Meio de semana de um mês frio e garoento qualquer. Julho, talvez Agosto. Ivan Petrovic toma banho, com uma demora não costumeira. Relembra a infância: algum evento bobo que se desvencilhou temporariamente das redes do esquecimento – uma troca de bilhete com a primeira namoradinha, um gol marcado na Educação Física, uma resposta imbuída de precisão e sagacidade notáveis que deixou o professor de Biologia com cara de sabonete neutro e fez a sala cair na gargalhada, ou algo assim. Ivan perde-se em pensamentos que são só seus e um sorriso jovial escapa ao semblante talhado sisudo pelo tempo, enquanto a espuma do shampoo anti-queda teima em encontrar caminho orelhas adentro.
Depois, toalha enrolada à altura do umbigo, Ivan para defronte o espelho e limpa o vapor com o antebraço. Rugas a mais, fios de cabelo a menos: nenhuma novidade. “Vai se acostumando, que agora é ladeira abaixo, meu amigo…”, era o que sempre dizia ao reflexo. Haveria de se acostumar: ora, nessa vida acostuma-se a tudo! Acostumou-se ao próprio nome: “Ivan Petrovic Pastazzo”, que, segundo o próprio, parecia nome de filho de escritor russo com puta italiana, nome de cachorro, de jogador húngaro da Copa de 54… nome de um monte de coisa, menos de gente. Pelo menos não de gente que mora no Brasil e trabalha em escritório de contabilidade. “Ivan Petrovic Pastazzo… nem combinar combina!”. Não combinava, mas acostumou-se. Ao nome, à separação, ao fato de não ser o amor da vida do amor de sua vida, à completa falta de talento musical (seu “Plano A” era ser vocalista-guitarrista-pega-todas-as-fãs-no-camarim), à incapacidade de passar no vestibular de medicina (esse era o “Plano B”), à infância que, por nuances na árvore-genealógica que levariam meio Dostoiévski para explicar, foi composta por muitas viagens e pouca companhia dos pais.
“A gente se acostuma…”, sempre concorda o velho careca que vive atrás do espelho.
Ivan vai à cozinha e puxa uma garrafa da geladeira, menos por vontade que por costume, e reflete se um dia perderia o gosto pela cerveja, assim como perdeu pelo xadrez, pelos gibis do Hulk que tanto gostava na infância, pelas revistas proibidas para menores de dezoito que tanto gostava… até completar dezoito. Assim como perdeu por tantas outras coisas que tinha até medo de enumerar. Sem chegar a qualquer veredicto, Ivan Petrovic Pastazzo, long-neck e controle-remoto em punho, atira-se à poltrona e liga a TV. “Caramba, já começou?!”, pensa, conferindo o relógio com um amálgama de surpresa e indignação – definitivamente havia algo errado, as horas não passavam tão rápido assim antes. “Putz grila, e o Palmeiras já tomou gol…”, constata, com a decepção descendo amarga (mas ao menos gelada) pela garganta. Chega uma hora em que as vitórias já não são comemoradas com tanta alegria e as derrotas não são choradas com tanta tristeza, mas… “esse time é de fazer São Gennaro descer do altar pra mandar todo mundo tomar no meio do cu, puta que pariu”.
O primeiro tempo arrasta-se em erros que fariam corar jogadores varzeanos. Antes dos acréscimos, o Palmeiras empata, mas o autor do tento é um centroavante queimado com a torcida e Ivan nem comemora, apenas entorna a terceira cerveja e sentencia: “o Evair velho, gordo e com uma perna só é melhor que essa merda que veio do Vitória”. Intervalo. Ivan vai à janela. É ali que assiste ao verdadeiro evento digno de nota do meio de semana. É ali que ela aparece, toda quarta-feira.
Carminha.
A ninfa que por mais de 20 anos alimentou as fantasias da macharada do Bloco B, desfilando pelo quarto como veio ao mundo, com dois exemplos gêmeos da palavra “perfeição” apontando para o teto. Carmen. Ah, Carminha! Ao contrário da defesa alviverde, ela nunca falhava. Enquanto a reprise dos gols passava na TV, lá estava ela, andando aleatoriamente ao redor da cama, fingindo procurar algo nas gavetas, provando calcinhas ainda etiquetadas, conferindo, com preocupação quase palpável, se alguma celulite aparecera para conspurcar aquelas nádegas que fariam inveja a Feiticeiras, Tiazinhas, garotas-da-banheira, Panicats, ou quaisquer que fossem as ajudantes de palco do momento.
O espetáculo era mais certo que hora-extra na última semana de declaração do I.R., mais pontual que Missa do Galo. Mas só no meio do jogo. Quando acabavam os campeonatos, acabava também a Carminha – o que fazia o período entre um torneio e outro ser ainda mais tediosamente insuportável que de costume. O que motivava esse comportamento era, ombreando com Área 51 e o porquê da cerveja congelar quando se pega no meio da garrafa, um dos grandes mistérios da humanidade. Na primeira vez em que a viu, Ivan sentiu-se um cavaleiro da távola redonda dando de cara com o cálice sagrado, um Allan Quatermain descobrindo as minas de ouro do Rei Salomão.
No início, os contatos visuais eram dados à socapa – espiadelas de soslaio por detrás da persiana. Com o hábito e, principalmente, com a falta de uma reprimenda por parte da moça, a discrição foi sendo deixada de lado gradualmente, até converter-se num descaramento de quase meio corpo debruçado ao parapeito, em busca do melhor ângulo que só a “câmera exclusiva” de sua janela poderia propiciar. Por São Marcos e Santo Ademir da Guia, estavam ali todos os ingredientes de uma reação química-hormonal explosiva: a excitação do voyeurismo enredada numa aura de incerteza e expectativa, só saciada quando a luz acendia no apartamento da frente, o receio de ser pego pela esposa (quando ainda havia uma esposa) e, sobretudo, o medo de que Carminha comprasse uma cortina. Pouco importava o que tivesse acontecido em campo nos 45 minutos anteriores ou o que estava para acontecer depois. Para Ivan Petrovic o mundo resumia-se aos peitos, às coxas, ao posteriore e à depilação pubiana da vizinha do Bloco C.
E o mundo não podia ser um lugar mais bonito.
Mas isso foi no começo. Agora, desafortunada e irreversivelmente, Carmen avançava a olhos vistos (literalmente) do balzaquianismo para a “meia idade”, com celulites e estrias cobrindo-lhe o corpo com a voracidade de uma praga do Egito. Seus faróis já não brilhavam tanto e, sem sutiã, iluminavam mais o chão que o teto, mas, ainda assim, os “desfiles” continuavam. E Ivan Petrovic, que com toda razão dizia ao velho careca atrás do espelho que “também não estava virando nenhum Brad Pitt”, sempre assistia: depois de alguns anos, menos por gosto que por costume, assim como a cerveja e quase tudo mais, é verdade. Mas assistia. Até aquele meio de semana de um mês frio qualquer.
Naquela quarta-feira, Carminha não apareceu.
Ivan fica inquieto na sala, anda de um lado para outro, coça a cabeça, força a vista para tentar ver algum vulto transitando no quarto escuro do Bloco C, abre a geladeira para conferir se não apareceu nada ali nos últimos dez segundos, volta à janela, chega a ter o ímpeto de perguntar a plenos pulmões – “Carminha, tá tudo bem?”, mas atira-se novamente à poltrona antes que cometa essa ou outra insanidade similar. Levanta de supetão, como se abelhas de campana no estofado acabassem de lhe ferroar o traseiro gordo. Torna a conferir o apartamento da frente, com mais ansiedade que conferia mega-sena da virada. Nada. “O que será que aconteceu? Deve ter mudado… mas depois de tanto tempo? Será que foi viajar?”.
Então, de um jeito tão inverossímil quanto só a vida pode ser, a campainha toca. Ivan desliga a TV, abre a porta e qual não é sua surpresa ao notar que não era outra senão a Carminha quem estava ali, em carne, osso e algumas rugas e pés-de-galinha que a distância entre os blocos ocultava. Ivan parece ter visto um fantasma: engole seco, molha os lábios, ajeita o que sobrou do cabelo, respira fundo.
— Oi… – ela quebra o silêncio, com um sorriso tímido.
— Oi… – Ivan responde, com uma interrogação cintilando na testa.
— Eu sou… sua vizinha. Lá do outro bloco. – A moça diz, apontando a direção do “outro bloco” com o queixo.
— Ah é? Do… do Bloco C? – Ivan Petrovic gagueja e olha para trás.
— É… do Bloco C…
— Huuuum… – Ivan balança a cabeça para cima e para baixo, admirado como se acabasse de ouvir a fórmula da Coca-Cola.
Carminha continua parada sobre o tapete com os dizeres “Seja bem-vindo” à soleira. Dois segundos que se afiguraram como uma eternidade depois, ela diz, esgueirando o olhar para dentro do apartamento:
— Você por acaso tem um pouco de açúcar aí?
— Açúcar? – Ivan enruga a testa, arqueia as sobrancelhas e contorce todo o semblante ao perguntar.
— É… açúcar. Tipo que adoça as coisas e tal. Sabe? – Agora Carminha sorri com o rosto inteiro, um sorriso que derreteria metade das calotas polares, elevaria o nível do mar em cinquenta metros e destruiria todas as cidades litorâneas do planeta.
— Putz… acho que tenho. – A Ivan não resta outra opção a não ser sorrir também. – Será que açúcar estraga rápido? Tenho que conferir a va… aliás… você quer entrar?
— Ah, quero sim… ‘brigada. – Ela responde, encolhendo os ombros e já dando dois passos sala adentro.
— Fica… fica à vontade, Carminha… vou ver se acho o açúcar. Tá a fim de uma cerveja? – Ivan oferece, enquanto vai até a cozinha e pensa “que diabos está acontecendo aqui?”.
— Ah, se tiver sobrando, quero sim…
— Tá, já te levo. Coloquei na geladeira hoje, ainda não tá trincando do jeito que eu gosto, mas…
— Nossa… – Carmen interrompeu. – Aqui da sua janela dá pra ver direitinho o meu apartamento. Bem de frente…
— Sério?
— É…
Ivan treme, acometido pelo calafrio que visita todas as terminações nervosas daqueles que tiveram suas iniquidades desmascaradas e expostas do jeito mais humilhante possível. Despeja metade do saco de açúcar num pote plástico. E a outra metade na pia, enquanto tentava encher o pote. “O que essa mulher tá querendo aqui, meu Deus do céu?”, pensa. Obviamente era um jogo, mas com qual finalidade? Nunca foi bom em desvendar mistérios femininos, captar nuances da linguagem corporal, ler entrelinhas de frases que por vezes soam desconexas. Provavelmente por isso nunca fez muito sucesso nas interações com o sexo oposto. Mas agora não importava. Ivan leva o açúcar e a cerveja, toma coragem e respira fundo preparando-se para dizer: “olha… desculpe por ter ficado te espiando aí na janela nos últimos… vinte anos…”. Mas desiste na última hora e diz apenas:
— O açúcar vence dia 30. Melhor deixar na gelad…
— Como você sabe meu nome? – Carminha pergunta, sem medir consequências, feito esposa que pede para ver whatsapp do marido, pupilas grudadas no olhar acuado de Ivan.
— Oi? – Ivan tenta ganhar tempo.
— Acabou de dizer: “fica à vontade, Carminha”. Como sabe meu nome?
A verdade completa seria: “Eu sei que seu nome é ‘Carmen Fragoso Pereira dos Anjos’ porque fiquei quase dois meses cativando amizade do zelador lá do seu bloco, pra ele me mostrar uma correspondência sua e eu poder pesquisar na Internet pelo nome completo. Achei seu perfil, mas nunca tive coragem de te adicionar”. Mas a questão era apenas o nome, nada acerca de sobrenomes havia sido mencionado. Então, após rápida negociação com sua consciência, Ivan decide que a meia-verdade serviria a contento:
— É que logo que eu mudei pra cá… fui numa reunião de condomínio. Sua mãe também foi e te levou. Parecia que você estava de castigo, ou algo assim, não sei… sua cara não estava de muitos amigos. E ela falou seu nome… algumas vezes.
— Ai, eu lembro! – Carmen dá uma risada gostosa e entorna a garrafa. – Minha mãe era barraqueira, né?
— Bom, eu não ia falar nada, mas… acho que ela foi a principal responsável por eu ter desenvolvido reuniãodecondomíniofobia.
Carminha quase cospe a cerveja. Os dois caem na gargalhada. Mais um gole. Mais risadas. Depois, o silêncio constrangedor da falta de assunto. Constrangedor para Ivan. A visitante inesperada parecia controlar a situação e divertir-se à custa da evidente afobação do homem em encontrar algo a dizer. Até que ela cansa de brincar e vai direto ao assunto:
— Eu sei que você fica me vendo pelada no meu quarto.
— Oi?
(Continua…)
II
— Não precisa disfarçar… eu sei. Sempre soube. Você gosta?
— Eu…
— Seja sincero… você gosta de me ver?
— Olha, Carmen, veja bem… não posso negar que eu sempre…
— Tô perguntando se você gosta, não se gostava ou sempre gostou. Quando eu era nova, sei que gostava. Você e a torcida do Flamengo. Quero saber hoje, agora, quarta-feira passada… você ainda sente alguma coisa me vendo?
Ivan Petrovic não fazia ideia se estava captando corretamente os sinais deixados nas entrelinhas das frases desconexas, tampouco conseguia interpretar algo a partir da linguagem corporal de sua interlocutora. Encurralado, porém, não lhe restou saída outra que não fosse mentir o mais desavergonhadamente possível:
— Como se fosse a primeira vez, Carminha. Olha, me desculpe… eu sei que é errado ficar vendo alguém se trocar, mas eu não resisto. Não consigo resistir. Você é perfeita demais e, meu Deus… é mais forte que eu. Quando dou por mim já estou ali na janela, não tem jeito…
Mal sabia ele que não poderia ter dado tiro mais certeiro. Carminha, olhos marejados, aproxima-se e diz, ou melhor – murmura, como só murmuram as mulheres que ouvem exatamente o que desejavam ouvir:
— E você quer me ver pelada mais de perto? Tipo, bem mais de perto…
Ela já não era a mesma de 20 anos atrás, mas estava ali, fazendo a melhor proposta que um sujeito com quase meio século nas costas poderia receber num meio de semana frio e garoento qualquer. E quem haveria de recusar? Não Ivan! Para ele aquilo era a realização de um sonho. Uma realização um tanto tardia é bem verdade, mas, ainda assim, uma realização. A chance de colocar em prática anos e anos da teoria que cultivou nos pensamentos das horas mais íntimas; uma compensação divina por todos os desaforos que já ouvira dos clientes que caíram na malha fina; a confirmação de que ao menos uma coisa nessa existência miserável era capaz de dar certo, de conspirar a favor; a renovação na esperança de que existe destino, anjo da guarda, karma, conjunção astral e afins – coisas que há muito havia tachado como “bobagens” em seu coração.
Ademais, já estavam ali mesmo, então… Carmen Diem! Por que não?
Ivan sempre imaginou que se um dia aquilo acontecesse, seria algo não menos que cataclísmico. Um evento que certamente despertaria toda a vizinhança num raio de dois quilômetros e faria o prédio tremer, quiçá abalando irreversivelmente os alicerces do Bloco B; que geraria orgasmos múltiplos, urros bestiais, multas de condomínio e ligações telefônicas clamando desesperadas por intervenção do corpo de bombeiros. Ou, no mínimo, algo deveras selvagem com uma leve pitada de romantismo, como um casal de felinos apaixonados que se reencontra na savana após exaustiva caçada, sob a luz da lua cheia em noite de primavera. Mas, desafortunadamente, a realidade revelou-se apenas uma pálida sombra do mundo das ideias. E nenhum vizinho precisou acionar os bombeiros naquela noite. Não obstante, Ivan ainda se lembrava de um ou dois truques e conseguiu satisfazer Carminha, mais do que se poderia apostar levando em conta apenas as aparências.
Os dois encaram o teto, saboreando, cada um à sua maneira, o silêncio suado do pós-coito. Ela vira-se de bruços e sorri, antes de fechar os olhos. Ivan a observa, acaricia o rosto delicado como se o destino do universo dependesse da suavidade daquele toque. Tão bonita. Pensa em como pôde privar-se por tanto tempo da sensação absolutamente arrebatadora de dividir a cama com uma mulher, sentir o calor do corpo macio, o cheiro doce, ouvir os gemidos abafados, a respiração ofegante, contemplar os pelos de tamanho quântico que se eriçam na lateral do pescoço em resposta a dedos que deslizam pela face. Ivan sente-se uno com o todo, desconfia em seu íntimo que parte dos infinitos segredos da vida lhe foram revelados, descortinados diante de seus olhos junto à blusa da Carminha para alçá-lo a um nível superior de maturidade e compreensão do Tao.
Mas então a epifania se esvai, tão efêmera quanto o ápice do amor. Ivan imagina aquela cena repetindo-se com mais frequência: vê Carminha batendo à porta toda quarta-feira e aí, adeus futebol. Em seu devaneio repentino, ela também começa a vir às quintas – adeus carteado com o pessoal do escritório! As ligações, a princípio enternecidas, ganham ares de cobrança: um dia sem que se converse já é motivo para um pequeno Armagedom; os móveis até que são bons, mas, ora: “um novo sofá cairia bem aqui nesta sala… né, Ivan?”; louça e prataria carecem de complementos, afinal, tomar vinho em copo de requeijão só é romântico (um lance meio hipster) na primeira vez; ficar sem fazer nada, trajando tão somente bermuda e chinelo aos finais de semana, nem pensar!
Essas e muitas outras coisas passam pela cabeça de Ivan e, num átimo, o sonho inesperado passa a afigurar-se como a repetição do mais terrível pesadelo.
— Tá pensando em quê, hein? – Carmen abre os olhos e desliza pelos lençóis, encontrando travesseiro no peito de Ivan Petrovic.
— Tava… tava pensando aqui se o Palmeiras virou o jogo…
— Ha-ha-ha, bobo! Não era isso não! – O sexto sentido feminino realmente é uma coisa impressionante.
— Eu… sei lá… fiquei imaginando o que te deu na cabeça pra vir até aqui. Não estou reclamando, pelo amor de Deus! É que foi meio… estranho. Estranho de um jeito bom, mas mesmo assim, estranho.
— Eu vim me despedir de você… – ela responde, sorriso sumindo do rosto.
— Despedir? Como assim?
— Eu vou embora daqui, não aguento mais essa cidade…
— Mas… por quê? Por que agora? – Ele pergunta, sem saber ao certo se está mesmo interessado na resposta e ainda menos certo se é uma boa ideia plantar qualquer semente de dúvida que possa vir a fazer Carminha desistir da ideia de ir embora.
— Ah, sei lá… meu pai sempre me chamou pra morar no interior, respirar ar puro, ficar longe dessa loucura, dessa violência, ajudar na lojinha de sapatos que ele tem lá… essas coisas, sabe? E eu falava pra ele que não, que tinha minha vida aqui, que as coisas estavam se encaminhando e tudo mais. A verdade é que eu sempre me achei boa demais pra gastar meu tempo vendendo sapato pra um bando de caipira, sabe? Mas daí o tempo vai passando, você começa a ganhar mais, mas começa a gastar mais também, suas amigas começam a casar e ter filhos, já não tem tantas festas nem tantos convites pra ir ao cinema igual tinha antes, você percebe que passa mais tempo no trânsito do que em casa e que daria pra montar um livro com o tanto de coisa que escreve quando tá de bobeira, no Facebook e no Whatsapp. Então se dá conta que ultimamente a maior alegria da sua vida é chegar à garagem e ver que o carro do vizinho que ocupa a vaga da frente não está lá e você não vai ter que manobrar de novo aquela merda. Sabe? Bom… refleti sobre isso e concluí que tem muita coisa errada na minha vida. Daí peguei o telefone, liguei pro meu pai e falei: “pai, tô indo aí morar com você”. Ele falou: “vem”. E amanhã eu vou…
— Hum… – O som anasalado foi tudo que Ivan conseguiu comentar.
— O que quer dizer esse “hum”? Tá me achando louca, né? Ha-ha-ha-ha!!!
— Na verdade, estava pensando se por acaso o seu pai não tem mais uma vaguinha lá na loja de sapatos…
— Bobo! Ha-ha-ha-ha!
Carminha acomoda-se novamente no peito peludo. Ivan abraça-a e alisa o ombro, enquanto encara o teto. Aquilo era tão insano, sim… mas, ao mesmo tempo, fazia tanto sentido. Havia, decerto, sempre um pouco de razão na loucura. Além do resultado do jogo, só restava agora uma questão em aberto. Ele fica na dúvida se deve perguntar ou não, se é melhor saber ou não. Hesita por um tempo, mas não resiste:
— Por que eu?
— Oi? – Foi a vez dela ganhar tempo.
— Por que vir aqui e não em outro apartamento? A gente nem se conhecia, pensei que você nem sabia da minha existência… a não ser pelo vulto aqui nessa janela te olhando lá do outro lado, é claro.
— Então… – Carminha suspirou. – A primeira vez foi sem querer…
— Primeira vez?
— A primeira vez que eu fiquei desfilando sem roupa lá no meu quarto.
— Ah! …
— Minha mãe tinha acabado de se separar e a gente veio morar aqui. Um belo dia, tomei banho e fui pro quarto me trocar. Demorei um pouco, fiquei passando creme no corpo e tal… daí eu vi pelo espelho que tinha um cara aqui desse prédio me olhando. Mas não era você! Ha-ha-ha-ha-ha!!!
— Ufa…
— Pois é… – Carminha continua, não sem deixar o saudosismo delinear-se no semblante. – Daí eu fiquei meio sem reação, sabe? Não sabia se fechava a janela, se me vestia logo, se gritava “tá olhando o que, seu tarado!?” pra assustar o sujeito, se chamava a minha mãe… Bom, acabei experimentando todas as calcinhas da gaveta… e percebi que mais um começou a olhar. Eu sei que você vai me achar a mulher mais idiota do mundo, mas eu tinha o quê… uns dezesseis ou dezessete anos. E a verdade é que eu fiquei excitada, imaginando que os caras estavam tocando uma pra mim ali atrás da cortina, sei lá. Bobeira. Mas eu gostei, e no outro dia tava fazendo de novo. Depois de um tempo, achei que era melhor estabelecer um “ritual”, pra não enjoar e também pra criar uma aura de mistério, sabe? Ha-ha-ha-ha! E não tinha melhor hora do que o intervalo do futebol, quando a homarada sai na janela pra fumar, ficar gritando “chupa” um pro outro e essas besteiras que vocês fazem por causa de jogo.
— É, tenho que admitir que foi uma boa estratégia – Ivan concordou, com as sobrancelhas erguidas e os olhos esbugalhados.
— Não foi?! Ha-ha-ha! Não precisou muito tempo pra minha “popularidade” – desenhou as aspas no ar com os dedos – aumentar e esse prédio aqui ficar mais acesso que árvore de Natal durante o meu “show”. E quanto mais “admiradores” eu conquistava, mais atraente eu me achava. E o negócio se tornou um vício… daqueles que você não consegue largar mesmo depois que já perdeu a graça, sabe? Até que o tempo foi passando… e alguns “espectadores” já não se interessavam muito em me ver. E foi passando e passando e os caras só apareciam na janela pra fumar mesmo, ou pra provocar os adversários. E, meu… sei que parece bobeira, mas isso foi triste pra cacete. Fiquei me sentindo rejeitada, gorda, feia, velha. Ai, você me entende? Loucura, né? – Longo suspiro depois, ela continuou: – Até que só sobrou uma janela: a sua. Puta merda… é estranho dizer isso, eu sei, mas faz um tempinho que eu cheguei à conclusão que você é o único homem que me foi fiel a vida inteira. Por isso eu vim aqui, neste apartamento e não em outro. Acho que eu queria, sei lá… tipo te agradecer.
Carminha vestiu-se e foi embora do apartamento de Ivan. No dia seguinte, da cidade. Talvez, depois de alguns meses, tenha casado e tido dois filhos com um “caipira” a quem atendeu na loja de sapatos do pai. Ou talvez tenha se arrependido amargamente e voltado para a cidade grande numa manhã de tédio qualquer. Nunca se vai saber.
Nas noites de quarta-feira, no intervalo dos jogos, Ivan Petrovic abre uma cerveja, vai à janela e ali pensa em todas as coisas da vida, no trânsito, no carro do vizinho que precisa manobrar para sair da garagem, no trabalho insípido, nas palavras que deveria ter dito e nas que deveria ter engolido, na ex-esposa, nos filhos que nunca teve e jamais haveria de ter, nos sonhos que não se realizaram e nos que sequer tiveram chance de ser sonhados. No tempo que segue seu fluxo inexorável… com ou sem a gente.
Claro, não podia ser diferente, lembra também da Carminha.
E, de vez em quando, até que bate uma saudade dela.
☬ Toda Quarta-feira – Final
☫ San Gennaro
ஒ Físico: O texto continua bem escrito. De fato, o autor ainda está encontrando seu estilo. Está morno! A leitura, como da outra vez, fluiu naturalmente. Bem, o autor realmente sabe escrever!
ண Intelecto: A estória tomou um rumo bem diferente do que o esperado. Isso é bom, mas também é ruim. O caminho escolhido pelo autor é medíocre. Os outros caminhos não estariam isentos do clichê, mas poderiam entreter o leitor de uma forma diferente. Melhor, digamos. Esse questionamento da vida se encaixaria mais se o foco do conto fosse o cotidiano. Mas o foco não é esse! O enredo gira em torno de Ivan e Carminha, sua relação à distância e seu encontro. A rotina está em segundo plano.
ஜ Alma: Como disse acima, o cotidiano está em segundo plano. Adaptar a estória na nossa realidade e mencionar a rotina do personagem não faz com que o foco do conto seja o cotidiano. Ou seja, o conto está, basicamente, em desacordo com o tema. Vemos que o elemento existe, mas não tem força. É necessário que ele tenha força. Agora, sobre o autor em si, poderia dizer que sua escrita é excelente. Tem desenvoltura para desenvolver a narrativa e um estilo carregado de simplicidade.
௰ Egocentrismo: Apreciei a leitura, pois o autor escreve muito bem, mas a estória não me conquistou. Poderia falar que isso aconteceu devido às ideias do texto, um tanto ultrapassadas. Sempre que a rotina entra em assunto, fatores semelhantes são colocados em reflexão. O autor parece ter capacidade de fazer algo melhor.
Ω Final: Texto excelente, com leitura fluente e estória concisa. Faltou foco quando se trata do tema e o autor poderia explorar o conto de uma forma melhor.
௫ Nota: 8.
Então, como segunda parte, achei que foi inferior, mas completou o texto como um todo. A escrita continuou boa, mas diminuiu o estilo que vinha, com referências e sacadas bem humoradas. Quanto a resolução do gancho, achei que ficou meio óbvio. Eu não estaria reclamando se o gancho não tivesse sido tão FDP..kkk. Mas acabar com os dois na cama foi meio sem sal. Eu esperava mais da continuação. No entanto, ainda continuo achando esse conto surreal em suas particularidades, apesar de possível de acontecer. No fim, o resultado foi positivo. Gostei da descrição da moça sobre a vida.
O conto continuou interessante, e toda a explicação para os mistérios muito bem expostos e críveis. Escrito de forma leve e devagar, exibindo os fatos. Porém, acredito que o autor poderia ter desenvolvido melhor a cena do sexo, tanto o antes quanto o durante, assim como foi feito com o depois.
Gostei! A forma como você conduziu o enredo foi bem interessante, foi leve, deu um tom que acredito era o que precisava. Gostei das duas partes, acredito ter mantido um bom ritmo, então. É um conto sem sobressaltos, mas que traz pro leitor exatamente uma situação do cotidiano. É isso aí!
Esse eu também não havia lido e achei muito bom. Como alguns outros que li, mostra com bastante evidência a questão do cotidiano e gostei disso. Confesso que os “hahaha” da Carminha me irritaram e achei legal ele imaginar toda uma história sendo construída com ela e depois receber a notícia de que ela iria embora. Gostei muito do conto.
Boa sorte!!
Muito bom o texto. A história é bem divertida e apesar de aparentemente simples, ela consegue ser profunda. Você trabalhou bem os personagens e suas características particulares, levantou questões que são bem pertinentes a todos nós, nos chamando a pensar no que realmente importa em nossa vida.
Parabéns! Boa sorte, seu texto merece ser bem avaliado.
Abraços!
Ótimo conto. Poderia constar de qualquer edição de “Comédias da Vida Privada”, do LFV, que não passaria a mínima vergonha. Gostei bastante do interesse platônico do Ivan por Carminha, digo, da maneira como esse sentimento foi construído. Pude visualizá-lo em um condomínio de prédios baixos e apertados, ansiando pelo surgimento de sua musa. Melhor ainda foi o dilema surgido imediatamente após a relação consumada – putz, e agora, e se ela se apaixonar e tal… Mulheres têm a fama de inconstantes, mas homens são iguaizinhos, rs O que me incomodou um pouco foi a falta de clímax. Carminha decidiu ir embora e pronto. Foi. Não teve um momento de dúvida. E pronto, o conto acabou. Ficou bem “a vida como ela é”, sem direito a muitas digressões. No fim, senti simpatia por Ivan, mas nada além disso, e creio que ele poderia, dependendo do modo como desenvolvido, ter despertado algo mais que isso. E se isso vale para o protagonista, vale ainda mais para a coadjuvante. Achei Carminha um pouco mecânica – pelo motivo apontado acima –, esquemática. De qualquer maneira, o conto desperta risos, o que não é pouco, e entretém muito bem a audiência. Foi um dos que melhor fluiu neste desafio, isso é certo. Se torço um pouco o nariz, é por questão de gosto pessoal mesmo, já que prefiro personagens mais perturbados. Bom trabalho!
Nota: 8,5
Olá de novo!
A história tinha me deixado meio pê da vida, mas eu gostei do desfecho. Explicou bem o final e os últimos parágrafos deram aquele gosto de Cotidiano bem bacana.
Carminha teve sua boa vida, Ivan teve o que queria, e todo mundo saiu ganhando.
Quanto a narração, a história manteve o mesmo ritmo, como se tivesse sido escrita de uma só vez. Uma boa jogada. Bem melhor do que a minha, que fiquei perdido. hahaha
Enfim, parabéns pelo conto!
Boa sorte!
Conto soberbo, muito bem escrito e com um viés cômico agradabilíssimo.
A premissa da história é simples, mas, dentro da conjectura dos contos do certame, acabou sendo original. Não temos uma história de amor, muito menos de redenção; temos, de fato, uma história verossímil do cotidiano.
Gostei.
Parabéns.
Muito bom. No início achei que o conto não daria em algo muito interessante, estava um pouco desanimado com Ivan e a paixão platônica dele por Carminha. O plotwist caiu bem. Fiquei maravilhado com os diálogos do texto. A mulher estrutura de diálogo que vi até agora no desafio. Alguns são longos, mas revelam uma profundidade essencial dos dois.
Parabéns pelo trabalho!
TÍTULO óbvio, mas legal (1,5/2). TEMA totalmente enquadrado (2/2). FLUXO enxuto e de narrativa rica (2/2). Uma verdadeira TRAMA cotidiana. Soube dar emoção a um intervalo do campeonato brasileiro numa 4ª feira paulista (2/2). FINAL sem quebrar o cotidiano, no mínimo ousado (2/2). Total 9,5
Conto lido duas vezes. Mistério desfeito,o que tirou um pouco do gosto da trama. Carminha explicou sua existência, seus planos e o porquê do showzinho das quartas. Acho que o problema foi exatamente este – ficar tudo muito explicadinho.
O que era uma paixão platônica (tá, eu estou sendo romântica – foi uma sacanagem platônica) virou sexo de despedida. Quase pude ver lágrimas rolando no rosto do Ivan ao se ver seduzido e abandonado.
Não encontrei lapsos de revisão e a narração manteve o ritmo da primeira parte. Claro que houve muito mais diálogos nesta segunda metade, o que acelerou a narrativa.
Apesar de ter gostado bastante do conto na sua primeira fase, agora confesso que me desapontei um pouco. Essa vizinha virou um projeto mal acabado de Marilyn tupiniquim, uma balzaquiana bem bobinha. Pelo menos, foi essa a leitura que fiz da Carminha.
Adorei o Carmen Diem! Muito bom.
Boa sorte! 🙂
Achei tão irônica e divertida a primeira parte… estava curiosíssima pela continuação. Mesmo achando o gancho tremendamente cara de pau…kkkk
Foi boa a segunda parte..mas… sei lá, ficou insosso.
Sei.. quisestes seguir no tema ‘cotidiano’ e o cotidiano do protagonista seguiu sua mesmice… mas a gente torceu por este romance, mesmo que não vingasse. a torcida por uma mudança foi grande.
Sei lá, pensando aqui enquanto escrevo…
Mas o texto é ótimo e vc, um grande escritor.
Parabéns, abraços
EGUAS (Essência, Gosto, Unidade, Adequação, Solução)
E: Realmente captou muito bem o cotidiano do personagem principal. Um tanto estereotipado, mas nada que atrapalhe. – 9,0.
G: Uma história simples, mas transformada em algo intrigante e cativante, tanto pelo seu teor cômico, como pelo teor mais sutil, com várias camadas reflexivas em baixo do cerne. – 9,0.
U: As quebras de espaço ficaram um tanto desajeitadas, como no final, mas aí é culpa do blog. Mas uma reticências se encaixariam bem aqui. Escrita flui sem atropelos. – 9,0.
A: Total e bem humorada, com final triste e pensativo. – 9,0.
S: Dividiu bem em capítulos, mas sem esquecer da conexão, o que foi ótimo. Não se passou quase nenhum tempo desde o primeiro. – 9,0.
Nota Final: 9,0.
Olá, San Gennaro.
Gostei! A trama é simples, mas a narração está afiada e os diálogos estão muito naturais. A ideia da “fidelidade” do Ivan foi uma boa sacada, além do óbvio desencanto de Carminha com sua própria rotina e sua crise de meia-idade como a gostosa do pedaço.
Muito bom. Nota 8,5!
Olá, San Gennaro!
Seu conto me fez lembrar de um filme recente, “Show de vizinha”, onde o voyeur também descoberto é obrigado a “despir-se” para a vizinha sondada. Mas as semelhanças para por ai, já que a película é uma comédia estrelada por jovens atores…rsrsrs.
Bom, o que dizer do seu texto? A escrita é primorosa, há lições de vida nas entrelinhas – a felicidade está nas coisas simples- , os personagens convencem. Só não curti o início por estar muito truncado e o final por apresentar uma inércia incongruente em dois personagens que,tomados por rompantes, se entregaram nos braços um do outro…
Boa sorte!
o que parecia mais um conto sobre um fracassado de meia idade, vai ganhando contornos de humor à medida que avança a narrativa. A insinuação “continua…” ao final era dispensável… deixar a história em suspenso teria melhor efeito, ainda que claramente seja uma história incompleta…
gostei muito, muitos parabéns, venha logo essa 2ª parte para ver esse desfecho. Parece que tem momentos que o texto se vai perder com histórias paralelas, comentários que não deviam estar aqui, mas depois o texto é retomado com a chegada da carminha e a história ficou fantástica, muitos parabéns, quero muito ver esse final
Um conto denso, em que o autor soube manter a tensão no ar, apesar do estilo bastante complexo e profundo. O tema é interessantíssimo, o cotidiano da espionagem. Ainda que todos neguem, eu gostaria de conhecer um homem que não olhe, disfarçada ou descaradamente, em um caso desses. O erotismo é delirante, aposto na continuação deste excelente conto.
Caro (a), San Gennaro!
Antes de tudo, mesmo não sendo Palmeirense, concordo que o Evair é muito melhor que esses pangarés todos da atualidade. Quanto classe para bater um pênalti.
Dito isso, o conto é delicioso, a apresentação do protagonista é muito bem feita, criando uma conexão imediata com esse underdog ordinário. O cotidiano melancólico é retratado com maestria, e com pitadas de humor providencias, gerando o necessário alivio cômico.
A linguagem empregada combina com o estilo de narrativa escolhido. O texto é recheado de referências, o que na minha opinião dá sempre muito charme a história.
Esse trecho é muito bom “O que motivava esse comportamento era, ombreando com Área 51 e o porquê da cerveja congelar quando se pega no meio da garrafa, um dos grandes mistérios da humanidade”. Será que esse mistério será revelado na segunda parte?
Desde já, parabéns e boa sorte!
Cont, San Gennaro!
A mesma habilidade com que foi construída da personalidade de Ivan é repetida nessa segunda parte, ao caracterizar Carminha.
A história mantém o bom padrão do início. Destaco em especial esse trecho que me fez sorrir: “Ivan sempre imaginou que se um dia aquilo acontecesse, seria algo não menos que cataclísmico. Um evento que certamente despertaria toda a vizinhança num raio de dois quilômetros e faria o prédio tremer, quiçá abalando irreversivelmente os alicerces do Bloco B; que geraria orgasmos múltiplos, urros bestiais, multas de condomínio e ligações telefônicas clamando desesperadas por intervenção do corpo de bombeiros.
O desfecho não é arrebatador, mas combina perfeitamente com o tom do conto. Ele é melancólico, porém, ao mesmo tempo, bonito.
Renovo o parabéns e desejo boa sorte!
Essa história não teve final. No meu critério pessoal é injusto atribuir a mesma nota que outro que fez um conto com início, meio e fim. Mas a história tá bacana. Fiquei querendo saber o final e a leitura fluiu bem pra mim. Não sei se sou eu, mas os inícios não tem me agradado, mas os finais sim. O teu me agradou desde o início mesmo não tendo final, gosto da condução “despreocupada” ao invés de tentar ser algo poético e grandioso. É o que eu queria ler e encontrei no teu conto.
Conto interessante por abordar o voyeurismo de forma natural e não explícita, assim como a vida na meia-idade. Tudo bem próximo ao cotidiano.
Porém achei que faltou mais desenvolvimento do personagem principal, e também um objetivo principal para a história, parecendo que nada está para acontecer por boa parte do conto.
Mesmo assim, estou ansioso pela continuação.
Genial!
Soltei muitas risadas com o tom irreverente e as comparações perfeitas.
“Com mais ansiedade que conferia mega-sena da virada”;
“Admirado como se acabasse de ouvir a fórmula da Coca-Cola.”;
“Esse time é de fazer São Gennaro descer do altar pra mandar todo mundo tomar no meio do cu, puta que pariu”.
Hahahahaha! Genial!
A escrita está impecável, e a história é excelente também! Só não curti o final abrupto, mesmo que interessante. Ficou aquele gosto de “cadê o resto”. Eu sei que o desafio visa a continuação do conto mas, como estou avaliando estes contos iniciais como autossuficientes, o final deixou a desejar.
De qualquer forma, excelente! Parabéns!
Ferrou, esse desafio está bom demais. QUE CONTO MANEIRO!
Gostei muito mesmo. A irreverência, o tom certo de comédia, o tom certo de reflexão. Gostei muito da escrita, da história, dos personagens, das imagens conjuradas na minha mente… de tudo!
A segunda parte fechou com chave de ouro, especialmente os dois últimos parágrafos. No final, me senti terminando a leitura de um livro, já com saudades de Carminha e Ivan.
Muito bom mesmo. Novamente, parabéns!
Toda quarta-feira (San Gennaro)
♒ Trama: (3/5) uma história muito gostosa de ler, mas não acabou. Preciso confessar que estou doido para ler a continuação, mas estou avaliando os textos enviados como um conto completo. Parando ali, no momento mais interessante do diálogo, ficou com cara de gancho apelativo, daqueles de final de capítulo de novela.
✍ Técnica: (4/5) muito boa, ótimas construções, ritmo gostoso der ler. A minha imersão na história foi total.
➵ Tema: (2/2) muito adequado ao tema (✔).
☀ Criatividade: (3/3) percebi algumas situações bastante criativas.
☯ Emoção/Impacto: (3/5) gostei muito do texto, mas não curti o final aberto. Acho que vai passar de fase e estou torcendo para isso. Preciso saber o final dessa história! 😀
➩ Nota: 8,5
Frase de destaque: “Relembra a infância: algum evento bobo que se desvencilhou temporariamente das redes do esquecimento.”
Toda quarta-feira (San Gennaro) – Segunda Fase
📜 Trama: Concluiu muito bem a história, com graça, e fechou bem a trama. A história completa, ao contrário de apenas parte dela, funcionou muito bem e gostei bastante. (+0.5)
📝 Técnica: a única coisa na técnica utilizada que me incomodou foi o uso do presente, apenas acrescentando algo que não havia dito na primeira fase. Prefiro histórias contadas no passado, mas é apenas uma opinião pessoal. (0)
🔧 Gancho/Conexão: o gancho foi cruel. Era apenas uma história dividida em duas. Tirarei ponto aqui porque fiquei realmente muito #chateado 😛 (-0.5)
🎭 Emoção/Impacto: gostei do texto, como já disse. A segunda parte continuou no ritmo divertido da primeira. E, como o final não foi aberto, merece uma bonificação. (+0.5)
⭐ Nota: 9.0
Cara, esse lance de gancho é uma baita sacanagem. Haha. O seu funcionou e gostei da curiosidade que causou. Mas avaliando o restante, achei a escrita boa, cheia de referências a símbolos da cultura, a eventos, um tipo de escrita bem humorada que eu sei que já vi antes. Provavelmente sei quem é o autor (ou não). O tema caiu bem, e você conseguiu desenvolver uma situação a partir de algo bem cotidiano, banal mesmo ( essa espionagem de vizinhos é cotidiano de muita gente.) Só achei os diálogos um pouco destoantes, pois diante da surrealidade da situação (o personagem jamais pensaria que a vizinha viria em sua casa), eu esperava um diálogo mais surreal também, e o lance da açucar foi batidaço demais. Mas o conto é bão, eu gostei.
Conto divertido.
Um retrato típico das questões masculinas e femininas sobre a passagem do tempo e também a influência disso nas relações amorosas. A aparente ousadia masculina recheada de inseguranças e o aparente pudor feminino recheado de ousadia. Bom conto. Parabéns.
Este conto, muito bem escrito por sinal, me fez lembrar de uma antiga revista de, digamos, matérias muito interessantes, que apresentava um caderno especial contendo… Histórias. Histórias, digamos novamente, muito interessantes. E muito parecidas com essa daqui, embora sem toda esta rica literatividade, que deixa este conto muito leve e gostoso de se “espiar”…
😉
Parabéns ao autor pela gostosa, digamos, história apresentada! Rs!
Bom trabalho!
Boa sorte,
Paz e Bem!
Tema – 10/10 – adequou-se à proposta;
Recursos Linguísticos – 10/10 – texto muito bem escrito, com boas mudanças de tom na passagem narração-diálogos;
História – 10/10 – tanto a proposta como a execução foram muito boas;
Personagens – 10/10 – bem descritos fisica e psicologicamente;
Entretenimento – 10/10 – sempre bacana colocar essas coisas do cotidiano em um texto, torna a leitura mais agradável;
Estética – 10/10 – a história tem o balanço correto, dá pra vislumbrar cada momento, trabalho muito bem feito.
Nota Parte 2
Tema – 10/10 – adequou-se à proposta;
Recursos Linguísticos – 10/10 – texto bem escrito, sem problemas;
História – 10/10 – bem amarrada, redonda, complementa bem a primeira parte;
Personagens – 10/10 – bem definidos e desenhados, psicologicamente complexos;
Entretenimento – 10/10 – conseguiu passar aquele clima de “já acabou?”;
Estética – 9/10 – deu aquele aura de “que vida merda” aqui, o que significa que o texto é muito bom. Só senti que o final podia ser ainda melhor.
☬ Toda quarta-feira
☫ San Gennaro
ஒ Físico: O autor do texto é realmente talentoso. Escreve muito bem, consegue envolver o leitor numa narrativa leve e natural e ainda cria um ambiente realista. Parabéns por isso! Talvez, apenas talvez, o autor precise aprimorar seu estilo. Está um pouco morno, ainda.
ண Intelecto: O enredo trata de um assunto muito interessante. Como não terminou, fica um pouco difícil analisá-lo por completo, mas poderia dizer que tudo é um jogo da vizinha do Bloco C. Se o autor conseguir desenvolver um bom conflito na segunda parte, realmente fará um bom trabalho. Mas é uma tarefa difícil! Os personagens estão concisos e parecem reais. E o desenrolar da estória também ficou excelente.
ஜ Alma: O texto está com um pé dentro e outro fora do tema. O cotidiano do protagonista fica em voga, mas na metade do conto já encontramos a quebra dessa rotina. Não está dentro do tema, mas não houve muito foco na situação, já que o fator principal é o “jogo” da Carminha. O maior problema do conto é sua falta de sustentação. Ele para na metade. Um final aberto dessa forma tem que ser motivado por um gancho muito poderoso. E não tenho certeza se uma continuação ficaria verdadeiramente atraente.
௰ Egocentrismo: Gostei muito da leitura e dos personagens, até da situação, mas o final inconclusivo me deixou um pouco atordoado.
Ω Final: Um texto bem escrito e com um enredo interessante. Personagens fortes e vivos. Está dentro do tema, mas o foco é outro assunto. O final é tão súbito que poderá desagradar muitos leitores que esperavam algo conciso de início. O autor tem talento na área!
௫ Nota: 8.
EGUA (Essência, Gosto, Unidade, Adequação)
E: Uma boa amostra de cotidiano (para quem gosta de futebol). Foi possível visualizar praticamente todas as cenas. – 9,0.
G: O texto possui um tom mais irônico, mas neste caso, casou muito bem com a ideia. Descreve de forma certeira um personagem de meia-idade sem os “cuidados” e comportamento habitual da sociedade. Um enredo simples, mas cativa pela curiosidade que desperta. – 9,0.
U: Textos no Presente costumam me incomodar. Aqui estava indo tudo a mil maravilhas, quando o texto sofre uma digressão para contar fatos anteriores. Só que a volta ao tempo presente foi meio brusca. De resto, flui muito bem. – 7,0.
A: Total, e de forma que fisga o leitor. O gancho realmente funciona. – 9,0.
[8,5]
Gostei bastante de duas coisas em seu conto, a primeira é como tratou o passar do tempo, o modo como as personagens envelhecem e se transformam. Algo que cedo ou tarde acontecerá com todos nós, de como esse passar do tempo se transformou numa grande rotina, sem surpresas.
A segunda coisa que chamou a atenção é em relação ao clima, da metade pra frente (quando a Carmen chega), passa a ter um ar de suspense. Não sei o rumo que tomará, mas é interessante pensar nesse final aberto, em como ela sabia dessas coisas, no que pode acontecer. Essa coisa do voyeur e do apartamento sempre rendem boas ambientações, como nos filmes Paranoia ou até O Inquilino, então já imaginei um trhiller haha. Gosto bastante.
Mas tem algumas coisas que achei um pouco desconexas, que não combinaram muito. O protagonista e toda a sequência do jogo + descrições da Carminha me lembraram quase uma pornochanchada, acho que poderia ter ficado mais sensual e menos machista esta parte. Não dá pra saber o que a levou até o apartamento, mas ir com a desculpa de pedir açúcar? Não deu pra não associar:
Quem nunca admirou a vizinha do apartamento, ou da casa ao lado? Muitos garotos adolescente alimentando suas fantasias eróticas. Com Ivan não é diferente, ele até deixa de assistir um clássico do futebol para apreciar as curvas de Carminha. Boa narrativa, Por enquanto um bom enredo. Fico na expectativa para saber o que vai acontecer com esse encontro inesperado…
Definitivamente, há um gancho aqui. Tipo – a seguir, cenas do próximo capítulo. O que Carminha quer dizer depois de tantos anos alimentando as fantasias do vizinho voyeur?
Bom, não entendo nada de futebol, só sei que toda quarta-feira tem sempre um jogo acontecendo. Parece que Ivan está mais interessado mesmo em manter o ritmo do seu cotidiano na neutralidade, com o perigo distante, excitante enquanto só possibilidade.
Não percebi erros na redação da estória, somente um detalhe – rugas e pés de galinha são a mesma coisa. Pés de galinha são as ruguinhas ao redor dos olhos. Então, isso ficou meio repetitivo.
A leitura prendeu minha atenção. Achei leve e agradável, algo que poderia ter acontecido a qualquer cidadão distraído à janela…rs. Espero poder ler a segunda parte do seu conto. Boa sorte!
Olá, autor (a)!
Dos que li, esse foi o que teve o melhor final até agora. Hahaha
Gostei da história a partir do meio, que foi onde começou a ter uma maior interatividade com o leitor. Acho que os trechos de diálogos contribuíram para isso. No início, as muitas referências não ficaram legais, tirando um pouco da qualidade do texto.
A história é boa e começa a se tornar interessante quando vai chegando ao fim. As personagens também são bem criadas, e essa Carminha é uma danada mesmo!
Quanto a parte gramatical, não vi nada que pudesse ser apontado. Então acho que ficou bom.
Parabéns e boa sorte!