EntreContos

Detox Literário.

A Dama Rubra (Cirineu Pereira)

Ao despertar depois da cirurgia, notei a presença dela no quarto. Cabisbaixa, o corpo esquálido em vestes brancas permanecia em pé, imóvel no canto mais próximo à porta, entretanto, sem apoiar-se em nada. As mãos não portavam a simbólica foice, mas repousavam com dedos pálidos e longos entrelaçados sobre o colo. Ao se perceber observada, levantou o rosto lívido, mal revelado pelas madeixas vermelhas, e seus olhos opacos e sem expressão trespassaram-me a alma.

A princípio, pensei tratar-se de outra enfermeira, ou médica. Sorri tentando dissipar o constrangimento que era apenas meu. Indiferente, ela abaixou novamente os olhos para o assoalho e assim permaneceu. Não tardou para que a presença da suposta morte, a mim revelada na figura da mulher sorumbática e ruiva, não me incomodasse mais. Logo ela era tão somente como qualquer outro objeto no quarto, tal qual o abajur frio ou um daqueles pedestais de inox que sustentavam as bolsas de soro. Como ninguém mais apareceu, não tardei a cair novamente no sono. Talvez estivesse ainda sob efeito do anestésico.

Horas mais tarde, a enfermeira gorda, cujo nome eu não lembrava – nem queria perguntar, pois considerava uma indelicadeza tal esquecimento – abriu lentamente a porta introduzindo antes através dela o rosto risonho. Adivinha quem veio, perguntou, após certificar-se de que eu estava acordado. Oras, quem viria? Eu não tinha ninguém, tão somente um filho que morava no exterior e com quem raramente falava, mas ao qual até então eu quis poupar dos meus problemas de saúde; e o filho deste, mas meu neto era ainda uma criança e morava com a mãe que, claramente cuidava para que o menino esquecesse o pai e o avô. Pois vieram ambos, anunciou a enfermeira, escancarando a porta, e sorridentes os dois irromperam por ela. O garoto, como um novilho de rodeio, correu em direção a minha cama. Vovô, exclamou ele, mas foi detido pelo pai antes que se atirasse sobre mim.

Um homem normal teria chorado, mas eu não sou um homem normal, sou um velho que há muito perdeu o encanto por este planetinha atrasado. Até há algum tempo, ainda via graça em escrever, mas o Parkinson me furtou isso. E mesmo depois, ainda alimentava a esperança de que meu filho e eu um dia pudéssemos nos conhecer realmente, entretanto o Parkinson… Bem, eu preferi esconder dele, não me arrependo. Enfim, um homem normal teria chorado, mas eu não tinha certeza se realmente conhecia aqueles dois.

Contenha-se, o vovô não está bem, meu filho ordenou, retendo o menino pelo pulso. Vovô… Acho que foi a única vez que alguém se referiu a mim dessa forma. Pai, como você está, ele perguntou. Naturalmente, uma pergunta retórica, e eu quis lhe dar a única resposta cabível, um sorriso, mas não sei se os músculos da minha face realmente se moveram. Ele sim, sorriu. Inclinou-se sobre a cama, abraçou-me como quem toca uma bolha de sabão, só que mais demorado. Levantou-se, beijou meu rosto, afagou os últimos fios na minha calva, arrastou a poltrona para mais perto da cama e, antes de se sentar, envolveu minha mão como quem acolhe um filhote órfão de pássaro.

Agora ele vai sucumbir, pensei comigo. Não sucumbiu. Soltou minha mão e se esticou na poltrona. Bem, os médicos já me contaram tudo o que sabem, e o que não sabem… Ponderou. Mas enfim, estou voltando para o Brasil, de fato, estive longe por tempo demais. Ficarei contigo, pai, ele decretou. Ficarei contigo e com o meu filho.

Quem é esse homem, eu me perguntei. Quem é esse autômato bonito sob o terno elegante e a gravata apertada? Quem é esse homem contido que, após anos, reencontra o pai convalescente como quem vai a uma reunião de negócios?

Lembrei-me então do menino, como é mesmo que se chama? – Resolvi esperar que o pai pronunciasse o nome dele. – Meus olhos mal começaram a vasculhar o quarto e  o encontraram aos pés dela, ao lado da porta. E os dois assim – ela cabisbaixa com as mão sobre o colo, os olhos acidentalmente voltados para o garoto, ele ali sentado, entretido por algum brinquedo – sugeriram uma bizarra cena familiar, mãe e filho. Só que a mãe, eu estava convicto, era a morte. Eles aparentemente não a viam, é claro, ela viera por mim.

Pai, estou finalmente lendo seus manuscritos. Sim, só agora, me perdoe. Mas enfim, tomei a liberdade de mostrá-los a uma amiga. Eu conheci essa mulher em Glasgow, é escocesa, mas morou por muito tempo no Rio. Enfim – ele ainda repete o advérbio, como um cacoete, sempre que se sente desconfortável com as palavras -, ela trabalha para uma grande editora em Londres agora e acredita seriamente que poderíamos publicar seu livro em inglês. O que você acha, não é mesmo maravilhoso? Claro que você precisará organizar tudo juntamente com ela – você irá adorá-la -, tão logo melhore… Engraçado ele dizer aquilo tudo de forma tão entusiasmada. Que merda os médicos lhe haviam dito? Não estava evidente que eu não melhoraria?

Por instantes, fiquei realmente irritado, mas então pensei que deveria, até o fim, fazer o que sempre fiz, proteger o meu filho. E ele, contendo-se perante meu neto, não estaria a fazer o mesmo? Tive dúvidas até não ter mais dúvida, eu estava errado. Então, nervoso, engasguei-me com a própria saliva, assustei eles dois e a enfermeira logo veio em socorro de nós três. Virou minha cabeça para que expelisse o catarro e notei algum sangue. Tirou-os do quarto, adicionou algo ao soro, entubou-me e saiu logo em seguida. Ficamos apenas a dama ruiva e eu.

Pai, estou finalmente lendo seus manuscritos… talvez se ele os tivesse lido antes. Talvez se antes ele os tivesse mostrado a alguém mais, mas agora é tarde. Claro que eu gostaria de ser publicado, mesmo que postumamente, mas meus escritos eram antes para ele. Talvez se ele não tivesse deixado o filho e o pai, em busca de dinheiro… Mas que bobagem estou dizendo? Certamente se eu não tivesse lhe ensinado a dar ao dinheiro a importância que eu mesmo nunca consegui dar, todos estaríamos mais felizes – provável que o infeliz seja somente eu. De certo, se eu não tivesse desistido de escrever e me dedicado mais aos que amo, então teríamos tido tempo para falar sobre o que ele leu e o que realmente importa na vida.

Você – meus pensamentos dirigiam-se agora à mulher que voltara a fitar através de mim – certamente poderia nos devolver o tempo que desperdiçamos e, mesmo que nenhum tempo possa ser recuperado, ao menos me poderia conceder um prazo adicional para impedi-lo de repetir os meus erros. Disse-lhe isso sem pronunciar as palavras – minha boca já não era capaz de articulá-las – e adormeci sentindo as lágrimas mornas transbordarem dos meus olhos. Ao menos nos meus sonhos ela se ausentava.

Ao despertar, notei a presença dela no quarto. Cabisbaixa, o corpo esguio num longo branco permanecia em pé, imóvel no canto mais próximo à porta, no entanto, sem apoiar-se. As mãos não portavam nada, mas repousavam com dedos alvos e longos, de unhas bem tratadas, entrelaçados sobre o colo. A princípio, pensei tratar-se de outra enfermeira, ou médica, e ela, ao perceber-se observada, levantou o rosto, afastou as madeixas rubras e por fim, seus olhos claros e confiantes encararam os meus. Após estremecer, sorri tentando dissipar o constrangimento. Ela aproximou-se com passos decididos e estendeu-me a mão. Levantei-me abruptamente – só então compreendi que havia adormecido na poltrona -, e surpreendido pelo súbito vigor do meu corpo, correspondi ao cumprimento. Olá, muito prazer. Sou Una, creio que seu filho lhe falou sobre mim, disse ela, desviando os olhos para o homem entubado no leito.

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43 comentários em “A Dama Rubra (Cirineu Pereira)

  1. Fernando Cyrino
    2 de abril de 2019

    Um autêntico Cirineu. Aliás, acho que haverá controvérsias caso discuta comigo mesmo a este respeito. O conto é carregado de lirismo e emoção demais. Achei bacana o final, quando me passa a ideia (estarei voando?) de que o filho e o pai se misturam. Talvez isto (caso seja isto mesmo) pudesse ser melhor trabalhado. Seu conto ganharia mais densidade psicológica. Agora, nem vou comentar da técnica e do uso das palavras. Cirineu é o cara da palavra perfeita para o momento mais correto. Bravo, amigo, Bravíssimo, campeão. Abraços de admirador.

    • Cirineu Pereira
      3 de abril de 2019

      Obrigado, Fernando. O ponto do conto seria a inexplicada troca de condição entre eles, mas não encontrei a melhor forma para apresentar isso ao leitor, tanto que vários acharam tratar-se de um sonho. Quem sabe numa futura reedição… mas valeu o exercício. Abraço.

      P.S. Ainda lerei seu conto.

  2. Cirineu Pereira
    31 de março de 2019

    Elisa, talvez você tenha sido a leitora mais hábil em assimilar o “espírito da coisa”. Até porque você foi capaz de identificar direitinho em qual vertente literária o conto se encaixaria. Acho que “Só para os fortes!” é um dos melhores elogios que um conto meu já recebeu. “Não é uma história espetacular”, exato! Eu não miro enredos espetaculares, eu miro a forma. Muitíssimo obrigado.

  3. LUCIANO ALVES
    27 de março de 2019

    RESUMO: A história de um homem acamado em um leito de hospital que percebe a presença da morte ao seu lado, e recebe a visita inesperada de um filho e o neto. Aparentemente não possuíam muita intimidade.
    O encontro, revela a aptidão do doente em questão pela escrita.
    Ocorre uma sobrenatural uma troca de papéis no desfecho arremetido ao início da leitura..

    CONSIDERAÇÕES: Bem estruturado, trazendo uma leitura corrida apesar de palavras menos comuns.
    A primeira leitura visualizei a personagem, sentada, depois me ative ao fato de ela estar de pé (fato que é repetido no final).
    Finalizar o texto com uma recursividade levando o leitor ao início da leitura, foi uma coisa bastante legal.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Luciano, tive essa idéia no arremate. Gostaria de ter trabalhado melhor nisso, mas fico feliz que tenhas percebido. Obrigado.

  4. Gustavo Araujo
    27 de março de 2019

    Resumo: homem desperta após uma cirurgia no hospital e percebe que a morte — personificada em uma mulher ruiva — o espreita; logo chegam o filho e o neto para visitá-lo; eles conversam e o homem na cama revê a própria vida sob o diálogo, arrependendo-se da falta de tempo para o que realmente importa; após adormecer, desperta na poltrona e percebe que quem está no leito é seu filho.

    Impressões: é um conto bem escrito, com excelente escolha de palavras e cuidadosamente desenvolvido. Dá para perceber o esmero do autor ao escrever, a preocupação em empregar o sentido mais adequado possível às elucubrações do narrador-protagonista, inclusive no que se refere ao uso de metáforas, para conferir vida e angústia a seus pensamentos. O problema é que todo esse virtuosismo foi utilizado para narrar uma história clichê, digna dos melhores momentos paulo-coelhísticos da literatura: o homem que no leito de morte revisita sua vida e se arrepende de não ter dedicado mais tempo à família. Confesso que por isso fiquei um tanto decepcionado, afinal o autor escreve bem e poderia ter nos apresentado algo mais original. Outra coisa que me deixou com uma impressão desfavorável da trama foi o uso da máxima expressão dos Deus-ex: no final era tudo um sonho; quem estava lá, está cá. Não creio que o conto precisasse dessa reviravolta, dessa pegadinho “a-há, não contavam com essa, hein?”, mas talvez o autor a tenha utilizado para de alguma foram encaixar o texto no tema proposto no desafio.

    Em suma, posso dizer que gostei muito da parte técnica do conto, da escrita, da gramática, das metáforas, mas me decepcionei um tanto com o uso dos clichês. De todo modo, no geral, é um trabalho de boa qualidade. Tenho certeza de que se o autor liberar-se à ousadia, conseguirá nos entregar algo mais criativo da próxima vez. Em todo caso, parabéns e boa sorte no desafio.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Gustavo, a verdade é que não consigo ficar feliz com a alusão ao Paulo Coelho (snif), mas também não fiquei feliz com a carga excessivamente dramática que concedi ao protagonista. Ficou um tanto piegas e acho que nem o clichê, mas essa pieguice é o grande pecado do meu conto. Enfim, eu tinha ciência disso, mas não consegui me livrar em tempo hábil, ademais, confesso-lhe que em dado momento pensei, “afinal é disso que a galera do Entrecontos parece gostar, que se dane!” (rs). Em contrapartida, fiquei feliz com alguns pontos que outros leitores identificaram, valeu o exercício. Obrigado.

  5. Shay Soares
    27 de março de 2019

    A Dama Rubra – Conto fala sobre um homem no leito de um hospital que desperta com uma presença no quarto que ninguém mais pode ver e que ele interpreta como sendo a morte.

    Só tenho elogios para tecer. Texto muito bem escrito, senti a intensidade dos sentimentos do personagem conforme o desenrolar da cena, narrativa fluída.

    Precisei reler o final algumas vezes para no fim não concluir nada sobre o que realmente aconteceu: ele sonhou? Será que realmente o filho falou dela para o pai? Ou falou só na “primeira” história que pode ter ou não acontecido?

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Shay, obrigado. Não se incomode com suas dúvidas em relação ao arremate. Longe de representarem alguma deficiência de interpretação sua, elas são fruto de algo que plantei deliberadamente, humildemente plagiando o que por vezes fazia o mestre Cortázar.

  6. Gustavo Azure
    25 de março de 2019

    RESUMO: Um homem em seus últimos suspiros recebe a visita de uma mulher misteriosa, supostamente a morte, seu filho e seu neto, fazendo-o ponderar sobre sua vida.

    CONSIDERAÇÕES: Conto incrível! A fluidez do texto é sensacional e as reflexões são profundas. A maneira como se vai revelando os detalhes dos relacionamentos entre pai e filho vai causando um tensão interessante. Tive que parar um pouco para digerir o final. Muito bom mesmo, parabéns!

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Obrigado, Gustavo. Enquanto leitor, não gosto do fácil. Prefiro reler e acabar com aquela sensação de “será que eu realmente entendi?”. O efeito colateral é que, enquanto escritor, fico com aquela sensação de “será que o leitor entenderá”? Abraço.

  7. Paulo Luís
    22 de março de 2019

    Olá, Una Dunvegan, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu conto.

    Resumo: Paciente, em quarto hospitalar, convalescente de uma cirurgia e portador de mal de Parkinson, acorda com a visão da suposta morte. Em seguida recebe a visita de neto e filho. Este promete que agora está se empenhando em publicar seus antigos e esquecidos manuscritos.

    Gramática: A escrita flui corretamente sem problemas de gramática, pelo menos não percebi nada que o desabone.

    Tema/Enredo: Deslumbramento do pensar e visagem são o mesmo que fantasia? Foi o que entendi deste conto. Porque comédia não é mesmo. É um enredo bastante interessante, mas não senti muita firmeza no argumento. No meu entender ele titubeou entre as lucubrações do moribundo com a visão da morte e a suposta realidade dos conflitos entre pai e filho. A meu ver, mesmo que os dois temas possam se entrelaçar num só enredo, mas neste caso não fundamentou em nem um dos dois com eficiência. O desfecho também me pareceu pouco complicado. Aquela que no início se apresenta como a provável morte, no final transforma-se na figura de uma editora de livros?

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Paulo, de fato, no desfecho, pai e filho trocam de lugar. Eis aí o elemento fantasioso. Abraço.

  8. Felipe Takashi
    18 de março de 2019

    Sinopse: O homem está convalescente numa cama de hospital. Em meio a sua dor e agonia ele rememora os tempos que desperdiçou investindo numa frustrada carreira literária. Seus sonhos o acabaram afastando da solidão. Enquanto sua doença avança pelo corpo, ele acaba recebendo a visita das indesejadas da gente.

    Comentário: Foi um ótimo conto. O modo como o autor tratou da experiência alucinógeno do velho doente, causa um choque no leitor, o que nos faz pensar? É real ou uma ilusão. As metáforas e simbologias empregadas são excelentes. Só chamo atenção para os diálogos dentro da narração em primeira pessoa, em caso do autor não querer usar travessão, é preferível que ele revista as falas dos personagens com aspas.

    Lista de contos Felipe Takashi

    1º – A Dama Rubra
    2º- O Dia Em Que Acordei Morto
    3º – Betiron, um Reino
    4º- Os Dois Lados da Penteadeira
    5º- Dezembro
    6º – Sensitu
    7º- Uma Canção Para Nara
    8º – O Animalismo
    9º- Lúcia no Mundo das Coisas
    10º- Passageiro 3J
    11º- Apenas Um Dia Comum

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Felipe, note que o autor do conto vencedor na série B tratou os diálogos de forma similar, sem travessões ou aspas. Autores atuais e consagrados usam esse formato e colegas seus elogiaram justamente isso, afirmando que deixa a narrativa mais “fluída”. Abraço.

  9. Cicero
    18 de março de 2019

    Ao despertar da cirurgia, encontra a morte (a Dama Rubra), silenciosa e discreta. Recebe a visita do filho e do neto. O filho distante que nesse momento volta dedicado e amoroso. Sempre vigiados pela Dama rubra, ele escuta os planos do filho e acha tudo uma grande ironia, pois sabe que vai morrer. Ao final da visita o velho passa mal e nesse momento de angústia as reflexões sobre como a vida e as relações poderiam ter sido diferentes. O conto termina com uma brilhante inversão de perspectiva.

    Considerações: O conto narra os delicados e complicados laços da convivência familiar de uma forma que nos faz pensar se não estamos todos cometendo os mesmos erros daqueles personagens? Dando valor as urgências diárias e esquecendo e relevando a terceiros planos as pessoas queridas e nossos sonhos, ideias, ideais; objetivos de uma vida mais plena.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Obrigado, Cícero!

  10. Sidney Muniz
    14 de março de 2019

    Gostei bastante do início do conto, realmente a narrativa inicial é promissora, me carregou durante boa parte do texto, mas do meio em diante quando pareceu forçar a explicação e concatenar os acontecimentos me perdeu como leitor, a dramaticidade acabou sobrecarregando demais e pesando negativamente.

    O que fica é a certeza que o autor ou autora tem bastante talento e que numa próxima oportunidade, quando eu estiver participando, possa ganhar uma boa pontuação ou indicação minha, pois é de fato um bom ou boa escritor(a).

    Desejo sorte no desafio e sucesso sempre!

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Sidney, concordo contigo quanto à dramaticidade excessiva. Sempre tive consciência dela, não aprecio, mas como disse ao Gustavo, não consegui me livrar disso em tempo hábil (a verdade é que antes de algumas revisões estava ainda pior). Abraço.

  11. Virgílio Gabriel
    13 de março de 2019

    Um senhor está em estado terminal no hospital, sempre vendo uma mulher ruiva em sua sala. Seu filho e neto vêm visitá-lo, e conversam sobre projetos futuros. Ocorre que ao final do conto, o senhor no leito estava apenas cochilando em uma poltrona, e na verdade o seu filho é que estava entubado. Aparentemente o espírito do filho falou com o pai durante o sono. E a mulher no quarto, aparente mente era a esposa escocesa do filho, que a mencionou durante esta epifania.

    Gostei muito do conto, apesar de não conseguir encaixá-lo no tema do desafio. Não me parece algo fantasioso, e claramente também não é uma comédia. Está mais para um drama paranormal. Mesmo assim, fique extremamente feliz em ler. Tem um fundo interessante, e um final completamente inesperado (trunfo do conto). Parabéns!

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Virgílio, se você considerar que, no desfecho, pai e filho trocam de lugar, ou de condição (poucos perceberam isso), o conto se enquadra no realismo mágico, ou fantástico. Abraço e obrigado.

  12. Rocha Pinto
    10 de março de 2019

    Após uma cirurgia vê-a no quarto, supostamente a morte pensou o doente, cabisbaixa. Recebe a visita de dois familiares. Depois de adormecer ela voltou outra vez, despertando-o e cumprimentando-o.

    Enredo agradável para a leitura e muito bem escrito.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Obrigado, Rocha!

  13. André Gonçalves
    10 de março de 2019

    Resumo: O texto se passa em um quarto de hospital e acompanha as reminiscências de um moribundo que se vê prestes a abandonar a existência. É surpreendido com a visita de seu filho, que retornara do exterior para estar ao seu lado, e seu neto, os quais terminam por despertar outras divagações no velho doente. Ao longo do texto permanece a figura feminina personificando a morte que, ao fim, fará acordar o personagem que dormia no sofá e cujo filho encontrava-se no leito.

    Comentário: Olha eu gostei bastante do texto. Possui uma carga emocional bem bacana que é passada com competência, principalmente após a chegada do filho e neto. Percebe-se a amargura e desalento do velho, remoendo seus arrependimentos com uma certa dó de si, apesar de parecer durão, ao dizer que “não era um homem normal”. Transfere em alguma medida para o filho a responsabilidade pelo distanciamento existente entre eles, nota para a dualidade entre o distanciamento físico (filho mora no exterior) marcando o emocional.
    Quando o conto vai do meio para o fim a questão dos manuscritos, da leitura tardia pelo filho, do fato de não ser publicado, poxa, eu senti a melancolia, a sensação de não ter mais tempo em vida, de ver que agora tudo é passado, não há mais nada a fazer… triste.
    A reviravolta no fim foi bem pensada, apesar de um pouco cliché (tudo era um sonho) não retira em nada a categoria que foi articulada. Havia ali, a meu ver, uma segunda chance para aquele que acordou, havia tempo talvez.

    Forma: O conto está bem escrito, com boa correção, linguagem também. Tem ritmo. Nota para o bom desenvolvimento. Apesar de ser partidário de violações às normas linguísticas instituídas, em verdade não consegui compreender o uso do travessão em certas ocasiões, isso porque ele foi usado em contextos diferentes, dando a entender que não foi proposital o uso irregular do sinal. Por exemplo ” – Meus olhos mal começaram a vasculhar o quarto e o encontraram aos pés dela, ao lado da porta.” Acho que está sobrando aí, porque foi a voz do narrador quem “disse” isso. Sugiro uma revisão quanto ao uso desse recurso.

    Outra coisa que chamou minha atenção foi a falta de um ponto de interrogação após a pergunta nas seguintes frases:

    ” Adivinha quem veio, perguntou, após certificar-se de que eu estava acordado.” Interrogação depois da palavra “veio”.

    ” Quem é esse homem, eu me perguntei. ” Interrogação depois de “homem”.

    Parabéns é um belo texto.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      André, 1. não foi tudo um sonho, no desfecho pai e filho trocam de condição. Ela, a dama rubra, aparentemente concede ao protagonista o tempo que ele pediu, mas isso tem um preço, o filho é quem fica doente no lugar dele. 2 “não consegui compreender o uso do travessão em certas ocasiões” esses travessões são de fato hifens e equivalem a parenteses, uma forma de separar as orações dentro dos períodos. Muitos autores usam esse recurso que não tem necessariamente a ver com diálogos. 3. Pra quê ponto de interrogação se o narrador, diz “perguntou meu filho”? 4. Por vezes, o que você chama de “regras”, são apenas convenções e em se tratando de convenções literárias, eu sou sim um violador (rs). Abraço e obrigado.

  14. Ana Carolina Machado
    9 de março de 2019

    Oiiii. Um conto que fala de um paciente internado que ao despertar de uma cirurgia ver uma mulher ruiva que ele acredita ser a morte. Ao longo da história seu filho e neto entram na narrativa assim como reflexões sobre o tempo ser meio tarde para certas coisas, como a leitura dos manuscritos que ele escreveu. No fim descobrimos que a dama ruiva era na verdade, pelo que entendi, a moça escocesa que tinha interesse no livro. O conto tem um clima melancolico e triste principalmente nos momentos em que ele reflete sobre como queria que o filho tivesse lido os manuscritos antes e sobre a doença(mal de Parkinson) que ele escondeu do filho e que tirou a chance dele de continuar escrevendo . No final fiquei um pouco em dúvida, por um momento tive a impressão que o idoso trocou de lugar com o filho, mas não tive certeza. Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Ana, essa é a ideia, eles trocaram sim de lugar. Amém. Alguém entendeu (rs). Obrigado.

  15. Raquel Freitas De Souza Silva
    9 de março de 2019

    pensei tratar-se de outra enfermeira, ou médica. Sorri tentando dissipar o constrangimento que era apenas meu. Indiferente, ela abaixou novamente os olhos para o assoalho e assim permaneceu. Não tardou para que a presença da suposta morte, a mim revelada na figura da mulher sorumbática e ruiva, não me incomodasse mais. Logo ela era tão somente como qualquer outro objeto no quarto, tal qual o abajur frio ou um daqueles pedestais de inox que sustentavam as bolsas de soro. Como ninguém mais apareceu, não tardei a cair novamente no sono. Talvez estivesse ainda sob efeito do anestésico.

    O efeito desse texto me deixou anestesiada… e espero mais dele … estou curiosa para o segundo certame

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      “estou curiosa para o segundo certame” aí, aí! Olha o fardo que arranjei! (rs) Obrigado, Raquel!

  16. Sarah Nascimento
    3 de março de 2019

    No hospital um senhor recebe a visita do filho e do neto.
    Perto da porta há uma mulher que ele encara como sendo a morte.
    Com diálogos e pensamentos descobrimos mais detalhes sobre o relacionamento do pai com o filho e no final, a mulher era uma pessoa comum.

    Interessante a descrição que nos mostra o distanciamento do pai e do filho, ele esconde até os problemas de saúde que ele tinha. Outro ponto que me chamou a atenção foi justamente o fato do senhor se perguntar sobre quem era aquele homem, quem o filho dele tinha se tornado.
    Eu estava intrigada com essa aproximação do garotinho e da mulher que representa a morte. Pensei que o garotinho tinha alguma doença fatal.
    Demorei alguns segundos para perceber que na última cena, quem acorda e vê a mulher é o filho daquele senhor e não ele.
    O final me deixou confusa por alguns momentos. A mulher era só uma mulher mesmo? O pai dele a via de um jeito tão diferente porque ele estava doente?
    Enfim, agora faz sentido parecer que o menino e ela se conheciam.
    Muito interessante a história. Gostei principalmente dessa parte sobre os manuscritos e os pensamentos do senhor sobre o que deveria ou não ter ensinado ao filho.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Ana, você há de concordar que nem mesmo o narrador protagonista tem plena certeza do que vivenciou, certo? Então não se incomode pelas suas dúvidas. O propósito é sim manter um certo nível de dúvida. É supostamente um conto gênero Realismo Mágico, e os autores dessa linha constantemente faziam isso com seus leitores. Obrigado.

  17. jetonon
    28 de fevereiro de 2019

    A DAMA RUBRA
    RESUMO
    Pós cirúrgico; presença de uma pessoa ligada ao estado clínico; presença do filho e do neto; apresentação entre ambos simples e fria; dúvidas; percepção da morte à sua espera; indagação de sucesso pelos escritos e em uma suposta publicação; lembranças e arrependimentos sobre os escritos do pai; confusão entre pai e filho pela terceira pessoa.
    COMENTÁRIOS
    O conto faz uma menção ao final da vida e procura retratar o que se poderia evitar.
    Entretanto, é um tipo de escrita onde se mistura o interlocutor e o emissor sem haver separação. Creio isso ser um pouco confuso.
    Mas, o conto trás uma conotação de reflexão e ao mesmo tempo de percepção da morte no final da vida.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Jetonon, não sei o que você chama de “emissor”, mas sim, até certo ponto o conto é propositadamente confuso, no sentido de que não se pretende fornecer-lhe um entendimento detalhado e seguro dos fatos narrados, em contrapartida, é um conto para ler e reler, ele requer um certo esforço intelectual, um certo nível de concentração e se pretende que isso lhe seja prazeroso. Obrigado.

  18. Paulo Cesar dos Santos
    27 de fevereiro de 2019

    7 – A dama rubra

    Resumo; Este conto tem a mesma vertente de a Dama de negro. Ambos abordam a morte, este fala de um senhor que fez uma cirurgia, escondeu esta de seu filho o quanto, porém um belo dia no hospital vendo a morte e sem perspectiva de ver a família, esta aparece, e seu filho fala de um livro e uma pessoa que o ajudará a editar.
    Considerações; difícil opinar sobre aquilo que você não tem o habito de ler, ou escrever, contudo, é uma historia como qualquer outra. Então, pelo que se passa nela, foi interessante.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Obrigado, Paulo.

  19. Raquel Freitas De Souza Silva
    24 de fevereiro de 2019

    MUITO BOM BELÍSSIMO TEXTO

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Obrigado.

  20. fernanda caleffi barbetta
    22 de fevereiro de 2019

    Num quarto de hospital, um homem acorda e se depara com uma dama ruiva perto da porta. Logo imagina que ela é a morte e que está à sua espera. Algum tempo depois, a enfermeira anuncia duas visitas e o homem se surpreende ao descobrir que são seu filho e seu neto, pessoas com as quais ele não mantinha contato há muito tempo. O filho fala que conversou com os médicos e parece bastante confiante de que o pai se recuperará. Conversam sobre os manuscritos do homem e o filho confessa sentir muito por não tê-los lido anteriormente, prometendo entregar a uma edito em breve. O homem adormece e acorda, não no leito, mas na poltrona ao lado do filho. A dama rubra se aproxima e o cumprimenta, referindo-se ao filho do homem, entubado no leito.

    Comentário
    Gostei bastante do conto. Muito bem escrito, o texto vai nos conduzindo de maneira agradável e ansiosa até um final surpreendente. Leitura leve, apesar do texto exigir bastante atenção para seu entendimento. Muito bom. Parabéns.
    A única coisa é que achei que fugiu um pouco dos temas propostos: fantasia e comédia. Posso estar equivocada quanto à abrangência da categoria fantasia, se for esse o caso, peço desculpas.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Fernanda, 1. propositadamente meu conto (a maioria deles) exige uma concentração maior, um esforço intelectual adicional e é esperado que isso seja prazeroso para o leitor. 2. Nada a desculpar. De fato, a ideia é que, no desfecho, pai e filho trocam de lugar, o que elencaria o conto para o gênero do Realismo Mágico, compreendido como Fantasia. Obrigado.

      • Fernanda Caleffi Barbetta
        2 de abril de 2019

        Sim, foi prazerosa a leitura, como deixei claro.Quando eu escrevi “Leitura leve, apesar do texto exigir bastante atenção para seu entendimento”, eu fiz um contraponto entre leitura leve e enredo complexo. Não foi uma crítica.

  21. Estela Goulart
    21 de fevereiro de 2019

    Resumo: um homem acorda após sua cirurgia e se depara com uma mulher ruiva parada ao quanto do quarto. Ela só pode ser vista por ele, a princípio. Recebe a visita de seu filho e neto, mas, após uma complicação, ambos saem do quarto e o enfermo reflete sobre a vida. Ao fim, descobre-se que tudo não passava de um sonho do pai do enfermo e que a ruiva é a dama rubra, Una.

    Comentários da história: precisei reler várias vezes para finalmente conseguir um mínimo de entendimento sobre quem era quem (risos). Ainda assim, foi difícil e bem desafiador. Creio que não tenha compreendido exatamente, pois comecei achando que o enfermo era o pai velho e amargurado com a vida recebendo a visita do filho e do neto, para depois pensar que o paciente era, na verdade, o filho. O que me deu mais tranquilidade era poder dizer que tudo não passou de sonho. O pai que se vê no lugar do filho doente, refletindo sobre suas próprias dores e mágoas como se ele fosse o enfermo, além de alucinar achando que a dama rubra fosse um ser espiritual. Ela era um espírito ou só a moça que leu os manuscritos? Acho que é isso, na minha interpretação. Foi uma baita sacada. Apesar disso, poderia ter aprofundado mais ou estendido algumas explicações, sem perder o mistério. Apenas porque, de início, as pessoas podem ficar confusas. Mas também pode ter sido apenas uma dificuldade minha, não sei ao certo. Ainda assim, foi uma boa ideia.

    Comentários da narrativa: nada a comentar. Senti ela fluir e achei interessante o modo como os diálogos transcorreram. Sem pontuação e simplesmente imersos dentro dos parágrafos, deu mais fluxo à narrativa. Também gostei da sua descrição no primeiro parágrafo. Impecável. No entanto, como mencionei acima, poderia ter trabalhado melhor em como contar ao leitor o que estava acontecendo.

    Comentários da gramática: não vi muitos erros, coisas bobas e pequenas que não interferiram em nada na história. Apenas aconselho revisar uma ou duas vezes antes de enviar os próximos contos.

    • Cirineu Pereira
      31 de março de 2019

      Estela, 1. de fato, ao final, o pai troca de lugar com o filho (que fica acamado, enquanto o pai passa a gozar de plena saúde). 2. “Ela era um espírito ou só a moça que leu os manuscritos?” Eu mesmo não tenho essa resposta, nem era intenção que vocês a conseguissem. 3 “achei interessante o modo como os diálogos transcorreram. Sem pontuação e simplesmente imersos dentro dos parágrafos, deu mais fluxo à narrativa”, que bom. O vencedor da série B coincidentemente usou do mesmo recurso que, aliás, é usado por alguns autores modernos. A literatura evolui, não devemos ficar presos às velhas convenções. 4. Não, não desejei entregar-lhes um texto fácil. A idéia é que sintam necessidade de interromper a leitura, voltar alguns parágrafos, reler o conto todo, que espremam os cérebros e, ainda assim, sintam prazer nisso. Muitos autores têm trabalhado dessa forma. Enfim, considero sua leitura proveitosa e diria que você é, apesar das dificuldades que você mesma admitiu, o tipo de leitora que eu miro. Muitíssimo obrigado.

  22. Elisa Ribeiro
    20 de fevereiro de 2019

    Idoso que se recupera de uma cirurgia recebe no hospital a visita de filho e neto, com os quais não mantinha contato, e de uma misteriosa mulher que ele supõe tratar-se de uma versão moderna e colorida da “Morte”. Ao final, as expectativas se subvertem no desfecho surpreendente e fantástico.

    O elemento de fantasia surge ao final, no flerte com o subgênero fantástico.

    O estilo é envolvente e adequado ao enredo. Há alguns períodos longos que não posso criticar, pois também gosto de usá-los. Demonstram o domínio da língua por parte do autor, testam e obrigam a atenção e o engajamento do leitor. Só para os fortes! Linguagem boa, sem detalhes com a gramática, o texto está muito bem revisado.

    “O garoto, como um novilho de rodeio”, “abraçou-me como quem toca uma bolha de sabão”, adorei as imagens!

    Gostei do seu texto. Não é uma história espetacular mas está bem construída e narrada. Uma boa leitura, divertida e inteligente. Parabéns e boa sorte! Um abraço!

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Informação

Publicado às 17 de fevereiro de 2019 por em Liga 2019 - Rodada 1, Série C-Final, Série C1 e marcado .
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