EntreContos

Detox Literário.

Um Conto do Além-Mato (o Homem do Castelo Alto)

João ainda não chegara aos quarenta, mas o caminhar denunciava uma decrepitude precoce. Mas ele nem se importava, pois acreditava transmitir alguma confiança, coisa rara para um andarilho. Na última vez que se encarou no espelho, no retrovisor do caminhão em que estava de carona, teve a impressão de que ganhou uns cabelos brancos nas têmporas. Colocou o chapéu ocultar os cabelos e a identidade. Há dias a roupa estava empoeirada e com um rasgão na calça, resultado da queda numa das curvas do caminho. A piçarra da estrada cheia de pedra, foi inevitável.

Não era a aparência que o preocupava, mas o que trazia na mente. Carregava nas costas tudo o que restou da sua vida: a sacola com uns parcos pertences e o peso da culpa, a envergar-lhe o corpo. Matara o cunhado num domingo que era para ser de festa. Arrependera-se, mas não era homem de fraquejar diante de uma ofensa. Teve de deixar a casa e a mulher para não morrer pela vingança que certamente viria.

Sempre ouvia histórias de que a alma de um cristão que morre antes do tempo voltava para aperrear o algoz. Não tinha visto nenhuma…mas também, até então, só matara passarinho, cobra e criação. Nunca fora um sujeito cruel, como seu primo Lauro que, em tempos idos, quebrou o pescoço de um frangote só para impressionar as crianças menores.

Não olhava para trás, e não era por medo de visagem. “Se tiver de aparecer, vem de qualquer lado”, matutava para si, falando em voz alta. Podia ser que os irmãos do finado viessem vingar a afronta. Já perdeu as contas das léguas percorridas e ainda havia muitas, a perder de vista. Buscava atravessar os limites do estado. Do outro do lado do mundo, imaginava, ninguém mais o alcançaria.

A estrada era um pouco mais larga que uma vereda. Evitava a rodovia, mais movimentada, mas não queria perdê-la de vista. Tencionava pegá-la mais na frente, já que era o caminho que o conduziria à liberdade almejada. Mas não percebeu que aos poucos distanciava-se dela.

Mergulhado em suas reflexões como numa água turva, tomou um susto quando viu adiante uma procissão religiosa, a umas centenas de passos. Não podia mais se esconder, pular a cerca mato adentro, certamente já tinha sido avistado. “Não sou nem bandido…” lavar a honra não o transformava num facínora. Na sua direção vinha um cortejo fúnebre, provavelmente de algum vilarejo próximo. No meio do grupo, destacavam-se dois corpos enrolados em duas redes, cada uma sustentada por um tronco, recém arrancado de alguma árvore, como era costume naquelas bandas do mundo. Amigos e parentes se revezavam no transporte dos finados, deduziu.

Entre Padres Nossos e Ave Marias, com pedidos de “piedade”, João postou-se na beira da estrada, parado em meio ao mato rasteiro, de cabeça baixa, em sinal de reverência. Perguntou a um dos últimos quem eram aqueles infelizes. Um casal de idosos. Morreram no intervalo de poucos minutos entre si. Havia anos não se falavam, apesar de habitarem o mesmo teto. E nem com os incontáveis pedidos dos familiares, tencionaram romper o pacto de silêncio. Até os últimos suspiros mantiveram-se fiéis ao ressentimento mútuo que guardaram por longo tempo. “Cinquenta anos juntos para terminar desse jeito”, disse o jovem, que parou para satisfazer a curiosidade do passante.

No adiantar da tarde, escorou-se numa estaca e retirou da bolsa uma pequena porção de carne seca com rapadura. Saciada em parte a fome, tomou os últimos goles de água na cabaça. Olhou ao redor, em busca de algum lugar para pernoitar. Precisava de mais água. Nenhum pé de vivente, nem residência próxima. Era o jeito continuar…

Uma parte úmida daquela estrada, agora quase uma vereda, indicava a possibilidade de água por perto. Viu à direita o que parecia ser um baixio, no acentuado declive do terreno. Com sorte, teria novas provisões para prosseguir, ao amanhecer.

Sentou-se junto à oiticica, na parte mais úmida do terreno, um alívio momentâneo para quem sofreu com as lenhadas do sol nos couros. Jogou na bolsa algumas goiabas verdes e um punhado de coco catolé, que encontrou ali perto. Lembrou que estava sob uma árvore mal-assombrada. Mais uma vez duvidou se a história não era mera crendice. Então, quantos espíritos caberiam naqueles infindáveis galhos, abrigados sob a copa frondosa? “Medo mesmo tenho é de gente viva, e olhe lá…” Ademais, nunca vira nada nas várias oiticicas que conheceu nesses anos todos.

A noite chegou um pouco mais tarde para aquela época do ano. Talvez fosse apenas uma percepção errada do tempo. Sem relógio, não podia saber as horas com precisão. Antes que os donos da noite tomassem conta do lugar, procurou duas árvores menores, onde armou uma rede improvisada, a uma altura segura de animais menores.

Nem viu quando o sono pesado o envolveu. Acordou bem mais tarde, com a sensação de que algo, alguma força sobre-humana, o havia levantado, com rede e tudo, como se levitasse acima dos punhos amarrados nos galhos. Com calma, mas com algum temor, olhou ao redor, querendo crer que tudo não passou de um sonho. Era uma noite de lua, que o permitia enxergar a alguma distância. Nada. “É tudo coisa da minha cabeça, decerto”.

Sonhou com o cunhado assassinado, vitimado pela fúria incontrolável, irmão de sua esposa. Desde o fatídico acontecimento, Marco era uma presença incômoda em quase todas as noites. Dessa vez, conseguiu discernir algo naquela sombra fantasmagórica. Ela veio em forma de nevoeiro, que se enrolava ao corpo dele e o carregava para dentro de uma água barrenta, semelhante a que encontrou uma vez, ao cavar um poço, no leito de um rio seco, no tempo das estiagens.

“Eu te disse para não brincar com coisa séria”, pensou João, como se conversasse com o falecido. “Não sou mais moleque. Veja bem como fala de mim na frente das pessoas”. Pôs-se a repisar os incontáveis avisos que deu ao cunhado, buscando neles a remissão da própria culpa. Inútil. Apenas revolvia a raiva que tinha dentro de si, convertida em impaciência, agitando-o naquele casulo em que se encontrava.

Vieram as lembranças da longa amizade, desde quando eram meninos e brincavam nos terreiros. No açude, a disputa era quem ficava mais tempo debaixo d’água ou atirava a pedra mais longe. O golpe que João sofreu no pé após uma topada, que o jogou com a cara no esterco mole. Mesmo constrangido, teve a desforra, ao ver Marco se mijar de tanto rir. Lembrou o dia em que segurou Marco pelo braço, impedindo-o de cair no açude, quando ele ainda não conseguia nadar naquelas águas profundas. Feito relatado aos familiares e aos amigos, demonstração inequívoca da força e da coragem de João. “Esse é homem!”, diziam.

Mudaram os anos e com eles as responsabilidades, mas a proximidade entre os dois permanecia estreita. Após as missas do domingo, voltavam para casa na mesma montaria, a discutir sobre qual dos dois beijara a menina mais “famosa”. Marco descia do cavalo e João ainda percorria algumas centenas de metros, a distância entre as casas das famílias, que tinham relações de compadrio.

Quase adultos, rivalizavam sobre quem era mais ágil na queda de corpo. Marco era apenas um ano mais velho, mas João vencia a maior parte dos combates. Aporrinhado com os comentários da plateia de familiares, que instigavam as disputas, Marco manifestou uma animosidade cada vez mais evidente. Andava irritado. Quando se embrenhavam na mata em busca de uma rês desgarrada, Marco fazia provocações ao que julgava ser a lentidão do amigo no atravessar da mata espinhosa.

O entrevero foi passageiro e as rivalidades foram deixadas à parte. Por quanto tempo? No inverno seguinte, naquela tarde de um sol tímido, após uma chuva fina, foram tomar banho no açude, depois de recolherem o gado do pasto. Saíram da água, estavam nus. Marco, o que mais arengava, propôs uma queda de corpo, dessa vez numa disputa limpa, sem interferências de terceiros. “Quer ver como ganho fácil de você?” João recusou, pois via o sol começar a se esconder atrás da serra.

Antes mesmo que João pegasse a roupa, Marco o reteve pelo braço e logo estavam medindo forças. Naqueles corpos nus, engalfinhados, nenhum se mostrou disposto a ceder, ver o oponente o jogar ao chão na disputa viril. De relance, João notou que Marco estava de pau duro. “Armado”, como se dizia. Pensou em pedir para encerrar ali mesmo. “Tu é besta, é?”, pensou. Desconcertado, João desequilibrou-se, caindo de costas na areia molhada, trazendo Marco para cima de si.

Com os corpos colados, João com a respiração ofegante; Marco com o pau entre as coxas do amigo. Olham-se por um momento e João sentiu o beijo forte, que parecia querer arrancar-lhe a língua. Percebeu que também desejava, sem compreender o porquê.

Marco o virou e de costas, segurando seus braços. “Falei que você não ganha de mim…”. João apenas fechou os olhos, com o lado direito do rosto contra a areia. Nada fez quando Marco abriu as suas pernas e, com o jeito de quem sabia o que fazer, começou a penetrá-lo.

João não resistiu, mas veio um pensamento de repulsa. “Não sou mulher tua”. A sensação de caminhar por lugares desconhecidos, proibidos, desejos até então nunca enunciados, deixou-o excitado. Entregou-se ao poder do amigo, que o mordia no pescoço, enquanto o penetrava com força, numa posse furiosa. Aquela mancha roxa deixada na parte de trás do pescoço de João levaria uns dias para se apagar. “Fui picado por abelha”, diria depois, para despistar olhares curiosos.

Na sincronia entre os corpos, Marco ejaculou logo, jorrando dentro do amigo o sumo da perversão. Levantou. Sem nada dizer, mergulhou na água. João permaneceu algum tempo deitado, sentia-se uma presa paralisada pelo dominador. Ao ficar de pé, viu na areia o líquido que “fazia criança em mulher”, que saíra de dentro de si. Foi se lavar. No caminho de volta, trocaram poucas palavras. Nada sobre o ocorrido.

Nos meses seguintes, repetiram o ato algumas vezes, sempre com Marco tomando a iniciativa, pois mantinha o controle da situação. João não rejeitava as investidas do amigo, mas depois sentia-se estranho, maculado pelo pecado e pela vergonha. Não estava para conversa com ninguém.  Num dia de missa, ao ouvir o padre condenar a sodomia no sermão dominical, teve um arrepio e sentiu o corpo tremer. “Deus sempre me vê”. Decidiu que não mais cederia àqueles estranhos prazeres carnais.

Bastou que João colocasse a mão sobre o peito de Marco, contendo a sua aproximação, e o amante percebeu que a experiência não se repetiria. Marco ficou amuado, meio “pracolá”. Entendeu o motivo e aceitou a derrota, apesar de nunca falarem diretamente a respeito.

Nesses tempos João já vinha conversando com Rita, a irmã caçula de Marco. Eles se casariam quatro anos depois, para felicidade das duas famílias, que sempre tiveram gosto no relacionamento deles.

Os anos passaram, o casamento de Rita e João ia bem, mas Deus não mandou os filhos que tanto queriam. Marco não casou, apesar de dois longos noivados, rompidos a poucas semanas do encontro no altar. A amizade entre João e Marcos perdurou, assim como a antiga rivalidade, alimentada no jogo de cartas, ou saciada na sinuca do bar, depois de algumas doses de cana.

Marco ainda não admitia ser vencido por João. Bêbado, ficava rabugento, tagarela e passava a hostilizar o cunhado. Chamava-o de fraco. “Tu não é homem, não gera filho”. “Eu sei do que tu gosta”. “Volta pra casa, mulherzinha”. “Tu gosta de ser enrabado”. Constrangido, João colocava tudo na conta da bebida, mas se impacientava cada vez mais com as provocações. Certa vez, já saturado, deu uma dura em Marco, e afirmou que não mais toleraria desrespeito. Que não viesse mais com insinuações. “Quem avisa, amigo é…”

Depois disso, os dois se distanciaram e quase nunca jogavam aos finais de semana. Passados alguns meses, no almoço em comemoração ao aniversário de Rita, os cunhados voltaram a discutir. Mais uma vez Marco bebeu além da conta. Além do almoço, ele vomitou todos os desaforos que durante todo aquele tempo não tivera a oportunidade de falar.

Inicialmente, João manteve a calma. Aproximou-se do cunhado e pediu que ele se retirasse “Não estrague o aniversário da sua irmã”, falou, tentando apaziguar a situação. Exaltado, Marco gritou: “As pessoas aqui já sabem que você foi minha mulherzinha?”. João o agarrou pela camisa, disposto a retirá-lo à força. Marco, num tom debochado e vulgar, falou, quase sussurrando: “Por que você não diz para Rita que eu comia você…”

Marco desferiu um soco no rosto de João, que tentava arrastá-lo para fora da casa. Atordoado, João pegou a faca que estava sobre a mesa e deu três rápidas estocadas na barriga do cunhado, que caiu sobre uma cadeira, esvaindo-se em sangue. Rapidamente foi socorrido pelos irmãos, Marco chegou sem vida ao hospital da cidade. Foi o tempo de João recolher uns pertences e ganhar o mundo.  

Após revisitar todos esses acontecimentos, João desceu da rede. Estava com sede e a água acabara mais cedo. Saiu novamente em busca de alguma fonte, dessa vez rumou para o lado sul. Logo chegou a uma vereda que, alguns metros adiante, se bifurcava. Pegou o caminho da direita e chegou a um pequeno lajedo, lugar de cobras e escorpiões. Andava com cuidado, com a cabaça d’água a tira colo. Na mão direita tinha uma faca. Não encontrou nenhum vestígio de água entre as pedras. Fez o caminho de volta, apoiando-se em galhos secos para manter o equilíbrio na subida irregular. Seguiu o caminho da outra vereda, que corria paralela a uma cerca baixa. Ela o levou um a uma mata fechada, escura e impenetrável.

Desanimado, João voltava pela vereda, quando teve a impressão de ver, à sua esquerda, no meio das folhas secas, um crânio humano. Ou seria de algum animal devorado pela seca? Ficou arrepiado e se benzeu. Não quis sair do traçado. “Pra que se embrenhar no mato só para saciar a curiosidade?” Continuou a caminhar, agora mais apressado. As panturrilhas doíam. Ouviu ruídos do outro lado da cerca, à sua direita, não muito distante. Algo se movia em paralelo a ele, como se o acompanhasse. As pisadas nas folhas secas denunciavam que algo, ou alguém, o seguia. O ataque poderia se dar a qualquer momento. Até então, nunca soube o que era sentir medo de verdade. Manteve o ritmo do seu caminhar.

Colocou a faca na posição de ataque e rezou para Nossa Senhora do Desterro, que o protegeria de alguma força maligna, advinda de dimensões ocultas. “Desterrai de nós todos os males e maldições…”, disse em voz alta, olhando na direção da entidade oculta, esperando que a afugentasse. Parou. A única coisa que escutou foi a própria respiração.

Num ato de coragem, ou covardia, saiu em disparada, imaginando que a surpresa da reação daria a ele a vantagem de alguns metros sobre a coisa. Não conseguiu olhar para trás, mas estava convicto de que o bicho pulou a cerca e o perseguiu pela vereda por algum tempo, sem alcançá-lo. A estratégia deu certo. De volta à rede, ficou acordado até o amanhecer, com a arma na mão, a matutar sobre quem o perseguiu.

“Que diabos foi aquilo?”. Mero efeito da imaginação de uma mente assombrada? Talvez tivesse sido algum predador que habita as sombras do sertão! Se não tivesse passado o resto da noite em branco, pensaria que tudo foi apenas um sonho. As primeiras luzes do dia o tranquilizaram. Voltava a ser o andarilho destemido das veredas. A sede o fustigou. Comeu um pouco das frutas, mas tinha que encontrar água.

Quando o sol já começava a castigá-lo, viu ao longe, na baixada que dividia duas colinas, um indivíduo encostado a uma cerca. A necessidade o levou a cruzar o limite da propriedade. Pulou a cerca com agilidade e percorreu pela mata rasteira a distância que os separava.

Com a sede momentaneamente saciada, João devolveu a garrafa e fez menção de retomar a caminhada. Agradeceu o pouco da água compartilhada. O desconhecido quis saber se ele era da região ou tinha parentela por lá. Negativo. Perguntou, ainda, para onde ia. João citou uma cidade longínqua. “O senhor ainda vai bater perna até dizer chega”. Sugeriu que ele fizesse um pouso de alguns dias. “Nessa situação o senhor não vai longe”. Se quisesse, teria comida e um lugar simples para dormir, com a condição de ajudá-lo a arrumar um cercado.

O homem usava uma camisa de botões bastante surrada, amarelada pela lida diária. Calça preta e chinela de dedo. Chamou atenção de João o tamanho das mãos, desproporcionais para alguém de estatura baixa. Os dedos grossos e com alguma limitação dos movimentos. O olhar penetrante, entre cansado e pensativo.

Os dois primeiros dias de trabalho foram penosos. A comida era farta e o descanso certo, mas sem conforto. Dormia numa casa de taipa desocupada pouco tempo antes, pelo que notou. O homem era de poucas palavras. Semblante calmo, voz mansa e grave. Quase nunca brincava. Do pouco que soltou, comprara aquela propriedade e só poderia tomar posse quando concluísse o cercado. A família morava perto e todos os dias o filho ou a esposa trazia as refeições.

As estacas já estavam fincadas. Faltava fixar as coivaras, numa distância aproximada de duzentas braças. O mais custoso era carregar a madeira até o local. “Já era pra ter terminado”. Durante o almoço, mencionou desentendimento com dois outros trabalhadores, que abandonaram o serviço pela metade. Então, decidiu fazer o restante sozinho. Falou que Deus mandou João para ajudá-lo. Prometeu um dinheiro como agrado, ao final.

Na noite em que concluiu o trabalho, João estava satisfeito. Recebera uma pequena soma em dinheiro e guardara na bolsa alimento e água suficientes apenas para uns poucos dias de estrada. “O futuro a Deus pertence”. Em meio aos pensamentos sobre o caminho que tomaria no dia seguinte, adormeceu profundamente. Não se pode dizer que tenha sonhado, pois não acordaria. Durante a madrugada, uma sombra silenciosa entrou no barraco, sem que ele percebesse.

Com um corte profundo na garganta, que não deu chance de reação. Rápidas estocadas no peito e na barriga, numa fúria que só é própria a um ser humano. Se houvesse alguma testemunha, teria ouvido o bater da ponta da faca no chão, ao trespassar o corpo magro de João.

Os pés foram amarrados a uma corda. Na outra ponta, aqueles dedos fortes e deformados, que João achara estranhos. Sem vida, João foi arrastado para a parte detrás da casa, matagal adentro. Minutos depois, o homem voltou ao casebre, abriu a bolsa, pegou o dinheiro de volta e levou o resto dos pertences para junto do corpo, que já se encontrava próximo a uma terra revolvida. Aberta novamente a cova, João foi jogado junto a outros corpos em decomposição e algumas ossadas

João foi para sempre um foragido da Justiça dos homens. Mais um que a polícia não teve competência para achar, disseram. Mais um caso perdido no país da impunidade. Para os irmãos de Marco, um desaparecido, covarde, que ganhou o meio do mundo para não pagar pelo que fez. Prometiam que, se um dia o encontrassem, vingariam o assassinato.

Rita ainda alimentava a esperança de que ele voltasse para buscá-la, como jurou antes de fugir. João deixara a própria aliança, símbolo do amor e do eterno compromisso firmado entre os dois. O elo da corrente que Deus uniu. Ela depositou a aliança, junto da sua, numa parte secreta do guarda-roupa. Nunca mais voltou a usá-la.

Sobre Fabio Baptista

13 comentários em “Um Conto do Além-Mato (o Homem do Castelo Alto)

  1. Mauro Dillmann
    11 de maio de 2024

    Conto narrado quase exclusivamente em terceira pessoa. Tem uma dinâmica capaz de fazer a leitura fluir bem.

    O enredo vai sendo revelado aos poucos até chegar à cena do estupro, narrada como um ato mecânico.

    Tem um cenário bem construído. Consegui imaginar os lugares por onde passaram os personagens.

    Trata-se de uma história bem narrada, envolvente, com início, meio e fim. No entanto, uma história bem narrada não necessariamente é um conto. Essa história é super literal. Na minha opinião, faltaram elementos típicos de um conto: camadas de sentido, subtextos, a ‘história secreta’, a história por traz daquela que é narrada, sabe?

    Um detalhe logo no início: acho que faltou a palavra ‘para’, não? “Colocou o chapéu [para] ocultar os cabelos e a identidade”. Como assim chapéu para ocultar a identidade? O chapéu não seria sua identidade?

    O verbo ‘tencionar’ utilizado mais de uma vez e muito próximos.

    O texto é bom de ler, a história em si é interessante, mas o fim é tão previsível.

    Parabéns!

  2. Givago Thimoti
    10 de maio de 2024

    UM CONTO DO ALÉM-MATO

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    AVALIAÇÃO + IMPRESSÕES INICIAIS

    Uaaaaau, conto muito muito bom!

    Escrita muito boa

    Regionalismo ❤️

    HISTÓRIA  (3/3)

    “Um Conto do Além-Mato” conta a história do andarilho João, que vaga por essas estradas após assassinar seu cunhado (e ex-amante) Marco. Algumas noites de antes de morrer, João relembra do caso e do homicídio.

    O conto se encerra com João sendo assassinado por alguém. Tudo leva a crer que tenha sido o homem que o contrata que tenha cometido.

             A história é muito boa! Gostei bastante. É uma história simples, como pode se depreender pelo breve resumo, mas o autor/a autora expande um pouco a história. Torna-se um causo, uma (re) visitação de personagem à sua própria história antes de dormir.

             João, amedrontado por seus fantasmas-culpa, pelo seu desejo-culpa, é um personagem complexo o qual o narrador nos dá apenas um relance da profundidade psicológica (o que é uma pena).

             O final dele é um daqueles perigos ocultos na estrada, história de caminhoneiro quando está ali no posto, esperando a comida assentar.

             Esse conto traz consigo uma história dura, com alguma semelhança a um conto do desafio passado. Numa área conservadora, relações homoafetivas e homossexuais são vistas como “não-naturais”. Não há nenhuma divagação (ou se há, é quase imperceptível) de João sobre o existencial… E talvez nem tenha sido preciso, sobrou para este leitor e eu fiquei refletindo bastante sobre toda as nuances da história: a relação entre João e Marco, sexual, brutalizada, descompassada, a esposa de João… O meio em tudo a isso.

             É uma história com nuances de fé.

             É uma história complexa.

             Parabéns!

    TÉCNICA  (3/3)

             A escrita beira ao irretocável. O regionalismo é bem construído, sem a necessidade de utilizar, por exemplos, neologismos e a grafia aproximada do dialeto. Nesse conto, bastou a descrição do ambiente e, claro, uma história dura sobre a relação sexual e afetiva entre dois homens para construir-se o regionalismo.

             Para mim, a cena que resume bem a qualidade da técnica, polêmica ao seu jeito, é a cena de sexo entre os dois matutos: é uma cena com um desejo sexual descoberto no momento, reprimido, entre dois homens brutos e reprimidos. Bem escrita demais!

    Acho que o parágrafo que começa “com um corte profundo…” ficou um tanto confuso, meio dissonante com a restante da escrita. Sim, é compreensível para o leitor, mas acho que poderia ter escrito de uma forma melhor nesse ponto.

    No mais, irretocável!

    TEMA  (1 /1)

    Adequado ao tema. Um andarilho encontra o fim de suas andanças. O fim de sua fuga.

    IMPACTO  (2/2)

             Acho que foi um dos meus contos favoritos do desafio. Seria um conto perfeito (que eu adoraria ler no futuro) com um quê de existencialismo, com mais espaço para desenvolver quaisquer pontos que o autor pensa que possa ser interessante. Desejo muita sorte ao escritor/à escritora.

    ORIGINALIDADE  (0,5/1)

             Aqui talvez seja chatice minha, mas acho que o conto peca nesse quesito: matutos que tem um caso sexual entre si, com um grande conflito interno por conta de sua sexualidade e masculinidade (O Segredo de Brokenback Mountain + quase Grande Sertão Veredas) …

             Bem capaz de eu dar 10 no final das contas (risos).

    Trecho interessante: Colocou a faca na posição de ataque e rezou para Nossa Senhora do Desterro, que o protegeria de alguma força maligna, advinda de dimensões ocultas. “Desterrai de nós todos os males e maldições…”, disse em voz alta, olhando na direção da entidade oculta, esperando que a afugentasse. Parou. A única coisa que escutou foi a própria respiração.

    Nota: 9,5

  3. Queli
    4 de maio de 2024

    Mais um conto incrível!!!
    Escrita impecável, envolvente e detalhista.

    Dentro do tema. Adorei o enredo e a final também foi muito bom, apesar do nó na garganta.

    Desejo muita sorte! Parabéns!!!

  4. Regina Ruth Rincon Caires
    1 de maio de 2024

    Este texto é daqueles que, terminada a leitura, é preciso parar, beber água, arejar a cabeça. Pesado, pesadíssimo. Traz amargura.

    A escrita é perfeita, clara. A construção é de gente grande. Não encontrei erros graves, apenas problema com digitação. Isso acontece normalmente quando o autor tem o texto pronto e resolve reler. Aí, ele quer mudar alguma palavra e deixa de deletar outra, próxima, e isso atrapalha a escrita. Às vezes, apaga e não coloca outra no lugar. Nada grave, o leitor entende a mensagem, mesmo assim.

    O ser humano é complicado. A infância repercute na adolescência, a adolescência repercute na vida adulta, a vida adulta repercute na velhice. E tantos os amores como os desamores tendem a se avolumar. Mágoa, ressentimento, disputa, comparação, desconfiança, competitividade, vitimização, esses sentimentos quando não trabalhados para serem amansados, tendem a se avolumar. É um crescente sem fim. E o amor, se cultivado, da mesma maneira só se avoluma. No conto há um embate entre a infelicidade e a vingança. Todo infeliz tende a ferir. Difícil saber quem foi mais vingativo na história. Foi João ou Marco? No meu entendimento, o infeliz e vingativo foi Marco. Ele, desde o início, tomou o controle da iniciativa e da situação. Não entro no mérito da iniciação sexual. Isso é tão particular no julgar e sentir. Cada um é cada um e eu tenho respeito por todos.  Não há nada mais pessoal do que o próprio corpo.

    É triste constatar como o passado acabou com a vida de ambos. Marco deve ter sofrido muito, acredito que a infelicidade seja uma dor tremenda a ser carregada. E João, com toda a culpa que carregou, desfrutou muito pouco da felicidade. Eu apenas acho que Marco não tinha sentimento de culpa, ele carregava ressentimento. Talvez nutrisse amor por João, amor não correspondido. Eu não sei. Só sei que Marco foi infeliz.  Tadinho.

    E que triste o fim de vida de João. Caiu nas mãos de um matador em série, que usava os homens para trabalhar “de graça” nas suas terras. Será que é isso?! E o desfecho é macabro. Misericórdia. Fico aflita com a leitura dessa morte detalhada. Parece que até escuto os “ais, uis”.

    Prezado “Homem do Castelo Alto”, seu trabalho é muito bom! Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

  5. Priscila Pereira
    26 de abril de 2024

    Olá, Homem do Castelo! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Um denso e com muita informação. Focado nos sentidos do protagonista, suas culpas, sentimentos conflituosos, frustração. Ele não se considerava um assassino, achava que tinha agido em defesa da sua honra, mas mesmo assim a culpa o tortura e o persegue.

    Gostei dos personagens, estão bem embasados psicologicamente. A escrita é boa, meio regional e bem descritiva.

    O final parece deslocado. Do nada o coitado do João cai na mira de um serial killer… Não combinou com o restante do conto. Na minha opinião (que você pode descartar) ficaria melhor se ele tivesse caído em uma emboscada dos cunhados, quem sabe liderada pela Rita (ela tinha potencial pra mais na história).

    De qualquer forma é um bom conto. Bem escrito e bem revisado.

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  6. Angelo Rodrigues
    26 de abril de 2024

    Olá, Homem do Castelo Alto.

    Comentários:

    Conto bom de ler. Tem uma linguagem bem associada ao ambiente onde a história tem lugar. De leitura fácil com ambientação bem urdida.

    Começa com uma triste trajetória de um homem que segue em direção ao um destino que o acolheu, talvez sem sua autorização.

    João, o caminhante, deixa cair sobre si um relato de uma relação sexual arrependida, não tanto pelo havido, mas pelo revelado pelo companheiro. João tomou outro rumo, casou-se, não queria trazer para seu novo mundo lembranças de um passado pelo qual não tinha orgulho, preferindo o esquecimento.

    Não Marco, que queria continuar com seu – agora – estranho amor que se baseava em ódio e dominação.

    João trocou seu mundo por outro, o da fuga, que lhe pareceu mais amistoso que a vergonha trazida do passado pelo cunhado – Deus do Céu, sempre os cunhados.

    Uma história que não pode ser considerada de amor, mas de fraqueza – talvez momentânea – e dominação. Um dos afetos queria se transformar, o outro chamava pela continuidade que só levava dor ao outro. Uma história bem legal, bem construída.

    A história, entretanto, toma uma curva quase imponderável. Ao encontrar o homem de mãos grandes, a história é outra e ambas não se conectam. Duas boas histórias que apenas se encontram com base no acaso. A história das relações entre João e Marco não se definem como centro do conto, bem como a do homem de dedos estranhos não chega a ser o fulcro do texto.

    É um conto bem interessante, mas, curiosamente, um conto que sofre um desvio que vai do psicológico profundo ao crime sem explicação razoável, quase gratuito, quase um Deus ex machine para arrematar o anteriormente ocorrido. Desconexo em relação ao desenvolvimento inicial. Duas histórias que se fazem pela mão do acaso.

    Mas, ainda assim, um conto bem legal.

    Parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio.

  7. Antonio Stegues Batista
    26 de abril de 2024

    Homem do Castelo Alto, é também o título de um romance de Philip K. Dick, considerado seu melhor trabalho. Por coincidência, falei dele no meu comentário no conto anterior a esse.  Então, autor, achei que você escreve razoavelmente bem, tem habilidade de manter a coerência e as conexões das cenas, porém, precisa amadurecer as ideias, nem toda coerência e conexão é interessante. Achei que você deu muitas voltas com João por aquelas veredas inutilmente e pulou, ou, resumiu o encontro com o homem que compartilhou água com ele. Já li muitas histórias e assisti filmes onde o personagem passa por uma procissão fúnebre e aquilo provoca sensações, evoca lembranças, mostra o inevitável, que nada dura para sempre, principalmente a nossa vida. Nos filmes, claro, a plasticidade da cena é mais evidente com homens e mulheres de preto, elas com um lenço preto na cabeça, todos em atitude de referência, acompanhando o parente, o amigo até a sua última morada. Então, num conto o autor cria imagens mentais e precisa provocar sensações e emoções no leitor. Aquele enterro que João encontra na estrada, os mortos desconhecidos, ficou como um incidente sem importância e aquilo não tem relação com a história dele. Quando pensei que João encontraria algum parente do Marco para a vendeta, aparece um serial killer para dar cabo dele. É uma reviravolta inesperada. Acredito que você tem potencial para criar bons contos. Continue escrevendo.

  8. Vladimir Ferrari
    26 de abril de 2024

    Um texto extenso e uma narrativa um tanto lenta para um conto, NA MINHA OPINIÃO. A viagem está ali e o tema, justificado. Percebi uma necessidade de contar, montar o imaginário na cabeça do leitor.
    Há alguns erros que poderiam ser evitados em uma correção mais apurada, como o queísmo (repetição de “que” na mesma frase) e algumas sentenças com continuidade estranha, como sentenciou o amigo Emanuel Maurin.
    Em relação à premissa, NA MINHA OPINIÃO, são três contos dentro de um enredo: (1) o crime “justificado”, (2) a viagem assombrada e (3) a vida de um fugitivo “sem nome”. Em (1), João foi sexualmente abusado e vingou sua honra. Em (2) um viajante é assombrado pela própria consciência e por lembranças de “estórias macabras” a respeito da estrada que escolheu e em (3) um crime transforna um pai de família em fugitivo que acaba morto por um serial killer.
    A escrita é promissora e com mais atenção à construção das frases e da sequência narrativa, promete. Perseverar e escrever é preciso.
    Sucesso no desafio.

  9. Kelly Hatanaka
    26 de abril de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    O conto atende o tema. Um homem mata o amigo e, ao fugir, torna-se um andarilho. Sua viagem sem destino é cheia de remorso e culpa. Por fim, é roubado e assassinado.

    Escrita
    Ótima, conduz o enredo muito bem e tem uma voz própria, regional. O drama é bem desenvolvido e o narrador onisciente, que é fácil virar um chato, aqui manteve-se interessante até o fim.

    Enredo
    Muito interessante.
    As crises de consciência de João são constantes ao longo de sua jornada. Ele lembra sempre de seu amigo e do seu crime. Estranho que ele quase nunca pense em Rita, só mesmo durante suas reminiscências do crime. Ele abandona o lar e parte para fugir da vingança que virá, mas, por fim, é morto por um serial killer. Irônico.

    Vi o comentário da Emanuel, mas discordo dele: a cena do beijo faz sentido. João cai de costas “João desequilibrou-se, caindo de costas na areia molhada”. Ou seja, costas no chão, barriga para cima. Eles se olham e se beijam. Depois disso, Marco o vira “Marco o virou e de costas (…)”.

    Impacto
    Um conto excelente, interessante e bem conduzido. O relacionamento de João e Marco é muito bem desenhado, uma amizade de infância, a rivalidade que evolui para uma atração sexual, a culpa, a raiva, o ressentimento, o descontrole. Pobre Rita, perdida no meio.
    Quanto ao final, não sei bem o que pensar. É interessante a ideia de que, de tanto fugir, no fim João tenha sido assassinado de qualquer forma? Sim. Mas, fico pensando se não seria melhor que a conclusão estivesse amarrada com a morte de marco.
    E, no finalzinho, quando se falou do destino de Rita, fiquei esperando que ela tivesse junto de si um guri, que esperava a volta do pai.

    • Emanuel Maurin
      26 de abril de 2024

      De frente fica ainda mais difícil a penetração. A não ser que o cara não fosse mais virgem.

      • Kelly Hatanaka
        26 de abril de 2024

        É, bom… aí, neste caso, eu tô a própria Glória Pires comentando o Oscar. “Não me sinto capaz de opinar”…
        Meu comentário foi somente no sentido de que não havia contorcionismo no beijo porque os dois estavam de frente um para o outro naquele momento. Só depois, Marco vira o João.

      • Emanuel Maurin
        26 de abril de 2024

        Vc tem razão em ter me corrigido. Fui pego pelo golpe de vista, isso que aconteceu foi bom para eu crescer como leitor. Mas o fato é que de uma forma ou outra a cena ficou um pouco confusa. Olha, o autor pode ficar tranquilo que essa minha analise entre aspas não vai tirar o mérito da sua escrita e estilo na qual eu gostei muito.

  10. Emanuel Maurin
    25 de abril de 2024

    A trama se passa numa época de mato, onde dois amigos fazem troca-troca e depois se separam. Depois de um tempo, eles se encontram e surge uma rivalidade, causando a morte de um; o outro sai na estrada e vira andarilho. A linguagem que o autor escolheu para narrar o texto é bem legal, meio de quem viveu na rossa no começo do século passado.. Achei a descrição do cenário bem vívida, e os personagens bem desenvolvidos. A leitura foi agradável, e o final, meia boca. A única coisa que tenho a ressaltar é sobre essas cenas:

    “João desequilibrou-se, caindo de costas na areia molhada, trazendo Marco para cima de si.

    Com os corpos colados, João com a respiração ofegante; Marco com o pau entre as coxas do amigo. Olham-se por um momento e João sentiu o beijo forte, que parecia querer arrancar-lhe a língua. Percebeu que também desejava, sem compreender o porquê.”

    Mano, como foi que olharam-se e beijaram-se, sendo que João estava deitado no barro e em cima das costas dele estava João? Isso não tem verossimilhança com a realidade. “Marco o virou e de costas, segurando seus braços. “Falei que você não ganha de mim…”” A cena que se segue ainda afirma que ele estava de costas. Você esqueceu de dizer que João era contorcionista.

E Então? O que achou?

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Informação

Publicado em 25 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.