A forma como o céu se coloria com um azul quase negro indicava que já passara das dez horas há algum tempo. Havia um cheiro dos manguezais, trazido pela corrente de vento que vinha assanhar cabelos e levantar saias, misturado com um cigarro queimando numa esquina mal iluminada e com a cerveja derramando na ponta da rua, no lado oposto à banca de frutas de D. Dina, que só descia a lona quando o último ousado se arriscava a passar por aquela rua sinistra. André caminhava, entre cigarros, cerveja derramada e tenda fechada, por aquela rua, carregando cansaço, fome e sono, exatamente às dez e vinte e dois numa noite de quinta-feira.
Num outro ponto da cidade calorenta, com o céu de mesma cor, o vento não aparecia e nem carregava odor nenhum – na verdade, os prédios altos e elegantes não deixavam que o ar circulasse muito por ali e o clima era notoriamente abafado. Duas cafeterias vizinhas estavam, cada uma, com dois casais provando bolos de chocolate com recheio de morango e apenas um par, na cafeteria que não aceitava cartão, sorria um para o outro. Às dez e vinte, Laysa dobrou a esquina que dava para a rua das confeitarias. Caminhou dois minutos suando, percebendo a falta de ar quando passou pela calçada onde comiam os apaixonados que se sorriam. Laysa, às dez e vinte dois, sentiu saudade do seu amor.
A rua esquisita revelava diversos prédios de quatro andares, a maioria deles com a pintura descascada e o musgo manchando algumas janelas dos andares próximos do topo. O porteiro entediava-se na sua função desde os dez minutos após assumir o turno e ouvia, através de um rádio prata que mais chiava do que falava, a partida dos estaduais. Um gato passou por entre grades brancas recém pintadas e foi logo apanhado pelos braços magros e cheios de pelinhos negros de Isabel, que chegava da faculdade naquele horário. Ela amansou o felino no seu colo e sorriu para o porteiro Alberto.
– Seu Alberto, que horas são? – Isabel perguntou, segurando a maçaneta de metal do portão individual. Ele pigarreou, com um certo mau gosto.
– Dez e vinte e dois. – Com a secura de Alberto, pelos marrons de gato na sua blusa branca manchada de mostarda, Isabel entrou no condomínio, com uma mochila pesada e uma marmita vazia.
O celular de André vibrou por dentro da sua calça – ele acabara de pagar a segunda prestação e sempre o escondia quando precisava voltar tarde para casa, pois já havia sido assaltado duas vezes no último ano. Apesar disso, não tinha muito o que reclamar: vivia só, bebia ocasionalmente e sempre ouvia música, do instante em que acordava até decidir por deitar-se. André costumava discursar, no único circulo de amigos, que o silêncio era demasiado barulhento para seus ouvidos e que a única coisa potencialmente capaz de calar esse barulho era a música – as vozes, os instrumentos tocados por mãos humanas… André costumava dizer que a música era o contato de homem com homem através da arte e das sensações. André amava gente, arte e sentir.
Laysa sacou seu celular com a tela trincada rapidamente, quando parou numa padaria pequena e bem iluminada. Enviou uma mensagem para sua mãe, avisando que já estaria em casa; em seguida, respondeu Amália, que enviara um grande achado musical e que ela precisava ouvir: disse-lhe que ouviria assim que pudesse e foi amável ao confessar a saudade que sentira há poucos instantes, quando passou pelo casal sorridente – Laysa olhou as mensagens e Amália sequer as recebeu. Só saberia da sua saudade muito mais tarde, quando talvez sentisse também. Laysa entrou na padaria, sorriu ao senhor baixinho de mãos grossas e pediu sonhos. Cinco sonhos couberam numa bolsa pequena de papel e Laysa acabou por ter que segurar um sorrisinho pela ideia de sonhos estarem amontoados em um saco de papel. Os sonhos dela não cabiam sequer no seu corpo alto.
Isabel parou um instante fora do edifício sete e foi checar a área de ração dos gatos que perambulavam pelo estacionamento. Visto que tinha água limpa e ração nos recipientes, ela colocou o gato no chão e refez o caminho de volta, dessa vez indo para dentro do edifício. A senhora do cento e três sorriu para ela, descendo as escadas com tênis de corrida e indo até a academia, vazia naquele horário. Isabel decidiu não ter pressa ao subir os três lances de escadas e tirou o fone embolado da sua mochila. Pôs no aleatório e foi surpreendida com a sua música favorita. Na metade do terceiro lance, Isabel cantava que nem um homem, sua casa e nem sua carne lhe definiam.
André dobrou a última esquina do seu trajeto e sentiu uma gota quente de suor descer pela curva funda das suas costas. Era uma noite extremamente abafada e o suor lhe roubava as forças. Ele ouviu uma mãe gritar por seus filhos que brincavam no escuro da rua, o mais novo correu de volta para pegar a bola murcha esquecida no meio fio e a porta se fechou: só havia silêncio, escuro e um corpo negro suado a dar passos tensos. André se sentia atordoado e angustiado. Não sabia mais identificar as horas pela cor do céu e seu relógio parara, de repente. O tic tac também optara por abandonar André e o faria mergulhar num ensurdecedor caminho silencioso.
Laysa morava longe do local onde trabalhava e sempre voltava de ônibus, mas essa noite estava disposta a andar e se sentia livre. Há alguns dias vinha conciliando muito bem trabalho, família e relacionamentos. A sensação de manter tudo num equilíbrio ideal movia os passos da mulher que só tomara, em sua vida, decisões difíceis e conflituosas. Seu corpo de vermelho dobrou a esquina, desviou de um cachorro amolecido e doente na rua e firmou os passos para os cinco minutos finais de caminhada até sua casa. Laysa foi tomada por uma repulsa esquisita, inesperada. Ela olhou para cima e tentou localizar a lua: não a via, nem tampouco haviam estrelas. Laysa se sentiu só e desamparada, com sonhos nas mãos e com a ausência de Amália, que não sabia da sua saudade.
Isabel se sentia esplêndida, embora cansada. Chegou ao seu andar em uma música e meia e antes de entrar em sua casa, abriu as mensagens de um rapaz que supunha gostar. Carlos enviara um áudio de dois minutos, trinta minutos depois dela deixar a faculdade e ele. Ela gravou um curtinho, avisando que ouviria antes de dormir e que acabara de chegar em casa, bem. Ele logo ouviu. Mandou algumas flores e ela sorriu, meio sem jeito com o afeto que vinha do outro. Isabel bloqueou a tela do celular e guardou-o no bolso esquerdo, após tirar dele o chaveiro de concha para abrir a porta. Não foi preciso giro nenhum: a porta estava aberta. Isabel sentiu suas pernas fraquejarem no mesmo instante em que um bolo quente e fervente subiu à sua garganta.
André ouviu passos atrás de si e o suor gelado agora queimava sua pele. Não arriscava olhar para trás e tentava se manter aparentemente confiante, pisando duro e olhado sempre reto para o fim da rua. Olhou nervosamente para seu relógio parado e caminhou para o lado oposto da rua, onde corria esgoto livremente, de dia à noite; ouviu alguns cochichos e os pés, que ele suponha serem quatro, lhe acompanharam no cruzar da rua. André estava perto de não conseguir esconder seu nervosismo e a tensão, sua respiração fazia mais barulho do que as risadas dos dois homens que seguiam ele. Eles falavam-se com um tom de expiação e preparo de ataque. Era o que André pensava, por entre o medo, o suor e o desespero. Ele pensou que correr não seria uma boa opção, mas precisava acelerar o passo e chegar mais rápido na casa verde 212.
– Ei, neguinho. – André ouviu e não se virou. Seus olhos lacrimejaram e ele enxugou as mãos na calça jeans gasta.
– Olha que a gente já não gosta de preto ainda mais preto marrento. – Nada, nenhum movimento além do andar reto de André.
– Para agora, negro! Pare aí. – a segunda voz ordenou, em tom alto.
André correu.
Laysa atravessou a última rua e entrou na sua, enxergando de longe a luz do poste em frente a sua casa, que ficava no final da rua, já sem asfalto e com alguns tufos de mato crescido. De um beco entre casas maiores, saíram dois rapazes mais altos que ela.
– Olha só, que delícia! Tu não devia sair de casa uma hora dessa. Vem aqui ver como você me deixou com esse vestidinho.
Laysa só andou, assim como André fez. Não sentiu medo, estava firme. Ouviu insinuações mais pesadas e apressou o passo, levemente.
– Deixa quieto, cara. Você sabe que ela gosta de outra coisa.
– Isso é fácil de corrigir, cara.
Risadas. Corpos se aproximando. Laysa se virou para responder e deu de cara com o sujeito, que lhe disse algumas outras palavras que ela não ouviu. Ela não pode reagir, seu corpo foi puxado pro escuro dentro do escuro; o grito dela foi abafado e os sonhos de Laysa, que dividiria com sua mãe, foram lançados numa poça.
Laysa não teve como correr.
Isabel entrou dentro do apartamento branco-sujo e correu para desligar o fogão que aquecia há muito tempo uma panela vazia, já queimada. Uma garrafa de água estava derramada no chão e ela jogou um tapete fininho em cima dela; o sofá estava sem as almofadas do encosto e a televisão desligada. O celular da sua mãe, Célia, estava jogado dentro de um copo com água e sabão na pia, da mesma forma como terminavam outras discussões dela com o marido. Isabel entrou em desespero.
– Mãe? Mãe você está aqui?
Ela andava com cuidado, sem saber bem o porquê. A porta do único banheiro do apartamento estava escancarada e o espelho colado na parede pelas duas, no dia seguinte a mudança, quebrado. Haviam gotas de sangue na pia amarelada. Isabel gritou pela mãe e se descobrira em prantos. Correu até o quarto, gritando. Achou a mãe com a testa rasgada, com pedaços do espelho entre os fios pretos do cabelo curto.
Célia também não correu. E nem pode mais responder a sua filha.
O tom do céu era, agora, cor de quase onze, cor de madrugada que se aproxima. A noite era quente em todo e qualquer local naquela cidade. O vento desaparece sempre depois das dez e cinquenta – ele deixa de perambular, de fazer mexer as folhas das árvores, cabelos e vestidos. O vento das dez some e dá lugar ao barulho do silêncio das onze, que se transformará em caos, à meia noite.
Faltavam dois minutos para as onze quando André não resistiu ao último golpe em sua cabeça. Ele perdera as contas enquanto ouvia a motivação dos homens que lhe chutavam todo o corpo; ele ouvira o rapaz de branco manusear de uma arma e a repreensão do outro. E então veio o pontapé na nuca.
Faltavam dois minutos para as onze quando Laysa, com o sabor metálico de sangue na boca, ao tentar se sair dos corpos que lhe agrediam, sentiu uma coisa quente dentro dela. Os rapazes se entreolharam e correram, levantando as bermudas, quando Laysa caiu no chão sujo do beco, por cima da faca.
Faltavam dois minutos para as onze quando Isabel catou do cabelo da mãe os pedaços de espelho. Ela colocou a cabeça da mãe no colo, sentiu um estilhaço furar sua pele e tampouco se importou. A mãe morta pesava mais do que aquele vidro contra sua pele fina. Célia, com os olhos espantados e mortos, não sentia a dor da filha.
Às onze, já não havia vento sequer. Só silêncio.
E no silêncio corria barulhento o sangue vermelho de André, Laysa e Célia. Um barulho estrondoso de revolta, injustiça. De corpos que não valem.
Com atraso, li o conto. Por mais de uma vez fui pego pela lembrança de não tê-lo lido. Uma falta de consideração, a julgar pela nossa amizade e pelo fato de eu a ter convidado para o desafio. Lembro-me de que até me revelou o título do conto sem querer. Mas está lido, enfim. Darei algumas impressões que espero não poluir com o tom avaliativo que geralmente acompanha as leituras nos desafios.
São três histórias e três personagens, tudo unido pelo fio das violências de raça e gênero. O impacto, que já se encontra só pela verossimilhança na crueza das situações, é realçado pela escrita cuidadosa. Descreve-se muito (e, se não tivesse funcionado tão bem, eu reclamaria que se descreve demais), mas, com isso, fica garantida uma imersão nos cenários e nos personagens. O cuidado que mencionei é justamente nos parágrafos que nos fazem saber da cor do rádio do porteiro, das mãos do padeiro, mas, ao mesmo tempo, nos caracteriza os personagens, informando de quem e de que gostam, dos anseios que têm e, mais para o final, do medo e do perigo que correm. O estilo descritivo dá força ao clímax, nos fazendo partilhar a angústia pela qual os personagens passam. Aliás, mais para o final as descrições dão lugar a uma narração mais preocupada com a ação, dando uma velocidade alarmante ao conto que, mais uma vez, dá verossimilhança à forma como situações violentas transcorrem. Tudo é muito rápido, ocorrendo poucos minutos depois das 22:22. Como desde o início há uma preocupação em nos informar que cada um dos recortes é simultâneo, um a um vamos assistindo aos personagens perdendo o fôlego diante das violências que sofrem. Como não se lê tudo ao mesmo tempo, ainda resta alguma esperança, mas, passando de personagem em personagem, essa logo morre junto deles – julgando como uma espécie de morte o luto pelo qual passará Isabel, claro.
Os mesmos detalhes que nos apresentam personagens cativantes os encerram em um final impactante e violento. Quando procurei pelo conto, vim pelo nome porque o título em si já instiga. Depois de dois anos, não o esqueci. Agora sei que lembrarei do conto também pela estória que conta.
Oiiii. Um conto que acompanha Laysa, André e Isabel na sua volta para casa já meio tarde da noite. Desde o começo sentimos que algo vai ocorrer. Laysa pensa na sua vida amorosa ao passar por uma cafeteria onde estavam alguns casais. André enquanto andava e depois do seu telefone vibrar pensa em quanto ele gostava de música, em como ele sentia as coisas através dela. Laysa para em uma padaria e compra sonhos nesse momento a sensação de que ela corre perigo e que algo vai ocorrer com ela cresce e a cena parece carregar uma certa melanconia sobre sonhos que cabem em um saco de papel. Isabel segue até o seu apartamento cantando sua música favorita sem saber que encontraria no apartamento a mãe morta. A sensação de que algo vai ocorrer se transforma em certeza no momento em que André passa a ser seguido por dois rapazes racistas e Laysa passa a ser seguida por dois homens mal intencionados. No fim André tenta fugir mas acaba morrendo devido as agressões e Laysa tentando fugir dos homens que queriam abusar dela termina ferida pela faca. Isabel coloca o corpo da mãe em seu colo e sente o pesar. Um conto forte e intenso que no fim deixa um nó na garganta e o barulho dos corpos parece ecoar ainda mais fortes pedindo de forma insistente por justiça. O que deixa tudo mais triste é o fato de sabermos que infelizmente os perigos mostrados no conto serem reais e que passos seguindo durante a noite podem representar o fim de sonhos. Parabéns pelo conto. Abraços e boa sorte no desafio.
RESUMO
André, Laysa e Isabel são pessoas distintas que sofrem ataques diretos ou indiretos contra a sua vida, resultando em morte.
A história nos leva com eles, os três personagens-chave, em sua última jornada.
André é negro e é atacado por brancos racistas quando voltava para casa. Morre espancado.
Laysa é lésbica e é atacada por dois estrupadores, que a matam sem querer com uma faca.
Isabel encontra a mãe morta pelo pai agressor ao chegar em casa.
MINHA OPINIÃO
É um texto que mexe com a gente, sem dúvidas. Muito boa a ideia de separar três indivíduos distintos para no fim convergir suas histórias em um só contexto, a morte.
Seu texto me trouxe algo como uma reflexão sobre o quanto vale, realmente, a vida. O quanto ela é frágil e como existem pessoas que, no ápice do egoísmo humano, não dão valor nenhum à vida do próximo.
É algo a se pensar… as vezes sequer podemos acreditar que um ser humano (um igual a você ou a mim) seja capaz de uma coisa tão horrível como tirar a vida de alguém. Eu não tenho coragem sequer de furar uma fila… pensar em acabar com a vida de alguém torna=se algo quase inimaginável. Por isso a realidade é tão cruel.
Obrigado pelo texto reflexivo.
Um ótimo trabalho.
Olá!
Tudo bem?
Essa é uma narrativa que dá um soco em nosso estômago. Um conto que aborda a violência que assola nossas cidades.
A leitura é carregada e forte. O enredo se desenha de uma forma um tanto previsível. Ainda assim, esse não é um aspecto que prejudica o conto. A técnica de escrita é muito boa, prendendo a atenção do leitor.
Para mim, o que mais me marcou no conto é a falta de esclarecimento. Por exemplo, André foi morto pelo simples fato de ser negro?
Perdão, tive que continuar aqui meu comentário…
E quanto a Célia? Por que foi morta? Essa falta de respostas me mostra uma das mais evidentes características do sistema judiciário: a evidente impunidade. E isso o(a) autor(a) conseguiu trazer para a narrativa com sucesso.
Bom, esse conto é muito bom! Parabéns pelo trabalho!
O barulho dos corpos que não valem
Síntese
A narrativa aborda a violência paralela, simultânea e fortuita na vida de três personagens sem qualquer ligação entre eles. André que é negro, mora só, ouve música sempre que pode por não suportar o silêncio e, à noite, volta a pé para casa. Laysa é alta, lésbica, está apaixonada, passa numa confeitaria para comprar sonhos e volta andando para casa. Isabel mora com a mãe, chega no edifício em que reside, mas antes de entrar fala brevemente com o porteiro e checa a ração dos gatos. André é seguido e, agredido por dois homens, não resiste à violência do último golpe. Laysa, seguida, agredida e estuprada por dois rapazes, morre esfaqueada. Isabel, ao adentrar o apartamento, encontra a porta aberta e, no interior deste, a mãe morta, provavelmente por invasores.
Análise
Um conto com formato moderno que, ao intercalar a narrativa entre personagens que não possuem qualquer relação, cria e acentua a atmosfera de suspense a cada pausa narrativa. Entre suas virtudes, a crítica social implícita – a violência nas grandes cidades, por vezes movida apenas pelo preconceito, pela lei do supostamente mais forte. Também a criação dos cenários, com descrições que envolvem sons, cores e odores da noite urbana, é elogiável. Tão pouco a construção dos personagens, fazendo uso de citações indiretas pertinentes aos seus pensamentos, passados, gostos e desgostos, é menos eficaz.
Não obstante, haveria de se interligar as descrições referentes aos cenários aos personagens que os habitam. Assim, seria André a sentir o cheiro dos manguezais, Laysa a ponderar sobre a ausência de vento e Isabel a notar o musgo nas janelas dos prédios de quatro andares. De certo, a narrativa em tempo presente (ao invés do pretérito) colaboraria ainda mais para a imersão do leitor nos contextos de cada personagem. Por fim, o autor também peca pela construção das frases, por vezes demasiado longas e com pontuação questionável. Penso que o conto pede um tanto mais de poesia, de poesia urbana, em sua prosa. Enfim, não obstante meus poréns, parece-me um dos melhores do certame até aqui.
André, Laysa e Isabel fazem atos cotidianos. André e Laysa voltam para casa e Isabel está em seu prédio. O conto insinua que algo vai acontecer. André é espancado e morto por ser negro. Laysa, que o conto insinua ser gay, é estuprada e morta com uma facada. A mãe de Isabel morre. O conto trata de mortes de pessoas a quem não é dada importância. Corpos que não valem. Muito bom o conto. Só o último parágrafo é desnecessária e excessivamente didático. O título e a história já deixam evidente para o leitor a critica do conto. Claro que isso no meu ver. É também possível e, ás vezes, necessário ser didático e direto para não deixar dúvidas.
🗒 Resumo: um trio de protagonistas caminha pela cidade noturna e, cada um a sua maneira, sofre com a violência urbana: André é espancado até a morte, Laysa é estuprada e morta e Isabel vê sua mãe falecida ao chegar em casa.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): a ideia de narrar três histórias semelhantes que ocorrem ao mesmo tempo na mesma cidade é interessante e o final impactante é bom. Mas há dois problemas que podem ser facilmente resolvidos e me desconectaram da trama:
▪ Excesso de detalhes nas cenas: as descrições e detalhes, em boas quantidades, deixam as cenas mais bonitas, mas em excesso começam a cansar. Por exemplo, qual a utilidade para a trama, de saber que o gato cruzou uma grade recém pintada de branco, ou que dois casais comiam bolo de chocolate com recheio de morango? Se fossem só essas passagens, não incomodariam, mas ela acabaram se acumulando, principalmente no início, deixando o texto muito denso, meio meloso.
▪ Muitos personagens com nomes: quando um conto (ou mesmo um romance) dá nome a um personagem, nosso cérebro já reserva a ele um lugar especial, pois será importante para a trama. Quando o terceiro nome surge, já começa a confundir. Tive que voltar umas três vezes qdo um novo nome surgia para saber se ele já tinha aparecido. O nome da mãe de Isabel, Célia, só aparece depois que descobrimos que ela está morta. Assim como o nome do porteiro, saber deles mais atrapalhou que ajudou.
Fora esses problemas, removendo alguns excessos e organizando melhor a disposição das histórias (talvez separando cada personagem com um “***”), marcando bem onde começa e onde termina cada parte, ficará menos confuso e poderemos focar no mais importante: o triste destino nos protagonistas.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): é boa, o autor tem talento para desenhar cenas na nossa mente. Só precisa trabalhar os excessos, como já disse, e evitar frases muito grandes.
▪ Havia um cheiro dos manguezais, (…), que só descia a lona quando o último ousado se arriscava a passar por aquela rua sinistra. (frase muito grande, pode ser quebrada em duas ou três)
▪ Ela não *pode* reagir (pôde)
💡 Criatividade (⭐⭐▫): violência urbana infelizmente é um tema comum, mas a forma como foi contada e os personagens bem descritos dão personalidade ao conto.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫): o impacto do texto é forte. A parte que remete ao título encerra bem, de forma melancólica, com uma boa reflexão de “corpos que não valem”. Percebi um esforço do autor em desenvolver cada personagem e nos conectar a eles para que o fim funcionasse bem. Em alguns casos, funcionou comigo, em outros não. Como eram três personagens principais (e muitos secundários), não consegui me apegar tanto a eles. Laysa eu entendi mais, mas André e Isabel não sei muito deles exceto suas andanças naquela noite. Dar mais camadas aos personagens, seus sentimentos, suas fraquezas, são coisas que aumentam nossa conexão com eles.
Enfim, escrevi muito porque gostei do conto e vi que, com alguns pequenos ajustes, tende a ser um conto excelente.
Três pessoas, André, Laysa e Célia são brutalmente assassinadas; André por motivos racistas, Laysa após um estupro e Célia depois de uma discussão com o marido.
O conto retrata a violência urbana, cada vez mais desenfreada, no estilo de Rubem Fonseca e seus “herdeiros”, Daniel Galera, José Rezende Jr., etc. O Autor revela excelente capacidade descritiva de paisagens e situações, que mantém o leitor atento, mesmo na ausência de diálogos. Destaque no conto para o ritmo crescente de ação e o suspense.
Erros:
recém pintadas >> recém-pintadas
circulo de amigos >> círculo de amigos
respondeu Amália >> respondeu a Amália
Haviam gotas de sangue na pia amarelada >> Havia gotas de sangue na pia amarelada
Isabel gritou pela mãe e se descobrira em prantos >> mistura de tempos verbais
Frase de destaque:
“seu corpo foi puxado pro escuro dentro do escuro”
Reflexão:
Algo que sempre me chamou a atenção nesses contos é: qual seria o propósito do autor? Creio que não é o caso do autor aqui, mas já vi o tema da violência urbana em músicas de Chico Buarque, poemas de Ferreira Gullar… e no entanto, esses escritores sempre me pareceram, digamos, hesitantes, quando se propõe medidas enérgicas contra a criminalidade. Bem, acho que por terem sido perseguidos pela ditadura, ficaram meio incrédulos para com o sistema… O que parece é que Chico e Caetano querem que o crime seja combatido, mas não pela polícia.
Conto hiper-realista que conta a história dos últimos momentos de três vítimas de violência. Laysa,vítima de estupro e assassinada; André vítima de racismo; Célia, vítima de violência doméstica. A narração segue a orientação de quem tem experiência no assunto, com descrições primorosas que me pareceram algo excessivas. Depois somos apresentados às personagens, cada um seguindo o seu
caminho. Ficamos sempre à espera de ver pontos de contacto entre as histórias. Só na conclusão vemos que o único ponto de contacto é a estupidez de uma morte violenta e sem sentido. Como se alguma vez a morte fizesse sentido.
O conto traz três histórias, com eventos ocorridos dentro do mesmo tempo: quinta feira, entre dez e onze horas. O destino destes personagens não se cruza, o que os une é a simultaneidade temporal e os sentimentos despertados de “revolta e injustiça”, tristeza e indignação.
O(a) autor(a) usa as três histórias para revisitar preconceitos:
– contra o racismo – André é um negro assaltado na rua, perto de casa; recebe pontapés e socos até a morte;
– contra o homossexualismo – Laysa é uma lésbica, que é estuprada também na rua, já quase em casa e, depois é esfaqueada;
– contra a violência doméstica – Isabel encontra a mãe, Célia, morta com indicações de que ela havia brigado com o pai.
Apesar desse tipo de argumentação, evita-se elegantemente aspectos políticos e sociais, preferindo o aspecto mais humano dos fatos ocorridos.
Em construção paralela, a narrativa vai e volta entre os três conflitos, sugerindo que as ações são simultâneas e estão relacionadas. A estrutura textual compõe-se de seis partes: apresentação dos três ambientes, os protagonistas, o uso dos celulares e envolvimentos com música para caracterizar os personagens, pressentimentos ruins, a violência, e o epílogo com as mortes. Cada parte é congelada em um determinado ponto no tempo, no espaço de uma hora, em montagem alternada que possibilita ao leitor criar significados, estabelecer comparações, construir uma narrativa com esses acontecimentos alternados, ditar o ritmo, trabalhar com elipses.
Considero alguns aspectos dessa técnica bastante complexos, pela forma como dilatam o ritmo e pela atenção que fica dividida entre as tramas paralelas que mostram múltiplas perspectivas. A construção da tensão e o entender da motivação dos personagens acabam confusas para os jovens leitores, ao pular entre linhas das histórias consecutivas e dos múltiplos espaços, personagens e nomes próprios em excesso. Perde-se o impacto final.
No conjunto, texto bem escrito, personagens bem construídos e cenas claras deixam a leitura fluir, com as ressalvas acima. A ambientação apresenta elementos comuns do drama, mas traduzida em figuras de linguagem criativas e a tramas lineares, fechadinhas agradam. Estilo e temática acabam por se fundir apesar da pluralidade.
Parabéns pelo trabalho bem articulado! Abraço.
Observações: Muito, muito bom. Acho que houve uns percalços na digitação, sim, mas nem deu para dar conta deles. Usando o célebre lema de um outro entrecontista: Outstanding.
Prémio “Entrelaçados”
Resumo: Três histórias contadas em paralelo, mas que nunca se tocam. André, Laysa e Isabel têm em comum um arremate trágico, em que a morte os espera.
Impressões: Gostei deste conto, especialmente pela ambientação que é dada a cada personagem. O clima urbano, opressor ao máximo, é perceptível em cada linha, num crescendo que vai sufocando o leitor. Esse é um efeito e tanto, que nem todo mundo que escreve consegue impor ao texto. De fato, as três narrativas começam um tanto arrastadas, mas lá pela metade ganham velocidade e quando percebemos, já estamos correndo os olhos com aquela angústia típica de quem deseja, a todo custo, “saber como isso tudo vai terminar”. Os desfechos ficaram bons, à altura da expectativa criada. Nem todos os protagonistas morreram — como eu imaginava que iria acontecer — mas mesmo assim o clima lúgubre acabou prevalecendo: o assalto, o estupro, os cacos do espelho (o que pode ser lido de muitas formas). Eu imaginava que as histórias se encontrariam no final do texto, mas o autor optou pela saída mais inteligente, que foi não optar pelo clichê. O único liame foi a morte e por aí parou, o que foi ótimo. Apreciei também a maneira como os personagens foram descritos, fazendo com que em determinados momentos eu torcesse por uma conclusão mais feliz para eles, ainda que no fundo soubesse que não seria assim. Creio ser isso uma grande qualidade: o leitor sabe como será o final, mas mesmo assim lê e torce para que de alguma forma essa percepção prévia não se confirme. As construções frasais também ficaram boas, mas alguns pontos gramaticais merecem revisão, especialmente quanto ao uso do verbo haver. No geral, em todo caso, o conto me agradou bastante. Para falar a verdade, dos que li até agora — já estamos na terceira rodada — foi o que mais gostei. Parabéns à pessoa que escreveu! Boa sorte no desafio!
Resumo: a vida de pessoas que marcaram um encontro com a morte para aquele dia, aquela noite, mas ainda não sabem. Acompanhamos o trajeto destas pessoas pela rua, e cada uma delas se depara com um diferente conflito: o racismo, a violência sexual contra a mulher, e a violência doméstica. No fim, très pessoas “sem nenhuma importância para o mundo” estão mortas – A mãe de Isabel, Laysa e André.
Acabei de ler um conto leve e divertido, daí pego o seu que é denso, com períodos compridos, estórias que se entrelaçam sobre pessoas que vão morrer ou acabaram de morrer. O texto tem grande beleza mas a escrita eu achei muito truncada, tanto que precisei ler mais de uma vez para ter a exata compreensão dos fatos, coisa que foi um pouco agravado pela quantidade de personagens e tramas que vc colocou. Nem estou reclamando disso, já que eu mesma utilizo este recurso, apenas achei que quando vc investe neste formato, deve fazer tudo para que cada trama tenha o máximo de fluidez. Uma pena que vc tenha investido mais em descrições detalhadas para dar lirismo, realismo, e beleza ao conto, acabou ficando confuso e penoso para mim. Fora isso, não encontrei outros problemas em seu conto. Tudo de bom e boa noite.
Três personagens com três recortes diferentes e também iguais. Um rapaz negro tenta chegar em casa, mas é espancado e morto por racistas. Uma garota homoafetiva também tenta chegar em casa, sente saudades do namorado. Na rua de casa, é estuprada e morta. A outra personagem trata-se de uma transsexual que, ao chegar em casa, depara-se com a mãe morta. Ao fim o sangue dos corpos que nada valem escoa para a mesma vala comum.
Conto que aborda um tema bastante delicado: o descaso com a população de minorias, e antes que digam que “essas minorias às vezes são maiorias, urrrr durrrr”, minoria trata de uma camada minoritária em relação à representatividade política, nada tem a ver com número de pessoas, por favor.
O texto recorta três momentos da vida de três pessoas, busca por meio deste pequeno caminho percorrido por eles, mostrar como um único momento pode destruir uma vida por diferenças mesquinhas. A abordagem foi bastante ousada, pois tentar aproximar TRÊS perosnagens em relação ao leitor, num texto que só permite 2000 palavras é praticamente impossível.
Este talvez tenha sido o maior erro, pois sem a empatia por eles, o conto torna-se esquemático, ainda mais numa narrativa que preza tanto pelas ações encadeadas. Por isso, mesmo dentro deste universo com temática densa, a conclusão do conto acabou perdendo sua função catártica.
RESUMO:
Em uma hora, três vidas são observadas: André, Laysa e Isabel. Os três estão voltando para casa, cada um com suas preocupações. André é perseguido por racistas, que acabam espancando o rapaz até a morte. Morre por ser negro. Laysa é encurralada por homens que a estrupam e matam. Morre por ser mulher e lésbica.
Isabel volta da faculdade e encontra a mãe, Célia, morta, com estilhaços de espelho na cabeça. Não entendi direito por que ela morreu, mas foi triste. André correu, Laysa não teve como correr e Célia não correu.Três corpos deixam a vida: André, Laysa e Célia. Três corpos que, ao que parece, não valem nada para a sociedade. O barulho é causado pela revolta pela injustiça social.
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O título chama a atenção e desperta a curiosidade. A narração inicia-se com muita descrição do ambiente, da rotina dos personagens, sem se deter muito na sua caracterização.
A linguagem é clara, sem rebuscamento desnecessário. Algumas passagens possuem forte carga emocional, chegando a ser quase poética.Por exemplo: […] seu corpo foi puxado pro escuro dentro do escuro. Já a descrição das cores do céu e do clima da cidade não funcionou muito bem para mim.
Encontrei algumas falhas de revisão:
– […] tampouco haviam estrelas > tampouco HAVIA estrelas. (O verbo HAVER no sentido de EXISTIR, fica sempre no singular impessoal)
– […] Isabel entrou dentro do apartamento > Isabel entrou no apartamento (entrar dentro é redundância)
– E nem pode mais responder […] > E nem PÔDE mais responder ( o verbo PODER no pretérito perfeito recebe acento circunflexo para diferenciação do tempo presente).
A ideia de entrelaçar três destinos foi boa, assim como limitar o tempo em apenas uma hora. O problema é que o enredo pareceu algo muito mais denso que requer mais espaço para ser explorado. Por isso, o ritmo ficou prejudicado, sendo o início do texto mais moroso, bem parado e o final mais ágil, quase apressado.
Tenho certeza de que se reescrever o conto, limpando algumas passagens e dando vazão a outras, vai ter material para um romance com forte crítica social.
Boa sorte na Copa!
Resumo: Um texto que coloca em xeque a violência, em três atos, e isso é a parte mais original do conto que tem seu problemas, mas possui um fechamento de arrepiar, Vamos lendo e acompanhando os passos intercalados de cada personagem até o ápice do sofrimento e angústia de cada um deles.
Gramática:
por aquela rua – repete duas vezes no primeiro parágrafo, poderia ser evitado.
o vento não aparecia e nem carregava odor nenhum – se não aparecia, não carregava, logo, a segunda parte é desnecessária.
Num outro ponto da cidade calorenta – por ali e o clima era notoriamente abafado – calorento e abafado, duas descrições que dizem a mesma coisa – desnecessário!
A rua esquisita revelava diversos prédios de quatro andares – como já havia falado de prédios altos, achei desnecessário dizer que eram de quatro andares…
Repetição de Laysa: Só em um parágrafo, 4 vezes, tente dosar mais para não ficar tão cansativo.
Era uma noite extremamente abafada – terceira vez que enfatizou isso…
Repetição de “rua” 3 vezes: fim da rua. Olhou nervosamente para seu relógio parado e caminhou para o lado oposto da rua, onde corria esgoto livremente, de dia à noite; ouviu alguns cochichos e os pés, que ele suponha serem quatro, lhe acompanharam no cruzar da rua.
Era o que André pensava, por entre o medo, o suor e o desespero – destacou muitas vezes que ele suava, o suor dele, há detalhes que para o leitor uma vez só bastam, para que não fique cansativo, repetitivo… Desculpe pela chatice.
E nem pode mais responder a sua filha. – pôde
Estou dando nota para o conto sem o pedido prévio de análise, caso venha a ser solicitado haverá o confronto das notas finais dos dois contos para escolha do vencedor do embate.
Critério nota de “1” a 5″
Título: 5 – Um excelente e instigante título!
Construção dos Personagens: 5 – Excelentes personagens e o autor(a) foi de uma sagacidade enorme na construção deles, sendo capaz de passar para o meu eu leitor toda sua aflição!
Narrativa: 4 – Um dos pontos mais complicados de analisar, a primeira parte da narrativa prejudicou bastante o trabalho, mas o ápice do conto se dá quando a tensão é colocada de forma muito assertiva pelo autor que daí em diante consegue prender o leitor ao texto. Se fosse assim desde o início seria 5 com certeza!
Gramática: 3 – O principal foi referente a coesão textual, onde repetições e reafirmações desgastaram bastante durante a leitura, espero que o autor(a) atente para isso numa próxima oportunidade, pois tem muito talento!
Originalidade: 5 – Aí vou falar sobre o que eu senti falta nos contos que falaram tanto sobre traição e outros assuntos do cotidiano, contando a história de uma forma comum, sem a originalidade que o autor(a) teve nesse conto. É isso que eu estava procurando, foi uma simples ideia com uma grande forma de ser contada!
História: 5 – Texto muito bem amarrado, do início ao fim, e principalmente no fim, quando tudo se completa e tudo se desfaz! Excelente!
É um conto muito bom! Parabéns!
Total de pontos: 27 pts de 30
Boa sorte no desafio!
O que processei disso tudo aí: Um negro que ouve música para evitar o escandaloso silêncio, uma lésbica que empacota sonhos, e uma gateira que a mãe apanha do marido encontram, às 22:22 horas de uma fatídica noite de tragédias, seu destino dentro de uma oprimida comunidade.
Título: Muito forte. É perigoso títulos conclusivos, mas neste caso funcionou como catarse.
Melhor imagem: “ Com a secura de Alberto, pelos marrons de gato na sua blusa branca manchada de mostarda, Isabel entrou no condomínio, com uma mochila pesada e uma marmita vazia.”
Impacto: Positivo. O trabalho intenso das imagens da comunidade foi o diferencial deste conto. A forma como a cronologia é encadeada deu uma pitada seca de suspense. Um ponto a mais pela crua crítica social.
Três histórias que não se cruzam, mas tem o mesmo destino. Três personagens em três pontos de uma cidade quente, numa noite qualquer. Os três vivem a violência cotidiana que respinga igualmente para cada um, sem aparentes distinções. Três mortes, três corpos, três estatísticas que não valem nada, pois o ciclo continuará.
Olá, Cecília!.
Gostei do seu conto, ele carrega uma aura singela mas é bastante cru, real, retrata o cotidiano de todo mundo. Acho que todos nos que vivemos reféns da violência nos identificamos com pelo menos um deles. (Guardar o celular nas calças pq está cansado de ser roubado). É um relato triste, cada um com sua identidade,seus medos, seus anseios, a mensagem que só será lida quando for tarde demais, o momento em que ficou ouvindo sua música favorita foi essencial? será que mudaria alguma coisa? Será que se o cara tivesse algo para se defender além da esperança de que chegaria a tempo em um ponto mais movimento as coisas seriam diferentes? Seu conto causa uma certa revolta, vontade de revidar, de dizer um basta a tudo isso. Enfim.
Tive um pouco de dificuldade com os nomes e as trocas de cenas, não sei ,porém, se deixando essa separação mais evidente teria o efeito desejado.
Parabéns!
Oi, Cecília Prata.
Resumo:
Se posso resumir seu conto, creio que posso dizer que se trata de um passeio por personagens numa região pobre, cada um sofrendo as dificuldades dessa pobreza, e pobreza, de modo geral, só gera ainda mais miséria. Um conto com sete personagens, dos quais, três deles morrem de forma violenta: André, Laysa e Célia.
Comentários:
Acredito que você tenha querido transformar sua narrativa em algo noir, com personagens soltos pela cidade, cada um sofrendo suas vivências pessoais, suas dificuldades associadas ao ambiente onde vivem. Acho isso legal, mas também acho que pode criar algumas dificuldades. Uma delas é como associá-las definidamente ao longo da trama. Nenhum dos personagens se interconectam para formar uma trama íntegra que justifique um conto, tornando os relatos estanques, unidos apenas pela noite, pelas horas, pelas proximidades locais (acho que foi isso).
A narrativa passeia pelos personagens. Contei assim:
Começa com André, vai até Laysa, pula para Isabel, volta para André, vai até Laysa, volta a Isabel, volta para André, retorna a Laysa, retorna a André (que é atacado), retorna para Laysa (que é atacada também), vai até Isabel, volta para André (que é morto?), pula para Laysa (que é estuprada). Depois é revelado que André, Laysa e Célia, mãe de Isabel, foram mortos.
Contando enquanto lia, vi que a mãe de Isabel era Amália, depois fiquei sabendo que era Célia. Faltou amarrar essa passagem.
Em seu conto há minúcias em demasia sem que façam andar a trama, por exemplo:
— “…maçaneta de metal…”
— “…mochila pesada…”
— “…exatamente dez e vinte e dois…”
— “…na cafeteria que não aceitava cartão…”, etc.
Há uma frase enigma, a conferir:
“Na metade do terceiro lance, Isabel cantava que nem um homem, sua casa e nem sua carne lhe definiam.”
Ok, dá pra imaginar que Isabel fosse homossexual e que Amália, talvez, fosse sua amante, mas… não consegui ter certeza.
Acredito que o parágrafo a seguir precise ser totalmente rescrito: “Isabel se sentia esplêndida…”, dado que está com muitas inconsistências.
Acredito também que você deva fazer uma limpeza geral no texto para torná-lo mais limpo e claro, focando nas personagens mais objetivamente.
Acho que é isso. Boa sorte no campeonato.