EntreContos

Detox Literário.

O Som e o Silêncio (Priscila Pereira)

 

Apoio sonoro: clique aqui

 

“Olá, escuridão, minha velha amiga…”

Gamesh surgiu das profundezas e pousou seu olhar perdido entre as árvores do Bosque Sagrado.

“Guardiã dos sonhos perdidos e amores não vividos, preceptora da ausência de fé na humanidade, eu vos saúdo. Permita-me sair de vossa morada e plantar vossas sementes entre os seres humanos.”

Proferiu as palavras antigas com as mãos estendidas atraindo toda a energia das trevas que emanava livremente naquele local. Um vento sibilante fez as árvores tremerem, foi ganhando força até transformar-se em um redemoinho que aspirou Gamesh, deixando o bosque solitário, tomado pela bruma que ascendia do solo fundindo-se com a névoa que baixava, camuflando a parca luz da lua minguante.

 

Alguns anos antes…

Nos arredores do Bosque Sagrado, único portal existente para o Submundo e para As Alturas, havia um monastério antigo, lar de monges que eram os guardiões do equilíbrio das forças da luz e das trevas. Muitos jovens queriam entrar, mas só eram escolhidos aqueles com grandes poderes e a completa abnegação da vida comum cotidiana. Aos pés do monastério, vários povoados se distribuíam na imensidão do mundo dos homens. Um desses povoados era especial, cheio de jovens agraciados com os dons que As Alturas distribuía. Esses dons serviam para que os humanos não fossem escravizados pelos seres do Submundo.

Nesse povoado morava Astrid, jovem donzela valente e sonhadora. Ainda na infância havia recebido uma cítara encantada, podendo, com sua música, destruir os seres inferiores do Submundo que porventura estivessem perambulando pelo mundo dos homens. Quando ela tocava era um deleite para os olhos e para os ouvidos, seus longos cabelos cor de cobre polido dançavam ao sabor do vento, a pele clara salpicada de sardas brilhava, os olhos cor de mel faiscavam no clímax da melodia dedilhada com precisão pelos longos dedos.

Vários rapazes declararam seu amor por Astrid, que sempre declinava da maneira mais gentil que podia já que o sofrimento alheio a tocava profundamente e sempre fazia de tudo para aliviar os pesares e dores de seus semelhantes, fossem pessoas ou animais. Seu coração, porém, pertencia a Juan, rapaz tímido e quieto que havia recebido o dom do canto e passava longo tempo praticando, sozinho. Possuía uma voz potente e melódica que se tornava suave quando dirigida a ela, sua pele morena corava quando ela se aproximava. Depois de um longo período de troca de olhares, sorrisos furtivos e incentivos discretos da parte de Astrid, Juan declarou seu amor e a vida não poderia ter ficado mais perfeita. Noivaram, planejaram o casamento, sempre praticando seus respectivos dons. O Submundo estava sossegado demais, assim como a calmaria logo antes da tempestade.

Em uma noite fresca e enluarada, Juan recebeu mais um presente das Alturas, um cajado que amplificava o som da sua voz. Ainda não sabia o modo correto de manuseá-lo, mas como noivo apaixonado, queria mostrar seu novo poder à sua amada. Por infortúnio ou obra do destino, apontou o cajado na direção de Astrid bem na hora da explosão dos sons. Depois que a onda sonora se dissipou, pode ver sua noiva caída, desacordada.

 

Atualmente…

Gamesh conseguira sair do Submundo e passeava pelos povoados. Entrou na primeira casa fazendo subir vários seres inferiores, espíritos mal formados, pequenos e repugnantes, que se assentavam nos ombros das pessoas e sopravam horrores em seus ouvidos.

– Apatia, ah apatia! Venha e cubra com o seu manto a alma dessa criança. – Gamesh dizia enquanto acariciava os cabelos da garotinha que dormia profundamente.

Logo o cinza tomou conta do ambiente, preenchendo todos os cantos.

– Isso, assim mesmo… – Um sorriso fugaz transformou o rosto de Gamesh em algo ainda mais hediondo.

Havia muito trabalho a ser feito, várias casas para visitar, muitas sementes para plantar, mas ele não resistiu ao desejo de vislumbrar as forças se esvaindo, as cores sumindo, a alegria agonizando.

Dias depois quase todos os povoados dormiam o sono sem sonhos da morte em vida. Não havia mais música, dança, festa, gritaria, alvoroço de crianças sorridentes nem galanteio de jovens vorazes. Nada. Só a apatia. Pessoas na mais profunda e sombria depressão.

 

***

 

O cheiro do incenso podia ser sentido em todo o monastério, as chamas das velas tremeluziam enchendo o salão de sombras, onde sete monges meditavam na posição de lótus. A energia das trevas aumentara de forma extraordinária, podiam sentir que o equilíbrio estava ameaçado, não havendo chances de ser restaurado sem ajuda. Movidos pelo instinto, os monges começaram a cantar. Um canto ancestral, profundo. Cada voz acionando uma engrenagem que movia o universo e abria caminho para o Submundo e para As Alturas.

Ainda cantando, os guardiões saíram do monastério, com túnicas marrons como a lama, capuzes cobrindo parcialmente seus rostos e caminharam apoiados em seus cajados até o Bosque Sagrado. No meio das árvores, um salgueiro chorão balançava seus longos ramos sem que a brisa os soprasse. Os monges, de mãos dadas, rodearam a árvore entoando a canção. Cada molécula de som foi atraída e dançava acima deles, tornando o silêncio do bosque ensurdecedor. Nuvens cobriram o céu e raios feriram os olhos com seu clarão, trovões explodiram fazendo a terra tremer. A dança dos ramos do salgueiro cessou de repente. Toda a energia da luz e do som havia passado para os guardiões. Estavam prontos para a batalha.

 

***

 

Astrid morava sozinha nas profundezas do Bosque Sagrado, lá praticava sua música, cuidava dos animais e vivia em constante harmonia com a natureza, mas algo a alertara de que o equilíbrio estava rompido, o número de espíritos que vagavam sem rumo havia triplicado. Não havia esquecido o som arrepiante que faziam, assobiando e murmurando seu mantra. Observando com cautela, sempre preparada com sua cítara, conseguia mandar um espírito desgarrado de volta para o Submundo com apenas alguns acordes. Só com a lembrança do som, podia compor melodias inteiras, o silêncio aguçara sua criatividade e o treino intensificara o seu dom.

Quando deixou sua família, seus amigos e seu noivo para trás, imaginou que fosse sua única opção, mas já não tinha mais tanta certeza. Precisava descobrir o que estava acontecendo. Pegou seus pertences e iniciou a viagem até o povoado. Cenas desconexas de dias distantes no passado foram suas companheiras na jornada. Juan mostrando, todo feliz e orgulhoso, o novo dom que recebera; a explosão de luz e sons; um som tão intenso que pensou estar sendo levada em suas ondas até o mundo dos mortos; sua mãe limpando o sangue que vertia de seus ouvidos, chorando; a expressão dos pais e do noivo quando perceberam que ela já não poderia ouvir mais nada; o desespero de Juan ao dizer para seus pais que abdicaria de seu dom para cuidar dela, ou pelo menos foi o que ela entendeu do que viu. Não queria ser um peso para ninguém, não podia deixar que ele desperdiçasse sua vida, seu dom, ficando ao seu lado, então fugiu. Tentou deixar sua cítara, imaginando que seu dom estaria perdido para sempre, mas não conseguiu, não podiam se separar. Abandonou tudo e todos, mas seu dom continuou junto dela, no silêncio do bosque cresceu e se desenvolveu. Estava mais forte do que nunca.

De longe viu os povoados desertos. Não havia sinal da antiga agitação, do vai e vem de comerciantes oferecendo suas mercadorias, nem a algazarra das crianças exibindo seus dons e presentes. Nada dos trabalhadores nos campos, nem das senhoras preparando a próxima refeição. Quando chegou mais perto notou que as pessoas estavam em suas casas, quietas e tristes, inertes, concentradas em si mesmas, chorando seus próprios males, indiferente a qualquer estímulo exterior. Sua música não seria capaz de restaurar o equilíbrio sozinha.

 

***

 

Gamesh contemplava sua obra satisfeito, havia sido tão fácil plantar as sementes da depressão e da indiferença na mente dos humanos. Não houvera resistência, todos passivos, passaram a conversar sem estar falando e a ouvir sem estar escutando. Cada pessoa dominada por um  pequeno espírito desgarrado.

Um murmúrio desviou a atenção de seus planos. Começou como um sopro de brisa e foi crescendo até ser uma estrondosa canção. As vozes potentes faziam vibrar as ondas sonoras, abalando a recém adquirida supremacia das trevas. Podia ouvi-los antes que pudesse vê-los. Um de cada vez, os monges se materializaram diante dele.  O canto que entoavam foi crescendo à medida que levantavam, sincronizados, seus cajados. As ondas sonoras iam varando e explodindo os espíritos desgarrados, tirando as pessoas de sua apatia.

Gamesh esperava a oposição dos monges, estava preparado para ela. Para cada espírito que abatiam, ele fazia subir mais dez. Um enxame desses espíritos voava ao redor dos guardiões, tirando sua concentração e enfraquecendo seu poder.  Seria um ciclo eterno se não fosse a presença, tímida a princípio, de Astrid, que chegara a tempo de presenciar a aparição dos monges. Ela imaginou que eles conseguiriam dar conta de Gamesh e sua horda.

Depois de algum tempo viu que precisariam de ajuda. Abrindo caminho entre a miríade horrenda, conseguiu posicionar-se ao lado deles e com os olhos fechados, dedilhou em sua cítara a canção que compôs em seu tempo de reclusão. Mesmo sem jamais ter ouvido o canto ancestral, sua melodia encaixava-se perfeitamente em cada nota dedilhada. O som da sinfonia assustou Gamesh, que nunca havia presenciado tanto poder entre os humanos. O tempo começou a mudar devagar, as ondas sonoras se espalharam trazendo relâmpagos e trovões, o mesmo redemoinho que havia trazido Gamesh se formou sobre eles e engoliu todos os espíritos e ele, sem forças para resistir, foi aspirado para o submundo.

Astrid continuava tocando com os olhos fechados, não podia ouvir, mas sentia a vibração. Quando as ondas sonoras diminuíram, abriu os olhos e viu que o enxame de espíritos e o próprio Gamesh, haviam sumido. O equilíbrio havia sido restaurado. Cessou sua música e apoiou sua cítara no solo. Sentiu olhos fixados sobre ela, virou-se e viu os monges observando-a. Não sabiam de sua existência e estavam surpresos e gratos pelo valioso acréscimo às forças da luz. Um dos monges aproximou-se e retirou o capuz que lhe cobria a face. Era Juan.

Seu coração palpitou ao olhar para os ternos olhos castanhos, que combinavam perfeitamente com a túnica. Tantas lembranças se passaram na mente dos dois, momentos felizes, promessas de amor eterno, momentos de desespero e dor.  Os olhos dele continham uma interrogação persistente que ela não poderia responder.

– Como consegue tocar…? – Disse ele pausadamente com uma esperança incômoda no semblante.

Conseguiu ler os lábios ainda tão queridos.  Não sabia se ainda podia falar normalmente, então limpou a garganta e disse com a voz cavernosa e baixa, pela falta de uso.

– Ainda me lembro dos sons, embora viva sempre no silêncio. O som do silêncio pode ser tão belo quanto à música. Ele me ensinou a tocar melhor e aperfeiçoar o meu poder. – Respondeu, tentando sorrir.

Juan não queria lançar sobre ela todo o seu remorso e mágoa, não queria dizer que quando ela fugiu, procurou-a em todos os lugares, desesperado. Agora não adiantaria mais. Depois de algum tempo de dor e frustração, foi convidado a entrar para o monastério e como não tinha mais esperanças de reencontrá-la, havia aceitado. Era um monge agora, um guardião. Encontrou-a enfim, mas era tarde demais.

Despediram-se com um demorado aperto de mão. Os outros monges a saudaram como parte dos guardiões. Chamariam quando precisassem de sua ajuda. Ela assentiu pensativa. Não voltaria a viver enclausurada no bosque. Descobriu que o silêncio compartilhado era bem melhor do que o silêncio solitário. Sem olhar para trás, caminhou até o povoado em que morava sua família e amigos, enquanto Juan subia a colina que o levaria até o monastério. Viveriam entre o som e o silêncio.

 

***

 

Gamesh saiu do castelo do Senhor do Submundo envergonhado e cheio de fúria. Havia sido humilhado e repreendido por seu senhor. Fora derrotado por uma mulher, depois de ter os famosos guardiões sob controle.  Um brilho mortiço se apossou de seus olhos fundos e negros quando maquinou uma doce vingança. Deixaria o mundo dos homens em paz por enquanto, mas no momento certo colocaria seu plano em prática.

20 comentários em “O Som e o Silêncio (Priscila Pereira)

  1. Cirineu Pereira
    10 de abril de 2019

    Resumo:
    Um povoado protegidos por monges agraciados pelas “Alturas” com dons especiais combatem as forças do mal, entre elas, Gamesh, uma entidade recém liberta do submundo, num bosque em que reinam as forças maléficas. No povoado, Astrid e Juan, dois jovens abençoados, se enamoram, no entanto, um acidente provocado por Juan causa a surdez de sua amada, cujo poder reside numa cítara mágica, cuja música expulsa espírito malignos. Surda e confusa, Astrid isola-se no bosque, enquanto Juan adere ao monastério.

    Aplicação do idioma
    Apesar da presença de alguns termos eruditos, há várias construções equivocadas, bem como composições inadequadas, palavras repetidas, além de alguns problemas de pontuação, adjetivos desgastados, figuras clichês (ex.: olhos cor de mel), e até mesmo problemas conceituais (ex.: molécula de som), que, somados, prejudicam imensamente a leitura.

    Técnica
    Não obstante se possa observar traços claros de estilo, com tendência melodramática e inclinação para a literatura infanto juvenil, a técnica se apresenta bastante crua, com recursos impróprios, como a marcação do tempo através de subtítulos clichês ao exemplo de “Alguns anos antes…”

    Título
    Adequado, ainda que pouco incitante

    Introdução
    Não obstante a boa iniciativa de abrir o texto com alguma ação, há uma suposta contradição na introdução, haja visto que Gigamesh surgira das profundezas, onde pretensamente residiriam as trevas, ao emergir ele saúda a escuridão. Talvez fosse o caso de situar ainda no submundo tudo o que é dito pelo vilão e, só então, ele emergiria para o plano das pessoas “comuns”.

    Enredo
    A velha luta entre o bem e o mal, representada por personagens de ambos os lados, é lugar comum em histórias de fantasia voltadas para o público infanto juvenil, no entanto, a falta de originalidade continua com a atribuição de instrumentos mágicos aos heróis, a libertação de entes malignos e o fechamento com a expulsão desses de volta ao reino das trevas.

    Conflito
    O conflito principal é clássico e desgastado, e a ideia de atribuir os defeitos dos seres humanos a espíritos malignos que passam a acompanhá-los remete ao conceito de “encosto”, citado em algumas religiões. Tão pouco o conflito secundário, representado pelos amantes que não podem ficar juntos, antes por questões de ética pessoal, que por fatos concretos, trás qualquer coisa de novo.

    Ritmo
    A história apresenta alguns “vai e vem” mal aplicados e que prejudicam a fluidez da leitura. Ademais, a premissa do “mostrar mais do que contar” é deveras ignorada.

    Clímax
    O clímax, apesar de válido, eficaz e coerente, é bastante óbvio e previsível
    Personagens Estereotipados a ponto de dispensarem maior empenho do autor em delineá-los.

    Tempo
    Observa-se um elogiável esforço para fugir da linearidade cronológica, no entanto o expediente usado para tal é, por vezes clichê, outras vezes confuso.

    Espaço
    O autor atentou-se à necessidade de descrever plasticamente não tão somente os cenários, mas também os personagens, ainda que por vezes tenha escolhido mal os adjetivos e figuras de linguagem usados para tal, não delongou-se com descrições demasiado extensas.

    Valor agregado
    Os valores introduzidos no conto ou seja, a luta entre o bem e o mal, bem como o conflito ético interior que por vezes afasta as pessoas de seus desejos ou separa amores, se apresenta em milhares de outras histórias, trazendo aquela sensação de “já vi esse filme”.

    Adequação ao Tema
    Completamente adequado ao gênero fantasia, com caráter infanto juvenil.

  2. Leandro Soares Barreiros
    3 de abril de 2019

    Oi, Priscila. Tudo bem?

    Como combinei, vim comentar rs

    Vou começar pelos aspectos negativos da história. E olha, que fique muito claro, antigamente eu postava isso em todo comentário, mas depois ficou meio cansativo, o aspecto negativo vem da minha perspectiva como leitor. Se parecer arrogante ou pedante é só porque não me expresso bem mesmo rs, mas estou falando como leitor, não como crítico literário.

    Enquanto ia lendo seu conto percebi a reprodução de algo que achei muito frequente nos últimos desafios: a explicação detalhada do mundo imaginado. Esse tipo de prática atenta contra aquela regra clássica “Show, don’t tell” ***. Claro, falar é fácil, e eu também acabo cometendo o mesmo equívoco várias vezes.

    A impressão que eu tenho é que criamos esses mundos que consideramos extremamente interessantes (e são) sentimos a necessidade de mostrar como o nosso universo é legal. Por isso, pedimos uma licença para explicar a história e como as coisas funcionam. Mas o lance é: nosso leitor não quer estudar os mitos do nosso mundo como se estivesse lendo uma enciclopédia. Ele não quer um “manual”, ele quer uma história. E é aqui que a coisa fica interessante. Temos que apresentar o nosso universo com certo movimento, com ações e com detalhes, mas não com informações expositivas;

    Por exemplo:

    “Nos arredores do Bosque Sagrado, único portal existente para o Submundo e para As Alturas, havia um monastério antigo, lar de monges que eram os guardiões do equilíbrio das forças da luz e das trevas. Muitos jovens queriam entrar, mas só eram escolhidos aqueles com grandes poderes e a completa abnegação da vida comum cotidiana. Aos pés do monastério, vários povoados se distribuíam na imensidão do mundo dos homens. Um desses povoados era especial, cheio de jovens agraciados com os dons que As Alturas distribuía. Esses dons serviam para que os humanos não fossem escravizados pelos seres do Submundo.”

    Poderia ser algo como:

    “Diante do monastério, ele esperava. Já era um ritual particular. Durante todo o inverno, Kassã oferecia sua vida para ser acolhido pelos monges. Esperava se tornar, como eles, guardião das forças da luz e das trevas. Era um ritual particular. Com o fim de todo inverno, a resposta era sempre a mesma: você não foi escolhido pelas As alturas. E era verdade. Não possuía dons. Desta vez, contudo, estava esperançoso. Todos estavam com medo e o rumor era de que o monastério ampliaria o número de recrutas para combater as criaturas das trevas, que vez ou outra surgiam, vindas do submundo. Todos estavam com medo, porque a principal protetora da cidade sofreu um acidente terrível. Já não havia ninguém para espantar o mal com notas de sua cítara. Kassã sorria. Astrid estava à beira da morte, e ele à beira do mosteiro.”

    Sei que não tem muito a ver com a história, mas é só um exemplo. Eu sempre caio nessa de colocar um monte de informação também.

    Você mostrou ótimas ideias na narrativa e pode escrever algo muito melhor. O ponto é: Fica muito mais bacana conseguir modelar o universo criado para ele atender a nossa história. É como se tudo o que você escreveu estivesse, na verdade, pairando sobre o que você digita, guiando as ações e emoções que você vai produzir.

    A primeira versão da história que escrevemos geralmente sai assim, cheia de informação. O legal (ou a parte que eu acho legal, pelo menos) é voltar pro texto e falar “bacana, como posso escrever esse parágrafo de outra forma?” e ficar brincando com isso.

    Acho que esse foi o aspecto mais negativo da história. Vamos para os pontos positivos:

    A trama é muito boa e bastante original. Você lida, aqui, com certos arquétipos de histórias de heróis, um vilão que quer causar o mal, uma heroína que deve superar os seus medos, uma tragédia entre um casal… o que torna a trama original é usar a questão do silêncio e da música para guiar todas essas coisas.

    A aceitação e compreensão final de Astrid sobre sua condição também é ótima, porque demonstra uma transformação na personagem ( que decide voltar para a casa, representando sua superação) que se deu através de um desafio, uma execução bem feita da jornada de herói.

    Mas reforço, para além desse aspecto estrutural, é a originalidade, criatividade e a criação mitológica do universo (essa deve entrar de forma mais sútil) que chamam atenção na história. Além disso, tive a impressão de que a primeira parte, com Gamesh, foi muuuuuuito mais trabalhada do que as ultimas partes do conto, mas posso estar enganado.

    É isso, Priscila. Uma leitura prazerosa, principalmente por conta das ideias inovadoras e da jornada de herói bem trabalhada, mas que peca (como muitos contos dos últimos desafios) na preocupação de explicar de forma expositiva para o leitor detalhes sobre o universo narrado.

    Parabéns pelo trabalho!

    ***Não acho que essa regra seja absoluta. Há exceções de escritores que conseguem trabalhar bem falando o que se passa. Mas são exceções. Eu acho que o ideal é que, pelo menos agora, dominemos a ferramenta que da certo a centenas de anos. Depois inventamos.

  3. Wender Lemes
    30 de março de 2019

    Resumo: pessoas especiais nascem com dons muito próprios e têm o poder e o dever de manter o equilíbrio entre as trevas e a luz no mundo dos vivos. A narrativa começa com uma criatura maligna (Gamesh) deixando seu local de origem para tentar abalar tal equilíbrio. Em paralelo temos a história de Astrid e Juan, ambos com habilidades musicais admiráveis. Como a maior tragédia da trama, temos Juan ensurdecendo Astrid por acidente, o que a leva ao exílio e finda a trajetória amorosa do casal. De certa forma, isso fortalece Astrid e faz com que esmere ainda mais suas habilidades com a cítara apenas com as recordações dos sons. No final, Astrid e Juan encontram-se mais uma vez para colocar um fim nos planos de Gamesh, mas a breve interação dos antigos amantes termina ali.

    Técnica: é notável como o componente musical está enraizado no conto. Não é apenas uma alusão no título, ou uma citação aqui e ali, toda a narrativa é uma sinfonia muito bem regida. Também é interessante como insere a canção propriamente traduzida em “passaram a conversar sem estar falando e a ouvir sem estar escutando”.

    Conjunto da obra: um conto com muitos pontos altos, ganha o leitor com boas descrições e o envolve com a sonoridade explorada em diversos níveis.

    Parabéns, bom trabalho!

  4. Jowilton Amaral da Costa
    29 de março de 2019

    O conto narra a história de Astrid, jovem donzela valente e sonhadora, e como ela consegue livrar seu povoado das forças das trevas lideradas por Gamesh.

    Achei um bom conto de fantasia. O texto está bem escrito e é uma história bonita. A trama é simples, sem muitas reviravoltas ou um grande impacto, mas prende a atenção. Achei bem legal o lance de combater as forças do mal através da música, foi uma boa sacada. Acho também que Gamesh poderia ter sido mais trabalhado, para que pudéssemos antipatizar com ele de forma mais forte. Astrid foi trabalhada melhor e acabamos gostando dela. O final com perspectiva de um novo ataque das foeças das trevas deu um charme a mais no conto. Boa sorte no desafio.

  5. rsollberg
    28 de março de 2019

    Storyline: A história trágica de um casal, que se descobre especial e derrota o mal personificado pela apatia.
    Gostei do apoio sonoro, mas confesso que fiquei mesmo foi com o Som do silêncio, me velho amigo do Simon and Garfunkel. Aliás, achei muito curiosa a expressão “apoio”.
    “Alguns anos antes” e “Atualmente” então, preciso dizer que não curto muito esse tipo de recurso nos textos, salvo raríssimas exceções. Com todo o respeito, soa para mim uma saída fácil, ou seja, exige pouco do autor. Neste conto esse tipo de divisão não agrega, ao contrário, logo depois é contado o que se passou no passado, a personagem pormenoriza o episódio, ou seja há um reforço desnecessário numa história tão curta. Na estrutura, o ir e o voltar no tempo não fez muita diferença, não havia tanta relevância para pedir o aparte, sacou? No audiovisual, apesar de ser considerado um recurso preguiçoso, às vezes é possível entender a opção do autor, afinal a ferramenta principal do roteirista é ação, já, na literatura é possível contar. Imagine como exercício o “amor nos tempos do cólera” o Gabo indo e voltando em divisões de texto para contar as ações.
    Curti muito o enfoque dado para a “apatia”, achei muito perspicaz a imagem do cinza ganhando o ambiente. A depressão como vilã também foi uma ótima sacada, bem como a música como poder de combate.
    Nesse trecho “Não haveria resistência…” podemos perceber um discurso atual, de facil paralelo com a sociedade e os problemas hodiernos. Muito bom.
    Algumas coisas que não entendi; “moléculas do som”, com a devida vênia, o cara recebe do nada um cajado dos céus e sem saber manuseá-lo aponta para sua noiva. Serio, qual é a desse cara?
    A linguagem é um pouco descolada da ação, ou seja, o estilo da escrita é indireto, com floreios e frases bem trabalhadas, já as ações são abruptas, surgem de supetão, chegam sem preparo, sem a imersão necessária.
    Por fim, creio que faltou dar mais profundidade para os personagens, em especial para a protagonista. Uma aventura, por melhor que seja, sem um protagonista marcante que cause empatia, não se sustenta por si só.
    Se é possível sugerir uma leitura em razão do potencial dessa história, sugiro o 1Q84 do Haruki Murakami, que foge da fantasia clichê e subverte um pouco o tema.
    Abraços!

  6. Catarina Cunha
    28 de março de 2019

    O que entendi: O bem e o mal é separado por um portal protegido por monges, cujos poderes são suas potentes vozes. Esse equilíbrio é ameaçado quando um cara do mal consegue romper essa barreira e baixar o astral da vila. Uma donzela instrumentista, que teve os tímpanos estourados pelo noivo atrapalhado, salva o mundo tocando sua cítara em silêncio. O som afugenta o “coisa ruim” de volta ao submundo.

    Técnica: Controlada e linear. Não me encanta muito, mas está bem executada.

    Criatividade: Desperta pelo “apoio sonoro”, pude valorizar melhor o conto todo pautado no poder do som e sua ausência. Boa sacada.

    Impacto: Embora seja uma história bem contada, com personagens ricos e trama bela, não me emocionou. Mas isso é uma questão de valores pessoais.

    Destaque:” Cada molécula de som foi atraída e dançava acima deles, tornando o silêncio do bosque ensurdecedor. Nuvens cobriram o céu e raios feriram os olhos com seu clarão, trovões explodiram fazendo a terra tremer. A dança dos ramos do salgueiro cessou de repente. Toda a energia da luz e do som havia passado para os guardiões. Estavam prontos para a batalha.”

    Sugestão: Retirar o último parágrafo. O penúltimo parágrafo está belo e encerra o conto de forma que conseguimos visualizar que ambos continuariam como guardiões. Ao inserir uma explicação e o desejo de vingança do vencido, fica meio forçada uma continuação, coisa de próximos capítulos. A força do conto está em se bastar.

  7. Fil Felix
    26 de março de 2019

    Resumo: um reino onde há o poder do som, das músicas e melodias é atacado por um demônio. Astrid, mesmo surda, se une aos outros monges para lidar com o inimigo.

    Considerações: o conto me lembrou bastante do jogo Ocarina of Time, principalmente por envolver instrumentos musicais e sons. Um temática interessante e pouco utilizada. Gostei desse reino e de como funcionam as coisas, só ficou um tanto corrido o vai e vem no tempo, tentando contextualizar as situações de maneira rápida, como o confronto final, a vida do demônio, como o casal se conheceu, viveu e terminaram. Sobra pouco tempo pro leitor respirar e pegar tudo. O trecho final achei um pouco fora da curva. Mas um conto bonito, soube usar bem a questão da música, do som e da vibração, fugindo dos clichês do gênero.

  8. Daniel Reis
    26 de março de 2019

    BREVE RESUMO: Gamesh, avatar do mal, reaparece para colocar em desarmonia o mundo de Astrid e Juan – ela, uma citarista surda, ele um cantor mágico. Antes disso, apaixonados, foram separados pelo dom dele, que a deixou surda, e ela se isolou, enquanto ele foi viver a vida monástica. Se uniram para derrotar as forças do mal, a partir da música, e depois de se reencontrarem seguiram cada um o seu caminho. Mas Gamesh ainda vive no submundo, de onde voltará.
    PREMISSA: a premissa do mal que retorna, trazendo a desordem ao mundo, e o enfrentamento pelo talento, ou dom, ainda que mutilado, e que é derrotado pela reunião dos predestinados.
    TÉCNICA: a técnica é segura, ainda que em alguns momentos bastante floreada, mas não compromete o entendimento da história.
    EFEITO: uma história arquetípica, ainda que não inovadora, bem contada. Gostei, ainda que não esteja entre os meus favoritos. Parabéns, autor(a)!

  9. Fabio Baptista
    25 de março de 2019

    ——————–
    RESUMO
    ——————–
    Criatura maligna Gamesh invade o mundo dos homens e deixa todos em depressão.
    É combatido por um grupo de monges e pela garota Astrid, dona de uma cítara mágica.
    Gamesh é derrotado, Astrid retoma sua vida superando um trauma do passado (ficara surda em um incidente com o ex-noivo, que agora era um dos monges).
    O vilão planeja sua vingança.

    ——————–
    ANOTAÇÕES
    ——————–
    Criatura Gamesh (criei a imagem mental de Ganon, inimigo da princesa Zelda) sai das trevas e parece não estar vindo pra brincadeira
    Flashback / contextualização de cenário
    No bosque havia um monastério e no monstério só entrava a nata.
    Astrid (cara de protagonista), dona de uma cítara mágica que pode combater criaturas do submundo
    Astrid fica noiva de Juan, rapaz que canta
    O Submundo estava sossegado demais (lembrei do baiano em Tropa de Elite “tá muito quieto esse morro aí, porra…” kkkkk)
    Juan recebe mais um presente das Alturas e vai mostrar o cajado para Astrid (no bom sentido). Bem na hora há uma explosão de sons e Astrid fica desacordada.

    Fim do Flashback

    Gamesh tocando o terror, deixando todo mundo deprimido
    No monastério, monges preparam resistência (Gamesh feriu a existência)

    Corte para a Astrid, que havia se isolado para aprimorar suas técnicas. É revelado que ela ficou surda no episódio do flashback.
    Ela retorna aos povoados e se dá conta da desolação.

    Começa a treta de Gamesh x Monges. Astrid acompanha a luta e percebe que os monges não vão dar conta.
    Com a cítara, Astrid ajuda na batalha e bane o monstro para o submundo (esse Gamesh foi fácil).
    Um dos monges era Juan.

    Astrid volta para casa, Juan para o monastério. No submundo, Gamesh da a entender que voltará para se vingar.

    ——————–
    TÉCNICA
    ——————–
    A escrita é boa, a autora consegue criar frases bonitas e descrever de um jeito meigo as coisas, dando à história um ar gostoso de conto de fadas clássico.
    Achei um tanto adjetivado em certos trechos, porém. Isso deixa a leitura desnecessariamente pesada nesses momentos.

    – Abrindo caminho entre a miríade horrenda
    >>> “miríade” não foi muito bem empregada aqui

    – Descobriu que o silêncio compartilhado era bem melhor do que o silêncio solitário.
    >>> essa frase ficou ótima!

    ——————–
    TRAMA
    ——————–
    É uma ambientação interessante e uma ideia até certo ponto inovadora, essa questão de usar a música como elemento principal do combate.
    No entanto, para que tudo funcione, é necessária uma grande contextualização de personagens e cenários, o que acaba gerando um certo distanciamento da história. Muita coisa acontece, mas nada gera muita conexão.

    Eu sugeriria que fosse trabalhada a personagem Astrid, com mais diálogos, mais coisas cotidianas, que o impacto da surdez e o consequente exílio fossem mais abordados. Fazer com que gostássemos mais dela, para que no final ficássemos ao lado dela no combate (não que eu tenha torcido pro Gamesh).
    Em resumo, mais foco na personagem do que no cenário.

    ——————–
    CONCLUSÃO
    ——————–
    É uma boa ideia, um bom potencial de personagens, mas acabou ficando um pouco frio por toda a contextualização necessária.

    NOTA: 3,5

  10. Leo Jardim
    14 de março de 2019

    🗒 Resumo: num universo fantástico, pessoas próximas a um bosque, que serve de portal para o céu e o inferno, recebem alguns dons baseados na música. Um rapaz apaixonando, assim que recebe seu dom, acaba esurdecendo a amada. Qdo uma criatura do submundo começa a invadir o mundo, os monges guardiões recebem ajuda da menina surda que toca no silêncio e repelem o mau.

    📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫): é uma trama levemente complexa (tive dificuldades em resumir) e foi totalmente contada, de forma satisfatória. As separações entre tempo e cenas distintas foram bem feitas, ficaram bem compreensíveis.

    Tenho, porém, dois pontos a comentar:

    1) a trama é grande demais, então não chegou a dar tempo de me apegar aos personagens, sentir suas aflições e medos. Acabou que ficou tudo meio distante. O romance, o desespero pela perda da audição, o exílio. Também não percebi a motivação do antagonista, que acabou ficando muito genérico. Da forma como foi contada, ficou ainda bastante coerente (méritos ao autor), mas infelizmente cria essa sensação de afastamento.

    2) o final ficou muito longo. Em contos, ao contrário de romances e filmes, geralmente deseja-se o impacto ao fim da leitura. Então, após o clímax, raramente encontramos muitos parágrafos, como ocorre com este conto. A sugestão aqui é essa mesma: reduzir as linhas após a batalha, sem se preocupar com a “continuação” da história.

    Como eu disse, esses pontos são só sugestões para melhorar um conto que já é bom.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): uma técnica redonda, praticamente sem erros, com uma narração correta e bem conduzida. Não é daquelas técnicas que se destacam por si só, mas faz muito bem o seu trabalho.

    ▪ Quando chegou mais perto *vírgula* notou que as pessoas estavam em suas casas

    🎯 Tema (⭐⭐): poderes divinos e criaturas do Submundo [✔]

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): há o uso de alguns elementos bastante comuns em histórias fantásticas (poderes divinos, perda dos poderes, união faz a força, vingança, etc)., mas o conto se destaca na parte do som no silêncio.

    🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): aqui está o principal problema do conto, na minha opinião. O forma de contar distante, sem nos aproximar muito dos personagens, acabaram por fazer a história meio cru, sem tanta emoção. É um problema comum em contos que têm muito a dizer e, por isso, dei as dicas na sessão de Trama. Dedicando mais espaço às relações e aos personagens, mostrando mais que contando, esse conto tem tudo pra ser excelente.

  11. Evandro Furtado
    9 de março de 2019

    A história é bem maluca com um casal no qual o homem deixa a mulher surda e vai virar monge, um demônio (?) chamado Gamesh (que eu li Gilgamesh o tempo todo), a música de Simon e Garfunkel e a trama meio parecida com The Astonishing do Dream Theater.

    Eu sempre dou aquele ponto extra pra quem arrisca e achei interessante o uso do auxílio sonora. No entanto, por mais que eu ame essa música em particular, ela já foi usada demasiadamente dessa forma. Já perdi as contas de quantas vezes li algum conto baseado em Sound of Silence (eu próprio acho que escrevi alguma coisa). Dito isso, também senti que há uma falta de desenvolvimento dos personagens o que acaba impactando negativamente a leitura. Falta engajamento. Há descrições demais que acabam não levando a nada e o que precisa sem desenvolvido acaba ficando um pouco de lado. Além disso, o fim fica com aquele cliff hanger que não apresenta objetivo concreto.

  12. Felipe Rodrigues
    8 de março de 2019

    o tal GAMESH fica desafortunando tudo que encontra. eis que surge Astrid, que toca cítara e espanta maus espíritos, ela conhece Juan, mas o acidente separa os dois. Mais pra frente, Astrid luta contra Gamesh e o derrota, então reencontra Juan como monge. Então cada um segue seu caminho e Gamesh promete vingança.

    Achei que o conto está parecendo um roteiro, acontecimentos descritor de forma uma pouco mecânica. Exemplo, a união de Astrid e Juan, eles simplesmente se encontram e resolvem ficar juntos. Não que as coisas não aconteçam dessa forma, mas não há um ponto de tensão, algo marcante para um momento tão importante da história. E isso serve para diversas outras partes: o reencontro entre os dois, a luta final com Gamesh… A história é muito criativa e os personagens são marcantes mais pelas características do que pelas descrições feitas deles, o que também não ajuda a cativar o leitor. Ah, também não gostei da versão da música, uma das minhas preferidas.

  13. Rubem Cabral
    7 de março de 2019

    Olá, Astrid.

    Resumo da história:

    Astrid tem o dom de tocar a cítara e ferir os entes do Submundo. Seu noivo, Juan, tbm tem um dom relacionado ao canto e a um cajado que ele ganha dAs Alturas. Certo dia, Juan inadvertidamente causa a surdez de Astrid, que foge e se refugia no Bosque Encantado. Gamesh, espécie de general das trevas, estava atacando o mundo e espalhando a apatia e enfrentava os monges, quando Astrid o enfrentou e derrotou, fazendo com que esse jurasse vingança.

    Prós: uma história com alguns elementos inéditos: um mundo guardado por monges que mantinham o equilíbrio, canto e música como armas contra o mal. Escrita limpa e correta, sem firulas.

    Contras: os personagens são muito planos e pouco desenvolvidos. Astrid é toda boa, Gamaesh é todo mau; não há tons de cinza. O clímax, a batalha entre o bem e o mal, é muito tímida e fácil, não empolgando.

    Nota: 3.5

  14. Victor O. de Faria
    6 de março de 2019

    RATO (Resumo, Adequação, Texto, Ordenação)
    R: Sem querer o texto dá a ideia de que o inimigo é o namorado da garota – talvez numa revisão futura deixar mais clara essa divisão. Pois de repente, assim que o garoto consegue o tal cetro musical, o foco muda para o vilão. Mas, já me estendi demais. É a história romântica de dois seres etéreos que se separam devido às circunstâncias, enquanto um mal maior assola o outro mundo. Ao fim, cada um segue seu caminho (a melancolia vence) e o vilão jura vingar-se. Se trocasse essa história por mosqueteiros ou um navio que afunda, seria bem parecido. O que salva aqui é o clima, a aura de “Jornada para o Oeste”, com pitadas de epopeias antigas.
    A: A história tem uma atmosfera muito boa e lembra muito um antigo conto persa. A ambientação, apesar de apressada em algumas partes, dá um ar melódico proposital – uma cadência bastante suave (talvez até demais onde o enredo precisava se focar na batalha). Tirando esses pequenos detalhes, convence como uma boa história europeia, apesar do final em aberto (e novamente apressado) ter destoado um bocado do restante. – 4,0
    T: O texto cativa pela sua sonoridade imposta (não acessei o youtube, mas pensei muito naquelas músicas épicas enquanto lia). A estrutura funciona, só que na parte principal, onde os três núcleos se encontram, tudo se resolve de forma mágica (a piada é intencional). Precisa desenvolver melhor essa parte, ainda mais com três pontos de vista bem distintos. – 4,0
    O: O texto começa bem, termina mal. Sugiro um final mais poético, ou até seguindo a linha de melancolia que vinha se desenhando. Esse negócio de vilão prometer vingança é bastante clichê e atrapalhou a condução de um final diferenciado, com a separação do casal devido às suas atribuições. Seria mais triste? Sim, mas condiz com o soar da melodia gerada nas entrelinhas. – 3,5
    [3,8]

  15. Paula Giannini
    4 de março de 2019

    Olá, autor(a),
    Tudo bem?

    Resumo:
    Dotada de musica na alma, a protagonista perde a audição, devido a um acidente. Com medo de sacrificar a vida do namorado e a dos pais, ela se isola no silêncio e na solidão, mas descobre, anos depois, que seu dom ainda pode ajudar, assim como, ela mesma, conviver com pessoas que ama.

    Meu ponto de vista:
    O conto tem uma pegada bem jovem, e, ainda que traga o som e o silêncio, ou melhor o poder restaurador da música como premissa, traz uma história de amor no centro do conflito.

    Interessante notar que, ainda que o amor, foco central da trama, se torne irrealizável (ou ao menos assim parece ser naquele momento), ele se transmuta, assim como a música para a personagem protagonista, em outro tipo de amor.

    Adorei a dica de música para interagir com a leitura. Obrigada.

    Parabéns por sua escrita prazerosa e tão bonita.

    Beijos
    Paula Giannini

  16. Ricardo Gnecco Falco
    3 de março de 2019

    Olá Astrid; tudo bem? 😉

    O seu conto é o décimo primeiro trabalho que eu estou lendo e avaliando.
    Gostei bastante da sua composição. Uma introdução bem desenhada, com ruptura temporal e um adendo que segue em crescimento até chegar ao ápice da batalha de notas, unindo melodia e acordes até formarem um uníssono bem forte e marcante. Eu, como leitor-escritor-músico-compositor, fui uma vítima (bem) atingida por estes harmônicos muito bem executados. Em outras palavras, sua composição tocou minha alma e, como bem sabemos por aqui, a emoção é um dos grandes meios (se não for o maior) de se obter uma boa avaliação no trabalho; pelo menos aqui no EntreContos. Parabéns! Destaque para o final do conto também que, numa ótima sacada, deixou um gostinho de “quero mais” no leitor; ou a já famosa (e bem sucedida) “marca de trilogia”. Show! 😉

    COMENTÁRIOS GERAIS: O trabalho foi bem feito e ficou bem tocante (para mim, ao menos), mas… Como a função dos avaliadores não é apenas a de elogiar os trabalhos lidos (quando merecedores, como é o seu caso), vale salientar alguns pontos onde você, autor-compositor, deu algumas desafinadas. Foram poucas e, claro, normais a qualquer bom autor. Destaco, portanto, alguns posicionamentos de vírgulas e pontos em algumas (e somente em algumas) construções frasais que, se melhor trabalhadas, conseguiriam evitar certas dissonâncias em específicas estrofes da obra. Vou deixar um exemplo, porque gostei do trabalho e acho que vale a pena o auxílio (e porque acredito que se eu fosse o compositor também iria gostar disso):

    “O tempo começou a mudar devagar, as ondas sonoras se espalharam trazendo relâmpagos e trovões, o mesmo redemoinho que havia trazido Gamesh se formou sobre eles e engoliu todos os espíritos e ele, sem forças para resistir, foi aspirado para o submundo.”

    Minha sugestão para o trecho destacado: “O tempo começou a mudar devagar e as ondas sonoras se espalharam, trazendo relâmpagos e trovões. O mesmo redemoinho que havia trazido Gamesh se formou sobre eles e engoliu todos os espíritos, incluindo ele que, sem forças para resistir, também foi aspirado para o submundo.”

    Às vezes, a(s) pausa(s) fala(m) mais do que notas e tons.

    Parabéns pelo ótimo trabalho e boa sorte no Desafio!

    ————————————-
    RESUMO DA HISTÓRIA:
    ————————————-

    O conto mostra uma triste história de amor entre as personagens Astrid e Juan; a primeira dotada de um poder musical com base em um instrumento de cordas e, o segundo, de um poder vocal extraordinário, ampliado igualmente por um instrumento mágico. Em comum, além do dom da música e do amor recíproco, o casal possui a importante missão de manter o equilíbrio entre as forças do Bem e do Mal no mundo. Após um acidente trágico que custa a audição da protagonista, causado por seu amado amante, ela parte em uma jornada pessoal que, ao final da história, se mostra fundamental para o êxito da primordial função de sua existência.

  17. angst447
    1 de março de 2019

    RESUMO: Astrid, uma donzela bondosa, tem o poder de eliminar os seres trevosos com a música que tira da sua cítara. Ela ama o jovem Juan, que também tem um dom especial – o do canto. Um dia, por acidente, Juan provoca o desmaio e a perda de audição da sua amada, ao querer demonstrar o seu novo dom recebido – o da explosão de som. Astrid abandona tudo e todos, recolhendo-se no Bosque Encantado, porão entre As Alturas e o Submundo. Gamesh, ser das profundezas, consegue infiltrar-se entre as pessoas e causa muita dor, espalhando a apatia e a depressão pelo mundo. Os monges resolvem enfrentar o Mal e partem para o ataque cantando, Astrid sente o chamado e junta-se a eles, derrotando o inimigo. Reencontra Juan, que havia se tornado um monge, e percebe que agora só podem ser amigos distantes, Gamesh, furioso e humilhado, jura vingança.

    AVALIAÇÃO: Um conto cheio de encantamentos e fantasia. O portal separando o Submundo (Mal) das Alturas (Bem) fica na Terra dos homens comuns. A linguagem empregada é clara, simples, sem grandes falhas de revisão. Só percebi um PODE no lugar de PÔDE (no Pretérito Perfeito, o verbo PODE recebe acento circunflexo). O ritmo do conto mantém-se constante, sem grandes entraves ou reviravoltas. Boa a caracterização dos personagens. A mensagem transmitida pelos dons e o silêncio em que Astrid se vê mergulhada é de puro encantamento e serve como uma espécie de lição no final de uma fábula. O Bem venceu o Mal, mais uma vez.
    Até a próxima rodada. Boa sorte!

  18. Marco Aurélio Saraiva
    27 de fevereiro de 2019

    O drama de Astrid e Juan, o belo casamento entre melodia e canto em um mundo fantástico, onde ambos protegiam suas terras da escuridão e dos espíritos das trevas. Juan acaba cometendo um erro grave que separa o casal, mas ambos se encontram no fim em uma situação impossível, para juntos derrotarem Gamesh, um vilão que só deseja semear a indiferença e a depressão.

    A inspiração declarada à música “The sound of silence” foi interessante, incluindo alguns trechos e analogias à ela durante o conto. Achei muito legal. Seu conto é épico, abrindo mão de diálogos para se ater a uma maior abrangência da narrativa a eventos mais importantes. Você fez isso muito bem: geralmente histórias assim, tão pretensiosas, ficam corridas demais em um conto com apenas 2500 palavras. Mas você conseguiu passar o conto completo – início, meio e fim, incluindo um clímax e desenvolvimento de personagens – sem soar apressado demais. A leitura – e uma bela leitura! – flui naturalmente.

    Quanto mais eu penso no seu conto mais eu gosto dele. Ele me remeteu a uma ambientação oriental, mesmo que nada de oriental tenha sido citado do conto (Astrid e Juan estão longe de serem nomes orientais, rs). Acho que todo o assunto de espíritos deformados, a existência de um bosque sagrado e um romance entre um cantor e uma tocadora de cítara conjuraram essas imagens na minha mente. O cenário é muito rico e imaginativo – realmente original. A técnica é muito boa, com poucos erros de português (eu diria que algumas poucas vírgulas fora do lugar e uma ou duas crases erradas).

    Se tenho algo para apontar como incômodo, esse seria a falta de diálogos. É claro que fica difícil narrar toda esta incrível história em 2500 palavras sem abrir mão dos diálogos, mas senti falta de uma profundidade maior de Astrid e Juan. Também a distinção óbvia entre bem e mal, luz e trevas, com Gamesh sendo senão um vilão com o único intuito de fazer “coisas ruins”, é um pouco ultrapassada. Ambos os fatores, porém, são passíveis de discussão.

    O seu conto é realmente muito bom. Parabéns!

  19. Davenir da Silveira Viganon
    25 de fevereiro de 2019

    – conto de fantasia, sobre a luta do bem e mal. As trevas lideradas por Gamesh e as luzes pelos guardiões e Astrid, uma jovem com poderes especiais. Astrid fica surda quando seu amado Juan usa seu cajado mágico sem querer nela. No confronto final, Astrid salva o dia de uma derrota iminente dos guardiões para as forças de Gamesh.
    – Achei bem feito, apesar da história simples demais e não passar do binarismo “bem x mal”. Isso deixa tudo previsível demais. Contudo, é bem escrito e a ideia da música foi boa. Ah, já ia esquecendo: quando o conto começou com a referência a música “hello darkness my old friend”, jurei que viria um conto de Comédia, pois me lembrei do meme imediatamente. Pena que não foi dessa vez que misturaram os dois temas num único conto. Achei o resultado final bom, mas nada mais que isso.

  20. Gustavo Araujo
    24 de fevereiro de 2019

    Resumo: Astrid é uma garota com um poder místico de expulsar demônios; Juan gosta dela e tem o poder de amplificar sua própria voz. Num acidente, ele deixa ela surda e por isso ela se refugia no bosque. Nesse ínterim, Gamesh, um enviado das profundezas, ataca o povoado plantando sementes de apatia nas pessoas, que caem tristes e deprimidas. Entusiasmado, Gamesh tenta dominar tudo, para ser confrontado por monges que, até então, mantinham o equilíbrio entre luz e trevas. No auge da batalha, quando os monges parecem perder força, Astrid surge e, tocando sua harpa, derrota Gamesh. Os monges a agradecem e aí ressurge Juan, mas ele e Astrid não podem mais ficar juntos e se despedem com dor apesar de terem salvado o povoado. Nas profundezas, Gamesh planeja vingança.

    Impressões: É um bom conto de fantasia-raiz, com seres mágicos em confronto, repisando o velho embate entre luz e sombra. Os clichês do gênero estão todos ali, mas foram trabalhados com muita competência, o que se revela na escrita segura e isenta de erros. A história é voltada para o público infanto-juvenil e dessa forma dá para dizer que tem uma trama bastante adequada, com uma linha narrativa fluida e que desperta o interesse para tal universo. Não perde tempo com digressões filosóficas ou psicológicas, deixando tais questões muito mais nas entrelinhas.

    Ainda que competente, o conto poderia ter inovado um tantinho mais. Claro que é bacana a ideia de uma garota com dons musicais que espantam demônios, mas como eu disse, não há algo exatamente novo aí, algo que fizesse a criatividade aflorar. Por outro lado, não deixa de ser uma espécie de bálsamo perceber que o principal personagem da história é uma mulher, algo difícil de ver nesse tipo de literatura.

    Enfim, é um conto bacana, que entretém muito bem o leitor. Parabéns e boa sorte no desafio!

E Então? O que achou?

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Informação

Publicado às 17 de fevereiro de 2019 por em Liga 2019 - Rodada 1, Série B e marcado .