Ato I – Vida de cão
Noite de quinta-traiçoeira, zapeio sem interesse através dos quase duzentos canais. Neil deGrasse fala de espaços intergalácticos, de lugares tão rarefeitos de matéria que têm densidade inferior a um átomo por metro cúbico, milhões de anos-luz de praticamente nada. Troco de canal e esbarro naquele desenho repetido ad nauseam do Pica-Pau: Niagara Fools, que já era velho quando meu pai usava babador. Volto ao remake de Cosmos e agora o gorducho bonachão comenta sobre singularidades com a naturalidade de quem ensinasse a uma criança como preparar gelatina. Desligo a tevê, mas não tenho ânimo de sair da poltrona. A pelica que reveste o móvel já tem quase pronta minha impressão em 3D.
Não há nada entre as galáxias, igualmente, não há coisa alguma aqui dentro, nem um restinho de sublimados amor ou ódio, que pudessem me confortar ou sacudir. Com terapia e muito Prozac até acredito que eu lograria voltar a perceber algo, recordar-me daqueles remotos dias cheios de cores, superar. Porém não sei se quero: seja o “lembrar”, seja o “sentir”. Ambos doem, e a dor, de quem infelizmente fiquei íntimo nos últimos meses, não me parece ser a melhor das companheiras. Prefiro, ao invés, esse quase vácuo de sensações, a impressão de que há um buraco negro representando o papel de coração.
Eu invejo os átomos eternamente solitários.
A janela da sala – que esqueci escancarada desde ontem – permite que a chuva constante molhe os tacos meio manchados, que abençoe o sofá de couro e o tapete com gotas sujas, mas não ligo. O frio que me faz tremer não é de todo ruim, embora o cenário descortinado, de prédios nus – todos – formatados tão iguais pela lixívia das águas e pela poluição que impregna o ar, tal paisagem consiga o impossível: roubar-me mais, esvaziar-me ainda mais. Fachadas sem alma e homogêneas, dum castanho-mendigo mesclado ao amarelo-escarro das luzes de mercúrio e ao verde-químico do mofo onipresente, resultando num tom asqueroso e certamente sem nome, exilado da palheta de cores naturais.
Eu não vivo, Deus, faz quanto tempo? Não sei por que insisto em me segurar a esse arremedo de existência. Bastariam alguns segundos; saltar de olhos fechados e voar, em direção ao concreto da calçada. Do décimo-quarto ao térreo com poucas escalas: bater desajeitadamente nos toldos das varandas de baixo, derrubar alguns vasos de plantas amarelecidas, interromper o café da manhã dum vizinho que não conheço, com algo enfim mais excitante que os escândalos de corrupção do telejornal matutino.
Contudo, ao invés de tomar uma atitude e abandonar a paralisia que me mantém enraizado à infelicidade, apenas vou tangendo a mim mesmo através deste curral comprido que desemboca, cedo ou tarde, num matadouro. Com que direito então somos tão veementes em condenar àqueles que ousam saltar algumas casas no tabuleiro? Por estarem trapaceando enquanto seguimos às regras? Afinal, um dia seremos todos pobres guardas canadenses, invariavelmente enganados pelo Pica-Pau, descendo as cataratas do Niágara num frágil barril. Mas não haverá gente alegre trajando capas amarelas, acenando e vibrando por nosso suposto ato de bravura.
***
Manhã de sexta-carpideira: pesadelos, apneia do sono, bruxismo, despertar, micção dolorida e prisão de ventre matinal, banho, gel de barbear para peles sensíveis, café instantâneo, espuma da escovação com traços de sangue, fotofobia, trânsito dantesco, estresse, atraso, cobrança, reunião, estresse, telefonemas, e-mail urgentíssimo, sanduíche-almoço insípido.
Estou realmente acordado? Nada faz muito sentido: as pessoas são borrões, fantasmas fora de foco, que ecoam distantes, matraqueando em algum idioma esquecido. Tudo é desconexo e caótico, porém tenho que de algum modo me concentrar e parir relatórios e gráficos, ensaiar respostas jocosas com as palavras certas devidamente encaixadas, papaguear bordões marqueteiros que me farão morrer de vergonha por dentro, costurar na cara um sorriso maníaco, típico de comercial de dentifrício, que anuncie “sucesso” aos compradores. Meu Deus, mas que números são esses? Qual foi a taxa de variação cambial que empreguei? Como é mesmo a fórmula da depreciação de imobilizados? Quanto vou valer em dez anos?
Apresentação do novo produto: blá-blá-blá tecnológico e buzzwords, soluções “ganha-ganha” estado da arte, condições sine qua non, sinergia cliente-fornecedor, perdigotos fétidos e dentes com facetas em porcelana, expressos 100% arábica, retorno sobre investimento, retorno sobre sofrimento…
Meu estômago dói, minha cabeça, idem… Hoje. Isso tem que terminar, hoje.
***
É noite, finalmente. É bom dizer “finalmente”; os lábios desenham um beijo de despedida. Abro a porta do apartamento, atiro o paletó ao chão, saco a gravata, chuto os sapatos e retiro as meias. Nada de rabiscar cartinha amargurada de quem acha que o mundo está contra si, nada de cartaz preso ao corpo com alfinete; sem desculpas. A janela ainda está aberta e convidativa, o piso começou a estufar sob a poça que se formou, mas isso será problema de outra pessoa. Os mortos não se importam com tais minúcias. Pretos, brancos ou amarelos, ricos e pobres: todos acabam arroxeados primeiro e acinzentados depois: é o fim do apartheid, ponto final da luta de classes. Agrada-se a Wyllys e Bolsonaros.
Não tenho medo de alturas. Subo numa cadeira e depois me equilibro meio agachado na janela, as mãos agarradas como tenazes ao trilho da cortina; uma pose de ave de rapina ou gárgula. Um impulso à frente, depois, relaxar os dedos: “não requer esforço e tampouco habilidade”. Orgulhoso e sem lágrimas, respiro fundo. Observo novamente o panorama de edifícios carrancudos como quem clamasse por um empurrão derradeiro…
Então, o quê? Um ganido?! Droga, tão próximo! Giro a cabeça à direita e vejo a Yorkshire da vizinha: magrela e com o pelo imundo e maltratado, enrolada, quase enforcada à corrente no pé da mesa da varandinha do 1301, latindo para mim!
Patético isso. Antes de se suicidar ter como última testemunha uma cachorra mimada de madame. “Estranho!”, eu penso. Dona Luíza, Laíza, sei lá, a velhota tem paixão por essa pulguenta. Por que a varanda está assim? Cheia de fezes, as vasilhas de comida e de água vazias. Será que viajou ou aconteceu alguma coisa?
Por muitos minutos fico preso ao impasse, minhas pernas formigam. Pulo no vazio e deixo a vira-latas morrer também ou faço uma última boa ação? Novos gritinhos muito sentidos me convencem a entrar. Apavorado, quase me desequilibro e acho graça do alívio que sinto ao me jogar sobre o tapete. “Cair não era o que você queria?”.
Caminho até a cozinha, estou tremendo, minha voz não quer sair. Sinto-me tão deprimido que não consigo pensar no que dizer. Saco o interfone do gancho para me forçar.
— Alô. Raimundo? Oi, é o Vítor do 1402. Boa noite! Você sabe se a dona do 1301 tá viajando? Parece que ela se esqueceu da cachorra e a infeliz tá quase morta de fome.
O porteiro pede para eu esperar e interfona, sem sucesso.
— “Seu” Vítor, tem nada anotado aqui não. Mas, pra ser sincero, é esquisito mesmo: faz uns quatro dias que não vejo a Dona Laurinha. Toda noite ela costuma ir jantar no “Giovanni”, lá do outro lado da rua.
— E você não tem uma chave-mestra ou algo assim pra esses casos?
— Tem isso não, mas tenho uma cópia da chave dela, que ela deixou uma vez quando foi visitar uns parentes no sul e se esqueceu de pegar de volta. Na época, dei comida pra Shakira por uns cinco dias. Cachorra boazinha, ela.
— Pode então ir lá e ver se tá tudo bem?
— Sozinho e sem autorização?! Vou não! Depois some alguma coisa do apartamento e todo mundo vem atrás de “nós”, da portaria. É melhor falar com o síndico.
Eu suspiro, resignado. Tinha esperança de resolver isso com rapidez. A janela, decerto, terá que ser paciente.
— Eu vou junto contigo então. Pode ser?
Descalço, desço as escadas e toco a campainha do apartamento, longamente. Somente escuto a cadelinha a latir. O porteiro não demora muito.
— Já espremi a campainha quase até queimar. Pode abrir, não tem ninguém em casa ou essa velha ficou surda.
Raimundo, assustado feito mascote no réveillon, abre a porta de serviço. Um odor de comida podre vaza da cozinha e faz o porteiro mudar de cor.
— Ai, não entro aí não! Tá com uma inhaca de carniça dos diabos.
Olho o rapaz inicialmente com raiva, mas seus olhos esbugalhados me fazem ter empatia então. Ligo o interruptor, a cozinha brilha de tão limpa. Há frutas de cera numa cesta de prata, há plástico transparente cobrindo uma mesa pequena e paninhos bordados de crochê por todo canto. Magnetos colados à geladeira revelam viagens a Fortaleza e Buenos Aires. “Estive em Lambari, lembrei-me de você”, diz um prato pintado à mão, pregado à parede. Duas larvas gordas rastejam sobre o chão de porcelanato, a partir do armário sob a pia.
— Viu? O cheiro deve ser de lixo estragado. Vamos? – concluo.
Alcanço o corredor que dá acesso à sala. O piso de tábua corrida está tão encerado que patino por instantes sobre a passadeira. Shakira está na varanda; deu tantas voltas ao redor do pé da mesa que mal pode sair do lugar. Escutamos então um ruído de água correndo.
A porta do banheiro está entreaberta, a luz, branca, crua, empresta um ar irreal ao ambiente por saturá-lo feito um flash. Há um riachinho de água morna correndo pelo piso de mosaico de pastilhas, mas o ralo junto da pia parece dar conta. De dentro da banheira vaporosa, Dona Laurinha, muito inchada e com olhos natados, nua me desnuda. “É isso o que é morrer”, ela parece dizer. Sua pele tem aspecto macilento e elástico. A mão direita está agarrada à cortina, que não cedeu, e a boca repuxada para o lado esquerdo entregaria de bandeja a causa mortis a qualquer legista novato.
— Chama a polícia, Raimundo.
***
“Não tem ninguém pra cuidar dela, quer que eles levem a Shakira pra SUIPA? A bichinha acabou de perder a “mãe” e vai ficar lá, sozinha, com um monte de cachorros que ela não conhece? O senhor não tem pena? Vão depois ligar pros parentes da Dona Laura e alguém vai aparecer. Olha, tem saco de ração, tem as vasilhinhas dela. O que custa? Se eu pudesse eu levava comigo, mas moro longe. Amanhã é sábado, e o senhor não trabalha, né?”.
Raimundo, eu planejava não conhecer o sábado-láudano…
De volta ao meu apartamento, encho a cumbuca de metal cor-de-rosa com ração e a cadelinha come avidamente, depois de ter se ensopado ao beber água. Coloco algumas folhas de jornal na área de serviço e ela logo descobre o novo “banheiro”. “Cachorra boazinha, ela”.
Shakira tem um bocado de excrementos colados ao pelo de muitas cores. Eu estou cansado e suado. Nunca dei banho num cão. Tiro as roupas e a levo junto, para dentro do box. Só tenho xampu anticaspa, mas terá que servir. Enxaguo então a cadelinha e ela, alegre, bebe água do chuveiro quando eu a ergo até meu peito. Começo a secá-la com uma toalha de rosto e ela lambe minha boca. Reajo com nojo e ralho com ela. Visto um pijama e resolvo isolá-la na cozinha.
— Tem água, tem comida, tem jornal limpo. Até amanhã! – eu digo, antes de cerrar a porta.
Deito na cama de meu quarto. Deve fazer um mês que não durmo por aqui. Mal fecho os olhos e uivos sentidos e surpreendentemente altos me impelem a me levantar. A cadela é bem treinada e não deve fazer sujeira, reflito. Acomodo-a sobre um tapete e tento dormir. Durante a noite, a levada consegue escalar a cama e meter-se sob o meu cobertor.
Desperto assustado, de algum pesadelo recorrente. Como que querendo me confortar, Shakira me lambe o rosto e me encara com ternura com seus olhinhos inocentes. Pela primeira vez em muitos meses, eu choro longamente, a ponto de soluçar. A cadelinha parece desesperada: late, ergue as patas, nitidamente preocupada.
Percebo então como o apartamento está gelado. Vou até a sala, hesito, e então fecho a maldita janela. O conserto do piso ficará provavelmente bem caro.
Ato II – Fim de outono
Eu tenho quase certeza que ele gosta de mim. Basta eu entrar no “Giovanni” e ele sempre está sentado à mesma mesa, me espiando pelo canto dos olhos. Piscou para mim ontem e levantou uma taça de vinho quando me viu. Sorriu? Ah, eu não deveria mais sentir essas coisas. Não foi assim que mamãe me ensinou; depois de quarenta e nove anos de casamento e quatro de viuvez, eu deveria me aquietar, pois as pessoas esperam que avós só tenham antúrios e samambaias choronas, gatos persas ou cães pequineses – plantas e bichos cafonas assim. Elas precisam aprender crochê, a cozinhar bolos incríveis, daqueles com glacês marmorizados, dignos da capa de “Cláudia Cozinha – Especial de Natal”. Têm a obrigação de serem carolas, de saberem o significado de “gáspea”, “reclame” e “almanaque”, e de não conseguirem usar o computador sem o auxílio dos netos.
Matilda me segredou que soube por uma amiga que ele foi solteiro toda vida, que se chama Carlos, que se aposentou pela Marinha Mercante, que conheceu o mundo todo quando jovem e tem uma âncora tatuada no braço. Não sei se eu seria interessante para alguém assim; com tantas histórias, tão vivido. O que eu contaria? Que casei nova, que tive dois filhos que agora vivem em outros estados, que meu marido foi comerciário, que éramos mais pobres e somente viajávamos nas férias – de Variant e depois de Kombi – ao SESC de Petrópolis ou àquele hotel-fazenda simplesinho, em Paty do Alferes? Que só fiz algumas excursões com as senhoras do clube, até Fortaleza e Buenos Aires, com minhas economias e o restinho do dinheiro do seguro do Antônio, que Deus o tenha?
Ele já deve ter tido uma amante em cada porto, todas exóticas, cheirando à especiarias e sândalo, vestidas em sedas ou sáris drapeados, conhecedoras de todas as posições do Kama Sutra, com lábios doces, peles de camurça e olhos de jabuticaba, refletindo malícia e inocência ao mesmo tempo.
Mas… Eu já tenho setenta e quatro, e ninguém diz. Acho que ainda sei beijar muito bem, que possuo um belo par de pernas bem torneadas e assunto para conversas inteligentes. Eu leio revistas e jornais de verdade, tenho ideais e ideias próprias; não fugi em 68, mas também nunca votei na Arena. Não sou uma deusa de olhos rasgados e peitos empinados, mas tampouco uma daquelas senhorinhas que cheiram a talco, que reprimem tudo e só falam de doenças. Assisto a filmes de arte e até futebol. Graças ao falecido, sei até dizer quando o jogador está impedido! Definitivamente, eu sou interessante. Hoje à noite, vou tomar iniciativa, caso ele ainda insista nesse chove-não-molha. Isso mesmo!
***
Triste esbarrar com esse rapaz do 1402 no elevador! É tão bonito, mas não fala nada, está sempre amuado e de óculos escuros, faça sol ou chuva. Nem liga pra Shakira, que fica fazendo festinha à toa! Tão magro e com manias esquisitas… Deixa a janela da sala sempre aberta e às vezes o escuto assistindo tevê até tarde. Assistindo, não! Já que ele troca de canal o tempo todo! Já pensei em reclamar com o síndico, mas o porteiro me contou que a companheira dele foi embora de casa e morreu num acidente de carro, pouco tempo depois… Não, não vou então bancar a vizinha tirana! Não me lembro da moça, se eles se amaram de verdade, mas tudo é mais fácil quando se é jovem, principalmente quando se é homem, não? Logo, logo aparecerá com alguma garota e essa melancolia toda vai passar!
***
— Boa noite! Seria muito atrevimento meu me convidar a sentar à sua mesa? Meu nome é Carlos.
Meu coração agitou-se, me senti feito mocinha beijando o namorado atrás do muro da igreja, com medo do flagrante do pai. Quanto tempo ele levou ensaiando essa frase?
— Imagina! Seria um prazer! Eu sou a Laura – ofereço a mão – mas meus amigos me conhecem por Nininha.
— Nininha? – ele me surpreende e me beija a mão, galante feito ator de novela. Lembra um pouco aquele rapaz, o Fagundes.
— É apelido de infância. Com uns doze anos, fui babá por quase um ano duns primos pequenos quando minha tia adoeceu, e os amorzinhos me chamavam assim. Daí, “pegou”.
Ele sorri, docemente. Acho que tem dentes naturais.
— É incrível como quase toda palavra mais deliciosa vem acompanhada de uma história igualmente bonita, não é? Têm palavras que são assim; tão perfeitas que formam, não sei, um paradoxo. Quem surgiu primeiro? A ternura, encarnada na palavra que a define, ou ela própria? Ter-nu-ra… Poderia ter outro nome? É claro! Hã, “Meu coração estalava de tanta filarmônica”. Ha-ha-ha! Não soa bem, não? Você, certamente, é um caso desses: esse apelido carinhoso evoca, deixa eu ver, tardes de sol sob árvores com folhas alaranjadas e copos altos de limonada, suados, com folhinhas de hortelã e gelo.
“Paradoxo”, “evoca”?! Minha nossa, é a “cantada” mais elaborada que já ouvi. Chega a ser exagerada, como se abater uma lebre com um tiro de bazuca, ha-ha.
Discretamente, eu o observo: os cabelos brancos, cheios e revoltos, o rosto bronzeado e vincado, as orelhas grandes e vermelhas, a voz profunda. Possui olhos de um tom sem nome – verde-âmbar-azulado – e, sim, exala um perfume vagamente marinho. As mãos parecem ásperas, feito cordas puídas; cracas cobrindo as rochas do litoral.
Passamos os olhos no cardápio e conversamos. Descobrimos montes de coisas em comum: que adoramos manjericão e azeitonas pretas, daquelas murchinhas e bem salgadas, que achamos que pizzas de banana são abomináveis adaptações desses tempos de rodízios e que aliche foi inventado por monges que queriam expiar seus pecados com algo pior que a Dama de Ferro.
Deixo-o conduzir a conversa, sei que homens apreciam a ilusão do controle. Passam-se talvez umas duas horas e então acho graça ao me flagrar fazendo planos. Velhos não deveriam pensar no futuro, com a morte ali na esquina! Mas eu não ligo! Ah, eu quero experimentar essa loucura irresponsável que é gostar de alguém, pra valer. “E as crianças?”, me pergunta uma parte antiquada de mim mesma. Ora, eu acho que já vivi o suficiente para saber que, se eu pago minhas contas, não devo satisfações a ninguém. Não me iludo, entretanto, não sou a Pollyanna dos livros. Nos bailes de terceira idade há pencas de senhores “pegadores”, movidos a Viagra, querendo “descolar” uma bobalhona com pensão gorda.
Vamos dar tempo ao tempo e ver em que molde ele se encaixa. Mas, Nininha, vamos também não oferecer tanta resistência que não te permita, se ele se mostrar merecedor, provar do sal e do sol, se aventurar em mares bravios, voltar a se sentir viva.
***
Quarta-feira: três semanas desde nosso primeiro encontro, o tempo voou. Recebi hoje um cartão dele e rosas! Ah, quem ainda envia correspondência atualmente? Já li tantas vezes que gastei as palavras! “Minha flor: falei com um amigo que vai me emprestar um veleiro muito bem arranjado. Vamos juntos até Itacuruçá no próximo sábado? O mar é sempre mansinho por lá e eu compro umas ostras e vinho verde. Acho que você vai gostar! Te ligo depois, para combinarmos melhor. Seu, sempre seu, Carlos”.
Beijo o cartão e nem ligo para a caligrafia feiosa. Sinto-me como a Luísa, de Primo Basílio. Como era mesmo aquele trecho famoso? Eu costumava saber de cor… Humm, alguma coisa sobre ter suspirado e beijado o papel devotamente, sentimentalidades, um corpo ressequido que se estira depois dum banho tépido, existência superiormente interessante! E não é assim mesmo que me sinto? Tudo ganhou mais brilho!
Preciso dum banho como o imaginado por Luísa: com sais e espuma, e essenciais óleos essenciais. Puxa, até essa vista que se tem da rua, todos esses prédios sem graça, as janelas que mais se assemelham a olhos encovados, hoje não está de todo má. Em verdade, se a gente olhar com boa disposição, dá para se notar o arranjo até harmonioso das pastilhas marrons de um, dos tijolinhos verdes do outro, do amarelo-canário da sapataria. Cada um, distinto, individual, contando uma rica história só sua… Não existem copos meio vazios se a alma é plena… Ah, estou virando uma tonta mesmo! Mas, Nininha, tem coisa mais antiga e boboca que se apaixonar?
— Oh, o quê? Shakira! Menina feia! Olha só o que você fez! Rasgou a cartinha da mamãe! O que deu em você? Ai, ai, ai! Vai ficar de castigo, sua levada! Já pra varanda!
***
Ah, como um banho de banheira é relaxante! É um pequeno luxo que eu deveria me dar de vez em quando… Deixar a cabeça repousar numa toalha dobrada, inspirar devagar o ar perfumado, sentir a pele agradecendo pelo carinho hidratante. Talvez devesse ter apagado as luzes e acendido umas velas cheirosas. Não; ‘tá perfeito assim.
***
“Trim-trim-trim-piiiiiiiiiiiiiii!”
Droga, que susto! Que barulho foi… Acho que tirei um cochilo… Quem será que está me ligando? Ui, tô toda dormente!
“Oi. É o Carlos. Estou em Campinas e tive um contratempo. Vou ter que adiar o nosso encontro pro domingo, tá bom? Passo por aí por volta das nove da manhã. Se você não puder, me liga! Beijos. Eu, hã… Posso dizer uma coisa? É bobagem de velho, mas acho que… Já gosto muito, mas muito mesmo de você. Eu te amo… Pronto, confessei! Sou mesmo um desastre pra falar desses assuntos. É isso. Tchau!”
Que mimosinho! Nossa Senhora! Estou tonta, tonta, não consigo me levantar… Ai, Deus, que enjoo repentino, que dor de cabeça…
***
O quê? Como?! Um iate enorme, ancorando na minha varanda, como é possível?
— Carlos, seu louco! O que os vizinhos vão dizer, homem? Onde arrumou um barco tão grande?
— Minha flor! Sua boba, ninguém nunca lhe ensinou que não se deve duvidar da felicidade e, sim, agarrá-la, com muita força? Caramba, olha só, que vestido lindo! Já estava me esperando, malandrinha? Repara só como o mar ‘tá impecável hoje: parece um espelho. O sol, tão luminoso, com todos seus matizes refletidos pelo prisma das águas. E veja: os livros de ciência ‘tão todos errados; a soma das cores não resulta em branco! Notou? Ficou sem nome até hoje, porque faltava a palavra correta, que a definisse com precisão. O mundo esperou!
— E esse nome, é o meu? Nininha?
— E poderia ser outro?
***
Talvez fosse um domingo-lemingo, mas está mais para domingo-flamingo. Exagero meu: na verdade, as coisas não estão róseas assim, porém me impressiono quando penso que estive a um passo de saltar lá de cima. O que me passou pela cabeça?
Eu ainda me assombro com a sequência de eventos recentes. A oportunidade de ver a morte “real”, cara a cara, antes de me decidir sobre experimentar a minha própria. De ter desviado dos meus planos originais por algo que normalmente não faria, pois nunca fui muito apegado a cães. E como?, eu me pergunto, essa criaturinha sem inteligência conseguiu me resgatar do poço em que me afundei desde a morte da Amanda, se nem a terapia o fez?
Niel deGrasse diria – gesticulando muito com aquelas mãos gorduchas – que decisões importantes abrem realidades paralelas, que noutro universo eu pulei e Shakira morreu, ou que a senhora viveu e, portanto, não havia cadela na varanda e saltei da mesma forma. Ou noutro mais benevolente, nos salvamos todos e Dona Laura – o porteiro me contou que ela tinha um namorado – escreveu um bilhetinho para ele, confessando seus sentimentos.
Alguém religioso argumentaria que foi Deus, jogando seus dados multimilenários, mas o que esse alguém diria sobre ela? Solitária, talvez preocupada com o destino do bicho de estimação e com a falta de dignidade de sua mortalha. E com ela? Foi justo?
Sei que “morrer” é verbo intransitivo e não pede complemento, porém penso que ninguém deveria passar pela experiência sozinho. “Fulana morreu de amor por beltrano”, faria o verbo mudar para transitivo direto e indireto? Talvez não! Mas, às vezes, reescrever a gramática, poderia fazer do mundo um lugar melhor.
☬ As Cores sem Nome – Final
☫ Luiz Braçoforte
ஒ Físico: A qualidade do texto permanece a mesma. Excelente! De fato, consegui confirmar que o estilo do autor é realmente prolixo. Como mencionei antes, isso não é ruim de forma geral, apenas limita o número de leitores e admiradores. O maior problema com esse tipo de escrita é que o foco é a estrutura física, enquanto a mensagem da estória fica no plano de fundo. Além disso, percebi algumas variações no tempo verbal do texto. O autor poderia se preocupar mais com isso no momento da lapidação. Tente melhorar isso nos próximos textos.
ண Intelecto: A estória da idosa foi interessante. Mas acredito que não se encaixou muito bem nesse conto. Se fosse um texto a parte, que falasse sobre outro assunto, seria bem melhor. Mas com o tema como cotidiano, acabou defasando o conto inteiro. Direcionou a estória para outro caminho bem diferente do que deveria. Mas é inegável que o autor tem mãos hábeis quando se trata da criação de personagens. Parabéns!
ஜ Alma: O conto, na primeira parte, estava dentro do tema de forma perfeita. O foco era o protagonista e sua relação com o cotidiano. Um dos poucos textos que conseguiu fazer isso e seguir minha linha de raciocínio na avaliação desse desafio. Mas a segunda parte acabou direcionando o texto para outro caminho. O segundo ato poderia falar como a vida do protagonista melhorou com a presença do animal, tendo foco em sua nova rotina, e assim fecharia o desafio com chave de ouro. Ou fazer uma tragédia e tratar do cotidiano do protagonista lidando com essa tragédia. Enfim, o autor poderia fazer um monte de coisas e não fugir do tema. Mas tomou a decisão errada… Enfim, o autor parece ter talento para a escrita. Ele levanta questões interessantes e inteligentes. Não é um texto qualquer. Parabéns por isso!
௰ Egocentrismo: Apesar da leitura cansativa, gostei do conteúdo geral. O único ponto que me desagradou foi a fuga ao tema, mas isso é apenas um dos critérios da avaliação.
Ω Final: Texto maravilhosamente bem escrito, mas com estilo prolixo demais. Poderia encontrar um ponto de equilíbrio e evitar o “vai e vem” desnecessário. Estória concisa com personagens reais. Fugiu um pouco do tema, mas a primeira parte contrabalanceou a falha da segunda parte. O autor tem muito potencial!
௫ Nota: 9.
Muito interessante a abordagem passar para o lado da Dona Laura, contando sua história, seus pensamentos e sentimentos. Sendo o encontro dos dois no elevador praticamente um easter-egg.
Talvez o que a levou à morte poderia ter sido explicado ou até mesmo detalhado. Um problema no coração talvez, para refletir o que estava acontecendo em sua vida naquele momento.
A segunda parte acertou em trazer a personagem da senhora, mas isso tirou o foco do personagem da primeira parte, e, sinceramente, deixou tudo meio no ar. Eu gostei bastante da parte da senhora, cheia de emoção e foi tudo muito bonito. Mas justamente por ter lido a primeira parte, me decepcionei com o rumo do personagem que encontra a cachorra. Ele virou coadjuvante do próprio conto. Um conto triste, mas belo ao mesmo tempo.
Adorei! O que dizer? Só acho que esse conto daria um livro. Lembrei muito de um
livro que li, “Restos Humanos”. É bem diferente a temática, tem serial killer etc., mas há narração de várias personagens, inclusive dos mortos e muitas reflexões interessantes a respeito desse momento. Gostei mesmo, parabéns! Algo na sua escrita me lembrou o Jef. Será? Me passou a impressão de ser do Pedro Luna também, aiaiai, rs… Seja quem for, levou um 10! 😉
Cont Louis Armstrong. (8,5)
Como disse no primeiro comentário, achei que não fosse um conto que precisasse de um complemento. Não por outra razão, penso que o autor foi muito feliz em continuar a história com a perspectiva da Nininha, vez que o arco do Vítor já parecia concluído.
E, por falar em Nininha, acho que ela foi uma ótima protagonista, ricamente construída, realmente interessante. Como não se apaixonar por essa minibiografia: “Eu já tenho setenta e quatro, e ninguém diz. Acho que ainda sei beijar muito bem, que possuo um belo par de pernas bem torneadas e assunto para conversas inteligentes. Eu leio revistas e jornais de verdade, tenho ideais e ideias próprias; não fugi em 68, mas também nunca votei na Arena. Não sou uma deusa de olhos rasgados e peitos empinados, mas tampouco uma daquelas senhorinhas que cheiram a talco, que reprimem tudo e só falam de doenças. Assisto a filmes de arte e até futebol. Graças ao falecido, sei até dizer quando o jogador está impedido! Definitivamente, eu sou interessante. Hoje à noite, vou tomar iniciativa, caso ele ainda insista nesse chove-não-molha. Isso mesmo!”
Confesso que fui buscar o significado de gáspea no dicionário.
O epilogo no final é a cereja do bolo, é sensível e divertido.
Como um todo, esse conto sobe 0,5 na minha nota original!
Ah, é o título é lindo.
Parabéns novamente!
Muito bom esse conto, e muito bem escrito. Não havia lido durante a primeira parte do desafio. Poderia ser apenas um conto narrando a vida do cara solitário, em sua tentativa de se suicidar ou apenas narrar a história de amor entre Nininha e Carlos, mas o fato de juntá-las, através da cachorrinha é o que torna esse conto forte e adorável para mim.
Boa sorte!!
O que mais gostei no texto foi a narrativa. Traz referências legais que abrangem a reflexão das personagens. Acho só que a segunda parte deu uma enrolada, o que me faz preferir o primeiro ato. As ilustrações caíram bem, o trabalho está bem cuidadoso. Parabéns.
Rapaz, esse sistema de contos com continuação é bem complicado, não? Digo isso porque gostei muito da primeira parte, mas nem tanto do desfecho, embora estejam bem conectados. É que na metade inicial, me parece, a natureza auto-destrutiva do protagonista fou construída de maneira excelente. De fato, desde os parágrafos que principiam a narrativa, elaborados de forma elegante e com metáforas bem inspiradas, o leitor é tragado para a mente perturbada de alguém que deseja acabar com a própria vida mas que é salvo por um latido (!). Genial! Aí está a possibilidade de redenção, de ver a vida em cores novamente e isso, confesso, elevou sobremaneira minhas expectativas. E, bem, é aí que mora o perigo. Na segunda parte, levei algum tempo até sacar que se tratava do ponto de vista da senhora que havia morrido. Gostei da surpresa, é verdade, mas creio que o modo de descrever essa personagem ficou muito aquém do que havia acontecido com o rapaz. O que quero dizer é que a velhinha é muito “flat”, não dá para se apaixonar por ela – sob o ponto de vista do leitor – não dá para torcer escandalosamente por ela… E, por se tratar de alguém com certa idade, esse apelo poderia ter sido bem melhor explorado, afinal, velhinhos atraem nossa simpatia quase que automaticamente. A meu ver, se ela tivesse sido apresentada como alguém sonhadora, alguém com dilemas e sentimentos profundos, seria mais facilmente identificável com quem lê a trama. Seria possível sofrer pelo destino já conhecido, torcer para que isso, de alguma forma, mudasse. De qualquer maneira, a perícia na maneira de contar a história merece elogios e o fato de que a segunda protagonista não ter sido, a meu ver, devidamente explorada, não tira muito do brilho da narrativa. Um trabalho acima da média, sem dúvida. Parabéns.
Nota: 8,5
Gostei mais da primeira parte. A segunda parte também está muito bem escrita, mas achei desinteressante. A primeira parte conseguiu me cativar, fez com que eu me importasse com o personagem, já a segunda parte eu não dei a minima pra senhora, coitada… O nível do seu texto é muito elevado, tecnicamente ele é excelente.
Abraços e boa sorte.
TÍTULO sutil e determinante na interpretação das emoções (2/2). O TEMA morte faz parte do nosso cotidiano (2/2). A narrativa em 1ª pessoa de dois personagens tão distintos um do outro deu personalidade ao FLUXO meio lento(1,5/2). TRAMA paralela bem costurada, embora saber cedo que Nininha morreu tirou um pouco a emoção (1,5/2). Uma reflexão sobre a morte deu um FINAL bacana e a ilustração ajudou, mas desde que ele percebeu que a cadela estava sem comida na varanda eu já sabia o fim da história. (1,5/2). Total 8,5
Notas Parte 2
Tema – 10/10 – adequou-se à proposta;
Recursos Linguísticos – 10/10 – texto muito bem escrito, sem problemas;
História – 10/10 – gosto dessa coisa de apresentar outra perspectiva de uma mesma história, faz a gente se apegar mais a ela;
Personagens – 10/10 – Nicette Bruno, é você?
Entretenimento – 10/10 – texto muito divertido e cativante, nem pisquei;
Estética – 10/10 – a maneira como você explorou esse amor de terceira idade foi belíssima. A cartinha no final, que coisa mais bela. Parabéns.
Olá,
Não havia lido nada na primeira fase e li tudo agora, de uma vez. Me identifiquei bastante com o jeito de escrever da primeira parte ficou com uma cara melancólica/irônica/pessimista que eu gosto e que tento empregar nos meus textos às vezes. Até o resgate da cachorra era nota 10.
Daí veio o fim de outono…
Não que esteja mal escrito. O padrão se mantém. Na verdade, manteve-se até demais. Fiquei o tempo todo com a voz do primeiro narrador na cabeça, em nenhum momento o segundo narrador me convenceu que era uma senhora, exceto talvez por uma ou outra expressão tipo: “Lembra um pouco aquele rapaz, o Fagundes”. Mas foi pouco.
A trama na segunda parte também não é tão interessante. Cheguei a pensar que seria um tipo de golpe, mas foi só derrame mesmo (pelo que entendi). O bilhete no final ficou bacana, mas não sei se a velha usaria a notação <>.
Bom, no geral, considerarei a qualidade da escrita e darei mais peso à primeira parte, que gostei mais.
NOTA: 8
EGUAS (Essência, Gosto, Unidade, Adequação, Solução)
E: A história continua com ar bem triste, mas poético. – 9,0.
G: Achei as divisões um tanto confusas, mas o enredo cativa muito. É simples, mas envolve de uma forma sem explicação. Faz-nos querer saber o destino dos personagens. – 8,0.
U: Está bem escrito e flui muito bem. – 8,0.
A: Dois cotidianos em um só. Bela jogada. – 9,0.
S: O outro lado da história ficou com ar de crônica de vó, o que deu uma sensação aconchegante bem interessante. – 8,0.
Nota Final: 8,4.
Um conto perfeitamente escrito. A primeira parte funciona muito bem e, não levando em consideração o viés real em que a história potencialmente se baseou, achei o trabalho do autor, a priori, original; porém, essa originalidade, que gira em torno de uma premissa sentimental sobre os relacionamentos passionais do cotidiano acaba perdendo força pela quantidade de outros trabalhos com o mesmo viés que enxurraram o certame.
Friso, o conto é perfeito.
Mas a história, infelizmente, por conta de todos os outros contos que abordam direta ou indiretamente o mesmo aporte conceitual, perdeu força. (mera opinião do leitor).
Parabéns.
A primeira parte do conto abordou o lado do rapaz, do quase suicida,que teve seus planos frustrados por compaixão pela cadelinha abandonada. A segunda parte, trouxe a visão da dona da Shakira, vítima de um mal súbito que desencadeou sua morte.
Esta segunda metade lembra mais um diário. Cotidiano! Tema abordado com sucesso.
Gostei das colocações da senhora, das suas reflexões sobre o que se espera de uma pessoa madura. São muitas referências e detalhes.
Pelo tom intimista e, ao mesmo tempo, descontraído, a narrativa prende a atenção do leitor com facilidade.
Não encontrei muitos lapsos de revisão.
– cheirando à especiarias e sândalo > cheirando A especiarias e sândalo
– essenciais óleos essenciais > repetição de “essenciais”
O final do conto retoma ao narrador como o rapaz do 1402. O jogo do verbo morrer como transitivo me fez pensar no livro Amar, verbo Intransitivo, de Mário de Andrade.
Não sei se o bilhete de Nininha surtiu o efeito esperado como final.
Boa sorte! 🙂
Olá, Luiz Braçoforte!
O modo como escreves é envolvente, tens o dom de expor a palavra certa no momento certo. A literatura agradece.
O que me desagradou foi, apesar de bem escrito, o início do conto. Apenas comecei a gostar da trama a partir do momento em que o personagem Vítor ouviu o ganido da Yorkshire da vizinha. Principalmente porque, deste momento em diante, com uma pitada de suspense e expiações sobre a vida ou o fim dela, o conto revigorou-se.
O lance da velhinha morrer para viver um grande amor ficou bem estruturado, um pouco forçado (rrssrrs) mas serviu como reflexão para o personagem suicida.
Boa sorte!
Voltei para dizer que continuo amando este conto e agora já posso lhe dar nota 10! \o/
Quando vi que a continuação seria sobre a senhorinha que morreu, achei q seria tristissimo e fiquei triste…rsrsrs mas não foi tão triste… achei lindo, terno, perfeito, original. Parabéns é uma palavra fraca para lhe dizer… sinta-a potencializada: Parabéns!
caramba, adorei esse conto. No começo parecia mais um caso de depressão-pós- moderna-coisa-que-está-na-moda, mas a reviravolta foi boa sem ser piegas. Há coisas no estilo da escrita que me agradaram bastante especialmente porque @ autor@ soube usar na medida… como os cortes secos que descrevem o dia de trabalho.
peço muita desculpa, mas a história não me pareceu muito interessante, com um inicio pesado que não deixava as palavras andarem, depois de preparar o salto a trama ganhou um pouco de interesse, mas nunca me agarrou, talvez porque você não conseguiu descrever a cena que encontrou em casa. talvez falte a 2ª parte para me agarrar ao texto, esperemos pelo próximo episódio
O conto já começa bem, com a história dos átomos solitários, e nós como guardas enganados pelo pica-pau, ao estilo Raymond Chandler. Interessante a quantidade de cachorros neste desafio. Gostei de o conto sempre conter versos, tais como “com olhos natados, nua me desnuda.” Na verdade, o conto foi-se tornando de uma singeleza emocionante, até o “romântico” final com a cadelinha. Um excelente conto, do qual aguardo, em desespero, o Ato II.
Caro (a), Louis Armstrong.
Sua escrita é fluida e frenética, com boas referências e analogias muito bem construídas.
Desde o início é possível se conectar com o protagonista da história. Sentir sua angústia, seu tédio, sua dor. Seu jeito peculiar de enxergar o mundo, essa passagem resume bem o que digo: “Fachadas sem alma e homogêneas, dum castanho-mendigo mesclado ao amarelo-escarro das luzes de mercúrio e ao verde-químico do mofo onipresente, resultando num tom asqueroso e certamente sem nome, exilado da palheta de cores naturais.”
Perto do final, de modo inusitado, ele descobre, talvez, um motivo para permanecer vivo. Uma morte para despertar, uma responsabilidade para continuar respirando. É um conto que não precisa, necessariamente, de um complemento. Contudo, penso que pode existir alguma reviravolta interessante, Vamos esperar.
Um ótimo concorrente.
Parabéns e boa sorte.
Gostei mais da condução do que da história. A leitura fluiu bem do meio para o fim, o início travou um pouco pra mim. Particularmente não gosto desta pegada poética para narrar coisas do cotidiano. Não consigo imaginar um cara que quer se suicidar, não cogitar mandar alguém tomar no cu. A frustração do personagem eu fiquei sem entender de onde vinha. Além do mais o cara quer se suicidar vendo degrasse tyson? eu adoro a série cosmos! Ponto a menos (brinks) ahahaha.
Vim só pra dizer que amei este conto,tanto que já reli umas várias vezes!.
vou guardá-lo
se eu lhe desse nota?10!!
abração
As Cores sem Nome (Luiz Braçoforte)
♒ Trama: (4/5) muito interessante, se baseia no mesmo mote do meu conto (Jogo das Estações), sobre suicídio e apego à vida. A parte que descreve a rotina ficou muito legal, com a sucessão de coisas e ações. Gostei também da reviravolta, embora tenha intuído que a senhora estava morta desde o início. Gosto de cachorros e tenho boa experiência com eles: são muito bons em nos fazer felizes. Só perdem para as crianças. Que bom que a Shakira salvou o Vítor.
✍ Técnica: (5/5) frases muito bonitas, cada palavra bem escolhida. Ainda pretendo escrever assim um dia 😉
➵ Tema: (2/2) muito adequado (✔).
☀ Criatividade: (2/3) por mais que suicidas sejam recorrentes (no meu texto, por exemplo), achei interessante a forma como sua consciência foi mostrada.
☯ Emoção/Impacto: (3/5) o texto agradou muito, mas não chegou a me emocionar. Fiquei feliz pela resolução, mas não rolou aquele sentimento mais forte. Acho que um pouquinho mais de desenvolvimento da relação do protagonista com o animal teria funcionado melhor comigo.
➩ Nota: 9,0
Frases de destaque:
● “Eu invejo os átomos eternamente solitários.”
● “Dona Laurinha, muito inchada e com olhos natados, nua me desnuda.”
As Cores sem Nome (Luiz Braçoforte) – Segunda Fase
📜 Trama: estranhei um pouco a mudança de personagem, mas depois passei a gostar da Nininha. Quando descobri que era a senhora que morria, o encanto com a vida dela se tornou a leitura de um drama que eu já sabia o final. Acho que se arrastou um pouco a partir daí. (-0.5)
📝 Técnica: continuou muito bem escrito e envolvente, merecendo a nota máxima que eu tinha dado. (0)
🔧 Gancho/Conexão: a mudança de personagens aqui funcionou, mas também atrapalhou, já que sabíamos que ela ia morrer. Mas ainda assim, foi uma boa saída para continuar com a trama (0)
🎭 Emoção/Impacto: não tive as mesmas sensações que na primeira parte como na relação do rapaz com a cachorra, mas gostei da nova personagem, deixando tudo no zero-a-zero aqui (0)
⭐ Nota: 8.5
O início do conto não estava interessante para mim, mas quando ele tenta o suicídio e é salvo pela Shakira, minha atenção foi conquistada e mantida até o final.
Muito bem escrito e com leves toques de humanidade que me surpreenderam.
Conto muito bem escrito, um dos melhores que li por aqui. Passa muito bem a monotonia, a revolta, a decisão do personagem de jogar-se pela janela e, por fim, a forma como seu plano é jogado fora. Tudo é muito “normal”, passando uma ideia de cotidiano com a qual eu e qualquer outro leitor pode se identificar. O escritor tem um tato muito apurado para passar sensações e sentimentos pesados como os do texto. A escrita está impecável.
Senti um certo ar de dejavu enquanto lia a história. Acho que foi por que assisti recentemente o filme John Wick. Odiei o longa, mas a história inicial é parecida: homem desolado, recebe uma cachorrinha yorkshire de presente de uma mulher morta e ela passa a ser seu elo com o que restou de motivação para viver.
Mas de qualquer forma, isso não atrapalhou a experiência de leitura deste texto maravilhoso. Parabéns!
A segunda parte me fisgou mais ainda. MALDITOS NINJAS CORTADORES DE CEBOLAS!!!
No início da segunda parte torci o nariz por que notei que era sobre o passado. Eu estava esperando ler a continuação da historia de Vítor, por que a narrativa tinha parado justo em seu momento de “redenção”. Mas Nininha me pegou de surpresa. Criei uma ligação imediata com ela e seus pensamentos de gente que viveu muito.
No final, para minha satisfação, ainda consegui o que queria: um fechamento para a história do Vítor.
Arrisco dizer que a técnica da segunda parte está ainda mais charmosa do que na primeira. Li e li e, quando vi, já tinha acabado. Isso é um sinal infalível de que o texto é bom demais.
PARABÉNS!!!!!
Conto tocante e bem estruturado.
A primeira parte muitos elementos de linguagem científica combinando com apatia e indiferença do personagem pela existência. A segunda parte revela o porque desta apatia. A vida estressante e desumana da ‘sociedade moderna’. O clímax está no lugar exato ‘morrer ou não morrer’? O ponto de virada é surpreendente e chocante tanto para o personagem quanto para o leitor. O personagem leva um choque e a resolução é tocante e reveladora: as vezes só precisamos cuidar de alguém para que a vida faça sentido. Parabéns. Belo conto.
Muito bem escrito e sentimental. Um conto cinza, escrito com tinta dourada. Parabéns ao autor. Fez um bom trabalho, mesmo utilizando-se de uma temática que não me é das preferidas. E eu já sabia: ninguém que gosta de cachorro pode ser uma má pessoa.
😉
Boa sorte,
Paz e Bem!
☬ As Cores sem Nome
☫ Luiz Braçoforte
ஒ Físico: O conto está extremamente bem escrito, de fato, o autor tem uma habilidade aguçada. O estilo não me agradou muito, pois é prolixo demais. Divaga muito para falar pouca coisa. Mas isso não é um problema de via única, pois existem leitores que gostam desse estilo de leitura. A estética do texto também está bonito.
ண Intelecto: A estória se foca unicamente no protagonista. E sua construção é formidável. Poderia confundi-li com uma pessoa real. Isso é ótimo! O desenvolvimento é muito devagar, mas foi a melhor decisão para um enredo desse tipo, que não tem muitos atrativos. O autor realmente deve compensar de outras formas. Parabéns!
ஜ Alma: O texto está dentro do tema. Foi incrível verificar como a rotina incomodava esse personagem. Foi uma leitura interessante. Agora, não encontrei nenhum gancho para uma continuação, e o texto poderia terminar onde terminou. Não tem poder de atração. Isso realmente complicou um pouco…
௰ Egocentrismo: Gostei da estória e do protagonista. Mas admito que a leitura foi bem cansativa. Cheguei a ansiar pelo suicídio. “Pula logo, rapaz!”, hahahaha.
Ω Final: O autor expressa sua habilidade, e provável talento, num conto bem escrito e bonito. O estilo prolixo deixa o texto restrito a alguns leitores. Está dentro do tema, mas não tem poder de atração para uma continuação. O texto pode terminar aqui.
௫ Nota: 7.
Tema – 10/10 – adequou-se à proposta;
Recursos Linguísticos – 10/10 – texto muito bem escrito com uma linguagem clara, apesar de complexa;
História – 8/10 – muito interessante a proposta, de início achei a trama um pouco lenta e sem substância, mas a coisa melhorou do meio para o final;
Personagens – 10/10 – muito bem construídos psicologicamente;
Entretenimento – 8/10 – nada como uma morte pra deixar as coisas interessantes, não?;
Estética – 8/10 – muito interessante a narrativa, a maneira como esse cotidiano repetitivo e depressivo foi descrito foi interessante. Só faltou sentir um pouco de agonia junto com o personagem.
EGUA (Essência, Gosto, Unidade, Adequação)
E: Pelo visto, o tom mais intimista vai aparecer bastante por aqui. O cotidiano de uma pessoa mais depressiva foi bem refletido. – 9,0.
G: O início não tinha me chamado tanto a atenção, achei um tanto morno (é cotidiano, fazer o quê) mas o desenvolvimento consegue cativar. As brincadeiras com Cosmos e Pica-Pau deram um tom interessante ao contexto. As quebras de turnos caíram bem, apesar de cortar de leve a linha de raciocínio. Do meio para frente, a história melhora e muito. Principalmente a partir do momento da janela, pois mexe com a empatia do leitor. – 8,0.
U: Não vi nada fora dos padrões que me incomodasse. A escrita é simples, mas competente. – 8,0.
A: É bem complicado escrever sobre isso e não cair em clichês. Tem um pouquinho, mas a reviravolta salvou tudo e tornou o texto diferente. Não encontrei ganchos para o próximo texto, a não ser o novo convívio com o bichinho. – 7,0.
[8,0]
Boa narrativa, texto correto, boa gramática. O personagem nos transmite em suas emoções e pensamentos, toda a desilusão pela vida que leva, só não foi revelado a causa, talvez fosse medo de viver, ou aborrecimento pela rotina, o que não dá razão a tal ato. Mas, ele decide acabar com a vida e se coloca na janela de seu apartamento para se jogar do edifício, mas eis que, ele percebe que algo errado está acontecendo no apartamento ao lado e adia, por enquanto, o seu intento e decide investigar.
Um bom inicio, só resta saber o que ele vai fazer da própria vida a seguir.
Posso dizer que o autor deu show de escrita. Apesar da qualidade, o início depressivo soou um pouco batido, mas a introdução de situações que mudaram a história deu gás ao conto. Estou com dificuldades para analisar, mas apesar de não haver um gancho maluco, estou com vontade de saber o que vai acontecer com o personagem e o cachorro. Gostei da menção ao episódio do Pica-Pau. Coisas assim situam e criam laço com o leitor. Ah, os diálogos ficaram muito bons. Fluíram beleza quando li em voz alta. O autor manja da escrita, mas acho que isso ele já sabe. Prbs.
A leitura me pareceu uma montanha-russa, com alguns altos e baixos. Suicídio é algo que gosto bastante de retratar e de ler sobre, essa coisa da depressão, da ausência de sentido no cotidiano, esse vazio existencial que nos empurra a dar um fim nisso. Gostei quando citou o “bilhete”, algo bastante romantizado nos livros e cinema, daquela mensagem deixada pra trás. Interessante o pensamento da personagem sobre isso. Mas como prefiro a tragédia ao final feliz, meio que desanimei com o rumo do conto
Mesmo assim, a história em si ficou interessante e fechada, com início, meio e fim (ainda que sugerindo que há um “Ato II”). Há uma boa reviravolta.
As referências da cultura pop também caíram bem, como o icônico episódio do “descendo as Cataratas do Niágara, subindo as Cataratas do Niágara”, passando pelo pseudônimo (Louis Armstrong?), que já vi em algum meme da vida, ou da ilustração escolhida. Dão um ar mais descontraído à trama.
Entretanto, achei algumas coisas fora da curva. A escrita muda diversas vezes: o começo aparenta ser algo espacial, futurístico; enquanto no meio somos trazidos de volta ao século 21. A primeira metade é escrita como uma porrada, com sentenças rápidas e cheias de informação, quase um cyberpunk; enquanto a segunda metade é mais contida e a narrativa mais “tradicional”. Colocando lado a lado, parecem duas histórias e dois personagens diferentes.
Segundo conto que leio e suspiro – Outro muito bom! Não percebi erros na revisão, só estranhei uma passagem – “nem um restinho de sublimados amor ou ódio, que pudessem (…)” Eu concordaria o verbo PODER com UM RESTINHO – Nem um restinho de sublimados amor ou ódio, que PUDESSE… Mas creio que não chega a ser um erro, pois se focou em amor ou ódio.
A narrativa prende bem a atenção e o leitor se pega querendo saber se o moço pula ou não da janela. É ao mesmo tempo bem angustiante (tenho lá meus motivos para isso) ler essa passagem de desespero, como também foi confortador descobrir que ele ainda se importava com detalhes como uma cachorrinha abandonada. Há claro um tom melancólico atribuído a um cotidiano deprimente, mas também percebi um toque de humor, de leve discorrer sobre o sentido dos pequenos detalhes da vida.
Curiosa para ler a segunda parte do seu conto, autor. Abraço.
Olá, autor (a)!
Sua narrativa leve e ágil contribuiu para a boa qualidade do conto. No início, fiquei meio assim se gostava ou não. Acho que aqueles flashs dos acontecimentos diários não caíram muito bem no texto, mas no decorrer e com a chegada do momento derradeiro, a história tomou um novo fôlego e acabou muito bem. Gostei do desfecho dessa primeira parte, que dotado de uma boa narrativa, conseguiu me conquistar. Cachorrinha boazinha ela, que conseguiu salvar o cara da morte. Hehe
Quanto a gramática, só vi uma coisa que me pareceu bem estranha; “…com a naturalidade de quem ensinasse a uma criança como preparar gelatina…”
Não seria de quem ensina? Vou deixar para os universitários responderem depois.
Parabéns e boa sorte!
Olá de novo!
Gostei da segunda parte. Não estava esperando pela história da pobre Nininha.
É interessante ver que qualquer um pode sonhar, independente da idade. A forma como você escreveu isso também foi bem suave, seguindo o modelo da primeira parte.
A qualidade literária continuou muito boa, algumas imagens ficaram bem marcadas na memória.
No geral, o conto foi muito bom.
Parabéns e boa sorte.
P.S.: Moro perto de Itacuruça. Haha