Em mim
A poesia faz arte
Enlaça-me a cintura.
Por que me tiras para dançar
Se de chumbos são os meus pés
E nunca me arrisquei
Num passo sequer?
De mim
Faz troça, a poesia,
Sussurra-me obscenidades aos ouvidos.
Por que, à escrita, me propões
Se de pedra são meus dedos
E platônico está meu álbum
De figuras e linguagens?
Comigo
Faz amor, a poesia
Emprenhamo-nos de leveza.
Por que me lanças sementes
Se desertos estão meus cadernos
E nem são aráveis
Meus coração e mente?
A poesia é sim esta alma gêmea do poeta. Parabéns pela composição do eu nesse encontro mítico e ao mesmo tempo plural com a poesia. Esta poesia que enlaça, que encanta, que envolve e até emprenha. Um poema intimista, profundo e que nos encanta com sua suavidade e leveza de textura. Há uma fugacidade em querer entender a poesia, mas esta se faz sagaz ao tempo que é promiscua e também ingenua. Belíssimo texto, parabéns!!!
Boa noite, Francisco! A arte existe porque a vida não basta, dizia o Ferreira Gullar. E acho que o poema comenta, ou nos segreda, essa união do eu com a arte, sua relação. De como a poesia ou a literatura consegue chamar pra dançar mesmo aqueles que possuem chumbos nos pés, trazendo esse aspecto de como a arte é capaz de nos mudar, de nos transformar, de criar. Não conhecia a palavra título, mas depois de ver o significado, pode dar outras interpretações, como uma promessa entre nós e a nossa arte, as vezes promessa de amor, outras vezes não.
Um poema bem íntimo a meu ver.
Se é expressão de sentimentos ou expressão de pensamentos, não dá para saber.
O poema tem uma melancolia marcante, um elo que resgata a alma do autor, do persona e o faz caminhar, mesmo com os pés pesados, o traz vida ainda que a solidão e a falta de vontade o façam querer não querer.
Gostei da suavidade das letras, da ternura do sentimento, da complexidade dos argumentos e da introspecção que eu senti que o personagem ou autor sente e transborda.
Obrigado pelo texto!