila, alugar quartos? É, acho que não houve “mergulho” no texto. Sei lá… Obrigada pela leitura! Feliz Natal!
Fogo Fatuo
Ignis
Resumo: Uma criança conta sua experiência com seu pai.
Comentário: Ignis Fauus, você me convenceu! A sua narrativa sobre a vida difícil de um “descarneador” de porcos sendo traçada-acompanhada pela perspectiva de uma criança é muitíssimo interessante.
O texto inicia-se com a apresentação de uma figura paterna distante e fria e depois move-se para uma nova imagem, a de um homem moído por suas dores desconhecidas, que é capaz de perder a fé e chorar. Gostei como você trabalhou a narrativa de forma intimista, sem nomear ninguém, porém apresentando a intimidade de todos: o pai que tenta relaxar os pés da lida em água quente, a mãe que reza escondida, o irmão que protege e guia, o narrador que se amedronta. Há ainda a apresentação da hierarquia e dos gostos da casa.
Conheci essa arte pecuária de matar e descarnar, ou melhor “descarnear” peças suínas e é interessante como é diferente o resultado emocional adquirido entre a personagem paterna do texto e meu quarto pai adotivo, que dizia que mexer com a morte de um animal o aproximou da vida e da reflexão.
Foi uma experiência maravilhosa de leitura. Obrigada.
Fanho
Servente Ananias
Resumo
A história de um mestre de obras e sua percepção sobre a vida depois da aposentadoria.
Comentário.
Fanho me lembrou um ideal das pessoas mais antigas que diziam que “a aposentadoria mata quando não o corpo implode a alma”. Fanho perdeu a fúria de viver, de existir por um ideal. Bom profissional, não conseguiu o amor de sua vida, passando a viver quase inerte e sem esperanças. Uma vida oca sem o trabalho que alimentava sua alma e que lhe dava prazer: “Sabia que era bom no que fazia. Não por ouvir falar, mas por sentimento.” O narrador e controverso, tenta aniquilar nossa percepção sobre o importância do bem estar de mestre Fanho, afirmando que ele não sentia falta de suas tarefas, mas o restante da narrativa o desdiz.
É interessante também no ponto de vista social. Apresenta um modo de mão-de-obra invisível, já que Januário trabalhou a vida toda e precisou de um político para conseguir seu direito de aposentar. Durante os anos Noventa era essa uma grande realidade, com as mudanças da aposentadoria rural, muitas famílias não conseguiam provar que estavam no mercado de trabalho sem registros…
Ser invisível para Januário era antes uma salvação, não precisava falar e conseguir o desrespeito das caçoadas, mas é mesmo a invisibilidade que anuncia ao m7ndo sua existência, crédulo, não podia defender seu ponto de vista. Apaixonado, não conseguia se realizar no amor.
O único modo de se fazer notar? Não comer e Marineide “arrengar” com ele: “Januário, você num toma jeito! Num almoçou, num guardou a comida… Ara!”
Texto perfeito.
Resumo: o texto narra a vida de um filho de pedreiro que seguiu a profissão do pai, depois se tornou mestre marceneiro de obras. Após a morte de seus pais e do amor de sua vida, ele perde o brilho nos olhos e a vida se torna efadonha, a ponto de decidir partir da casa onde morava por décadas com sua irmã de voz esganiçada, outra solteirona.
Impressões: texto muito bem escrito, enredo bem desenvolvido e final congruente ao sentimento passado pela história narrada. Bom desenvolvimento das personagens e, mesmo carente de ações ou reviravoltas (propositalmente), o conto consegue prender a atenção do leitor e o jogar na realidade psicológica do protagonista. Parabéns pelo bom trabalho!
* enfadonha
O conto narra a história de januário, o mestre Fanho, homem com problemas de dicção,mestre de obras, obcecado por jogos da loteria federal,que ao chegar na velhice, sempre trazendo consigo a lembrança da galeguinha Veridiana, a menina que morreu bem jovem e que foi seu único e verdadeiro amor, que se desencanta com a vida.
É um bom conto. A leitura flui sem entraves. O conto tem um tom melancólico que eu gosto e está bem escrito. A trama é bem simples, vemos um homem triste na velhice, que não constituiu família, solitário, que perdeu a vontade de viver. O impacto causado não foi muito grande em mim. Não percebi erros de revisão ou de gramática. Boa sorte no desafio.
Passa por vários momentos da vida de um homem que perdeu a esposa e está em momento de grande depressão.
Técnica: 4,0
Criatividade: 3,5
Impacto: 4,0
Acho um texto muito bem escrito, porém os vários momentos da vida deste homem não parece ter uma ligação com a linha narrativa. O texto vai trazendo informações, que para mim, que li duas vezes, pareceu ser apenas informações de uma vida qualquer. Não consigo encontrar uma amarração forte o bastante para me tocar entre o futebol, o ofício de pedreiro e a obsessão por jogos (ponto altíssimo que adoro), com a perda da mulher. Entendo a ligação entre os números, mas a mim faltou uma conexão maior entre tudo, pois me pareceram ser apenas informações que foram vindo à cabeça enquanto o texto foi sendo escrito e depois faltou fazer uma revisão onde pudesse condensar tudo em uma só ideia. Criar laços afetivos e cortar o que sobrava. O texto é realmente muito bem escrito e me tocou em muitos momentos, porém eu não consigo encontrar um caminho que me faz caminhar por ele, ter um fio que me conduz do início ao fim.
Resumo:
Memórias e elucubrações de um velho sobre a vida. Lembra do pai, pedreiro que lhe ofereceu o ofício de herança, os sete irmãos dos quais só restou Marineide, com quem divide a casa antiga e mal construída; “casa de pedreiro, paredes tortas”. Lembra de uma certa galega com o coração disparado e lembra de um terrível engenheiro que lhe azucrinava as ideias. O gosto pela loteria e a sorte que nunca veio, nem no bilhete e nem na porca da vida.
Considerações:
Os sete primeiros parágrafos, (eu contei), são um primor de escrita. O restante também se mantém em alto nível, mas o início e “felomenal”!
Obrigada pela leitura! Feliz Natal!
RESUMO: Conta a história de Januário, um velho pedreiro desiludido, que já havia perdido o interesse em qualquer coisa. Desde cedo Januário trabalhara como pedreiro junto do pai e dos irmão. Com o decorrer dos anos, o pai morreu, os irmão se foram, e ele ficou na casa morando com a irmã solteirona, apenas os dois velhos. Januário desenvolveu o hobby de estudar sobre as probabilidades de acertar na loteria e até mesmo comprou um livro sobre o tema, paixão que nutriu por anos, até o dia em que um engenheiro da prefeitura, dr. Peçanha, começou a debochar de seu passatempo. Januário entristeceu-se com o deboche do engenheiro e desde então, a única coisa que lhe dava algum prazer, perder a graça.
CONSIDERAÇÕES: Conto bem escrito, com linguagem clara e trama interessante. Tem a capacidade de despertar sentimentos melancólicos e pensar sobre a finitude da vida, principalmente se o leitor estiver lendo em uma tarde chuvosa, como foi o meu caso.
Feliz Natal!
RESUMO: Um mestre de obras fanho e obcecado com suas metodologias, depois de suportar uma vida mediana à sombra de pessoas, resolve sumir.
COMENTÁRIO: Um texto fácil de ler e se envolver. Narrando a vida de Januário, o conto foi hábil a trazer tal verossimilhança que me levou a comparar com diversos personagens meus conhecidos da própria vida real, um verdadeiro da vida de muita gente.
O início me pareceu arrastado e um excesso de descrições que não levaram a história adiante, mas a partir do meio, o conto toma um rumo. O personagem principal; Januário é facilmente confundido com qualquer pessoa real, tal é a veracidade de sua vida, seus percalços e cotidiano.
O conto tem uma linguagem rebuscada, na minha opinião, em muitos pontos mais focada em ser agradável ao olhar do que em narrar o conto, mas essa impressão diminui com o desenrolar da história. Entretanto, não esbarrei com qualquer problema gramatical que tenha me incomodado.
Gostei do conto.
Grande abraço.
Resumo: Caprichoso marceneiro passa os dias da velhice refletindo os incômodos do presente e do passado.
O que vi: O conto todo me pareceu uma grande digressão. E o final aberto também não colaborou para dar ao leitor uma conclusão, ou propósito para o restante do texto.
Em outras palavras: foram rodeios, descrições e mais informações soltas (bem contadas) mas que não culminavam num fechamento amarrado.
Sr. Rosário dos Santoz, poderia se apresentar? Interessante a nota que o senhor me deu. Interessante também foi toda a sua avaliação (em notas). Surpreendente. Estou tentando entender este seu comentário. Obrigada pela leitura. Aliás, que leitura… Feliz Natal!
Olá, Lorenz, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu conto.
Resumo: Um relojoeiro atende um estranho senhor que pede que conserte seu relógio de bolso, pois está com os ponteiros trabalhando em sentido invertido. O técnico enquanto manuseia a peça, começa a reviver os momentos finais à morte de sua esposa. O estranho é que, assim como o mecanismo do relógio, ele também passa a relembrar dos fatos, antes ao falecimento da mulher, também na forma inversa. Daí todas as coisas passaram a ser vista e vividas no sentido retrocedido.
Gramática: Sem problemas aparentes de gramática.
Comentário crítico: Um conto do gênero fantástico, e ou, beirando o absurdo/surreal. É o tipo de narrativa que eu gosto muito. Embora, neste conto específico, senti falta de um enredo mais apropriado ao gênero, pois que este ficou limitado a uma simples regressão. Não aproveitando os recursos que o próprio enredo do conto dava condições para tal. Mas de qualquer forma o autor desenvolveu bem ao que se propôs, principalmente o desfecho, onde o regresso o leva a infância; interagindo a infância com a memória do começo do conto. Um bom trabalho.
(Perdão Regina, pelo lapso, eu troquei as bolas, pus seu comentário no conto “Engrenagens Inversivas.” Eu tenho por hábito enviar todos os meus comentários de uma só vez. Neste momento eu devo ter me embaralhado. Mas, também houve um descuido por parte da moderação do EntreContos, pois não constatou o erro e, portanto, não me avisou.) Mas aí está seu comentário:
Olá, Servente Ananias, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu conto.
Resumo: Rapaz fanho, que vive o terrível dilema do trauma e do preconceito. Resignado por um amor de infância, perdido para a morte precoce. Renomado mestre de obras, em virtude de certo dom pelos números, pelo qual também se tornou maníaco em números lotéricos da federal. Termina por se aborrecer com o engenheiro chefe, ao menosprezar sua pessoa, apesar de o mesmo o ter lhe elogiado quanto ao seu esmero no trabalho.
Gramática: Gramática correta, sem problemas aparente.
Comentário crítico: A narrativa se fundamenta em contar sobre as façanhas e mazelas de um personagem. Mas não há um enredo em si, apenas o desenvolvimento da personagem durante seu tempo. Passa a sensação de que não há nenhum objetivo para a história.
Embora tenha o autor (a), criado muito temas, haja vista os diversos assuntos abordados para formalizar um só enredo. A descrição de todos os personagens envolvidos na trama; a contradição do personagem do engenheiro, etc., também foram um dos empecilhos para dar mais consistência ao enredo. Compôs muito assunto para mania dos números, onde a meu ver poderia usá-lo mais no psicológico da personagem. Mas isso é uma questão que só cabe ao autor (a.) Achei também o final um tanto nebuloso: saiu para o mundo, desvanecido da vida? Tornou-se um Demente? Entretanto não há de se negar o pleno domínio do autor(a) no desenvolvimento da sua história, só acho que deveria ter se concentrado mais em dois ou três focos da narrativa. Mas um trabalho muito bem construído, salvaguardando os excessos mencionados.
Olá, autor!
Eu gostei bastante do seu conto! A escrita firme, o enredo interiorano, a história singela, a delicadeza com que foi narrada uma vida, o personagem muito bem construido, com suas qualidades, defeitos, manias, paixão platônica, tristezas, tudo está muito harmonioso e compõe um ótimo conto! Parabéns e boa sorte!
A história de Januário, o oitavo filho de um pedreiro, nascido fanho, marceneiro talentoso, homem frustrado pelo amor não realizado com Veridiana, sem voz por conta de seu problema de fala e humilhado por certo engenheiro vindo da cidade por conta de seu gosto em fazer apostas.
O que mais me agradou no conto foi a construção do personagem Januário. A humilhação de uma vida toda por conta de um problema de fala, o silêncio forçado pelo constrangimento, a redenção e a realização por meio da excelência do trabalho. Toda essa dor mostrada no tecido do texto sem o recurso a descrições, apenas por meio da narrativa hábil da história da vida desse homem.
Achei os conflitos, tanto a humilhação sofrida pelo engenheiro como a frustração com a morte de Veridiana insuficientemente desenvolvidos, sobretudo quando comparados à habilidade demonstrada na construção da personalidade do protagonista. Também achei assim, assim o final que você deu ao conto.
A forma não linear de narrar foi eficaz em aumentar o interesse na leitura, mas acho que ainda caberiam revisões no sentido de lapidar melhor os cortes temporais.
Na minha opinião, uma história interessante em que o talento do autor se faz notar, mas um pouco irregular e com alguns pontos a aprimorar.
Desejo sucesso.
Um abraço.
FANHO
Resumo: Um jovem fanho, com extrema dificuldade na fala. Evitava conversas para não demonstrar sua dificuldade na fala. Exímio apostador. Mestre na arte matemática. Não se aproveitou muito do seu dom. Apreciava uma jovem formosa (vizinha), mas, não se enamorou dela. Era cuidado pela irmã após a partida de seus pais. Filho de uma família aparentemente grande. Ficou sozinho com a irmã após seus irmãos terem partido. Quando soube da noticia do falecimento de sua amada, pôs se a caminhar, sem rumo, sem destino.
Ponto Forte: Narrativa cheia de detalhes. Impecável em nos fazer imaginar um cenário de vida de dificuldades. Muito próxima da realidade.
Ponto Fraco: Uma vida relativamente comum para um personagem que me pareceu ter tantas qualidades. A sorte, tão bem narrada no texto, não me pareceu fazer parte da vida deste personagem.
Comentário Geral: Devo dizer que foi uma das narrativas que mais apreciei. Não gostei do título, mas, isso não interfere. Um cara sem sorte. E olha que a sorte parecia que um dia iria chegar. Entristeceu-me ver um cara com tantas habilidades não ter tido sequer a sorte de numa única ocasião ter sido correspondido pela sua amada.
Este conto narra a história de dois irmãos que ficaram a morar na casa dos pais, ele pedreiro, com um defeito na fala que o remetia ao silêncio, ela aposentada, ambos sós até que ele decide um dia, deixar de viver. O final fica em aberto, mas saber o destino exacto de Januário é irrelevante.
A história é bem contada, com uma descrição magistral da casa da família. Só não gostei particularmente dos avanços e recuos da narrativa. Fiquei com a ideia de que os dois tinham ganho uma pensão, mas logo a seguir ele trabalhava e tinha sucesso no trabalho.
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado: cotidiano, biográfico
Resumo: a vida de Januário, homem fanho que, apesar de bom com números e excelente mestre de obras, acaba não construindo nada para si, e termina numa vida vazia e sem sentido. Talvez se suicide, ao fim, não tenho certeza.
Comentário:
Cara, seu conto me causou uma série de impressões, quase numa montanha russa hahaha. Tinha hora que eu achava meio maçante, e outras achava quase brilhante. A opinião final foi de um conto bem bom. Mas vamos por partes.
Pra começar, devo dizer que minha primeira impressão foi que se trataria de um conto bem maçante, e eu já fiquei meio pensando que demoraria pra terminar de ler. Não sei dizer bem o pq, mas acho que os primeiros parágrafos não são muito gostosos de ler, sendo sincero. Achei a linguagem meio truncada e enfeitada demais.
Porém, numa mudança feliz e inesperada, a mesma linguagem começa a se tornar meio poética e dona de uma grande beleza, e acabou gerando um novo interesse na leitura. Achei de um vocabulário amplo e uma escrita segura, algo na forma como você escreve realmente nos transporta para a época do conto (talvez anos 60 ou 70, dada a citação ao Pelé).
Assim, o conto foi se passando todo comigo alternando entre achar que a linguagem era rebuscada demais, ou achando que a escrita era linda. hahahaha
Sobre o enredo, eu gostei muito. Tem um quê de depressão, então não era inesperado que ele terminasse se suicidando (essa é minha impressão principal sobre o desfecho, mas tratando-se de final aberto, não posso afirmar). Aliás, o final aberto me pareceu muito acertado, gostei bastante.
O enredo se passa num ótimo ritmo, e se fortalece bastante pelo uso de ótimos personagens. Todos eles são carismáticos, sem exceção. Gostei muito do Januário, da irmã, do engenheiro, da crush kkkkk…
Por outro lado, achei que, em determinados momentos, a linha temporal ficou meio confusa, e eu tinha que ficar meio que desvendando em que época da vida de Januário a história se encontrava.
Sobre a Viridiana, foi uma grande surpresa a morte dela. eu tinha certeza que a mágoa dele pelo engenheiro era pq o homem tivesse roubado a amada. Me pegou certinho! hahahha
Enfim, um conto bem gostoso de ler, apesar de alguns altos e baixos que senti como leitor. No final das contas, gostei bastante.
parabéns e boa sorte!
Engrenagens Inversivas
Resumo:
Após atender o pedido de um cliente, para o qual os ponteiros de seu relógio deveriam movimentar-se em sentido anti-horário, um relojeiro em luto passa a viver toda sua vida em retrocesso até a infância, “revendo” o citado cliente em alguns momentos dessa regressão.
Comentários:
Engrenagens Inversivas apresenta boa dose de criatividade (apesar de me remeter a Benjamim Button) e abre de forma promissora, com diálogos interessantes e boas alternâncias de cenário. Não obstante, encerrada a introdução, também parece se esvair a criatividade e recursos do autor. A narrativa se torna linear e previsível, sem mais diálogos, sem alternâncias, sem revelações ou novos conflitos. O tom perenemente nostálgico do narrador soa propositadamente concebido para conquistar a empatia do leitor, o que, ao menos comigo, não funcionou. Tão pouco o arremate inconclusivo corrobora para a concretização da trama. Quem era o cliente misterioso? Ao meu ver, sequer foram deixadas pistas para que cada leitor pudesse escolher sua própria resposta cabível, aliás, quer me parecer que o próprio autor não tinha a resposta.
Enfim, talvez tenha faltado trabalhar mais e, nesse processo de desenterrar o passado do protagonista, trazer-nos à tona algum segredo escondido, revelar-nos as eventuais mudanças de comportamento, a construção do caráter, o processo e alguns dos fatores pelos quais um menino se torna homem, quiçá um sábio. Isto, para enumerar apenas uns poucos exemplos entre as possibilidades que o autor ignorou.
Em números:
Título e Introdução: 8
Personagens: 7
Tempo e Espaço: 7
Enredo, Conflito e Clímax: 7
Técnica e Aplicação do Idioma: 7
Valor Agregado: 7
Adequação Temática: 10
Nota Final: 3,7
Observação:
As parciais, baseadas nos critérios, variam de 0 a 10, mas possuem pesos distintos na composição da nota final, que varia de 0 a 5.
Um homem simples, pobre, habilidoso no trabalho, amante das apostas de loteria, admirador de uma mulher…e que viu todos esses estímulos que o tornavam vivo se perderem por ação de um estranho.
Técnica
– O uso da linguagem é preciso, com frases curtas, sem desperdícios e com expressões muito próximas da realidade do personagem.
– Eu eliminaria todo o primeiro parágrafo e começaria com o segundo. Num conto, o conflito e os personagens devem ser apresentados sem muita demora e descrições ambientais longas são dispensáveis, a não ser que trate-se de um enredo em que o ambiente seja o foco.
– A questão do silêncio dele é marcante, e a fanhês é uma causa e ao mesmo tempo uma representação da opressão emocional que ele sentia.
– Percebi a sofreguidão do Januário, mas não vi conexão entre os personagens secundários. Por ex: fiquei esperando a relação do engenheiro com a Veridiana e não encontrei. Aliás, ela ficou completamente solta na história.
– Com relação ao final, não tem que ser necessariamente trágico ou redentor, então, seu final é sim surpreendente pelo vazio…
Criatividade
Não necessariamente novo, mas diferente na abordagem e na desconexão.
Impacto
Estou com a sensação de que perdi muita coisa, ou o conto foi escrito mesmo com essa desconexão e incompletude, não sei…
Parabéns, boa sorte
Veridiana é o único amor de Januário. Ela não teve nenhum relacionamento com o engenheiro, não falei isso. O cenário é uma vila, em tempo antigo. As alegrias que sustentavam Januário ligado à vida foram minando. O amor platônico, a arte, a loteria… Envelheceu, não suportou a realidade. Saiu caminhando pelo mundo, endoidecido… Obrigada pela leitura. Feliz Natal!
FANHO- Resumo- A história de Januário, um homem simples, com defeito na articulação das palavras, que se tornou mestre de obras. Adquiriu o vício pelo jogo da loteria. Um engenheiro passa a caçoar dele por causa do jogo. Januário se apaixona pela vizinha e quando ela morre precocemente, Fanho se desgosta da vida.
COMENTÁRIO- A história é simples, mas é contada com estilo. A estrutura do texto é mesclada com períodos temporais, o que não é nenhum defeito, antes pelo contrário. Também gosto de usar esse recurso que, em alguns casos, quebra a monotonia da leitura. Mas não gostei do final. Não entendi o que deu na cabeça do Januário, o que ele decidiu fazer? Sair caminhando pelo mundo, sem destino? Ele não tem culpa de nada para se castigar. Ele pode fugir do lugar, mas não conseguirá fugir das lembranças.Talvez ele queria morrer caminhando, ou caminhar morrendo. Porém, mas, todavia, o autor preferiu esse final e assim é o conto.
As alegrias que prendiam ele à vida foram minando. O amor platônico, a arte, a loteria… Não suportou a realidade crua´. Endoidou, saiu andando…
Obrigada pela leitura! Feliz Natal!
Cansado da rotina, sem amores e sem a ilusão pelas coisas de que gostava, o protagonista, idoso, que morava com a irmã, cria coragem e, praticamente, foge de casa; a irmã não notou a saída dele. Com uma outra leitura, o leitor poderia afirmar que o Fanho faleceu.
O desenvolvimento do texto traz situações comuns do cotidiano. A narrativa é madura, consciente, mas despretensiosa, sem apresentar reviravoltas ou surpresas, sem se prender a detalhes descritivos ou narrativos de cenas impactantes e, sim, à dinâmica extensiva do texto.
A inquietude é construída num clima que traz sentimentos do escorrer do tempo, com uma sensibilidade repleta de sutilezas, de lirismo, de fenômenos naturais, vagando por sensações e condições da vida. Precisei reler, mais atenta às marcações de tempo, que estão meio sutis.
A graduação dos fatos serve para provocar sentimentos crescentes, porém sem muita emoção. O título faz referência a uma característica física do personagem, que, ao meu ver, é irrelevante para a história.
A linguagem é precisa, sem travas na leitura, as imagens foram bem construídas. O ritmo é meio lento. Uma boa história, identificável e reflexiva.
Parabéns pelo trabalho. Sorte na Liga. Abraços.