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Detox Literário.

O Diário – Conto (Antonio Stegues Batista)

whitechapel

WHITECHAPEL, LONDRES

1888

Ainda estou morando nessa pensão sórdida, mas é por pouco tempo. Achei que poderia ter um bom emprego em Londres, mas as coisas não saíram como eu esperava. Pretendo ir logo embora daqui, assim que o doutor Melvin pagar o que me deve. Londres é uma cidade suja, sombria e úmida. Tem dias que o nevoeiro cobre a cidade e as ruas são tomadas pelo cheiro de peixes podres, que vem do Tâmisa. Detesto esse bairro miserável, onde só vivem bêbados, artistas fracassados, velhos decrépitos e meretrizes.

Essas mulheres de vida fácil me incomodam mais do que o resto da humanidade, caindo em pedaços. Resolvi acabar com aquelas que me insultaram, por que fui obrigada a passar pela calçada fedorenta, no meio delas, mortas-vivas, bruxas que sugam a vitalidade dos homens para prolongar a juventude. Cortei a garganta de uma delas, a outra, abri sua barriga e coloquei as tripas sobre os ombros, como um colar. Retalhei o rosto de outra e cortei seus mamilos. Continuei matando, mas elas são como moscas sobre o lixo, mata-se umas logo aparecem outras.

A polícia está tonta, sem pistas e as notícias nos jornais só falam das minhas obras humanitárias, pois eu as ajudei a deixar aquela vida de doenças e pecados. Me chamam de Jack, o estripador. Eles acham que Jack é um homem!

Meu nome é Jaqueline, Jaqueline Bórgia, Jack, para os íntimos…

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7 comentários em “O Diário – Conto (Antonio Stegues Batista)

  1. Fheluany Nogueira
    14 de fevereiro de 2017

    Quem diria …o estripador é uma mulher! E da família dos sanguinários Bórgias. Deve ser neta da Lucrécia. Parabéns pela conexão. Gostei.

  2. sergioricardosite
    13 de fevereiro de 2017

    Muito bom.

  3. juliana calafange da costa ribeiro
    12 de fevereiro de 2017

    Antonio! A sua ideia é muito interessante. O Estripador ser uma mulher! E vc escreve muito bem, a leitura flui com gosto. Porém, senti falta de um pouco mais de desenvolvimento no seu conto, algum acontecimento talvez, q vc descrevesse, não sei, afinal Jack sendo mulher abre portas pra uma infinidade de caminhos e eu fiquei com gosto de quero mais. Também fiquei na dúvida: o texto é uma carta? Algum diário desvendado séculos depois por exploradores? Talvez vc devesse dar uma pista sobre isso, seria instigante. Em “mata-se umas logo aparecem outras” falta uma vírgula ou um “e” ali no meio… Sugiro que vc reescreva o conto, desenvolvendo mais essa sua ideia, q dá muito pano pra manga! Parabéns!

    • Antonio Stegues Batista
      12 de fevereiro de 2017

      Olá, Juliana! A ideia é essa mesma, de apresentar Jack, o Estripador como sendo uma mulher, já que sua identidade nunca foi descoberta. O texto seria parte de um diário de Jaqueline Bórgia,” encontrado anos depois em sua residencia, após sua morte.” Realmente, dá para reescrever o conto e acrescentar muito mais fatos horripilantes cometido pela mulher.

  4. Priscila Pereira
    12 de fevereiro de 2017

    Oi Antônio, então Jack era uma mulher? Muito interessante!!

    • Antonio Stegues Batista
      12 de fevereiro de 2017

      Olá, Priscila! O conto é baseado em fatos reais e essa hipótese foi levantada, não pela polícia na época, mas por historiadores.Como enfermeira, Jaqueline tinha algum conhecimento de anatomia e cirurgia. Era descendente dos Bórgias, aqueles do cinema, uma família de criminosos.

      • Priscila Pereira
        12 de fevereiro de 2017

        Muito legal, eu gostei bastante!!!
        Você poderia continuar a história…

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Publicado às 12 de fevereiro de 2017 por em Contos Off-Desafio e marcado .
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