O relógio na parede tiquetaqueou um quarto de hora passado das oito. A buzina da caminhonete vermelha abriu o berreiro em frente ao portão da garagem. Beto pulou do sofá, como se tivesse sido pego em flagrante por cochilar em serviço. Apanhou a camisa abraçada na cadeira, calçou as botas West Coast, pegou a carteira e as chaves. Bateu a porta, girou a maçaneta. Fechada. Girou outra vez. De novo. Continuava fechada.
Nando batucava os dedos na buzina, no embalo da melodia sertaneja esganiçada nos alto-falantes do carro, ultrapassando os decibéis permitidos na legislação municipal, e também o bom senso.
− Oh meu, dá pra parar? Desliga essa droga – gritou Beto ao chavear o portão.
− Cara, te chamei no celular, esqueceu o horário? – respondeu Nando na mesma altura, antes de desligar o rádio.
− Merda, peguei no sono. Pegou o endereço do sítio? Abasteceu? – perguntou o irmão enquanto enfiava a camisa por dentro da calça.
− Tá tudo dominado, bora! Tô louco pra dar uns amassos na gostosa da Manu.
− Tomara que ela não vá.
− Despeitado, só porque tomou um toco da Soraia.
− Eu hein, nem tinha nada com aquela vaca. – Ajustou, na posição vertical, o encosto do banco arriado igual cadeira de dentista.
− Sei. Saiba que a vaca também vai.
− Prefiro encontrar o diabo a aquela doida. – Afivelou o cinto de segurança; girou o botão da ventilação no máximo, reclamou por causa da brisa de hálito quente enfiando-se entre os vidros baixados.
Nando dirigiu até a saída da cidade, autocondecorada como a Capital dos Javalis, onde um dia deixou e jurou nunca mais voltar, porém voltou; contornou a rotatória na qual havia um imenso painel de alumínio ostentando os dizeres: “Benvindo à Coroinhas” (assim mesmo, na grafia incorreta e craseado), e entrou na rodovia estadual, onde trafegariam até a estrada secundária que os levaria à estradinha de chão batido, habitada por propriedades rurais. O asfalto ainda não tinha esfriado do calor escaldante que castigou todos os seres inanimados e vivos, durante o dia.
− Liguei pra mãe, não atendeu. Ninguém atende celular naquela casa – protestou Nando.
− Hoje é dia do centro espírita. Puxa, e eu deixei o telefone em casa.
− Tá na hora dela arrumar alguém, né? Mas no centro espírita só vai namorar fantasma – soltou uma das suas gargalhadas esquisitas.
− Não sei qual é a graça. E antes só do que arrumar outro imprestável. – A lua cheia gratinada, emoldurada no para-brisa, iluminava a pista. O pensamento voou até a silhueta escura dentro da lua, feito as sombras do passado refletidas no espelho retrovisor.
− Na boa, só vai saber se não presta, se conhecer alguém. Acho que ela já aprendeu a se defender. – Apontou à placa de sinalização que indicava a distância à estrada vicinal.
− Não tô a fim de falar disso – resmungou Beto, de cara amarrada.
− Tá na hora de falar, já faz três anos.
− Está de gozação, né? Quer discutir a relação? Parece a mãe. Vem cá hein, pegou o endereço certinho? Ligou o GPS?
− Cê já perguntou. Fica gel, daqui a pouco entramos na secundária, no Km75 pegamos a estradinha do Boqueirão, no GPS tá tudo belezinha − confirmou de relance no aparelho, preso por um suporte com ventosa no para-brisa, que nem chiclete grudado na vidraça −, mas deve ter algum posto de gasolina naquelas bandas, a gente “pergunta lá no posto Ipiranga”.
− Perguntar pra quê? Não “tá tudo dominado”? – debochou num sorriso polido, entre viradas de pescoço para acompanhar os veículos que trafegavam na direção contrária; contava de cabeça, os automóveis que cruzavam por eles.
Nando deu sinal à direita, saiu da estrada pelo acostamento e entrou na rodovia secundária pavimentada, ladeada por placas de sinalização, campinas, matagal, algumas casas velhas e botecos de beira de estrada. A vicinal esburacada e sinuosa pedia juízo na cachola. Sessenta. Oitenta e cinco. Noventa. Cento e cinco por hora.
− Alivia o pé, mano. Não viu a placa dos oitenta por hora?
− Deixa de ser cagão, conheço este chão que nem as curvas da Manuzinha.
Beto abriu o porta-luvas, abarrotado de CDs, um canivete, lanterna, camisinhas. Fechou o compartimento. Abriu de novo. Apertou a portinhola. Novamente. O irmão espichou o rabo do olho direito; o esquerdo manteve na estrada.
− O que foi?
− Preciso de um pente. – Os dedos garfaram o cabelo castanho arrepiado.
− Pra quê massacrar o porta-luvas? Quantas vezes lavou as mãos hoje?
− Não enche.
Ele não via a hora de chegar pra tomar umas geladas, a fim de acalmar o familiar azedume e a sede do calorão. Adiante, o breu da estrada; ao seu lado, no volante, um sujeito mala, filho da sua mãe, com conversas inconvenientes, e que fingia conhecer o caminho, e pra piorar, não tinha ar condicionado e nem pente naquela joça de carro − resmungou aos botões da camisa xadrez.
O porta-luvas chorou de dor na melodia de Gustavo Lima. Ele olhou o rádio desligado.
− É o meu celular, atende.
− Onde tá?
− No porta-luvas demolido.
Beto pegou o aparelho entre os preservativos jogados na bagunça do compartimento.
− Oi mãe. Sim, ele te ligou pra saber de mim. Tá bom. Estamos indo. Oi? Fala mais alto, cortou a ligação, alô? Oi, repete. Ah, não se preocupa. Tá bom, voltamos quando clarear o dia, tchau.
− “Pegou o casaquinho, tomou o remedinho?”. Ela nem perguntou por mim, né?
− Como assim? Ela ligou pra ti.
− Ligou porque eu liguei, ela queria falar era contigo, sabe que é o filhinho da mamãe.
− Hum, não sou só eu o despeitado.
− Despeito é pros fracos, é realidade mesmo.
− “Cara, tá na hora de falar sobre isso”. – Beto cutucou novamente, num sorriso triunfal de canto de boca.
− Coloca um CD, não quero mais ouvir a sua voz.
− Só tem lixo aí dentro.
− Lixo são aquelas suas músicas deprê: Cordiplay, Nerrvana, fala sério. Os caras morrem tudo de tiro na cabeça ou cheio de drogas.
− Deixa de ser preconceituoso.
− Não vai colocar? Então vou cantar uma das suas, agora aguenta.
Soltou o gogó na voz de pato: “Meus heróis morreram de overdose…, ideologia…”. Beto rendeu-se às palhaçadas, soltou os arreios e o sorriso franco.
Os faróis altos iluminaram a silhueta ziguezagueando na pista. Nando engoliu as sobras do refrão e espremeu os olhos para desembaçar a visão, reduziu a velocidade, segurou firme no volante, como se carregasse a caminhonete na ponta dos pés.
− O que é aquilo? – perguntou Beto, com o nariz adunco enfiado no vidro dianteiro.
O automóvel aproximou-se do vulto na estrada. Eles enxergaram um homem cambaleante e maltrapilho. Estavam a um palmo do sujeito, de braços estendidos em direção aos dois.
− É um velho bêbado…. – murmurou Beto.
Nando deu uma guinada no volante para desviar dele. Seguiu-o de olhos grudados no retrovisor, sentiu arrepios na espinha ao vê-lo parado no meio da rodovia olhando a caminhonete vermelha desaparecer na escuridão.
− O que esse doido faz aqui? Viu o rosto dele? Parecia um zumbi. – Pisou fundo no acelerador.
− Tá vendo muita Netflix, é só um velho bebum, deve ter saído daquela bodega que vimos há pouco.
− Não quis discutir a relação, não disse preferir ver o diabo à Soraia? O capeta te ouviu. – Relaxou a coluna, forçou uma gargalhada sinistra para acalmar a tensão.
− Velho trouxa, que saco! Acordar no susto, neste calorão, dá nisso. Agora ainda um bêbado pra me irritar, isto é perseguição.
− Vixi, azedou, não consegue esquecer hein? – Nando havia jurado nunca mais convidar o irmão mala para as festanças, mas como não ouvia nem a si próprio, deu de ombros.
− Esquecer? Depois de tudo o que ele fez pra mãe?
− Era nosso pai, e pai é pai.
− Aquilo não era pai, era um bêbado covarde, a mãe padeceu na sua mão. Teve o fim que mereceu, morreu afogado na cachaça – esbravejou na certeza de que deveria ter ficado em casa dormindo.
− Isso tá te deixando doente, tem de se libertar disso, meu irmãozinho.
− Pra ti é fácil falar, se mandou pra capital e deixou a bomba comigo, não viu o que a nossa mãezinha passou nos últimos anos de vida daquele ordinário.
− Cara, crescemos vendo as brigas, a bebedeira, o sofrimento da mãe. Eu queria estudar na cidade grande, a mãe fez a escolha dela, não podíamos resolver por ela, queria o quê? Que eu me afundasse mais, que nem você? – Soqueou o volante, doido de vontade de socar o carona. – E até parece que cê também não bebe, santinho.
– Eu sei me controlar.
– Sei. Eu vejo os seus controles.
– Vai se catar! Estudar na capital pra quê? Engenheirinho de merda. – A visão turvou de vontade de arrancar a jugular do motorista.
– É ambiental. O nome é engenheiro ambiental.
– Arrah, capataz de fazenda agora é engenheiro ambiental, me poupe! E te liga na estrada, mané, olha os buracos.
Nando enxergou pelo retrovisor o veículo de trás dar sinal para ultrapassá-lo na subida da encosta, reduziu a velocidade e buzinou para o Gol, recebeu o cumprimento de volta.
As acusações mútuas prosseguiram por mais alguns quilômetros. Beto, com a mão grudada na alça do puta merda, jogava na lata do irmão o fato dele tê-lo deixado sozinho com a mãe, e que era canalha com a família, com as mulheres, igual o pai; Nando, preso ao volante, vomitou dele não ter tido coragem de enfrentar o pai e nem de ter saído daquela cidade-buraco, pois era cagão igual a mãe. O palavreado jorrava em cascatas de deboches e insinuações de ambas as partes.
– Voltou só por causa do inventário.
– Voltei pra fazer a minha parte, cuidar de mamis. Hashtag tamo junto, mermão!
– Agora ela está na paz, não precisa mais de ti.
– É o advogado ou procurador dela?
– Não, sou só o filho, coisa que tu não foi.
– Vou te dizer um troço, se eu tivesse uma vidinha fodida, igual a sua, eu me matava. Trintão, morando com a mamãe, sem namorada, acomodado num concurso público. Só não se mata porque é muito orgulhoso.
– Vai se fuder! Criador de javalis, mora de favor numa fazenda, não sabe nem falar direito, e a única coisa que tem na vida é uma caminhonete do século passado. E para essa porra, me deixa aqui, que se dane a festa.
– Huhu! O maninho aprendeu a dizer palavrão. Realmente, como cê sempre disse, sou uma péssima influência.
– Me deixa aqui.
– Tá louco? Te deixar neste fim de mundo, a mãe me mata, e vai me tirar da partilha.
– Eu disse, para!
Nando reduziu a marcha e manobrou até o acostamento. Considerou não ser de todo ruim deixar o preferido de mamãe no deserto do asfalto. Beto abriu a porta, o mormaço de dezembro deixou o ar rarefeito. Avistou o negrume no entorno do matagal, as luzes piscando ao longe, como pirilampos, colocou os pés pra fora da picape, e então ouviu a voz agoniada gritar:
– Entra Beto, entra, agora!
O irmão se jogou sobre o banco do carona e o puxou pelo braço, para dentro do carro. Procurou explicação para o temor no rosto de Nando, de olhar perplexo no para-brisa; virou o pescoço à frente e enxergou o velho estaqueado no meio da estrada. Levantaram os vidros, trancaram a respiração e as portas.
– Como que ele passou por nós? – sussurrou Beto.
– Deve ter pegado carona no Gol.
O sujeito, agora de pernas firmes no chão, encarava, a poucos metros, a caminhonete estacionada. A tremedeira tomou conta dos dois, da ponta dos pés até o alto da cabeça. Beto abriu o porta-luvas, apanhou o celular, sem sinal. Num rompante, jogou a pilha de CDs no chão, pegou o canivete e a lanterna. Nando o segurou pelo braço, implorou para não descer do carro, não era um bom momento para começar a ser valente. Ele se desvencilhou e destravou a porta. O outro foi atrás, contrariado. Caminharam contando os passos. Pararam. Entreolharam-se. Beto jogou os holofotes da lanterna na estrada, sob os faróis acesos, e empunhou a navalha tal qual numa matança de porcos. As batidas descompassadas no peito eram a trilha sonora da marcha no asfalto. Avançaram nas trincheiras. Pararam. A criatura evaporou num piscar de olhos. Beto rodou a West Coast, lembrou-se da caminhonete aberta. Correu na direção do carro, o coração saia pela boca, segurou na maçaneta, a respiração entrecortada. Abriu a porta, pegou a chave na ignição, alumiou os bancos de trás. Vazios. Correu de volta na estrada, gritou o nome do irmão. Nando continuava petrificado no meio da rodovia, de olhar perdido nas marcas de sinalização da pista; à sua esquerda, uma placa vertical enferrujada estampava a identificação do Km71.
– Cadê o desgraçado?
– Não sei. Quem sabe só esteja pedindo carona.
– Isso não é jeito de pedir carona. Vou matar esse bêbado se ele aparecer de novo, vamos embora.
Embarcaram na picape vermelha, os pneus cantaram feito um cavalo relinchando. Discutiam a vontade de Beto de abortar a viagem, quando avistaram o posto de gasolina. Nando conferia com o frentista, com semblante de poucos amigos, a localização do sítio; o irmão sacou da carteira umas moedas e pegou duas Cocas na máquina de refrigerantes. Abriram a porta da caçamba e sentaram na beirada; a adrenalina vertia nos poros das axilas peludas de Nando, reveladas na camiseta regata. Os pensamentos sinistros reverberaram no estômago, junto com o refrigerante de cola. Ele expressou a aflição a Beto:
– E se ele voltar? Já pensou que pode estar nos seguindo?
– Pior que já.
– Se o cretino aparecer aqui, eu pego a bomba de gasolina e meto fogo nele. Vi num filme, os zumbis sempre morrem queimados.
– Não são os vampiros?
– Porra, agora fiquei na dúvida. Mano, me desculpa, eu que fui cretino de ter falado aquele monte de besteiras.
– Eu também, me perdoa.
– Acho que sempre quis ser que nem você, todo ético, todo certinho, quem sabe a mãe gostasse mais de mim.
– Ela gosta de ti, e não é uma boa ideia ser igual a mim, custa caro sustentar o meu mundo de manias.
O silêncio embalava o cricrilar dos grilos no mato. Por instantes, descansaram da viagem turbulenta dando chutes nas britas do chão, brincando de acertar as latinhas de refrigerante na lixeira e tirando onda do semblante de serial killer do frentista, zoaram de que ele poderia estar ganhando um extra, disfarçado de zumbi na estrada.
Beto levantou o olhar até o seu parceiro, mais moço do que ele, de rosto encarnado da lida no campo. Reconheceu as mesmas sobrancelhas grossas do pai, os olhos negros, a covinha traiçoeira no canto dos lábios carnudos. A genética repartiu os dois bem ao meio − um as fuças do pai; o outro, da mãe. O caçula se ressentia de nem ao menos herdar os olhos esverdeados dela. O primogênito escolheu não reivindicar nada ao pai − um ser onipresente em casa, quando estava presente, visto que passava as noites enchendo os cornos nas sinucas e puteiros da cidade.
– Nando, tu só me convida pra sair contigo por pena, né?
– Na boa, acho que sim.
– Tudo bem, eu não me importo. Ninguém se importa.
– Mano, cê é o cara! – Abraçou forte o ombro dele, do mesmo modo que um pai abraça envaidecido o filho. – Roberto e Fernando, que dupla dos infernos, hein?! Lembra quando a gente brincava de Batman e Robin?
– Lembro. Tu sempre era o Robin.
– Ahahaha, caçula só se fode.
– Estava com saudade da sua gargalhada de porta rangente.
– Então vamos nos divertir um pouco no sítio, exorcizar a viagem, só estou bolado de chegar à festa neste estado tenebroso, o desodorante venceu faz tempo.
– O meu também.
– Se o miserável aparecer, pego a galera e o cagamos a pau. Cê aproveita que tá cheio de coragem e pega umas mina, e vê se esnoba a Soraia. E eu vou passar o rodo geral, a começar pela Manuzinha. Tamos tão perto, o frentista mascarado disse que a entrada é logo depois do curvão.
– Tá bom, seu canalha, vamos, fiquei com pena de ti.
A melhor parte da viagem sucedeu na reta final da via secundária, antes do curvão. Fernando cantava a plenos pulmões o refrão da música esganiçada no CD: “mas aquele 1% é vagabundoooo”. Depois de anos, riram a mesma risada da época em que brincavam entre o chiqueiro e o galinheiro do quintal de terra preta. Roberto sentiu uma conexão plena com o irmão, há muito não sentida, mesmo sabendo que, dali a pouco, a magia seria quebrada pela metralhadora de bobagens que o caçula cuspiria, cheia de gírias da cidade grande.
Ele tinha razão. A plenitude não durou muito.
O nó nas tripas subiu em cólicas retorcidas, do abdômen até a boca salivada, as pupilas dilataram de desespero do sufocamento como mãos a esganar a sua garganta, as pernas não obedeciam a vontade de sair correndo, o suor escorria aos borbotões pelo corpo e o tum-tum no peito liberou o pedido de socorro num fiapo de voz na língua arrastada.
Nando jogou o carro para o acostamento, desligou o rádio, desceu do veículo em voo rasante, quase arrancou a porta do carona, acendeu a luz do painel, desengatou o cinto de segurança, segurou o irmão desfalecido entre os braços, gritou por ajuda − nos olhos vertiam lágrimas sobre a barba rala −, pressionou o peito dele em movimentos ritmados com as mãos sobrepostas, no ritmo frenético de um, dois, um, dois, implorando para ele não morrer.
Beto retornou aos poucos de um sono ruim. Nadou contra a correnteza para içar as pálpebras que teimavam em sucumbir. Abriu os olhos. Nando alcançou a garrafa d’água no console do painel, colocou o bico da garrafa sobre os seus lábios.
– Mano, temos que ir pro hospital, já! Você infartou bem na minha frente, isso não se faz, cara. – Assoou o nariz no dorso da mão entrelaçada com a do irmão.
Roberto aterrissou de volta na caminhonete, enxugou o rosto ensopado no braço gelado, ajeitou-se no banco, firmou os pés no tapete do carro para diminuir as náuseas e a tontura − soltou bufadas de alívio por sentir o fôlego ritmado.
– Não viaja, foi só o meu orgulho que fraquejou. Tive um ataque de pânico.
– Desde quando tem esse troço?
– Faz tempo, mas só dá quanto te vejo.
O amassamento no peito tirou Nando do posto confortável de filho desgarrado. Os pelinhos do nariz tremularam da respiração ofegante. Perguntou-se por onde andou por todos esses anos, sem ter chegado a lugar nenhum. Amarrou-se no cinto, apagou a luz do painel, girou a chave, deixou o automóvel em ponto morto, mergulhou as ideias na placa do Km75, encravada na beira da estrada. O gelo do momento não passou despercebido.
– Deixa de ser otário, tô brincando.
– Cê nunca brinca, Beto.
– Estou aprendendo contigo, e arranca logo esta carroça, precisamos sair daqui.
Nando deu a partida, engataram a conversa sobre a intenção de desistirem do propósito, apesar de estarem tão pertos do destino final. Não tinha mais clima. Ele convenceu o irmão de cumprirem a jornada até o sítio para esperar o dia amanhecer, a fim de voltarem pra casa em segurança.
Um caminhão apontou na subida da curva e jogou os faróis sobre a picape. Um clarão de luz branca emergiu no horizonte. O carro rodopiou na pista. Nando pisou no freio, girou o volante à esquerda, direita, esquerda, invadiu o acostamento, voltou à pista, e por fim, desceu a curva com a caminhonete alinhada na estrada.
− Nossa! Que maluco! Jogou o caminhão em cima da gente. Que noite bizarra. Tá tudo bem, Beto?
Silêncio.
− Respira, toma uma água.
− Tô bem…
− Cara, amoleceu as minhas pernas. Sou braço, hein?! Segurei o boi pelo chifre. Tá tudo bem mesmo? Passou a tontura?
− Beto?
− Ah? Passou. Que horas são?
− Dez e cinco.
− A entrada pro Boqueirão não era depois da curva? Não vejo nenhuma entrada, só tem mato, acho que estamos perdidos, e sem celular.
− Não entendo, cadê a entrada? O GPS também não funciona, vou parar e perguntar.
− Perguntar onde, neste deserto?
Andaram mais alguns quilômetros, num silêncio sufocante. A paisagem ganhou novos contornos. A névoa densa baixou sobre a rodovia. A luz da lua cheia sumiu. Levantaram os vidros por causa do vento gélido repentino, soprado do norte.
− Não tô conhecendo a estrada, não tem nenhuma placa de sinalização, que porra, pra mim deu! Vamos embora.
− Não disse que sabia o caminho? Tomara que encontre o bêbado, e vê se agora passa por cima dele.
Nando manobrou para o acostamento e girou nas rodas, na direção contrária, de volta pra casa. Pisou na embreagem, engatou a primeira, − os pneus relincharam novamente −, a luminosidade dos faróis abriu o caminho na penumbra da rodovia. Ouviram pancadas na lataria. Trocaram olhares cúmplices de pânico.
A criatura planava no asfalto, rente ao vidro da porta do motorista, como um surfista nas ondas negras da estrada. O sujeito cambaleante, de quilômetros atrás, transformou-se num espectro de homem. Nando berrou ao ver buracos negros nas cavidades dos olhos, nauseou quando os pedaços de dentes apodrecidos despontaram da boca escancarada. Acelerou. O automóvel não obedeceu ao comando, perdeu a potência do motor. O vulto, de vestes rasgadas e imundas, arranhou o vidro da janela com as unhas enegrecidas nas mãos escalpeladas. Nando sentiu o coração disparar numa cavalgada alucinante, o suor salpicou a testa franzida, rogou a algum poder superior para ajudá-los. Beto se possuiu de raiva, escancarou o porta-luvas, empunhou a navalha. Deixou a portinhola aberta.
− Vou matar esse desgraçado!
− Deixa de ser idiota, é um zumbi, eu te falei, eu te falei! Ele vai nos matar!
− Então acelera!
− Não consigo, esta bosta tá engasgada.
Os gritos de terror assombraram as corujas, morcegos e outras criaturas da noite. A picape se arrastava no asfalto. O zumbi desapareceu da janela, mergulhou no vácuo da escuridão e ressurgiu em cima da caçamba. Beto pulou para o banco de trás de canivete em punho, Nando gritou para ele não reagir. O ser disforme abraçou o vidro traseiro, como um polvo abraça a sua presa com os tentáculos. Beto enxergou, do lado de dentro, a coisa repugnante espumar pela boca uma gosma escura. Paralisou. A sua alma penetrou nas profundezas do abismo na fenda exposta da garganta, reconheceu o familiar cheiro fétido dos mortos impregnado na densidade do ar. Fraquejou as pernas de desamparo. Retomou o fôlego e a fúria. Os olhos não piscavam seguindo todos os movimentos da aberração em cima da caçamba, pronto para revidar a qualquer ataque; virou-se à frente e mandou o irmão histérico calar a boca, quando desvirou, a criatura havia desaparecido. Pulou de volta ao banco dianteiro, o punhal de prontidão na mão. O corpo atarracado, de ouvido colado no teto da camionete e com todos os demais sentidos em alerta, aguardava a próxima aparição do espectro.
− Aí meu deus! Liga pra polícia, liga! − Os olhos pretos de Nando foram tomados de assalto pelo branco de pavor da esclera.
Roberto conferiu a tela do celular, continuava sem sinal. Elevou as mãos à cabeça, a visão nublou da confusão mental, lutou para não perder a consciência, puxou a respiração do abdômen, soltou o ar, puxou novamente.
− Tá difícil dirigir, não sinto as pernas, estou com medo, mano, com muito medo. A gente tem que parar, os cabos de vela estão falhando, o carro não anda.
− Não para, não para! Vai ficar tudo bem, tudo bem, vai ficar tudo bem. – O lábio mordido sangrava de incertezas.
− O que houve com a estrada? Tá tudo diferente, não vejo mais malocas e não passa nenhum carro por nós.
O cenário a seguir tapou a boca do caçula. Vislumbrou a subida da curva, o curvão, no lado oposto, visto que empreendiam a viagem de retorno. A caminhonete subiu aos trancos, na potência máxima de 20 quilômetros por hora. Roberto e Fernando estavam de cabelo em pé e coração acelerado, de horror de que o carro morresse na estrada.
Vencida a batalha da subida, ganharam força na descida − a picape mergulhou em ponto morto alcançando velocidade no declive. Nando segurou a afobação no freio, por causa da fumaça negra e do fogaréu dos veículos em chamas à beira da estrada. O resultado da tragédia desfilava diante do para-brisa. De dentro do carro, os dois viram a carcaça de um automóvel engolido por um caminhão, ambos incendiados, e a cena aterrorizante de uma tocha humana correndo no asfalto, urrando gritos macabros de dor, até tropeçar na morte e tombar o corpo carbonizado no chão.
− Oh meu, que coisa horrível! É aquele caminhão, olha só o que aconteceu com o filho da mãe, nossa! E o carro virou churrasquinho, parece uma D-20. Credo! Olha ali no asfalto, um pedaço da porta vermelha….vermelha….D-20… meu deus, não, não! Que horas são?
– Nando, responde! – Sacudiu o irmão que estava de olhos vidrados na pista, ausente de si mesmo.
– Dez e… cin-co – gaguejou.
− Para aqui, para! Eu preciso descer, eu preciso vomitar….Nandooo!
A resposta ressoou na agonia de um sussurro atormentado:
− Eu não consigo parar…eu não estou dirigindo…
A caminhonete vermelha foi tragada pelo clarão de luz branca surgido no horizonte. Os passageiros assombrados bradavam pedidos de socorro, lamentos e orações. Desta vez não viram pelo retrovisor o “zumbi” prostrado de joelhos na estrada, ao pé do que sobrou da ossada de ferros retorcidos e corpos incinerados, balbuciando gemidos agudos, ressoados por toda a eternidade: “Meus filhos….”.
Então, como vai?
A inserção de marcas sempre me causam algum incômodo, sabe? Como se alguém quisesse me vender alguma coisa. Rsrs. Mas o seu texto é divertido, os personagens são deliciosos (reais, falhos…) e a trama é boa. A danação no fim é conhecida aos poucos, ao mesmo tempo em que se descobre os problemas vividos pelos dois irmãos (isso me atrai bastante). O lance do velho no meio da rua me lembrou o filme OLHOS FAMINTOS, ao invés do que foi referido no título (desculpa).
Enfim, um bom conto, uma narrativa ágil, próxima, personagens reais, bem estruturados em seus universos críveis e com descrições competentes para colocar a pessoa que está lendo na linha de fogo.
Parabéns!
Meu caro amigo: eu tinha feito um propósito de não ler os comentários antes de elaborar o meu, mas este foi o segundo caso em que fiquei dividido. E as críticas, pelo que eu vi, também. De qualquer forma, gostei de alguns aspectos e desgostei de outros, às vezes contra a corrente. A linguagem leve e moderna me pareceu um pouco exagerada, em buscar uma dicção quase falada. Quanto ao enredo, gostei da premissa do “terror na estrada” que, se não totalmente original, estava quase ausente deste desafio. Mas o desenvolvimento parece que ficou truncado, a história sofreu um pouco para se esticar no limite do desafio. Ainda assim, é um bom trabalho e ficará entre os melhores, ainda que não seja dos meus preferidos. Boa sorte! P.S. Capital dos Javalis = eu entendi, e ri.
Vc é excelente com suspense, hein? Realmente um dos melhores contos nesse quesito.
Vc utilizou também diversas formas de terror utlizados no Desafio, porém, como ñ fazê-lo? Rsrs
Achei que a história poderia ser encurtada, em alguns momentos tive vontade de ver se faltava muito (a gente meio que “mata” a charada e bau bau).
No mais, tudo de ótimo.
Parabéns
O grande destaque do conto é o estilo narrativo, algo de alguém que sabe o que está fazendo. Excelente, um dos melhores no quesito suspense. Um dos problemas, talvez, seja no tema. Todo o início, até o acidente, é algo que já vimos das mais diversas maneiras. Caminhão perseguindo, medo na estrada, pessoa que surge do nada, zumbi subindo no capô. (Acho que agora to entendendo o que estão comentando no meu, que é esse mesmo ponto). Porém a escrita consegue elevar a história, a gente quer saber o que vai acontecer. O clima de suspense me fisgou do início ao fim, muito bom. Não sou muito fã de contos super dialogados, ainda mais com gírias e tais, mas também não foi algo que incomodou. O plot twist em relação ao pós-morte, num tom meio Ghost, ficou interessante.
Olá,
Beto e Nando tem uma relação muito verossímil, você conseguiu criar um uma relação entre eles que, apesar de tomar conta de boa parte do conto, serviu bem para simpatizar com os personagens e sentir a dor e o desepero deles.
A premissa é muito boa (apesar de comum). Gostei mais por que é ambientada em uma estrada aqui no Brasil, muita gente já escreveu sobre aparições, fantasmas, demônios em estradas, mas elas sempre se passam nos EUA ou em lugares que não condizem com a realidade do leitor ou até do autor (isso não é uma coisa ruim, mas é uma opinião pessoal).
Talvez, e só talvez, você pudesse ter encurtado um pouco esse arremate de diálogos entre os dois, para dar um gás a mais na trama. Digo isso porque, como leitor, eu já estava muito bem familiarizado com os dois, já tinha criado um vínculo bacana com eles, mas mesmo assim eles não paravam de falar e travar debates comuns entre irmãos sem que nada além disso acontecesse.
O desfecho é ótimo, simplesmente excelente esse plot twist, com o pai tentando assombrar os filhos na esperança de salvá-los, foi uma surpresa e tanto.
Parabéns.
Olá, autor.
Apesar do grande clichê, gostei bastante do conto.
Os dois irmãos foram desenvolvidos de forma muito interessante e coerente. A forma de falar e linguajar fluíram de forma natural, como se fossem realmente duas pessoas ali conversando. Sem as formalidades da língua escrita.
O background com o pai e a mãe são bem desenvolvidos e bem balanceados ao longo da história.
O terror é perene e parte numa crescente até o final assustador.
Entretanto, a trama é batida e já muitas vezes repetida. Apesar de este ser um bom conto, não acrescentou nada novo a este tipo de história e, na minha opinião, este é seu maior problema.
Uma história boa, mas semelhante a muitas outras. Como sugestão, eu diria que você, autor, deve inovar na história. Trazer algo que não foi feito antes, mesmo que seja uma temática já explorada. Dar o seu toque pessoal a ela.
A gramatica está muito boa, mesmo para a forma inculta falada pelos protagonistas. Muito bem ambientada e descrita.
Grande abraço.
Por um lado, o texto desenvolve bem as personalidades dos irmãos, dá uma descortinada sobre o passado deles, e nos faz ficarmos interessados com esse passado dramático. Mas ao mesmo tempo acho que ficou muito exagerado. O conflito entre eles, que nunca chega as vias de fato, dura quase o conto todo. Os diálogos ficam entre ótimos e fracos (‘Voltei pra fazer a minha parte, cuidar de mamis. Hashtag tamo junto, mermão!”), o que deu ao texto um tom de comédia que não ficou legal. As quinhentas menções musicais também deram um pouco no saco.
Quando o terror apareceu (demorou mt), com a tal assombração, os personagens não me convenceram de que realmente estavam assustados. Sei lá, sinceramente, acho que o diálogo foi a benção e a maldição do conto. Nos fizeram conhecer os personagens com perfeição, mas deixaram eles meio caricatos.
“Os caras morrem tudo de tiro na cabeça ou cheio de drogas”..hahaha, já vi muita gente falar isso. Boa.
Não gostei muito.
Não entendi muito bem a relação desses dois irmãos. Parece que resolveram tirar essa viagem curta para resolverem todas as suas diferenças. Esses dialogos um tanto non- sense tiveram obviamente poder de encher o conto. Mas gostei do resultado final como um todo. Interessante a aparição do pai dessa forma e o desfecho final numa curiosa reconciliação. Acho que faltou um pouquinho mais de elegancia ao texto, mas o autor (a) demonstra ser criativo.
Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto em bom uso dos elementos de suspense e terror. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tem que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário sirva como uma crítica construtiva. Boa sorte!
Para escrever um terror impactante, é muito importante que nos importemos com os personagens, o que aqui o autor faz muito bem ao gastar uma boa quantidade de tempo em delinear as personalidades e história dos dois irmãos, destacando a relação conflituosa, mas amigável dos dois. Para isto, foi usado o recurso do diálogo, que toma uma boa parte da leitura e é escrito de forma convincente.
O espaço em que se desenrola a história é a estrada, um lugar perfeito para isto, dispondo as sensações de isolamento e perigo, aqui já não tão bem aproveitadas, uma vez que o autor dá preferências às conversas e separa pouco tempo para as aparições do zumbi (inclusive se aproveitando disso para um dos personagens falar mais um pouco e nos informar sobre o pai deles). Portanto, embora dê para sacar que algo ruim vem com a figura parada na estrada, suas aparições são rápidas e o perigo que eles correm não fica tão claro e não aumenta gradualmente. Inclusive, o infarto teria contribuído melhor para a trama se estivesse atrelado à aparição. Distorções da realidade, sintomas físicos e outros elementos poderiam ter sido inclusos para aumentar o impacto da morte chegando.
O final realmente surpreende e tudo fica muito bem montado, com momentos implícitos que indicavam que aquilo aconteceria. O embate final com a criatura é cheio de adrenalina e a conclusão com os dois mortos choca o leitor, principalmente por serem dois personagens que tivemos tempo de conhecer bem.
A história – Esse conto me assustou por mexer com estradas e o que elas nos guardam. É algo que sempre me perturbou e a visão do zumbi parado na beira da escuridão foi excelente. No mais, a trama entre os irmãos está bastante crível. Qualquer pessoa com um irmão ou irmã sabe que nunca é um mar de rosas, mas há sempre afeto.
A escrita – Eu gostei muito do ritmo, o crescendo até a revelação final me pegou em cheio. Gostei do recurso dos diálogos como modo de construção das personalidades dos manos.
A impressão – O conto fez jus ao pseudônimo do Roy Batty (hehe). Parabéns e boa sorte no desafio.
Olá! Segue abaixo o resultado da Leitura Crítica feita por mim em seu texto, com o genuíno intuito de contribuir com sua caminhada neste árduo, porém prazeroso, mundo da escrita:
GRAMÁTICA (1,5 pts) –> Sim, escrever é a arte de cortar palavras… E sem se esquecer de cuidar das que foram poupadas! Ou seja, uma boa e atenciosa revisão é FUNDAMENTAL em um texto — e não apenas para este quesito —, ainda mais em um trabalho que estará concorrendo com os de outros escritores… O texto repleto de diálogos ajuda na revisão, pois mesmo que seja difícil conseguir transmitir a desenvoltura da oralidade na escrita, erros gramaticais deixam de ser de autoria do autor e vão todos pra conta das personagens. Nas descrições e passagens do narrador, nada identifiquei além do já apontado pelos colegas. A leitura flui boa e prazerosa.
CRIATIVIDADE / ENREDO (2 pts) –> Este é, sem a menor sombra de dúvida, o quesito MAIS IMPORTANTE de todos (e consequentemente possuidor do maior peso em sua nota final)… Ficou na média. O autor leva os leitores para um passeio gostoso de pick-up e, valendo-se daquela máxima do “menos é mais”, isso é o suficiente para conseguir alcançar sucesso.
ADEQUAÇÃO ao tema “Terror” (0,5 pt) –> Como estamos em um Desafio TEMÁTICO, não tem como avaliar sua obra sem levar em consideração este “pequeno” detalhe, rs! Assim sendo, mesmo eu o tendo valorizado apenas com meio ponto, ao final do somatório isso poderá representar a presença (ou não) de seu trabalho lá no pódio. Simples, mas direto ao que interessa. Como um filme dos anos 80, o terror se fez presente e nem percebemos o ‘tempo’ passar durante a leitura.
EMOÇÃO (1 pt) –> Beleza! Gramática (e revisão!), criatividade (enredo), adequação ao tema… Tudo isso é importante para um bom texto. Mas, mesmo se todos os demais quesitos estiverem brilhantemente executados, e o conto não mexer de alguma forma com o leitor, ou seja, não o emocionar, o trabalho não estará perfeito… Mediana. Porém, o autor soube como conduzir o emocional do leitor, alternando (tanto no conteúdo quanto na forma) momentos de baixa e alta adrenalina. Misturou DR’s familiares com zumbis e até mesmo os (não)saudosos javalis ganharam uma ponta neste enredo simples, mas bastante eficaz. Parabéns!
Boa sorte no Desafio!
Paz e Bem!
Nota Máxima = 5,0
Sua Nota = 1 + 0,5 + 0,5 + 1 = 3,0
Olá!
Buenas… novamente o limite mínimo atrapalhou as coisas por aqui.. rsrs Acredito q passado o desafio vc vai enxugar este conto e deixá-lo mais adequado, caro(a) autor(a).
A briga entre os irmaos e o ataque de pânico sao totalmente desnecessários e tirou realmente muito da fluidez do enredo. O enredo é ótimo! Pai falecido tenta aterrorizar os fillhos para que eles nao morram no curvão! O final ficou bem original, eu acho, com o pai se lamentando e o carro andando sozinho para a luz! hehe Gostei mesmo
Tem outra coisa a ajustar: a linguagem, na pegada do que o Angelo falou… tem muito adjetivo, metáfora, palavras fora do lugar, fora do contexto até… o texto fica chato. Vai na boa da linguagem coloquial mesmo na voz do narrador que ficará legal, mesmo!
Abração e boa sorte!
Se não me falha a memória, um dos primeiros sucessos de Steven Spielberg foi um filme de suspense chamado “Encurralado”, sobre um motorista ameaçado por um caminhoneiro ensandecido em uma estrada erma no interior americano. É tudo tão simples e ao mesmo tempo eficaz que o filme é aclamado até hoje como modelo de como se construir um roteiro instigante. O mesmo acontece com este conto. A premissa não tem nada de complexa: dois irmãos vão a uma festa, pegam uma estrada deserta e são assombrados por um demônio. Mas é tudo tão bem montado, tão bem encaixado, que não dá para não admirar e ficar pensando: caralho, queria ter escrito essa história. Desde a amizade dos irmãos, com seus altos e baixos traduzidos nos diálogos ágeis, incluindo suas histórias, dramas e diferenças pessoais, até a ambientação, o horizonte, o posto de gasolina, o frentista, a caminhonete vermelha, o próprio demônio, nada sobra, tudo é importante e aproveitado com maestria e profundidade, tragando o leitor para uma espiral de loucura e, por que não dizer, apavorante. Quem nunca esteve numa estrada deserta e viu-se assaltado por pensamentos sobrenaturais? E no fim, vemos, tratava-se de um acerto de contas, arrematando a história de modo perfeito. Juro, eu terminei o conto pensando puta que pariu, que conto foda. Gostei muito. Certamente um dos meus favoritos. Parabéns!
# “A Morte Pede Carona” (Rutger Hauer)
Autor(a), desculpe-me por não ter tempo para formatar o comentário melhor. Em caso de dúvida, é só perguntar.
📜 Trama (⭐⭐▫▫▫):
– não percebi um fio condutor dae trama, eram apenas dois irmãos cheios de desavenças (como quase todos os irmãos) indo para uma festa no meio do mato
– as aparições do bêbado/zumbi não chegaram a causar medo, foram rápidas e meio sem sentido
– a trama tem muita, mas muita gordura: várias passagens poderiam ser reduzidas ou removidas que não afetaria na trama (ex.: o ataque cardíaco de Beto)
– na verdade, como no fim eles morreram de um acidente banal, nada o que passou antes, exceto o bêbado/zumbi foi necessário
– os personagens são bons e bem construídos, mas só eles não conseguem sustentar a trama
– num conto, tudo deve fazer sentido, servir para alguma coisa e nesse texto senti falta desse propósito
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫):
– o texto prende a atenção e a construção dos personagens é boa
– tem muitos excessos e crueza em algumas sentenças
– diálogo explicativo demais na parte q fala do pai bêbado. Melhor deixar as explicações pro narrador
– Aí meu deus! (Ai, meu Deus!)
💡 Criatividade (⭐▫▫):
– infelizmente, não senti nada de destaque nesse quesito
🎯 Tema (⭐▫):
– contém elementos de terror, mas o conto é um drama familiar
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫):
– apesar dos problemas apontados, gostei bastante da leitura
– os personagens são carismáticos e seguram o conto até a metade
– depois disso a ausência de uma definição na trama deixaram a bola cair
– o fim, um acidente banal, sem relação com os acontecimentos da trama, tirou bastante do impacto
T (tema) – O conto está dentro do tema proposto pelo desafio.
E (estilo) – Linguagem coloquial, citação de dados que datam o conto, mas aproximam o texto à realidade do leitor contemporâneo. O autor soube conduzir bem a narrativa, amarrando as pontas para chegar ao desenlace.
R (revisão) – Alguns erros passaram, como já citados pelos colegas. Nada que tenha perturbado minha leitura.
R (ritmo) – Com tantos diálogos, como não amar? Esse recurso sempre agiliza a leitura, tornando mais fácil captar o interesse. Pelo menos o meu.
O (óbvio ou não) – Não encontrei nada de muito óbvio neste conto. Claro que pelo título ficamos esperando um caronista do mal,mas isso não chega a acontecer. O final foi uma surpresa para mim. Gostei.
R (restou) – A certeza de que o autor curtiu muito escrever este conto e conseguiu passar o seu recado.
Boa sorte!
Olá, amigo.
Primeiro, adorei seu apelido. Assisti a uns filmes bons estrelados pelo Rutger Hauer, o melhor deles, claro: Blade Runner. Mas A Morte Pega Carona também não faz feio.
Não gostei do seu conto. A culpa nem é sua. Diálogos são um problema para mim, e o conto é cheio deles, né? O terror demorou a aparecer, e uma boa parte do texto foi consumida com uma conversa entre os irmãos. Isso tudo foi minando o meu interesse. Alguns trechos também ficaram confusos.
Mesmo vc tendo um bom domínio do idioma e tendo cenas engraçadas, eu não consegui me envolver na leitura, e ficar feliz com a sua história.
De positivo posso dizer que vc introduziu trechos bem tensos, quase agoniantes. O final também é muito bom.
Desejo que vc tenha sorte no desafio.
Abraços.
Iolanda.
Conto bem escrito, com referencias óbvias ao filme Hitchiker, protagonizado por Rutger Hauer. Tem ritmo, a linguagem está perfeita e a adequação ao tema também. Os diálogos primorosos servem de veículo á construção das personagens. É através deles que é feita a caracterização e é também através dos diálogos que conhecemos o seu estado de espírito. Nota 10 neste aspecto – o diabo é que só posso dar até 5. Só não gostei do final. Achei algo confuso.
Esse conto é gostosos de ler, vai da comédia com os diálogos divertidos dos irmãos, ao terror e medo pelo ‘zumbi’ que os persegue. Teve momentos em que confundi os diálogos, não consegui perceber quem falava o quê. Talvez se usasse os nomes Fernando e Roberto e não os apelidos, teria sido melhor. No fim, eles acabam morrendo e o zumbi era o próprio pai morto. Ao mesmo tempo aterrorizante e triste, acabei ficando com pena do velho.
De maneira geral, gostei do texto. Não há erros grosseiros e tampouco rompantes de genialidade. O conto segue uma fórmula pré-estabelecida e segue por ela, sem arriscar muito, mas, também, sem cometer erros. Acho uma estratégia interessante e, ainda que não seja um dos favoritos ao desafio, a história é interessante o suficiente para que faça a gente lembrar dela em algum devaneio futuro. O material é interessante e pode, eventualmente, ser trabalhado em algo maior, caso o autor deseje: “a criatura era fantasma ou vampiro?”, “eles realmente morreram ou seria uma dimensão paralela?”, “e se todos que seguem essa estrada morrem e acabam se encontrando em um submundo estranho?”, enfim, as possibilidades são múltiplas.
O conto atende a proposta do concurso, entretanto não corresponde como obra literária, pois a escrita é muito fraca, cheia de modismo de época: “ó meu” “cara” ‘tá dominado” “posto Ipiranga” Uma escrita que beira a mediocridade, de tão pobre linguajar. Para piorar é uma escrita arrastada, monótona e os personagens rasos.
O conflito entre os irmãos, que percorre toda a estrada e toda a trama, parece não ter força bastante para sustentar-se. A impressão que eu tenho é que a partir de certo momento esse conflito se esfarela e as cenas de enfrentamento se repetem, devidamente repaginadas, e passam a ser pretexto para a ocorrência do elemento terrífico, o zumbi na estrada.
Nesse sentido, por exemplo, o ataque de pânico me pareceu algo deslocado, um fato para alongar a narrativa, sem maior ligação com o todo narrativo.
O(a) autor(a), acredito que no intento de filiar o texto à verossimilhança, durante os diálogos e na narração utiliza uma linguagem cujo coloquialismo apresenta uma característica que amarra o texto ao contemporâneo: ele é datado. Expressões como “oh meu”, “cara” e referências como o automóvel Gol e “posto Ipiranga” fazem isso. Acredito que se não houvesse tais marcações o texto teria ganho vitalidade, porque poderia ter uma “leitura” atemporal, como acontece em boa parte dos contos deste Desafio.
Não que a datação seja um erro em si. Não é. Basta olharmos o conto “Coração cabeludo”, por exemplo, para vermos isso, mas localizar no tempo passado me parece bem mais eficaz do que fazê-lo no presente.
Em “Prefiro encontrar o diabo a aquela doida” o correto seria ÀQUELA.
Em “[…] onde um dia deixou e jurou nunca mais voltar, porém voltou […]” o encontro vocálico OU aparece três vezes, fazendo “soar’ mal.
Em “[…] com as mulheres, igual o pai […]” o correto seria AO PAI.
Em “Nando, preso ao volante, vomitou dele não ter tido coragem de enfrentar o pai […]” VOMITOU DELE não faz sentido.
No parágrafo iniciado com “Embarcaram na picape vermelha” há um trecho que deveria iniciar parágrafo em separado: “Nando conferia com o frentista […]”.
Em “A criatura planava no asfalto […]” há um problema com a escolha do verbo PLANAR. ele significa SUSTENTAR-SE NO AR. Assim, não pode ser NO ASFALTO.
Um bom conto! A tensão oscilante (não falo de onda senoidal elétrica), o começo onde está tudo bem, depois aparece o velho na estrada e surge um pouco de suspense, depois volta tudo ao normal, para enfim acontecer as cenas finais, creio que ficou muito bem equilibrada (essa tensão) e criativa. É como se alguém mergulhasse nossa cabeça num tanque com água, a mantivesse ali por uns segundos, depois a retirasse e em seguida repetisse o processo. Assim me senti lendo essa história.
A prosa está repleta de adjetivos, e por conta disso confesso que cheguei a tropeçar em algumas partes, porém não deixei que isso me tirasse o deleite pela leitura.
As cenas descontraídas dos dois irmãos (mesmo que implicassem um com o outro), mescladas com as passagens da aparição na estrada construíram um bom terror.
É isso. Está bem escrito, bem construído, cheguei até a rir, coisa que para mim o bom terror propicia. No fim era o espírito do pai deles querendo uma caroninha!
Parabéns!
Conto com narrativa ágil, e muito bem escrito. Os diálogos não soaram muito naturais para mim, com um conflito um tanto quanto raso. O ritmo está bacana, e a trama explora com inteligência os clichês, apesar da previsibilidade do final, que se deve muito ao título também. No geral gostei das descrições. Um bom conto.
Caro(a) Autor(a),
A morte pede carona foi um filme que assisti umas três ou quatro vezes. E eu assistiria de novo. Noite e estradas combina muito com contos de terror. Gostei da escrita. Fui lendo sem travar. E gostei dos diálogos também. Bem atuais. O final foi condizente. Não percebi nenhum erro muito grotesco de escrita. Boa sorte no desafio.
Escrita: Gostei muito da fluidez, de como a leitura segue interessante até o final. Os diálogos ora ajudam, ora me incomodaram um pouquinho, mas nada que tire a qualidade da obra (às vezes é frescura minha). Adoro contos que se passam em estradas em qualquer gênero (na verdade eu amo estradas, sou estradeiro por natureza). Contos de terror nessa ambientação tem um charme único. Gostei dos elementos sobrenaturais, do suspense, do drama familiar. Acabei de ler um grande enredo.
Terror: Muito bem construído com o mistério em si. O final me lembrou um filme chamado Pânico no Deserto.
Nível de interesse durante a leitura: Mais um texto que me faz emergir inteiramente na trama, e como você soube construir tudo. Encaixadinho e arrumadinho.
Língua Portuguesa: Excelente. Prefiro textos como o seu àqueles exageradamente rebuscados nos quais muitas vezes o autor se perde em construções atravessadas e desconstruídas. Um bom contador de histórias sabe prender o leitor com simplicidade e sensibilidade, e você soube bem fazer isso.
Só algumas frescurinhas minhas mesmo, nada que tire um décimo sequer de pontos.
Teve o fim que mereceu, morreu afogado na cachaça – esse recurso que você usou aqui é meio preguiçoso, afinal o irmão sabia como o pai tinha morrido. Ficaria melhor se essa informação fosse dada pelo narrador.
me poupe – é estranho esse termo ter saído da boca de um homem hétero.
Entra Beto – aposto e vocativo são separados por vírgula.
Correu de volta na estrada – para a estrada.
Veredito: Muito bom.
Olá,
Um conto muito bem escrito, criando e demonstrando aos poucos a personalidade dos irmãos, seu conflito interno com o pai e entre eles mesmos, ao mesmo tempo que prepara o leitor para o final tenebroso que está por vir. Contado com maestria, dando o ritmo certo entre as cenas de suspense e as de descanso, o autor soube conduzir a trama com o profissionalismo digno de um filme de suspense (mais que terror), o que não o invalida de forma alguma. O desfecho, em que os irmãos se descobrem mortos, sendo observados por um pai-zumbi, é a cereja do bolo. Parabéns.
Boa tarde, amigo, tudo bem?
Esse desafio me agrada particularmente, uma vez que amo o genero. Tava esperando ansioso por ele. Por isso, tenho lido os contos com bastante expectativa. Dito isto, vamos ao seu:
A escrita eh fantastica. Tem um que natural de humor, eh meio ironica, nao sei, mas sem criar un conflito com o clima de suspense nem descambar pro terrir.
Claramente voce eh um escritor experiente. Percebe-se claramente isso pela qualidade e fluencia dos dialogos e pela construçao dos personagens, que eh muito bem feita.
Ja o enredo achei abaixo desses outros aspectos. Apesar de bem desenvolvido, achei que demorou demais pra chegar aos momentos de tensao e climax. Acho que ficou meio arrastado em algum momento.
Ja o desfecho eh o contrário, ficou excelente! Demorei pra sacar q eram eles as vitimas do acidente, e quando saquei, fiquei agradavelmente surpreso. Terminei a leitura com a sensaçao de que o pai queria impedi-los de continuar a viagem, to certo?
A gramatica e a estrutura me pareceram impecaveis, reforçando a sensaçao de se tratar de um escritor experiente.
Enfim, um belo conto, conduzido com maestria, mas que em algum momento perdeu um pouco minha atençao, recuperando- a plenamente no desfecho. Achei tambem que faltou um pouco mais de terror em si, usando elementos mais de suspense e misterio. Isso nao eh uma critica, apenas um apontamento.
Parabens e boa sorte!
Um conto muito bem escrito, onde se vê um cuidado com a estrutura devido aos acontecimentos implantados no início da história para serem resgatados em momentos posteriores. Gostei da relação dos irmãos, ora explosiva ora tranquila. Os diálogos entre os dois personagens ficaram muito críveis, ainda mais pelas diferenças entre os dois. o final foi excelente, retratando um medo que acredito passar na mente de muita gente: morrer e não perceber. E a ambientação se encaixou perfeitamente com a história.
A única coisa que acho que poderia ser melhorada é a introdução de mais elementos de horror na história. Em certo momento, me pareceu mais um drama sobrenatural do que uma história de terror mesmo.
No geral, um excelente texto.
😀
====TRAMA====
MUITO boa. Muito bem bolada, com um desenvolvimento digno de mestre e um desfecho inesperado e magistral. No início, pelo título, achei que o conto seria uma homenagem ao filme homônimo, com direito a psicopata pedindo carona, mas logo perdi essa ideia. O sobrenatural no conto foi muto bem representado – indireto, etéreo e assustador.
Foi uma excelente leitura!
Você desenvolveu os dois irmãos muito bem. A história deles não só ajuda o leitor a se aprofundar nos personagens, como também dá um pano de fundo para o “vilão” da história, que é o próprio pai a assombrá-los. Tal qual Stephen King, você foi aumentando a tensão da história não só entre os dois irmãos, como também entre eles e o perigo iminente na estrada na forma do “zumbi”.
O conto brilha pelo terror “indefinido”, que meche com o psicológico do leitor. Não há um monstro identificado; não há um mal óbvio. Há eventos estranhos e sobrenaturais, que podem ser uma série de coisas. O final confirma o viés sobrenatural, mas até lá tudo é possível.
Parabéns!
====TÉCNICA====
Muito boa. Envolvente, rápida mas não apressada.
Notei alguns problemas na pontuação, mas estes não atrapalham muito. Em alguns momentos a leitura fica um pouco “confusa”, seja no diálogo entre os irmãos (que nem sempre fica fácil de identificar quem está falando o quê), seja nas descrições. Segue um exemplo:
“Um caminhão apontou na subida da curva e jogou os faróis sobre a picape. Um clarão de luz branca emergiu no horizonte. O carro rodopiou na pista. Nando pisou no freio, girou o volante à esquerda, direita, esquerda, invadiu o acostamento, voltou à pista, e por fim, desceu a curva com a caminhonete alinhada na estrada.”
Depois de reler a cena umas três vezes, consegui identificar, mais ou menos, o que aconteceu. O problema é que o que desponta no horizonte é um caminhão, e a picape é quem recebe a luz dos faróis… mas em seguida, o “carro” rodopia, e eu já não sei exatamente quem está rodopiando. Aliás, nem sei por quê a picape dos irmãos rodopiou. Nando fala, em seguida, que o caminhou “foi jogado” sobre eles.. mas isso não foi descrito na cena. Por fim, “…desceu a curva com a caminhonete alinhada na estrada” também me confundiu. Alinhada seria “atravessada”? “Desceu” no sentido de descer mesmo? A curva era uma descida também?
Enfim, apenas um exemplo de uma das descrições confusas que encontrei.
Mas não se preocupe: houveram sim alguns tropeções na narrativa como o citado acima, mas a qualidade do texto e a tensão criada por você superam tudo isto. Você escreve muito bem, sabe envolver o leitor e sabe usar bem as suas palavras.
Ah, agora que notei que, afinal, existe sim uma homenagem ao filme, na forma do nome do autor, rs rs rs.
Boa!
Enredo e criatividade – Autor(a) fã do filme e do ator apresenta uma releitura interessante da morte na estrada. Narrativa fluente e ambiente bem construído. Cenas do acidente e da crise de pânico bastante aterrorizantes. Chamou atenção as referências contemporâneas.
Terror e emoção – Em minha leitura, o pai tentava avisar os filhos do perigo. Talvez quisesse induzi-los para uma volta e evitar-se, assim, o acidente fatal. Introdução extensa demais quebrou, em parte, o impacto. Ficou mais para drama familiar do que terror.
Escrita e revisão – Texto bem conduzido. Pequenos deslizes gramaticais não prejudicaram a leitura e interpretação.
Bom trabalho. Abraços.
Olá, Rutger. O conto está perfeitamente adequado ao tema, no entanto e por isso mesmo, também se afasta dele ao focar-se quase todo o tempo no enredo entre os irmãos que, sendo normal e credível, relega o terror para segundo plano.Encontrei alguns pequenos desvios, por exemplo: “o diabo a aquela doida”, seria “o diabo àquela”; “o coração saia pela boca”, seria “saía” e mais dois ou três assim, mas nada que comprometesse a leitura ou o entendimento do texto.
A ambientação está bem construída, penso que o terror funcionaria muito mais se fosse uma história visual, um filme. Na escrita, fica pouco focada no zombie e no terror e distraímo-nos um bocado com a conversa.
Talvez dando mais espaço à figura do velho funcionasse melhor. Mas está bem e dentro do tema, nada a apontar, além do que foi dito.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
ENREDO: Dois irmãos vão passar fim de semana no campo e durante a viagem, se envolvem em estranhos acontecimentos.Bom enredo.
PERSONAGENS: Nota-se que os dois irmãos são completamente diferentes um do outro, o que é legal numa historia.
ESCRITA: Regular. Com alguns errinhos nas frases, algumas palavras fora de lógica. A gíria ficou legal, mas até chegarem nas explicações que se referem ao pai, para dar conexão com o final, foi meio chato. Ficou algumas conversas chatas e muito longas. O final ficou muito bom, o “zumbi” na realidade era o pai deles e eles mortos já estavam, é o que eu imagino.
TERROR: Fraco. A ideia é boa, só que a introdução no assunto foi muito longa e a parte essencial foi muito curta. Boa sorte.
Olá, Autor(a),
Tudo bem?
Logo que li: “− É um velho bêbado…. – murmurou Beto.”, imaginei que o zumbi, fantasma, ou seja lá que entidade visitou os rapazes, era o pai. Ao contrário de muito, no entanto, não vejo isso como um defeito.
Sempre gosto de citar as fontes de onde vêm minhas informações, então, lá vai. O roteirista David Mendes, com quem já compartilhei uma sala de roteiros por alguns meses no Paraná, dizia que o expectador, e, em nosso caso o leitor, adora se “sentir esperto”. Ele dizia que o bom escritor deve saber implantar em seu texto, algumas pistas que estimulem o leitor a seguí-lo. Dessa forma o “seguidor” das pistas, lê o trabalho, repetindo para si mesmo frases como: “Eu sabia!” ou “Quer ver que tal coisa vai acontecer?”. Tudo isso, no entanto, deve ser feito no limite certo do bom senso, sem que as tais pistas se tornem auto spoilers. Bem, você fez isso aqui com grande sucesso com o tal pai zumbi.
Outro ponto interessante deste conto é o modo como o autor introduz os diálogos. Mesmo em um conto de terror, mesmo em um clima pesado como é o de uma estrada deserta, com direito à briga de família, caminhonete velha e até uma terrível cena de acidente, o autor mantém a personalidade de seus personagens, com piadas em um diálogo totalmente coerente com o de dois jovens irmãos. O modo com que isso é feito, não faz com que o conto penda para a comédia, ao contrário. Percebe-se que aquele diálogo, com aquelas piadinhas, faz parte do “universo” criado pelo autor. Muito bem executado.
Também acho interessante notar o desfecho, com os irmãos assistindo ao próprio acidente na estrada. Cena forte, bem descrita. Digna de um filme do estilo. Puro terror.
Parabéns.
Desejo-lhe sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Narrativa ambientada na noite, envolvendo estrada, velocidade, discussão. Interessante o desentendimento entre os irmãos, as “dores” foram ditas. As verdades que sentiam, as feridas foram expostas, sentimentos profundos, pensamentos que marcaram vidas. E houve tempo para um apaziguamento. Achei coerente a citação do som de Gustavo Lima, da música sertaneja universitária. É a realidade da moçada que vive hoje no sertão. Talvez, se fosse narrada a história dos avós, dos pais, seriam citados Tonico e Tinoco, Zico e Zeca, Alvarenga e Ranchinho, Tião Carreiro e Pardinho… Agora, a colocação de frases “atuais”, de outras tribos, aí interfere na escrita, dá um “pique” na leitura. Destoou… Conto bem construído, traz terror. Um ótimo conto.
Fiquei em dúvida se o terror começava quando o narrador cita o Gustavo Lima ou velho no asfalto.
Apesar de bem explicada, a situação “mal resolvida” entre os irmãos não me convenceu. Senti como se fosse uma briga onde um diz ‘bobo’ e o outro responde ‘bobo é você’. Faltou agressividade nas palavras, ou talvez o clima bem humorado aliviou demais a tensão entre eles. Daí vem a reconciliação… achei isso mto chato, queria que eles continuassem brigados.
A escrita é ótima, não tenho do que reclamar. Só não entendi o pq o(a) autor(a) escolheu fazer referência a uma obra do King, já que dá um alerta sobre o que esperar
O final ficou com aquela cara de “Lost”, mas acho que dá para superar isso levando em conta a habilidade de escrita apresentada.
O conto atende perfeitamente as exigências do desafio terror, mas a escrita está longe de qualquer teor literário. Pô, discutir relação de irmãos com mãe, logo na hora do conto, meu!? Frases da moda: “posto ipiranga” – “tá dominado”. È um pouco demais, não é não? Chega passar da conta. Sentenças ruim de engolir numa obra literária.
Salve, Rutger!
Estradas estão entre as ambientações mais legais para um conto de terror. Podem ser desérticas, podem ser perigosas. Podem ser movimentadas e podem ser até claustrofóbicas se avançarem através de um túnel. Não é a toa que vemos a estrada como cenário de diversos contos, filmes, etc. E um filme em particular, Olhos Famintos, traz essa mesma estrutura de dois irmãos em viagem, discutindo suas relações familiares, trazendo à tona sentimentos represados, quando são “atravessados” por uma situação incomum, inesperada. E digo isso pois a semelhança com o filme já me preparou para o terror que viria a seguir.
Entretanto, percebi uma contextualização da situação entre os dois irmãos muito mais ampla e profunda do que seria necessário. E isso acabou tomando não só espaço, mas também importância dentro do texto, deixando o terror para (quase) um segundo plano. No final das contas acabei um pouco frustrado por ter tido tão pouco contato com a criatura/fantasma/espírito/zumbi, pois esperava um pouco mais dele.
O final é digno de nota. Achei muito bem construído e condizente com o rumo (!) que o conto estava tomando. E o detalhe do horário foi um golpe certeiro para aquele momento!
O texto está praticamente perfeito. Só fico incomodado com algo errado quando a coisa é muito dissonante, e não foi o caso aqui.
É isso! Boa sorte no desafio!
Olá, meu querido Rutger. Você resgata a eterna disputa entre os filhos pelo amor maternal. Os diálogos desafiadores entre os irmãos, apesar de não se constituírem terror, estão bem interessantes, creio mesmo – nesse meu jeito de quem pouco, ou quase nada entende de histórias de terror, terem se constituído no ponto mais alto da sua narrativa. Então, ponto para você ter trazido para pano de fundo da história esses ciúmes e questões fraternas pouco resolvidas. O terror, a partir do zumbi que surge em frente na estrada e que depois vim a saber tratar-se do pai bêbado e que cuidou pouco da mãe, me pareceu um tanto forçado. Você se redime, no meu modo de ver, com o final do conto. Este está bem mais interessante com os dois irmãos contemplando a própria morte. Meu abraço.
Um conto de terror se passando na estrada, temática ainda pouco utilizada no desafio. Torci um pouco o nariz para o título, nome exato do filme famoso. Faltou um pouco de criatividade nessa parte.
A escrita é segura e muito boa na parte gramatical. Só fiquei em dúvida nesse trecho:
– Nando dirigiu até a saída da cidade, (…), onde um dia deixou e jurou nunca mais voltar, porém voltou
>>> acho que seria mais correto “que um dia deixou”
Os diálogos constituem boa parte do conto e não me agradaram totalmente. Algumas tiradas são muito boas, engraçadas e verossímeis. Mas senti que o(a) autor(a) ficou no meio do caminho entre simulação da fala e a representação literária. Um exemplo: “Aquilo não era pai, era um bêbado covarde, a mãe padeceu na sua mão”… não imagino alguém falando dessa forma. Talvez: “Aquilo não era pai, era um bêbado covarde, a mãe sofreu na sua mão dele”… ou ainda trocar o “covarde” por “filho da puta”. Enfim… há várias outras situações em que senti esse nem lá, nem cá e o resultado acabou ficando meio teatral.
Dessa interação entre os irmãos seria gerada a empatia e da empatia, o temor pelo que aconteceria com eles no final, onde a ação realmente acontece. Infelizmente, uma coisa foi puxando a outra e eu acabei não me apegando aos dois (aliás, faltou um pouco dar mais personalidade para diferenciá-los) e não temi pelo destino deles.
Ganha pontos pela fluidez narrativa e ótima ambientação, mas não me cativou.
Abraço!
Caro Rutger Hauer,
Uma pequena digressão acerca do pseudônimo:
Rutger Hauer é um ator holandês, de olhos azuis, alto e bonitão. Fez grande sucesso como o principal androide em Blade Runner com Harrison Ford. Fez ainda Feitiço de Áquila e, depois ou antes, não me lembro, A Morte Pede Carona e Fúria Cega (e outros também). Um tremendo canastrão, particularmente em Fúria Cega – um horror que beirava o cômico -, mas fez história.
É de Rutger Hauer uma das frases mais bacanas de Blade Runner, completamente improvisada no set de filmagens. Aqui vai ela: “Eu vi coisas que vocês homens nunca acreditariam. Naves de guerra em chamas na constelação de Orion. Vi raios-C resplandecentes no escuro perto do Portal de Tannhaüser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.”
Sempre gostei de Rutger Hauer, particularmente pelo jeito canastrão dele.
Voltando ao texto. Confesso que ri um bocado com seu conto, Rutger. Tem as passagens mais hilárias de todos os contos que li até aqui no desafio.
Sério, talvez no desafio comédia seria imbatível.
Se houve algum horror foi conhecer os diálogos absolutamente idiotas entre os dois irmãos disfuncionais (Calma! Idiotas eram os irmãos que dialogavam). Fantástico!
Tem passagens magistrais:
– …a lua gratinada…”
” …Fica gel, daqui a…”
” O lábio mordido sangrava de incertezas.”
“… ossada de ferros retorcidos…”
“…empunhar a navalha tal qual numa matança de porcos…”
” …vertia nos poros das axilas peludas de Nando, reveladas na camiseta regata.”
” … Vai se fuder! Criador de javalis…” (olha o javali, gente!)
Achei legal a transmutação física dos objetos: o canivete que se transforma em navalha que se transforma em punhal. Fantástico também.
Legal, Rutger, boa sorte com o conto e obrigado por nos deixar conhecê-lo.
Impacto sobre o eu-leitor: médio.
Narrativa/enredo: irmãos encontram a morte, não a “morte”- personagem, eles morrem, pronto. E inconscientes do fato se perturbam.
Escrita: boa, não notei erros que travassem a leitura.
Construção: acho que o conto está todo na parte final quando vêem o zumbi e tudo se desenvolve. Antes, a técnica de se criar empatia com os irmãos não funcionou comigo. Pareceu-me que foi mais pra alcançar o limite mínimo, embora os diálogos tenham sido bem conduzidos, mas fiquei imaginando “e se fosse um filme?”, seria uma hora de conversa jogada fora para a coisa pegar no tranco na última hora.
Algo meio estranho é o zumbi do pai preocupado com os filhos.
Mas é isso.