Pela vibração das tábuas dispostas no piso metálico, sob os pés, percebia-se que o vapor começava a movimentar-se. As roldanas giravam, e hélices iam cortando as águas salgadas. Seriam dias e dias de giros. O mar inteiro seria cortado. O apito grave e moroso traduzia a tristeza da partida. No convés, centenas de passageiros com olhares perdidos e saudosos, engoliam o medo do desconhecido. A névoa da madrugada deixava o cais hispânico cada vez mais distante, cobria o minúsculo contorno da pátria deixada. Não era vontade. A iminência da guerra, a fome e a peste não deixaram escolha. Desolados, muitos partiram…
No dia anterior, passamos a tarde toda em imensas filas, arrastando o velho baú e outras matulas com pertences e provisões. Apresentação dos passes, contagem dos integrantes de cada família, avaliação médica que exigia colocar a língua para fora e puxar o canto dos olhos. Ficamos acomodados no segundo porão, quatro lances de escada abaixo do convés. Cada passageiro, ao chegar ao piso, recebia uma saca com palhas secas que seria usada como colchão, menos as crianças. Estas deveriam aninhar-se com os pais, era preciso economizar espaço. Eu, apesar dos meus onze anos, como era espigado, recebi uma saca. Teria que dividi-la com Enrico, o irmão menor. A pequena Estelita ficaria com a mãe.
Passada a atribulação da partida, os passageiros encaminhavam-se para os refúgios. De cabeça baixa, cada qual carregava a sua insegurança. O primeiro porão ainda trazia algum conforto. Havia múltiplos beliches de lona, privadas separadas para homens e mulheres. Porão reservado para os mais remediados, com cobrança de ágio. Impossível para nós.
No segundo porão, nosso refúgio, os baús serviam de biombos que separavam as famílias. Centenas e centenas deles espalhados pelo ambiente, formavam ilhas de pessoas. Amontoados de gentes e trastes. De resto, seria aturar aquele balançar interminável, o rebuliço no estômago, o vômito incontrolável.
Em nenhum momento as vozes silenciavam por completo. Havia sempre um resmungo de mal-estar, uma ralha, um choro mais estridente de criança em desconforto, uma fala doce para apaziguar o medo. Sem contar o rame-rame sonoro vindo da casa de máquinas. Porém havia escuridão no céu, cansaço nos corpos, então nem o murmurinho atrapalhava o sono profundo de muitos.
Confesso que dormi pouco naquela noite. E em muitas outras. Enrico mostrava um desassossego de pernas que incomodava. Não só pelas pancadas, mas pelo ruído das palhas secas. Ele estava sofrendo mais que nós todos. Menino arredio, amofinado. Em casa, vivia pelos cantos.
O sol nos pegou acordados. Se bem que a claridade do porão era ínfima. O ar e a luminosidade passavam apenas pelas duas escotilhas existentes entre os dois porões e que, na maioria dos dias, permaneciam abertas. O tênue facho de luz deixava à mostra o aspecto lamentoso daquela realidade. Semblantes contrariados.
De nós, só o pai foi ao convés para o banho de sol. Ficamos ali, engolindo o pão seco trazido na bagagem. A mãe, de pé, tentava esticar as pernas e rodear o velho baú. Havia pouca coisa a ser feita. Ou muita…
O único banheiro era insuficiente para atender a todos, restava recorrer aos urinóis. As crianças não se acanhavam, mas, para os mais velhos, o uso ficava restrito à escuridão da noite. E de manhã, para esvaziá-los, era uma conturbação de mulheres na porta do banheiro. O cheiro ficava insuportável. Com o balanço das águas e a fetidez do ambiente, as náuseas multiplicavam-se. E a travessia ainda estava no início.
Enrico não se alimentava. Aceitou um pouco de água, que não parou no estômago. Não estava bem. Passou o dia aninhado no colchão. Calado, olhos turvos. Havia, no semblante, mais que mal-estar do corpo. Travava luta de pensamentos. Preocupava-me.
E, a cada dia, a viagem tornava-se assustadoramente desumana. Passada a primeira semana, as provisões escassearam. Não tínhamos quase nada. O pão, mesmo embolorado, seria suficiente apenas para mais dois dias. A sopa servida a todos, além de insípida, era desprovida de nutrientes e de higiene.
Ficava evidente o abatimento físico dos passageiros. Os homens já não se entusiasmavam pelo jogo de cartas, fumavam desesperadamente, e a bebida tornou-se ainda mais companheira. Havia muitos passageiros acamados. Pouco se comentava sobre isso, era quase um tabu tocar no assunto. Quando a tosse era ouvida, as famílias em redor se entreolhavam, porém nada, absolutamente nada era dito. Tornou-se um segredo respeitoso, que na verdade não era segredo. Era medo, camuflado pavor.
Enrico definhava a olhos vistos. Calado, insone, inapetente. Ouvia tudo, observava. Notava os menores movimentos. E temia. Na escuridão da noite, bem próximo a ele, eu percebia que quando qualquer passageiro era acometido por crises de tosse, ele erguia a cabeça e olhava em direção do ruído. E as crises foram se tornando tão frequentes que nem mesmo as vozes das mulheres entoando os cânticos religiosos encobriam o som assustador.
A superlotação era tamanha que o ar foi se tornando irrespirável. Os corpos sujos, sem qualquer zelo, as roupas impregnadas com o suor de semanas, os cabelos ensebados, o piso lambuzado de vômito, urina, restos de comida e bebida, o banheiro e os urinóis sujos, tudo exalava um azedume que embaralhava o juízo.
Ainda era noite, e, de repente, Enrico começou a puxar minha perna. Foram vários cutucões até que eu percebesse que ele queria me mostrar algo. Ainda meio sonolento, pude ver pessoas da tripulação descendo as escadas, trazendo maca de lona. Em meio a choros abafados, rezas sussurradas, o passageiro era colocado na maca e carregado escada acima. E isso aconteceu na outra noite, e na outra, e na outra.
Logo a notícia correu. A febre estava no navio. O caso nunca era contado pela família do doente. Era revelado pela família que estava acomodada ao lado, horrorizada com a possibilidade do contágio iminente. E, desta maneira, o pavor passou a dominar os dias e as noites.
O pai disse que os primeiros casos apareceram no porão de cima, que até mesmo o médico da tripulação fora contaminado. E a partir daí, o convés passou a ficar ainda mais apinhado durante todo o dia. Os homens, aterrorizados, quase não voltavam para os porões. Enquanto houvesse sol, ficariam ao ar livre. O risco seria menor… Ou não.
E o médico morreu. Uma solenidade rápida foi feita e ele foi lançado ao mar. Quando o pai nos contou sobre isso, Enrico encolheu-se na cama, abraçou as pernas e pôs-se a tremer. Era um medo tão desmesurado que afligia. Frágil, indefeso. Deitei-me ao lado dele e o abracei com força. Fiquei ali até que o tremor passasse. E ele dormiu.
Então compreendemos que as pessoas que eram retiradas com as macas não eram tratadas, não havia médico. Eram lançadas ao mar, vivas. Muitas delas nem sabiam que estavam sendo levadas, estavam mal, delirantes. As famílias sabiam que não estavam mortas, e também sabiam que elas não poderiam continuar ali. Sem escolha.
As noites passaram a ser ainda mais tristes, como se fosse possível. Mesmo com a explicação do pai de que não havia chance de cura, de que a febre era fatal, Enrico não conseguia assimilar. E passava a noite contando os passageiros carregados nas macas. E tremia. E, mansinho, chorava.
A mãe andava tão entristecida que já não catava os nossos piolhos. A cabeça coçava, ardia. As picadas faziam feridas. Ela mostrava olhos fundos, havia perdido carnes, a pele estava pálida, azulada. O rosto murcho, desidratado. Silente. Não se ouvia mais o seu canto de anjo, as rezas ficaram mudas. Percebia-se apenas o movimento dos dedos nas contas do rosário.
E havia pessoas que gritavam ao serem transportadas nas macas. Não tinham força para lutar, só sobrara o grito. Só isso. Sabiam do destino que as esperava. E quando isso acontecia, todos choravam. Enrico se descontrolava. Eu o abraçava com força.
Acomodado ao nosso lado, havia um casal. Apenas os dois. O homem aparentava mais idade, a mulher era bem jovem. Ela vomitava desde que o vapor deixou o cais. Estava pele e osso. Andava pouco, tomava a sopa mostrando a repugnância que lhe causava, mas tomava. O homem estava sempre a buscar uma caneca com água para que ela bebesse. Havia muito carinho entre os dois. Demorei a perceber que ela estava prestes a ter um filho. O excesso de roupas não permitia visualizar a silhueta. Só fui saber quando ela começou a chorar, a gemer e minha mãe correu até ela para acudir.
Foi levada para um canto e várias mulheres se juntaram. Horas de agonia até que a criança nascesse. Um menino. Miúdo, de chorinho fraco. A mãe, quando voltou, falou que a criança não vingaria, que respirava com muita dificuldade. Veio antes do tempo.
A mulher voltou para perto de nós quase desfalecida. Ajeitou-se sobre o colchão de palha, mas perdia muito sangue. Colocou a criança ao lado e ambas dormiram. Já era madrugada quando começaram os gemidos. Na penumbra, o marido entendeu que ela estava muito mal. Assustou-se quando não encontrou a criança. Perguntou sobre o filho, mas a mulher fez sinal para que ele ficasse quieto, não queria que o acordasse. Ela dizia que a criança estava bem, que estava descansando. O homem achou muito estranho e começou a rodear os pertences em busca da criança. Quando abriu o baú, caiu no choro. O filho estava lá dentro, gelado, morto. E na hora da entrega do corpinho para a tripulação, todos choraram. A mulher variou o dia todo. Gemia, sangrava, delirava. Na noite seguinte, foi levada. Não sobreviveu, o sangramento não cessou. E o homem ficou só. Quieto, sem lágrimas. E Enrico se contorcia de pavor, não perdia uma cena, uma palavra.
O vapor estava bem próximo do destino. A febre consumira quase metade da tripulação e passageiros. O espaço dentro dos porões era bem maior, e a sujeira também. De nós, apenas Estelita apresentava quadro de saúde preocupante. Recusava-se a comer, queixava-se de dor na garganta, vomitava com mais frequência. A mãe vivia encostando as costas da mão na testa da menina, medo da febre. E ela veio. Intensa. Em dois dias, Estelita foi levada pela tripulação. Eu não soube se estava viva ou morta. A mãe nunca falou. Só chorou. Chorou por dias… Chorou a vida inteira.
Em alto mar, outro navio nos interceptou. Teríamos que guardar quarentena a quilômetros da costa. Alimentos foram trazidos para reabastecer a cozinha, banhos foram oferecidos com jatos d’água. E os médicos seriam disponibilizados uma semana depois, quando então seríamos colocados em outro navio.
E nesta última semana a bordo do antigo navio, ocorreram as últimas mortes. Muitas. Os mais debilitados não resistiram, e os demais, como nós, empenharam-se em engolir a intragável sopa com mais tolerância. Era a única salvação.
Depois da transferência, levamos mais doze dias para atracarmos no porto de Santos. Destroçados, descarnados, de almas amputadas, mas vivos.
***
Minhas pernas cansadas fizeram este caminho centenas de vezes. Agora, andam trôpegas. Talvez as visitas cessem, não por minha vontade, mas por exigência da vida. Ou da morte. Ainda preciso abraçá-lo. Isso o acalma. Sempre foi assim.
Quando me vê, Enrico abre um sorriso. Já não caminha. Apesar de ser mais novo que eu, a vida foi mais severa com ele. Fica à minha espera no banco do minúsculo jardim da casa de custódia. Aninha-se no meu abraço forte. Aquece-se do meu amor. E é sempre a mesma conversa.
– O pai não veio com você? A mãe não veio?
– Não, Enrico. Eles não vieram.
– Eu sei. Eles não entendem que eu não matei as pessoas. Eu não matei aqueles doentes, eles iam morrer de qualquer jeito. Não havia cura, a doença era fatal. E aquelas crianças, eu não matei! Elas só estavam descansando… Eu juro! Por favor, Manolito, converse com eles, eles vão acreditar em você!
– Acalme-se, Enrico, eu vou falar com eles.
Como explicar a ele que a mãe morreu logo que ele foi preso, e que o pai, alucinado, partiu logo em seguida. Será que compreenderia? Enrico trabalhava como auxiliar de limpeza do hospital. Serviço pesado. Cuidava desde o recolhimento de resíduos das lixeiras, dos descartes cirúrgicos, do ensacamento e acompanhava o transporte para as fornalhas de incineração. As mortes ocorreram na ala da enfermaria. Sempre durante a noite. Nunca se soube quantos morreram. Na maioria, indigentes. O último crime foi evitado em razão do grito do paciente, ouvido pelo operador da caldeira, quando ia ser arremessado ao fogo. E, então, Enrico foi preso.
***
E um dia, quando cheguei para a visita, o banco estava vazio. Enrico havia sido levado pela tripulação.
Amarga Travessia
Conto
Tema: Terror
Subtema: Terror Psicológico
“Destroçados, descarnados, de almas amputadas, mas vivos.”
(TORREALBA, Manolito Ramos)
O conto é muito bem construído, praticamente um estudo sobre a loucura. O surgimento e evolução (pari passu) da loucura. Reli o texto exatamente no dia que estava lendo outro, para o Desafio e acho até que ele influenciou um pouco minha leitura de Angelical, que é o sentido inverso (desconstrução) , mas tem a mesma temática. Em ambos os narradores traçam o caminho pelo qual as personagens mostram seu potencial psicológico. Em Angelical a personagem parece normal, mas já sofre do desdobramento de personalidade desde o início e em Amarga Travessia a criança abatida é a que enlouquece, ou melhor, sofre “uma distorção de pensamento” permanente e perde o senso de realidade.
Usando ainda Angelical como referência de terror psicológico, vê-se em Amarga Travessia que o aterrorizar é melhor construído, porque a narrativa sugere o enlouquecer em outras personagens: a mãe que “guarda” o filho na mala para protegê-lo; a mãe do narrador mostra traços depressivos: “(…) olhos fundos, havia perdido carnes, a pele estava pálida, azulada. O rosto murcho, desidratado. Silente. Não se ouvia mais o seu canto de anjo, as rezas ficaram mudas. Percebia-se apenas o movimento dos dedos nas contas do rosário.”, os homens perderam o gosto pelo jogo e até as crianças perderam o ânimo.
O cenário é bem definido: pequeno pela quantidade de passageiros; com mistura de cheiros; com pouca ou nenhuma privacidade: “Os baús serviam de biombos que separavam as famílias. (…). Amontoados de gentes e trastes.”; mau estar constante pelo desconforto da viagem:” De resto, seria aturar aquele balançar interminável, o rebuliço no estômago, o vômito incontrolável.”
Enrico, a personagem que até aí parece só mais um coadjuvante adoentado, é quem percebe o que acontece com quem adoece e morre ou está para morrer: “compreendemos que as pessoas que eram retiradas com as macas não eram tratadas, não havia médico. Eram lançadas ao mar, vivas.” E Enrico é quem se aflige mais, principalmente por sua fraqueza, quando o transportado, sem forças para se defender, gritava desesperado, sabendo de seu destino.
Milagrosamente, Enrico sobrevive à isso tudo, saem ilesos pais e filhos, a Amarga Travessia vira uma recordação para quase todos. Para Enrico não, a Travessia impregnou-se em sua mente de forma doentia e ficou ali, até que todos descobrissem, tarde demais, que ele não tinha superado.
Adulto, trabalhando em um hospital, ele reproduz o que viu no navio, já que não há mar, entrega à caldeira os doentes até que um, que não tem força para se defender, manifesta seu desejo de permanecer lutando pela vida com gritos e então Enrico e descoberto.
A metáfora final é sublime: “E um dia, quando cheguei para a visita, o banco estava vazio. Enrico havia sido levado pela tripulação.”
No tocante a construção do Conto, as Personagens estão bem definidas. A mudança de tempo é perfeita. Os espaços físicos e psicológicos são bem delineados.
A Ação principal é bem elaborada. O narrador é também personagem, por isso a narrativa é marcadamente interna.
A Situação inicial é apresentada como a Travessia em si. O Conflito é desencadeado no futuro, pelo problema de descarte ao mar dos moribundos.
A tensão está presente em diversos momentos da narrativa justamente pelo desenvolvimento do pavor criado pelos problemas da travessia, que acontece em um tempo corrente e depois, mesmo na quarentena, o medo continua. O clímax – descoberta da natureza enlouquecida de Enrico e o desfecho, com sua morte, são perfeitos.
RESUMO A viagem de uma família em um navio com superlotação, o que acaba ocasionando em vários mortos, inclusive um membro da família. Os corpos eram jogados ao mar. Experiência tão perturbadora que, anos depois, transformou um de seus sobreviventes em um assassino.
CONSIDERAÇÕES A história está bem escrita; a ambientação, os sentimentos e os personagens são descritos de maneira minuciosa. Porém, o final da narrativa deu um salto muito agressivo, parecendo-me que existe uma trama ainda maior que não foi explorada, com um final às pressas. Inclusive, daria um bom livro caso explore mais o que ocorreu nessa passagem de tempo entre o final da viagem e as consequências dela na vida de cada personagem dessa família.
NOTA 4,5
Obrigada pela leitura e pelos comentários. Não foi um final feito às pressas. No ínterim, a vida seguiu normal, dentro do possível. Ninguém imaginava que Enrico havia se tornado um assassino. A descoberta aconteceu exatamente depois de muito tempo. Não há nada a acrescentar, dentro da história que criei, logicamente… Obrigada pela leitura e pelo cuidado em comentar. Abraços…
Resumo
Narrada pelo irmão mais velho, a história de uma família de emigrantes que deixa sua pátria a bordo de um navio superlotado. O título sugere que atravessariam o oceano rumo a outro continente, reportando assim aos idos da Segunda Guerra Mundial. Durante a viagem muitos tripulantes, acometidos por uma febre terrível, morrem por sua causa, ou mesmo atirados ao mar, doentes, mas ainda vivos. A família, exceto pela filha, sobrevive à travessia, mas no continente, o irmão mais novo, psicologicamente abalado, comete crime similar no hospital em que arranja emprego, atirando pacientes nas fornalhas de incineração de resíduos.
Aplicação do idioma
Perfeita, porém sem destaques criativos.
Técnica
Estilo classicista, pouco original e que não denota individualidade, igual a tantos outros escritores da velha guarda. Apesar disso, é exato, não permite que a narrativa penda para o enfado, tão pouco consegue despertar grande entusiasmo, apreensão ou ansiedade.
Título
Título adequado, porém deveras conservador. Incapaz de despertar maior curiosidade.
Introdução
Abertura interessante, ainda que nada surpreendente ou ousada.
Enredo
Enredo pouco original, palpado em fato histórico, mas sem referências históricas e geográficas diretas – o que de fato, faz alguma falta. A ausência de trama empobrece imensamente o conto.
Conflito
O conflito inicial e predominante é histórico, coletivo. O narrador divide o protagonismo com o irmão durante a maior parte do conto, mas até então falta um conflito pessoal, individual, que só se revela no arremate.
Ritmo
O conto, em sua maior parte, é testemunho individual de um fato histórico e, quando já não mais é possível sustentá-lo tão somente pela técnica narrativa, o enredo sofre uma guinada temporal, parte diretamente para o “tempo presente”. Sim, a loucura de Enrico é embasada nos horrores da travessia, porém, a partir dali, a narrativa história e se condensa, justamente quando o conflito se apresenta e se espera um grande ápice.
Clímax
Diretamente contado. Subestimado. Pouco trabalhado.
Personagens
Mal delineados. Diretamente contados, não se apresentam pelos fatos, mas pelo ponto de vista e testemunho do narrador.
Tempo
Utilizado, porém linear. De contextualização mal explorada, apesar de dividido entre infância e vida adulta do narrador.
Espaço
Tecnicamente bem explorado com as descrições interiores do navio em que se dá a travessia.
Valor agregado
A ausência de uma contextualização histórica e geográfica mais precisa prejudica este quesito. O autor perde a oportunidade de incutir no leitor maior interesse pela
História.
Adequação ao Tema
Supõe-se um conto de horror, porém a técnica narrativa é ineficiente no que tange à expressão do horror vivido pelos emigrantes que fazem a travessia. O estilo narrativo aproxima-se da técnica jornalística, o narrador soa excessivamente frio.
Aquela sensação que não li esse texto que o rapaz comentou…
Oiiii. Um conto impactante sobre uma família que faz uma amarga travessia em um navio em condições desumanas. Logo no começo vemos que as condições não são as melhores, mas depois que surge uma doença intitulada febre que mata até o médico tudo piora. E para piorar os doentes são levados pela tripulação e atirados ao mar e ainda tem o evento triste envolvendo a morte da mulher que estava grávida e do bebê dela. Tudo isso testemunhado por Enrico e o irmão. Por fim eles conseguem chegar ao destino, mas com um membro a menos, pois a pobre Estelita sucumbiu a febre e lembranças que levariam por toda vida. No fim descobrimos que Enrico nunca superou os eventos ocorridos durante o navio, tanto que fazia com os pacientes do hospital em que trabalhava o que ele via a tripulação fazer com os doentes. Achei esse final bem impactante, pois mostra que anos não foram suficientes para ele superar o que ocorreu, que foi como se uma parte dele tivesse se perdido em meio a toda dor da travessia que para ele parecia não ter terminado com a chegada ao porto. A narrativa foi bem conduzida e como disse bem impactante devido ao realismo. Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
RESUMO Uma viagem de uma família em um navio com superlotação e os traumas resultantes.
CONSIDERAÇÕES A história está bem escrita; a ambientação, os sentimentos e os personagens são descritos de maneira minuciosa. Porém, o final da narrativa deu um salto muito agressivo, parecendo-me que existe uma trama ainda maior que não foi explorada, com um final às pressas. Inclusive, daria um bom livro caso explore mais o que ocorreu nessa passagem de tempo entre o final da viagem e as consequências dela na vida de cada personagem dessa família.
NOTA 4,5
Resumo: relato de uma viagem de um menino com sua família nos porões de um navio e todas as dificuldades macabras passadas por eles.
Achei uma história muito boa e muito bem narrada. Você tem um potencial de escrita enorme, consegui enxergar o navio, o porão, as feições das pessoas e os detalhes descritivos estão maravilhosos. O nojo em algumas partes e a repulsa também foi essencial. Falando da história em si, achei bem trabalhada e de um suspense absurdo. O leitor espera mais, torcendo com uma falta de esperança sobre mais informações no navio. É uma boa história.
Amarga Travessia (Manolito Ramos Torrealba)
Resumo: A história de uma família é narrada a partir do momento que entram em um navio para fazer uma travessia. Muitas pessoas morrem, com as más condições do navio e com a febre. Antes que morressem, quando não havia mais salvação eram levados e jogados vivos ao mar. Enrico assiste a tudo aterrorizado. Eles conseguem sobreviver e no final, parece que Enrico transfere o trauma vivido no navio para seu trabalho, em um hospital, onde acaba matando pacientes em estágio fatal.
Olá, Autor(a), seu conto é muito bom, mesmo sendo de terror, rsrsr. Está muito bem escrito, narrado com maestria, me levou a vivenciar a vida dentro daquele navio e entender a profundidade do trauma que o personagem sofreu. O final é inesperado e requer muita imaginação do autor, mas não tira o brilho do conto. Os personagens são fortes e bem desenvolvidos e o ambiente de terror foi muito bem feito. É um ótimo conto, parabéns! Desejo boa sorte!
A história fala de uma família com três filhos e os pais. Estão indo de uma cidade para a outra em um navio.
São pobres, portanto ficam instalados em um dos porões mais baixos. Com o passar das semanas a febre chega e muitos dos passageiros acabam morrendo.
O irmão do meio fica muito impressionado e afetado pelos acontecimentos.
No final da viagem a família tem um membro a menos, a irmã mais nova também morreu e em seguida conta-se a vida da família, mais precisamente o irmão do meio que foi preso por levar pacientes contaminados para uma caldeira no hospital em que trabalhava.
Texto muito bem escrito. Não gostei muito da história, mas reconheço que pude sentir a aflição dessa família, o medo e o sofrimento do Enrico quando criança e a tristeza e lástima que era viver esses dias terríveis com medo da contaminação.
O desfecho me surpreendeu, porém tive de ler o conto duas vezes para compreender o que tinha acontecido.
As descrições dos lugares e estado de ânimo das pessoas é muito bem feita, como já citado, esses aspectos trazem a gente para dentro do conto vivendo e sentindo tudo que está acontecendo ali. Os trechos em que mostravam o Enrico sofrendo foram os que mais me afligiram, ainda mais porque imaginei que ele seria uma das vítimas e não a menina menor da família.
Foi uma ideia muito criativa e interessante para usar em um conto. Um outro trecho que me chamou muito a atenção foi a parte da moça grávida, é triste e terrível quando comparamos o início da viagem com seu término, você soube mostrar essa diferença muito bem.
Muito interessante a história de refugiados num navio, a peste se instalando e dizimando os passageiros. O conto está bem escrito, são ótimas as descrições, ambientação e cenas impactantes, tudo confinado num só lugar.
Conta sobre uma família que atravessa o mar em busca de uma vida melhor.
A ambientação foi uma das características mais marcantes do texto.
Entrei de cabeça na melancolia que encontrei no conto e no fim foi difícil conseguir me recuperar e achar alguma coisa pra comentar.
Eu confesso que senti mais tristeza do que terror, o narrador conta o que vê, não muito o que sente. O que eu vi através do relato dele foi muita empatia: pelo irmão que tremia de medo, pela família que “dedurava” o doente da outra por pavor, pela mãe que nunca se recuperou da filha que faleceu… Não que teria ficado melhor de outra maneira, mas não sei se consigo sentir terror nisso.
Para mim, esse foi o conto mais emocionante da temporada.
Olá, Monolito Ramos Torrealba, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu conto.
Resumo: Famílias embarcadas em um navio convivem em sacrifícios as mazelas de uma longa viajem, como falta de higiene e doenças. A febre que começa a matar, e com o medo de que a contaminação se proliferasse, os pacientes são atirados ao mar ainda com vida.
Gramática: É uma escrita linear que leva a leitura do começo ao fim sem atropelos, e sem erros gramaticais.
Tema/Enredo: Não resta dúvida de que seja um terror horripilante, não há nada de mais horror que a miséria humana. E o enredo é desenvolvido com maestria, sem embaraços para a compreensão dessa miséria. Narrado por uma criança, que assiste a dramática travessia, sem no entanto, ser atingido pelas moléstias de bordo. Um conto bem desenvolvido, entretanto ao meu entender, achei o desfecho um tanto confuso. O Enrico era auxiliar de limpeza e tinha acesso aos doentes terminais? Onde ele trabalhava, no navio ou no hospital, ele estava preso ou enfermo?
Resumo: (Manolito Ramos Torrealba)
Um conto muito bom!
Há muito aí escondido, sentimentos, segredos, ideias do autor(a), muito. O leitor é convidado a participar desse conto, pois a narrativa nos faz ir junto, nos leva… É interessante como a doença, tudo que está ao nosso redor constrói muito de nossa personalidade. Vivi e vi pessoas indo embora, bem perto de mim, pessoas que foram consumidas por alguma enfermidade, mas não uma espécie de epidemia como a do navio que aparentemente desestruturou Enrico.
O conto nos leva a vários questionamentos, havia lido ele anteontem, li novamente hoje. É bem interessante, tem o terror, não está com aquele susto, mas o que carrega de tensão e drama faz com que supere as expectativas.
Avaliação: (Para os contos da Série A-B não considerarei o título, as notas serão divididas por 5 para encontrarmos a média. Porém teremos um ordem de peso para avaliação caso tenha empates… Categoria/ Enredo / Narrativa / Personagens /
Gramática.
Terror: de 1 a 5 – Nota 3,5 (Não é o terror que eu procuro ainda, pois não me assustei o bastante, mas está acima da média)
Gramática – de 1 a 5 – Nota 5 (Excelente)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 5 (Muito boa, como disse, o narrador me conduziu a essa Travessia)
Enredo – de 1 a 5 – Nota 5 (Achei muito bom, a ideia de deixar tudo aberto e ao mesmo tempo com todas as respostas ficou intrigante, gosto disso!)
Personagens – de 1 a 5 – Nota 4,0 (Queria um pouco mais dos personagens, principalmente do Henrique, mas não posso reclamar muito, está bem bacana!)
Total: 22,5 / 5 = 4,5
Relato em primeira pessoa de uma travessia oceânica a bordo de um vapor. Em meio às condições precárias de viajem, os passageiros mais desfavorecidos dos porões adoecem, morrem e são atirados em vida ao mar. Ao final, o narrador revela os efeitos que a viagem traumática produziu em seu ir ao mais novo.
Aqui temos um conto de terror onde o horror aparece associado às condições desumanas a que são submetidos os passageiros de um navio, sem a presença do elemento sobrenatural. O ponto alto do conto está nas descrições detalhadas das mazelas a que se submetem os passageiros e ao clima soturno, com o fantasma da morte sempre a aterroriza-los.
O elemento de suspense surge associado ao comportamento do irmão mais novo do protagonista. O desfecho, entretanto, não esclarece satisfatoriamente a conexão entre esse comportamento e o os fatos narrados na ultima parte do conto. Voltei ao texto para buscar esses elementos de conexão mas não consegui encontrá-los.
Parabéns pela participação, amigo/a entrecontista. Desejo-lhe sucesso.Um abraço.
Resumo
Menino de onze ano viaja com os dois irmãos menores e os pais em um navio, deixando o país por conta da guerra, fome e da peste. Na voz do menino, o conto narra toda viagem, suas vicissitudes, dificuldades até que a família chega ao destina com vida. No final do conto, o narrador, já com bastante idade relata que está visitando o irmão em uma casa de custódia, onde foi preso pós assassinar alguns doentes terminais.
Comentário
Gostei bastante do texto. A forma como relata os acontecimentos é primorosa e nos leva até o cenário, o que é perturbador rsrs. A história, apesar de triste, é envolvente. Gostei de como trata do lado psicológico das personagens e do desfecho, que eu não imaginava. Apesar de não ser um terror como eu imagino que seja um conto de terror, o drama desta travessia não deixa de se encaixar no tema graças à sensação que gera no leitor de repulsa e agonia. Muito bom, parabéns.
Notei poucos deslizes gramaticais.
As roldanas giravam (vírgula) e hélices iam cortando as águas salgadas.
Eu, apesar dos meus onze anos, como era espigado, recebi uma saca. Teria que dividi-la com Enrico, o (como ainda é o menino que fala, meu irmão menor ficaria melhor) irmão menor. A pequena Estelita ficaria com a (minha) mãe.
Voltou a falar do segundo porão sem dar essa indicação:
Os baús serviam de biombos que separavam as famílias. Centenas e centenas deles espalhados pelo ambiente, formavam ilhas de pessoas.
o uso ficava restrito na (à) escuridão da noite
fumavam desesperadamente (vírgula) e a bebida tornou-se ainda mais companheira.
eu percebia que (vírgula) quando qualquer passageiro era acometido por crises de tosse, ele erguia a cabeça e olhava em (na) direção do ruído.
Sinopse: Em uma assustadora viagem em alto mar, uma família singra em um navio. Depois de receber a sua saca de palha, o protagonista e seus familiares se juntam a outros imigrantes no interior de um navio, buscando fugir de guerras e pestes que flagelam o seu povo já desesperançado. Entretanto, ao longo do conto, essa viagem adquire um contorno ainda mais assustador.
Comentário: muito merecido a nota máxima. Nunca uma história protagonizada por uma criança ganhou nuances tão sombrias e acaba num final surpreendente. Um ótimo terror psicológico, foi delirante no final.
A Árvore que Divide o Mundo – NOTA: 1,0
Amarga Travessia – NOTA: 5,0
Aquilo – NOTA: 4,5
Capitão Ventania – NOTA: 4,0
Demasiado Humano – NOTA: 4,5
Lobo Mau, A Garota da Capa Vermelha e os 3 Malvados – NOTA: 1,9
Magnum Opus – NOTA: 4,0
O Fim de Miss Bathory – NOTA: 5,0
O Jardim da Infância – NOTA: 5,0
O Ônibus, a Estrada e o Menino – NOTA: 3,5
O Parque – NOTA: 1,0
Penumbra – NOTA: 1,5
Prisão de Carne – NOTA: 3,5
Rato Rei – NOTA: 3,0
Seus olhos – NOTA: 4,0
Troca-troca Estelar – NOTA: 5,0
Variante Amarela – NOTA: 1,0
Vim, Vi e Perdi – NOTA: 1,0
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Melhor técnica: Aquilo
Conto mais criativo: Amarga Travessia
Conto mais impactante: O Jardim da Infância
Melhor conto: Troca-Troca Estelar
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Bom dia! tudo bem?
Resumo: triste história de uma tripulação que foge de país em guerra, sendo devastada pelos horrores que esse tipo de viagem acarretam. Ao fim, o irmão mais novo (já adulto) acaba ficando louco, e mata um monte de gente no hospital em que trabalha, acreditando que está salvando elas.
Comentário:
Cara, que conto triste! Em vários momentos quase chorei lendo. O mais triste é pensar que essa é a realidade vivida por milhares de pessoas todos os dias, fugindo desesperadas de países em guerra. Até arrepia de pensar.
Pra ser sincero, fiquei meio em dúvida quanto à adequação ao tema. Apesar da situação terrível, não diria que se encaixa em terror, e sim drama. Porém, de certa forma, como a situação é vivida e retratada por um garoto, talvez possamos dizer que se trata de um drama infantil. isso existe? ]Enfim, não fico me ligando muito a isso.
Sobre a história, gostei bastante. Você soube retratar bem o horror da viagem, e me deixou angustiado durante toda a leitura. A parte do bebê é muito tocante. A escrita é segura e fluida, tornando o conto muito bom de ler.
O desfecho é interessante. :Infelizmente, o menino jamais foi capaz de superar os horrores que presenciou na viagem, e acabou sofrendo de algum problema psicológico que o levou a cometer os crimes. Bem triste, tambem.
Bom trabalho! Parabéns e boa sorte!
RESUMO:
Menino foge com a família da fome e da peste. Viajam de navio, uma travessia muito dura, muitos passageiros são acometidos pela febre e são descartados no mar, ainda vivos. O menino perde a irmã e vê muitos sofrerem a sua volta. Por fim, o navio fica em quarentena e recebe auxílio. Enrico, o irmão, sempre precisa ser abraçado para poder se acalmar. A família chega a terra, destruídos de corpo e alma. Passam-se anos e o narrador agora já adulto (talvez um senhor) visita Enrico na casa de custódia. Fora acusado de matar pacientes em um hospital, pessoas que ele considerava que ficariam melhor mortas. Enrico também morre.
AVALIAÇÃO:
Conto escrito na primeira pessoa, que fala do amor entre dois irmãos. As dificuldades enfrentadas pelos dois ainda muito meninos durante uma travessia de navio marcam suas vidas para sempre. O autor soube traduzir bem o ambiente de terror vivido pelos passageiros e tripulantes. Cada detalhe, cada momento torturante, cada apego à esperança.
Não encontrei falhas de revisão.
O ritmo do conto pode ser comparado ao balanço das ondas, às vezes calmas, outras em meio à tempestade. As imagens criadas ganham vida e conduzem o leitor a experimentar desde a náusea até o horror de descobrir os crimes de Enrico. No entanto, apesar de tudo, é impossível não sentir pena do homem. Um bom terror psicológico.
Conclusão após a leitura: o mar não aceita desaforo de ninguém e nem devolve os mortos, sejam eles de corpo ou de alma.
Boa sorte no desafio!
Que conto bom!
Prendeu-me do início ao fim
Parabéns, mesmo.
Você é muito generosa… Beijos…
A história de uma febre que atinge um navio e mata inúmeras pessoas deixando para trás um grupo de pessoas frágeis, física e psicologicamente, incluindo o irmão do protagonista-narrador que vem a se tornar um psicopata mais tarde.
OK, há dois contos aqui. O primeiro é praticamente perfeito e termina quando se atraca no porto. As descrições são fora desse mundo, detalhando cenas que perturbam o leitor. A proximidade com os eventos, proporcionada pela narrativa em primeira pessoa, torna tudo ainda mais potente e impactante. Isso dito, vem a parte final que não só é desnecessária como também perigosa. Na primeira leitura, pensei que era um plot twist na qual tudo não passava de uma ilusão criada pela mente do assassino para justificar as mortes. Voltando, percebi que não há nada que indique isso (espero que eu esteja certo) e que simplesmente é a narrativa de um período posterior na vida dos personagens. Faz sentido que Enrico tenha se tornado um psicopata após ter testemunhado os horrores que testemunhou durante a infância? Faz. Isso não significa que tal deveria ser narrado. É a questão da economia de meios. Não é porque você pode contar essa história que você deve. A história do barco é suficiente. Ela se fecha quando o barco atraca porque assim também acabam os horrores. O desenvolvimento é bom o suficiente para que o final não precise ser algo fora do mundo. Por esses motivos, acredito que esse acréscimo na trama tenha desfavorecido o impacto final fornecido pelo conto.
-Amarga Travessia
Enrico e sua esposa são imigrantes italianos em viagem (Brasil? Estados Unidos?). O navio foi assolado pela peste matando o médico e obrigando a tripulação a jogar os extremamente doentes ainda vivos na água. Ao final revela-se que Enrico virou um assassino atormentado, que jogava pacientes vivos no forno de incinerar do hospital em que trabalhava.
Conto de terror, mas que tendeu mais ao drama familiar, se não fosse pelo encerramento. Achei muito rico em detalhes, na criação da atmosfera de tensão. Me lembrou A Linha de Sombra de Joseph Conrad que mostra o drama de um navio atacado pela peste. Mas não há tensão em relação a algo sobrenatural nem a um agente consciente que faça mal aos personagens. Acho que ficou faltando alguma coisa nesse sentido, pois obras sobre epidemias não costumam ser enquadradas no gênero de terror. Obviamente tem o final que mostra que trata-se de um assassino, mas o conto é praticamente todo uma origem do assassino e não dos seus assassinatos. Contudo, achei o conto muito bom no que se propôs.
Meu querido amigo, quando comecei a leitura do seu resumo, percebi que você não ficou atento à narrativa. Enrico era o personagem que se tornou o assassino. No embarque, ele era criança (não era casado). Fiquei assustada, pensei que não tivesse deixado claro, lá no texto. Mas… Os outros leitores entenderam, então não foi falha minha. Obrigada pela leitura! Abraços…
RESUMO:
O conto narra uma dolorosa viagem de navio de famílias que seguem amontoadas como bichos, dormindo, comendo e vivendo em porões, sem nenhuma condição de higiene ou conforto, compartilhando os piolhos, o ar irrespirável e o fedor. Naturalmente a doença se instala e as mortes se tornam diárias. Os mortos e os que são considerados incuráveis são jogados ao mar pela tripulação. É o horror! Enrico, o irmão menor do narrador é o que mais sofre. A família do narrador sobrevive a todos esses infortúnios e desembaraçam em uma nova terra. Temos um lapso grande de tempo e o narrador volta a encontrar Enrico, agora numa casa de custódia, acusado de matar pacientes de um hospital onde trabalhou. Sem dúvida, resultado de todo aquele terror que Enrico assistiu quando criança e que resultou num grave desequilíbrio psicológico. E um dia, finalmente Enrico também é levado pela tripulação.
CONSIDERAÇÕES:
É um conto triste e o terror é ainda maior porque é muito real, uma vez que não envolve mitos, acontecimentos sobrenaturais, fantasia, nada… É a realidade terrível. Parabéns ao autor (a) pela obra.
É retratada, com detalhes, a viagem, por mar, talvez, de um grupo de imigrantes pobres. Entre eles, o narrador-menino mostra sua família, especialmente o irmão menor. Muitas pessoas vão morrendo por causa do contágio de uma peste e o irmão se impressiona demais. Há uma mudança de época, (que não ficou bem clara) e o narrador visita o irmão na prisão, acusado de ter incinerado um grande número de indigentes, no hospital onde trabalhava na limpeza.
Desde o início, o leitor sente que será um conto de terror, pela ação e pelo ritmo com que se desenrola a narrativa, pelo misto de incerteza, de expectativa perante a iminência de acontecimentos, pela atmosfera única que descreve a embarcação como um lugar sinistro e pela caracterização do personagem irmão-menor, com um certo mistério e perturbação.
Para produzir o suspense, é necessário retardar algumas revelações, mas, ao meu ver demorou demais para cenas de terror despertarem no leitor sensações de medo e horror, referentes à morte, à loucura. A tensão nasce de um mal histórico, algo que se propaga no tempo. É a realidade gerando o mal.
O texto está bem escrito, um vocabulário adequado para o gênero, bastante ritmado, mas que precisa de lapidação na passagem do tempo e ações posteriores e certa previsibilidade do conteúdo pelo título. A estrutura funciona, levando-se em conta as sugestões acima. Não é um texto que me agradou como um todo, mas convence. Uma leitura agradável.
Parabéns pelo trabalho. Boa sorte na Liga. Abraço.
Manolito Ramos Torrealba, paz e bem!
O conto traz a história de uma família narrada por um garoto de onze anos, que deixa a terra natal fugindo da guerra, peste e fome para se aventurar em um navio. Logo no início mostra que quem não tem dinheiro fica com os piores lugares na embarcação. Com o decorrer da viagem a tribulação foi vítima de escassez de alimentação e o ambiente ficou infectado pelo cheiro de urina e fezes. A tripulação não fazia higiene pessoal e o ambiente foi tomado por uma doença infecciosa. Os passageiros mais degenerados eram jogados com vida ao mar. Para piorar até o médico da tripulação morreu. Por sorte chegou um navio para socorrer trazendo mantimentos, mas a população teve de ficar em quarentena. Enfim atracaram em outro porto.
Enrico teve um fim trágico, trabalhou como auxiliar num hospital e cometeu os mesmos crimes que cometiam os tripulantes da embarcação jogando ao mar gente viva, só que em vez de arremessar ao mar, arremessava no fogo.
Não achei nenhum erro de gramática. Muita clareza no enredo e de fácil entendimento. Gostei da história, principalmente pelo aprendizado. Eu imaginava que poderia acontecer barbaridades em navios, mas da forma que contou fixou bem em minha memória.
Boa sorte!