Num contexto formado por textos, vivia a criação do Homem. Um castelo criado com sonhos, erigido por letras, que uma a uma levantaram as paredes da ficção. Voavam as inspirações, alimentando o ambiente numa atmosfera leve.
Os amigos brincavam com rimas sempre que o tempo estava bom. Se o ar tornava-se sombrio, sem luminosidade, eles se dedicavam à leitura das paredes. De onde vertiam histórias sem tempo ou identidade, ilustrando a criatividade da humanidade.
À noite, e somente no escuro, quando as palavras não podiam ser vistas por olhos mundanos, beijos e carícias se davam em idílios de amor. Romances imaginados, agora vertiam-se gozando plenos direitos de consumar o que fora antes vislumbrado.
Foi numa noite assim, de delícias, que algo extraordinário aconteceu. Um grito foi ouvido por todos daquela criação fantástica, pensou-se e sussurrou-se de ouvido a ouvido que fora um êxtase dos mais empolgados. Homem ou mulher? Não sabia-se dizer.
Porém, antes da aurora, a atmosfera estava densa e os habitantes do castelo dos sonhos, já saciados de prazeres, sentiram que algo estava errado. Lembraram-se do grito ouvido horas atrás. Uma intuição coletiva estava quase visível neste momento. E um cheiro de morte infectava o ar.
Vinha dos porões mais antigos e supostamente abandonados, toda esta aura cinza que pairava na expectativa de cada um. Murmurou-se à boca pequena que houve um tempo em que letras soturnas decoravam aquele lugar e foram relegadas ao esquecimento dos mais baixos porões do castelo. Trancafiadas, as letras teriam definhado na escuridão.
Mas, hoje neste pré-amanhecer era indiscutível: o lúgubre tom das notas do galo despertador anunciava que o terror soltara-se. As cozinheiras, espavoridas pelos corredores da ala serviçal, gritavam a falta de uma companheira. A novata mais bonita que aqueles colegas já haviam conhecido. Era ela especialista nos recheios mais quentes dos degustes servidos na madrugada. Foi encontrada morta, num sorriso devastador em rosto angelical.
E toda a criação do Homem perdeu a leveza da imaginação. A fama que corria agora era a de que num recanto escondido de uma biblioteca havia um livro mal-assombrado, dele ouvia-se um grito por noite num exercício macabro de literatura.
Texto narrado em terceira pessoa. Apresenta linguagem figurada. Seria um conto lírico?
Olha, eu acho q é! huahuiha
Obrigada pela leitura!! 🙂
Anorkinda, gostei muito, mas MUITO mesmo do seu texto! Quanta criatividade, originalidade!
É extraordinário o modo como uma parte costura-se à outra, e vão tecendo esta obra…
Curti muito, parabéns!
ó.. comentário poético..^^
‘uma parte costura-se à outra, e vão tecendo…’
Obrigada pelas palavras e que bom que o resultado da costura ficou bom pra vc!
Abração
Sabe que me identifico com o seu estilo, né?
Gostei das imagens, do ritmo, da agilidade das palavras escolhidas. Prazerosa leitura. Parabéns.
Que bom que gostou, Claudia!
Tu escreves lindas prosas poéticas, sou fã!
Obrigada pela leitura!
Abraços
Olá, Anorkinda!
Gostei demais. Algo aqui me lembrou Monteiro Lobato (Emilia no País da Gramática). Uma fantasia boa e leitura agradável. Penso, que poderia ser inserida em livros didáticos. Um abraço!
🙂
Obrigada, Maria!
Percebo que consegui te levar pra dentro do mundo surreal que criei e isto antes de trazer a imagem, que eu tinha esquecido!
Obrigada pela leitura e pelas palavras tão generosas!
Abração
Um conto extraordinário onde se interconectam criatividade, narração impecável e ritmo. É daqueles textos que merecem introduzir o discurso de um paraninfo, por exemplo. Parabéns à autora e abraços.
:O
Obrigada! Como poetisa, eu tenho o vício de imprimir ritmo em tudo o que escrevo, quando me esforço em não fazer isso, não sai um texto que preste. Fico feliz que esta criação literária tenha produzido uma boa sensação em vc.!
Abraço
Sempre gostei desse tom poético que você pincela seus textos, ainda mais com conceitos abstratos. Vou ler novamente, mas notei passagens por vários estilos literários (afinal, o objetivo era esse, pelo que entendi). Curti!
Obrigada, Brian! Fico feliz com seu gosto poético 🙂
Sim, há pinceladas de alguns estilos literários, mas aquele que estava ‘censurado’, tomou o maior espaço, talvez porquê à época eu estava lutando comigo mesma para escrever histórias (minihistorias) de terror na comunidade histórias e contos de terror… rsrsrs
Abração