São Paulo- 1938
Meu nome é Pedro Porto Menezes. Houve um tempo em que vivi alguns meses em um aposento na torre norte do convento Santa Clara. Meu quarto tinha cinco passos largos de um lado e quatro do outro, com uma cama, uma mesa e uma cadeira. Um aposento úmido e frio no inverno, quente e abafado no verão. Quatro paredes caiadas, sem adornos e com apenas uma pequena janela de onde não se podia ver quase nada do exterior.
Eu dormia numa cama de madeira roliça, sobre um colchão recheado com penas de galinha. Numa salinha na entrada, tinha uma cômoda para roupas e sobre ela uma talha com água, uma bacia e uma caneca. Ao lado desse cubículo, ficava a privada, onde eu também tomava banho.
As freiras traziam as refeições, deixavam roupas limpas, levavam as sujas para lavar e enchiam a talha com água. Quando ali cheguei, não revelei o motivo pelo qual eu queria me isolar do mundo. A Superiora do convento, madre Rosário, compreendendo e acatando minha vontade, consentiu me dar asilo e proibiu que as freiras revelassem aos estranhos, a minha presença naquela torre. Se alguém de fora soubesse que havia um homem morando no convento, seria um escândalo!
Algumas freiras eram devotas em excesso, conservadoras, não gostavam da minha presença no convento, outras, no entanto, eram mais liberais e por um dever cristão, aceitaram meu asilo. Nunca entravam sozinhas em meus aposentos, vinham em duas ou três, sempre acompanhadas por uma freira de mais idade. Frequentemente duas delas batiam na minha porta nas horas mais impróprias, talvez sem o conhecimento da madre superiora. Era irmã Celeste, que de celestial nada tinha e irmã Dolores. A primeira com cerca de trinta anos e a outra ao redor dos vinte anos. Demonstravam pudor, mas suas atitudes recatadas eram fingidas, como pude descobrir. Suas intenções eram o jogo da sedução, do encantamento e a corrupção das minhas virtudes. Irritado com a atitude delas, passei a trancar a porta. Claro que as outras não eram como essas duas, mas preferi deixar a porta trancada quando elas traziam roupas e refeições, pedia-lhes que deixassem na salinha da entrada, pois Celeste e Dolores entravam sem respeitar as regras da boa educação.
Pois bem, registrado este preâmbulo, se faz necessário que lhes conte como e porque fui morar naquele convento.
Eu trabalhava como escrivão. Foi numa festa de São Joao que conheci Judite, moça bonita, meiga, inteligente, filha de colonos. Morava numa chácara com os pais, próximo da cidade. Começamos a namorar e depois de três anos de noivado, marcamos a data do casamento. Judite era uma boa amazona, costumava cavalgar todas as manhãs, mas certo dia o cavalo se assustou com alguma coisa e acabou derrubando-a. Ferida na cabeça, foi levada inconsciente para casa e colocada em sua cama. Um parente foi chamar o médico e me avisou do ocorrido. Depois de examiná-la minuciosamente, o médico constatou que ela estava com duas costelas fraturadas e um ferimento na nuca. Ele tratou da pancada na cabeça e enfaixou o dorso para que não se movesse, possibilitando assim, que as costelas se reconstituíssem.
Mas, o estado de saúde de Judite piorou, ficando com febre e com os sinais vitais muito fracos. O médico revelou que ela poderia não sobreviver. Triste, sai para a rua e andei até um capão de mato, onde me sentei e chorei. Algum tempo depois resolvi voltar, mas antes de entrar, olhando através da janela, vi os pais de Judite chorando, sendo confortados por um padre e calculei que minha noiva tinha morrido.
Desesperado, saí correndo pelos campos e matos. Acabei caindo de um barranco, perdi os sentidos e quando acordei já era noite. Não sabia onde estava. Eu ainda continuava na mata, mas em um lugar desconhecido. Mesmo com a claridade da lua cheia, não consegui encontrar o caminho de volta. Subi para os galhos de uma árvore e ali me recostei, pensando o que fazer da minha vida.
Quando amanheceu, escolhi um rumo ao acaso, sem me importar para onde ia, sem vontade de voltar para casa e ter que enfrentar a realidade. Eu preferi pensar que muitos anos já se haviam passado e que a lembrança de Judite era a única coisa que restou.
Eu não tinha ideia de quanto tempo caminhei, se dias ou horas. Sentia-me fraco, comecei a cambalear, a vista ficou nublada. Esgotado, deixei-me cair no chão. Novamente perdi os sentidos. Quando acordei, ouvi o badalar de um sino. Ergui a cabeça e percebi que havia saído da mata. No terreno abaixo, avistei a torre de um convento sobressaindo da névoa da manhã. Reuni minhas ultimas forças e segui trôpego naquela direção.
O convento se compunha de um prédio robusto, área de serviço e lazer, com um jardim, horta, animais domésticos, tudo cercado por um alto muro. As freiras viviam enclausurado o tempo todo, somente algumas delas saiam para fazer compras, ou tratar de algum outro assunto importante na cidade. Os portões permaneciam o tempo todo trancado. Com muito esforço consegui chegar até um dos portões, onde uma das freiras me encontrou depois de ouvir meus lamentos. Não sei se dormi ou perdi os sentidos, quando dei por mim, me vi deitado numa cama, num aposento pequeno, com o sol entrando por uma janela envidraçada. Ao meu lado estavam duas freiras, uma jovem e outra aparentando ter uns sessenta anos.
─ Como se sente? ─ perguntou a mais velha.
Ergui-me e me recostei nos travesseiros. Os acontecimentos passados pareciam estar muito distantes no tempo. Havia um quase vazio em minha mente, o que restava eram vagas lembranças. Lembrava de estar caminhando na mata, mas não sabia o motivo, de onde vinha, para onde ia.
-─ Melhor. ─ respondi, embora sentisse um certo desconforto por estar ali.
─ Meu nome é Rosário, sou a madre superiora e esta é irmã Luzia. ─ disse a freira de mais idade, me entregando uma terrina com sopa. ─ Coma isso, vai lhe fazer bem.
Comecei a comer, pois estava com muita fome.
─ O que aconteceu com o senhor? – perguntou Luzia. Refleti por alguns instantes antes de responder. As únicas coisas lembranças que me vinham à cabeça, era de estar caminhando na floresta, comendo frutas e bebendo água de algum regato
─ Não sei não me lembro.
─ Como se chama?
Novamente fiquei a refletir. Por mais que eu tentasse, não consegui lembrar meu nome.
Observando minha expressão confusa, madre Rosário falou: ─Também não se lembra? Coitado! Tinhas um ferimento na cabeça, mas não era de muita gravidade. Será que a pancada afetou sua memória?
─ Li num livro que um grande abalo emocional pode causar perda de memória. – disse irmã Luzia.
Madre Rosário voltou a me encarar. Sorriu como que para encorajar-me.
─ Não importa. Nós vamos cuidar do senhor e procurar alguém que o conheça. Vamos limpar e arrumar o quarto da torre, onde o senhor poderá ficar até que possamos encontrar seus parentes.
Uma semana depois, ao acordar pela manhã, lembrei-me de tudo. A memória havia voltado e com ela a dor pela perda de minha amada. Fiquei deitado na cama sem saber o que fazer, sem vontade de voltar para casa. Soaram batidas na porta do quarto e eu mandei entrar. Era irmã Luzia e outra freira, uma jovem de olhos azuis. Elas traziam o desjejum, uma caneca de leite, pão de centeio, queijo e mel.
─ Bom dia, irmão! – saudou Luzia alegremente. Colocou a bandeja sobre a mesa, dizendo: ─ Esta é irmã Celeste. Dormiu bem? Necessita de alguma coisa?
Sentei-me na beira da cama e pedi para falar com a madre superiora. As duas voltaram a sair e logo depois Madre Rosário subiu sozinha. Sentou-se numa cadeira e disse:
─ Infelizmente, até agora, não tivemos noticias de ninguém que tenha desaparecido nesta região. Pode ser que o senhor tenha parentes em outro município. Ainda não lembra de nada?
─ Sim! Madre Rosário, estou me lembrando de quem sou e onde moro. Meu nome é Pedro Porto Menezes.
─ Verdade? Que bom!
Comecei a chorar e Rosário segurou minhas mãos. ─ O que foi meu filho? São tristes as tuas recordações?
─ Sim madre, mas prefiro não falar nisso. É por causa dessa dor que eu queria me isolar do mundo. Eu queria poder ficar aqui, até o fim dos meus dias, se for possível.
Madre Rosário ficou séria.
─ Acho que você está tomando uma decisão precipitada! É jovem e com o passar do tempo vai superar toda essa tristeza. Bem, esse é um convento de freiras, mas podemos lhe dar abrigo por mais alguns dias. Talvez até lá, você mude de ideia. Mas não poderá circular pelo convento, vai ter que ficar o tempo todo na torre!
─ Não importa. Sei escrever e desenhar. Eu gostaria de fazer alguma coisa para passar o tempo!
Madre Rosário ergueu-se. ─ Mandarei trazer papel, pena e tinta. Quando quiser conversar, mande me avisar.
Naquela manhã fiz alguns desenhos tendo por tema a vida de Cristo. Quando irmã Luzia me levou o almoço e viu os desenhos, ficou encantada e pediu-me para enfeitar o seu livro de orações com alguns desenhos como aqueles. Ela mostrou as gravuras para as companheiras e elas me pediram para fazer o mesmo com seus breviários. Assim, comecei a desenhar em livros, enfeitando-os com ilustrações tendo por temática, elementos do cristianismo.
Trabalhar e viver num ambiente fechado se torna nocivo à saúde e por isso, eu fazia exercícios e ficava deitado no chão, diante da janela para tomar sol, pelo menos meia hora.
Passaram-se algumas semanas. Certa noite, altas horas, as freiras já tinham se recolhido aos seus quartos, eu ainda estava trabalhando num livro que contava a história de Santa Catarina de Siena, quando soaram batidas na porta do meu quarto. Estranhando uma visita àquelas horas, abri a porta. Deparei-me com Celeste e Dolores, a primeira com algo enrolado numa toalha e a outra com um candeeiro para iluminar o caminho.
─ Vimos que o senhor ainda estava acordado e trabalhando, resolvemos lhe trazer algo para comer. – disse Celeste e sem pedir licença entrou no quarto. Ela colocou um pote com doces sobre a mesa e ficou admirando o meu trabalho.
─ Que magnífica obra! – exclamou.
─ Faz mal a saúde desenhar a noite com pouca iluminação. – advertiu Dolores.
─ Já me acostumei. – respondi, aborrecido com aquela intromissão. Dolores largou o candeeiro sobre a mesa e foi sentar-se na cama e Celeste acomodou-se na cadeira.
─ O senhor não sente solidão, vivendo sozinho neste quarto? – perguntou ela.
Comecei a ficar preocupado com aquela visita inesperada e fora de hora.
─ Desculpem, mas estou cansado e quero dormir. Queiram me deixar a sós, por favor?
Celeste me olhou com uma expressão de encantamento.
─ Ora, Irmão Pedro! Não está gostando de nossa companhia? Talvez o senhor esteja constrangido com….
Dei dois passos largos e abri a porta.
─ Queiram se retirar, por favor!
Lançando-me um olhar de desapontamento, as duas freiras partiram em silêncio. Tranquei a porta, encerrei o meu trabalho e fui dormir.
Duas semanas depois, certa noite, eu estava me preparando para dormir, quando soaram batidas na porta. Quando abri, Celeste, vestindo uma camisola, precipitou-se para dentro do quarto, trancou a porta e me abraçou.
─ Não me mande embora, quero ficar com você! – disse ele e colou o corpo ao meu, fazendo pressão com os quadris, debaixo para cima. Agarrei-a pelos braços afastando-a de mim.
─ Para! O que pensa que está fazendo? Você está traindo a si mesma, os princípios religiosos, o voto de castidade!
Celeste ergueu o rosto e me encarou. Procurei no fundo da alma forças para resistir àquela tentação. Se eu cedesse estaria traindo a confiança de madre Rosário. Não havia nada que eu pudesse dizer para que a moça desistisse dos seus propósitos. Seu anseio falava mais alto. Segurando-a por um braço, levei-a para fora do quarto e tranquei a porta.
Naquela noite quase não dormi, perturbado pelas emoções. Na manhã seguinte acordei com novas batidas na porta do quarto.
─ Quem é? – perguntei, aborrecido.
─ Madre Rosário.
Fiquei surpreso ao vê-la na companhia de um sacerdote.
– Este é dom Fernandes, bispo diocesano. – disse a freira com uma expressão tensa. – Ele deseja conversar com o senhor.
Afastei-me para que eles entrassem. Com ar grave o bispo entrou. Examinando o aposento, deteve-se diante da mesa de trabalho. Rosário voltou a sair e retornou com Celeste. Ela estava com a camisola rasgada na altura do ombro, revelando uma parte do dorso e um ferimento leve na pele branca e sedosa. Permaneceu com a cabeça inclinada para o chão. Dom Fernandes examinou-me da cabeça aos pés. Eu calculei que minha aparência não devia ser desagradável, pois havia cortado à barba e aparado os cabelos uns dias antes.
─ Esta jovem freira o acusa de invadir o quarto dela e tentar beijá-la. – disse o bispo num tom severo. Voltou-se para a Superiora e fez um gesto largo. ─ Como a senhora permitiu que um homem venha morar no convento? Isso é inadmissível! E agora acontece isso!
Celeste permaneceu imóvel, com os olhos fitos no chão. Ao lado dela, Rosário torcia as mãos, aflita.
─ Nunca antes ele demonstrou más intenções! Ao contrário, sempre foi cordial, trabalhador, amigo! – argumentou ela.
─ A senhora o está defendendo?
─ Não! Só estou dizendo a verdade.
Dom Fernandes respirou profundamente, me encarou e eu procurei me defender.
─ Eu não ataquei a irmã Celeste! Ela está mentindo! Nunca saí do meu quarto. Ao contrário, foi ela quem esteve aqui a noite passada, sabe-se lá com que intenções. Pedi para que se retirasse e logo fui dormir.
Celeste soltou um gemido, escondeu o rosto nas mãos e começou a chorar. O bispo fez um gesto para ela.
─ O senhor quer-me dizer que foi ela quem rasgou a própria roupa e se arranhou?
─ Isso mesmo. Celeste não consegue e não merece ser freira. Suas atitudes são pecaminosas, enquanto suas companheiras estavam dormindo, ela aproveitou para entrar em meu quarto!
─ Cinco semanas encerrado entre quatro paredes, é o mesmo que estar numa prisão! – disse o bispo.
─ Tenho os meus motivos. – respondi. Dom Fernandes olhou-me, pensativo. Continuei: ─ Celeste veio aos meus aposentos umas duas horas depois do escurecer. Bateu na porta fingindo que era a irmã Luzia. Quando fui atender, ela entrou e agarrou-se a mim dizendo que queria ficar comigo. Eu a repeli e a coloquei para fora do quarto. Meus aposentos ficam numa casa de religião, um lugar sagrado! Eu nunca teria coragem para desrespeitar esse lugar, tampouco desprezar a confiança e o carinho que madre Rosário e irmã Luzia têm por mim!
O bispo olhou-me impressionado, mas ainda não estava convencido.
Então, sugeri: – Seria conveniente que o senhor interrogasse irmã Dolores. Ela e Celeste andam sempre juntas e as duas já estiveram certo dia em meu quarto após o escurecer, com o pretexto de trazer-me doces.
Fernandes voltou-se para madre Rosário.
– Leve-a para o escritório, conversarei com ela depois e traga-me Dolores aqui.
Rosário saiu com Celeste e dom Fernandes aproximou-se da mesa, olhou o material de desenho, examinando o meu trabalho. Depois se sentou na cadeira, pegou um pequeno volume de uma pilha de livros e começou a folheá-lo. Sentei na beira da cama e esperei.
Quando a madre superiora voltou trazendo Dolores, o sacerdote devolveu o livro à pilha e lançou um olhar rápido para a jovem freira. Inclinou a cabeça examinando as unhas, ajeitou-se na cadeira e passeou o olhar pelo quarto. Finalmente falou num tom reconciliador:
─ O despertar para a vida religiosa ás vezes acontece quando a pessoa já é adulta. Ela não encontra paz, nem encanto num estilo de vida onde reina a corrupção dos sentidos, onde há vaidade, cobiça inveja e mentiras. Por isso, ela procura a paz, conforto para o espírito numa vida religiosa. Para se viver plenamente à religião cristã, é preciso viver em santidade, afastar de si as tentações, os vícios, os maus pensamentos. Se a pessoa não consegue isso, não deve se entregar e se dedicar a uma doutrina religiosa, tampouco zombar da religião e desrespeitar o título que ostenta.
Dom Fernandes fez uma pequena pausa e perguntou:
─ Irmã Dolores, diga a verdade, a senhora e a irmã Celeste estiveram nesse quarto altas horas da noite, sem o conhecimento da madre superiora?
─ Sim, senhor. – respondeu a jovem, olhando rapidamente o rosto do bispo.
─ Por quê? Que motivos tiveram para vir aqui numa hora imprópria?
Nervosa, Dolores evitou encarar o sacerdote. – A ideia foi da irmã Celeste. Ela acha o irmão Pedro… atraente e quis agradá-lo, trazendo o doce.
─ Não considerou que a irmã Celeste estava caindo em tentação?
─ Sim, vossa reverendíssima.
─ E por que concordou em acompanhá-la? Estava pensando também em seduzir este homem?
Dolores fez o sinal da cruz. ─ Deus me livre e perdoe. Nunca, não era minha intenção. Caí no erro ao confiar na irmã Celeste.
─ Celeste tem uma personalidade forte, é cativante e consegue fazer valer suas vontades. – disse Rosário.
─ Celeste mentiu. –afirmou Dolores. ─ Ela mesma se arranhou e rasgou a camisola. Acusou irmão Pedro apenas por vingança, porque ele não quis aceitar os carinhos dela.
O bispo deu uma pancada com a mão sobre a mesa e as duas freiras estremeceram de susto.
─ Muito bem! – exclamou ele. – Irmã Rosário, conversarei com Celeste e decidirei o destino dela. Quanto à Dolores, uma penitencia severa deverá fazer com que ela reflita sobre seus atos e que, de hoje em diante tenha atitudes honráveis, dignas de uma religiosa. Agora, podem nos deixar a sós, preciso conversar com este senhor.
Quando as duas freiras saíram, o bispo encarou-me. ─ A sua permanência neste convento é incorreta, mas levando em conta as circunstancias e o trabalho que o senhor executa, podemos abrir uma exceção. O senhor tem sido útil, os seus livros ilustrados estão sendo bem aceitos pela comunidade religiosa e trazendo frutos benéficos à Ordem. Mas, eu gostaria de saber por que o senhor quer viver isolado desse jeito?
─ Realizar meu trabalho é uma forma de pagar a hospitalidade das freiras. Quanto ao meu isolamento, o mundo lá fora não me atrai. Já não sinto prazer em desfrutar os bens que ele oferece.
─ Uma atitude admirável. – comentou o bispo. Após um momento em silencio, estendeu a mão.
Beijei o anel episcopal e ele partiu.
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Dois dias depois, noite alta. Um trovão me acordou. Clarões de relâmpagos entravam pelas frestas da janela e o vendo assoviava na ombreira. Nos intervalos dos trovões, ouvi batidas fortes e insistentes na porta. Ao abrir, me deparei com irmão Luzia, visivelmente perturbada, a mão tremula segurando o lampião.
─ Irmão Pedro, madre Rosário está passando mal. Precisava que alguém fosse chamar o médico. O senhor pode ir? Pensei em mandar uma das freiras, ou eu mesma, mas a uma hora dessas e com esse temporal, para uma mulher, seria uma missão muito difícil e perigosa.
─ Claro! Só vou trocar de roupa.
Mudei de roupa e a segui, descendo as escadas. Era a primeira vez que eu saia do quarto desde que ali chegara. Quando chegamos ao pé da escada, uma freira idosa veio ao nosso encontro. Era irmã Emília, de olhos arregalados.
─ Não é de médico que ela precisa. Madre Rosário foi possuída pelo demônio.- disse ela, ressaltando a última palavra. Luzia mudou de direção.
─ Então, precisamos fazer uma corrente de orações. Venha irmão Pedro, nos acompanhe nas orações.
Madre Rosário estava deitada, sendo assistida por Dolores e outra freira. As outras assistiam a cena, assustadas. Não vi Celeste entre elas.
─ Vamos nos dar as mãos e rezar o Pai Nosso e Ave Maria. – pediu Luzia.
Segurei a mão dela e a de Emília, as outras se deram as mãos completando a corrente, fazendo um semicírculo ao redor de Rosário. Ela começou a se debater com mais violência, falando coisas incompreensíveis. Achei que era latim. Ergueu o tronco, os olhos avermelhados fitando algo que a gente não via, a face pálida, uma espuma branca escorrendo pelos cantos da boca. As palavras saiam aos jorros, confusas, como folhas secas desordenadas, carregadas pelo vento. De repente, soltou um longo suspiro e baixou a cabeça, permanecendo em silêncio. Quando ergueu o rosto, olhou ao redor e me encontrando, fez um gesto com a mão, como se quisesse me puxar para o seu lado.
─ Irmão Pedro!
Aproximei-me dela, sentando-me na beira do leito.
– Estou aqui.
Segurou meu braço.
─ Ele é um monstro, o senhor deve…
Ela não completou a frase, puxou o ar com força, revirou os olhos e caiu para trás.
Houve muito choro, muita agitação, por causa da morte da diretora do convento. Irmã Luzia, mais segura, controlada, líder nata, distribuiu abraços e conforto e começou a organizar os preparativos para o funeral.
—————————————————————————————————— Sob chuva fina e intermitente, sepultamos madre Rosário no pequeno cemitério, atrás do convento. Depois, Luzia acompanhou-me até ao pé da escada que levava ao meu quarto, no alto da torre.
─ A senhora vai substituir madre Rosário?
─ Dom Fernandes é quem vai decidir. Não conseguimos falar com ele por causa da tempestade, mas agora que acalmou, vou mandar alguém à cidade.
─ E irmã Celeste? O que aconteceu com ela?
─ Dom Fernandes disse para ela escolher entre, ficar no convento e seguir à Cristo ou ir embora e ter uma vida normal. Ela preferiu ir embora. Dom Fernandes a acompanhou até a cidade.
─ Lamento sobre o que ocorreu.
─ O senhor não teve nenhuma culpa.
Luzia fez uma pausa, pensativa e depois perguntou: ─ O que o senhor acha que madre Rosário quis dizer, quando falou antes de falecer?
Sacudi a cabeça, arqueando os cantos da boca. ─ Não sei.
─ Ela falou, ele é um monstro! Será que estava se referindo a dom Fernandes?
─ Foi a primeira vez que ele veio ao convento?
─ Sim, está substituindo dom Genaro, que morreu subitamente de causas desconhecidas. Acho impossível madre Rosário tê-lo conhecido antes da transferência dele para cá.
─ A não ser que ela tenha descoberto algo sobre ele enquanto esteve aqui.
─ Acho pouco provável. Talvez estivesse delirando. – a freira tocou meu braço e concluiu: ─ Bem, irmão Pedro, vou deixa-lo descansar.
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Acordei no meio da noite sentindo-me mal. Tinha calafrios e parecia estar com febre, a mente esgotada e os membros entorpecidos. Senti um cheiro estranho, almiscarado. Percebi que a janela estava aberta. Eu não costumava colocar a tranca, apenas quando ventava. Imaginei que, talvez o vento a tivesse aberto. As luzes das estrelas iluminavam parcamente o quarto e sobressaltei-me ao ver um vulto imóvel ao pé da cama. Ouvi um ciciar sinistro. Tentei me erguer, mas a letargia tomava conta de mim. O vulto aproximou-se e percebi que era uma mulher, tinha cabelos compridos, corpo torneado. Estava nua. Ela subiu sobre mim, arrancando a calça do pijama. Acomodou-se soltando um gemido. Inclinou-se, encostando a boca na minha jugular. Destes pontiagudos roçaram meu pescoço e o vi uma voz roufenha dizer; ainda não. Ela abriu minha camisa. Senti suas unhas arranhando de leve meu peito. De repente soltou um urro e deu um salto, sumindo pela janela.
A paralisia aos poucos foi sumindo e consegui me sentar. Suava muito, ainda com aquele cheiro de animal nas roupas. Fui até a porta e verifiquei que estava trancada. Aos tropeços cheguei na janela e a tranquei. Ainda zonzo, tirei a correntinha com o crucifixo do pescoço e fui tomar um banho. Estava mudando de roupa, quando ouvi um grito de pavor. Abri a porta e escutei. Mais gritos soaram e pareceram sumir na distância. Peguei a lamparina e desci. Velas, lamparinas e lampiões estavam acesos por todos os cantos. Larguei a minha sobre uma mesinha e segui por um corredor. Examinando os quartos, não encontrei ninguém neles. Achei que as freiras estavam na igreja, fazendo suas orações matutinas. Estava olhando para fora, quando notei um reflexo na vidraça da janela. Havia alguém atrás de mim. Voltei-me e levei um susto tremendo. Era madre Rosário, com as vestes sujas de terra, me encarando com seu rosto pálido e olhos vítreos.
Ela ergueu os braços na minha direção, abriu a boca, exibindo os dentes pontiagudos e rosnou como uma fera sedenta de sangue. Num gesto instintivo de defesa, peguei uma lamparina e atirei sobre ela. O óleo se espalhou pelo traje, pegando fogo e madre Rosário se transformou numa tocha humana. Um grito soou, vindo de uma porta no fim do corredor. Enquanto a freira tombava, sem nenhum gemido, corri procurando a origem do grito. Cheguei a uma porta que levava ao porão. Luzes tremeluzentes brilhavam lá embaixo. Quando desci, me deparei com vários corpos espalhados pelo chão. As freiras jaziam mortas, seminuas. Outra estava sendo esquartejada sobre uma mesa, o sangue escorrendo para uma banheira, onde Celeste se banhava. Sobre a mesa, irmã Luzia tinha os olhos voltados para mim, mas eram olhos sem brilho, sem vida.
Dom Fernandes voltou-se, segurando um cutelo sujo de sangue. O avental amarelo que ele usava, também estava manchado de vermelho.
─ Eu estava justamente pensando no senhor, irmão Pedro.- ele proferiu as duas últimas palavras num tom de deboche. Esboçou um sorriso. ─ Mandei Celeste traze-lo, mas houve um imprevisto.
Dei meia volta e subi correndo as escadas. Tranquei a porta, girando a chave duas vezes. Fernandes correu atrás, começou a bater do outro lado, me xingava e rosnava feito louco. A porta estremecia e a ombreira parecia que iria saltar para fora. Corri até os dormitórios, peguei lençóis e roupas e coloquei em frente da porta. Joguei óleo sobre o monte. Depois peguei uma lamparina para colocar fogo. As batidas na porta cessaram de repente. Houve um momento de silencio, até que a voz de Celeste soou do outro lado. Num tom suave, ela falou:
─ Irmão Pedro, abra a porta, por favor. Deixe-me sair. Aqui está muito frio. O senhor também deve estar com frio. Vamos para a cama, nos esquentar. Vamos! Abra a porta.
Minhas forças começaram a falhar, a mente ficou nublada ouvindo aquela voz hipnotizante. Minhas pernas me fizeram caminhar para a porta e minha mão se ergueu para abri-la. Larguei a lamparina para torcer a chave. Recuperei os sentidos quando as labaredas chamuscaram minha mão. Recuei rápido e permaneci afastado, observando o fogo devorar as roupas e tomar conta da porta. As chamas começaram a se espalhar pelo teto saturado de resíduos inflamáveis.
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Parado diante da entrada do convento, eu assistia o prédio sendo consumido pelas chamas. Lamentava o ocorrido, pelo triste destino das freiras. Comecei a andar, quando vi algumas pessoas que, alertadas pela fumaça do incêndio, vinham ver o que havia acontecido. Tive a impressão de conhecer duas delas. Ao chegar mais perto reconheci Judite e o pai dela, seo João.
Não acreditei no que via. Minhas pernas vacilaram e fiz um esforço tremendo para não cair.
─ Estou sonhando, ou morri? Você é Judite!
Ela correu ao meu encontro me abraçou e beijou. Apertei-a com força em meus braços.
─ Sim, querido, sou Judite. Você não está sonhando. Finalmente o encontrei! Quando você desapareceu, encontramos seu casaco na margem do rio e todos julgaram que você tinha morrido! Mas, eu, eu não acreditei nisso, sempre tive a certeza de que você estava vivo e que um dia o encontraria.
João me sacudiu pelos ombros. ─ Então, homem! Por onde tens andado? De longe vimos a fumaça. O que aconteceu?
─ Ah! Sogro! É uma história horrível!
─ Você nos conta depois. – disse minha noiva. ─Vamos pegar um taxi na cidade e voltar para casa.
─ Você ainda quer casar comigo?
─ Claro! Passei esse tempo todo a sua procura! Desta vez você não foge, não.
Oi,
Gosto muito de histórias consideradas históricas. As suas descrições são ótimas, do convento principalmente, aquele clima tenso, isolado de tudo e todos. Bacana.
O único ponto para mim foi a falta do terror na história. acho que por causa da motivação do protagonista, achei que ficou um pouco forçada. O elemento sobrenatural, quando aparece, não causa muito impacto e nesse ponto a história perde um pouco da força que tem.
Parabéns e boa sorte.
Bem, seria uma romance meio dramalhão, se o bispo não fosse o líder dos vampiros. Ali virou uma tentativa um tanto tosca de meter medo atraves do personagem mais batido do genero. Achei tudo um tanto apelativo demais. Homem enclausurado numa torre por opção, depois de achar que a noiva estaria morta porque viu alguns parentes chorando pela janela. Penso ter sido um erro enveredar para o mundo dos vampiros num conto meio cambaleante como esse. Achei o tento fluente, de fácil entendimento e com certo trabalho de frases. Mas nao me impressionou.
Conto bastante interessante.
Achei um pouco confusa e mal explicada a história da “morte” da noiva, embora o stress da situação possa explicar razoavelmente o surto de Pedro.
A descrição da torre, a ambientação e estrutura, mais uma vez, excelentes.
É claro que vc, Boris, já deve ter relido e viu que há necessidade de uma revisão, acho que talvez a pressa de enviar tenha deixado passar erros gramaticais ou de digitação.
Digo isso porque nota-se que vc domina muito bem a escrita, seu texto me prendeu do início ao fim e foi até o momento o melhor, na minha opinião, embora não tenha me dado sensação de estar lendo terror.
Parabéns!
Muito desenvolvimento de nada. A historia anda mas não conta nada novo. A historia se torna interessante após o assédio da freira, mas não há qualquer coisa que incite a leitura e o leitor chega a duvidar que está lendo um conto de terror. O final é um pouco fora da curva, mas a carnificina não pareceu fazer sentido. A vampira, foi bem explorada, descrita e aplicada, mas teve muito pouco tempo na trama, poderia brilhar mais. O final é decepcionante, parece um final do desafio Comédia…
# O Homem da Torre (Boris Chekov)
Autor(a), desculpe-me por não ter tempo para formatar o comentário melhor. Em caso de dúvida, é só perguntar.
📜 Trama (⭐⭐▫▫▫):
– o texto gasta bastante tempo na ambientação e criação dos personagens e acaba ficando cansativo nessa parte
– a parte fantástica surge de repente, quase no final e não houve preparação para ela; essas coisas geralmente funcionam melhor qdo pequenas pistas são lançadas aos poucos
– essa parte também acabou sendo muito corrida, a resolução foi muito simples, não passou tensão, não deu tempo de temer pela vida do protagonista
– no fim, além da coincidência da noiva aparecer ali justamente naquela hora, faltou uma justificativa para ela ainda estar viva
– essa última cena também foi muito rápida, não deu para passar emoção
– com alguns ajustes, porém, desenvolvendo mais o vilão e trabalhando melhor esse final, tende a ser uma boa história
📝 Técnica (⭐⭐▫▫▫):
– crua, muito focada nas ações e menos mas emoções e alguns erros de revisão
– a narrativa, porém, foi bastante ágil e fácil de ler
– proibiu que as freiras revelassem aos estranhos *sem vírgula* a minha presença naquela torre
– *sai* (saí) para a rua
– As freiras viviam *enclausurado* (enclausuradas)
– somente algumas delas *saiam* (saíam) para fazer compras
– Com muito esforço *vírgula* consegui chegar até um dos portões
– pontuação no diálogo: sou a madre superiora e esta é irmã Luzia *sem ponto* ─ disse a freira de mais idade
– As únicas *coisas* (remover) lembranças que me vinham à cabeça *sem vírgula* *era* (eram) de estar caminhando na floresta (ficaria melhor: a única lembrança era)
– Não sei *ponto* Não me lembro.
– enfeitando-os com ilustrações *vírgula* tendo por temática *sem vírgula* elementos do cristianismo
– e *vírgula* por isso, eu fazia exercícios
– quero ficar com você! – disse *ele* (ela)
– cortado *à* (a) barba
– Cinco semanas encerrado entre quatro paredes *sem vírgula* é o mesmo que estar numa prisão
– O despertar para a vida religiosa *ás* (às) vezes acontece
– o *vendo* (vento) assoviava na ombreira
– me deparei com *irmão* (irmã) Luzia
– escolher entre *sem vírgula* ficar no convento
– pescoço e *o vi* (ouvi) uma voz roufenha dizer *dois pontos* ainda não
💡 Criatividade (⭐⭐▫):
– um mote muito comum: vampiros, freiras, monastérios…
🎯 Tema (⭐▫):
– tem elementos de terror, mas não desenvolve o medo
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫):
– o início enrolado, um clímax corrido e um fim sem explicação reduziram o impacto
– apesar disso, gostei de ter lido o texto; parece uma joia a dilapdar
OBS.: sobre pontuação no diálogo, recomendo essa leitura: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279
Meu caro autor: a meu ver, o texto demorou bastante para chegar numa “temperatura de terror.” Além disso, entre outros trechos, este me pareceu bem inverossímil: “Algum tempo depois resolvi voltar, mas antes de entrar, olhando através da janela, vi os pais de Judite chorando, sendo confortados por um padre e calculei que minha noiva tinha morrido.” Pô, nem para perguntar pra eles, camarada! Claro que ela não tinha morrido, já naquele ponto se viu. Agora, o final é que ficou realmente muito longe das minhas expectativas. Desculpe, mas depois de todo o furdunço, a noiva o reencontra, chama um táxi e eles vão embora? E a frase final… desculpe, realmente não gostei. Pena, mas espero que você continue aprimorando sua escrita.
Me irritou o personagem frágil psicologicamente, o que deu ao conto a cara da previsibilidade. Quando ele diz que pensou que a mulher tinha morrido, já ficou claro que ela não tinha morrido coisa nenhuma e que o conto ia voltar a esse mote. Bingo.
Nas cenas no convento, a ambientação funciona. Imaginei os corredores e as celas escuras, mal iluminadas, as freiras passeando como fantasmas. Gostei. Mas demora demais até acontecer alguma coisa. Pelo menos as investidas de Celeste foram justificadas e não ficou só na enrolação. Ainda assim, o conto demora demais até chegar ao que interessa para o desafio, a parte do terror (que se inicia na cena da morte de madre Rosário), e ela vem e termina num pulo. Eu sugiro uma enxugada no corpo do conto, principalmente nas cenas que eles investigam o tal ataque de Pedro a Celeste. Pro leitor já está claro que não ocorreu. Não tem pq se demorar tanto ali.
Conto bem escrito, mas história um pouco fraca.
Olá! Segue abaixo o resultado da Leitura Crítica feita por mim em seu texto, com o genuíno intuito de contribuir com sua caminhada neste árduo, porém prazeroso, mundo da escrita:
GRAMÁTICA (1,5 pts) –> Sim, escrever é a arte de cortar palavras… E sem se esquecer de cuidar das que foram poupadas! Ou seja, uma boa e atenciosa revisão é FUNDAMENTAL em um texto — e não apenas para este quesito —, ainda mais em um trabalho que estará concorrendo com os de outros escritores… Aqui a falta de uma revisão mais apurada e, principalmente, problemas com a acentuação — uso de vírgulas em locais inapropriados –, deixaram a leitura truncada. Claro que não impediram o entendimento da obra, mas cortaram bastante o clima, pois os errinhos deixados geralmente eram de plurais e gêneros, atrapalhando exatamente o fluir da leitura. No mais, a escrita é boa e o autor sabe muito bem escolher as palavras que utiliza.
CRIATIVIDADE / ENREDO (2 pts) –> Este é, sem a menor sombra de dúvida, o quesito MAIS IMPORTANTE de todos (e consequentemente possuidor do maior peso em sua nota final)… Achei o enredo interessante, mas sem dúvida a boa ambientação destacou-se mais do que a história propriamente dita. O protagonista apenas achei que curte dar uma corridinha a cada choque emocional que sofria (no início do conto, por duas vezes seguidas) e, por isso, lembrei-me do Forrest Gump. Falando nisso, ficou um pouco forçada a escapada/fugida do dito cujo para a floresta, após pensar que sua amada Judith havia falecido. Ele simplesmente sai e, sem confirmação de nada, decide correr pelo mundo, sem destino, lenço ou documento. Ficou um pouco forçada também a perda de memória do Forrest, mas depois o conto engrenou e, já dentro do convento, acabei esquecendo destes detalhes para, interessado pelo que viria a seguir (um cara jovem e bonitão trancado num castelo com noviças repletas de hormônios… Prometia!). O linguajar e os diálogos ficaram bastante naturais e críveis, elevando a experiência a ponto de quase desejarmos a santificação de Gump por suas virtudes quase que sobrenaturais. A aparição do bispo e toda a pompa da beijação do anel e tal foram outro bom momento da narrativa. Depois, quando eu já nem me importava mais por não ter havido Terror na história — pois a mesma estava uma delícia de ler! –, vem a cena da ‘possessão’ da madre superior e eu pensei: “Caracas, agora o bicho vai pegar!”. Mas, infelizmente, a aparição do ‘vulto’ estuprador de santos maratonistas na cena do quarto do Forrest e aquela mistura de lobisomem com vampiro deu uma quebrada triste na trama e, ao meu ver, foi totalmente desnecessária. Bastava dar uma aterrorizada geral no convento, com o bispo dos infernos e a freirinha da anágua quente tocando o rebu, quem sabe até mesmo aproveitando mais a reaparição da irmã defunta no enredo e.. Bingo! A história teria levado uns 4,5 deste jurado aqui (o meio ponto seria descontado pela revisão malfeita). O final, era só pensar em algo chocante no reencontro com a noivinha e o sogrão, tipo um olhar mais malicioso da mulher da famosa operadora de celular para o Forrest, que tava show tb! 😉
ADEQUAÇÃO ao tema “Terror” (0,5 pt) –> Como estamos em um Desafio TEMÁTICO, não tem como avaliar sua obra sem levar em consideração este “pequeno” detalhe, rs! Assim sendo, mesmo eu o tendo valorizado apenas com meio ponto, ao final do somatório isso poderá representar a presença (ou não) de seu trabalho lá no pódio. Sim, vi terror no conto; principalmente na latente “defloração” do Forrest pela freirinha da anágua quente… 🙂
EMOÇÃO (1 pt) –> Vixi… Acabei falando deste tópico lá no quesito da criatividade/enredo. Mas eu gostei, tanto que escrevi aqui mais do que o Forrest correu o conto todo! 😛
Parabéns e boa sorte no Desafio!
Paz e Bem!
Nota Máxima = 5,0
Sua Nota = 1 + 1,5 + 0,5 + 1 = 4,0
Olá.
Gostei da ideia do conto, mas encontrei diversos problemas. Primeiro, e mais grave, temos um ritmo excessivamente lento que tira prazer à leitura. Existem demasiadas repetições para que o leitor consiga prender a atenção. A tensão poderia ser trabalhada de uma forma mais eficiente, deixando-se levar para o erotismo, por exemplo. A descrição inicial é excessiva mas com lacunas curiosas: nunca vi um quarto de convento sem adornos de índole religioso- há sempre uma imagem ou um crucifixo. Além disso, as celas das freiras costumam ser muito simples, longe do fausto descrito e que tira algum realismo à narrativa. O desfecho surge abruptamente – nada justifica a existência de Judite naquele lugar.
A parte da morte da superiora foi bem legal, levando em consideração o tema, claro, rsrsrs. Mas achei que a pós-morte foi rápida demais, até um pouco banal. Morreu, pronto, acabou, toca-se o funeral! Irmã Luzia é anti-sentimental hehehe. Gostei da atmosfera de todo o conto. A angústia foi crescendo conforme o texto foi se alongando. A curiosidade para saber o que aconteceria foi grande. A cena do porão também foi boa, só não entendi o motivo dele não ter ficado hipnotizado pela voz da irmã naquela outra noite, a não ser que ela ainda não fosse vampira. O final me deixou pensativa: seria a noiva dele também uma vampira que voltou dos mortos? Ou ela apenas não tinha morrido e ele apenas supôs sua morte? E se essas criaturas eram mesmo vampiros, como entraram num lugar sagrado?
Boa noite!
Conto com uma narrativa e ambientação muito boa. Li com tranquilidade até certo ponto, absorvendo suas descrições. Entretanto, como conto de terror, digo que ficou a desejar. De acordo com o início e o fim, basta retirar o lance de possessão e acrescentar uma tragédia como um incêndio provocado por um raio, ou coisa que valha e teremos um conto sobre amor muito bom.
Possessões diabólicas em freiras “carentes”é coisa batida, inclusive há um livro ótimo sobre esse assunto, intitulado OS DEMÔNIOS DE LOUDUN (do Aldous Huxley — recomendo), e no seu texto não houve nada novo, inclusive, a visão da mulher frágil, fadada a queda é algo antiquíssimo (vide o período de caça as bruxas onde se estipulou que o termo FEMININO, a grosso modo, significava menos fé —FE-MINUS — e por isso, por ter menos fé que os homens, as mulheres eram mais suscetíveis às possessões).
Em resumo, o conto ganha pontos pela narrativa inicial e ambientação, mas perde outros por não trazer nada novo e ainda soar brusco quanto à adequação ao tema.
Boa sorte no desafio.
Olá!
Sabe, eu senti tão claramente, que (claro q devo estar enganada) este texto estava semi-pronto, sendo um drama no convento e que pra participar do desafio vc desenvolveu ele para o terror. Porque fui lendo e lendo e lendo e o drama nnca que acabava, sendo um texto bom, muito bom naqueles acontecimentos dento do convento, apesar do clichê ‘freira desesperada ataca o macho mais próximo’ e do motivo da fuga do protagonista ser faco como todo mundo já apontou, pra mim o defeito maior desta primeira fase do conto é que ficou bem claro que a noiva nao tinha morrido, subentendendo-se perfeitamente que ao final eles se reencontrariam, entao a gente já lê sabendo o que vai acontecer, isso empobrece o texto.
Quanto ao terror que chegou tarde, tb já foi bastante discorrido aqui que está totalmente sem eira nem beira, nem dá pra se saber ao certo o que aconteceu,
Enfim, tá todo mundo queimado mesmo q se danem.. rsrs
Abração e boa sorte
Pelo menos até agora não li conto tão fraco como esse. Além de narrar às mesmices dos estereótipos dos contos de terror, enredo típico: castelo, convento, freiras enclausuradas… A linguagem simplória, com um final inesquecível. É de dá inveja a qualquer final, por mais grandiloquente que seja, às novelas da saudosa Janete Clair.
A maior qualidade do conto é a ambientação. A descrição do convento e a narração em primeira pessoa parecem bastante verossímeis. Também destaco como ponto positivo o suspense criado, a situação do personagem/narrador na torre. Mas, bem, estamos falando em um conto de terror que, naturalmente, tem dificuldades em deixar de lado os clichês do gênero. Não que isso seja necessariamente negativo, pois trabalhar bem o lugar-comum pode se traduzir em qualidade. Infelizmente isso não ocorre aqui. Os clichês são tratados com competência, mas não deixam de se apresentar como aquele velho filme a que assistimos tantas vezes. O final não ajuda – apressado, telegráfico, como se o autor quisesse terminar tudo por estar cansado de escrever. Os últimos parágrafos, quando o narrador reencontra seu grande amor perdido são especialmente fracos – por favor, autor, me desculpe – pois desconstroem o ótimo plot lançado lá no início. Desnecessária a menção a casamento. Só faltou o “e viveram felizes para sempre”. Enfim, um conto irregular, com um bom começo, mas que se perdeu no arremate.
====TRAMA====
Temos aqui, novamente, um conto que fala mais do que pode falar em apenas 5 mil palavras. Esta história é boa – muito boa – mas não tem como colocá-la no espaço limitado deste desafio. Do jeito que está ela ficou muito corrida. Este roteiro pede uma densidade maior.
Por exemplo: são muitos personagens, mas com o espaço limitado você não conseguiu trabalhar bem nenhum deles a não ser o Pedro. Celeste é uma personagem muito interessante e merece uma atenção especial. Dom Fernandes também pede uma atenção maior, já que é parte fundamental da história e mal foi trabalhado até o clímax. O próprio Pedro tem uma psique muito única, atitudes interessantes, mas que não são bem exploradas – ao contrário, são apenas narradas, sem grandes justificativas.
Falando em justificativas, o conto também pede uma motivação. O mistério todo no convento aconteceu, o terror está aí, mas quais eram os motivos de Celeste e Dom Fernandes? O que eles estavam fazendo, realmente?
Por fim, o clímax foi corrido demais. Como falei anteriormente, este final pede mais desenvolvimento; uma complexidade maior. Celeste tinha poderes, pois passou pela janela do quarto dele… mas ficou trancada no porão? E a aparição de Rosário foi apenas para assustar o leitor? Novamente: motivos. O leitor vai sentir falta deles durante a leitura.
A história é muito boa: prende, levanta questionamentos, tem personagens cativantes… ela só precisa de mais espaço e tempo para ser desenvolvida. Eu queria mesmo ter lido ela em um espaço mais amplo, com alguns milhares de palavras.
Dois outros problemas que notei no seu desenvolvimento:
1) O mistério inicialmente criado por você é rechaçado quando você deixa muito claro que Dom Fernandes “pode ser o culpado por tudo”. A fala da Irmã Luzia – Sim, está substituindo dom Genaro, que morreu subitamente de causas desconhecidas. – é ingênua demais; fica óbvio que ele é o culpado, e o mistério desaparece.
2) Há um trecho completamente desnecessário no conto, que poderia, a meu ver, ser apagado por completo: “Pois bem, registrado este preâmbulo, se faz necessário que lhes conte como e porque fui morar naquele convento.”
====TÉCNICA====
Muito falha. O conto pede uma séria revisão. Avistei vários erros de pontuação e de digitação. Algumas concordâncias com plural também estão faltando. Segue algumas correções que vi, mas são só algumas no meio de muitas outras:
“…proibiu que as freiras revelassem aos estranhos, a minha presença naquela torre…” – vírgula desnecessária.
“As freiras viviam enclausurado o tempo todo, somente algumas delas saiam para fazer compras, ou tratar de algum outro assunto importante na cidade. Os portões permaneciam o tempo todo trancado. Com muito esforço consegui chegar até um dos portões…” – Este trecho tem muitas falhas. “enclausurado” deveria ser “enclausuradas”. A segunda vírgula não deveria existir. “trancado” deveria ser “trancados”. “Portões” é repetido em um intervalo curto de tempo, e “o tempo todo” também.
“As únicas coisas lembranças que me vinham à cabeça, era de estar caminhando na floresta…” – coisas ou lembranças? A vírgula aqui também é desnecessária.
“Luzia acompanhou-me até ao pé da escada…” – troque “ao” por “o”.
Enfim, o texto pede uma revisão feita com calma. Ler cada parágrafo; anotar os problemas; lê-lo em voz alta para ver se ele flui.
Outro problema que notei na sua técnica são os diálogos: eles soam robóticos demais, como atores de teatro novatos fazendo um “overacting” absurdo. O uso abusivo das exclamações ajuda neste sentimento.
A terceira parte do conto – o clímax – é escrito de melhor forma. Talvez seja uma parte que você tenha gostado de escrever em especial, não sei dizer, mas ela é melhor elaborada, com descrições mais vivas e parágrafos melhor construídos. Foi uma leitura mais fluida, e que passou bem o terror que você queria passar. Talvez a quase ausência de diálogos nesta parte tenha ajudado.
Ah, esqueci de falar: este conto tem potencial para ser único no sentido de tratar o convento como, na verdade, a fuga de Pedro da vida que ele queria esquecer. Desesperado por ter perdido a noiva, Pedro foge na floresta e é atacado por um surto de loucura; nesta versão, o convento e as freiras todas são apenas a sua própria imaginação, e queimar o lugar no final é a fuga dele desta insanidade, o que culmina muito bem com o seu reencontro com a sua noiva.
O problema é que, do jeito que está, os personagens não batem com esta interpretação. Quem é Dom Fernandes, e quem é Celeste?
De qualquer forma, gostei só de pensar que este conto dá esta possibilidade =)
Caro(a) Autor(a),
O começo me conquistou, mas depois, tudo meio que desandou. Não sei bem dizer o porquê. Não encontrei muito suspense ou terror, embora tenha gostado do convento como lugar para acontecer algo tenebroso. Falta isso, eu creio, muito embora exista um roteiro bem definido. Precisa de uma revisão. Tem ritmo, mas não tem emoção. Não tem aquele elemento que prende e que nos faz querer saber como é que vai terminar. Boa sorte no desafio.
Antes de qualquer coisa, obrigado por nos presentear com essa pequena amostra do seu trabalho.
Gostaria de apresentar o critério de votação que usarei no Desafio “Terror”.
Por ter participado já leva um ponto e mais um ponto por cada item a seguir:
[ ] Gramática e ortografia aceitáveis?
[ ] Estrutura narrativa consistente (a história fez sentido)?
[ ] O terror está presente?
[ ] Foi um dos contos que mais me agradou?
Dito isto, vamos a análise:
O CONTO
Um homem acaba em uma torre com amnésia, depois recupera a memória (mas não vai embora?), passa por experiência com vampirismo e no final reencontra a mulher amada, dada como morta.
O QUE ACHEI
Um conto muito bem escrito que tem uma “boa fluidez”, como disse a colega iolandinhapinheiro.
O suspense é muito bem sustentando, embora eu ficasse me perguntando o motivo pelo qual o cara ainda não fora embora. Mas como se trata de um conto, vamos relevar isso.
Do meio para o final não me agradou muito, pensei tratar-se de um súcubo, eu acho que renderia mais.
O maior problema em meu ponto de vista foi com o final.
Faltou um desfecho mais fluido que explicasse como ele saiu do prédio em chamas.
O fim foi muito abrupto e os diálogos com a noiva e o sogro tiraram o clima da década de 1938 que magistralmente você conseguiu durante a maior parte da narrativa.
GRAMÁTICA E ORTOGRAFIA
Nada que comprometesse a leitura, porém o uso de diversos traços para separar blocos narrativos não é o padrão e os muitos deslizes já comentados pelos colegas dão a impressão de pressa para enviar. O usual para separar blocos são apenas três (pontos por exemplo).
O Terror está presente?
Sim. Terror e suspense.
Foi um dos que mais me agradou?
Infelizmente não.
Olá, querido autor.
Acabei de ler o seu conto e ratifico todos os problemas de revisão que foram apontados, aliás, aqui e em todos os todos os concursos literários nos quais eu participo nunca encontrei um único conto totalmente isento de erros. Dito isto, passo à a analise dos aspectos mais relevantes do conto.
Gostei do seu conto. O seu texto tem uma das características que mais me agradam em uma história, a fluidez. É o tipo de texto que escorre, mesmo havendo excessos aqui e ali, coisas que poderiam ser cortadas sem qualquer prejuízo à trama. O seu personagem é bem construído, o leitor vai descobrindo a história paulatinamente junto com o protagonista. Nunca imaginaria que se tratasse de um conto de vampiros.
Não houve muita suspense, falou criar um clima, a história não parecia ser de terror até a morte da Madre Superiora. Entenda. Terror não é haver sangue, pessoas más e vampiros, terror é quando o autor nos faz temer estas coisas, quando ele consegue transformar estes elementos em medo.
O final é coerente, mas uma solução do tipo Deus Ex Machina, primeiro o cara tá preso numa torre (supostamente um lugar alto) e no momento seguinte está na estrada e se encontra com a noiva e o sogro. Noiva esta que na verdade não havia morrido. Parece mágica, não é? Melhore era trabalhar melhor a transição.
Apesar destes problemas foi um bom conto. Felicidades e sorte no desafio.
O conto é envolvente, é um dos que você não quer parar de ler até chegar ao final e quando chega é de certa forma surpreendido, so acho que faltou um pouco mais de ação nas partes que seriam “terror”, mais detalhes, enfim, você construiu muito bem o personagem e também o cenário, mas, na minha opinião pecou no final onde poderia ter feito que ele assistisse tudo de algum canto, ate ser descoberto e perseguido, algo assim. Mas parabéns, fez de qualquer modo um bom trabalho.
Terror: Não causou medo, mas foi bom ler. Boa sorte!
Olá, Boris,
Caramba, você começa mandando muito bem na descrição do ambiente da torre. Ficou legal a maneira como me mostra o quarto abafado. Esse inserir do leitor na cena onde vai se passar a história é importante e você o fez muito bem. Nota-se claramente o seu domínio da língua, das palavras e da maneira de juntá-las. Uma coisa interessante, foi que em alguns momentos tive mesmo a impressão de se tratar de autor de além mar. Do enredo eu tenho dificuldades de gostar. Achei que você forçou um pouco a barra nele. Os motivos para o Pedro se colocar naquele convento de freiras os achei um tanto fora do contexto para que o nosso protagonista ali permanecesse. As palavras, o modo de usá-las e a pontuação, mesmo sendo bem usadas, carecem de uma melhor revisão. Quem sabe você se tenha deparado com o afã de mandar logo o conto e o tempo para um último pente fino tenha sido deixado por conta dos seus leitores? O encontro no final foi uma redenção. Não sou adepto de contos de terror, mas me chamou a atenção que a história termine no “enfim foram felizes”. Bem, é isto. Meu abraço fraterno.
A história – Um mal entendido leva um homem a se isolar em um convento. Esse, lugar claustrofóbico, acaba se tornando palco de eventos sobrenaturais.
A escrita – O autor tem domínio da língua e um estilo clássico. No entanto, o ritmo do conto me pareceu desregulado e o final foi apressado.
A impressão – Refinamento, mas não me assustou. Parabéns pela maturidade ao escrever e sorte no desafio!
Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto em bom uso dos elementos de suspense e terror. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tenha que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário seja tomado como uma crítica construtiva. Boa sorte!
As descrições que iniciam o conto são competentes em criar um aspecto claustrofóbico e opressivo para o lugar em que reside o personagem, nos fazendo indagar o motivo do seu isolamento. Nesse começo, também somos informados que está secretamente morando num convento, com relações diferentes com as freiras, o que coloca o protagonista em um meio específico e, em algum grau, conflituoso. Muito bem, apesar do bom começo, é aí que o conto começa a se perder.
Em seguida, somos apresentados à razão pela qual o protagonista se isolou. Embora eu entenda que não seja a história que o(a) autor(a) quis contar, penso que este era um suspense potencial para poder extrair o terror necessário. No entanto, não é esse o caminho seguido e a história por detrás do isolamento de Pedro Porto é um tanto mal desenvolvida e poderia ter sido contada de um modo mais envolvente, talvez com ele lembrando dela, lamentando a sua morte… no entanto, são apresentadas informações genéricas, uma união estável que logo virou noivado e, enfim, o trágico incidente. Falta coerência às ações do personagem, que chega ao convento depois de simplesmente fugir da conclusão estranha de que a futura esposa teria morrido.
Assim, vê-se que muito tempo é gasto para contar momentos da história que acabam não tendo tão importância para a história para além de levar o personagem de ponto A à B, quando poderiam gastar mais para desenvolver as personagens. Senti isso ao ler a chegada de Pedro aos portões do convento. No caso das freiras que o visitam à noite, os fatos parecem existir apenas para levar a um outro conflito, sem interações importantes. Com isso quero dizer que as coisas mais acontecem do que são vivenciadas pelo personagem. Embora ele seja o narrador, senti falta dele no texto.
O resultado desse conflito vem com a introdução de outro personagem, Dom Fernandes. Na sua primeira aparição, é visível a sua autoridade e moral eclesiástica, mas é só. Uma vez mais, as personagens parecem ser trazidas no automático, fazendo suas contribuições ao avanço lógico da trama. No entanto, o retorno do personagem, mais tarde no conto, é realmente chocante.
Acaba sendo um choque que se perde em meio à confusão que se torna o ato final. Com a estranha (não chega a ser misteriosa, pois não é realmente explicado ou associado a qualquer razão plausível) morte da Madre Rosário, começa: primeiro, Pedro é atacado por uma criatura vampiresca que escapa pela janela (embora esta tivesse sido descrita como muito pequena antes, mas tomei isso como uma habilidade da criatura); então, encontra o cadáver andante de Rosário e o restante das freiras mortas, esquartejadas por Fernandes e Celeste. Sim, isso foi surpreendente, mas o desfecho é tão rápido e anticlimático que, apesar de me encontrar torcendo para que Pedro se safasse, não demorei a me perguntar o que realmente estava acontecendo, ao que não foi dado espaço para aprofundamento, tudo engolido nas chamas e na falta de prioridade do conto.
Mais ocupado em oferecer uma progressão “passo-a-passo”, com cada momento e acontecimento apresentado para levar a outro, não houve nenhum instante ao qual esse massacre final pudesse ser associado, fazendo ser mais abrupto e incoerente do que chocante. Tão rápido quanto aparece, some. Faltou suspense, prejudicando o terror que só veio aparecer próximo ao final.
E, enfim, no final, a esposa. É bom ver que ao menos aquela explicação anterior teve um encaminhamento e, para além disso, foi um final satisfatório do que teria sido se o conto se encerrasse com o convento em chamas, simplesmente. No entanto, não deixa de parecer forçado que este reencontro tenha ocorrido de forma tão coincidente e romântica.
Portanto, há uma ambientação comum no terror, dessa instituição que guarda “segredos”, mas não é algo que é construído, aparecendo de repente e acabando ainda mais rápido. O conto deveria ter sido menos escrito no sentido de colocar o personagem naquela situação final e mais sobre a situação final em si.
Caro Boris Chekov,
O início da leitura me jogou imediatamente em dois clássicos: O Decamerão, de Boccaccio e O Castelo de Otranto, de Horace Walpole.
Imaginei que a perspectiva se mantivesse, o que não aconteceu. Imaginei uma mistura licenciosa entre as freiras e Pedro sob um clima sinistro de Otranto. Mas não.
Gostei do conto. Bem construído, embora ache que necessite de algumas mudanças de rumo. Falo de algumas, começando pelo fim: não acho que ganhe profundidade um conto de terror ter como fonte um sonho. Não que não possa ter origem em um sonho, mas apenas isso penso que enfraqueça o tema. O tema pede mais.
Sob o ponto de vista arquetípico, acho que o nome dos personagens têm força, muita força. Alguém chamado Pedro Porto Menezes, imagino, deva trabalhar em um banco ou numa lotérica, mas jamais ser “o cara” de uma aventura de terror.
Notei algumas inserções que considero “gordas” e não somam, tal como:
“Duas semanas depois, certa noite, eu estava me preparando para dormir…”
“Duas semanas depois”, por si, já é algo incerto, tal como “certa noite”, dado que “eu estava me preparando para dormir…”, indicando que era noite. Reduza, reduza, reduza.
A temática conspira contra: possessão. Difícil escapar de clichês quando o assunto é possessão.
A morte da diretora está frágil. “revirar os olhos e cair para trás” não significa morrer em um conto de terror. Carece algo mais dramático. O tema puxa os seus próprios clichês, e não cumpri-los pode significar uma fuga do segmento.
Acredito sejam desnecessárias as linhas tracejadas dando ênfase à mudança de cena ou distanciamento temporal. Uma linha em branco deve ser suficiente.
Há uma cena que creio necessite de ajuste: “outra feira estava sendo esquartejada”. Não é dito quem o fazia. Só mais tarde, em outro parágrafo, isto acontece: era dom Fernandes, o diabinho.
Voltando às passagens “gordas”, creio que essa seja uma delas: “o avental amarelo … manchado de vermelho.” O homem esquartejava alguém. Ele não estava com seu avental manchado, estava lavado de sangue. Por que um diabo poria sobre o corpo um avental? E por que ele seria amarelo? Imagino que seria melhor uma verdadeira arruaça de sangue ao invés de algo comportado como ficou.
Os cortes entre ventos têm um tom cinematográfico, quase como um roteiro. Achei isso legal, embora prefira o uso de conectivos entre cenas, dado que se trata de um conto. Falo do incêndio começando no quarto com o Pedro Porto e, logo em seguida, ele observando o incêndio do lado de fora do convento.
Bem, era um sonho.
Consertando o meu próprio texto, parágrafo final: “Os cortes entre EVENTOS têm…”
Olá, Boris Chekov.
Narrativas em primeira pessoa aparentemente propiciam ao leitor maior probabilidade de se “sentir” o terror/horror: acompanhamos a via-crúcis do protagonista e não somente de um foco externo a ele, embora onisciente. Poe é um dos mais lembrados nessa categoria, a de narradores-personagens, além de Lovecraft. Mas para além dessa tentativa, esse tipo de narração pode levar o leitor (e frequentemente leva) a outro sentimento: a desconfiança.
Vejamos Pedro Porto Menezes. Seu autoexílio no convento não parece casual, mas sim uma urdidura do Destino contemplando um sujeito extremamente virtuoso. A virtude nele – sua honestidade moral – é demasiado abundante. Se fosse narrado em terceira pessoa (ou mesmo mantendo a primeira, a depender do narrador – que, se estivesse no texto, poderia ser grosso modo um tipo de Sancho Pança apaixonado pela biografia do homenageado), seguiria a linha de um panegírico. Acima do elemento “terror”, em termos sintéticos, temos o triunfo da vida de um ser virtuoso ou ideal (e o desfecho pode ser dúbio nesse sentido, se o cenário onde ele se desenvolve for a “morada eterna” de seres igualmente virtuosos, ou seja, o Paraíso).
Em resumo: Pedro Porto Menezes, que desejava solidão, foi simplesmente imantado pelo convento, uma vez que ele serve de complemento para a moral anteriormente cristã do recluso.
Quanto à revisão, acredito ser necessário tratar das vírgulas, umas sendo deslocadas, outras suprimidas e acrescentadas.
Gostei bastante seu estilo, Boris Chekov, embora o enredo tenha variantes clichês e o caso da virtude extrema, que citei anteriormente, tenha gerado desconfiança. O elemento do tema do desafio está presente, mas, como citei, ele é menor (obviamente, opinião pessoal) que o bom-mocismo do protagonista.
Abraço fraternal e sucesso neste desafio.
Olá, amigo, tudo bem?
Considerando que gosto muito do gênero terror, esse desafio é algo que me toca particularmente, e estou muito ansioso pelas leituras.
Vamos ao seu conto:
Olha, sendo sincero, não gostei. Vou dizer os motivos.
Primeiro, tem muitos erros de revisão, como:
– “Destes pontiagudos roçaram meu pescoço e o vi uma voz roufenha dizer; ainda não”
– “as unicas coisas lembranças que me lembrava”
Nota-se claramente que são erros bobos que não passariam numa revisão apurada. Você mandou o conto muito rápido, e talvez pudesse ter dedicado mais tempo à revisão.
Também notei muitos erro gramaticas, especialmente na pontuação, como:
– “não sei não me lembro”
– “Imaginei que, talvez o vento a tivesse aberto”
Novamente, acredito que uma releitura com mais calma pudesse ter evitado.
Ainda na gramática, existem erros de concordância verbal e nominal, como em:
– “as freiras viviam enclausurado”
– “os portões permaneciam trancado”
Enfim, além da questão gramatical, achei que o conto careceu de suspense ou terror. A história é um pouco arrastada, poucos acontecimentos interessantes, e pouca relação entre os acontecimentos, que acabam se perdendo ao longo do enredo.
Por exemplo, achei exagerada a insistência dele em não falar sobre o acontecimento, parecendo que ele escondia algo sinistro. Não achei muito plausível as freiras aceitarem tão facilmente a situação, abrindo as portas para um morador que poderia representar um perigo, ainda mais quebrando uma regra tão importante da vida no convento: a proibição de homens.
Outro fato que não teve qualquer relevância: os desenhos que ele fazia, que não ajudaram em nada no desenvolvimento da história.
Por último, acho que o que mais me chateou foi a conclusão muito rápida e com final feliz. Uma sucessão enorme de acontecimentos que levam a um momento de clímax rápido e que se resolve facilmente.
Enfim, dá pra ver que você é criativo. Não leve a mal meus apontamentos, preferi ser sincero. Sei o quanto é difícil escrever terror, por experiência própria.
Notei vários pontos fortes no conto, e muito conteúdo que tem potencial pra mais. Achei que o que faltou foi organizar melhor as ideias, trabalhar melhor a parte gramatical e revisão, e criar uma ligação lógica entre os acontecimentos, pra não perder tanto pelo caminho, sabe?
O ponto alto pra mim foi a ambientação. Gostei bastante do ambiente do convento, que é sem dúvida um local propício pra terror.
Parabéns e boa sorte!
Boris, vc escreve bem, sem dúvida, tens a pena afiada para descrições e ambientações, senti-me dentro do convento, nauseada com o cheiro das velas queimando. Ocorre que houve descrições em excesso, quebrando o suspense pretendido para o gênero terror. Veja na frase: “Inclinou a cabeça examinando as unhas”, qual a finalidade dessas unhas no contexto? Entendes. A questão da gramática e pontuação já foi recomendada pelos colegas, sugiro também verificar a pontuação e uso dos travessões nos diálogos, dá uma olhada no uso dos verbos Dicendi. Algumas questões de verossimilhança me chamaram a atenção, como no parágrafo: “Rosário saiu com Celeste e dom Fernandes aproximou-se da mesa, olhou o material de desenho, examinando o meu trabalho. Depois se sentou na cadeira, pegou um pequeno volume de uma pilha de livros e começou a folheá-lo. Sentei na beira da cama e esperei”, mais adiante, na mesma cena, Dom Fernandes concede o salvo conduto ao protagonista na fala “Sua permanência neste convento é incorreta, mas levando em conta as circunstancias e o trabalho que o senhor executa, podemos abrir uma exceção. O senhor tem sido útil, os seus livros ilustrados estão sendo bem aceitos pela comunidade religiosa e trazendo frutos benéficos à Ordem”. A questão é que o bispo recém havia tomado conhecimento dos trabalhos de Pedro, ao menos é o que se denota no contexto, então como que ele tinha todas aquelas informações sobre a utilidade dos desenhos? Outra coisa que me perguntei é por que haveria num convento um teto saturado de resíduos inflamáveis? Buenas, são questões estruturais de enredo, faz parte da brincadeira, e esse é o objetivo do desafio, lapidar a nossa escrita. Espero ter ajudado e sorte aí no desafio. abçs.
Nunca li conto tão comportado, educadíssimo, sem mínima contravenção, exceção seja feita a previsibilidade da freirinha Celeste, ufa! Até que enfim aconteceu algo pra animar enredo tão insosso, disse para os meus botões, (logo bebi salgado para temperar). Mais que nada! Apenas às gratuitas cenas arranjadas para o final. O desfecho então foi hilário!… (─ Você ainda quer casar co-migo? ─ Claro! Passei esse tempo todo a sua procura! Desta vez você não foge, não). As questões gramaticais já foram citadas pelos colegas abaixo. Não há mais a acrescentar.
Enredo e criatividade – Premissa instigante, mas pontas soltas e pouca empatia com os personagens. O protagonista agiu de forma ingênua desde o início quando fugiu. A hospedagem dele no convento é pouco convincente e o bispo surgiu do nada. O assédio sexual, na situação, é previsível.
Escrita e revisão – Observar deslizes de concordância, pontuação, crase, acentuação e repetição de palavras ou informações, mistura de tratamento.
Terror – A ambientação foi muito bem construída, as cenas violentas impressionaram. O incêndio foi providencial. O desfecho quebrou muito o efeito de medo.
Emoção – Narrativa madura, em estilo mais sóbrio que combina com o terror.
Interessantes são os pseudônimos. Este veio de um pintor e artista de vidro russo, expressionista, cujo trabalho não era considerado de acordo com o Realismo socialista.
O conto tem uma atmosfera bastante sombria que me lembrou um pouco Black Narcissus. Achei que você conseguiu construir a história de uma forma bem interessante que conseguiu atrair o interesse pela leitura e a curiosidade em relação ao que aconteceria em seguida. O terror vai surgindo aos poucos, mas, desde o começo, há um incômodo nas entrelinhas que deixa quem está lendo nervoso. A única coisa que destacaria como ponto negativo é o final. A resolução ficou forçada e em nada combina com o tom do restante do texto, principalmente essa piadota no final. Talvez se ele simplesmente ficasse lá, parado, vendo o convento queimar, o impacto poderia ser melhor.
Escrita: Gostei da ambientação do conto embora eu tenha demorado entrar no clima de terror. Adoro estórias de terror de época, e ainda mais que se passam no Brasil. O probleminha aqui foi que eu não entrei totalmente no enredo. Não me causou tensão em momento algum. Algumas cenas eu não entendi, como a cena da freira que acusa injustamente o protagonista – cena essa até previsível. Achei as descrições muito bem feitas do lugar, sem excessos e agradáveis de se ler. O ritmo inicial é muito bom, ritmo esse que fica alucinante demais no final, acabando por não nos dar aquela real sensação de terror que o conto vai nos preparando, pois tudo acontece freneticamente e nem dá tempo de absorver o que está acontecendo. Como se fosse um rock com uma excelente introdução, mas o solo de guitarra na metade da música deixasse um pouco a desejar. Senti que faltou algo. A leitura não ascendeu ela descendeu.
Terror: Muito pouco.
Nível de interesse durante a leitura: Supre bem. A ambientação é excelente. O clima do convento, do isolamento criou curiosidade em mim. A parte que fala de possessão também atiçou minha expectativa. O clima de horror gore no final também foi legal, com o ponto negativo de ter sido rápido demais. A questão da noiva estar viva, não foi surpresa, e até previsível, pois na maior parte do tempo eu achei o Pedro burro demais por ter se isolado daquele jeito apenas porque viu os seus sogros chorando junto a um padre.
Língua Portuguesa: Não tenho preciosismos pela gramática, desde que não interfira no ritmo da leitura. Errinhos todos cometem. No quesito Língua Portuguesa o seu texto vai bem, precisando sim de revisões. Alguns desses erros acredito que aconteceram devido à pressa de terminar, nada que estrague o conto.
São Joao – São João
As freiras viviam enclausurado o tempo todo. – As freiras viviam enclausuradas o tempo todo.
─ Não me mande embora, quero ficar com você! – disse ele – ela
Penitencia – Penitência.
Circunstancias – circunstâncias
irmão Luzia – irmã Luzia
tremula – trêmula
a mente esgotada e os membros entorpecidos – não há erro gramatical aqui, eu só não entendi o que quer dizer membros entorpecidos. Talvez seja burrice minha. Hehe.
seo João – Seu João
Veredito: De um modo geral eu gostei bastante do enredo. A leitura é fluída e interessante, só faltou mais terror e imersão do leitor na trama. Se o final fosse melhor trabalhado ficaria bem melhor.
Para mim é um conto que se enquadra num clássico terror gótico, dos mais singelos. Até que achei razoável a atitude de Pedro de fugir desesperado após pensar que a noiva estivesse morta: dentre muitas outras possibilidades, é um motivo para dar prosseguimento à trama. O convento poderia ser melhor explorado, para acentuar o clima de mistério: ruídos estranhos sendo escutados, sombras que passavam pela janela, senti falta desses elementos para complementar a ideia da presença de um ser vampírico revelada quase ao final. Uma boa ideia, contudo, foi inserir a personagem Celeste como forma de antagonizar Pedro e tentá-lo, e utilizá-la como o elemento para desencadear o final foi criativo. Prosseguindo: não sei se o que vou dizer pode ser considerado como o elemento Deus ex machina o fato de Pedro já estar “parado diante da entrada do convento” sem explicações, sem nos ter mostrado como ele conseguiu escapar do seu quarto da torre em chamas. Essa cena faltante poderia ter rendido uma boa situação desesperadora, nos mostrando as dificuldades para se safar, tanto das chamas quanto de Dom Fernandes (perdeu-se sem isso uma dose do terror). Afora isso, o reencontro dom Judite fechou bem o conto, eliminando aquela ponta solta que ficou lá pelo começo, quando se deixou no ar se ela estava morta ou não. No mais, é um bom conto.
Parabéns!
P.S.: O conto carece de revisão. Não vou apontar os erros, por vários motivos: percebi que ninguém gosta de ser corrigido, tanto mais que pouco proveito se dá, uma vez que ninguém leva em consideração os “erros” e suas “correções”. No entanto, acho indispensável o texto estar, senão isento de erros, pelo menos com bem poucos. Não irei apontá-los, como disse, mas influirá na nota que darei. Um abraço.
Não serei repetitivo quanto aos erros de revisão. São muitos
Quanto a trama:
Eu não compreendi o final. Me escapou. Fiquei imaginando algo que resolvesse o plot twist, alguma relação com o convento, a criatura… nada me veio como explicação.
Os eventos do texto acontecem de forma não-natural. Tudo é muito fácil, forçado. As freiras deixam um homem viver em troca de desenhos, o bispo me parece bem não-natural, no fim a mulher sobrevive e coincidentemente encontra o rapaz… Não me convenci. A trama poderia ser melhor trabalhada, na minha opinião.
Parece-me um tanto forçado o motivo que levou o narrador-personagem ao auto-exílio num convento. Exatamente porque ele nutria pela personagem grande afeto, a atitude mais razoável diante da suspeita de sua morte seria verificar se era verdade, e não fugir de desespero. Como narrativa, a atitude se justifica como estratégia na medida em que dá ao desfecho um tom romântico, mas acredito que ela, a atitude de fugir, teria melhor lugar diante da confirmação da morte.
Aliás, a mistura do romântico com o terror não me parece ter funcionado adequadamente. São elementos antitéticos, mas potencialmente complementares. Aqui, no entanto, orbitaram cada qual um universo, sem maior diálogo. Talvez em função de certa inverossimilhança apontada e porque o final lembra certos roteiros com “final feliz”.
As cenas de terror, em si, são interessantes, embora falte um pouco de nexo causal. Não sabemos dos motivos que levaram à possessão da Madre Superiora e às mortes das freiras. Até fica subentendido que o bispo diocesano e a Celeste têm relação com o demoníaco, mas qual?
Há uma inconsistência na linguagem da Madre Superiora. Em determinado ponto ela diz ao narrador-personagem: “também não se lembra? Coitado! Tinhas um ferimento na cabeça […]”. Ao mesmo tempo que usa o tratamento VOCÊ (“se lembra?”), usa TU (“tinhas”). Em todas as falas dessa personagem, aliás, o tratamento é VOCÊ.
Há algumas estranhezas no uso da palavra. Gostaria de citar, primeiramente, “ao lado desse cubículo, ficava a privada, onde eu também tomava banho”, em que está escrito que o personagem tomava banho no vaso sanitário, o que é estranho, pois ele não estava sofrendo nenhum castigo ou tortura.
Outro trecho acerca do mesmo aspecto é “[…] me entregando uma terrina com sopa. ─ Coma isso, vai lhe fazer bem”, em que o verbo COMER está empregado inadequadamente, pois implicaria mastigar, o que não é possível com sopa.
Há muitas falhas no uso das vírgulas e da crase.
T (tema) – O conto está dentro do tema proposto pelo desafio, embora o terror tenha demorado para acontecer e não tenha me assustado tanto.
E (estilo) – Estilo limpo, boas descrições no começo. Consegui visualizar bem a cela no convento. Gostei do clima criado para prender a atenção. Objetivo alcançado.
R (revisão) – Alguns erros escaparam como já apontaram os colegas.
R (ritmo) – A leitura flui sem grandes problemas. Ritmo mais lento na introdução, agilizando na segunda metade e freando no final. Medo de uma colisão?
O (óbvio ou não) – O sujeito está enfurnado na torre de um convento. O motivo do recolhimento espontâneo não me convenceu muito, mas tudo bem. Claro que fiquei esperando que algo horripilante ocorresse entre as paredes do convento. Foi terror óbvio? Talvez.
R (restou) – Um gosto muito açucarado com aquela ceninha meiga lá no final. Tive vontade de gritar: aqui é terror, pô! O final sabrinesco-chumb deslocado me decepcionou um pouco.
Boa sorte!
Gostei da técnica, madura, num estilo mais clássico que combina com o terror.
Com exceção a algumas vírgulas faltantes ou fora de lugar e aos apontamentos abaixo, não vi lapsos de revisão:
– As freiras viviam enclausurado o tempo todo
>>> enclausuradas
– Os portões permaneciam o tempo todo trancado
>>> trancados
>>> esses dois foram quase em sequência. Eu evitaria também a repetição de “tempo todo”
– pelas frestas da janela e o vendo assoviava
>>> vento
– Mandei Celeste traze-lo
>>> trazê-lo
>>> há outras palavras também sem a acentuação necessária
A trama, no entanto, deixou a desejar.
Posso ter perdido algo, mas fiquei com impressão que o motivo do cara ter saído correndo pra parar no convento foi muito forçado.
Ok, foi um trauma, mas… precisava todo esse chilique? kkkkk. Talvez se ele pudesse ser acusado de alguma forma pelo pai da moça
(que poderia atribuir a ele a culpa pela filha ter caído) seria mais justificável essa correria desenfreada.
Enfim… o clima de enclausuramento no convento e o assédio noturno das freiras (ao qual nosso soldado resistiu bravamente! rsrs)
foi muito bem construído. Essa parte ficou bem legal e acredito que o conto ganharia se tivesse focado mais nesse clima criado antes da aparição da criatura vampiresca e toda a matança no convento. Não ficou ruim, mas particularmente prefiro mais suspense e menos gore.
Agora, o final… putz, esse acabou com o conto. Final feliz mais forçado que de filme da Disney! 😦
Apesar disso, no geral foi uma leitura agradável.
Abração!
Cara, achei muito interessante a temática, principalmente por trazer elementos conflitantes, como as freiras “desviadas”, a possessão dentro do convento, etc.
Outro ponto muito legal é a ambientação. Gosto muito de histórias que se passam no Brasil, isso trás a trama para mais perto dos leitores, mesmo que o texto se passe em outra época.
O pano de fundo do personagem principal é um detalhe bem interessante também, tanto para conhecermos um pouco mais sobre ele quanto em seu uso para movimentar a primeira virada da história.
Acho que o texto poderia ser melhor se o ritmo dele fosse trabalhado com mais cuidado e se alguns erros gramaticais fossem corrigidos (sei como é fácil deixar esses detalhes passarem desapercebidos na revisão).
Também penso que a história poderia ter sido melhor se mais pontas fossem amarradas, parece que alguns acontecimentos ficaram meios jogados no texto. Se isso foi feito de forma proposital, para causar uma certa sensação onírica, tudo bem, mas caso tenha sido um deslize, vale a pena se atentar para isso no futuro.
O texto é interessante e tem potencial, mas ainda pode ser lapidado para ficar mais redondo.
🙂
Salve, Boris!
Em primeiro lugar, acho que você acertou de cara nas descrições. A ambientação ficou muito clara, e foi muito fácil situar tudo o que estava acontecendo na trama dentro da imaginação. É um recurso que toma tempo e espaço do texto, mas que se bem utilizado no início vai estar sempre presente em narrativas assim, que se situam em apenas um local. Achei muito bom.
Por outro lado, achei que a cena do confronto não combinou com o restante da narrativa. Talvez aí a falha seja minha de não encontrar essa possibilidade nas partes anteriores do conto. Mas me gerou certo incômodo, pois estava esperando outro tipo de solução.
Mas no geral eu gostei! Boa sorte no desafio!
Bom dia! Um conto que começa muito bem, traz uma imagem interessante e coloca o leitor num clima de terror psicológico a lá Bebê de Rosemarie. A primeira metade está excelente, a escrita é boa e mostra que o autor já é bastante competente. Gostei de como caminhou devagar, contextualizando todo o cenário, deixando-o sombrio e misterioso (onde está, é real, é sonho, é o inferno, quem são essas freiras, é uma tentação?). Essa base que criou merece destaque, até porque é um desafio com contos longos, então sem pressa.
Mas na segunda metade as coisas parecem desandar. Algo me diz que, também pelo tamanho, lá pela metade a revisão foi ficando menor. Então percebemos vários erros bem simples, como “irmão Fulana”. O tom mais calmo se transforma numa correria gore, entra vampiros, sucubos, demônios e não abre espaço pra uma explicação ou dica do que está acontecendo, tudo muito rápido. Fica a impressão de que o conto caminhava pra um sentido, mas de repente pegou um outro, num solavanco. Pela imagem (e também pelas descrições do prédio) pensei ocorrer num tempo passado, senti um estranhamento com o taxi no final. Gostei da cena da paralisia do sono, ficou ótima, conseguiu passar bem a sensação de pesadelo e perturbação desses momentos, onde fica tênue a linha que separa a realidade da não-realidade.
Olá, Autor(a),
Tudo bem?
Embora a trama de seu texto em si, com as histórias no convento, as freiras e o homem prisioneiro na torre sejam muito interessantes e prendam de fato o leitor, creio que, ao menos para mim, o ponto alto de sua narrativa esteja justamente no desfecho.
Seu final lança quem lê a múltiplas possibilidades. Talvez Pedro seja louco e tenha se perdido, encontrado o convento e criado, em sua cabeça, a história da morte de sua noiva. Talvez, ao perder a memória, tenha criado para si uma história inexistente, deixando todos lá fora em seu encalço, enquanto se nega a voltar, acreditando, de fato, no que sua mente criou. Talvez tenha sido precipitado ao supor a morte de sua amada (o que aliás pensei no momento em que este viu a cena de longe e foi embora sem perguntar o que houve). Talvez ele tenha sido atraído para o convento por esses mágicos poderes do mal, criando a ilusão da perda de toda a sua vida, a fim de mantê-lo ali, alheio ao mundo. (melhor teoria para o terror).
Possibilidades à parte, a trama desenvolvida é muito boa, embora, ao menos para mim, tenha ficado a sensação de um certo excesso de informações. O excesso de criatividade do(a) autor(a) apresenta ao leitor uma série de personagens do mal, personificados nas freiras. Todas essas personagens são ricas e muito boas para um conto do gênero, mas (aqui falo de minha impressão), talvez, a quantidade de seres malignos a se apoderar das pobres irmãs tenha sido um pouquinho em demasia para uma trama com limite de palavras.
Creio que o conto daria um belo romance, com o desenvolvimento de inter-relação entre todas essas personagens das trevas e a cidade, com seus moradores e tudo o mais.
Você possui uma verve muito boa e consegue transportar o leitor para dentro da cena criada. Isso é um dom.
Parabéns.
Desejo-lhe sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
O conto tem um bom ritmo em seu início e no geral é bem escrito. Só penso que a narração acaba explorando demais subtramas e deixa muito de lado o enredo principal, de modo que do meio para o fim tudo fica muito corrido. Acabou faltando foco e desenvolvimento de personagens. Os conflitos são resolvidos com muita rapidez, não gerando nenhuma tensão ou envolvimento. E é sempre interessante, especialmente numa narração em primeira pessoa, criar uma atmosfera, com intuições, pressentimentos, fatos que se desenrolam num crescendo, o que quase não acontece aqui. A ambientação é boa.
Em alguns pontos, a formatação do texto ficou diferente, mas em nada afeta além do estético. A revisão deixou passar alguns acentos e vírgulas, mas nada grave.
Não me agradou o tempo que o conto leva para chegar ao tema proposto desse desafio, o terror. Apesar do enredo previsível na primeira parte, ela é bem trabalhada, mas apenas acrescenta drama a 2/3 do conto, jogando todo o terror para os eventos finais. Então, quando alcança o objetivo, vem um fechamento que desestabiliza o clima de terror. Poxa!
Mas por outro lado, gostei de falta de informação para o leitor concluir os porquês de tudo aquilo ter acontecido. Isso mantém o mistério em aberto e eu gosto desse recurso, apesar de reconhecer que mtos leitores preferem tudo bem explicadinho.
Algo a ressaltar é imaginar a madre superiora, que se não me engano tem por volta de 60 anos, subir e descer aquelas escadas que levam à torre do convento onde o sujeito se encontra… Não digo que é impossível, mas é um detalhe a se ficar atento. Outro, é a “possessão” da madre superiora, que morre logo a seguir e nesse momento o autor entrega os pontos com os diálogos que já incriminam o dom Fernandes.
Texto trabalhado com muita fluidez, tão rico em detalhes a ponto de colocar o leitor na cena. Alguns deslizes na correção, nada que compromete, podendo ser pressa na digitação.
O relato, por vezes,provocou medo, apreensão, expectativa. Trouxe morte, crime, visões sobrenaturais, sonhos tenebrosos, coerentes com o tema proposto. Se não chegou ao terror, que é o sentimento mais intenso do medo, campeou por ali.
Gostei da leitura, obrigada pelo presente!
Parabéns, Boris Chekov!
Abraços…
Impacto ao eu-leitor: médio.
Narrativa/enredo: Sujeito se apavora com a suposta morte da noiva e foge, perde os sentidos, vagueia e encontra um convento onde é hospedado. Pouco depois o convento é palco de crimes e de forças malignas. Um bom enredo.
Esrita: boa. Existem evidentes erros quanto a vírgulas e outros errinhos que não travaram a leitura. Carece de uma revisão. Destaco o uso das palavras “talha” e “terrina” que trazem uma sensação de ambientação no tempo da estória.
Construção: há uma boa coesão naquilo que o autor propõe, sem considerar o mérito das idéias. Entretanto, o gancho da coisa (desespero do noivo pela suposta morte da noiva, o encontro do convento, a aceitação dele como hóspede…) é meio forçado, aliás, bem forçado.
A primeira parte é longa e o leitor fica se perguntando: onde isso vai dar? Infelizmente não deu em muita coisa, a solução para o desenlace me pareceu apressada: vou matar todo mundo, encontrar minha noiva que não morreu e pronto.
As forças malignas sobrenaturais não foram valorizadas para o efeito “terror”, aparecem e desaparecem sem grande explicação.
É isso.
Olá, Boris!
Eu gostei da maneira como o mistério é criado ao leitor, a sequência de ações até dois terços do final, mas, com o desenrolar da história, senti-me frustrada com relação à expectativa que se criou e que não se concretizou. A meu ver, a situação sobre o que realmente se sucedia no convento ficou sem uma resposta adequada: seriam vampiros, bruxos, demônios, ou mal caratismo mesmo? Também, se levarmos em conta a jornada do herói, o personagem principal é levado a um outro mundo, mas não sai de lá modificado de alguma maneira, nem leva a experiência para sua vida pessoal, de forma que o leitor se frustra: o que significa para o protagonista tudo o que acabou de passar? Depois, ele retorna à sua amada, um clichê. Também faltou uma revisão sobre vírgulas, concordância, ordem de palavras etc. Contudo, a premissa é boa e funcionou até certo ponto.
Olá Boris. O seu conto está bem escrito. Com isto quero dizer que você sabe escrever, não é qualquer um, por mais que assim o acreditem, mas você realmente tem a capacidade de escrever, o sentido da fluidez, o manejo da palavra que prende o leitor e a atenção – tudo caraterísticas nem sempre presentes em quem escreve. Daí que, nestas situações, sou mais exigente com a qualidade gramatical e ortográfica. Notei algumas escorregadelas, particularmente no uso repetitivamente incorrecto da crase, uma ou outra frase dissonante aqui e ali e essa frase: “meu pescoço e o vi uma voz”, aqui penso que terá dado espaço em lugar de carregar a tecla “u”, não foi? no final, não esqueça de corrigir esse lapso.
Quanto à história: bem, talvez seja terror, eu não senti, mas isso não espanta, uma vez que seria quase impossível. Mas também não me dei conta de que estivesse a ser transmitido. Achei muito boa toda a parte inicial, em que você cria uma corrente forte entre Pedro e o leitor, essa ligação permitiria muita coisa, mas não aconteceu nada. Um bispo assassino, uma freira que vagueia entre apetites sexuais desenfreados (e naturalíssimos,imagino) e uma criatura maligna, duma malignidade difícil de enquadrar em qualquer tipo definido, uma outra freira aparentemente “boazinha”, mas que denuncia de forma excessivamente crua a sua irmã. Não sei, não encontrei elementos de terror. Talvez um ligeiro horror, mas terror não só não senti (o que pode ser problema meu), como não li a sua transmissão ou tentativa disso. Também não apreciei o final, que veio confirmar o que deveríamos ter deduzido logo de início: que Pedro tirava conclusões rapidamente de forma emotiva (ou seja, partiu do princípio que a noiva morrera e nem disso se certificou) e não consubstanciada, e essa premissa inicial compromete toda o desenvolvimento e coerência do personagem, sendo realçada no final e trazida à memória, em lugar de ficar esquecida lá para trás, o que teria sido preferível.
Resumindo: como disse no início, você tem talento para escrever e isso é o mais importante, uma vez que talento não se aprende, apenas o resto, como técnicas, ortografia, construção de enredos e personagens etc. Então você tem o mais importante e já domina bastante bem a parte que se pode ensinar e aprender. Gostei da história, penso que pode melhorá-la ainda muito, particularmente se lhe retirar o que quis incluir na parte do terror e acrescentar algumas práticas terríficas e, acredito, muitas vezes aceites como comuns no seio dos conventos. Aliás, um bispo aterrorizador, viria a calhar aqui bastante bem, sem qualquer necessidade de se relacionar com “o mal”.
Parabéns pela participação e rapidez com que aderiu ao desafio.
Olha, Boris, a ideia, a priori parece ser boa, mas acho que não foi bem aproveitada, você perde muito tempo com as descrições e pouco com as ações. Há muita informação que parece só existir para completar o limite de palavras. O conto deixa algumas questões abertas que seriam, nesse tipo de história, necessárias serem fechadas: Por que o bispo estava eliminando as freiras? O que era, afinal de contas, irmã Celeste? Vampira? Bruxa? Demônio? Já era assim? Sabe, a ideia realmente parece ter perdido força durante a história. Você cometeu, também, alguns erros de concordância: por duas ou três vezes,houve palavra feminina concordando com masculina. Há, ainda, a falta de acentuação de algumas palavras.
DESENVOLVIMENTO: Um texto que promete bastante no início, cria um suspense, tem uma narração segura, mas… aos poucos fui perdendo o interesse e, apesar de ver freiras, convento etc., coisas promissoras, a narrativa não sustentou esse clima.
PERSONAGENS: Não possuem força. O narrador-personagem, no começo, promete bastante. Mas fica só na promessa, entregando uma narrativa que não surpreende (a revelação de quem tinha feito aquilo com a freira, por exemplo, não me surpreendeu, foi exatamente como pensei).
GOSTEI: Do ritmo da narrativa na primeira metade do texto.
Mas…
O QUE PODIA SER MELHOR: ter explorado mais o conflito do Pedro com as freiras, ter ousado mais nesse sentido. O resultado foi morno.
DEU VONTADE: de ver o Pedro tendo um ataque a la Jack, de O Iluminado, quem sabe? Seria mais interessante.
NÍVEL PESSOAL DE TERROR COM RELAÇÃO A ESSE CONTO: Pouco, quase nada.