Nota do Autor: Este conto é uma homenagem a três grandes nomes da ficção científica, Philip K. Dick, Úrsula K. Le Guin e Ray Bradbury. Os títulos de cada capitulo, é apenas sugestivo. São títulos de livros desses escritores, daí a homenagem:
I-Ubik- Philip K. Dick
II-A Mão Esquerda da Escuridão- Úrsula K. Le Guin
III- O Licor de Dente-de-Leão –Ray Bradbury
IV- O Som do Trovão – Ray Bradbury
V- Fenda no Espaço- Philip K Dick
VI- A Cripta de Cristal – Philip K. Dick
VII- O Feiticeiro e a Sombra – Úrsula K. Le Guin
VIII- O que dizem os Mortos- Philip K. Dick
Outras citações e detalhes, deixo o leitor descobrir.
I
Ubik
Paredes de ladrilhos.
Chão de vinil.
Luzes fluorescentes.
Refletores hemisféricos.
Osciloscópios.
Eletrólitos.
Monitor cardíaco.
Chapas de raios X.
Anestesia
Seringa de Pentotal
Tubo endotraqueal.
Halotano cloreto de sucinilcolina
Despolarização dos músculos
Bisturi.
II
A Mão Esquerda da Escuridão
.
…angiografia cerebral
…edema cerebral difuso
…hipóxia cerebral
…EEG nula
…paralisia.
…EVP.
Dos arquivos de Hain, transcrito do documento audisível preparado em Gethen, 01-01101-934-2, para os estábiles em Ollul. Narração de Genly Ai, primeiro móbile em Gethen. Inverno, ciclo de Hain, número 93. Ano ecumênico 1490-97
III
O Licor de Dente-de-Leão
Uma certa manhã, Maicon Winfrey, viu duas figuras imprecisas se aproximando de sua cabana. Parado no limiar da porta, ele colocou a mão aberta sobre os olhos para fazer sombra, embora não houvesse sol no céu cor de chumbo. Devido à distância, não conseguiu distinguir o que era, se humano ou alienígena. Ele sentou-se calmamente, tomou um gole de licor de dente-de-leão. Aquele era o último licor que restava de seu parco suprimento que havia resgatado dos escombros da nave. Como era o último, bebia devagar, saboreando o líquido esverdeado.
Pensou que poderia ser o resgate que chegava, embora não tivesse visto, ou ouvido, uma nave sobrevoar a região. De qualquer forma, não estava com pressa de ir embora, acabou gostando daquele lugar, tinha se adaptado àquela vida, longe da civilização, implicações e aborrecimentos. Era um explorador solitário, um mochileiro das estrelas. Ao tentar descer no planeta, houve um problema nos retrofoguetes. A astronave caiu sem controle. Ele sofreu algumas escoriações, mesmo protegido pela cabine blindada. Nada grave, no entanto. Tirou tudo que podia da nave, antes que os tanques de combustível explodissem, o que acabou acontecendo, alguns minutos depois.
Em seguida, ergueu uma cabana com uma espécie de caniço, que crescia nas margens de um riacho. Ali ele colocou suas coisas e passou a morar. Bebia água do riacho e comia os frutos dos caniços, que floresciam no outono e davam frutos no inverno. Frutos brancos, que ele deu o nome de blade runner. Até pensou em fazer licor da fruta, mas não tinha equipamento adequado.
A garrafa de licor, que ele havia recuperado da nave destroçada, guardou para ocasiões especiais, como naquele dia em que ele avistou algo, ou alguém, se aproximando de sua morada. Dois vultos brancos, oscilantes, se avolumando na paisagem ocre. Não demorou muito para que chegassem e parassem diante dele. Evidentemente, pelo físico estranho, eram nativos. A cabeça era redonda, os olhos pequenos, não tinham sobrancelhas, a boca era como a de um peixe bagre. Ele não conseguia saber o que era aquilo sobre o corpo deles, se roupas largas, ou peles flácidas. O mais alto tinha algo enrolado no pescoço. Quando o objeto se moveu, é que ele viu que era uma espécie de víbora com duas cabeças. O animal poderia estar usando o nativo como transporte, talvez como hospedeiro, numa espécie de simbiose, ou talvez, ainda, fosse simplesmente um animal de estimação, adestrado pelo seu tutor.
A voz do mais baixo era esquisita. Ele falou alguma coisa que, evidentemente, Maicon não entendeu nada. A linguagem, se é que fosse, era muito complexa. Eles deliberaram, talvez considerando o que era ele, se animal inteligente ou irracional. O mesmo queria, Maicon, saber o que eram eles. Aquilo eram palavras ou simples sons sem sentido? Ele tentou se comunicar.
***
IV
O Som do Trovão
Eu nasci na primeira hora, da primeira manhã, do primeiro dia.
Nas asas do vento, acompanhei com espanto e admiração, as montanhas se erguerem, as águas se espalharem sobre superfície vazia, as florestas brotarem da terra e o homem surgir do pó.
Tudo que sou é obra moldada nas forjas de Vulcano, corre em mim, o sangue ferroso com a essência dos imortais. Debrucei-me no alto da montanha e apreciei a orgia em Sodoma e Gomorra.
Ruíram as cidades sob uma chuva de pedras flamejantes. Sumiram nas profundezas abissais do mundo subterrâneo. Delas só restam os nomes.
Eu me tornei mortal, para ser o escravo a erguer a primeira pedra da pirâmide no deserto. Senti a dor quando o chicote do feitor, abriu sulcos ensanguentados em meu dorso e braços.
Cansado, lambi minhas feridas nos prostíbulos de Cades e fui acalentado nos braços de uma cortesã, adoradora de Isis. Foi onde, com certeza, adquiri meus vícios. Quem não os tem?
Os virtuosos vagam pelos becos com seus espíritos vazios. Fumam cigarros mentolados, encostados numa esquina qualquer, olhando com inveja os filhos de Eva.
No oriente, andei entre as tendas dos mercadores de especiarias que vendiam ferro, bronze, lanças, espadas e escudos, porque era Época de Guerra, de batalhas e não de sementes para fecundar a terra.
Todos os campos ficaram alagados com o sangue daqueles que sonharam glorias vãs. E a peste voou com suas asas fedorentas, com seus espíritos imundos, assolando a terra e a tornando estéril. Evitadas por viajantes, civilizações foram esquecidas, cidades soterradas na poeira dos tempos.
Onde vou agora? Como um timoneiro em transe, segui para o espaço, audaciosamente indo, onde nenhum homem jamais esteve. Procurei nas sombras do horizonte, a parte que me faltava.
Solitário, cheguei a lugar nenhum, onde o infinito faz a volta.
.
***
V
Fenda no Espaço
Já existíamos quando o Espirito soprou sobre as Águas e as sombras se recolheram às cavernas. Éramos física quântica, pó das estrelas. Mergulhamos na atmosfera de Netuno e nas tormentas sibilantes, dançamos com os vórtices de gás metano. Nossos risos eram como estouros de relâmpagos. Visitamos a galáxia mais distante e repousamos nas areias brancas de uma praia em Urphil. Naquela manhã, foi a primeira vez que nos beijamos e nem sabíamos que ela partiria tão cedo, sem despedida, sem aviso.
***
A Cripta de Cristal
VI
Mirei seu corpo sem vida, estendido sobre o mármore frio. A face lívida, inerte, imutável, fria e distante. Nada mais era possível. Nada mais teria importância. Nada mais. Nunca mais! Naquele dia, meu universo secou, tornou-se árido, inóspito, morto. Rachaduras rasgaram o mundo de meus sonhos e nada mais ali, iria germinar e florir. Deixei-me abater sobre o deserto e me tornei parte dele. Vazio. Inerte.
Morri no último minuto, da última hora, do fim do dia.
***
O Feiticeiro e a Sombra
─ Então doutor, que o senhor acha?
─ Eu diria que é um caso raro. Exames exaustivos foram feitos e não foi detectado nenhum dano físico. Ele já devia ter recuperado a consciência. Existem casos em que o paciente entra num mundo de fantasias e se recusa a enfrentar a realidade. Especialmente quando sofre um trauma muito forte. É recente, a morte da esposa!
─ Ele está sorrindo agora, doutor!
─ Eu diria que ele está em algum lugar, fora deste mundo. Espero que seja melhor que o nosso…
***
VIII
O Que Dizem os Mortos
E os dois alienígenas ficaram ali, trocando impressões, enquanto Maicon saboreava sua última taça de licor. Em seguida, ele avistou outro personagem que surgiu na distância. Esse tinha uma aura envolvendo o corpo. Ele a reconheceu logo em seguida. Estendeu a mão, largou o cálice vazio sobre a cadeira e foi ao encontro dela. Era sua falecida esposa que vinha buscá-lo.
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Olá autor(a).
Você usou com maestria as referências a SciFi. São como microcontos que formam o conto, tecendo a trama que gradativamente vai se formando na mente do leitor. O final não chega a ser exuberante mas funcionou.
O experimentalismo não é ousado o quanto eu gostaria de ver nesse desafio, mas está dentro.
Boa sorte no desafio!
Antes de mais nada preciso me penitenciar um pouco. Seu conto foi um dos últimos que li e infelizmente não tive muito tempo para estudar melhor as referências. Dito isso, ainda tenho muito o que elogiar. A maneira que você construiu a trama me chamou atenção. Logo nos 2 primeiros capítulos você nos entregou de bandeja o mistério. Mas minha leitura linear rejeitou um pouco a ideia e me levou fundo na FC. E naveguei bem por esses mares até a realidade bater a porta novamente. É aquilo que temos de mais precioso… a nossa mente tentando suavizar a morte.
Apesar de bem escrita, gostaria que você tivesse subtraído a parte “O Feiticeiro e a Sombra”. Acho que a explicação não era necessária. E assim como outro comentário, preferia que as notas viessem ao final do texto. Acho que a narrativa teria mais impacto já que não estaria esperando um conto de FC.
Já não costumo ler ficção cientifica, mas conheço algumas das obras de referência, então devo dizer que, como homenagem aos autores citados e dentro do gênero ficção científica, o conto é muito bom. No entanto, discordo de quem afirmou que toda literatura de ficção científica é experimental e discordo imensamente. Do contrário também o seriam os contos fantásticos, as fábulas, os contos de fadas e mesmo aqueles cujos enredos remontam a passados longínquos. E assim, seguindo essa linha de raciocínio, também não identifiquei experimentalismo nesta obra.
Oiii. Achei o conto muito bonito e achei muito bonito também a ilustração do conto, ela transmite bem a essência do conto. Ele é como se fosse um monte de peças que vão se juntando aos poucos, aquela cena final em que ele ver a esposa ao longe é muito bem narrada e como falei encaixa com a figura que tem no começo, e por temos entendido antes o real estado dele a cena tem um impacto ainda maior no leitor. Parabéns.
Olá, Solaris!
Gosto bastante de sci-fi, mas conheço muito pouco das obras citadas…uma falha minha que pretende reparar muito em breve, mas Isso infelizmente me deixa alheia a homenagem que você fez, talvez eu não entenda 50% do seu texto por conta disso.
No entanto, mesmo essa ausência de referências de minha parte consegui apreciar sim o texto, está muito bem escrito , uma boa ambientação , ótimas descrições…carrega bastante sentimentos , o autor tomou cuidado com as palavras, nem de mais nem de menos, só o suficiente.
A história dos devaneios do homem é bem mais interessante que o real, diria que essa explicação pra esse mundo diferente que foi apresentado baixou um pouco as expectativas… simplesmente ele estava em coma, em transe… Mesmo assim o final foi bonito, novamente fez uma boa imagem com as palavras.
Gostei da forma do texto, dos fragmentos do nome Entre Contos ali como quem não quer nada, você foi muito cuidadoso com seu trabalho.
Parabéns, boa sorte no desafio!
Amigo, algumas considerações: a) quando você já começa homenagendo autores, o leitor vai tentar compará-lo com eles. É um risco desnecessário. Acho que a nota ficaria melhor como rodapé do que como abertura. b) Acho que toda FC acaba sendo experimental em si – mas o experimentalismo na forma ficou adstrito ao próprio tema, sem muito impacto na construção. Acho que dava para pirar mais na forma. Ainda assim, um trabalho bom e interessante. Parabéns!
Olá,
E olha só o que temos aqui. Eu li um texto sobre o “amor”.
Como assim, Sabrina?
Ué, um texto experimental sobre o amor: o humano é o “alienígena” sendo analisado pelos alienígenas e ele está surtando de saudades póstumas de sua amada.
Quer coisa mais linda?
O texto em si tem bastante divagação, dadas as referências de FC. Olha, não entendo e nunca li os autores das referências e creio que não precisava ter se ocupado em introduzir o assunto falando deles. Não contribui para o teu texto, que vai muito além disso!
Super experimental e causa uma impressão bastante positiva na finaleira!
Parabéns!
obs.: já leste “Yargo”, de Jacqueline Susan? Se não, corre o risco de gostar. Abração
A Face Lívida
Não sou um grande conhecedor das obras citadas. Li uma ou outra. Porém, diante desse trabalho tão impecável, foi atrás das referências e elas fizeram com que a leitura ficasse ainda mais incrível.
Gostei demais.
Escrita muito boa e competente.
Parabéns.
Como todos aqui já devem saber, eu não sou fã de FC. Portanto, se eu não pude dar valor a alguma referência encontrada no seu texto, releve. No entanto, acho que peguei a essência da narrativa.
Gostei bastante de ser surpreendida pelo coma do personagem. Ele estava navegando no subconsciente, e no final, encontrou a esposa, já falecida. Achei esse final meigo. Só por isso, já gostei do conto.
O começo foi meio que ler um cardápio de um restaurante japonês – e eu não entendo nada de japonês. Não me disse nada. Talvez, pudesse enxugar esta parte ou até mesmo eliminá-la.
O conto está bem escrito, com pequenas falhas de revisão, mas nada de grande monta.
Boa sorte!
Ficção científica inspirada em grandes nomes, a nota coloca a expectativa lá em cima, autor… O parágrafo sobre o homem na cabana e os alienígenas está excelente, quase uma cena de um filme do Kubrick. Logo, saber que ele é alguém em coma me decepcionou um tanto… Uma sugestão para o autor é alargar o parágrafo, de repente escrevendo um conto completo naquele momento… No mais, não fez feio Apenas essas quebras de realidade (a nota, o coma) é que cortaram o sonho – mergulhe de cabeça nele, você escreve ficção muito bem. Parabéns e boa sorte no desafio.
Não li nenhum dos autores citados, portanto meu entendimento do conto pareceu-me limitado. Ao que tudo indica, trata-se das alucinações de um homem em coma. Uma reviravolta interessante, embora tenha tirado um pouco do “experimental” do conto.
A escrita é boa, mas tem alguns errinhos de revisão. De todo modo, o autor sabe amarrar bem o leitor. Queria que minha experiência fosse tão rica quanto ao do protagonista do texto que leu as obras citadas…
Achei o conto razoável. Aprecio a ideia, mas me faltou um pouco de carga emocional, descrições mais mirabolantes, algo na técnica que me fizesse viajar.
Boa sorte no desafio e parabéns pelo conto!
Oi, autor!
Gostei muito do conto, achei muito apropriada a inclusão dos autores e livros com a sequência do conto, uma experiência de quase morte com a pegada de ficção científica e o quase morte que se transforma em morte real.
Um pouco confuso, mas muito bem escrito, criativo, muito inspirado, e inspirador.
Meus parabéns
wow, WOW, o que eu posso dizer? Só posso dizer que eu adorei, todas as homenagens, todos os trechos que se encaixavam de alguma maneira com os “títulos”, como um leigo na literatura de ficção cientifica (fiquei só em Solares e Duna) eu achei um dos melhores do desafio, mas eu não consegui ver o “experimento” do Texto.
Abração a Você Solaris.
Olá, autor/autora. Não me sinto em condições de fazer comentários muito técnicos dessa vez. Então tentei passar as minhas impressões de leitura, da forma como senti assim que a terminei. Desde já, parabenizo por ter participado!
Então, vamos ao que interessa!
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Não gostei da explicação no começo. Quebra a expectativa logo de cara. Comecei a leitura pensando: “o que ele quis dizer com isso?” E aí minha leitura não foi da forma como poderia ser. Talvez se vier no final, e ainda menos explicativo, algo como “Um conto dedicado (ou inspirado) nos textos dos meus autores de FC favoritos”, sem citar nomes, pois isso não adianta muito para quem os leu, em minha opinião. Foi meio complicado relacionar uma parte com a outra, na primeira leitura não deu. Alguns desses livros eu li, outros ainda não, mas quero ler. Dos que
ainda não li, só aumentou minha curiosidade, ponto positivo. Apesar da estrutura, não sei se dá para dizer que é experimental. Finalizando, gostei da leitura, mas não
está entre minhas experiências preferidas.
Salve, Solaris!
Sou grande fã de ficção científica e li diversas das obras que você lista no início. E vejo que a intenção era realmente homenagear, pois são diversas similaridades com o estilo, embora o enredo vá mesmo em outra direção.
É bem escrito, com texto acima da média e as variações no estilo aproximam o conto do tema do desafio. Mas achei que faltou um pouco de objetividade no desenvolvimento. Não se trata de um conto grande, mas parece dar algumas voltas desnecessárias antes de nos revelar o que de fato acontece.
Mesmo assim, ainda é um dos que eu mais gostei até agora. É bonito, elegante, e atende bem ao tema.
É isso! Boa sorte no desafio!
Olá, amigo, td bem?
O fim do conto salva o que me parecia uma história sem pé nem cabeça. Fiquei imaginando se o experimentalismo envolveria a sequência de histórias sem conexão, o que seria um pouco frustrante.
O fim, porém, vem para salvar e deixar um gosto bom ao término da leitura. Gostei!
Sobre o desfecho, a única coisa que eu tiraria é a alusão, a meu ver desnecessária, à esposa falecida. quer dizer, já tava implícita a morte dela, achei desnecessário explicitar. Talvez sua preocupação tenha sido que o leitor não entendesse. Não é nenhuma falha grave, claro, mas Acho que tirou um pouco da magia. Enfim só minha opinião.
Um apontamento que eu quer8a fazer é sobre o uso de vírgulas. Não se separa o sujeito do verbo. Isso acontece em alguns momentos no texto.
Fora isso, a escrita tá bem Boa e a leitura eh agradável, com boas experimentações nas construções.
Parabéns e boa sorte!
Creio que este conto é excessivamente experimental. Compreendo o seu sentido – é bastante aproximado ao Ubik, que é um dos meus livros de FC favoritos, de um autor fabuloso, como foi Philip K. Dick.. Compreendo o universo, mas creio que faltam peças. Ou talvez não.
Achei a história amarrada e muito boa. Realmente, não é preciso conhecer ou ter lido as obras para poder mergulhar no conto, mas acredito que quem conheça deve estar um passo a frente dos que não leram, no sentido de conseguirem entender coisas que eu, por exemplo, que não li, não percebi. Não sou fã de FC, definitivamente é um estilo que eu não consigo me entregar. Li o conto mais de uma vez, por conta disso. Na primeira, inclusive, pensei que os textos não tinham conexão. Apenas na segunda que fui caminhando para o entendimento.
O início não me incomodou, principalmente em um desafio como esse, cujo objetivo é realmente experimentar, ser ousado, fazer coisas que não faríamos. Ser ou não aceito.
Boa sorte!!
Frase chave: “Eu nasci na primeira hora, da primeira manhã, do primeiro dia.”
O início é bem lento e eu colocaria a nota do autor explicativa só no final; ou não colocaria.
A partir da parte IV o conto cresce e ganha veias literárias em contraste com a parte simples III. O fluxo intenso e filosófico me agradou muito. Só no fim entendi a lista de exames e objetos hospitalares. Foi uma grata surpresa.
A parte VIII tira muito do experimentalismo, como se houvesse a necessidade de explicar o conto.
Caro Autor, alinhada com a proposta do desafio, estou “experimentando” uma forma diferente de tecer os comentários: concisa, objetiva, sem firulas, e seguindo os aspectos de avaliação de acordo com a técnica literária do “joelhaço” desenvolvida pelo meu conterrâneo, o Analista de Bagé:
. Escrita: Galaxiana;
. Enredo: Abduzido pela falecida esposa vaza pro espaço em busca da sua cara metade.
. Adequação ao tema: Por conta da história desfragmentada.
. Emoção: Por conta do Mochileiro das Estrelas. Impossível não pensar no Mochileiro das Galáxias. Amooo! Ah, faltou a toalha.
. Criatividade: Nas alturas.
. Nota: Descontos na pontuação devido detalhamentos desnecessários. E tb. por causa da ausência da toalha. Sorry.
Olá Solaris,
Eu não sou fã de FC, não sei quem são os autores homenageados e nunca ouvi falar de seus livros. Isso não me impediu de apreciar muito o seu conto. Quando a fantasia é mais suportável do que a realidade quem pode culpar-nos por buscar refúgio nela?
Gostei da homenagem ao EC! Veio bem a calhar!
Ótimo trabalho! Parabéns e boa sorte!!
Fala, Solaris.
Creio que a estrutura criada para contar a história tenha sido bastante experimental. Começando a situar o leitor a partir da 3a parte desses fragmentos, com o desenvolvimento da jornada, sem penosa – independente da onde acontece, ai sim entendemos as primeiras partes. Curti.
Meu “contudo” vai para o prólogo. Acredito que algumas coisas devam ser deixadas para o leitor inferir. Às vezes, não resistimos ao impulso de explicar certas coisas, mas penso que é necessário um certo policiamento e um pouco mais de crença em quem está lendo.
De qualquer modo, parabéns
Um conto muito envolvente que me fez viajar pelo mundo das sombras, o estado de coma que deve ser uma viajem fantástica. Fiquei meio perdido em tudo isso. No inicio eu pensei que se tratava mesmo da história de um viajante do espaço que pousou em um planeta deserto. Mas depois foi ficando tudo confuso, mas no final tudo se explica, se é que tem explicação
boa sorte no desafio
Achei o aviso inicial desnecessário. Ele me fez a achar que o texto não teria conexão, que seriam partes soltas, apenas um texto-homenagem. Em contrapartida, se esta opção me fez ficar com desconfiado no início, o restante do texto conseguiu subverter minha expectativa e acabei gostando do resultado. Eu colocaria o aviso no final do texto (se fosse realmente incluir). O texto tem começo meio e fim, uma boa metáfora e cadência (embora ache que a estrutura da primeira e da segunda parte merecessem uma alternância, para evitar a repetição do recurso). O resultado final foi positivo. Parabéns.
Gostei. Não li nenhum dos livros citados. O início eu achei estranho com aqueles poemas. quer dizer, eu achei que eram pormas, mas, percebi no fina,lque era o ambiente hospitalar e exames que foram feitos no Maicon, que estava em coma. A escrita é muito boa e autor tem muita habilidade em criar a atmosfera de FC. Não percebi erros gramaticais. Boa sorte no desafio.
Penso não ser necessário conhecer as obras homenageadas, os textos sobrevivem por si próprios como autónomos. Os contos apresentados são bastante variados e distintos entre eles e bem escritos em diversos estilos literários. Talvez o autor tenha tentado uma interligação dos contos até ao desfecho final. A ideia é boa mas pareceu-me um pouco confusa essa eventual intenção. Ainda assim, uma escrita sem erros.
Olá, Solaris!
Muito agradecida pelo prazer que me proporcionou ao ler o seu conto. Que delícia! Tem gente que se revolta quando o autor utiliza o recurso do estado de coma para jogar o personagem em outra realidade, não é o meu caso, acho que o coma inclusive instiga a gente a tentar adivinhar o que se passa durante o tempo em que a pessoa está sem consciência, e eu gostei muito do que vc trouxe.
Os livros que vc indicou não foram necessários para o deslinde do conto, mas funcionaram como uma boa sugestão de leitura, então isso não me atrapalhou em nada.
Achei muito bacana a parte dos procedimentos médicos e instrumentos, fizeram todo o sentido quando eu compreendi o que de fato ocorria.
Gostei dos cenários que criou, do licor, dos habitantes do planeta imaginário, enfim, fiquei encantada.
Parabéns! Toda a sorte na vida.
Beijos.
Olá, Solaris.
Como fã de FC e conhecedor das obras citadas, gostei bastante do resultado! Curioso que o seu Licor de Dente-de-Leão tenha me lembrado mais Crônicas Marcianas que o livro em si. O coma nunca foi tão interessante e agradável!
Foi uma boa história, costurada por fragmentos inspirados nas obras citadas. O capítulo “O Som do Trovão” ficou especialmente bom.
Há alguns deslizes a corrigir, feito concordância: ” Os títulos de cada capitulo, é apenas sugestivo”, dentre poucos erros.
Abraços e boa sorte no desafio.
Olá, Solaris. Uma história entrecortada e que não sei se é assim tão experimental.
Quantos aos autores que menciona, conheço-os todos de nome, mas não li nenhum deles – talvez por não ser leitora de ficção científica.
No entanto, a história percebe-se com facilidade, apesar dos pulos tanto a nível de estilo quanto na narrativa – apreciei mais os primeiros que os segundos, mas deu para acompanhar sem dificuldade.
O protagonista estava em coma e morreu, entre um momento e outro viajou por memórias verdadeiras ou oníricas, não sabemos.
Não notei deslizes na escrita ou na gramática, o conto está bem escrito e o desenvolvimento, apesar de ter referido os saltos (parte da experiência experimental, passe a redundância), é coerente.
Se era necessário ter lido as obras referidas para uma melhor compreensão, não o sei, mas penso que qualquer conto, seja qual for o tema e contexto, tem que valer por si, independentemente de referências externas que poderão, ou não, complementá-lo. O seu vale por si, como se vê.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Olá autor(a),
Tudo bem?
Também não li os livros em questão, mas creio que isso não faça muita diferença no entendimento do trabalho propriamente dito. Ao se abordar ou homenagear uma obra, imprime-se camadas em um texto. Assim, a cada capítulo o autor homenageia um livro, criando com a junção de todos uma nova história. Isto é algo muito interessante e, certamente, quem leu as obras em questão entenderá o todo do trabalho em sua plena complexidade. No entanto, ainda que o leitor não conheça os referidos livros, ainda assim, poderá compreender seu texto e embarcar em sua viagem, aproveitando menos camadas, claro, mas, ainda assim, aproveitando.
Pelo que disse acima, não sei se a explicação inicial se faz realmente importante. Talvez, ao contrário, ela assuste o leitor. “Não li essas obras, portanto, não entenderei o conto”. Não foi o meu caso, estou só elucubrando aqui.
Vamos ao conto.
Gostei muito do modo como o(a) autor(a) inicia o texto utilizando-se de um recurso com uma espécie de narrador câmera, assim, o leitor tem a impressão de flutuar sobre os equipamentos médicos para, em seguida, vislumbrar o quadro clínico do protagonista. Ele está em coma no leito de um hospital e a “camera” se desloca da flutuação sobre os instrumentos, para “dentro do personagem”. Após essa espécie de prólogo, a trama lança seu público em um universo espacial, com mundos diferentes e que vão surgindo de modo onírico. Desse modo, entendemos que os flashs narrativos são recursos para ilustrar as criações e recordações de alguém que paira entre o mundo dos vivos e o dos mortos, até o desfecho, onde o protagonista se encontra com a esposa, personagem que norteia toda a linha que guia a trama.
Parabéns por seu trabalho.
Desejo sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Olá,
No livro de Ubik, o personagem principal morre e manda mensagens do além para serem decodificadas por seus seguidores em perigo. No segundo livro, os habitantes de Gethen voltam a aparecer. Eles habitam uma sociedade complexa em que homens e mulheres são um só e nenhum ao mesmo tempo. O terceiro livro faz uma alusão ao licor que, degustado no inverno, aquece as lembranças vividas no verão e por assim vai, formando uma colcha de retalhos em que o autor homenageia os livros que aprecia. Empreitada bem sucedida.
Quanto ao conto propriamente dito, eu não colocaria a introdução que explica seu processo criativo. Inovou nos estilos dos capítulos e na costura da narrativa. Muito bom
Achei interessante que a história foi construída estilo puzzle, com pegas sendo adicionadas pouco a pouco para construir a trama. No final, temos um resultado muito interessante que faz o leitor voltar, reler alguns trechos, para retomar informações perdidas.
O fato de variar os estilos, conforme perpassa pela história, é uma estratégia interessante, também, já que confere dinâmica ao conto.
PONTOS POSITIVOS = O texto está bem escrito; poucos erros de revisão; diferentes estilos de escrita e, até mesmo, de gêneros narrativos. Isso ficou legal!
PONTOS NEGATIVOS = A falta de uma história, com começo, meio e fim; que fizesse um sentido ao final da leitura (pelo menos para mim). O resultado, mesmo advindo de uma grandiosa e boa ideia, acabou ficando parecido com uma colcha de retalhos.
IMPRESÕES PESSOAIS = Creio que a necessidade de um prévio conhecimento das obras abrangidas (e homenageadas) aqui seja condição para o aproveitamento e até mesmo absorção do trabalho (bem) feito.
SUGESTÕES PERTINENTES = Infelizmente, ficção científica não é lá muito a minha praia. Pra falar a verdade, eu nem sei quem são Philip, Úrsula e Ray; talvez por isso não tenha me identificado tanto com esta obra. E talvez, portanto, fosse melhor uma reavaliação do(a) autor(a) com relação a escolha temática em uma próxima participação em um Desafio onde vários leitores (de diferentes vertentes genéricas) irão participar e julgar os trabalhos apresentados. Contudo, gostei dos capítulos que pendenciaram mais para o lado da Poesia e do capítulo IV, em primeira pessoa, onde podemos formar o nome deste site/blog com as iniciais de cada parágrafo.
Boa sorte no Desafio!
Olá, Solaris, infelizmente não conheço nenhum dos livros. Senti do seu encanto por eles e seus autores e isto é muito legal, mas ter feito esta nota não ajudou em nada na leitura da sua história. Ao contrário, a mim eu posso dizer que prejudicou. No mais, amigo, fiquei com a impressão de que você ficou me devendo. Sabe aquela grande ideia, mas que ao ser colocada em prática o resultado não sai legal? Pois saí da sua história com esta impressão. O que ficou legal? A sua ideia do enredo, mas na sua experimentação ficou tudo tão entrecortado que confesso que me perdi nele. Senti que você, quem sabe, tenha errado a mão nos ingredientes da receita em homenagem aos seus ídolos escritores. Meu abraço fraterno, amigo.
“O céu sobre o porto tinha cor de televisão num canal fora do ar. Não é que eu esteja usando. Meu corpo é que desenvolveu uma deficiência maciça de drogas… (…)”
E esse texto parece uma colagem de uma das melhores drogas que conheço: ficção científica. Talvez a clareza do enredo não tenha ficado cem por cento, mas a história está aí, entrecortada de universos. Gostei da linguagem, gostei de como está bem certinha, sem erros.
O conto começa com uma relação de objetos de hospital. A terceira parte é a história de um náufrago no espaço estelar. Depois tem a conversa de dois médicos sobre um paciente em coma, o que da a entender que a história do astronauta são ilusões do paciente. inclusive o final confirma isso. A figura fragmentada que ilustra o texto ficou legal, faz referencia ao estado físico e mental do homem. Acho que o experimental está na estrutura do texto, na exposição vaga dos elementos da história, mas nem por isso, incompreensível. A prosa poética é algo comum na maioria dos textos. Boa sorte.
Narrativa totalmente entrecortada. Entre os muitos textos intercalados, li um poema belíssimo: “O som do trovão”. Uma lindeza!
Texto perfeito. O autor fala de uma realidade tão fria, descreve a “via crucis” que um enfermo percorre dentro de um hospital, os dolorosos procedimentos. Apesar de tudo ser dito de maneira objetiva, houve a preocupação de ser passado com delicadeza, ainda que seja indelével.
A construção do texto é muito interessante. Um conto envolvente, dramático, triste. As notas colocadas pelo autor não interferiram na minha leitura. Não conheço nada daquilo que foi citado. Avaliei a história, a maneira de escrever, a mensagem.
Parabéns, Solaris!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Belo trabalho. É sutil, charmoso, com boas construções etc. Só acho que poderia ter sido menos direto na hora de explicar as coisas, poderia ter acompanhado o climão de devaneio. No mais, também não gostei de nota na introdução; é desnecessária e mata a imersão inicial.
Li e reli o conto, fui aos comentários para ver se era aquilo que entendi. Se “viajei” na interpretação, peço desculpas, Solaris.
Nas duas primeiras partes, é criado um ambiente de hospital. Alguém passa por exames. Exceto na penúltima parte, em que há uma explicação sobre quem está doente e prestes a morrer e encontrar, em uma visão religiosa, a mulher que perdera, são os pensamentos, os devaneios vividos por Maicon, no coma. Gostei, pois temos um enredo completo, com um formato variado e uma homenagem à ficção científica. Muito bom experimento.
Eu tenho uma amiga que ficou em coma por vários dias e ela relata passagens que acreditou viver. Parabéns pela ideia. Boa sorte no desafio. Abraço.
Não sei se o conto atende ao experimental exigido pelo desafio, no meu entender ele navega claramente pela ficção científica, talvez com uma leve pitada de inovação para o tema ficção científica. Entretanto uma escrita muito bem conduzida e de um enredo bem desenvolvido, coisa que pelos primeiros parágrafos não parecia dar esse entender, mas com o desenrolar tornou-se mais agradável a leitura e de fácil compreensão. Quanto à homenagem aos autores citados a mim não acrescentou nada, pois sequer os conheço muito menos ter lidos. Aí mora o risco do autor ao fazer uso de seus conhecimentos pessoais para criar uma obra. Se pelo ao menos fossem autores de conhecimento universais teriam algum sentido, mas autores de pouca relevância ficam meio sem razão de ser. No mais um bom conto, bem composto e bem dito.
Caro Solaris,,
mesmo tendo lido alguns dos autores citados, não li nenhum dos livros homenageados. Comecei a ler e senti um clima MixLit (imaginei que você tinha se apropriado de parte daqueles livros), até me deparar com os frutos brancos blade runner.
Bem, foi quando entendi que o texto devia ser seu mesmo e não uma apropriação.
Curioso, também, me deparar com o nome Maicon, uma típica corruptela fônica brasileira do nome Michael, por óbvio, vindo de Michael Jackson, no inglês (Maicon Jackson de Oliveira, Maicon Douglas Sisenando, Maicon Thiago…), justo numa terra alienígena, numa nave espacial e tal. Tenho dúvida quanto a funcionalidade desse tipo de dicotomia. Acho que corta o barato da submissão do leitor ao texto, tipo “…quando o Zeca pegou o martelo que caiu das mãos de Thor…” A frase dá à ocorrência uma verossimilhança obliqua, ou proposital se o texto toma mesmo o rumo do inverossímil.
Desculpo-me. Por não haver lido os livros citados, fiquei sem saber se o autor buscou algum paralelismo entre o que escreveu e o que dizem os livros. Em ambas as situações, apreciei os textos, que estão legais.
Observando que, se os textos são completamente seus, sem apropriação (MixLit), citar os autores dos títulos dos capítulos me pareceu… digamos, desnecessário.
Boa sorte no desafio.
Na minha opinião foi uma péssima ideia colocar as notas do autor logo no início. Na verdade eu não as colocaria nem no final… acho que quebra um pouco o clima, atrapalha a imersão.
O conto atende ao tema do desafio. Aqui o autor recorreu ao recurso de fragmentar a história e, pra mim, a variação no formato de determinados trechos garantiu a adequação (rolou até homenagem ao EC hahaha).
A escrita tem alguns deslizes, mas no geral consegue criar a atmosfera pedida pela história, isso ficou muito bom. O nome blade runner soou forçado ali e os dois primeiros “capítulos ” só são compreensíveis numa releitura (isso não é necessariamente um defeito).
Resumindo… gostei do conto, mas fiquei com impressão que o autor não conseguiu executar com 100% de precisão a boa ideia que teve.