EntreContos

Detox Literário.

Por um fio de memória (Anorkinda Neide)

iii

Por um tempo um tanto curto ousei acreditar no futuro. Sabem, aquela fé de que tudo seria melhor, mais bonito, mais fraterno, mais justo, blábláblá. Ainda bem que foi por pouco tempo. Certamente, a continuidade deste disparate teria me custado maiores e mais poderosos implantes de razoabilidade. Já é penoso conviver com os que por ora, possuo. Mais cedo ou mais tarde terei que me submeter aos novos dispositivos inibidores das sequências neuronais, estas responsáveis pelos sonhos e aspirações. A Lei nos obriga a atualizar-nos de tempos em tempos, eu sempre consigo postergar até o limite máximo que meu jogo de cintura alcança sem que sofra sanções, mas tem uma hora em que eu me rendo.

Para daqui a duas semanas está marcada a mini-cirurgia. Não sei porque sempre fico tensa, é rápido, indolor, mas minha consciência sofre espasmos. Não sonho mais e isto posta os meus olhos no chão, vivo em um estado depressivo dentro deste Estado opressivo. Não quero nem voltar aos idílios adolescentes de perfeição imaginária mas sinto falta das histórias que eu inventava na mente, me distraía, divertia, relaxava e sobretudo me sentia viva. Sou resistente, mente reativa, diriam, se soubessem de minhas reflexões. Sim, escondo meus pensamentos, finjo que sou mais uma autômata dentro do formigueiro. Mas, apenas percebo o que acontece, os desdobramentos, as entrelinhas e principalmente as consequências. Não posso dividir qualquer questionamento com qualquer pessoa, nenhuma é confiável. Todas são manipuladas em seus chips que pré-determinam suas escolhas e gostos pessoais… não tão pessoais assim, gostos padronizados. Também sou induzida até certo ponto, mas como disse, resisto tanto quanto posso.

Um resquício bem pequeno de memória me indica que um dia eu tomei conhecimento da palavra ‘meditação’, acho que é essa mesmo, lembro dela sempre que inicia-se o processo do implante. Será, novamente, dentro de poucos dias e fico angustiada com a proximidade da data. Repasso os passos, os momentos e os pensamentos que me assaltam durante o procedimento. Estou convencida de que aprendi em algum lugar a abstrair, resguardar a uma parte de meu cérebro uma certa autonomia. Algo que ainda me define como eu mesma, alguma individualidade. Faz tanto tempo que vivo assim… dividida entre o possível e o desejado, entre o proibido e o automático, que tudo antes disto aparece como neblina em noite fria com poucos pontos escassos de luz encobertos de incertezas.

E me sinto feliz, mesmo assim, pois há outros, muitos outros, a maioria, que nem mesmo tem a dádiva de sentir-se divididos, eles simplesmente são o que fizeram deles. Como foi possível que este sistema imperasse? Como é possível que as pessoas tenham desejado este destino e esta completa falta de autonomia? Lembro, também vagamente, de alguma discussão quanto as vantagens de se ser controlado e não precisar mais passar pela insegurança pessoal de tomar decisões. Por mais corriqueiras, elas desenvolviam ansiedades e o povo estava farto delas, doente. Optaram a pôr um fim a suas vidas de escolhas. O Sistema não foi imposto, não, foi um trabalho de convencimento, foi considerado uma salvação.

Às vezes, tenho alguns segundos de sonho durante o sono. Acordo sobressaltada, isso pode por tudo a perder. Pode danificar o implante e assim acabar denunciando que não estou completamente enquadrada no sistema. Mas isto não é nada perto do pavor que sinto quando ouço aquela voz… que é a minha voz, eu sei. É como se fosse e minha voz de velha, de quando eu ficasse velha, no entanto, nós não envelhecemos mais desde que a Corporação alterou nossos filamentos de DNA. Então, sinto pena do futuro natural que estou impedida de desfrutar… eternamente jovem e autômata… e ainda assim, preciso encontrar motivos para ser grata a minha resistência.

– Isabelle, você não está só…

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40 comentários em “Por um fio de memória (Anorkinda Neide)

  1. Leonardo Jardim
    16 de dezembro de 2016

    Minhas impressões de cada aspecto do conto:

    📜 Trama (⭐⭐▫▫▫): Embora não seja uma novidade, a premissa é muito boa. Faltou, porém, uma trama, algo que de fato acontecesse e me prendesse à narrativa. A narradora conta sobre o mundo, suas percepções e medos, mas senti falta de alguma cena ou acontecimento que desse mais movimentação à história.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): muito boa, com certo tom poético e filosófico. Só não consegui avaliar a construção de cenas e desenvolvimento de personagens porque o conto não trouxe isso.

    💡 Criatividade (⭐▫▫): como já disse, esse mote de reprogramar as mentes não é novo e o texto não teve muito espaço para trazer coisas novas.

    🎯 Tema (⭐⭐): apesar do pouco espaço, consegui sentir um pouco do clima cyberpunk.

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫): não tive uma trama para me agarrar, mas gostei do clima, das reflexões e do resultado.

    ⚠️ Nota 7,0

  2. Leandro B.
    16 de dezembro de 2016

    Oi, Rosenstar.

    Achei o texto bem escrito, com algumas passagens bonitas, ou com um jogo de palavras interessante, como, por exemplo, “Não sonho mais e isto posta os meus olhos no chão, vivo em um estado depressivo dentro deste Estado opressivo”

    Mas a narrativa ou a história, em si, não me prenderam muito. Acho que a falta de ação me afastou um pouco do texto. Claro, há quem goste de textos mais reflexivos e menos movimentados, então não é uma crítica a sua escrita.

  3. Renato Silva
    16 de dezembro de 2016

    Olá.

    Faltou uma história. Nada contra um personagem refletindo sobre sua existência, mas o conto poderia ter mais do que isso; havia muito espaço para narrar as aventuras ou desventuras das sua personagem. Eu realmente gostaria de saber mais sobre esse mundo (supostamente) cyberpunk e seus objetivos…

    Boa sorte.

  4. Bia Machado
    16 de dezembro de 2016

    Achei interessante o texto, mas havia espaço para mais ação e reflexão. Sendo assim tão curto, faltou desenvolvimento. O material que você tem aqui é muito interessante. Poderia ter inserido mais personagens, criado um conflito que desse mais pano para manga, mais dinamismo para a narrativa. Adoro essas temáticas relativas à memória, e fiquei com vontade de conhecer mais sobre a realidade da narradora. Que tal continuar? Desenvolver mais? De qualquer forma, foi um bom texto.

  5. Thiago de Melo
    16 de dezembro de 2016

    25. Por um fio de memória (Rosenstar): Nota 8
    Amigo(a) Entrecontista,
    Que ótimo o seu texto. É difícil encontrar textos curtos que consigam transmitir tanta profundidade. Gostei bastante das passagens iniciais: “ Todas são manipuladas em seus chips que pré-determinam suas escolhas e gostos pessoais… não tão pessoais assim, gostos padronizados. Também sou induzida até certo ponto, mas como disse, resisto tanto quanto posso”. Se trocar “chips” por TV, YouTube, Facebook e etc, deixa de ser ficção X-Punk e passa a ser documentário.
    E quanto à parte “Punk”, imagino que você receberá comentários questionando o enquadramento do seu texto no tema do desafio. EU, particularmente, gostei e achei bem enquadrado. Acho que não precisa ser um mundo sujo e decadente pra ser punk, basta haver um inconformismo com a realidade que cerca o personagem, e isso está bastante claro no seu texto.
    Apesar de não ser o meu preferido no desafio, gostei bastante. Parabéns.

  6. Pedro Luna
    16 de dezembro de 2016

    Um tipo de conto bem comum nos desafios, mas que aqui até agora só vi esse. O fluxo de consciência. Bom, tem clichês como “inibidores de comportamento”, essas coisas, mas não chega a incomodar. É bem escrito, mas o texto não empolga e também não emociona. A leitura passa rápido, mas não consegui me compadecer do drama da personagem. Talvez se o conto fosse um pouco maior e apresentasse mais sobre ela, além do que ela pensa sobre a terrível realidade que vive.

    Um trecho do conto diz que o sistema não foi imposto, e sim considerado uma salvação. Interessante esse pensamento sobre tecnologias que parecem a salvação, mas carregam em si um risco alto.

  7. Wender Lemes
    15 de dezembro de 2016

    Olá! Dividi meus comentários em três tópicos principais: estrutura (ortografia, enredo), criatividade (tanto técnica, quanto temática) e carisma (identificação com o texto):

    Estrutura: esse foi um conto até certo ponto controverso para mim. Os parágrafos longos costumam tornar a leitura cansativa, o que até ocorreu, mas o estilo poético e a imagem das pessoas inibindo suas capacidades criativas foram muito interessantes. Não tenho o que ponderar aqui sobre a adequação ao tema ou sobre a ortografia.

    Criatividade: o conto extrapola a ideia de um controle sobre nossa capacidade de decisão. Porém, deixa o questionamento: até que ponto somos realmente donos de nossas vontades? Claro, não há dispositivos físicos em nossas cabeças inibindo nossa memória ou capacidade de decisão, mas quem pode afirmar com certeza que nunca foi coagido a fazer algo que não queria o precisava fazer?

    Carisma: o conto, como diria um antigo professor meu, é uma pulga radioativa. Interprete isso como um baita elogio.

    Parabéns e boa sorte!

  8. Luis Guilherme
    15 de dezembro de 2016

    Boa tarde, querido(a) amigo(a) escritor(a)!
    Primeiramente, parabéns pela participação no desafio e pelo esforço. Bom, vamos ao conto, né?
    Gostei do teu conto! Conciso e interessante.
    Me pareceu um retrato meio sinistro da realidade, ainda que hiperbólico. Será que não é exatamente o que já vivemos? Um mídia manipuladora que forma opinião e cada vez mais detona o processo crítico das pessoas, e tal.
    Não quero viajar demais, mas parece que a autonomia e capacidade de criticar e formar opinião própria está cada vez mais sendo polida, e isso não encontra nenhuma resistência, ne?
    Enfim, parabéns pelo trabalho e boa sorte!

  9. Waldo Gomes
    15 de dezembro de 2016

    Bem escrito, bonitinho, meio sem sal, meio previsível, mas tá valendo.

  10. rsollberg
    15 de dezembro de 2016

    Por um fio de memória (Rosenstar)

    Caro (a), Rosentar.

    Esse conto pequenino é um Oasis nesse desafio, rs.
    A obra se sustenta no fluxo de consciência da personagem, em uma reflexão intensa sobre as transformações. Aparentemente, é possível perceber que esse medo do controle é algo bem presente nos dias atuais, basta ver a quantidade de contos nesse desafio que trazem esse tema a superfície.

    Creio que o mérito de “Por um fio de memória” é se ater ao personagem, usando uma pegada mais intimista para apresentar as consequências das mudanças. Fazendo o caminho de dentro para fora, ao invés do costumeiro “mostrar o mundo” para depois entender os personagens.

    A narrativa é bem direta, mas confesse que senti falta de algumas frases mais elegantes e passagens mais inspiradas.
    A imagem escolhida para ilustrar o conto é ótima.

    De qualquer modo um conto acima da média.
    Parabéns e boa sorte.

  11. mariasantino1
    15 de dezembro de 2016

    Olá, autor(a)!

    Poxa, o seu conto foi um dos que mais gostei e darei sim mais um dez por essas bandas. Vc consegue a façanha de mandar o recado em poucas linhas, mas mesmo assim ainda cabe divagações e belíssimas construções frasais que fazem refletir— “vivo em um estado depressivo dentro deste Estado opressivo.” –- Já passa o recado quanto ao governo e a luta interna em não ser controlada. “finjo que sou mais uma autômata dentro do formigueiro” –- Uma imagem perfeita de sistema onde cada um faz a “sua parte” sem questionar (dentre outras visões mais profundas). “dividida entre o possível e o desejado, entre o proibido e o automático,” –- vazão à angústia e o fluxo de consciência da personagem na medida certa para criar vínculo e/ou nos mostrar que ela é gente como a gente. “a maioria, que nem mesmo tem a dádiva de sentir-se divididos, eles simplesmente são o que fizeram deles.” –- Muito bom para mostrar a mágica do livre arbítrio.
    Tem algumas besteirinhas de nada quanto à revisão (me perdoe falar disso, porque eu mando muito mal nesse assunto), mas o recado é claro, dentro do tema e com uma simplicidade e concisão que dá inveja. Paro por aqui.

    Boa sorte no desafio.

    Nota: (10)

  12. angst447
    14 de dezembro de 2016

    Olá, autor!

    Antes de mais nada, esclareço que não levarei em conta a adequação ou não do conto ao tema proposto. Não me considero apta para tal.

    Alguns poucos lapsos de revisão:
    sempre que inicia-se > sempre que se inicia
    de sentir-se divididos > de se sentirem divididos
    como se fosse e minha voz de velha > como se fosse a minha voz de velha

    A narração em primeira pessoa, de uma mulher robotizada, tendo suas memórias apagadas, sem perspectivas de uma velhice natural. DNA manipulado, mas ela ainda tenta fingir que é igual a todos, mais uma formiga em meio a tantas outras. O conto é todo uma reflexão da personagem/narradora sobre sua atual condição.

    Apesar de curto, o conto sofre de uma lentidão inesperada em alguns trechos. Talvez seja o tom melancólico dado pela narradora, que já perdeu a esperança de um futuro melhor, pois sabe que nada mudará.

    O ritmo poderia ser um pouco menos arrastado, mesmo que isso aliviasse um pouco o tom pesado dado à narrativa. Confesso que achei um tanto depressivo o seu conto.

    Boa sorte!

  13. Daniel Reis
    13 de dezembro de 2016

    Rosenstar, seguem minhas impressões:
    PREMISSA: um monólogo com elementos opressivos de fuga da realidade. Punk o suficiente, para mim.
    DESENVOLVIMENTO: tal como dito, o monólogo parece parte destacada de uma história, oferecendo, aqui e ali, elementos de construção do contexto.
    RESULTADO: a gente fica se perguntando: “e daí?” Para onde iria essa história? Até onde ela pode chegar?

  14. cilasmedi
    13 de dezembro de 2016

    Mini-cirurgia = mini cirurgia. Colocação incorreta do pronome átono: inicia-se = se inicia.
    Acordo sobressaltada, isso pode por tudo a perder = pôr – transitivo indireto. Um conto despretensioso, sem nenhuma construção mais elaborada de personagem. Não gosto de contos sem interação, sem diálogos, sem mensagem adequada. As considerações de quem lê não são nunca, de quem as escreve, evidente, mas a opinião é de que não atendeu ao desafio corretamente. Nota 6,5.

  15. Ricardo de Lohem
    13 de dezembro de 2016

    Olá, como vai? Vamos ao conto! Reflexões de uma pessoa vítima de um governo opressor que controla a população como implantes de chips. Pouco enredo, curto demais, tema já muito visto inumeráveis vezes aqui no desafio e na literatura distópica em geral. Já estou ficando anestesiado de tanto governo opressor, por isso não vou me alongar. Não tenho muito o que dizer. Bastante fraco e sem originalidade. Mesmo assim, desejo Boa Sorte.

  16. Fil Felix
    12 de dezembro de 2016

    GERAL

    Conto muito bom sobre memórias, sonhos e auto-consciência. Temas que me agradam muito. O formato mais curto e conciso também ajudam a facilitar a leitura, deixando bem fluida e tranquila. Se posso dar um pitaco, só achei a frase final um pouco fora da curva. Ela tenta expandir a ideia do conto, mas se tivesse ficado dentro da personagem, focando nesse conflito cotidiano, teria sido mais interessante.

    O X DA QUESTÃO

    Apesar da “rebeldia” da protagonista, não há muito de punk aqui, mas ainda conversa com a ficção científica, as modificações corporais e um governo opressor. A imagem que visualizei ao ler é de uma narrativa clean, bastante polida, passa a idea de rebanho e produção em massa, padronização da sociedade. Nos leva além, isso é sempre bom!

  17. Jowilton Amaral da Costa
    10 de dezembro de 2016

    É um texto reflexivo que não me fisgou. Achei a narrativa com boa técnica. Alguns contos do desafio são desta mesma forma, reflexões sobre um futuro avançado tecnologicamente onde se perde a humanidade, mas, sem trama empolgante, acho mesmo que este nem trama tem. Boa sorte no desafio.

  18. Marco Aurélio Saraiva
    9 de dezembro de 2016

    Uma reflexão interessante. Isabelle é uma personagem complexa, que você conseguiu desenvolver muito bem em tão pouco espaço. Não tem como não se sentir atraído por ela e querer saber mais dela.

    Pena que tudo acaba rápido demais.

    Este tipo de conto é tão interessante quanto é frustrante. São “cápsulas de histórias”. Você toma e ela desce pela garganta tão rápido que, quando vê, já acabou, e você fica querendo mais, tendo a certeza de que nunca lerá nada que continue a história. Eu queria conhecer Isabelle melhor. Queria saber o que aconteceu com ela.

    A escrita está impecável. Muito bem disposta e muito bem feita. Legível, natural e bela. Vi um pequeno detalhe abaixo, mas é bobo:

    => “…os que por ora, possuo.” – Acho que essa vírgula está no lugar errado.

    Destaque especial para a frase abaixo. Muito bela!

    “Faz tanto tempo que vivo assim… dividida entre o possível e o desejado, entre o proibido e o automático, que tudo antes disto aparece como neblina em noite fria com poucos pontos escassos de luz encobertos de incertezas.”

    Parabéns!

  19. catarinacunha2015
    9 de dezembro de 2016

    Tenho um carinho especial por textos reflexivos e deprimidos. Neste me interessei porque o começo é muito forte, lança o leitor imediatamente nas neuras e resistência da personagem. Mas depois, talvez por não engrenar em uma trama substancial, se perde na “meditação”. Ficou um bom começo para um conto.

  20. vitormcleite
    8 de dezembro de 2016

    A frase inicial é bem demonstrativa do que vem. Muitos parabéns, gostei muito deste texto. Não vou dizer nada sobre a leitura, senão que vou ler uma outra vez.

  21. Amanda Gomez
    7 de dezembro de 2016

    Olá, autor(a)

    Tenho que dizer que o conto não me cativou, é rápido, são apenas indagações da personagem sobre seus estado de existência, nem mais nem menos que isso. Através de um relato pessoal a personagem nos dá uma ideia do que acontece no mundo e como é a vida dela.

    O texto é curto e não explora muita coisa, o que não me permite ter uma ideia melhor de como avaliar o texto. Foi uma leitura tranquila, sem pretensões. Não sei se essa é a mensagem que o autor quis passar. Mas foi o que consegui absorver.

    Boa sorte no desafio.

  22. Evandro Furtado
    7 de dezembro de 2016

    Gênero – Good

    Há um certo sentimento de angústia nesse futuro distópico que rege esse mundo “punk”. Apesar de o autor não ter se aprofundado nisso, foi, de certa forma, suficiente.

    Narrativa – Good

    A narrativa me primeira pessoa busca por uma faceta mais intimista. O objetivo é bem alcançado.

    Personagens – Average

    Falta desenvolvimento nesse aspecto. Às vezes menos é mais, não foi o caso aqui.

    Narrativa – Average

    Passamos mais por uma reflexão do personagem-narrador do que por uma história propriamente dita. Há um pano de fundo que o autor começou a desenvolver, mas não avançou.

    Balanceamento – Average

    Mais um conto com potencial para algo maior, mas que peca pela economia.

    Resultado Final – Average

  23. Davenir Viganon
    7 de dezembro de 2016

    Olá Rosenstar
    Gostei bastante. Narrativa simples, reflexiva, mostrou entendimento do tema e ainda fez uma boa reflexão sobre a tecnologia. Ficção Científica é isso, falar do hoje usando o futuro, fazendo especulações.
    O futuro que temo é um pouco diferente dos que imaginam Estados Totalitários que vigiam todos nossos passos e nos obrigam a seguir mas tem mais a ver com um onde não podemos dizer não aos estímulos que nos são oferecidos, o consumo desenfreado. Você chegou a tatear isso [ou talvez tenha enxergado sozinho…] Enfim, só por me fazer pensar esse conto já valeu. Foi um dos que mais gostei.

    “Você teria um minuto para falar de Philip K. Dick?”
    [Eu estou indicando contos do mestre Philip K. Dick em todos os comentários.]
    Como nos outros contos que abordaram as manipulações de sonhos e lembranças, eu recomendo “Podemos recordar para você por um preço razoável” do Philip K. Dick. Teu personagem guarda algumas semelhanças com ele. Acho que vais gostar.

  24. Bruna Francielle
    6 de dezembro de 2016

    Tema: Razoavelmente punk. Tem certa revolta contra o sistema, mas bem de leve, e a personagem na verdade parece aceitar a situação em que se encontra e não planeja nada para mudá-la.

    Pontos fortes: fluidez
    – Boa escrita
    – Descreve bem, consegue passar para o leitor o que você havia imaginado
    – O “mote” do conto foi interessante. Padronização de humanos, fim da individualidade. É algo para se pensar

    Pontos fracos: como teve um bom mote, acho que talvez pudesse ter sido mais aproveitado. Mas deu para entender.
    – Sinto que o que li foi uma sinopse. Descreveu como era o mundo, como ela era, uma ambientação e apenas isso.

  25. Sick Mind
    6 de dezembro de 2016

    Nem toda ficção científica precisa ser “Hard”, esse texto é uma prova disso. Porém, não sobra muita coisa além dos lamentos da personagem, em momento algum ela propõe alguma mudança, alguma subversão a ordem, ou seja, o elemento “punk” está muito apagado. Além disso, não sei se uma personagem feminina tão sentimental, que se mostra passiva aos seus problemas, seria um clichê interessante para ser trabalhado, pois a literatura vive um grande momento de representatividade, onde as mulheres são o oposto desse comportamento frágil. Há algumas frases que rimam, particularmente acho isso brega, mas há quem goste.

  26. Rubem Cabral
    6 de dezembro de 2016

    Olá, Rosenstar.

    É um conto bonito, mas é também quase tão-somente um esboço de conto. Há apenas uma pincelada de enredo e mesmo as reflexões da personagem são muito breves. Começamos a gostar dela, a entendê-la e… fim!

    Há umas coisinhas para arrumar na escrita, mas bem pouca coisa.

    Nota: 7.

  27. Eduardo Selga
    6 de dezembro de 2016

    Quando o conto não está centrado no elemento mais comumente explorado, a ação, de um modo geral os outros aspectos sobre os quais as luzes da narrativa repousam são personagem e linguagem. Neste Desafio é possível encontrar alguns bons exemplos de narrativas centradas numa ou noutra perspectiva, abandonando a ação. É claro que não existe, felizmente, fórmula mágica ou inconteste quanto à construção de uma narrativa literária, mas me parece que a ação é decorrência do personagem (não o contrário), e esse é conduzido pela linguagem. Esta é, portanto, determinante num conto.

    “Por um fio de memória” é a reflexão da narradora-personagem sobre sua condição de, por assim dizer, “implantada”. Logo, a linguagem deixa de ser condutora da ação para assumir grande relevância, na medida em que passa a constituir as características da personagem.

    A linguagem, por vezes poética, encaminha a personagem na resistência a um sistema de domínio do sujeito. No entanto, em uma sociedade desarticulada politicamente, conforme é possível aferir do texto, as resistências são muito frágeis porque concentradas em atitudes individuais, como no caso da personagem, cuja rebeldia se limita a conseguir ter “um resquício bem pequeno de memória” e “às vezes, […] alguns segundos de sonho durante o sono”.

    O Estado presente no conto é o mesmo de vários outros desse Desafio, ou seja, autoritário. Aliás, no chamado mundo real essa é uma característica que é intrínseca ao Estado pós-moderno, ainda que por vezes disfarçado de democrático. Os enredos supostamente punks que projetam um futuro sem liberdade, nada mais fazem do que lançar ao futuro algo que muito fortemente existe hoje, com uma pitada de elementos que façam com que o leitor do Desafio associe o enredo à temática.

    Voltando ao conto em análise, para além de um Estado que manipula sujeitos com “[…] seus chips que pré-determinam suas escolhas e gostos pessoais… não tão pessoais assim, gostos padronizados”, há um dado interessante, que serve inclusive para os dias atuais: os cidadãos querem ser controlados, foram pacientemente convencidos a isso. Um autoritarismo que não usa a força bruta, portanto.

    O desfecho apresenta uma ambiguidade instigante. A “fala” “Isabelle, você não está só…” é a representação da voz que a personagem ouve durante o sono e que ela supõe ser a sua própria ou é de outra personagem, incógnita, considerando que a narradora está desperta? Aparentemente a resposta é simples, dado que ela não tem dúvidas: “é como se fosse e minha voz de velha, de quando eu ficasse velha […]”. mas há um elemento complicador: as pessoas não envelhecem mais, na sociedade em questão.

    Gostei, na estrutura textual, do contínuo e acertado uso de vírgulas com efeito estético, principalmente no segundo parágrafo. Tem relação com a angústia citada no terceiro parágrafo.

    Algumas observações gramaticais.

    Em “fé de” há um CACÓFATO.

    Em “já é penoso conviver com os que por ora, possuo” não há a VÍRGULA.

    Em “novos dispositivos inibidores das sequências neuronais, estas responsáveis pelos sonhos e aspirações” o pronome ESTAS é totalmente dispensável.

    Em “[…] mas tem uma hora em que eu me rendo” o verbo TER está no lugar de HAVER.

    Em “quanto as vantagens” é preciso o acento indicativo de CRASE.
    Em […] isso pode por tudo a perder”, o correto é PÔR.
    A construção “[…] de quando eu ficasse velha […]” me parece estranha, porque QUANDO é indicativo de FUTURO DO SUBJUNTIVO. Nesse caso, seria QUANDO EU FICAR VELHA. A forma FICASSE só cabe no imperfeito do subjuntivo, mas aí seria SE EU FICASSE.

    Em “[…] lembro dela sempre que inicia-se o processo do implante” o correto é SE INICIA.

    Coesão textual: alguns erros prejudicaram.

    Coerência narrativa: alguns erros de coesão atingiram a coerência.

    Personagens: bem construída, embora, em minha opinião, não apresente grande dificuldade.

    Enredo: o enredo é um fio, não tem grande importância no conto para efeito de sentido. Como disse, a relevância maior está na linguagem e na personagem.

    Linguagem: adequada, com uso do poético e de um ritmo ora angustiado, ora pensativo.

  28. Fabio Baptista
    5 de dezembro de 2016

    Está bem escrito, mas esse monólogo introspectivo não chegou a formar uma trama. É possível imaginar o cenário (que foi o mesmo cenário de boa parte dos contos do certame) e até pensar em nossa própria realidade, nessa questão de tomar decisões e tal. Imagino que boa parte da população abdicaria das escolhas, por pura preguiça ou comodidade. Eu mesmo, às vezes acho que abdicaria hauhaua.

    Enfim… um bom texto, que infelizmente não funcionou muito bem como conto.

    NOTA: 7

  29. Pedro Teixeira
    4 de dezembro de 2016

    O texto é bem escrito, limpo, bem revisado. Infelizmente, o fiapo de trama apresentado não me instigou. É uma distopia um tanto genérica, sem elementos de cyber, pós ou biopunk, que acaba de uma forma abrupta, bem no momento em que a gente pensa que o enredo vai começar pra valer. A verdade é que depois de obras-primas como 1984 e Admirável Mundo Novo é necessário algo muito forte e com elementos novos pra realmente motivar a leitura. Enfim, bem escrito, mas sem impacto, além de dar a impressão de que faltou uma boa parte da estória.

  30. Priscila Pereira
    3 de dezembro de 2016

    Oi Rosenstar, seu texto é muito gostoso de ler, está bem escrito. Achei a ideia original, perigosamente realista. Quem sabe um dia seja assim… Gostei muito mesmo. Pena que é tão curto… Parabéns!!

  31. Paula Giannini - palcodapalavrablog
    1 de dezembro de 2016

    Olá, Rosenstar,

    Tudo bem?

    Mais um microconto no desafio.

    Quando seu conto acabou fiquei pensando. Mas por quê? Você escreve muito bem e seu conto inteiro, para mim, era uma introdução ao que viria pela frente.
    Fiquei esperando o desfecho e “– Isabelle, você não está só…”, para mim, seria uma introdução para o início do ponto de virada.

    Bem… Gostei de sua verve. Não sei se é nova(o) por aqui, mas espero ver mais em outros desafios.

    Parabéns por seu trabalho e boa sorte no desafio.

    Beijos

    Paula Giannini

  32. tatiane mara
    1 de dezembro de 2016

    Que lindo conto. Um desabafo emocionante.

    Bela escrita, fluida e contagiante.

    É isso.

  33. Fheluany Nogueira
    30 de novembro de 2016

    Rosenstare, quase o pseudônimo de autor(a) é, em sueco, o nome de uma ave migratória do Leste da Europa para o Sul da Ásia. Não sei se é acaso, mas ficou sugestivo para o conteúdo do conto que leva o leitor a uma série de imagens, com estrutura clara e recheada de informações e divagações, como as visões de um pássaro em voo.

    É uma TRAMA intimista; os aspectos psicológicos da personagem e elementos futuristas colocam o texto dentro de proposta do Desafio; bem escrito, sem deslizes gramaticais, com leitura fluente e agradável. É um fluxo de consciência, que ao final surpreende com a fala, não sei se da própria narradora ou de alguém que tem os mesmos sentimentos.

    O título e a ilustração estão bastante interessantes. Enfim, um trabalho muito bom. Parabéns! Abraços.

  34. Gustavo Castro Araujo
    30 de novembro de 2016

    Um conto aflitivo. Curiosamente, relaciona-se com o conto Ctrl-X, que trata da droga utilizada por um Estado totalitário para manter a população sob controle. Aqui, é como se a narradora fosse uma das pacientes usuárias do Ctrl-X, no caso prestes a se submeter à droga. Nesse momento, bate-lhe uma clarividência efêmera, quando se torna possível avaliar a realidade em que vive: uma sociedade automatizada, com indivíduos que perderam as noções de si mesmos e que se comportam de maneira coletiva em prol do Estado. Ninguém mais envelhece, ninguém mais critica, ninguém mais pensa. O livre arbítrio foi vendido como algo ruim e por isso extirpado. Todos agem conforme o interesse geral. Embora fictícia, essa realidade que nos é passada faz pensar se não há, hoje, no mundo em que vivemos, a intenção de fazer-nos comprar uma ideia anacrônica como algo bom. Impossível não levar esse raciocínio para diversos campos, inclusive o ideológico. Por isso tudo, o conto merece aplausos, eis que faz pensar e angustia o leitor. Demais disso, está muito bem escrito, permeado por uma melancolia tocante traduzida no conformismo de Isabelle quanto ao implante inevitável – atmosfera que me fez lembrar o excelente livro “Não me Abandone Jamais”, de Kazuo Ishiguro. Só lamento por ter sido curto, pois com uma premissa desse quilate haveria espaço para bem mais.

  35. Brian Oliveira Lancaster
    29 de novembro de 2016

    TREM (Temática, Reação, Estrutura, Maneirismos)
    T: Uso de argumentos de forma intrigante. Os microchips e perda de liberdade estão ali, desde o início. O método da reflexão permite detalhes incorporados ao diálogo interno, o famoso “show don’t tell”. – 9,0
    R: Gostei, apesar de parecer apenas um fluxo de consciência momentâneo. É um texto curto, de profundidade ímpar, mas não sei se compreendi muito bem o final. Ela falava com alguém? Ou era ela mesma, ouvindo sua própria segunda voz (contendo a primária, presa em seu subconsciente)? Enredo um tanto nebuloso, que nos leva a querer saber mais. No meio de tantos textões, este traz um alívio, mas ainda assim senti que o autor poderia iluminar-nos com mais detalhes. – 8,0
    E: Não há muito o que dizer. Concisa. Eficiente. Suficiente? Para o foco aplicado, sim. – 8,5
    M: Escrita bastante firme, competente, experiente. – 9,0
    [8,6]

    • Brian Oliveira Lancaster
      29 de novembro de 2016

      Esqueci de dizer: imagem excelente, remete à uma obra de arte (Picasso ou algo assim).

  36. olisomar pires
    27 de novembro de 2016

    Não chega a ser uma surpresa, mas o conto é bem escrito e flui tranquilamente, não há reviravoltas ou sensação de que aconteçam, diria ser um conto resignado: falei e pronto.

    Boa sorte.

  37. Zé Ronaldo
    27 de novembro de 2016

    Esse texto me lembrou bem “Admirável mundo novo”, a temática é quase idêntica, o que significa que é muito boa.
    O texto tem fluência, lê-se sozinho, movimenta fácil. Apesar da ausência de diálogos, (com exceção da linha final) que auxilia muito no dinamismo do texto, ele é de leitura fácil, sim.
    A personagem-narradora é bem construída e forte. Bem elaborada.
    O texto está bem estruturado, a conclusão foi muito boa. A frase final é impactante. Seria um belo primeiro capítulo de um romance.
    Fica a dica.

  38. Dävïd Msf
    27 de novembro de 2016

    Muito bom!!! Simplesmente fiquei em dúvida (e ela ainda permanece) se estava lendo uma história fictícia ou uma descrição de algo se passando nos dias de hoje…

  39. Evelyn Postali
    26 de novembro de 2016

    Oi, Rosenstar,
    Gostei dessa reflexão toda. Remeteu-me à Matrix assim como o conto anterior. Não sei se é possível arrancar nossas memórias de nós. Elas estão impregnadas. Mas sua escrita é ótima e eu li o conto de uma maneira relativamente rápida. Apesar de curto é intenso. E delicado.
    As construções das frases são claras e tudo se torna coerente.
    Parabéns pelo conto.

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Informação

Publicado às 25 de novembro de 2016 por em X-Punk e marcado .
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