EntreContos

Detox Literário.

Barriga para cima (Marsal Sanches)

A falta de ar começava sempre do mesmo jeito, logo depois que ele se deitava. Não exatamente logo depois. Havia sempre um período de calmaria, como uma lua-de-mel. Minutos, às vezes até algumas horas. Mas a pressão começava abrupta, bem na boca do estômago, e ia se espalhando rapidamente. A ultima refeição, convertida num liquido azedo, subia-lhe à garganta e ele parecia estar engasgado. Os olhos se abriam, mas cordas invisíveis o mantinham imóvel. Por fim, com o coração prestes a explodir, sentava-se na cama e gritava. O familiar cheiro de quarto fechado o invadia e o guarda-roupa de madeira escura materializava-se à sua frente. A mulher ao seu lado praguejava, semi-acordada, um “puta que pariu” que, no dia seguinte, atribuiria ao sono e fingiria não se lembrar, se alguém lhe perguntasse a respeito.

Mas ninguém perguntaria. Nem mesmo Alfredo, que não teria qualquer registro do praguejo. Ele não se lembraria de quase nada. Se recordaria somente da falta de ar.

E da sensação de que alguém havia tentado sufocá-lo.

***

Havia sido naquela tarde quente de domingo, uma das muitas que havia passado na casa em Peruíbe. Duas da tarde, logo depois do almoço. O avô, com o estômago repleto de macarrão e vinho tinto barato do qual fingia não gostar, dirigia-se para o quarto. A avó, com um sorriso maroto e um tom de voz a meio caminho ente o sarcasmo e a reprovação, o havia interceptado, implacável:

– Não deite com barriga pra cima, que a Pisadeira vem te pegar!

Ao perceber o ponto de interrogação flutuando sobre a cabeça de sete anos de Alfredo, não se fizera de rogada:

– A Pisadeira é essa mulher magra, de unha comprida e cabelo arrepiado. Ela anda nos telhados e entra dentro do forro das casas.

-Será…será que ela vem aqui na casa da senhora? –ele havia perguntado, com as pernas moles de medo.

-Ela vem em todo tipo de casa. Rico, pobre, velho, novo…mas não tem perigo, é só não comer muito antes de deitar. E nunca, nunca dormir de barriga pra cima.

– Por que?

– Porque, se você estiver dormindo de barriga pra cima, ela desce do forro e vem para cima de você. Ela aperta a sua barriga e fala, com a boca cheia de dentes podres, para você virar de lado.

***

Era estranho como ele se lembrava dos detalhes daquela conversa, mais de sessenta anos antes. Lembrava-se até do barulho das ondas da praia emoldurando o relato da avó. Conseguia quase tocar o vestido dela, um azul pálido cheio de bolinhas vermelhas. Mas, em contraste, não conseguia se lembrar de que dia era hoje. Ou do que comera durante o café da manha, poucas horas antes.

Tampouco sabia ao certo quem era esta outra mulher que, todas a noites, se esparramava na cama ao lado dele. Esposa, filha, sobrinha, alguma coisa do tipo. Ele não tinha certeza. A mulher não se parecia muito com a avó. Os cabelos eram castanhos e grisalhos, uma velha com cara de jovem. Sempre com uma expressão de cansaço no rosto. Alfredo não se lembrava de seu nome. Nem um beijo ao deitar, somente o “boa noite” seco.

Havia sido ela mesma, a velha que era jovem, quem havia chamado o médico quando os ataques de falta de ar começaram. Alfredo jamais gostara de médicos, principalmente destes de agora.  O Dr. Juarez, o médico da família durante sua infância, pelo menos trazia balas para as crianças. Falava que os doces eram sua poção magica. Dizia que resolvia tudo e que certa vez operara alguém no meio da rua, com um canivete. Se fosse o Dr. Juarez, ainda vá lá. Talvez o nome nem mesmo fosse Juarez. Não vinha ao caso. O fato era que o novo doutor que viera examiná-lo tinha nariz grande, gravata cor-de-rosa e mania de falar difícil. Alfredo não entendera nada do que lhe fora dito, e entendera menos ainda as explicações cuidadosamente fornecidas pelo médico à mulher velha-jovem, que apenas meneava a cabeça com cara de enfado e mantinha os lábios finos ainda mais apertados, enquanto ouvia. Percebera que o médico nem fizera questão de sair da sala para evitar conversar na presença dele, e falava com a mulher como se Alfredo não estivesse ali.

***

-Eu…não quero mais dormir aqui, não!

-E tem mais uma coisa- continuara a avó, fingindo não ouvir, com um sorriso malicioso e, agora, um tom ainda mais conspiratório- Ela usa um gorrinho vermelho.

-Eu pensei que quem usasse gorro vermelho era saci.

-Não, a Pisadeira também usa. E, se alguém for bem corajoso e forte e conseguir tirar o gorrinho da cabeça dela, a Pisadeira realiza um pedido.

-Que tipo de pedido?

-O que a pessoa quiser. Qualquer coisa. Você entendeu bem? Qualquer coisa!

***

As crises só haviam piorado depois da visita do médico de gravata rosa. As pílulas grandes e redondas que a mulher passou a lhe dar em nada ajudavam, e ele sentia um estranho enrijecimento em todo o seu corpo cada vez que as tomava.  As mãos tremiam. Os movimentos das pernas eram decompostos, pareciam acontecer em etapas, como se uma espécie de trava os liberasse aos poucos, e não de uma vez. Para se levantar da cama, precisava se concentrar ao máximo e balançar os braços para a frente, como se estivesse batendo asas.

Mas aquilo não era o pior de tudo. Estava ficando com medo da noite, antecipando-a com o mesmo grau de apreensão que associava com suas visitas ao dentista do bairro durante a infância. Assim que começava a ficar escuro, seu coração acelerava. Sentava-se na cama, recostado nos travesseiros, para não correr o risco de dormir. A mulher jovem-velha olhava aquilo e meneava a cabeça, com os olhos bem estreitos, como duas fendas. Mas o sono teimava em envolvê-lo com seus tentáculos escuros e Alfredo acabava por deslizar para a posição deitado.

Até, mais uma vez, acordar sufocado. Com a barriga para cima. Com uma vaga lembrança de onde estava, e de quem era, até que o cheiro de quarto fechado de novo o atingisse.

Ele não sabia por quanto tempo daria para continuar daquela maneira. Chegara a pensar em suicídio, mas logo se esquecera da idéia. A mulher jovem-velha com frequência franzia a testa em sua presença e havia passado a resmungar, baixinho, coisas como “casa de repouso” e “asilo”. Para Alfredo, aquilo era totalmente sem propósito. Ele não precisava de mais repouso, já repousava bastante ali mesmo, naquela cama, durante a maior parte do tempo. E asilo… por que? Para quem? Cogitou perguntar, mas teve receio de aborrecê-la e, em seguida, já não se lembrava mais de qual havia sido a pergunta.

A revelação viera rápida e inesperada, como se ele houvesse sido atingido por um raio em um dia de sol. Finalmente, havia conseguido conectar os pontos. Não entendia por que demorara tanto. Mas o mérito não era apenas dele. Devia o lampejo de aparente lucidez à caixa elétrica com imagens dentro que, todas as tardes, era plantada à sua frente, e que a mulher jovem-velha sempre observava com grande interesse. A caixa era esquisita, ele não tinha certeza se as pessoas estavam lá dentro ou se ficavam em outro lugar e aquilo era uma espécie de janela. Às vezes, apareciam mocinhas, cantando e dançando de um lado para o outro, enquanto muitas outras pessoas aplaudiam e saltavam, sem sair do lugar. Às vezes, sujeitos fortes, sem camisa, ficavam lutando, até que um deles caísse no chão e lá ficasse. Outras vezes, homens e mulheres de rosto sério, segurando papéis, lendo noticias difíceis e complicadas, que ele não compreendia.

Naquele dia, entretanto, ele havia compreendido. Algum homem de terno cinza, devia ser alguém importante, decidira criar um novo feriado. O Dia do Saci.  Alfredo não sabia ao certo se os outros homens de terno que aplaudiam conseguiam entender tudo o que o homem de terno cinza falava ou se apenas fingiam entender. Talvez eles…

Eu pensei que quem usasse gorro vermelho era saci.

Não, a Pisadeira também usa.

E, de repente, ele havia se lembrado. Tudo agora fazia sentido!

***

-Mas ela deixa você, assim, ir lá e pegar o gorro?-ele havia perguntado, agora com mais interesse do que medo.

– Não e fácil. Não e só ”ir lá e pegar o gorro”- a avó o arremedara, com a voz em falsete-Precisa de muita coragem. E tem que ser forte para conseguir se livrar da paralisia e conseguir apertar o pescoço dela. Ai, ela se rende e você pega o gorrinho. E então você já pode fazer o seu pedido.

***

Alfredo não entendia por que a Pisadeira decidira começar a atormentá-lo agora, depois de tantos anos. Mas, ao mesmo tempo, sentia quase um funesto alívio por finalmente entender a origem de seu suplício. Agarrou-se à lembrança qual um náufrago grudado à única tábua ainda boiando na superfície do mar. Apavorava-se diante da perspectiva de perdê-la. Tentou gravar a palavra “Pisadeira” no criado-mudo de jacarandá, usando as próprias unhas como cinzel, mas a mulher jovem-velha o havia olhado feio. Repetia a palavra para si, baixinho.

Tinha que ser naquela noite. Se adiasse até a noite seguinte, corria o risco de esquecer tudo outra vez. Havia divisado o plano com cuidado e rezava com todas as forças para não o esquecer. Comeria o máximo que conseguisse no jantar. Era assim que a velha-jovem preferia, estava sempre a reprová-lo por comer pouco, e insistindo para que comesse mais. “Saco vazio não pára em pé”, não cansava de repetir. Alfredo não sabia a que ela se referia, mas estava convencido que aquilo tinha alguma coisa a ver com comida.

Depois, iria para a cama e se deitaria. De barriga para cima. Fecharia os olhos e fingiria dormir. Esperaria pela Pisadeira com um misto de medo e excitação. Como se aguardasse o reencontro com uma ex-namorada ou um colega de infância há muitos anos perdido. Na hora em que a sacana aparecesse e começasse a pressionar-lhe a barriga, ele estaria pronto para ela. Apertaria o pescoço dela bem apertado, até que ela caísse para o lado, roxa, e se rendesse. Nunca mais ela iria sufocá-lo de novo. Nunca mais ele ouviria o “puta que pariu”. E já havia decidido qual seria seu desejo.

Que tipo de pedido?

O que a pessoa quiser. Qualquer coisa.

Iria pedir para se lembrar. Para se lembrar de tudo. De como chegara até aquele ponto, de por que estava ali naquela casa estranha e não mais na casa da avó. De quem era a mulher jovem-velha. De quantos anos tinha. De que cidade era aquela. De que tipo de comida gostava de comer. De esperar a hora de ir ao banheiro ao invés de molhar as calças. E da razão pela qual o médico de gravata cor-de-rosa havia balançado a cabeça e, com um sorriso triste, batido de leve no ombro da mulher velha que era jovem, como que a consolá-la. Depois, o médico havia pronunciado, em tom professoral, um nome estrangeiro antigo, que começava com a letra “a” e raspava a garganta. Alzheimer. Ele já ouvira aquele nome antes e o associava a um estranho mal-estar, mas não se lembrava por quê. Precisava saber. Precisava entender. Para tudo isso, era essencial que a Pisadeira viesse naquela noite.

Ele a esperaria.

54 comentários em “Barriga para cima (Marsal Sanches)

  1. Wender Lemes
    31 de março de 2017

    Olá! Para organizar melhor, dividirei minha avaliação em três partes: a técnica, o apelo e o conjunto da obra.

    Técnica: o conto, carregado entre as duas linhas temporais do protagonista, é dividido nas horas certas, mantendo o suspense a princípio e controlando a emoção quando ficam claras a as condições do idoso (na verdade, nunca foram muito obscuras, era fácil supor). O conto termina com uma espécie de anticlímax – queremos saber o que aconteceu na fatídica noite, mas o narrador encerra logo antes. O tema (escorado na pisadeira) foi bem empregado no decorrer do conto e a escrita é cativante.

    Apelo: há quem vá dizer que senhorzinho com Alzheimer é carta marcada no EC. Há sempre uma nova maneira de explorar o que já parece batido, e isso foi mostrado aqui. Apesar da temática relativamente comum, a trama é original e bem trabalhada.

    Conjunto: é preciso domínio para saber a hora certa de varia entre os eixos temporais, como fez aqui, merece pontos por isso. Em questão de estilo, não vi um grande diferencial, mas a narrativa cadenciada compensa.

    Parabéns e boa sorte.

    • Marsal
      7 de abril de 2017

      Ola, Wender!
      Muito obrigado pela leitura e pelos comentários.

      Abraço,

      Marsal

  2. Pedro Luna
    31 de março de 2017

    Um conto interessante, que envolve a velhice e a demência. Gostei. Me lembrou da figura do meu falecido avô, que já estava nesse estágio. Estava esperando uma tragédia no final, envolvendo a companheira, mas pensando bem, talvez ela aconteça mesmo após o ponto final no texto. Achei bem escrito. As demonstrações de demência, como as confusões com nomes, me lembraram uma leitura que fiz nesse ano, do Lourenço Mutarreli. Assim como o Muta, o autor aqui conseguiu definir bem em palavras como é um mergulho na loucura humana.

    • Marsal
      7 de abril de 2017

      Ola, Pedro
      Muito obrigado pelos comentarios. Na primeira versão que escrevi, o velhinho acabava estrangulando a cuidadora achando que ela era a Pisadeira. Debati muito se deveria manter o conto daquele jeito ou se deixaria o final em aberto, e acabei optando pela segunda alternativa.

      Abraço,

      Marsal

  3. Elisa Ribeiro
    30 de março de 2017

    Uma história que mistura demência senil com reminiscências da lenda da Pisadeira na infância. Fiquei com pena do Alfredo, alimentando a esperança infantil de que Pisadeira lhe restituísse a memória perdida… Sua narrativa é correta e a inserção das reminiscências foi um artificio eficiente para tornar a leitura mais agradável e fluída. Boa sorte!

    • Marsal
      7 de abril de 2017

      Muito obrigado pelos comentarios, Elisa.
      Um abraço,

      Marsal

  4. Vitor De Lerbo
    30 de março de 2017

    Emocionante. É complexo elaborar um texto do ponto de vista de uma pessoa com Alzheimer, mas o autor realizou esse feito com maestria. Agoniante e tocante.
    Boa sorte!

    • Marsal
      7 de abril de 2017

      Muito obrigado pelos comentarios, Vitor.
      Abraço,

      Marsal

  5. jggouvea
    30 de março de 2017

    Texto muito simpático, com um protagonista com quem a gente se identifica fácil.

    Apesar de algumas escorregadelas no estilo, que não consegue se aproximar o suficiente da mentalidade de alguém com Alzheimer, o conto é escorreito e fácil de seguir. Utiliza o mito da pisadeira de uma forma muito melhor que o outro que eu já li.

    E tem um final aberto perfeito, que nos permite escolher entre o velhinho pegar a pisadeira e se lembrar de tudo, ou ela ser só uma lenda e ele ser só um velhinho caduco mesmo.

    Vamos às notas

    Média 9,84
    introdução 10,0 — melhor do desafio até agora.
    Enredo 10,0 — transformou a pisadeira em algo interessante
    Personagens 10 — o único personagem de fato é muito bem construído
    Cenário 10
    Forma 9 — fica no quase
    Coerência 10,0 — perfeitamente amarrado

    • Marsal
      7 de abril de 2017

      JG,

      Muito obrigado pelos seus comentarios. Este e’ meu primeiro desafio mas pude sentir que voce e’ bastante criterioso nas suas colocações e revisões, e fico feliz que o conto o tenha agradado.

      Abraço,

      Marsal

  6. Cilas Medi
    29 de março de 2017

    Uma boa revisão (somente o word já resolveria) evitaria esses erros:
    1. semi-acordada = semiacordada.
    2. manha = manhã.
    3. magica = mágica.
    4. todas a noites = todas as noites.
    5. idéia = ideia.
    6. noticias = notícias.
    7. pára = para.
    Um bom conto, com um certo suspense, mas nada de excepcional, apesar de nos fazer encontrar a Pisadeira, que não conhecia dentro do folclore brasileiro. A constatação de ser Alzheimer, leva a nos confrontar com a aflição que deva ser estar assim, um pouco de lembrança do passado remoto e nada do passado recente chamada de presente. Uma ausência dramática como o conto.

    • Marsal
      7 de abril de 2017

      Ola, Cilas

      Obrigado pelos comentários por apontar os erros acima. Eu moro fora do Brasil e o word daqui não pega todos os erros de ortografia, mesmo que eu configure a lingua para o português. Apesar deter revisado o conto manualmente ao menos três vezes, percebi que bastante coisa passou.

      Abraço,

      Marsal

  7. Gustavo Castro Araujo
    29 de março de 2017

    Gostei bastante do conto. É verdade que em diversos desafios o Alzheimer mostrou as caras – eu mesmo já me utilizei dele – mas, ao contrário da maioria dos textos em que isso ocorre, aqui a doença não foi utilizada para provocar pena ou como apelação à melancolia. Ao contrário, é uma espécie de gatilho, ou melhor, um obstáculo para que o protagonista lide com os próprios fantasmas, misturando recordações da infância com a memória recente, sem saber direito onde uma começa e outra termina. A Pisadeira é, então, um vetor para uma viagem maior, a busca pela própria identidade. Essa construção ficou muito boa, sendo impossível ao leitor não se afeiçoar ao protagonista, ver refletido em si temores pelo que passou e pelo que ainda vai passar. De fato, a narrativa é hábil em transmitir essa angústia porque sabemos o que ocorre, mas nosso personagem não. Apenas o final ficou a desejar. O autor passou o texto todo preparando o terreno para o encontro final com a Pisadeira e, de repente… puf. Finais abertos demais são arriscados. Às vezes soam inteligentes, mas às vezes parecem revelar certa falta de inspiração para arrematar algo que foi criado e desenvolvido de forma competente. Fiquei com a impressão de que a última hipótese aconteceu aqui. Esperava algo mais revelador e me senti frustrado. Bem, isso demonstra a competência do autor em gerar o suspense, de se tratar de alguém que conhece os caminhos para envolver o leitor. Uma pena que o fim tenha ficado aquém do esperado. De todo modo, é um belo trabalho. Parabéns!

    • Marsal
      7 de abril de 2017

      Ola, Gustavo

      Muito obrigado pelos comentários e por ter entendido o conto tao bem. Como eu expliquei em uma das respostas acima, em uma primeira versão o conto acabava com o idoso estrangulando a cuidadora e acordando no dia seguinte com ela morta ao seu lado. Debato muito se deixava daquele jeito ou se mudava para um final mais em aberto, e acabei optando pela segunda alternativa. Fiquei com receio de que o final original iria tornar o conto um pouco direto demais. Entretanto, notei que a maioria das pessoas preferiria um final mais bem definido e que o final em aberto não agradou muito.

      Abraços,

      Marsal

  8. rsollberg
    29 de março de 2017

    Fala, exilado!
    Achei bem interessante sua abordagem ao tema. Curti essa viagem temporal, mostrando o ínicio e o quase fim do protagonista. De como as memórias mais remotas surgem e as mais próximas se vão. Gostei muito dessa passagem,, visual e criativa: “Ao perceber o ponto de interrogação flutuando sobre a cabeça de sete anos de Alfredo, não se fizera de rogada”.

    Contudo, criei uma expectativa que não foi consolidada no final. Ficou tudo meio morno. Não que seja necessária reviravoltas, ou surpresas, mas diante do estilo escolhido para a narrativa e até mesmo o tipo de história, gostaria de ter visto algo com mais impacto. Aqui a lacuna – que tanto defendo – não me agradou. Questão de perspectiva, claro.

    De qualquer modo, foi legal ver um pouco da pisadeira (que só conhecia de um conto da Maria Santino, não me falhe a memória)
    Parabéns

    • Marsal
      8 de abril de 2017

      Ola, Rafael

      Muito obrigado pea leitura e pelos comentarios. Como mencionei em algumas das respostas acima, debati bastante se deveria deixar o final em aberto ou nao.

      Abraço,

      Marsal

  9. mitou
    29 de março de 2017

    o conto está bem amarrado com a narrativa do presente e a do flashback, a revelação final de que o personagem principal tem Alzheimer foi inesperada, e rendeu pontos. só faltou a aparição em si da pisadeira na minha opinião

    • Marsal
      9 de abril de 2017

      Muito obrigado pela leitura e pelos comentários!
      Um abraço,

      Marsal

  10. Fabio Baptista
    29 de março de 2017

    Um conto muito bom, onde dois recursos interessantes foram usados com competência: a narração em terceira pessoa com PDV e fragmentação com flashbacks, para explicar/justificar o que ocorria no presente.

    Aqui o folclore fica apenas como uma sombra, um pano de fundo, uma ameaça ao estilo “só existe se você acreditar”. Gostei disso também.

    No final, fiquei com impressão de uma certa pesada de mão para tentar emocionar. Funcionou parcialmente comigo. Provavelmente teria funcionado mais se ficasse mais natural. Também acho que mencionar o nome da doença não foi a decisão mais acertada.

    Saldo bem positivo no balanço geral.

    Abraço!

    NOTA: 9

    • Marsal
      9 de abril de 2017

      Fabio,

      Muito obrigado pela leitura e pelo feedback.

      Um abraco,

      Marsal

  11. danielreis1973 (@danielreis1973)
    28 de março de 2017

    Mais um texto muito bem construído, com a utilização inteligente do flashback em paralelo. Eu não conhecia a lenda, e achei que a narrativa, mais do que explorar a mitologia, soube amplificar o papel da Pisadeira no contexto de uma história e condição de vida e esquecimento. Parabéns, gostei muito!

    • Marsal
      9 de abril de 2017

      Daniel,

      Agradeço bastante os comentarios e a leitura.

      Um abraco,

      Marsal

  12. Anderson Henrique
    28 de março de 2017

    Confesso: não estava gostando do texto até o parágrafo final. Estava achando confuso, sem sentido, truncado. Mas então veio o paragrafo derradeiro e tudo fez mais sentido. É um texto em primeira pessoa. Por mais que eu não seja um profundo conhecedor dos efeitos do Alzheimer, os elementos anteriores do texto pareceram se conectar por conta da doença. O texto é o que o protagonista é. Então mudei de opinião. E gostei. Talvez eu questione apenas a presença da pisadeira na história. Não a vejo como um elemento fundamental, pois normalmente ela está associada à doença do sono. Na narrativa, ela entra como um elemento fantástico para que o homem faça seu pedido e peça para se lembrar de tudo. Analisando a estrutura do texto, podemos perceber que a questão da pisadeira poderia ser facilmente substituída por um gênio da lâmpada a realizar um desejo. Talvez eu esteja divagando. Resumindo: detestei o texto e depois gostei. Belo trabalho. O que um último parágrafo não faz por uma história, não é mesmo?

    • Marsal
      15 de abril de 2017

      Anderson,
      Muito obrigado pelos comentarios e pela leitura.
      Abraço,
      Marsal

  13. Bia Machado
    28 de março de 2017

    Fluidez da narrativa: (3/4) – Gostei da narrativa, fluiu em grande parte do texto. Conseguiu me manter interessada em grande parte da narrativa. Achei que a parte em que deixa bem claro o Alzheimer foi desnecessária, ficou meio didática.

    Construção das personagens: (2,5/3) – Apesar de gostar da forma como foram utilizadas, não houve total empatia.

    Adequação ao Tema: (1/1) – Sim, está adequado. Boa escolha. A Pisadeira é bem sinistra.

    Emoção: (0,5/1) – Gostei em grande parte. Porém, como disse no primeiro item, houve momentos de dispersão durante a leitura.

    Estética/revisão: (1/1) – Achei interessante o recurso de “ir e vir” no tempo durante a narrativa. Acho que esse formato ajudou. Quanto à revisão, nada que incomodasse. Se havia, passou despercebido.

    • Marsal
      15 de abril de 2017

      Bia,

      Agredeco bastante os comentarios e a leitura.

      Abraço,

      Marsal

  14. Rafael Luiz
    27 de março de 2017

    Conto muito bom. A alteração de linhas temporais é latente, mas contextualizada. A inserção do ser folclórico, oportuna e a descrição do personagem principal muito imersiva. Em minha opinião, cometeu o grave pecado de dizer do que se tratavam os “devaneios” do personagem, pois no momento em que o autor realiza, o nome do devaneio automaticamente lhe rouba a glória. Mesmo assim, muito bom.

    • Marsal
      15 de abril de 2017

      Ola, Rafael

      Obrigado pelos comentarios e pela leitura. Eu debati bastante se deveria ou não citar o Alzheimer no final.

      Abraço,

      Marsal

  15. Bruna Francielle
    26 de março de 2017

    tema: adequado

    Pontos fortes: boas descrições, gostei da narrativa no geral, esta clara e compreensível. Agora pouco li um conto que tem também cenas de dois tempos, passado e presente, e não tinha “separação”, e aquilo foi frustrante. Aqui foi bom você ter colocado asteriscos para se separar os tempos. Tem-se sempre que pensar no leitor, se colocar no lugar dele. Gostei da carga dramática também, apesar do artifício “Alzeimer” já ser meio batido por essas bandas

    Pontos fracos: Olha, fiquei meio na dúvida se o finam aberto é ponto forte ou fraco. A dúvida é se ele mataria a “jovem-velha” que dorme com ele, ou não. Poderia ter pelo menos dado uma dica, seilá, por exemplo se a velha tinha algum gorrinho vermelho, rsrs. Bem, talvez seja uma questão de gosto pessoal. Usualmente acho finais abertos frustrantes.

    • Marsal
      15 de abril de 2017

      Bruna,

      Muito obrigado pela leitura e pelos comentários. Como expliquei acima, em uma primeira versão ele acordaria tendo estrangulado a cuidadora. Voce captou bem a mistura da cuidadora com a piadeira, na mente do protagonista.

      Abraço,

      Marsal

  16. Olisomar Pires
    26 de março de 2017

    Muito bem escrito e a seu modo, bastante engraçado, apesar da terrível doença do personagem.

    Interessante e envolvente.

  17. Ricardo de Lohem
    26 de março de 2017

    Olá, como vai? Vamos ao conto! A Pisadeira, uma das minhas personagens favoritas do folclore nacional. Sem dúvida teve origem no Súcubo europeu, o vampiro sexual que absorve a energia de homens adormecidos através do sexo. Não tenho dúvida que a lenda da Pisadeira tem um grande fundo erótico, pena que nenhum autor quis explorar isso. Aqui temos uma história com decadência, senilidade e… Alzheimer?!?! Estou com trauma desde que tivemos uma epidemia de história com demência por aqui, ainda estou traumatizado. Bom, pelo menos não apareceu nenhum boto. O final aberto ficou parecendo daqueles não intencionais, do tipo que diz “esgotou-se a energia das ideias, a narrativa não tem mais forças para continuar”. Desejo Boa Sorte.

  18. felipe rodrigues
    26 de março de 2017

    Não gosto, apesar de ao final ter achado a história toda de grande sensibilidade, mas aí é que está o problema, talvez no modo esquemático com que os flashbacks foram colocados, talvez por toda a carga dramatica do conto ter sido jogada ao final como carga de caminhão que atropela o leitor. Li outro conto com essa personagem, a Pisadeira, e achei difícil criar uma história com ela, devido à simplicidade de sua história, não que isso seja ruim, mas aqui só parece ter funcionado em partes.

  19. Elias Paixão
    26 de março de 2017

    Conto tão profundo quanto impactante. Abordando aqui um protagonista adoecido, a história nos leva aos últimos momentos do protagonista. A loucura, normalmente empregada para deixar o texto com ar de cult, aqui faz parte da história, do cenário e encontra caminho para fazer parte do leitor também. As idas e vindas no tempo dos pensamentos me fizeram abraçar a confusão mental da personagem e sentir empatia pelo seu trágico destino. Não obstante, o protagonista não se rende. Arma-se e se prepara para a luta em um final inspirador. Assino um 10 com absoluta tranquilidade.

  20. Matheus Pacheco
    25 de março de 2017

    Está aí uma coisa que eu jamais teria coragem de fazer, mas corajoso foi Alfredo que tentou desafiar uma criatura que tem o poder da onipresença e teleportação.
    Excelente o conto, a avó do protagonista me fez lembrar muito a minha velha senhora.
    Abração ao autor.

  21. Priscila Pereira
    24 de março de 2017

    Oi Exilado, que triste seu conto!!!! Tadinho do senhorzinho, esse conto me cortou o coração, acabei de perder uma tia avó, que estava com Alzheimer…. Está bem escrito, sensível e boniti de se ler!! Gostei bastante! Parabéns!!

  22. Evelyn Postali
    24 de março de 2017

    Oi, Exilado,
    Ao ler esse conto me senti meio triste porque não se lembrar do que se viveu é uma crueldade. A memória é uma sala preciosa e estranha, também. Gostei desse conto. Está bem escrito. Tem a lenda aí, como um desejo, como uma forma de reverter o mal. Não sei se haveria essa consciência, mas enfim, comoveu.

  23. Miquéias Dell'Orti
    23 de março de 2017

    Olá.

    Sua narrativa me deixou roendo as unhas para saber o que acontece com Alfredo kkk.

    Achei uma ótima premissa utilizar um personagem com mal de Alzheimer na historia. Deixou a tensão mais evidente durante todo o texto. Só fiquei chateado com o final, já que ficou aquele gosto de “quero mais”.

  24. Marco Aurélio Saraiva
    23 de março de 2017

    Estou com sentimentos conflitantes quanto ao seu conto. Notei que, aqui, o personagem principal é o Alzheimer e não o folclore em si. Isso é bem legal, e foi o que eu fiz no meu conto também. No seu conto, assim como no meu, a história folclórica pode ser interpretada como uma conjuração da mente do personagem. Ele provavelmente sofria com paralisia do sono ou outro problema relacionado, mas acabou atribuindo ao folclore a real fonte dos seus problemas. Isso acaba justificando o final “incompleto”: você criou uma expectativa quanto a nova aparição da Pisadeira, mas não faz sentido você narrar esta aparição, já que ela é, provavelmente, apenas a imaginação do personagem.

    Gostei como você abordou o Alzheimer aqui. O conto inteiro é um pensamento sobre a doença, muito bem colocado, incluindo seus pequenos detalhes (como o fato dele lembrar de sua conversa com a avó mas não saber quem é a sua esposa, etc).

    Sua escrita é boa, mas notei alguns erros que atrapalharam a leitura um pouco. Não tenho mais feito correções de português nos meus comentários, então nem anotei os erros que encontrei, mas aconselho uma revisão extra do conto. Não são erros crassos, apenas pequenas falhas de digitação ou pontuação.

    No mais, foi uma boa leitura! Um tanto melancólica e reflexiva.

  25. Paula Giannini - palcodapalavrablog
    23 de março de 2017

    Olá, Exilado,

    Tudo bem?

    Seu conto é ótimo, ao menos para mim.

    Uma história que vai se construindo aos poucos, criando tensão e interesse no leitor, envolvendo-o em sua narrativa. A empatia com o personagem se torna quase uma consequência natural, quando ele começa a se recordar da avó, da Pisadeira, da infância, ao passo que não se recorda de si mesmo ou de sua própria jovem-velha mulher.

    Um conto triste e com um tema inesperado (e que adoro).

    Não sei se seria necessário explicar o Mal de Alzheimer no final. Engraçado, pois estou repetindo uma opinião que deram a um conto meu aqui, em um outro desafio. O conto em questão era o (…). Só agora, lendo o seu trabalho, ficou tão óbvio para mim. Mas, essa sou eu.

    Como leitora lhe dou nota 10.

    Parabéns por seu trabalho e boa sorte no desafio.

    Beijos

    Paula Giannini

  26. Antonio Stegues Batista
    23 de março de 2017

    A historia é sobre um personagem idoso com princípio de Alzheimer, sua memória está falhando e ele tenta se livrar da doença, agarrando-se às últimas recordações e a uma historia que a avó contava. O enredo é muito bom e a lenda da Pisadeira está inserida na historia. Acho que algumas frases poderiam ter sido melhor trabalhadas, rebuscadas criando uma atmosfera mais poética, sobrepondo-se à da angustia.

  27. catarinacunha2015
    22 de março de 2017

    As palavras, essas danadas, às vezes nos pegam peças como o Saci. Cabe atentar para o significado delas. Exemplos: “Os movimentos das pernas eram DECOMPOSTOS”, podres os desconexos? . Algumas palavras se repetem de forma coloquial ( houvesse sido, havia sido, havia, havia…). Cabe uma boa revisão ortográfica e de “gordura”. Exemplo: “-Mas ela deixa você, assim, ir lá e pegar o gorro?-ele havia perguntado, agora com mais interesse do que medo.” Esse “ele havia perguntado” é desnecessário porque em seguida fica claro que ele está perguntando para a avó. Esses detalhes pesam o texto e tiram sua fluidez.
    A premissa da doença, que confunde o envelhecimento presente com as memórias infantis, foi muito bem amadurecida. Há claramente uma involução intelectual do personagem e sua senilidade é bem representada. Eu não daria o nome da doença para evitar rótulos, mas cada um com seu cada qual.

  28. angst447
    22 de março de 2017

    Não conhecia essa lenda da Passadeira até alguém do grupo falar sobre ela. Interessante e bem assustadora. Enfim, o tema do desafio foi abordado com criatividade.
    Pouca coisa escapou à revisão:
    ultima > última
    liquido azedo > líquido azedo
    Pode ser que haja mais lapsos no texto, mas não me chamaram a atenção. Uma repetição aqui e ali da mesma palavra ou mesmo radical, mas que passa quase sem se perceber.
    O narrador conta a história de um homem, provavelmente muito idoso, vítima do mal de Alzheimer, lidando com duas realidades: seu passado e o presente em que está enclausurado. Dá para sentir a agonia do seu esquecimento, a confusão de seus pensamentos e a delicadeza de suas memórias de infância.
    O ritmo é bem agradável, sem acelerar demais ou ralentar com passagens desnecessárias. Narrativa que prende a atenção, pois o leitor fica curioso quanto ao pedido a ser feito no final.
    Bom trabalho!

  29. Iolandinha Pinheiro
    21 de março de 2017

    O seu conto fala muito mais sobre o Alzheimer do que, exatamente, da Pisadeira. Apesar de o seu conto nao ter tido muita fluidez (para mim), é uma bela história que retrata a busca de si mesmo, uma visao interior da consciência de alguém acometido pela demência, suas doces e vívidas lembranças, sua angustia em nao compreender a vida a sua volta, e a solução mágica que encontrou para resolver o conflito. Realmente, uma história tocante. Os eventuais erros de gramática nao me incomodaram, só achei ruim ter que ler o conto várias vezes para largar logo depois, mas a culpa nem é sua, tenho uma forte tendência à dispersao e se a história nao me parecer envolvente, fica dificílimo chegar ao seu final. Ainda nao sei que nota te dar, mas deixo, desde já, meus parabéns, e desejo sorte no desafio.

  30. G. S. Willy
    20 de março de 2017

    As divisões entre o passado e o futuro ficaram claras e necessárias para o enredo. Os sintomas da doença e as lembranças esquecidas ficaram interessantes. Eu apenas tiraria o nome da doença logo no finzinho. Deixaria no ar, mesmo que fosse óbvio. Já que estamos na mente do personagem, ele não se lembraria da palavra inteira.

    Mas sobre o folclore, o tema do desafio, achei que ficou devendo. Não há folclore, há apenas superstições, menções. A Pisadeira não aparece, nem um sinal de que ela exista de fato, O tema do conto é urbano, contemporâneo apenas, e não folclórico, como deveria ser…

  31. Roselaine Hahn
    18 de março de 2017

    Seu exilado, já pode sair do exílio e curtir os louros da fama. Contaço! Cara, conseguir colocar lendas do folclore com Alzheimer é para os fortes. Muito boa a sua prosa, o texto me prendeu do início ao fim. Ele dá margem para várias interpretações, não conta tudo, deixa que o leitor tire as suas conclusões, esse é o caminho da boa escrita. A esposa, a insistência para que ele comesse mais no jantar, o aviso da Pisadeira para não dormir de barriga pra cima, o asilo, a casa de repouso, a doença dele; acho que a mulher jovem-velha era uma baita duma sacana. Apenas fiquei com dúvida em relação à caixa-elétrica, era um computador? Não ficou claro pra mim. No mais, um conto irretocável. Parabéns.

  32. Neusa Maria Fontolan
    18 de março de 2017

    Coitado do Alfredo. Alzheimer é uma doença triste, acaba com a pessoa. Tomara que ele consiga pegar o gorrinho da Pisadeira. Quem sabe ele ganha sua memória de volta.
    Bom conto, parabéns
    Destaque: “Era estranho como ele se lembrava dos detalhes daquela conversa, mais de sessenta anos antes. Lembrava-se até do barulho das ondas da praia emoldurando o relato da avó. Conseguia quase tocar o vestido dela, um azul pálido cheio de bolinhas vermelhas. Mas, em contraste, não conseguia se lembrar de que dia era hoje. Ou do que comera durante o café da manha, poucas horas antes.”

  33. Eduardo Selga
    17 de março de 2017

    Uma ideia primorosa: para que o personagem recupere sua concretude enquanto sujeito ele sente a necessidade que o mitológico, portanto o inexistente, ou existente apenas no plano abstrato, se manifeste. É um belo paradoxo que demonstra, no plano da ficção, o quanto somos criaturas para as quais o simbólico é fundamental.

    Também outro aspecto merece observação: a certeza que o protagonista tem que a aparição da personagem mitológica será sua salvação é um comportamento infantil, para o que muito contribui a lembrança da avó. Logo, salvar-se implica retornar à infância; a adultícia é insuficiente, porquanto muito concreta.

    Claro, as lacunas na memória do protagonista devem-se ao Alzheimer, mas quando ele trata o profissional que cuida dele de “médico de gravata cor-de-rosa” e sua esposa de “mulher velha-jovem”, despersonalizando-os, também há da parte dele certa má vontade em relação à sua vida e aos fatores que funcionam como balizas dela. É como se ele se sabotasse, tendo a doença degenerativa como desculpa perfeita, até que a infância volta à memória em duas frases (“eu pensei que quem usasse gorro vermelho era saci” e “não, a Pisadeira também usa”). A partir daí ele se vê com possibilidades.

    Infelizmente em vários momentos o pronome oblíquo foi mal empregado, prejudicando o texto. Alguns casos:

    “Se recordaria somente da falta de ar”: o SE não pode começar frase.

    “Para se levantar da cama, precisava se concentrar ao máximo […]”: o correto seria CONCENTRAR-SE.

    “E tem que ser forte para conseguir se livrar da paralisia […]”: o correto é LIVRAR-SE.

    “Iria pedir para se lembrar”: o correto seria LEMBRAR-SE.

    “Saco vazio não pára em pé”: aqui o problema não é pronome, e sim a forma verbal PARA, que a partir de 2009 perdeu o acento diferencial.

  34. Fheluany Nogueira
    17 de março de 2017

    A narrativa criou uma simpática figuração para o mal de Alzheimer e adequou o texto ao tema proposto de forma inteligente e criativa, com desenvolvimento bem construído. A leitura é ágil e prazerosa, só fiquei mesmo preocupada e chateada pela indiferença do personagem com a “mulher velha-jovem” que cuidava dele e com a lembrança tão vívida da avó. É um texto de humor negro!

    Notei a falta de acentos em algumas palavras e pronomes átonos em início de frases ou orações.

    Bom trabalho. Bastante originalidade ao juntar tal assunto e o tema. Abraços e sorte no Desafio.

  35. marcilenecardoso2000
    17 de março de 2017

    Um conto triste como o Alzheimer é. Imagino com pesar o horror de não se lembrar de coisas importantes, como a própria identidade, por exemplo. E a tristeza da solidão em que uma pessoa nessa condição vive, mesmo que esteja acompanhada, visto que já foi abandonada por si mesma. cada detalhe do personagem é entristecedora. Interessante o modo como o(a) autor(a) mesclou o ente folclórico nessa trama dando veracidade ao enredo. O conto ficou um pouco repetitivo, e nesse caso cansativo.

  36. M. A. Thompson
    17 de março de 2017

    Olá “Exilado”. Parabéns pelo seu conto. Gostei da narrativa mas o final deixou um pouco a desejar. Sucesso.

  37. Evandro Furtado
    16 de março de 2017

    Resultado – Average

    O grande mérito do texto é criar um personagem consistente e extremamente verossímil. Senti, no entanto, que o que falta no texto é intensidade, algo que confira ele aquele toque especial que faz com que se coloque fora do ordinário. Faltou ao autor arriscar.

  38. Rubem Cabral
    13 de março de 2017

    Olá, Exilado.

    Muito bom o conto. Eu já havia desconfiado que o Alfredo tinha algo do tipo, mas isso não estragou a experiência da leitura. O mote, do homem desmemoriado, que tem flashes da infância e associa a falta de ar ao personagem do folclore, foi muito feliz.

    Nota: 9.5

  39. Fernando Cyrino
    11 de março de 2017

    Uau, que bela história sobre a velhice, o esquecimento, a doença enfim que traz a solidão no esquecimento de tudo. Você escreveu um belo de um conto e que me trouxe mesmo a emoção. Até acho que devo relevar algumas repetições, principalmente de verbos e que nem erros são, mas em literatura precisam ser cuidados – do tipo haver/haver, e outros pequenos detalhes. Parabéns.

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Informação

Publicado às 10 de março de 2017 por em Folclore Brasileiro e marcado .