Eu tenho por costume, escrever meus textos à mão, para depois passar para o computador. Nesse processo vou fazendo uma revisão, modificando alguma coisa e acrescentando outras.
Eu escrevo contos, estórias fictícias, curtas. Não gosto de escrever romances, não consigo. O conto é mais rápido de ser criado e eu às vezes, escrevo três ou quatro ao mesmo tempo. É que, quando começo a escrever um, vem inspiração para outro (claro, muito diferente, mas alguma coisa apertou o gatilho) e logo dou início ao segundo. Tem tempos que é assim.
Às vezes imagino apenas o início e quando vou escrevendo, os próprios personagens é que vão criando o roteiro. Tem gente que não acredita, mas é fato. Imagina um rico empresário sendo levado numa ambulância para um hospital psiquiátrico, ele sabe que não é louco, mas a mulher dele e outras pessoas dizem que ele é.
A partir daí não sei o que acontece, os personagens é que vão revelando a trama.
Mas, o assunto não é esse e sim, o dia em que escrevi um conto e deixei sobre a mesa para passar para o computador. Acontece que algum depois, voltei para rasgar algumas anotações e por engano, rasguei o manuscrito do conto e coloquei no lixo. Mais tarde, ao me dar conta do ocorrido, corri para a lata do lixo e descobri que o lixeiro já tinha levado.
Fiquei decepcionado, por que a estória era muito boa. Então, resolvi reescrever o texto. Comecei a escrever e logo parei. Eu não me lembrava do nome da protagonista.
Quando eu crio um personagem, procuro dar um nome que combina com ele, com sua descrição física e personalidade. É como dar uma identidade que não pode ser mudada. A personagem tinha a sua identidade que era o nome dela. Mas, eu não conseguia me lembrar que nome era! Não queria, aliás, não podia colocar outro. Então, passei algum tempo tentando me lembrar, mas não consegui, até procurei numa lista de nomes próprios femininos na internet, para ver se encontrava. Procurei também numa lista telefônica. Sem êxito.
Era um nome bonito, que combinava com sua beleza (dela). Um nome que tinha um rosto, um corpo e sobretudo uma “história”. Mas, não consegui achar, lembrar. Até que, um dia, sem mais nem menos, o nome dela submergiu das profundas águas do subconsciente e brilhou como sol num dia radiante. Foi como se ela própria tivesse sussurrado ao meu ouvido.
Corri para a escrivaninha, peguei caneta e papel e foi aí que deu outro branco. Como era mesmo a estória?
Pode parecer fantasioso ou mesmo esquizofrênico, mas também acho que tem uma hora que os personagens tomam conta da narrativa. Talvez cada personagem nasça de um fragmento camuflado e inconsciente de nossa personalidade. Preciso conversar com Jung sobre isso.
Escolho os nomes dos personagens por associação com pessoas que conheço ou que gostaria de conhecer. Presto pequenas homenagens e cometo algumas vinganças. Outras vezes, os nomes surgem do nada.Também considero o nome muito importante para o desenvolvimento de toda trama.
Perder o nome da personagem deve ser sido torturante, mas esquecer de toda a sua estória deve ter sido muito pior. Ainda bem que era um conto e não um romance.
Afinal, conseguiu resgatar a moça e sua estória das profundezas do inconsciente?
Olá, Antônio.
Realmente alguns personagens não podem ter outro nome que não seja aquele que “casa” com sua personalidade e aparência.
Eu geralmente costumo lembrar de coisas que simplesmente desapareceram da minha memória quando estou no banho (não tenho a menor ideia do motivo).
Parabéns pela crônica.
Muito bom! Eu também tenho ataques de esvaziamento, por isso ainda não concluí uma grande história.
Nome bonito que combina com beleza? Hum… aposto que era “Scarlet”! 😀
Boa crônica, Antônio.
Eu prefiro não dar nomes aos personagens, quando isso é possível. Mas, uma vez “batizado”, realmente fica difícil trocar depois, por algum motivo qualquer. Coincidentemente… bom, depois do desafio eu comento mais sobre isso! kkkkk
Abraço!
Obrigado Fábio. Quero ler depois…