Uns anos atrás, morei em uma pequena cidade, próxima da divisa com o estado do Rio. Pequena de verdade, nem mil habitantes. Não direi o nome porquê isso causa problemas. Assim como os nomes das pessoas, é melhor esconder. Enfim. Os anos que fiquei lá foram os que passei mais tempo à toa. Observando as pessoas da cidade, lendo, conversando, e não fazendo de fato o meu trabalho de coveiro. Pois é, sou coveiro. A profissão está na família há algumas gerações. Eu me chamo Ikú, meu pai chamava Caronte, e meu avô, Leto. Mas não se adiante, isso não é uma história de terror. O povo não pode ver um coveiro que já acha que vou sair falando de fantasmas.
Vou falar do ser humano, de um homem bom e como o ajudei a cuidar da sua filha doente, que veio a falecer aos sete anos. Em dois momentos dessa história fui testemunha direta. Estava lá quando ela “nasceu” e também no fim, depois de seguir José quando ele passou em frente ao cemitério completamente perdido. Me adianto. O resto José me contou.
Vamos aos fatos, ao José, que tinha boas intenções, sei ver de longe um homem bom, mas você conhece o ditado. Ótimo carpinteiro. Na fábrica de móveis onde era empregado há quinze anos, fabricava móveis em geral, mas também fazia todo tipo de brinquedos de madeira nas horas livres e distribuía para as crianças que encontrasse no caminho para casa.
Dos brinquedos que fazia havia alguns especiais. Por algum motivo que nunca saberemos, José tinha um talento, uma habilidade especial para duas coisas: grandes móveis de madeira nobre, e bonecos. Pela primeira, ele era o único funcionário contratado há tanto tempo, manda-lo embora faria cair os lucros da fábrica em 50%, pelo menos. Mas José não se preocupava com a diferença entre o seu salário e o valor pago pelos clientes por um armário de oito portas, todo entalhado em mogno (ilegal, diga-se de passagem). Enfim. Não é a mais-valia o foco da nossa história. Se fosse teríamos uma história de terror de verdade. Mas já disse que não é. É uma história de amor. Do amor de um pai por sua filha. Se é que podemos chama-la assim.
Desculpem, tenho essa tendência a perder o fio da meada. É o tempo conversando com os mortos sabe?
Onde parei?
Sim, os talentos de José. Pelo primeiro ele estava empregado, pelo segundo ele recebia o largo sorriso de sua filha. Viram? Amor! Pelo menos uma vez por mês ele concluía um de seus bonecos. Tinham quase o tamanho de uma criança. Primos distantes de Pinocchio. Quando acabava o expediente na fábrica, José embalava o boneco em lona, amarrando com cordas e criando uma espécie de mochila, e o levava nas costas até a sua casa. Cerca de trinta minutos de caminhada. José fazia esse percurso duas vezes por dia, de segunda a sábado, há quinze anos. Nem mesmo quando sua esposa, Catarina, morreu, ele teve folga, já que o óbito se deu num sábado depois do expediente. José achou melhor voltar logo ao trabalho, para ocupar a cabeça, ele disse. Naquela segunda-feira, sete anos antes desses eventos, levou mais tempo pra chegar em casa, muito mais. Mas esse não é o ponto agora. Interessa que, quando José carregava o boneco, os comerciantes pelo caminho se alegravam.
—Essa é das grandes José! Dizia o Antônio da quitanda.
—Sim, ela tá crescendo!
— É uma menina dessa vez? Perguntava Josefa, da padaria.
— Hoje não, mas a próxima será!
Todos com sorrisos nos rostos, um prelúdio.
Quando chegava em casa entrava em silêncio. Cuidadoso para que ela não notasse sua chegada. Devagar, se dirigia até o quarto. Ela nunca saía de lá e na maioria das vezes estava cochilando quando ele chegava. Os olhos castanhos se iluminavam, o sorriso se abria. Eram os olhos de Catarina.
— Papai! Trouxe presente?
Ela perguntava com sua voz rouca.
Ele desfazia seu pacote, protótipo de embrulho. Surgia o brilho da tinta fresca, os detalhes dos entalhes, que davam vida aos seus bonecos. Cada linha, cada pedacinho de roupa de madeira, planejado e executado por ele, somente para ver sua filha sorrir. Ela logo abria o peito do boneco, pegando os generosos pedaços de carne. No começo foi de surpresa, mas com o tempo ela entendeu que ali teria comida da boa.
Isso aconteceu muitas vezes durante esses sete anos. Porém há sempre um porém. Se eu parasse aqui, e só contasse do meu conhecido, o José, que faz bonecos e bonecas para sua filha, você não gostaria. É preciso haver aquele negócio que não consigo pronunciar direito, mania do povo misturar inglês com português que não me desce. Como chama? Poti? Plóti! Algo assim. Clímax, reviravolta, essas coisas. Tem que ter reviravolta.
Era abril, e o ano 1997. Foi antes da internete ser um negócio popular, por isso você não encontra muitos registros do caso por aí. Causo se você preferir. Num desses dias, quando José chegou em casa sua filha não sorriu.
— O que houve filha? Você tá bem?
Ela não respondeu.
— Não gostou do seu amiguinho, não gostou da roupa? O que houve?!
O olhar dela penetrou na alma de José. Aqueles olhos, aquele olhar que era tudo que restara de Catarina, fulminando-o como se quisesse devora-lo.
— Eles não são de verdade pai. Você nunca me enganou.
Uma lágrima correu a face de José, lavando o pó de madeira.
— Eu sei filha, mas não posso trazer as outras crianças aqui. Eles não podem saber, lembra?
— Mas eu quero.
Ele não podia. Não devia. Sabia bem disso.
— Mas filha…
— Eu quero.
A voz, aquela voz.
— Eu quero! Eu quero! Eu queRO! EU QUERO! EU QUERO!
Aqueles gritos.
—TA BOM!
Ele não resistiu. Mais uma vez.
—Tá bom. Se acalma. Vou ver o que posso fazer.
É difícil de explicar, mas o que ocorreu nesses breves momentos (você compreende que isso se passou em menos tempo que levei para contar, certo?) fez com que José se lembrasse da noite após o enterro de sua esposa, sete anos atrás. Quando ele saiu do trabalho e foi para o túmulo dela, chorando e bebendo, duas coisas que ele não fazia com frequência. O dia em que conheceu a filha quem nem sabia que tinha. Só eu vi, e, bem, não existe mesmo criança bonita, não é mesmo? José soube que era sua filha quando viu s olhos, olhos de Catarina. Literalmente.
Isso lhe deu uma ideia. Uma péssima ideia, mas ainda assim. U(má) ideia.
Os dias seguintes foram torturantes. Ele nem entrava no quarto da filha quando estava em casa, e caminhava mais devagar para o trabalho, pra não ouvir o choro dela. Ela chorava quanto sentia fome.
Porém, há aqui um fato comum à toda boa história: Tiché pôs em curso o que as Nornir planejaram. Não há outra explicação.
Pouco mais de sete dias depois de ver a revolta nos olhos de Catarina, ao tentar retornar para casa depois do expediente, José se deparou com uma placa: Interditado. Uma seta vermelha indicava o caminho alternativo. Alguma obra da prefeitura havia bloqueado seu caminho habirual. José segui o desvio, achando que o percurso não adicionaria mais do que cinco minutos ao trajeto total até sua casa, quando, ao virar uma curva, se deparou com um cortejo.
Carro preto, coroa de flores, choro. Disso eu entendo. Ele não percebeu que o desvio o fazia passar em frente ao cemitério, e nem sabia que alguém havia morrido. Nesses dias estava quieto, sem conversar com ninguém, focando somente em seu trabalho pra tentar esquecer um pouco da vida. Não há jeito de passar por um enterro sem ser extremamente rude. Não dá pra sair empurrando os parentes do defunto, pedindo licença porque se está com pressa. Então ele seguiu em passo lento, tentando não se aproximar demais.
O problema com cidades pequenas é que todos se conhecem e todos sabem da vida dos conterrâneos. Da mesma forma que José sabia que o padeiro traia a esposa com o Zé da borracharia, e que o dono da floricultura tinha dois filhos fora do casamento, na cidade vizinha, e ia lá uma vez por mês para visita-los, as pessoas sabiam algo sobre a filha de José. Muito doente desde pequena, é o que diziam. Então, ao vê-lo triste, logo deduziam que ela talvez tivesse piorado. “Claro, nem batizou a menina! Como pode melhorar?” diziam uns. “É falta de deus, quem mandou engravidar e mulher antes do casamento!” essa era a explicação que o povo dava para o fato de ninguém saber que Catarina estava gravida antes de morrer, haviam escondido tudo, não é óbvio?
Acontece que era o enterro de Ana Luiza, filha de Roberto e Ondina Amaral, prefeito e primeira-dama da cidade. O povo achou de bom tom não falar com José, ainda mais nesse momento, em que a menina parecia ter piorado. Padre Antunes, ao notar José no fim do cortejo, se adiantou para poder amparar a pobre alma. Foi ele que, com todo cuidado, contou da situação e dos motivos de terem lhe escondido o fato. Mas José já não ouvia o que o padre falava. Havia ali uma oportunidade, um tanto mais simples que sua ideia anterior.
José acompanhou o enterro, e naquela noite, muito mais tarde do que o comum, viu sua filha sorrir novamente.
Vejam, há uma lição a ser aprendida aqui. História boa é assim, tem lição pra aprender! A lição é essa: ceder nos caprichos dos filhos é caminho sem volta. O problema, pra José, é que não tem enterro todo dia em cidade pequena, muito menos de criança. Teve que voltar ao plano anterior, e carregar uma pá para o trabalho em alguns dias do mês, na média a cada quinze dias, os bonecos de madeira duravam mais.
José fez do desvio o seu caminho padrão, e mesmo depois da obra acabada, continuou a passar todos os dias pela rua do cemitério. Era melhor não chamar atenção, e nessa rua tinha menos comércio. Praticamente só eu o via passar.
Desse jeito, por alguns meses, voltou à sua rotina. De tempos em tempos chegava em casa com um boneco, tamanho real, embrulhado em lona e corda, e entregava a sua filha. Ela brincava com o presente, e depois abria o peito, e comia o seu conteúdo. Comia até se satisfazer, e não restar mais nada.
Agora sim, não é? Reviravolta. Mas não podemos acabar a história por aqui. Fico tentado a por um ponto final, mas não posso porque, bom, simplesmente porque a história não acaba aqui. A vida é assim, né? Ponto final vira início de parágrafo e ela segue, vai seguindo.
Eu li uma vez que pra história ser boa o personagem principal tem que enfrentar vários problemas, e problema não faltava pro pobre José. Pensa comigo. Se José morasse no Rio, como ele queria, perto do mar, teria ficado tudo bem. Tem muito defunto de criança nos cemitérios do Rio, e morre gente toda hora. Mas em cidade pequena não é assim. Numa cidade pequena tudo é pequeno, inclusive o cemitério e o número de crianças enterradas.
Uma vez ele tentou enganar sua filha, com uma mulher bem baixinha que encontrou nas suas idas ao cemitério, pois havia previsto esse desfecho. Ele tinha bastante tempo pra pensar nisso, já que o processo de abrir uma cova, tirar o defunto, embrulhar, colocar o caixão de volta e fechar a cova de modo que não se note que foi aberta é demorado. Eu observava, mas não ajudava, entende? Vida de coveiro é assim, a gente ve muita coisa, mas é melhor não se meter. Enfim, quando chegou em casa com essa “boneca”, viu de novo os olhos de fúria de Catarina. Fez essa tentativa um pouco antes de acabarem os “estoques”, sabendo que teria que se prepara para o próximo passo. Sempre há um próximo passo, não é? O amor que ele sentia pela filha, e principalmente, por aquele par de olhos que um dia foram de sua esposa, era grande demais, não conseguiria por um fim nisso, então tinha que dar o próximo passo.
Bom, vocês precisam entender que José era um fabricante. Fabricava móveis, fabricava brinquedos, mas além disso, produzia as próprias ferramentas para o serviço, em casa, plantava frutas e algumas verduras, criava umas galinhas, produzia sua comida, enfim, se o estoque havia acabado, José produziria mais bonecas.
Fazia sentido, não?
Uns dias depois, José esculpiu em pau ferro algo que parecia uma bengala, ou um pequeno cajado, como aqueles dos pretos velhos. Não chamaria a atenção, e serviria bem. Encontrou na oficina um leão, esculpido em ébano, restos de uma escrivaninha que fizera para o prefeito meses atrás. No fim do expediente, encontrou algumas crianças, lhe perguntando se havia brinquedos naquele dia
—Não, hoje não, mas tenho umas mexericas.
Foi preparado. Distribuiu as frutas entre as crianças, e elas partiram descascando e agradecendo.
Pensou duas vezes, é verdade, mas agiu.
—Ei, você. É, VOCÊ, vem cá, rapidinho.
Era o menor deles.
José abaixou, e disse em sussurro:
—Olha, hoje eu só tenho um brinquedo, um leão, você gosta?
A criança acenou com a cabeça, olhos de expectativa. José o conhecia, era o menor dos filhos do Tião da padaria (sim, aquele padeiro). Tião tinha sete filhos, então… Não terminou esse pensamento.
—Mas como é só um, não posso te dar agora, tá? Me encontra daqui a pouco, na rua de trás, tá bom?
O garoto concordou, e saiu correndo para encontrar as outras crianças
José andou passos duros, pesados, sentindo cada um deles.
Havia o mesmo brilho nos olhos daquele menino que nos olhos da sua esposa, agora em sua filha. Mas aquele brilho de antes, de quando Catarina estava viva. Ele foi até o local marcado, segurou o leão na mão esquerda e seu cajado na direita. Um golpe seria tudo? E depois, fazer o que? Talvez ele não morresse com um golpe, e levá-lo vivo seria ainda pior. Não seria? Cruel?
Os pensamentos o invadiam enquanto as certezas o abandonavam. O menino vinha correndo pela rua.
— Cheguei seu José, desculpa a demora. É que os muleque queria vir junto, aí eu falei que não!
Dizia sorrindo, se orgulhado da sua esperteza.
José estendeu a mão esquerda, que tremia, com lágrimas querendo rolar.
—Caraca, que maneiro! Nunca vi um leão preto! Brigado seu José.
A caminhada para casa naquele dia foi a pior da sua vida. O peso era maior dessa vez.
Ele abriu a porta, foi devagar até o quarto. Aquele olhar, os olhos da sua esposa, olhando para ele, sem vida, sim, mas mesmo assim! Por pouco não o fizeram mudar de ideia.
—Papai trouxe presente hoje?
José estava com as duas mãos para trás. Estendeu a esquerda. Nela havia uma flor.
—Papai?
Na direita, o cajado de pau ferro era estranhamente leve de utilizar como um martelo. Muito leve, dado sua dureza.
Isso que chamam de amor pode ser meio feio, às vezes.
RESUMO:
Ikú, coveiro, narra a história de José e sua filha, que faleceu aos sete anos. Ótimo carpinteiro, José fabricava móveis e brinquedos que distribuía para as crianças na rua. Fazia bonecos de madeira do tamanho real e os levava para a filha, que ele dizia ter os olhos de Catarina, sua falecida esposa. Todos os moradores da pequena cidade, acreditavam que a menina nascera doente e estava piorando, e ninguém soube da sua existência antes do falecimento de Catarina. Pois bem, a criança se alimentava do que havia no peito dos bonecos – provavelmente coração de cadáveres ou algo assim. Depois os bonecos de madeira foram substituídos por cadáveres de crianças, que José desenterrava das covas no cemitério. No final, José mata a filha-zumbi-monstrinho-dos-infernos.
AVALIAÇÃO:
Conto com narrador que pretende iludir o leitor com promessas de não ser de terror. No entanto, trata-se de um conto de terror, narrado por um coveiro. Achei interessante o nome do narrador (inclusive a pronúncia que lembra outra coisa) – Ikú – palavra da língua iorubá que significa morte.
A trama não é simples, o leitor tem que cavar (sorry pelo trocadilho) para descobrir o que o coveiro está contando. Quem era afinal a filha, que na verdade, não era filha? Um zumbi que se apropriou dos olhos de Catarina? Uma boneca criada pelo próprio JOsé? Explique-me isso, autor!
O ritmo da narrativa é muito bom, fui levada até o final do conto sem quase sentir o percurso. A trama prende a atenção do começo ao fim. Ponto para você!
Há várias falhas na sua revisão. Nada que não se revolva em uma segunda limpeza:
manda-lo > mandá-lo
chama-la > chamá-la
devora-lo > devorá-lo
caminho habirual > caminho habitual
José segui o desvio > José seguiu o desvio
o padeiro traia > o padeiro traía
visita-los > visitá-los
engravidar e mulher > engravidar a mulher
Catarina estava gravida > Catarina estava grávida
teria que se prepara > teria que se preparar
Mas a ideia geral do conto é boa, dá uma apavorada. Não esqueça de me explicar os detalhes, tá?
Continue escrevendo!
RESUMO: História narrada por um coveiro que a ficou sabendo do próprio protagonista, um carpinteiro talentoso que desenterra cadáveres de crianças no cemitério da pequena cidade para levá-los para a sua filha perturbada que come o que há dentro dos corpos.
CONSIDERAÇÕES: Não gostei da narrativa. É uma história adulta, mas como se estivesse sendo contada para criança. Explicando enfadonha e pretensiosamente tudo. Outro ponto negativo ao meu ver é a fracassada tentativa de simular um narrador, coveiro do interior, simples que mal consegue falar Plot Twist, mas que faz referências eruditas à mitologia grega (Caronte, Leto), à provérbios com palavras em outras línguas (Tiché pôs em curso o que as Nornir planejaram) e à constante metalinguagem de relembrar a cartilha bem wikiHow dos seis passos para uma boa história. Na verdade isso fica bem chato aqui porque quebra uma provável tensão que poderia ser explorada. Gostaria de dizer ainda que achei pedante o autor pousar de escritor que possui um domínio semântico dizendo que sua história possui todos os elementos para ser uma ótima história (“Porém, há aqui um fato comum à toda boa história:” ; ” História boa é assim, tem lição pra aprender!”), o que não é verdade. A história não é verossímil, bem forçada até. Isso que o pai fazia pela filha poderia ser tudo menos amor e que a frase do desfecho é péssima e dispensável.
Um ótimo conto, bem escrito, narração muito boa e o personagem falando com o leito, ficou original, perfeito. E o final sugere que José se livrou da filha canibal.
“Por Amor” traz um conto sobre um carpinteiro, viúvo que possui uma única filha adoentada. Periodicamente o mesmo se dá ao trabalho de fazer para a filha bonecos de madeira, recheados de carne. A filha não fora gerada normalmente. Ele a encontrara no cemitério um dia depois da morte da esposa, mas soube que era sua pois ela tinha os olhos da mãe, literalmente. Um dia a menina decide que quer uma criança de verdade agora e o carpinteiro começa a desocupar as covas das crianças da cidade. No entanto vivem em uma cidade pequena e um dia acabaria as o “estoque” e ele deve decidir que passo dar nessa história.
Um causo muito bem escrito. Com elementos do imaginário popular misturados ao conceito do “Cemitério Maldito” de Stephen King, mas com uma influência bem marcada do interior. A dificuldade do narrador de contar a história é uma boa sacada do autor.
Gabriel Bonfim Silva de Moraes
RESUMO:
O conto se inicia apresentando a figura do narrador e do protagonista. O principal em questão é um carpinteiro que possui uma filha doente, e todos os dias traz umas bonecas diferentes para garota. Durante o desenvolvimento do conto, a filha deseja bonecas mais reais, e o pai passa a trazer corpos do cemitério para alegrar a filha. O climáx ocorre quando o pai quase ataca um garoto da loja para presentear a filha, e finaliza com um cliffhanger com ele falando com a filha.
CONSIDERAÇÕES:
Achei o conto extremamente envolvente, a atmosfera e a narrativa completamente convincentes. Achei principalmente interessante o tema do amor envolvendo algo macabro e aterrorizante, escalando até uma situação clássica do cemitério e dos corpos. Apenas tenho uma nota para fazer, o terror e o horror estão presentes e são quase suficientes, mas esperava algo mais da repulsa ou um pouco mais psicológico. Mas fora isso, fiquei preso na história!
O conto é sobre um pai, o senhor José, que fabrica brinquedos para as crianças e coisas de carpintaria. Senhor José vive apenas com a filha, uma vez que sua esposa já falecera. Certa vez, sente-se ele obrigado a assassinar um menino, tudo por sua filha que há muito reclamava um boneco de verdade. Mas senhor José não o faz, e nesse dia oferece uma flor à sua filha. Em suma é uma estória de amor, como o próprio autor descreve. Eu achei a estória um pouco confusa: o escritor divagou bastante, e infelizmente não consegui tirar a essência da mesma. Não entendi, por exemplo, o papel do coveiro dentro da estória. Mas tem algo que é preciso elogiar: a habilidade que o autor tem de conversar com o leitor, algo simplesmente fantástico. Boa sorte.
Resumo
O narrador, Ikú, conta a sua versão sobre um pai que vive um drama ao criar uma criança necrófaga, uma espécie de frankenstein, que divide seu tempo em ser o marceneiro da cidade e ter que alimentar a menina com corpos de crianças. O narrador, que é também o coveiro da cidade, assiste as invasões ao cemitério e a retirada dos corpos, sem comunicar a ninguém. Na verdade ele considera sua anuência como ajuda à criança: “ como o ajudei a cuidar da sua filha doente”. Ao final o pai tem que fazer uma escolha dolorosa entre atender a filha ou negar-lhe os pedidos.
Comentário
A escolha dos nomes é interessante. Iķú, o narrador personagem tem o nome yorubá da divindade da Morte, seu avô, Leto, tem o nome da deusa grega senhora das noites e o pai, coveiro como ele, tem o nome do barqueiro de Hades.
Como narrador,Ikú engana, diz que sua história não é de terror. Mas o nascimento da menina já não é um acontecimento feliz. É um Conto muito bom, apesar de deixar muito para a interpretação do leitor, que nesse caso, considero um defeito – perdoável até, já que há muito material para a construção de um cenário subjetivo. O final é muito carregado, embora breve, pois as pinceladas de suspense que leva ao sacrifício final, o extermínio da menina zumbi, foram dadas com um sangue que não foi derramado, o da criança que veio sozinha encontrar seu presente – o que é uma qualidade excelente do texto: o peso que traz não está nos ombros, vem na alma.
Outra coisa que gera peso psicológico na narrativa é a ideia construída de que aquela criança não faria falta. É um pensamento intenso de autojustificação, afinal, é um pai que está tendo o pensamento e é de esperar que um genitor entenda que um filho não substitui outro – o que expande a percepção de que a menina não é realmente igual às outras pessoas nascidas, ideia sugerida por Ikú no aspeamento dado à uma das palavras referente ao surgimento da menina: “estava lá quando ela “nasceu”.
Não curti muito o uso da Metalinguagem… O explicar o tempo todo o construir do texto ficou pesado, mas não foi suficiente para me desanimar. Já a prolixidade alardeada pelo narrador não é um defeito no texto, é bem aproveitada, não chega perto do proverbial “pro lixo”.
Há duas frases fortes, a primeira quando se refere ao prejuízo decorrente da permissividade paterna, que pode ser lido como uma crítica social.: “A lição é essa: ceder (sic) nos caprichos dos filhos é caminho sem volta”. A outra é a que fecha o Conto, quando refere-se às dores do amor: “Isso que chamam de amor pode ser meio feio, às vezes”.
Senhor carpinteiro vive levando bonecos em tamanho real para sua filha, que aparentemente vive sozinha dentro de casa. Logo é revelado que dentro dos bonecos há carne de crianças mortas, que a menina come com prazer. Quando ela pede ao pai que traga crianças vivas, ele não tem coragem e aparentemente a mata com bengaladas.
Achei a ideia diferente e bacana. Lembrou a relação entre o governador e a filha morta em The Walking Dead, mas com diferenças suficiente para não prejudicar a história.
Gostei do narrador ser um coveiro. Parece referência aos antigos Contos da Cripta ou quadrinhos de terror. De qualquer forma, é divertido, principalmente quando ele quer se lembrar da expressão plot twist. Como relato, ficou crível. No entanto, achei que pode ser um problema no sentido de atrapalhar o clima sombrio da história. Eu sei, é história de amor, mas a linguagem mais largada e simples me pareceu tirar um pouco do potencial sinistro do conto.
Apesar do narrador engraçado, o tema É sombrio e foi bem desenvolvido. Mas, ainda pegando no pé do coveiro, me parece que o fato de a história ser contada de um ponto de vista um tanto “longe” dos personagens principais (o pai e a filha), não há tanto envolvimento dos leitores com as coisas terríveis que acontecem. Não sabemos do medo, pavor, preocupação ou quaisquer outras coisas que eles sentem. Por isso, apesar do tema escabroso, fica tudo um pouco menos chocante do que poderia ser, acredito. Isso pode ser um problema em histórias assim.
Fiquei meio confuso pra entender o que de fato é a menina, ainda mais quando se diz que os olhos eram LITERALMENTE da mãe. Mas acho que não eram literalmente, literalmente, eram? De qualquer jeito, um pouco de mistério é sempre bom nesse tipo de história. Não ter tudo explicado confere charme. Nesse sentido, gostei. Só não sei se perdi algo da trama ou não.
No aspecto mais gramatical, dá pra ver algumas vírgulas que poderiam ser pontos finais e acabam deixando as orações bem estranhas e confusas.
Exemplos:
“Vamos aos fatos, ao José, que tinha boas intenções, sei ver de longe um homem bom, mas você conhece o ditado.”
“Pela primeira, ele era o único funcionário contratado há tanto tempo, manda-lo embora faria cair os lucros da fábrica em 50%, pelo menos.”
Acho que o negócio aqui seria melhorar um pouco a escrita pra ficar mais bonita. As ideias estão boas.
Olá, autor(a)! A escrita apresentada aqui é muito boa, com excelente revisão e narrativa conduzida com segurança. A trama em si é interessante mas apresenta alguns problemas: o canibalismo da menina parece uma coisa muito sem razão de ser, que surge de forma muito abrupta e parece não gerar incômodo suficiente no pai, quase como se fosse algo muito natural; além disso, não parece muito crível que numa cidade pequena algo como isso não chamaria atenção. Certo tom de deboche em alguns trechos também não casaram muito bem com a narrativa. Ainda assim, um trabalho interessante, mais pela boa qualidade da execução do que pelo enredo em si.
Parabéns e boa sorte no desafio!
Resumo: Por Amor (Ikú)
Bem, outro conto que oscila entre infantil e terror, não assusta e não emociona, infelizmente o mal desse certame até aqui.
O conto fala de um pai que alimenta a filha com carne humana, que leva elas como bonecas para a filha, crianças que servem de consolo para filha viver melhor. O pai fez uma espécie de acordo com Ikú, e para ter a filha com ele precisava alimentá-la com corpos de criança, o que com o tempo ficaram mais escassos na pequena cidade, até que ele próprio precisou passar a providenciar esses corpos…
Falta do travessão:
—Essa é das grandes José! Dizia o Antônio da quitanda.
É uma menina dessa vez? Perguntava Josefa, da padaria.
Alguma obra da prefeitura havia bloqueado seu caminho habirual. – habitual
José segui o desvio, achando que o percurso não adicionaria mais do que cinco minutos ao trajeto total até sua casa, quando, ao virar uma curva, se deparou com um cortejo. – segue
Da mesma forma que José sabia que o padeiro traia a – traía
Eu li uma vez que pra história – A caminhada para casa naquele dia – há o uso de “pra” e “para”, tente usar apenas um.
sabendo que teria que se prepara para o próximo passo – preparar
Papai trouxe presente hoje? – Papai, trouxe
Avaliação:
Terror/infantil: de 1 a 5 – Nota 1 para o infantil e nota 1 para o terror
Gramática – de 1 a 5 – Nota 2 (Muitos equívocos, ainda que o autor(a) demonstre que pode se sair bem melhor, é questão de atenção mesmo)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 3 (Não é ruim, mas pode melhorar mais, conduzir mais o leitor durante a narrativa)
Enredo – de 1 a 5 – Nota 2 (Não achei convincente, detestei a citação a Pinóquio, e achei que num geral a história soa confusa, entendi a ideia central, mas achei mal executada.)
Personagens – de 1 a 5 – Nota 2 (Sem muita personalidade)
Título – de 1 a 5 – Nota: 4 – Um bom título.
Total: 15,0 pts de 30 pts
Por amor
A história de um coveiro que conta a história de um marceneiro que após perder a mulher passou a alimentar a filha com crianças.
A história poderia ser boa, se não fossem alguns empecilhos:
– Uso excessivo de vírgulas
– Algum descuido com a concordância e o tempo do verbo
– Alguns deslizar ortográficos
– Referências desnecessárias ao processo de escrita o que desviou o foco da narrativa e inclui o autor na trama
– fixação no número sete
– falta de uma explicação plausível para a condição peculiar da filha
Pelos motivos expostos achei a história arrastada. Melhor seria se apresentasse um texto mais fluído, sem os comentários desnecessários e sem o final atropelado que apresentou.
No mais parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
Olá… eu feliz aqui voltando a ler no EC 🙂
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Resumo: Uma pessoa que foi coveiro de uma pequena cidade narra a historia de um carpinteiro que tinha uma filha muito louca :p (na verdade,o pirado era ele) que só se alimentava de carne de crianças. Ele construía bonecos de madeira para ela recheados de carne humana, para passar despercebido pela cidade.
Dae nao entendi muito bem… acredito que ele sempre desenterrou corpos de crianças no cemiterio, de preferencias as mais frescas, mas a ‘garota’ queria uma criança inteira? viva? Nao ficou claro que se ele matou o menino antes de levá-lo ou ela queria comer a criança viva.
Também não me ficou claro o que era essa garota.. um animal bizarro? ela tinha os olhos da falecida e falava, mas isto podia ser imaginação do homem. Ou ela era um zumbi? A aparição dela quando do enterro da esposa deveria ser mais claro, a meu ver.
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Considerações: Já comecei a viajar ali no resumo… rsrs Mas é isso, fiquei sem entender várias coisas.. acho que o enredo é bom e creio que tinha espaço de ser mais trabalhado, se nao, uma enxugada básica para colocar mais clareza à história se faz necessário. Entendo que quiseste deixar um mistério, mas este precisa abrir-se na mente do leitor e eu não consegui abrir foi nada! 😛
O texto é bom, a leitura flui, o problema foi somente e tão somente a falta de clareza.
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Abração
Que final!
Então ele optou em matar a filha para acabar com aquela loucura.
muito bom
Parabéns
RESUMO: Trata-se de um coveiro que havia morado em uma pequena cidade na divisa com o Rio. Mas Ikú, o protagonista, preferiu relatar história sobre um homem que havia conhecido e não sobre fantasmas. Ikú relatou sobre os talentos de carpinteiro que o homem tinha, sobretudo para móveis e bonecos de madeira. Todo dia José, o carpinteiro, levava para sua filha um boneco de madeira, e dizia que era pra ser seu amiguinho, já que a garota não podia ter amigos de verdade.
CONSIDERAÇÕES: Texto bem escrito, utilizando palavras típicas de quem possui um vocabulário rico. Há alguns erros de português. Não encontrei nenhum elemento nem de terror e nem de conto infantil. Apenas um conto, com um final confuso que não deixou claro o que teria acontecido e nem deixou aberto para o leitor tirar suas conclusões.