Deveria ser o fim do mundo. Cataclismos generalizados abalavam a estrutura do planeta terra. O maior tsunami já visto invadia a cidade arrasando tudo sob um céu negro, tomado por tempestades furiosas e terríveis relâmpagos. Atônito Theo percebeu que as águas desgovernadas vinham em sua direção, da velhinha, do cachorro e das pessoas em sua volta que pareciam não se importar em morrerem submersas. O estrondo da cidade sendo tragada pelas águas crescia e Theo saiu correndo em direção de um prédio bem alto. O tsunami se aproximava enquanto ele corria desesperado. Acreditou que não se salvaria e uma voz em sua cabeça começou a condená-lo.
“Você bate muita punheta rapaz! Bateu pra amiga, pra vizinha, bateu uma pra sua prima e quebrou uma até para a sua tia!”
Ele não queria ir para o inferno e apesar de estar quase sem forças fechou os olhos e deu tudo de si.
“É punheta demais! Você bate punheta até pra desenho japonês! Você vai direto para o inferno seu pervertido!”
O ar lhe faltava, a audição ficou abafada, a visão turva e o seu coração estava a mil acreditando mesmo que era o seu fim. Quando ele se deu conta, no entanto, já se encontrava são e salvo no interior do prédio. Subiu muitos andares. Meteoros em chamas caíam do céu. Entrou em um dos apartamentos e para a sua grata surpresa encontrou sua prima só de toalha. Ela o levou para o banheiro, ligou o chuveiro e quando se despiu possuía entre as pernas um pênis!
Foi nesta altura dos eventos oníricos que Theo despertou. Permaneceu deitado, olhando para o teto, pensando por que sua imaginação colocaria um pênis na prima mais bonita, sobretudo no meio de um apocalipse. Por fim levantou-se. Passava das quinze horas. Era o que dava ficar madrugada adentro procrastinando o sono, aumentando a lista da NetFlix sem ver absolutamente nada. Sentou-se no sofá e ligou o celular. O ícone do Messenger estava no meio da tela, clicou nele e visualizou a seguinte mensagem:
“Ei, vai participar do desafio de contos? Eu te marquei no post das regras.”
Era de uma antiga conhecida com quem tinha trocado diversas experiências literárias. Deu uma olhada no Facebook e lá estava o link do desafio. Teria quatro dias para criar algo e enviar para os organizadores. Deveria escolher entre um conto de comédia e fantasia. A verdade é que nunca havia escrito nada do tipo. Ficou o resto do dia pensando sobre duendes, fadas e dragões. Era exigente demais para escrever qualquer merda e usar palavras de calão e situações bizarras para ter de ser engraçado. O enredo deveria ser épico. Bem que tentou, mas no fim da tarde concluiu que, apesar de O Senhor dos Anéis ser um de seus filmes prediletos e de ter lido O Hobbit, não teria a mínima competência para escrever sobre cavaleiros equipados com armaduras de bronze reluzentes, empunhando espadas flamejantes com chamas cor de topázio, das quais nem mesmo as couraças blindadas do maior dragão do Vale dos Dragões seriam capazes de deter. Restou-lhe a categoria cômica.
Theo era um escritor amador entusiasta e não conseguia escrever em períodos que não estivesse inspirado. E como era bastante pragmático resolveu sair a campo para obter desenvolver uma trama. No dia seguinte procurou a mãe para que lhe contasse alguma história engraçada, que ele pudesse transformar em um conto.
– Sabe o que acho engraçado? – Perguntou sua mãe pensativa. Eu usei os mesmos ingredientes, fiz tudo do mesmo jeito, mas esse bolo não ficou macio igual o outro.
Depois Theo procurou o irmão. Durante a conversa descobriu que ele havia ficado com a prima com quem havia tido o pesadelo. Não achou isso nada engraçado.
Conversando com o pai Theo ouviu muitas coisas boas. Descobriu que na adolescência seu pai comia uma potrinha nervosa que não deixava ninguém montá-la. Perdeu as contas da quantidade de vezes que meteu na eguinha no meio do mato, pegando-a pelo traseiro em cima de um cupinzeiro. O problema é que a égua nervosa ficou tão mansa com ele que os demais garotos começaram a desconfiar, principalmente depois que ela começou a segui-lo pra todo lado empinando o rabo.
– Tem outra história que pode ser engraçada, mas na época não foi. Tem tanto tempo que aconteceu – continuou seu pai olhando para o nada. Morávamos, seu avô, avó, tios e eu, na roça e tudo era muito difícil e escasso. Tínhamos alguns porcos e se você quisesse comer carne de vaca naqueles tempos teria de morrer de trabalhar ou vender um frango ou um porco. Seu avô vendeu um porco e comprou uns dois quilos de carne de vaca. Todos ficaram muito felizes porque havia muito tempo que não comíamos coisa diferente. Só porco e galinha, porco e galinha. Quando seu avô chegou da cidade com a carne toda embalada, ele a colocou a uns dois metros do chão. O grande problema é que havia um fogão velho ao lado, e a cadela subiu em cima dele, saltou e abocanhou a carne. Meu pai estava a poucos metros, tentou impedi-la, mas a danada correu pro mato. Nós vivíamos famintos, imagine os animais. Algum tempo depois ela chegou com a barriga toda estufada. O Pai, que Deus o tenha, ficou possesso de raiva. Foi dentro de casa e voltou com a espingarda na mão, a mesma que tenho guardada hoje, e chamou a cadela carinhosamente, que ao se aproximar levou um tiro bem na cara. Eu e os seus tios éramos crianças e vimos tudo. Nunca vi seu avô tão nervoso. A cadela tinha seis filhotinhos. Depois o velho pegou um pedaço roliço de pau e matou todos eles, um após o outro. Ele os pegava pela barriga e dava uma pancada seca na cabeça dos filhotes, enquanto chorávamos e implorávamos para que ele não continuasse. A cada paulada ouvia-se um gritinho. Depois ele os jogava de lado. Alguns dos coitadinhos ficavam até tremendo lá no mato, mas no fim os seis morreram.
Olharam um para o outro por um tempo, depois cagaram de rir. Theo até que achou as histórias interessantes, mas optou por deixá-las em segredo. Os contos seriam publicados com pseudônimo, de qualquer modo não eram coisas para serem escritas para ninguém.
Os dias se passaram e ele não tinha a sua história. O que tinha ouvido até ali parecia coisa inapropriada para ser compartilhada com pessoas sérias que certamente não seriam capazes de lê-las até o fim. Lembrou-se da vez em que um amigo policial lhe contou do método que usava para fazer os suspeitos confessarem seus crimes. O investigador de polícia civil desempenhava o papal do policial bom e do policial mau sozinho. Em uma sala reservada fazia o seguinte trato com o interrogado, se ele estivesse falando a verdade e essa verdade fosse confirmada, então tudo bem, não aconteceria nada, no entanto, se o que o suspeito estivesse falando fosse mentira, o agente apresentaria para ele o seu amigo “Gente Boa”. Deixava o preso sozinho na sala dizendo que traria o Gente Boa para apresentá-lo. Voltava com um cassetete preto espesso de um metro de comprimento. Os presos continuavam sem colaborar até o momento em que o policial lhes dizia que enfiaria o Gente Boa no reto deles, caso o preso não falasse onde estariam as armas ou drogas por exemplo. Era um dos melhores agentes da delegacia. E a sorte, contava ele com seu humor peculiar, era a de que o policial bom, até aquele momento, tivera mais sucesso que o policial ruim que interpretava e que nunca precisou enfiar o Gente Boa no ânus de ninguém.
Criar um enredo nunca tinha sido simples para Theo, que produzia em média dois contos por ano. Leu algumas piadas no Google para inspirar-se. Reviu Tempos Modernos e O Grande Ditador, assistiu Chaves, leu Lima Barreto e Bukowski, mas nunca deixava de saber das histórias engraçadas de cada pessoa com quem conversava. Contaram-lhe sobre hemorroidas e peidos, ejaculações precoces e desventuras amorosas. Percebeu que o humor estava por toda parte e que assistir parlamentares na TV poderia ser tão engraçado quanto um programa de baixaria.
Passaram-se os quatro dias e Theo não obteve uma história decente, o prazo expirou-se e no fim acabou ficando de fora do desafio. Não escreveu o conto, mas divertiu-se muito com tudo que ouviu.
Histórias não contadas
Resumo:
A trajetória de um contista que perdeu o prazo de escrever e, obviamente, enviar seu conto para um Desafio.
Comentário:
Enorme e só. Não tenho preparo emocional de comentar. Em melhor das hipóteses, repito o resumo, mudando o final: A trajetória de um Contista que perdeu o prazo de escrever para um Desafio e envio um desabafo do tipo diário para concorrer. Não consigo apreendê-lo como conto, é uma crônica desabafo-desculpa.
RESUMO:
O autor começa com a descrição de uma cena apocalíptica que vai se revelando um pesadelo. Depois informa que (Theo) por saber de um desafio literário, meio que em cima da hora, avisado por uma amiga, decide participar. Começa contar as estratégias que o protagonista utilizou para angariar conteúdo ou idéias para criar o conto. Vai em busca da mãe, que lhe provê algo sem muito gosto. Depois vai conversar com o pai, que lhe conta histórias, no mínimo assustadoras, mas nada engraçadas. Eu teria encerrado a leitura ali. E por fim, após Theo gabar-se de seus dotes literários, não entende como não estava sendo capaz de criar um mísero conto, seja comédia ou fantasia. Mas divertiu-se com o que ouviu.
CONSIDERAÇÕES:
A introdução me pareceu boa, aparentava ir por outro caminho. O texto está bem escrito, com apenas algumas falhas que podem ser por causa de falta na revisão.
Podia ter usado a palavra pinto ou pau ao invés de pênis, já que usou “punheta”. Ficaria mais contextualizado com o enredo. Assim como ânus e reto não caíram bem no texto. Por conta de, o conto, me parecer ter o intuito de ser bem informal.
Fiquei com um pouco de medo do Theo.
Resumo: Um grupo de pequenas historias que não se associam. Theo vivencia um apocalipse tsunami enquanto pensa em seus pecados. Tornou se um escritor entusiasta que deveria participar de um desafio de micro contos. Buscou na comedia assunto para o seu texto fantasioso. Revela a historia bizarra do pai que possui uma égua. Ao final esclarece que buscou enredo ideal para sua narrativa. Não teve o tempo hábil para formula-lo.
Considerações: Uma mistura muito grande de varias situações que não se encaixavam. Me pareceu não ter foco, não ter ordem. Faltaram explicações do por que participava de um desafio. Teria gostado mais se tudo o que aconteceu fizesse parte de um sonho de se tornar um escritor. Usaria os efeitos a favor e não um grupo de historias que não casavam com o verdadeiro proposito do texto.
Resumo
Um escritor busca, através de breves conversas com pessoas de seu convívio, inspiração para escrever um conto e assim participar de um concurso literário.
1. Aplicação do idioma
O autor opta por uma linguagem coloquial e, por vezes, até vulgar, porém devidamente contextualizada e apropriada à comédia, sem erros notáveis.
2. Técnica
A narrativa é dinâmica, fluída, rica em alternância de contextos e situações, ademais o autor foi feliz ao utilizar-se da metalinguagem, conferindo ao seu conto uma roupagem moderna.
3. Título
O título possui um atrativo, apesar de não totalmente adequado.
4. Introdução
Narrativa de abertura dinâmica, ainda que pouco original.
5. Enredo
Enredo bom, apesar da trama fraca.
6. Conflito
O conflito se resume ao expirar do prazo, pecando por não se estender às pequenas histórias dentro da histórica. Acaba por não atingir o devido efeito sobre o leitor.
7. Ritmo
Bom ritmo, o autor soube, em seu estilo narrativo, conferir uma dinâmica ao texto de forma a, mesmo ante à pobreza do enredo e do conflito, não permitir que o leitor se enfastiasse em momento algum. Porém faltam enlevos, o ritmo, apesar de bom, é linear, justamente pela pobreza do conflito.
8. Clímax
O arremate é um tanto decepcionante ao atestar a ausência de objetividade do enredo.
9. Personagens
Personagens bem delineados, ainda que rápidos, no entanto, válidos para o gênero (comédia) proposto.
10. Tempo
Bem delimitado e explorado, narrando basicamente um dia na vida do personagem, porém não se restringindo a ele, mas reportando a narrativa ao tempo do próprio sono (sonho) e histórias ouvidas de terceiros.
11. Espaço
Praticamente inexplorado, os cenários basicamente não são contextualizados, ou autor basicamente não faz descrições que pudessem auxiliar as eventuais projeções do leitor.
12. Valor agregado
O conto em si é uma paródia, um deboche da situação do próprio autor, não inclui temas sociais, fazendo-se assim um tanto raso.
13. Adequação ao Tema
Possivelmente o autor optou pela comédia, parodiando a si mesmo e à própria dificuldade de conceber um enredo para seu conto, ainda que o efeito cômico em si seja questionável
Theo tem um sonho apocalíptico, depois de acordar lembra das frescuras eróticas dele. Para poder entrar num desafio de escrever um conto de fantasia ou cômico, e optou pelo cômico. Conversou com as pessoas, principalmente o pai, outro perverso que até eguinha braba comeu, pesquisou piadas no google para se inspirar, mas nada, acabou ficando de fora do desafio.
O texto tem algumas incongruências, é bastante previsível, pois logo se percebe que o começo da história é um sonho, depois muda para a questão do desafio, deixando no ar praticamente a certeza de que vai ou não participar do mesmo. O conflito reside no conseguir escrever, mas, ao dizer que escreve só dois por ano, significa não ter nem vocação para um desafio. Sendo duas histórias, um sonho para falar de erotismo seguido de descrições de conversas sobre o tema, e o problema da escrita, a história fica muito atrapalhada.
Resumo:
Histórias não contadas.(Benwel)
Cataclismo, tsunami, invade cidade pessoas não se importam com os acontecimentos, só ele corre. Salvo vê meteoros em chamas, caem. Sonha com a prima, surpreso pensa no que escrever.
Fala da potrinha de seu pai, que o seguia empinando o rabo.
Da cachorra que comeu a carne, depois a matam e aos filhotes, o riso e prazer na ação.
Dos métodos empregados pelo amigo, para interrogatório de preso.
Cita histórias que lê, pornografia que descreve com prazer.
Fora do desafio, por indecisão, mas diz ter se divertindo muito com tudo.
Considerações.
Para se adequar ao tema, se valeu um pouco da descrição de cenas e palavras
Inadequadas.
Trata-se de um enredo em que Theo, o escritor, descreve várias histórias possíveis. Desde um tsunami e várias cenas de fim de mundo à mistura (com episódios esporádicos de erotismo fantasioso), e outro e variados temas, como a historia do cachorro morto, o policia bom e mau, muitos.
Adequação ao tema: Bom, achei excelente.
Aplicação ao idioma: Maravilhoso, soube passar de linguagem de grande cidade para linguagem de Quinta afastada de cidade.
Técnica: Excelente. (sinceramente, por mim é vencedor).
Trama: São várias tramas dentro de uma só; magnifico.
Impacto: Achei bom, várias histórias muitos bem escritas.
Nota de um a cinco? Cinco, sem dúvida.
Lista dos melhores contos de acordo Felipe Takashi
1º O dia em que acordei morto
2º Dezembro
3º O gnomo e eu
4º Leitor Inácio
5º Intuição
6º O Animalismo
7º Lúcia no mundo das coisas
8º E aí? Comeu?
9º Histórias não contadas
10º Luz dos olhos
11º Miguel e o caldeirão
Sinopse: Após uma terrível noite de sono, escritor amador com graves problemas psicossexuais tenta se inscrever num desafio de contos na internet, mas fica refém da “inspiração”.
Considerações: É o tipo de coisa que eu não leio e nem recomendo. Aconselho ao autor fazer uma revisão antes de enviar os contos para qualquer apreciação. Se o objetivo era provocar humor, teve efeito contrário, não teve nada de engraçado… nada! Não sei se é autobiográfico ou se o escritor tentou fazer uma ironia com as regras da Copa Javali Dourado para demonstrar alguma insatisfação. Não houve nenhum empenho em entregar um texto bem escritor. Com certeza humor não é o seu gênero, tente outra coisa.
Nota: 1
O conto narra a história pessoal (ou não) do autor. Ele busca inspiração para escrever um conto para um desafio literário (seria este?), através de relatos de parentes, e no fim, acaba perdendo o prazo para a inscrição.
Me perdoe, mas fiquei atônito. Isto é comédia?: “O Pai, que Deus o tenha, ficou possesso de raiva. Foi dentro de casa e voltou com a espingarda na mão, a mesma que tenho guardada hoje, e chamou a cadela carinhosamente, que ao se aproximar levou um tiro bem na cara. Eu e os seus tios éramos crianças e vimos tudo. Nunca vi seu avô tão nervoso. A cadela tinha seis filhotinhos. Depois o velho pegou um pedaço roliço de pau e matou todos eles, um após o outro. Ele os pegava pela barriga e dava uma pancada seca na cabeça dos filhotes, enquanto chorávamos e implorávamos para que ele não continuasse. A cada paulada ouvia-se um gritinho. Depois ele os jogava de lado. Alguns dos coitadinhos ficavam até tremendo lá no mato, mas no fim os seis morreram”.
Se disser que sim, terei medo de ser seu amigo. Se o desafio fosse “sadismo”, seu conto seria aprovado por mim. Mas por se tratar de “comédia”, me senti lendo um sociopata.
Há alguns erros de pontuação, principalmente em vírgulas antes dos vocativos. Desejo boa sorte no desafio, mas acredito que teria sido uma ideia melhor ter ser se aventurado no universo de Tolkien, mesmo inseguro para isso.