Quando o pai de Thomas estacionou a caminhonete em frente da casa, um garoto olhava pela janela do seu quarto, no segundo andar.
Thomas assoprava no vidro e sua respiração embaçava-o, fazendo um círculo no qual ele desenhava pequenos pênis, rindo e apagando-os rapidamente, com o coração dando fortes saltos.
Assim que o pai descarregou o embrulho, o menino tentou adivinhar o que seria aquilo, talvez uma tevê gigante, para assistir às finais do Campeonato Estadual, ou uma geladeira nova, daquelas que aparecem nos comerciais, onde adolescentes sorridentes demais enchem copos e mais copos do gelo que sai da porta.
Quando o objeto foi desembrulhado, Thomas fungou desapontado. Era apenas um guarda-roupa.
Ele viu o pai carregar a mobília para dentro. Ouviu seus passos subindo as escadas e franziu o cenho quando ele entrou no seu quarto.
— Pai? — disse, relutante. — O que é isso? Esse trambolho não vai ficar aqui, vai?
— Em primeiro lugar — disse o pai, — esse trambolho é herança do seu avô, seu último desejo foi de que o guardássemos bem. — Ele colocou o móvel no chão e continuou. — Em segundo, ainda mando nessa casa e esse armário vai ficar onde eu deixar.
— Mas… essa coisa vai ficar aqui? Deve estar lotado de cupins. Eu vou ter pesadelos de noite.
— Seja homem, Thomas. — retrucou o pai — pare de choramingar. Você nem vai dar conta de que ele está aqui. É só um guarda-roupa.
O garoto abaixou a cabeça, contrariado.
— Não quero essa coisa aqui. — Insistiu.
— Eu já disse. Droga! — gritou o pai. — É herança da família e vai ficar aqui. Venha me ajudar com isso agora.
Depois que eles colocaram o guarda-roupa no lugar, Thomas olhou para o móvel. Era velho, mas também parecia mais do que isso. As formas desenhadas nas portas eram diferentes de tudo o que ele já havia visto. Os desenhos que contornavam a madeira pareciam caóticos e sem sentido aos olhos do menino. Como se a pessoa que os fez estivesse sentindo uma dor insuportável. Thomas também percebeu alguns arranhões na lateral do móvel. Eram profundos e tinham pelo menos uns trinta centímetros.
Ele olhou novamente para o guarda-roupa e ele pareceu crescer aos seus olhos. Se agigantando diante da sua presença ridícula, pronto para engoli-lo
A verdade era que Thomas sentia que o guarda-roupa era uma coisa que não era uma coisa. Algo estranho e fora do contexto da realidade que a qualquer momento falaria com ele em uma língua antiga e esquecida.
Na primeira noite, seguindo o conselho do pai, Thomas se absteve da preocupação com o novo companheiro de quarto.
No outro dia, vendo que nada o havia atacado, nenhum cupim geneticamente modificado ou qualquer outra coisa, resolveu colocar nele algumas roupas que faziam volume no “antigo” guarda-roupa.
Ele abriu as portas e puxou uma das gavetas para averiguar se as roupas caberiam ali. Achou estranho que o tamanho da gaveta não batesse com a profundidade do guarda-roupa.
— Que coisa — disse para si mesmo. — Por que tem esse espaço todo?
Decidiu retirar o tampo que ficava por cima das gavetas. Procurou algo para usar como alavanca e encontrou uma régua de metal, que usava em seus trabalhos de arte.
Thomas enfiou a régua entre o tampo e a parte de trás do móvel, depois forçou para baixo e ouviu um TREC quando a madeira cedeu.
Um cheiro estranho subiu no ar e Thomas se afastou, tossindo. Lembrava muito carniça, mas tinha algo mais misturado àquilo, algo ardido, como gengibre.
O local estava completamente escuro e Thomas ficou com medo de colocar as mãos ali. E se tivesse um animal morto? Ou pior, uma pessoa morta? Toda coberta de gengibre, temperada por canibais antes de virar churrasco?
O garoto pegou uma lanterna e se aproximou, devagar. Havia colocado um pedaço de pano na frente do rosto, por causa do cheiro desagradável.
Quando iluminou o interior do buraco, viu algo enrolado num tipo de papel.
Ele pegou o pacote e o desembrulhou, mas não encontrou uma caixa de jóias. Encontrou um livro.
Era um objeto bastante peculiar. A capa era amarela e não havia nada escrito. Ele abriu e leu em voz alta a palavra no topo da contracapa:
IOCUS
Sem entender, folheou mais e viu diversas imagens de pessoas com cabeças de animais saltando algum tipo de brincadeira de amarelinha.
Cada página parecia mostrar uma etapa diferente da brincadeira. Na primeira, um ser com cabeça de cavalo desenhava triângulos no chão. Na página seguinte, um homem com cabeça de uma águia desenhava figuras dentro desses triângulos: uma faca, uma cruz, uma estrela, um inseto que parecia um besouro, um círculo com um corte feito um pedaço de pizza, três ondas e, por último, um tridente.
Nas demais páginas, outras pessoas-animais apresentavam um passo a passo da brincadeira. Tudo aquilo pareceu incrível para a mente jovem de Thomas.
— Preciso mostrar isso para Sofia. — concluiu, fechando o livro e guardando-o embaixo do colchão.
No outro dia, depois do café e das reclamações do garoto sobre o cheiro da mobília, o pai de Thomas deu-lhe um aromatizador de ar. Ele borrifou o conteúdo dentro da gaveta. Depois pegou o livro debaixo da cama e o abriu novamente.
Todas as criaturas estavam lá, pulando em cima daqueles triângulos.
— O que será que significa isso? — Ele olhava para o desenho, tentando decifrar seu significado.
Thomas pegou uma caneta piloto preta e olhou novamente para o desenho da página. Desenrolou o carpete e começou a desenhar os triângulos no chão. Depois, desenhou como podia cada símbolo dentro deles e, no fim, se deparou com algo muito parecido com o desenho do livro, apesar das imperfeições:
Ele ficou olhando para sua obra e depois abriu o livro novamente. Analisou as figuras e percebeu que os homens-animais realmente pulavam os triângulos como uma amarelinha.
Thomas vasculhou os bolsos atrás de alguma coisa para jogar e encontrou moeda uma de vinte e cinco centavos.
— Bem, — disse em voz alta — se for desse jeito, é só jogar a moeda na casa que eu quiser e depois pular até lá.
Ele se preparou. Mirou na estrela e, quando ia soltá-la, ouviu um barulho e parou. Era um rangido na madeira, como algo se arrastando na madeira. O som parecia vir de dentro do guarda-roupa.
Thomas caminhou até o móvel. O barulho ficou mais alto e mais rápido. Ele olhou para o vão de onde tinha tirado o livro. Só escuridão. Não conseguiu ver nada, só ouvir, cada vez mais alto, o barulho de algo se arrastando na madeira.
Esticou a mão dentro do vão — a curiosidade cegando-o de qualquer perigo — e quando parte do antebraço estava tomado pela escuridão, o barulho parou e ele ficou ali, imóvel, apenas sentindo o silêncio pulsar forte em cada batida do seu coração.
Então, algo saltou de dentro da escuridão e avançou nele. Voou em seu ombro e escorregou para o chão, coleando pelo quarto e sibilando, até encontrar um buraco e desaparecer.
Thomas estava tremendo, dos pés a cabeça, ele sentia o suor frio escorrer pela sua nuca e pôs as mãos trêmulas na cabeça.
— Não posso fazer isso sozinho. — disse alto, para tentar afastar o medo.
Quase uma hora depois, a campainha da casa tocou e uma garota entrou no quarto. Thomas estava com o livro nas mãos.
— Encontrei dentro do guarda-roupa, Sofia — disse Thomas. — Parece ser um livro de brincadeiras antigas.
— Que tipo de brincadeira é essa em que você desenha uma faca dentro de um triângulo? — Perguntou Sofia, apontando para os símbolos.
— Então… ao que parece — continuou Thomas. — É um tipo de ritual.
— Igual aquele filme das crianças que ficam presas dentro de um jogo de tabuleiro?
— Acho que está mais para aquele do espírito que persegue a menina que brincou com um jogo de tabuleiro satânico.
Sofia olhou para Thomas, depois olhou novamente para o desenho.
— Legal. — disse entusiasmada.
— Pois é. Eu desenhei a coisa e tudo. Mas não sei se quero mais brincar disso — confessou o menino.
Sofia foi até Thomas, sem conter o riso.
— Vai me dizer que você está com medinho? — perguntou.
Thomas se lembrou da coisa rastejando pelo quarto, e do medo implacável que sentiu quando ele saltou sobre ele.
— É lógico que estou com medo. Olha esse livro. — Ele apontou para o livro em cima da cama. — Parece que a capa foi feita com pele de algum animal. De que século é esse negócio?
— Pelo que parece, — interrompeu Sofia, já sentada na cama com o livro aberto nas mãos. — essas figuras aqui mostram como se brinca.
— Acho melhor a gente deixar isso pra lá. — disse Thomas.
— Thomas, minha nossa. Para de ser mais maricas do que você já é. — disse Sofia, colocando o livro de lado. — É só um livro velho… e se você não quer fazer nada, porque me chamou, então?
— Eu… fiquei com medo. — disse, envergonhado.
— E daí me chamou… — Sofia disse isso desenhando um enorme ponto de interrogação no ar. — P-O-R Q-U-Ê?
— Eu precisava mostrar isso pra alguém e você… você é minha única amiga. — confessou Thomas, envergonhado.
Sofia olhou para o menino e não conseguiu deixar de sentir pena dele. Ela o abraçou. Depois o olhou nos olhos e disse:
— Eu não sou sua amiga. Sou sua melhor amiga, seu cabeção.
Thomas sorriu.
—Ok, — continuou a menina — essa coisa é só um livro. E sabemos que esse negócio de demônios com cabeça de crocodilo que comem gente não existe, certo?
— Er… certo?
— Lógico que sim, caramba. E vamos provar isso agora.
— Vamos… Vamos? Como? — perguntou Thomas.
Sofia revirou os olhos.
— Como, bobalhão? Brincando desse troço, oras.
— Mas, Sofia. Eu não sei…
Ela o puxou para frente do desenho.
— Não seja tolo — disse. — Você mesmo desenhou isso e não aconteceu nada, não é? A gente faz como os desenhos ensinam e acabamos logo com isso. Daí eu posso ir pra casa em paz e você pode dormir sem molhar as calças.
Ela segurou forte na mão de Thomas e mostrou seu melhor sorriso encantador.
— Ok. — declarou Thomas, mais para si mesmo do que para Sofia. — Vamos lá. Superar nossos medos. É assim que temos que agir para alcançar todo e qualquer objetivo, certo?
Sofia riu daquilo.
— É isso aí, Augusto Cury saído do armário. — disse a menina, ainda rindo. — Talvez você esteja lendo autoajuda demais, mas é melhor do que tremer na base. Vamos começar logo e ver o que acontece.
— Eu começo — disse Thomas dando um passo à frente.
Sofia olhou para ele, impressionada.
— O que foi? — surpreendeu o menino. — Você mesma disse que era só um livro velho.
A menina deu de ombros e Thomas pegou a moeda.
— Temos que fazer exatamente o que as figuras fazem. — explicou Sofia. — Você joga a moeda no triângulo que você quer e salta até ele. Daí o próximo faz a mesma coisa.
Thomas olhou para os desenhos e começou a considerar sua jogada. Olhou o besouro. Depois olhou para as curvas que pareciam ondas. Pensou em jogar ali, mas olhou mais acima e viu o círculo fatiado.
Ficou olhando aquele desenho. A parte cortada fazia duas pontas e o contorno do círculo abaixo o fez imaginar a face de um animal com orelhas pontudas. Pensar aquilo lhe deu calafrios e ele resolveu jogar a moeda o mais longe possível daquela figura. Então, soltou-a sem esforço e ela caiu sobre a faca.
Ele deu um passo para dentro do triângulo e ficou parado, esperando algo acontecer.
A janela estava entreaberta e ouvia-se o barulho dos carros na rua. Havia começado a chover e os pneus faziam um barulho alto quando passavam no asfalto molhado.
Thomas deu um sorriso sem graça e disse.
— Bem, parece que nenhum demônio roubou minha alma.
Os dois começavam a rir quando a trava da janela se soltou e ela bateu com força, fazendo um estrondo que ecoou no quarto todo.
Thomas e Sofia deram um salto, ela se jogou para trás protegendo o rosto. Thomas só conseguiu arregalar os olhos, sem se mexer.
O som da rua ficou abafado e distante. Depois de alguns segundos assustadores, Sofia quebrou o silêncio.
— Bem — disse. — minha vez.
Ela pegou a moeda ao lado de Thomas, estava pegajosa de suor. Olhou para ele, que estava visivelmente aterrorizado, e deu uma piscadela.
“Que boba eu sou.” — pensou. — “quem é que tem medo de fantasmas?”
Ela virou-se de costas, fechou os olhos e jogou a moeda, sem cerimônias.
O objeto fez um arco no ar e caiu sem quicar no último triângulo, com o tridente. Sofia se virou e começou a saltar cantarolando. Parou, pegou a moeda do chão e levantou o braço.
— Venci, seus fantasmas trouxas. — disse, por fim. — Todos vocês vão queimar no inferno agora.
Sofia pulava fazendo vês de vitória e Thomas começou a rir. Depois ele olhou para todo o quarto. Para o desenho no chão e para o tapete jogado no canto.
— Isso foi bem se graça, no fim das contas. — disse arrependido.
— O pior ainda está por vir. Quando seu pai descobrir que você rabiscou o chão do quarto com uma caneta piloto, vai te matar. — Disse Sofia, gargalhando.
Thomas pegou o tapete e desenrolou sobre o desenho. Cruzou os braços e olhou com orgulho para Sofia. Era como se nada tivesse acontecido.
— É como se nada tivesse acontecido. — disse Sofia, não sem um pouco de desânimo.
Sofia se foi e Thomas ficou no quarto. O pai, com sua natural falta de tato, disse que sairia por algumas horas.
— Voltarei antes das onze — disse. —Tem comida no microondas. Lasanha. Dois minutos apenas. Não coloque mais do que isso ou ela vai tostar.
Sozinho na casa, Thomas abriu o livro novamente. Todas as figuras estavam lá, mas havia algo estranho. Em uma página que ele não tinha visto antes havia um homem-animal com a cabeça de uma cobra, mas seu corpo parecia opaco, apagado. Como se alguém tivesse passado uma borracha no desenho.
Ele analisou aquilo por um instante e acabou adormecendo com o livro nos braços.
Acordou no dia seguinte com uma forte dor de cabeça. Levantou devagar e viu o livro em cima da escrivaninha. Tentou lembrar como adormecera, mas não conseguiu. Acabou descendo para tomar café.
Não encontrou o pai, mas havia um bilhete na mesa:
“Estarei fora o dia todo. A lasanha ainda está no microondas.”
Ele comeu rápido e pegou a bicicleta que estava na garagem. Eram sete da manhã. Thomas gostava de pedalar naquele horário, quando não havia ninguém na rua. Ele andou por três quarteirões e dobrou uma esquina, no fim dela havia um terreno baldio.
Ao chegar em frente ao terreno, parou para amarrar os cadarços. Dava para ver mato alto por trás do muro, balançando leve ao toque do vento. Ainda abaixado, ele ouviu uma voz chamar seu nome. Parecia um sussurro, algo contido, como se alguém estivesse sufocando e pedindo ajuda.
Thomas se levantou e se aproximou do muro. O chamado continuava tão sufocante quanto antes.
Intrigado, quis ver o que havia do outro lado e começou a escalar. O muro era alto, pelo menos três metros. Quando Thomas chegou ao topo, viu um matagal que se estendia até uma enorme parede, uns 20 metros de distância de onde estava. Pés de mamona encobriam o lugar, junto com entulho e mato, mesmo assim algumas caixas de madeira jogadas chamaram sua atenção.
— Da mesma cor do guarda-roupa do vovô — pensou.
Não havia ninguém ali, e isso o deixou mais curioso. Tinha certeza que ouvira uma voz chamá-lo.
Ele sentou no topo do muro e se preparou para voltar. De repente, algo se moveu fora do seu campo de visão e ele desviou o olhar rapidamente. O mato balançou, mas ele não viu nada.
Então, algo bateu contra a mureta e tudo tremeu, fazendo Thomas perder o equilíbrio. Num reflexo rápido, ele conseguiu agarrar no cimento e ficar com os braços apoiados.
O muro balançava como se um terremoto estivesse acontecendo e Thomas balançava junto, sendo lançado de um lado para o outro. Ele ia cair, não conseguia mais segurar.
Antes de perder a força nos braços e cair, um vulto passou entre os pés de mamona e Thomas viu algo rastejando pelo manto. A sombra serpenteou pelo terreno e sumiu embaixo de um pedaço de madeira.
Thomas caiu para o lado da rua — o que poderia ser considerado sorte — e se estatelou em cima da bicicleta, torcendo o tornozelo e ralando a bacia e as pernas.
Ele voltou para casa e não disse ao pai o que havia acontecido.
Durante o resto da semana, não conseguiu dormir direito, um pouco por causa das dores no corpo e um pouco por causa da criatura que nitidamente aparecia em sua mente toda vez que fechava os olhos.
No outro fim de semana, estava pedalando no parque estadual. Ele contornava o lago quando encontrou Sofia sentada na grama. Ela olhava para os lados e parecia temer alguma coisa.
Thomas parou ao lado dela.
— Está tudo bem? — perguntou, soltando a bicicleta de lado.
Sofia deu um grito de susto.
— Meu Deus do céu. — disse. — Você quer me matar do coração?
— Liguei na sua casa e ninguém atendeu. — disse Thomas naturalmente. — Ia te chamar para virmos no parque.
Sofia jogou o cabelo de lado e não disse nada. Thomas sentou ao lado dela.
— O que foi? — perguntou. — Você está estranha.
— Não é nada… — disse Sofia. Depois fez um sinal com a cabeça e continuou. — Não… tem sim. Thomas, tem alguma coisa acontecendo. Eu tive uns sonhos estranhos.
— Como assim? Que tipo de sonhos? — perguntou Thomas.
Ela olhou para ele e suspirou.
— Desde aquele dia na sua casa, toda noite… — Ela cruzou os braços e olhou para baixo. — O sonho começa comigo brincando sozinha naquilo. Eu pulo nos triângulos sobre um chão totalmente negro. É como se os desenhos estivessem suspensos num céu escuro. E quando eu salto sobre o último, ele simplesmente desaparece.
Thomas olhava para Sofia intrigado e um pouco aliviado por saber que não era o único que havia presenciado coisas estranhas.
— Então, eu caio. — continuou Sofia. — Eu começo a cair e de alguma forma eu sei que é um sonho, mas não consigo acordar.
— Eu já senti isso uma vez. Você sabe que está sonhando, tenta acordar, gritar. Mas nada acontece e você continua naquele pesadelo. É horrível.
— É. Mas isso não é o pior. — Sofia pegou no braço de Thomas e olhou nos olhos dele. — Enquanto eu caio, eu ouço vozes. Muitas Vozes. Todas chamando meu nome. No começo são como sussurros, mas depois começam a aumentar, até ficarem insuportáveis.
Thomas lembrou-se da voz que o chamou naquele terreno, lembrou também da sombra que serpenteava o matagal e um calafrio subiu gelado pela sua espinha.
— E mesmo assim… — continuou Sofia. — Eu não acordo. Eu só caio e ouço esses gritos insuportáveis me chamando. E depois do que parecia ser muito tempo, eu finalmente desperto, toda suada.
— Bizarro. — disse Thomas. — Mas são só sonhos, Sofia. Não passam de coisa da nossa imaginação. Você mesma disse isso.
— Tem mais. — continuou ela. — Agora eu ouço essas vozes mesmo quando estou acordada. Elas me chamam em todo lugar. Parecem vir da gaveta de meias, de trás de uma porta semiaberta. Elas sussurram no meu ouvido enquanto eu digito no computador, enquanto leio um livro. As vozes… eu sei… eu… de alguma forma eu sei que são das criaturas que estavam desenhadas naquele livro, Thomas. Será que eu estou ficando louca?
Thomas preferiu não falar sobre a experiência dele no muro do terreno.
— Precisamos voltar para o seu quarto. — disse Sofia. — Acabar com aquele livro.
Thomas ponderou se aquela era a melhor saída. Talvez se falassem com seu pai, ele poderia ajudar. Depois, considerou todo o tempo em que escondeu o que estava acontecendo e ficou com medo das represálias diante de suas atitudes.
— Tem razão — disse. — vamos destruir aquele livro.
Os dois voltaram para o quarto e Thomas retirou o livro de baixo do colchão.
— E agora? — perguntou.
— Temos que nos livrar dele. — respondeu Sofia.
— Vou jogar no lixo. — disse Thomas. Depois, pensando um pouco, discordou de si mesmo. — Não… já sei, vamos queimá-lo.
— Thomas — disse Sofia, — antes de fazermos isso. Vamos dar uma última olhada nesse negócio.
— Eu não quero abrir isso, Sofia — reclamou Thomas. — Sei lá o que pode acontecer com a gente.
— Sinceramente — disse a menina, — na situação que estamos, acho que não vai fazer muita diferença.
Thomas colocou o livro no chão e começou a folhear as páginas até Sofia o interromper.
— Pare um pouco. — disse ela. — você viu aquilo? Volta uma página.
Ele voltou para a página anterior.
— Tem algo errado com eles, não tem? — disse Thomas. — Com os homens com cara de bicho?
As criaturas pareciam diferentes de como Thomas havia visto da primeira vez. Agora elas pareciam gritar. Seus olhos demonstravam puro terror, como se estivessem sendo obrigadas a estar ali de alguma forma.
Thomas voltou a folhear o livro e em uma das páginas, encontrou uma anotação que não havia notado.
— Isso não estava aqui antes. — disse ele.
O garoto e leu o que estava escrito:
“Socorro. Eles estão atrás de mim. Não consigo parar de ouvir e ver. Eles gritam no meu cérebro… Estou…“
E depois disso, diversos garranchos incompreensíveis.
— Que estranho. — disse Sofia pegando o livro das mãos de Thomas. — Parece até alguém pedindo ajuda.
— Vamos acabar logo com isso — declarou Thomas, tirando do bolso um isqueiro Zippo — Achei isso lá embaixo. Acho que era da época em que meu pai fumava charutos.
Ele abriu a tampa do isqueiro e riscou o tambor. Aproximou o fogo do livro, sentindo o calor que saia da chama.
Quando estava prestes a tacar fogo nas páginas, um estrondo ressoou tão alto no quarto que o tapete ondulou junto com as luzes. Thomas e Sofia se olharam, mas não houve tempo de dizerem nada. Tudo ficou escuro.
O barulho de passos e sussurros incompreensíveis tomou conta do lugar. A menina gritou balançou os braços na escuridão procurando uma parede para se apoiar. Thomas se agachou e tateou o chão em busca do isqueiro, que havia caído e se apagado, mas a cada passo cego que dava, o menino sentia alguma coisa próxima dele, respirando pesado em seus ouvidos, o desespero tomando conta daquela criança perdida na escuridão.
Depois de um tempo, o silêncio imperou, mais aterrorizante do que nunca. Até que Sofia o quebrou.
— Thomas — disse assustada.
Thomas não respondeu.
— Thomas? — gritou a menina. — Você está aí?
Quando Sofia começou a chorar, a luz voltou e ela se viu de joelhos no meio do quarto.
Thomas não estava mais ali. O livro estava fechado, intacto, e soltava uma fumaça com cheiro desagradável.
Ela olhou em volta e chamou por Thomas de novo. Nenhuma resposta.
A porta do quarto se abriu e uma pessoa entrou. Quando Sofia viu o pai de Thomas começou a chorar mais ainda.
— Senhor V. — disse, aos soluços. — Eu não sei o que aconteceu. Tudo ficou escuro e…
O Senhor V. fez um movimento afirmativo com a cabeça e caminhou até o livro no meio do quarto. Ele o pegou e bateu as cinzas que o cobriam. Abriu-o e fez um TESC com a língua.
Diversos homens-animais apareciam na página, mas um havia um novo personagem agora. Um novo bicho saltava entre os triângulos, ele tinha a cabeça de uma cobra e o corpo pequeno, como o de uma criança.
— Fui estúpido em não tê-lo alertado. — disse o homem. — Meu pai era um conservador, sabe? Ele não permitia que ficássemos sabendo, porque acreditava que o ritual era uma iniciação da família. Perdi meus dois irmãos mais velhos na época.
— O quê? Do que o senhor está falando, senhor V.?
— No fim das contas, o medo é a chave. Se você não sentir medo quando brincar, não é levado. — Senhor V. disse como se estivesse falando sozinho. Depois olhou para Sofia — Esse livro passou de geração em geração, você entende? É um coletor de almas e… bem, você não deve ter ideia do que seja isso. Mas, mesmo assim, você sobreviveu. Não teve medo. Já meu filho… — ele olhou para o livro. — eu devia ter alertado o garoto.
— Senhor V. — disse a garota, ainda com lágrimas nos olhos. — eu… eu sinto muito.
O senhor V. sorriu.
— Minha esposa morreu quando Thomas era muito jovem. — declarou. — Eu nunca disse a ele o que aconteceu, mas a verdade é que ela não aguentou ter que ver o filho se submeter a isso algum dia e tentou destruir o livro. Ela tentou rasgá-lo, tentou queimá-lo, mas acabou morta por ele.
— O quê? Como assim? — Sofia não conseguia entender o que pai de Thomas dizia.
— Meu filho era a única esperança da família continuar seu legado. — continuou senhor V. — Somos os únicos que sobraram.
Então, o pai de Thomas abriu novamente o livro e o colocou no chão.
— Existem formas de trazer um recém caído de volta. Meu pai tentou com meus irmãos, mas não conseguiu salvá-los. Ele tentou trazê-los de volta sacrificando alguns animais, como em um processo inverso de transformação, mas não deu certo.
Sofia olhava para o Sr. V., perplexa e curiosa.
— Ele matou animais para tentar revivê-los? — Perguntou Sofia, ingenuamente.
— Inúmeros. Mas nenhum deu resultado — ele disse isso enquanto desenha novos símbolos no chão, em volta do livro. Sofia se aproximou do homem que, abaixado, desenha coisas em volta do livro antigo.
— O senhor pode trazer o Thomas de volta, então?
— Eu fiz alguns experimentos, — disse senhor V. — durante o tempo em que o livro estava em meu poder. Descobri que só um tipo de animal funciona como moeda de troca para esse livro.
— Sério? Qual?
— Um ser humano. — disse olhando para ela.
Sofia só caiu em si quando o senhor V. levantou e a olhou profundamente.
— Você é minha única esperança. — disse ele sem emoção na voz. — Me desculpe.
Antes que Sofia dissesse algo, o senhor V. avançou. A menina correu e passou pela porta do quarto. O corredor da parte de cima fazia um L entre a casa, mas Sofia foi para o lado errado. A escada estava na outra ponta dele.
Ela se encolheu na parede e o Sr. V. se aproximou rápido, agarrou-a pelo pescoço e começou a arrastá-la de volta ao quarto. Ela gritou e ele a golpeou com força sua boca. Seus lábios incharam e ela sentiu o gosto metálico do sangue.
Ele a puxou pelos pés e estava passando pela porta quando ela se segurou em um dos batentes. Senhor V. parou e deu puxão forte. Uma ripa de madeira soltou em sua mão e ela a segurou com força, os fiapos entrando fundo na pele, como agulhas grossas.
O homem virou-se para puxá-la pelos braços e soltou suas pernas por tempo suficiente para que ela virasse o pedaço de madeira com a ponta para frente.
Senhor V. agarrou seu pescoço de novo e a levantou do chão. Deixando-a suspensa.
— Pare de tentar evitar o inevitável. — Disse ele com uma voz doce, quase relutante. — Você pediu por isso. Não pediu? Ou acha que eu não sei que você o incentivou?
Quase sem forças para respirar, Sofia fincou a madeira no pescoço do pai de Thomas. A ripa entrou por baixo do queixo, atravessando sua garganta e ela conseguiu ver os fiapos de madeira por dentro da sua boca aberta.
Ele apertou mais ainda a mão no seu pescoço e ela teve certeza de que iria desmaiar.
Então, tudo ficou escuro.
EPÍLOGO
Um terreno baldio em uma esquina esquecida de um bairro de periferia é famoso e temido pela vizinhança devido a alguns relatos estranhos. Vizinhos e passantes do lugar insistem em afirmar que algo acontece ali. Muitos já disseram terem visto um vulto negro se arrastando pelas paredes do muro que protege o terreno. Outros confessaram que ouviam vozes de crianças gritando e dizendo coisas incompreensíveis sempre que passavam do lado do terreno.
Uma mulher disse, certa vez, que ouvia a voz do filho, que morrera depois de um surto psicótico. Ela dizia que o filho sofria de problemas mentais, algum trauma da escola, bullyng por ser diferente dos outros meninos, e que ele cortou a própria garganta, mas não sem antes talhar no corpo desenhos bizarros de triângulos com facas e outras coisas dentro.
No muro, desenharam diversos desses triângulos, eles cobrem toda a sua extensão. Ninguém sabe ao certo quem fez essas figuras, mas ninguém parece ter coragem de apagá-las.
Uma garota, indo contra toda a lógica sensata do pessoal dali, está parada em frente ao muro. Na sua cabeça, vozes gritam sem parar, vozes conhecidas, inclusive. E ela sabe que vai ouvir essas vozes por toda a sua vida.
Ela carrega um pacote nas mãos. Algo embrulhado em papel pardo. Ela tira a mochila que leva nas costas e de dentro dela retira um isqueiro Zippo. Acende e aproxima o fogo do pacote. O calor envolve todo o embrulho e ele começa a queimar. Ela o pega sem medo. As mãos envoltas nas chamas ardem de dor. Ela chora, mas não por causa das queimaduras.
As vozes em sua cabeça ficam mais altas e ela arremessa o pacote com toda a força, ele faz um arco por cima do muro e cai do outro lado. Os gritos parecem estar dentro da sua cabeça, reverberando agudos e a ensurdecendo. Sangue escorre da sua orelha até o seu queixo. Uma fumaça negra e espessa começa a subir de dentro do terreno, mas ninguém percebe, ou parece não perceber.
Mais tarde, algumas pessoas comentaram ter visto uma menina na frente no terreno. Outros, menos céticos, disseram que era um dos fantasmas que rondava o lugar, gritando por socorro. Disseram também que a fumaça era um sinal de que ele finalmente teria passado para o outro plano e, durante muito tempo, nada mais foi visto ou ouvido por ali.
Terror infanto-juvenil com influências de outras histórias já conhecidas, a questão da herança de maldições, um desenrolar macabro….seu conto é muito bom, gostei muito, consegui vivenciar o medo e imaginar as cenas.
Uma revisão básica e fica excelente.
Muito boa sorte!
Escrita: No geral é muito boa. Simples, fluída. As descrições são bem feitas, os diálogos são ótimos. Outras vezes o texto pareceu apressado, atropelando cenas que poderiam ser melhor trabalhadas (talvez tenha sido devido ao limite máximo). Me incomodou um pouco alguns períodos onde se repete demais “pai de Thomas”. Já no primeiro parágrafo temos essa construção: “Quando o pai de Thomas estacionou a caminhonete em frente da casa, um garoto olhava pela janela do seu quarto, no segundo andar.” Já tinha se falado que era o pai do Thomas, e logo depois Thomas e citado como “um garoto”. Ficou estranho o artigo indefinido, melhor seria “o garoto”.
Terror: É um conto de terror abarrotado de clichês. É ruim. De maneira nenhuma. Você soube fazer uma estória muito boa; seus personagens são carismáticos, as cenas bem elaboradas. Me incomodou o fato do protagonista se indagar se o pai estava carregando uma TV ou geladeira, visto que são eletrodomésticos de tamanhos muito diferentes, e no fim das contas o pai estar trazendo um guarda-roupa sozinho!!!!! O fato também do pai saber de tudo e ainda assim deixar o móvel no quarto do filho e não fazer força alguma para evitar que o mal recaia sobre ele.
Nível de interesse durante a leitura: Fiquei imerso na leitura.
Veredito: É uma boa história de terror. Me fez lembrar o Clube do Medo (um seriado que eu assistia quando criança)
O nome do seriado é Clube do Terror.
=====TRAMA=====
Esta história tem o “kit básico de terror”: livro proibido, armário assombrado, pesadelos bizarros, crianças inocentes. Ela é uma boa história, mas um pouco “inocente”, sem nada de muito inovador.
Acho que o que mais me incomodou neste enredo foram as motivações (ou a falta delas). Nada tem objetivo. O ritual em forma de “brincadeira” não ficou claro… o livro era um coletor de almas, mas para quê? Por que este livro foi passado de geração em geração? Por quê o filho do Senhor V. TERIA que passar pela provação do ritual, a tal ponto que a sua própria esposa arriscou a vida tentando destruí-lo? E, sabendo que o garoto encontraria o livro, por quê o senhor V. não o preparou? É tanto fato atrás de fato que pede explicações, que no final da leitura senti que lia algo um tanto superficial. Sabe… uma história com o único objetivo de causar algum medo ou espanto, mas sem um pano de fundo crível.
Por outro lado, os personagens principais são bem legais: Thomas e Sofia são bem construídos, com personalidades distintas e bem exploradas. Especialmente Sofia, que chega cheia de atitude. O Senhor V. merecia algum espaço também, já que senti que ele foi bem menos explorado e, sendo quase um algoz, pede um pouco mais de profundidade.
Enfim, resumindo: uma história um pouco rasa.
=====TÉCNICA=====
Sua escrita é daquelas que tem tudo para ser excelente, mas neste texto ficou um tanto apressada. A história é grande demais para o limite de palavras, então você acabou atropelando uma cena com outra, nunca deixando que as suas frases respirassem e ganhassem espaço.
A leitura até fluiu, mas pede uma boa revisão. Avistei vários errinhos, mas não anotei a maioria. Segue apenas alguns trechos que me incomodaram e que achei válido comentar:
1) “Quando o pai de Thomas estacionou a caminhonete em frente da casa, um garoto olhava pela janela do seu quarto, no segundo andar.” – esta frase ficou muito confusa. Primeiramente, acho que o certo seria “na frente da casa” ou “em frente a casa”. Depois, foi estranho falar do “Pai de Thomas” e de “um garoto na janela”. Ora, se o garoto é o próprio Thomas, fale logo que é ele! No final da frase, não se sabe ao certo se o quarto onde Thomas estava era do Senhor V. ou do próprio Thomas.
2) “Ele olhou novamente para o guarda-roupa…” – esta frase ficou estranha no contexto por quê Thomas nunca tirou o olho do guarda-roupa. Como você “olha para o guarda roupa” e logo em seguida “olha novamente para o guarda-roupa” sem tomar nenhuma ação entre uma olhada e outra?
3) “Ele pegou o pacote e o desembrulhou, mas não encontrou uma caixa de jóias. Encontrou um livro…” – Em momento nenhum você sugere que Thomas esperava encontrar uma caixa de jóias. O embrulho era tão misterioso para ele quanto era para o leitor. Poderia ser qualquer coisa.
4) Você confirma alguns parágrafos com falas dos personagens, repetindo algumas ideias desnecessariamente. Por exemplo:
“Achou estranho que o tamanho da gaveta não batesse com a profundidade do guarda-roupa.
— Que coisa — disse para si mesmo. — Por que tem esse espaço todo?”
“Era como se nada tivesse acontecido.
— É como se nada tivesse acontecido. — disse Sofia, não sem um pouco de desânimo. – repetiu??”
Aliás, todo esse esquema das crianças falarem em voz alta consigo mesmas foi muito superficial. Ninguém pensa alto assim o tempo inteiro, nem mesmo crianças.
5) Algumas frases estão repetindo muitas palavras em intervalos curtos. Por exemplo:
“Thomas estava tremendo, dos pés a cabeça, ele sentia o suor frio escorrer pela sua nuca e pôs as mãos trêmulas na cabeça”. – CABEÇA
“Era um rangido na madeira, como algo se arrastando na madeira…” – MADEIRA
“A janela estava entreaberta e ouvia-se o barulho dos carros na rua. Havia começado a chover e os pneus faziam um barulho alto quando passavam no asfalto molhado.” – BARULHO
6) Sofia tem uma fala que faz ela parecer ter quase trinta anos. Sério. Olha isso:
“— É isso aí, Augusto Cury saído do armário. — disse a menina, ainda rindo. — Talvez você esteja lendo autoajuda demais, mas é melhor do que tremer na base. Vamos começar logo e ver o que acontece”
Não parece nem um pouco uma fala de uma criança!
Para fazer justiça, apesar dos seis pontos citados acima, achei a sua escrita boa. Ela precisa melhorar, sim, mas está seguindo o caminho correto. Gostei da ideia de usar uma ilustração no meio do conto – ela adicionou muito à trama.
Para finalizar, destaco uma frase que achei muito bem construída:
“A verdade era que Thomas sentia que o guarda-roupa era uma coisa que não era uma coisa. Algo estranho e fora do contexto da realidade que a qualquer momento falaria com ele em uma língua antiga e esquecida”
Abraço!
Infelizmente me incomodou as manobras da história. O guarda roupa não teve muita serventia. Daí a forma como o menino o investiga e encontra o livro é muito forçada e parecida com outras cenas que já vimos assim. Sinceramente? Eu acho que você devia pensar em uma forma diferente e melhor para esse livro surgir e parar nas mãos do menino. Depois, o conto ganha ares meio jumanji, em que me foi difícil aceitar tanta curiosidade das crianças por aquele livro e jogar o jogo desconhecido. Mais adiante, Sofia pede que eles destruam o livro, mas depois diz que é melhor dar uma última olhada. Putz, como assim? E quando toda a desgraça acontece, pensei que ia engrenar, e aí surge o pai e de forma didática conta toda a história da maldição, e pior, falando para uma menina, que pela lógica deveria achar aquilo a maior loucura do mundo, mas reage com certa frieza. Eu acho que você escreve bem e tem boas ideias, mas a construção da trama não gostei.
Olá, autor.
Muito bom conto. Me senti lendo um verdadeiro roteiro de filme de terror. Todos os clichês do tema estão presentes, mas não é um problema, pois eles são bem desenvolvidos.
Os personagens são cativantes e por alguns instantes, consegui captar a aura de ” IT” do mestre Stephen King. A história de crianças enfrentando algo aterrorizante.
A Leitura é simples e direta, dando informações objetivas, sem rodeios.
Não há muita coisa no quesito inovação, mas é uma história que explora bem o tema, mesmo que já batido.
Quanto a gramatica, apenas um erro ou outro de revisão, que não afetam a apreciação da história.
Excelente.
Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto em bom uso dos elementos de suspense e terror. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tem que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário sirva como uma crítica construtiva. Boa sorte!
A maldição que é passada de geração em geração. Este não é o primeiro conto a perpassar por esta trama e o faz relativamente bem, com os dois personagens crianças convencendo em sua amizade, curiosidade e ingenuidade. A conversa entre os dois demonstra a dinâmica que eles têm.
Quanto ao elemento de terror, ele é trabalhado por através da perspectiva dessas personagens, nos repassado de forma bem sucinta no medo e inocência das duas crianças, que não duvidam do jogo com o ceticismo típico dos adultos, mas com um tom de brincadeira que mascara um temor. No entanto, a escrita por muitas vezes evidencia descrições e acontecimentos que depois não são reaproveitados no texto, como o armário, que parece ser o centro da maldição quando na verdade é o livro, e o ser rastejante que assombra Thomas, mas depois não reaparece ou é colocado diretamente na história. Em outros momentos – que inclusive demoram acontecer e deixam a leitura um pouco arrastada – como o sumiço de Thomas, o problema é justamente o contrário, com o acontecimento sendo referenciado em um apagar e ligar de luzes, já passando para o pai dele.
A reviravolta também não é tão convincente. O pai foi uma figura apática durante todo o conto, mas a sua aparição como aquele que sabia de tudo sobre o livro, embora surpreendente, é no mínimo estranha. O filho dele tinha que ter sido corajoso, mas ele simplesmente esqueceu de avisá-lo e agora quer trazê-lo de volta? Foi como pegar uma personagem vazia e coloca-la no papel vilanesco da história.
Minha sugestão é que o conto seja reescrito com uma economia em descrições que não contribuam para a trama, cuidando de desenvolver mais o personagem paterno, substituindo sua indiferença pela opinião do filho quanto ao guarda-roupa com uma postura mais agressiva e atrelada à herança em si. Não dizer que “ele manda na casa”, mas dizer que “o guarda-roupa vai entrar”, conferindo uma maior importância dele àquela peça e talvez o mantendo mais presente na história, explorando sua relação distante com Thomas e a perspectiva do menino sobre o pai.
Estimado autor: herança maldita, essa, hein? E fedida, ainda… Bom, gostei da premissa do seu conto. E principalmente da forma como os personagens vão sofrendo as consequências… terror puro, na minha opinião. A técnica, apesar de não ser exuberante, é segura e prende o leitor até o final da história. Mas é aí justamente que a história decepciona um pouco. Me parece inverossímil que o pai tenha “preparado” todo esse empenho para quebrar a maldição histórica. E me pareceu que o epílogo está mais para apêndice – e ainda assim, perfeitamente dispensável. Desculpe a franqueza. Boa sorte no desafio.
Boa noite! Um conto divertido de ler, porém não senti muita emoção. A ideia do jogo, impossível não lembrar de Jumanji (até é citado indiretamente) ou até mesmo de algo mais tábua de Ouija, ficou muito interessante. Ter trabalhado em cima disso, inserido as ilustrações, o livro como manual, ter desenhado no chão e “brincado”, são os destaques do texto. Muito bons, inclusive ter trazido algo mais egípcio, os híbridos entre gente e bicho. Só que senti o desenvolver um pouco sem emoção, principalmente no final. Ali era pra ser o clímax, o grande momento em que o garoto é sugado, mas surge o pai na maior cara de paisagem, tirando todo o conflito da cena e ficando pouco empolgante. Um outro ponto que percebi, do estilo narrativo, foi uma tendência em entregar muito as coisas. O início, por exemplo: tem toda uma descrição do guarda-roupa que não dá espaço pro leitor imaginar, já fala tudo que deveríamos sentir.
Ai, Jumanji… assisti tantas vezes que até enjoei (culpa dos filhos). Então, naõ achei muito legal ler aqui algo tão parecido com o filme… Realmente o guarda-roupa não teve razão de ser, se era necessario o livro estar dentro dele para abrigar os monstros presos, isso nao ficou claro.
Aliás, nada ficou claro.. é o clássico caso de que vc precisa montar a história na mente primeiro e depois escrevê-la… definir bem a ligação livro/roupeiro, definir bem o que o pai queria afinal, q o filho fosse corajoso pra nao ser agarrado pelo livro? mas esqueceu de dizer este detalhe ao garoto? definir uma idade aos jovens protagonistas, definir o terreno baldio… o guarda-roupas foi jogado lá depois da morte do pai e do filho? mas ele estava la quando o rapaz realizou a épica escalada no muro… nao entendi este terreno! definir o bicho que sai de dentro do livro, o q ele é? o q faz? o q come? como sobrevive? 😛
faz um esquema e depois monta o texto.
e deixa claro se o rapaz saiu do livro ou nao, pq eu não vi ele saindo do livro 😮
Um abraço ae e boa sorte!
A história – Um garoto solitário recebe um guarda-roupa do pai. Nele, um estranho livro. O menino e a única amiga então descobrem que, na verdade, estão encarando um ritual macabro. No entanto, o mais assustador é a figura maligna do pai, que sacrificou os elementos da sua família sem dó.
A escrita – Apresenta os problemas já exaustivamente comentados pelos colegas. No entanto, gostei do ritmo e de como o autor consegue criar uma atmosfera juvenil (estilo que deveria ser mais respeitado do que é). Os desenhos apresentados são muito legais, ajudam o leitor a entrar na obra.
A impressão – Se eu lesse na minha adolescência amaria o texto, de verdade. Parabéns e boa sorte no desafio.
Legítimo representante do terror infanto-juvenil. Uma narrativa ágil, rápida, bem pensada. Uma ideia simples, mas bem trabalhada e com direito a plot twist no final. Gostei da experiência, apesar de não se tratar do meu tipo preferido de leitura. Na verdade, chego a pensar que esse tipo de trama é o que faz sucesso junto aos adolescentes, esses que infestam a Amazon. Se eu fosse vc, autor, colocaria este conto lá, à venda. De repente, pode fazer sucesso. Pessoalmente, prefiro algo mais elaborado, mais profundo, que revele o lado psicológico dos personagens, algo que tangencie dilemas filosóficos. Não há nada disso aqui, mas ainda assim digo que apreciei a história, apesar (ou por causa) da trama até certo ponto ingênua e com incongruências. Uma peça excelente de entretenimento. Imaginando que tenha sido esse o seu objetivo, pode considerar cumprido. Parabéns e boa sorte!
O primeiro terço do texto é muito bom. Tem uma atmosfera que gera bastante desconforto. O suspense é constante e gera arrepios no leitor. Isso tudo até a parte do ritual. Há, ainda, bons momentos depois disso, mas perde-se um pouco daquele clima muito interessante inicial. O epílogo, particularmente, achei desnecessário. Ainda assim, a história é interessante o suficiente para deixar uma marca no leitor. Os personagens principais, sobretudo, são bastante carismáticos e faz com que o leitor realmente sinta quando algo de ruim acontece com eles.
Olá, Oscar.
Eu gostei da ideia que vc teve para o seu conto. Um livro que contem uma espécie de portal para outro plano, a herança de uma família alimentada por gerações. Acho que se vc o refizer costurando melhor algumas pontas ele tem tudo para ficar excelente.
Uma das coisas que verifiquei em muitos contos analisados até agora é a opção por introduções muito longas com informações desnecessárias e falta de objetividade. Por exemplo: no seu conto a conversa entre o menino e sua vizinha até entrarem no foco da trama ficou longa demais. Isso vai cansando o leitor porque nada acontece, compreende? Eu acredito que este limite mínimo de 3000 palavras condicionou as pessoas a isso. Aumentando o conto para que ele atingisse esse limite. Outra coisa que me incomodou foi a razão disso tudo. Pelo que entendi, as pessoas da família faziam este ritual com os filhos e a maioria os perdia. Então, porque perpetuar uma tradição onde vc só perde? Que pai é esse que traz uma ameaça para dentro da própria casa e arrisca a vida do próprio filho a troco de continuar uma tradição? Quando a gente escreve, Oscar, as atitudes dos nossos personagens têm que passar uma impressão de coerência, de propósito, de há um motivo plausível para as suas ações, ainda que este motivo seja louco, mas o motivo tem que estar presente, e eu não encontrei explicação alguma.
O bicho que sai de dentro do armário, pensei que ali estaria o ponto alto do terror, mas ele simplesmente sai da trama e só serve mesmo para dar a entender que ali havia algo de muito errado.
O epílogo, como já foi dito aqui, era desnecessário.
Era o que eu tinha para dizer. Acho que vc tem talento, só precisa aprimorar suas histórias tornando-as mais redondas.
Um abraço e parabéns pela participação.
Iolanda.
O conto tem uma pegada de terror infanto juvenil e vinha caminhando bem. No final o autor de perdeu um pouco com algumas incoerências em relacao ao enredo e a linha de personagens. E isso, quem aprecia esse tipo de literatura, cobra muito. Sua escrita eh agil e promove uma leitura rápida. O leitor sente-se com vontade de ir até o fim desvendar o mistério. Penso que faltou apenas um capricho na revisão e um pouco mais de apuro na desfecho da história.
Olá! Segue abaixo o resultado da Leitura Crítica feita por mim em seu texto, com o genuíno intuito de contribuir com sua caminhada neste árduo, porém prazeroso, mundo da escrita:
GRAMÁTICA (1,5 pts) –> Sim, escrever é a arte de cortar palavras… E sem se esquecer de cuidar das que foram poupadas! Ou seja, uma boa e atenciosa revisão é FUNDAMENTAL em um texto — e não apenas para este quesito —, ainda mais em um trabalho que estará concorrendo com os de outros escritores… Não vou, no entanto, bater na mesma tecla e ficar marcando aqui os pontos (que nem foram tantos assim) que outros colegas, mais rápidos e eficientes do que eu, já lhe indicaram. Você escreve bem e consegue transformar em palavras as ideias que existem em forma de imagens em sua mente. E, vamos combinar, escrever é — basicamente — conseguir fazer isso. E o melhor amigo (seu, meu, nosso…) é (foi e sempre será) ele; o Tempo. Tanto a arte (na verdade, a labuta) de escrever quanto a de revisar precisam aprender a dar as mãos (e apertá-las com força) ao Tempo, que a tudo e a todos revela o que não conseguimos sequer enxergar durante estes dois processos. Fica tudo, simplesmente, invisível para os nossos olhos. E, o que é pior, o mesmo não ocorre para com os olhos de quem for ler o nosso apressado trabalho… Sim, escrever é (parafraseando um famoso cantor) quase uma dor… 😦
CRIATIVIDADE / ENRED0 (2 pts) –> Este é, sem a menor sombra de dúvida, o quesito MAIS IMPORTANTE de todos (e consequentemente possuidor do maior peso em sua nota final)… Eu exclamei: “Oh…!” , ou “Uaaau!”, ou “Minha Nossa!!!” (?) Bem… Pra ser sincero… Não. Achei um tema bem batido e que remeteu a muitas outras referências. Portanto… Não é que esteja ruim, mas creio que tenha sido uma escolha pouco acertada. Como num jogo inocente… Às vezes pular uma ou duas casas — evitando cair no atrativo convite do inconsciente coletivo — consegue-se chegar mais rápido ao final.
ADEQUAÇÃO ao tema “Terror” (0,5 pt) –> Como estamos em um Desafio TEMÁTICO, não tem como avaliar sua obra sem levar em consideração este “pequeno” detalhe, rs! Assim sendo, mesmo eu o tendo valorizado apenas com meio ponto, ao final do somatório isso poderá representar a presença (ou não) de seu trabalho lá no pódio. Aqui, sem problemas. O conto atendeu ao pedido pelo Desafio.
EMOÇÃO (1 pt) –> Beleza! Gramática (e revisão!), criatividade (enredo), adequação ao tema… Tudo isso é importante para um bom texto. Mas, mesmo se todos os demais quesitos estiverem brilhantemente executados, e o conto não mexer de alguma forma com o leitor, ou seja, não emocioná-lo, o trabalho não estará perfeito… E aqui o estilo de sua escrita é bastante ágil. Claro que, infelizmente, devido aos deslizes já previamente apontados pelos colegas que aqui chegaram antes de mim, este ‘elo’ tenha se quebrado em alguns momentos da leitura. Mas, no geral, desconsiderando isso, eu me senti atraído pela leitura.
Parabéns e boa sorte no Desafio!
Paz e Bem!
Nota Máxima = 5,0
Sua Nota = 05 + 1,0 + 0,5 + 0,5 = 2,5
Caro autor, uma mistura de Nárnia e Jumanji, a ideia do enredo é interessante, carecendo de melhor estruturação na execução, faz parte do aprendizado. Alguns problemas de pontuação, como: “Ele olhou novamente para o guarda-roupa e ele pareceu crescer aos seus olhos. Se agigantando diante da sua presença ridícula, pronto para engoli-lo” – Ele olhou novamente para o guarda-roupa e ele pareceu crescer aos seus olhos, agigantando-se diante da sua presença ridícula, pronto para engoli-lo.”; cuidar a pontuação também nos diálogos, dá uma olhada nos verbos Dicendi e a forma de pontuação. Uma sugestão seria desenvolver a personalidade dos personagens, para maior entendimento dos motivos de cada um, principalmente o do pai, que era o vilão da história. No mais, continua afinando a pena, é escrevendo e reescrevendo que encontramos a nossa voz de escritor. Sorte no desafio.
Olá, Oscar.
Gostei do seu conto, embora no início me tenha lembrado As crónicas De Nárnia (por causa do armário) e de Jumanji, por causa do jogo e da sua interacção. O conto está bem escrito e consegue manter a tensão. No entanto, não ficaram claros os motivos que levaram o pai a passar a herança ao filho. O final deveria ser menos confuso.
# A Herança (Oscar Velho)
Autor(a), desculpe-me por não ter tempo para formatar o comentário melhor. Em caso de dúvida, é só perguntar.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫):
– prendeu a atenção pela velha técnica do livro desconhecido
– a relação dos amigos e a sexualidade do menino acabou não sendo totalmente desenvolvidos
– a cena final, quando o pai se mostra um vilão, não se formou por completo na minha mente
– o epílogo ficou confuso: disse muito e explicou pouco. Poderia ser bem menor
📝 Técnica (⭐⭐▫▫▫):
– pontuação no diálogo: — Preciso mostrar isso para Sofia *sem ponto* — concluiu
– Era um rangido na *madeira*, como algo se arrastando na *madeira* (repetição próxima)
– dos pés *a* (à) cabeça
– dos pés a *cabeça*, ele sentia o suor frio escorrer pela sua nuca e pôs as mãos trêmulas na *cabeça* (repetição próxima)
– Era como se nada tivesse acontecido. — É como se nada tivesse acontecido (desnecessária também essa repetição)
– A menina gritou (e) balançou os braços
– ele disse isso enquanto *desenha* (desenhava) novos símbolos no chão (…) *desenha* (desenhava) coisas em volta do livro antigo (evitar essa repetição também)
💡 Criatividade (⭐⭐▫):
– livros secretos e rituais são comuns, mas esse tem sua dose de novidade
🎯 Tema (⭐⭐):
– está adequado: há terror na cena da escuridão e na do pai
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫):
– não ter acompanhado muito bem a cena final e o epílogo diminuiu bastante o impacto que tive do texto
OBS.: sobre pontuação no diálogo, sugiro essa leitura: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279
Conto muito fraco. A escrita rasa sem mínimo conteúdo literário, os diálogos e a narrativa sem nexo. O protagonista confunde uma TV com uma geladeira, que vira um armário, que sobe as escadas como se fosse um pacote. “Thomas também percebeu alguns arranhões na lateral do móvel. Eram profundos e tinham pelo menos uns trinta centímetros”. Haja profundeza nesse aranhão, hem? Os personagens não têm identificação. Não se sabe se são crianças ou adolescentes. Esse mesmo escala um muro de três metros de altura: “Intrigado, quis ver o que havia do outro lado e começou a escalar. O muro era alto, pelo menos três metros”. De quê? Ele tinha uma escada debaixo do braço? Ou subiu de elevador? Tenha a santa paciência. Parece estar zombando com a cara do leitor. A escrita não tem o menor senso das coisas.
Olá Luiz, tudo bem?
Eu não creio que responder aos comentários seja, de alguma forma, benéfico, do ponto de vista de gerar uma discussão. Inclusive porque cada um tem uma opinião muito particular sobre cada texto e, acompanhando as outras histórias, uma chuva de contendas a respeito do sentido ou não desses trabalhos parece levar a nada.
Mesmo assim, resolvi responder ao seu comentário, não para um embate, mas para lhe pedir desculpas se o ofendi de alguma forma com meu texto.
As justificativas para as todas as falhas na narrativa são inúmeras, porém a principal delas é um fator pessoal: eu considero o ambiente do EC como um laboratório para o exercício da escrita. Sou um iniciante e aqui encontrei um lugar onde posso aprender cada vez mais a fazer algo que gosto muito. Resumindo, havia um desafio, eu tinha uma premissa que achava interessante, e resolvi testar para saber o que outras pessoas achariam da história.
Não tive, infelizmente, tempo para amarrar a trama, trabalhar a personalidade dos personagens, ou mesmo ajustar alguns absurdos citados por você e por vários outros escritores daqui.
Isso me entristece? Lógico. Mas, em contrapartida, é uma baita oportunidade para eu aprender e melhorar. E eu resolvi mandar o texto assim justamente por causa disso, e porque sabia que aqui eu receberia comentários de forma colaborativa.
Não quero crer que você tenha se excedido de propósito, na verdade achei seu comentário pertinente, no que diz respeito às falhas, mas não pude deixar de lado o fato de que você, em suas palavras, ultrapassou a crítica e foi ofensivo. Espero sinceramente que você reflita sobre isso e não ofenda (mesmo sem querer) outras pessoas que também estão participando, não seria uma atitude saudável e, além disso, pode ser prejudicial para você.
Realmente é impossível não lembrar do filme Jumanji, mas apenas pelas características iniciais, depois toma uma roupagem diferente e eu diria, até mais legal e sinistra. Gostei da ambientação, da trama, só não entendi por que o pai não tem nome, sendo chamado apenas de V. Um conto bem bacana, que foi elevando o suspense e a curiosidade para saber o que aconteceria. Gostei, fácil de ler, envolvente e divertido de uma forma macabra.
Tudo começou com um guarda-roupa, não um que levava a Nárnia, mas um que continha um livro. Aliás, um meio exagerado só para um livro parar nas mãos de um garoto. E é na verdade de garotos curiosos que se trata o conto.
Thomas toceu o nariz quando viu o móvel, mas depois passou a se interessar por ele e assim descobriu o livro de capa amarela com o dizer na contracapa: IOCUS (se o google estiver correto, Iocus em latim quer dizer piada, ou jogo).
A partir daí a brincadeira terrífica acontece, mais precisamente quando Sofia incita o amigo a entrar no jogo descrito no livro.
— Venci, seus fantasmas trouxas. — disse, por fim. — Todos vocês vão queimar no inferno agora.
Sofia estava entusiasmada, Thomas amedrontado.
Mas antes da brincadeira começar de fato, um vulto coleante saiu do armário e desapareceu (e o engraçado é que esse vulto não tem qualquer peso na história, a não ser figurar no final, se for ele mesmo, e novamente desaparecer para outro plano, sem ter feito nada).
A brincadeira continua, e o interesse pela leitura também. Gostei do conto, apesar de achar que a parte do jogo em si poderia ser mais escabrosa, melhor desenvolvida. E de tudo, Sofia é quem mais sofreu por causa da brincadeira macabra. Ela passou a ouvir vozes, e Thomas, apesar de ter presenciado e sentido também algo estranho, se mostra incrédulo com o relato de Sofia, afirmando que tudo não passa de sonho. Até que eles decidem destruiu o livro, no qual descobrem novas figuras, coisas diferentes do que haviam visto pela primeira vez, e então a desgraça acontece.
A partir desse fato acho que a história perdeu um pouco a consistência. De repente o pai de Thomas sabia da existência do livro e tal. Essa fala: — Meu filho era a única esperança da família continuar seu legado.
Porém não se fala que legado seria esse, e qual o propósito de fazer o ritual. Senti falta disso. A despeito dessa falha na trama, ficou pavoroso a menina Sofia se transformar em vítima.
O final ficou muito disperso e embaralhado. De repente a garotada começou a desenhar os tais triângulos e coisas estranhas passaram a ocorrer. Sofia então se sacrifica para se livrar do livro. “Disseram também que a fumaça era um sinal de que ele finalmente teria passado para o outro plano…”. Ele quem, o vulto que havia saído do armário?
Enfim, curti o conto, só gostaria que as ideais ficassem melhor centralizadas.
Errata:
Ele viu o pai carregar a mobília para dentro. (mobília é melhor empregado para designar vários móveis)
— Seja homem, Thomas. — retrucou o pai — pare de choramingar. Você nem vai dar conta de que ele está aqui. É só um guarda-roupa.
— Seja homem, Thomas — retrucou o pai —, pare de choramingar. Você nem vai se dar conta de que ele está aqui. É só um guarda-roupa.
Se agigantando diante
Agigantando-se diante
encontrou moeda uma de vinte e cinco centavos.
Encontrou uma moeda de…
Tinha certeza que ouvira uma voz chamá-lo.
Tinha certeza que ouvira uma voz a chama-lo ou uma voz chamando-o.
A menina gritou balançou os braços
A menina gritou e balançou…
Diversos homens-animais apareciam na página, mas um havia um novo personagem agora.
Diversos homens-animais apareciam na página, e havia um novo personagem agora.
Ela gritou e ele a golpeou com força sua boca.
Ela gritou e ele golpeou com força a sua boca ou ele a golpeou com força na boca
Parabéns!
O conto começa bem, com personagens interessantes, excetuando-se o pai, que me pareceu um tanto plano. A ideia é muito boa, com essas figuras que me lembraram um conto do King chamado “Tudo é Eventual”.
Infelizmente, do meio para o fim a narrativa fica muito corrida e os fatos tornam-se um tanto artificiais, sabe? A reação do pai é automática demais, e essa falta de cuidado dele com o roupeiro e o que poderia estar contido nele, considerando toda a história da família, prejudicou a verossimilhança do conto.
Gostei bastante dos diálogos das crianças. Sofia é uma ótima personagem, daquelas que fazem a gente torcer por ela até o fim. Só achei que aquela fala sobre o Augusto Cury não parece algo que uma criança diria.
Enfim, gostei, mas queria ter gostado mais. É uma ideia muito boa que pode render muito.
Guarda-roupas e livros misteriosos costumam render boas narrativas filiadas ao fantástico e ao terror, mas no caso desse conto me parece que um desses elementos, o móvel, não foi bem aproveitado no desenvolvimento do enredo. A ideia de caverna, de útero (será por isso que crianças gostam de esconder-se em guarda-roupas?), isolamento, acesso a outro mundo, por exemplo, frequentemente sugeridas por narrativas nas quais o citado móvel está presente, não foi usada.
Não digo com isso que os citados significados simbólicos dado ao móvel fosse essencial para justificar a mobília, não é isso. Há outros. O caso é que ela ficou sem uma função específica. Apenas repositório do livro parece-me pouco para as possibilidades que se abrem com a presença do guarda-roupa. O livro poderia entrar na estória por qualquer outro meio, pois o móvel em si mesmo não se faz necessário, do jeito como o uso se deu. Aliás, por ser uma relíquia de família, o livro que contém um ritual mágico ficaria melhor numa estante, num baú, ou coisa assim.
Gratuidade similar acontece com a parte da narrativa que se passa no terreno baldio. Ela está um tanto solta se considerarmos o conjunto do enredo, não há uma ligação imediata entre o jogo realizado na casa e o terreno. As estranhezas poderiam ter acontecido na própria casa, mais próximo do guarda-roupa. E o epílogo não consegue dar uma razão convincente para a inclusão do terreno na narrativa.
Há um personagem que merecia melhor desenvolvimento: o pai. A começar pelo nome. Se fosse o narrador a denominá-lo “Senhor V.”, como acontece algumas vezes, não haveria inconveniente, mas a amiga do Thomas chamar o homem dessa maneira é muito estranho (“Senhor V. — disse, aos soluços. — Eu não sei o que aconteceu”). É como se ela não o conhecesse, o que é pouco verossímil, considerando que Sofia frequenta a casa do menino (ou rapaz?).
Outro ponto sobre ele é que a tranquilidade com que encara o “engolimento” do filho pelo livro sugere que ele tenha relação direta com o fato, o que não fica muito claro. Ele tenta recuperá-lo pelo sacrifício da menina (ou adolescente?), mas isso não é boa justificativa para tanta tranquilidade, em minha opinião. Estaria tranquilo por saber que conseguiria recuperar o filho? —pergunto-me. Sim, mas não seria mais fácil avisá-lo do perigo quando o guarda-roupa chegou?
Em dado momento o protagonista diz sobre o móvel: “Deve estar lotado de cupins. Eu vou ter pesadelos de noite”. Ele estava preocupado em ter pesadelos porque o móvel estaria cheio de cupins? É um motivo muito fraco, acredito eu.
Diz a Sofia a Thomas, diante da possibilidade por ele aventada de acontecer algo negativo com eles ao remexer o livro: “— Sinceramente — disse a menina, — na situação que estamos, acho que não vai fazer muita diferença”. Porém, a situação na qual eles estavam eram apenas pesadelos. Por mais desagradáveis que fossem ainda não havia passado disso. Assim, a fala dramática “não vai fazer muita diferença” parece-me um exagero.
Em “Você nem vai dar conta de que ele está aqui”, o verbo DAR é pronominal, de modo que deveria ser DAR-SE CONTA. no entanto, por questão de eufonia, admitiria-se SE DAR CONTA.
Em “Se agigantando diante da sua presença ridícula […]” o correto seria AGIGANTANDO-SE.
Em “[…] o guarda-roupa era uma coisa que não era uma coisa” há uma construção muito estranha. É ou não é uma coisa?
Em “Achou estranho que o tamanho da gaveta não batesse com a profundidade do guarda-roupa” BATESSE é um termo gírio que não condiz com a linguagem usada nesse conto.
Em “De que século é esse negócio?” o correto seria ESTE.
Em “Thomas, minha nossa” falta um PONTO DE EXCLAMAÇÃO no fim da frase.
Em “Thomas deu um sorriso sem graça e disse” faltam DOIS PONTOS no fim da frase.
Em “[…] mas seu corpo PArecia oPAco, aPAgado. Como se alguém tivesse PAssado uma borracha […]” há uma repetição da sílaba PA, acarretando um problema de assonância.
Em “[…] e Thomas viu algo rastejando pelo manto” o correto seria MATO.
Em “Ia te chamar para virmos no parque” o correto seria AO PARQUE.
Em “Talvez se falassem com seu pai, ele poderia ajudar” o correto seria PUDESSE.
Em “— Ele matou animais para tentar revivê-los? — Perguntou Sofia, ingenuamente” parece que se trata de REVIVER OS ANIMAIS, quando na verdade é reviver os que já foram engolidos pelo livro. Assim, a construção da frase precisaria ser refeita.
É mais um trabalho difícil de comentar. Pois em meu parco entendimento, e estreante, como analista literário, não consigo enxergar o mínimo comprometimento nesse trabalho como uma obra literária. São tantos os equívocos de narração, escrita, personagens e cenas mal engendradas que não vale a pena enumerá-los, não seria bom nem pra mim nem para o Oscar. Só posso avaliar no sentido de que o autor é uma pessoa esforçada e perseverante em se mostrar. Só por esse quesito, valeu a participação. E mais sorte no próximo.
Caro(a) Autor(a),
Um conto de terror de boa escrita. Roteiro ok. Está dentro do tema e a leitura segue ágil. Os diálogos ajudam muito. Gostei dos diálogos. Gosto particularmente de diálogos, mas eles devem ter certo impacto para aumentar o valor do texto. Talvez algumas coisas para revisão, mas muito poucas. Personagens bem construídos, mas não me cativou tanto. Boa sorte no desafio.
T (tema) – O conto está dentro do tema proposto pelo desafio.
E (estilo) – Também me lembrei do filme Jumanji. O estilo do conto tem uma pegada de terror juvenil.
R (revisão) – Alguns erros passaram, como os já citados pelos colegas.
R (ritmo) – O ritmo é bom, agilizado pelos diálogos. O final “ralenta” um pouco, mas acho que foi para dar um pouco mais de impacto ao desfecho. No geral, a leitura flui bem.
O (óbvio ou não) – Apesar de me fazer lembrar do filme Jumanji, não achei a trama óbvia. Houve algumas surpresas, como a malvadeza do pai, o Sr. V. Aliás, o nome V ficou meio solto, só consegui ligar a imagem de um V a um triângulo incompleto.
R (restou) – Algumas pontas soltas clamando por uma costura. Um pavor ao tentar descobrir o que teria acontecido com a menina, que teve as mãos queimadas e os neurônios detonados pelo joguinho do mal.
Boa sorte!
Olá, boa tarde!
Muito bom o jogo coletor de almas. É bizarro e super instigante. Seu conto tem uma boa apresentação e um conflito instigante, porém o clímax e, sobretudo o desfecho, deixam a desejar. Queria muito ter gostado mais do texto, porque até a parte em que o pai do Thomas volta pra casa, tudo corre sem grandes percalços(a propósito, por que Senhor V?, não ficou natural). Acredito que o que mais pesa é a ausência de sinalização de uma história anterior, por trás, e isso faz as coisas parecerem bruscas. Acho que se você trocar o lance de herança de família por algo relacionado a um antiquário, acaba a necessidade dessa explicação corrida e mecânica do pai do menino. Poderia ser somente um jogo antigo que o Thomas encontrou. Outro ponto que merecia alguma sinalização era a amizade das crianças, ou pelo menos uma frase que mostrasse que o menino telefonou para sua amiga e adiantou o assunto, assim quando a Sofia entrasse em cena, o leitor não sentiria que perdeu alguma coisa, devido a esse fato ser rápido (ela entra rápido na trama).
O pai do menino carregou o guarda roupa sozinho e já montado?, porque me pareceu ser algo grande e antigo (o móvel), que precisava de mais pessoas para ser carregado.
Observe a mudança de tempo verbal no clímax e no desfecho, o ideal seria narrar tudo em um tempo só (se passado, passado. Se presente, presente e não misturar).
Peço que você desconsidere o meu comentário se achá-lo sem nexo ou mesmo se não achar algo que possa auxiliá-lo em alguma coisa.
Gostei do texto mais queria muito poder gostar mais.
Boa sorte no desafio.
Olá, amigo, tudo bem?
Como tenho dito, estava bastante ansioso por este desafio, portanto estou lendo os contos com bastante expectativa. Dito isto, vamos ao seu:
Gostei! O enredo é muito bom, instigante. Fiquei colado na tela lendo e nem percebi o conto passar, tanto que tomei um susto quando vi o epílogo.
A construção do suspense é excelente. O conto tem um tom misterioso que casa bem com o enredo. Gostei MUITO da imagem inserida no desenrolar do conto, casou super bem.
Os personagens, por outro lado, achei um pouco bobinhos, principalmente o pai do garoto.
O terror tá super presente no conto, que utiliza habilmente de elementos do terror pra prender a atenção e gerar curiosidade.
Só gostaria que o jogo tivesse sido mais explorado, pois é muito curioso. Você podia ter explorado melhor as outras formas, os homens-animas, e talvez introduzido mais elementos de tortura psicológica nos garotos após o jogo. Eles podiam ter sido mais perseguidos, e talvez descrever esses momentos de angústia frente ao desconhecido teria deixado ainda mais legal.
Não posso deixar de comentar algumas inverossimilhanças, mesmo que essa parte seja bem chata. O que mais me incomodou foi o pai ter levado o armário e não percebido que havia um compartimento secreto tão explícito, ainda mais sabendo que a maldição existia. Outra coisa: o menino caiu de um muro de 3 metros em cima da bike, devia ter acabado ali mesmo a maldição aahahahuahua.
Entenda que isso não desvaloriza o conto. Só quis apontar pq acho que vale a pena você voltar a esse conto e dar um ajuste fino, tem muito potencial e tá muito bom.
Boa sorte e parabéns!
Enredo e criatividade – Objetos-portais (guarda-roupa e livro) malignos, um jogo ritual, cenas bastante assustadoras (como a abertura da gaveta), a curiosidade, o suspense e o ritmo ágil, bons diálogos e descrições críveis, — elementos não faltaram para uma trama bem amarrada. De outro lado, a confusão entre uma “caixa” de TV, geladeira ou guarda-roupas, a indefinição sobre a idade dos protagonistas, a variação do foco narrativo, as explicações do pai, o paradoxo de comportamento (de omisso, pretendia se tornar assassino, para salvar o filho), e o epílogo equivocado criaram distorções da verossimilhança.
Terror e emoção – Todas essas pontas soltas quebraram o impacto, não permitiram que se criasse empatia com os personagens. Todas as ações ficaram muito fortuitas.
Escrita e revisão – No geral, o texto está bem escrito, com pequenos deslizes de pontuação, digitação, acentos, crases, mas que não entravaram a leitura ou a interpretação.
Parabéns. Abraços.
Olá,
Seu texto traz uma história instigante que contém as premissas de todo bom conto de terror, maldições, livros antigos, rituais e um demônio que bem poderia ser o pai do protagonista. Protagonista que se altera, a bem da verdade. O foco começa no menino e muda para a menina ao logo da narrativa, transformando-a na heroína. Há referências à Jumanji, sim. Há referências ao tabuleiro Ouija. Muito bom. Escrita fácil, permitindo que a leitura flua e que o leitor se aprofunde na história.
Minha ressalva é quanto à constituição dos personagens, algumas incongruências que aparecem quanto ao pai, um tanto negligente quando sabe pesar uma tradição/maldição sobre a família e também quanto ao menino, que não distingue o formato de geladeira, tv, guarda-roupa. Ou que desenha pênis e traz um cinzeiro Zippo no bolso. Coisas que podem ser acertadas posteriormente numa outra revisão. No mais,muito bom. Parabéns.
ENREDO: Achei fraco na medida em que surgem ao longo do texto, ações ingênuas e simples, principalmente a parte do terreno baldio, que pouco deu valor à trama.
PERSONAGENS: Não entendi por que chamar o pai de Thomas de senhor V?Seria a inicial de alguma entidade infernal, ou o autor está apenas imitando alguns autores clássicos? Thomas às vezes age como uma criança de seis anos em outras parece adolescente. reconhece o perigo e no momento seguinte o despreza. Uma criatura sai do armário e ele simplesmente o ignora.
ESCRITA: Boa. Só precisa ter ideias mais originais e tramar conexões de ações lógicas e claras, pois logo que iniciei a leitura, achei que havia dois meninos no primeiro parágrafo; “Quando o pai de Thomas estacionou a caminhonete em frente da casa, um garoto olhava pela janela do seu quarto no segundo andar”. Não dá para saber que o garoto é Thomas, ou que o Senhor V está chegando na casa dele, senhor V. ou que garoto que olha pela janela é o filho dele. Essas são as conexões que me referi.
TERROR: Algumas partes ficou legal, outras não, de qualquer forma, dentro do tema. Boa sorte.
Sabe aquele provérbio “O Diabo mora nos detalhes”? Foi justamente nisso que pensei após a leitura, pois o conto tem mtas qualidades que pareceram precisar apenas de um toque a mais de cuidado para se tornar uma leitura super agradável. Me refiro aos detalhes espalhados pelo enredo, como tornar mais fácil ao leitor perceber a idade próxima dos personagens. De início achei que eram crianças de 8 anos, depois, adolescentes de 13, então novamente pensei que eram crianças…
O conto me pareceu ser dirigido para um público mais jovem pela forma como algumas coisas se apresentam, a principal delas é a tomada de decisão do protagonista e de sua amiga, em especial no momento que resolvem que o correto a se fazer é queimar o livro, ainda que não tenham a mínima ideia do que realmente estejam acontecendo com eles. Além, é claro, da maneira como age o Pai. Não sei se essa era a intenção do autor(a), mas isso deu um certo ar de terror ‘teen’ ao conto, mas não digo isso como algo negativo ao texto, pois nesse sentido, achei que ficou mto bem elaborado.
Me senti incomodado com o epílogo, a mudança de tempo verbal, a história do menino suicida, a confusa descrição do que a menina sente e as fofocas dos vizinhos em nada acrescentam ao conto. Gostei da parede pichada e das pessoas ouvirem coisas por ali, isso demonstra o poder da maldição, mas isso poderia ser acrescentado ao final do texto sem essa separação de epílogo.
O personagem do Pai ficou inverossímil, parece ter sido usado apenas para fazer andar a história após Thomas ser tragado para dentro do livro. Não gostei desse negócio de “senhor V.”, ninguém se refere assim a outra pessoa, isso acaba tirando a atenção da leitura num momento crucial.
Tem uns tantos errinhos por aqui e ali, mas acho que a última leva de contos enviados ao site não tiveram tempo para revisão. Chamo a atenção em especial para os diálogos, onde vírgulas e pontos fugiram ou apareceram de onde deveriam estar.
Achei a premissa do conto muito interessante, o que me cativou logo no início. A estruturação do texto me fez achar que o(a) autor(a) não é viajante de primeira viagem. O ritmo também é bem interessante, tornando o conto de fácil leitura.
Apesar de ter gostado da história, não gostei da mudança do protagonismo que ocorre no meio do conto, passando do menino para a menina. E a revelação do mistério do livro me pareceu artificial, se isso fosse mais trabalhado desde o início, com algumas pistas aqui e ali, acho que a coisa teria funcionado melhor.
Outro ponto a ser melhorado é a descrição dos personagens, fiquei confuso principalmente quanto a idade deles.
Bom trabalho, mas pode melhorar.
🙂
Olá, Oscar. Há qualquer coisa no seu conto que não me permitiu “mergulhar” nele. Difícil dizer o que seja: o embrulho? não se transportam eletrodomésticos de grande volume em embrulhos,mas sim em caixas; o menino? ele tem coisas de menino,mas também de adolescente, tanto na descrição quanto nos seus comportamentos; Sofia? a mesma coisa. Não sei, a amizade deles é infantil, sem dúvida, mas muitos outros aspetos não o são, por exemplo, crianças não lêem livros de auto-ajuda, não é?
Há um ou outro problema de concordância entre passado e futuro nos diálogos,como este: “Eu só caio e ouço esses gritos insuportáveis me chamando. E depois do que parecia”, o “caio” no tempo presente indica o relato, antes confirmado, de que se trata de sonhos repetitivos e o “parecia”, logo em seguida, aponta para um único sonho.
Não é tanto a questão gramatical aquilo sobre que me debruço aqui,mas sim a quebra de verosimilhança.
Estes pequenos pormenores impediram o tal “mergulho”.
Também notei algumas repetições fonéticas e de palavras, algo que não seria grave mas, no contexto, não ajudou, como quando o embrulho é desembrulhado, o menino vê uma anotação que não havia notado, ou até o ninguém duas vezes em dez palavras,aqui: “Ninguém sabe ao certo quem fez essas figuras, mas ninguém”.
O comportamento do pai também peca por falta de rigor. O homem sabia! Não fez nada para evitar? ainda vá, mas quer remediar a situação? ficou claro que lhe seria indiferente. Aliás, todo o seu comportamento perante a morte e/ou desaparecimento do filho revelam essa indiferença.
Falta dar uma volta à história, definir melhor a faixa etária dos protagonistas, o caráter do pai. Pequenos ajustes farão toda a diferença.
Não sei. Gostei da ideia, mas penso que não foi trabalhada de forma adequada, perdendo um pouco nisso. A escrita vai bem, basta uma pequena revisão crítica para melhorá-la e está adequada ao tema proposto.
Parabéns e boa sorte no desafio.
É um bom conto, com uma boa premissa e narrativa ágil. Mas não me cativou.
A parte técnica revela um autor já experimentado – as descrições são bastante claras, os diálogos naturais, a leitura flui sem entraves.
Mas alguns pontos dão a entender que faltou tempo/cuidado para uma revisão mais apurada.
— Preciso mostrar isso para Sofia. — concluiu
>>> Essa marcação de diálogo começando com minúscula depois do ponto é errada. Ou tira o ponto, ou começa o “concluiu” com maiúscula.
– encontrou moeda uma de vinte
>>> uma moeda
– Era um rangido na madeira, como algo se arrastando na madeira.
>>> repetição próxima de “madeira”.
– dos pés a cabeça
>>> à cabeça. Logo abaixo a palavra cabeça aparece novamente.
– Augusto Cury saído do armário
>>> Talvez eu tenha perdido uma referência mais direta à idade dos protagonistas, mas fiquei com a impressão de que eram crianças. Assim, essa tirada pareceu deslocada.
– bem se graça
>>> sem
– algo rastejando pelo manto.
>>> mato
– O garoto e leu o que estava escrito:
>>> sobrou um “e”
– mas um havia um novo personagem agora
>>> sobrou um “um”
– ele disse isso enquanto desenha novos símbolos no chão
>>> mistura de tempos verbais. Aliás, não entendi a opção de partir para a narrativa no presente no final.
A princípio, pensei que a trama seguiria algo do tipo “Nárnia do mal”, mas logo percebemos que o tal guarda-roupa era somente uma desculpa para obtenção do livro.
A inclusão da imagem no meio do texto foi interessante (eu até teria feito algo do tipo se conseguisse terminar meu conto, mas seria algo mais na linha “jump scare” huahuaa), mas acabou sendo mal aproveitada. Pensei que haveria ali algum tipo de quebra-cabeça, mas foi só para ilustrar a amarelinha do inferno mesmo.
O ponto alto, na minha opinião, foi a amizade dos protagonistas – ficou muito natural, apesar da dúvida quanto à idade, como já comentei.
Na parte final, não me convenci muito sobre a explicação do pai a respeito da maldição da família. Se ele estava preocupado com o filho a ponto de sacrificar a menina para tê-lo de volta, poderia muito bem ter evitado a situação (pelo que ele falou, nada o impedia de ter avisado o menino).
Esse epílogo foi bem desnecessário.
Abraço!
Olá, Autor(a),
Jumanji! Não há como não pensar nesse filme que adoro. 😉
O ponto alto de seu conto é a própria premissa. A primeira coisa que fazemos ao escrever um texto, a ideia original.
Não é preciso ser um grande conhecedor de terror para saber que livros são, dentro dos arquétipos do gênero, imaginados muitas vezes como uma espécie de portal para o mundo do mal. Porta de passagem igualmente, para vários seres extraordinários e execráveis em busca de luz, de vida, de vingança, enfim. E a ideia de mesclar livro e jogo é muito boa.
No entanto, confesso que senti um certo estranhamento quanto a suas escolhas no que toca o ponto de vista da narrativa. O autor dá início à trama, conduzida em terceira pessoa, mas, ainda assim, apresentada ao leitor sob o ponto de vista do menino. Acompanhamos o pequeno em sua descoberta do armário, depois o seguimos no descortinar do livro e seus mistérios, e assim seguimos com ele, até o momento em que este encontra a amiga em uma praça. A partir desse instante o foco se desloca para ela e passamos a “assistir” a história sob a ótica da garota. Entendo que o menino foi sugado pelo livro, bem como que a menina tem um protagonismos bem forte na trama, porém, sinto que de certa forma, o leitor se sente órfão do menino ao começar a seguir a história dela e não a dele.
Ainda que existam técnicas utilizando-se inúmeros pontos de vista em um só texto, deixo aqui a questão para o(a) autor(a). Afinal, estamos aqui para aprender uns com os outros.
Outra coisa que gostaria de dizer, se ainda me permite, é sobre a verossimilhança do pai saber do perigo que o filho estava correndo e se comportar quanto a isso de forma tão natural. Eu sei que o destino da família estava nas mãos do menino, mas não sei se essa solução apresentada para a indiferença do pais foi suficiente. Talvez por falta de tempo do(a) autor(a), devido ao prazo do desafio, essa lacuna tenha ficado um pouquinho vaga.
Se formos falar em cena impactante de terror, para mim, foi o momento em que se vê as lascas da maneira de dentro da garganta do pai do menino. Sofro de tripofobia e isso me deu uma agonia terrível. Também gostei muito do momento da abertura da gaveta, com alusão aos odores e tudo o mais. Puro terror.
Parabéns.
Desejo-lhe sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Salve, Oscar!
Gosto muito de contos de terror que apostam em elementos clássicos do estilo. Símbolos antigos, maldições ou tradições familiares, livros amaldiçoados, entre outras características. Dito isso, é impossível não ter encontrado diversos desses aspectos em seu texto e ter ficado satisfeito. Achei, inclusive, a opção do armário, como a fonte do mal que se aplacou sobre o garoto, muito legal. Uma espécie de contraponto ao armário que poderia leva-lo a mundos maravilhosos.
Mas achei que o final do conto ficou um pouco aquém daquilo que prometia. Fiquei esperando uma grande revelação e um confronto entre o garoto e o ser maligno (que acabou interpretado pela figura do pai), que acabou não vindo. Sofia assumiu o papel de protagonista no final, mas não consegui enxerga-la como protagonista.
De qualquer maneira, o enredo é muito interessante e, como já apontei, traz esses elementos clássicos que deixam tudo muito legal.
É isso! Boa sorte no desafio!
Caro autor, fico alegre quando encontro um companheirinho de sonhos, alguém ainda tão jovem, dentro de uma carreira embrionária, fazendo muito esforço para criar um texto, adaptar-se às regras de um desafio. É isso, companheirinho, adiante, vamos juntos. A escrita pode ser incipiente, tudo narrado de modo raso, apressado. Resultado próprio da ânsia de produzir, de contar, de transmitir. É assim mesmo, com o tempo e a prática tudo vai ocupando o seu devido lugar, e tudo fica lindo. E que lindo enfoque você deu à sua história! Brincar com um jogo de terror, não há nada mais atual! O enredo, se um pouco mais trabalhado, tem muito valor. É muito interessante.
Boa sorte, Oscar Velho, estamos juntos!
Abraços…
Impacto sobre o eu-leitor: médio.
Narrativa/enredo: livro familiar amaldiçoado que se apodera daqueles que brincam determinado jogo.
Escrita: boa, simples e direta, bem adaptada ao enredo.
Construção: os personagens, especialmente o garoto, me pareceram deslocados a princípio. Talvez seja exatamente essa definição “garoto” para descrever o jovem que tenha extirpado um pouco o impacto. “garoto” lembra menino, criança, mas depois ele discute com o pai e age como um jovem mais velho, pois recebe visitas de amigas. Enfim, isso não ajudou.
Outra coisa meio forçada foi o pai saber da maldição e “esquecer” de avisar ao filho, depois querer matar uma pessoa para salvá-lo.
Mas é uma boa idéia e nota-se criatividade do autor. Os diálogos estão bem estruturados e deram agilidade ao conto.
O epílogo veio para misturar tudo.
Olá, Oscar, interessante essa sua ideia de propor um jogo como mote da sua história. Um garoto e uma garota envoltos em um jogo maligno, criado a partir do inocente jogo da amarelinha e que lhes foi proposto pelo livro achado nos fundos do guarda-roupas, herança de família que veio para o quarto de Thomas. Realmente um tema interessante, mas que senti que não obteve o resultado que se esperava dele. É, Oscar, que senti as coisas um tanto forçadas, sabe? Desse jeito não teve jeito de me enfiar de cabeça na história. Achei que algumas pontas não tinham sido suficientemente amarradas. Ficaram meio soltas, ou frouxas. Um exemplo: dá a impressão que o pai sabia que o livro estava naquele armário. Se o sabia, por que não o tirou antes, ou tomou alguma precaução a respeito. Outro: O muro que balança, como se estivesse acontecendo um terremoto… Foram cenas que me fizeram escapar do meio da história, sabe? Também, amigo, a idade dos dois protagonistas me pareceu meio estranha. Devem ter idades similares, mas qual seria ela? Tem horas que eles agem como se fossem mais adultos, em outras fazem coisas como se ainda crianças… Bem, esses são comentários de alguém que nada entende de contos de terror. De repente, outros entenderão A Herança de maneira diferente e serei eu que não soube fazer a leitura correta da narrativa. Então, melhor relevar, desde já, esse meu comentário. Ah, nada que atrapalhasse a leitura, mas valerá a pena dar uma revisada básica no texto. Abraços, Fernando.
Caro Oscar Velho,
Acho que a ideia do conto é muito boa. Um livro com figuras nas mãos de dois adolescentes (?) se transforma em um jogo, um ritual, não sei. Acho que isso ficaria muito legal num game board.
Mas vamos às críticas, por que são elas que ajudam a melhorar a escrita.
O conto me pareceu alongado demais. A trama não se desenvolve. Recomendaria maior objetividade condutiva no desenvolvimento da ideia-objeto do conto.
Acho que o conto, mais bem trabalhado, teria um resultado bem legal. Ouso fazer algumas recomendações, se me permite:
– Senti algum desconforto com a idade do menino que ficava desenhando pênis no bafo da janela e tinha um isqueiro Zippo no bolso.
– Não achei apropriado alguém confundir um embrulho em que poderia caber, ao mesmo tempo, um televisor (ainda que grande), uma geladeira ou um guarda-roupas. Acredito que esses três objetos tenham formas bem diversas uns do outros.
– “…o guarda-roupa era uma coisa que não era uma coisa…”
– “…o medo implacável que sentiu quando ele saltou sobre ele…”
– “-É isso aí, Augusto Cury saído do armário…” Nesse ponto confesso que senti medo, mas… por outro motivo.
– Ok, encontrei no seu conto um “gargalhando”, mas era uma gargalhada de alguém vivo. Tudo bem, então.
Acredito que a cena do pai (aliás, que pai é esse, meu caro Oscar, o Demo?) dando a dica de que iria sacrificar a menina poderia dar um rumo bem legal ao conto, onde a menina reverte o desenvolvimento da trama e sacrifica o pai, salvando o menino. Mais que merecido ao senhor V., um tremendo desalmado. Ele perdeu dois irmãos, perdeu o filho e ainda queria passar a perna na Sofia? Ora, ora… que diabinho…
Vejo assim (a história é sua, mas estou eu aqui metendo o dedo fura bolo): a Sofia subverte tudo, aprende a salvar o Thomas, manda o senhor V. para junto dos irmãos e depois queima o livro. Esqueça o epílogo. Tudo já havia sido dito com esse final. Mas isso é um delírio abelhudo meu.
E não esqueça que a ideia pode render um excelente board game.
Grande abraço, Oscar, e obrigado por deixar conhecer o seu texto.