EntreContos

Detox Literário.

A Travessia (J. Moreira)

Enoque se distraía com as peças de um castelo que estava montando. Um presente dado por seu pai, comprado em uma de suas viagens. Era filho único e divertia-se com brinquedos que pudessem estimular a sua criatividade e coordenação.

— Nada de eletrônicos para o nosso filho — disse Antônio para a esposa. — Ele precisa se desenvolver como uma criança forte e saudável. A nossa raça está se degenerando cada vez mais.

— Por isso é que precisamos de uma casa maior, para que o nosso filho tenha bastante espaço para brincar — respondeu Ema, continuando. — E um local para guardarmos os nossos livros.

— Nós já temos uma estante cheio deles.

— Ainda faltam alguns importantes para a nossa coleção. Você sabe — respondeu Ema, com um sorriso no rosto.

— Você sabe quanto custa uma Bíblia? As que ainda existem devem custar um rim! — Antônio realmente parecia preocupado.

— Você ainda tem três, não é? — disse Ema, rindo enquanto mexia no cabelo.

O menino passava os dias em uma casa de dois andares, muito espaçosa e arejada. Estava localizada no topo de uma suave colina, coberta por vegetação rasteira de cor levemente azulada. A estrutura do imóvel era de uma resistente madeira sintetizada. As grandes janelas permitiam a entrada do sol durante o dia, a contemplação da neve durante os dias mais frios do ano e as noites estreladas, pois a casa também tinha uma parte envidraçada – podendo escurecer ou exibir infinitas misturas de cores e ambientes diferente – em cada cômodo do segundo andar.

Enoque acordava cedo, sem que fosse necessário chamá-lo. Descia as escadas, perguntando à mãe sobre o que havia para comer no café. Após a refeição, corria para a porta principal da casa e saía para brincar na grande área que estava à sua frente. Não havia vizinhos por perto, nem prédios ou mesmo ruas. Era uma grande casa no topo de uma colina, com um pomar à frente e, adiante, um bosque. Apesar do isolamento, eles não se sentiam solitários. Enoque se divertia brincando sozinho, era imaginativo; corria, pulava e simulava que estava sendo perseguido, subindo em árvores ou tentando se esconder em algum acidente natural ali perto. Ele interagia com os animais do campo, como um tipo de raposa herbívora de pelagem clara e lindos pássaros brancos de cauda longa, que voavam para comer as sementes que ele jogava.

A mãe estava tranquila em relação ao filho, pois ele usava uma fina pulseira que apontava sua localização exata e informações vitais. Sem que ele percebesse, um orbe de vigilância o acompanhava e mostrava imagens e sons em tempo real. Assim, ele poderia ir aonde quisesse e sua mãe poderia continuar seus afazeres.

O menino voltou quase uma hora da tarde, faminto… e sujo. A mãe mandou-o se lavar primeiro, assim ele o fez. Com apenas cinco anos, Enoque era uma criança independente e não deixava mais que a mãe o ajudasse no banho ou a se vestir. Ele subiu as escadas e desceu vinte minutos depois, com roupas limpas e cabelo penteado. Trocou o moletom azul-escuro que usava pelo conjunto formado por calças pretas e camisa vermelho-escura, como a que seu pai utilizava no trabalho. Ele almoçou, fez a devida pausa e foi à biblioteca ler algum dos livros o que pai trouxera na última vez.

— O Hobbit… — leu o título enquanto contemplava a capa antiga, contendo um grande dragão vermelho soltando fumaça pelas narinas, repousando sobre uma pilha de ouro. — Já leu, mamãe?

— Já, filho. Há muito tempo.

— Então é este que eu vou ler! — disse, se ajeitando à mesa de leitura e abrindo o livro.

— Numa toca no chão vivia um hobbit. — Deu uma pausa, tentando imaginar um “hobbit”. Continuou — Não uma toca desagradável, suja e úmida…

— Um zumbido no ar vindo do lado de fora chamou a atenção do menino, que interrompeu sua leitura em voz alta imediatamente.

Deixando o livro na posição em que estava, saiu correndo. Não ouviu a mãe dizendo-lhe para guardar o livro na estante antes.

Ao correr para fora, Enoque viu um módulo voador descendo verticalmente sobre uma área pavimentada ao lado da casa. A porta do veículo se abriu e de lá desembarcou um homem usando roupas parecidas com as do menino.

— Papai! — gritou Enoque enquanto corria para abraçar o pai, que não via há quase dois meses.

— Meu filho, que saudades! — disse o pai, colocando o menino para se sentar sobre seus ombros.

Antônio olhou para a frente e viu Ema sorrindo, olhando para os dois. Ela se aproximou do marido, sem dizer uma palavra, ainda mantendo o sorriso no rosto, e o beijou.

Eles entraram na casa e Antônio logo mostrou ao filho um novo presente.

O menino nada disse, tamanho o deslumbramento. Em uma caixa de plástico rígido e resistente, colorida e cheia de entalhes, havia pelo menos quinze bonecos articulados e bem construídos: cavaleiros, magos, orcs, além de dois cavalos e um dragão.

— Agora seu castelo terá moradores! — disse o pai, sorrindo.

— Filho, vá brincar no seu quarto — disse Ema, ao perceber que o sorriso do marido estava tenso.

O menino subiu as escadas, correndo. Antônio olhou novamente a esposa, ele a beijou prolongadamente e ficaram abraçados um tempo, sem nada dizerem um ao outro.

— Arrume as suas coisas e do Enoque; o que for essencial e couber no módulo. Nossos livros irão conosco.

— Chegou a hora… tão cedo. Pensei que nosso filho iria poder crescer aqui… — lamentou Ema.

— Eu também, querida, mas a situação ficou insustentável — arfou o marido, continuando. — Estão acontecendo coisas terríveis, e eu não vou esperar que cheguem até nós. Não sei quando irá acontecer, mas sei que logo estarão aqui também. Precisamos partir o mais rápido possível.

Ema olhou para a casa. Ela amava aquele espaço, amava a paisagem bucólica. Um lugar tão diferente de onde cresceu, onde sonhou criar o filho. Agora tudo iria ficar para trás. Não quis chorar na frente do marido, então logo se levantou e subiu as escadas.¬

– Eu não esqueci de você – disse Antônio, entregando um embrulho à esposa.

– Ah, eu não acredito! – exclamou a esposa, feliz com o livro com muitas páginas, preto, capa dura, onde estava escrito “Bíblia Sagrada”.

Utilizando um tipo de carriola automatizada, Antônio conseguiu transportar as caixas com os pertences de sua família. Os sessenta e sete livros, reunidos nos últimos seis anos, estavam bem protegidos. Nenhum ficaria para trás. Ali estava o seu patrimônio mais valioso e que seria passado para as futuras gerações.

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— Enoque, a viagem será longa. Você precisa descansar.

— Para onde vamos, mamãe? — perguntou o menino, surpreso.

— Será uma surpresa — respondeu a mãe, sorrindo.

— E quando a gente volta?

— Um dia… quem sabe? Descansa, filho. A viagem será longa — beijou-o na face e fechou a tampa transparente da câmara de hibernação, posicionada a quarenta e cinco graus de inclinação.

Ema caminhou até o marido, que fitava o planeta roxo cada vez mais distante, através de uma grande janela.

— Um dia eles voltariam para reivindicar o seu planeta. Espero que façam bom proveito da nossa casa. Logo teremos um lar para que o nosso filho possa crescer em segurança — disse o marido, abraçando-a.

O módulo percorreu milhões de quilômetros pelo espaço, levando todos os bens da família. O planeta sumiu do campo de visão, mas a anã vermelha — ocupando o centro do sistema — ainda poderia ser vista como um pequeno ponto luminoso. O veículo seguiu até encontrar uma nave gigantesca, estacionada no meio do nada. O pequeno veículo espacial foi se acoplando automaticamente à grande nave, que tinha milhares de outros módulos. Uma complexa estrutura cheia de anexos, que se encaixavam do modo bastante simétrico e funcional. Formava uma colônia com centenas de milhares de pessoas, todas adormecidas em câmaras individuais.

— Último aviso antes de entrarmos no hiperespaço: mantenham-se em suas respectivas câmaras, despertando apenas após o término da travessia, quando atingiremos o sistema estelar de Lübeck. Tenham um bom descanso. — avisou com suavidade uma voz feminina.

Antônio beijou Ema ternamente enquanto ela entrava na câmara e adormecia. Verificou pela última vez os compartimentos da nave, olhou para o filho e a esposa — em sono profundo —, e entrou em repouso.

Nenhuma pessoa estava acordada para presenciar o espetáculo de luzes e escuridão ocorridos durante a travessia.

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Antônio abriu os olhos devagar e saiu da câmara, bastante atordoado. Nada como alguns minutos de repouso e um copo com água para deixá-lo desperto novamente. Olhou para as duas câmaras fechadas ao seu lado; tudo bem. Ele programara o sistema para despertá-lo primeiro para que pudesse observar as condições antes de despertar a esposa e o filho. Aparentemente, estava tudo normal. A travessia se deu como esperado e a nave-colônia se dirigia ao novo lar daquelas pessoas. Mais alguns dias. As estrelas binárias estariam visíveis a partir da nave. Enoque se encantaria por elas.

Ema abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi seu marido.

— Chegamos?

— Estamos no sistema Lübeck. Ela olhou para a câmara do filho.

— Deixa ele dormir — advertiu o marido. — Venha, vamos passar um tempo só nós dois — disse, enquanto ajudava Ema a se levantar.

Enoque abriu os olhos e tentou sair da câmara, mas uma forte tontura o fez recuar.

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— Calma, filho. A mamãe está aqui, vai ficar tudo bem. Descansa um pouco. A viagem foi longa, mas agora estamos em casa.

O menino apenas manteve os olhos abertos enquanto recobrava as forças para sair daquele recipiente, onde passou um tempo considerável em sono profundo.

Contemplou, primeiramente, o teto alto e branco, as colunas de pedra, as paredes claras e as grandes janelas. Ao recobrar parte do equilíbrio, Enoque colocou o pé para fora, sendo amparado por sua mãe. Tocou o outro pé no chão, desceu e contemplou o restante do imóvel. Era uma ampla sala branca, ainda com poucos móveis. A construção parecia rústica, mas o ar era muito agradável. O menino correu para uma das janelas e ficou espantado com a paisagem que nunca tinha visto antes, a não ser em realidade virtual: o mar. A casa estava sobre uma pequena ilha artificial, onde havia outras casas como aquela. Viviam ali, no máximo, dez famílias. Havia uma área onde ficavam os veículos dos moradores. Aquele lugar só era acessível pelo ar, pois as embarcações grandes não tinham onde ancorar e as pequenas não eram adequadas para percorrer grandes distâncias.

— Vamos morar aqui agora, mamãe?

— Sim, meu filho. É o nosso lar agora.

O menino ficou pensativo, olhando para a imensidão do mar esmeralda cujas ondas deixaram-no hipnotizado. Enoque já havia visto o mar do planeta onde morava, mas foram poucas vezes. A paisagem não o impressionara tanto. Agora, estava em uma casa praticamente circundada pelo vasto oceano e pelo ar puro de um planeta altamente desenvolvido, mas sem a poluição das civilizações menos evoluídas.

– Vamos tirar um dia para mergulhar aí, que tal? Nós três! – exclamou o pai, bastante empolgado.

– Ah, não sei, não. Eu tenho medo. – disse a esposa, em tom de brincadeira.

– Mergulhar é mais seguro do que atravessar a galáxia – riu o marido.

– Vamos, mamãe – disse, com olhos suplicantes para a mãe.

Enquanto mãe e filho conversavam, Antônio se afastou dos dois. O ponto em seu ouvido esquerdo havia tocado.

— Estarei aí, sim. Quando? Dezessete horas? Ok.

Uma reunião de boas-vindas seria realizada no final daquela tarde para os novos moradores e todas as famílias deveriam comparecer. Não seria na ilha, mas na capital daquele arquipélago formado por trezentas e setenta e sete ilhas artificiais, Ilha Gaur.

Chegaram ao local na hora marcada. Durante a curta viagem, Enoque observou as ilhas artificiais dispostas em um desenho espiralado, lembrando uma galáxia, cuja capital ocupava seu centro. Durante a noite, a espiral emitia um brilho branco belíssimo. A capital da província era Gaur, cidade localizada na ilha do mesmo nome. Não era uma metrópole, mas chamou a atenção do menino devido à sua modernidade, com edifícios que impressionavam mais pelos formatos e cores, bastantes alinhados à topografia e vegetação locais. Tubos contendo líquidos de cores variadas ao atravessavam a cidade, ora descendo ao subterrâneo, ora subindo paralelamente junto ao um edifício coberto por espessa vegetação, que servia também como moradia para várias espécies de aves. Os vitrais dos edifícios também serviam como placas de captação da energia dos dois sóis do sistema Lübeck

O evento de boas-vindas foi na praça central, em local próprio. Assentos confortáveis e área com cobertura retrátil dispostos num formato de anfiteatro. E para a apresentação um palco localizado na concha acústica de arquitetura primorosa.

Um homem de meia idade vestindo túnica verde, com uma série de entalhes tribais, subiu ao palco para discursar:

— Sejam todos bem-vindos — iniciou o representante da Liga Terrestre naquele planeta.

Discorreu brevemente sobre o último milênio da Humanidade, desde o grande colapso civilizacional, após uma série de pandemias e conflitos armados — muitos destes pelo controle de recursos naturais essenciais à sobrevivência humana —, um grande número de pessoas decidiu partir para habitar os planetas-colônias já conhecidos. Estes eram, até então, subpovoados e apresentavam baixo crescimento econômico por conta da precária infraestrutura e recursos que recebiam do planeta-mãe. Enquanto a Terra era habitável para seus quase vinte bilhões de pessoas, ainda que nas piores condições possíveis, muitos não pensavam em deixá-la. Mas a expansão para o espaço, a longo prazo, se mostrou o melhor caminho. Várias colônias prosperaram; claro que nem todas.

Apesar da distância a que estavam do palco, as pessoas conseguiam ver e ouvir como se estivem próximas, utilizando implantes ou periféricos para olhos e ouvidos. Antônio evitava ao máximo tecnologias invasivas, por isso ele, a esposa e o filho usavam óculos e pontos nos ouvidos. Apesar da pouca idade, o menino estava bastante interessado no discurso.

O homem de traje verde, que apresentava a conferência, anunciou a presença de alguém importante. Surgiu um ser humanoide de traços finos, quase humanos, agradáveis aos nossos olhos, ainda que bastante exótico. Era mais alto que as demais pessoas presentes, mas esbelto. Sua pele era coberta por uma penugem aveludada e brilhante. Ele vestia trajes escuros, colete, braços nus e braceletes.

— Olha os dedos dele, pai! — impressionou-se o menino com os quatro dedos longos e finos daquelas mãos simétricas e proporcionais ao corpo

— Sejam bem-vindos à minha casa, sou Ah-Tgha-Knh-Shsbt. Um humilde servo à vossa disposição — disse o general e porta-voz daquele planeta. — Mas vocês podem me chamar de “Togh”. — Ele sabia que ninguém entenderia o seu nome.

Os Conselho Geral do planeta aceitou a presença humana, mas não sem impor antes algumas condições. Os humanos teriam livre acesso e moradia por até três gerações, havendo a possibilidade de prorrogação. O uso dos espaços e recursos seriam feitos sob estrito controle, pois o povo de Togh cresceu em fortes bases sustentáveis.

— Estamos abertos a nomes, costumes e ao idioma que você usarem em nosso planeta. Iremos aprender vosso idioma, mas vocês deverão conhecer o nosso — disse Togh em seu próprio idioma, que era traduzido simultaneamente a todos os humanos presentes.

Após as apresentações na concha acústica, o momento em que foram servidas as iguarias do planeta, compostas principalmente de frutas doces e salgadas, a família voltou para sua casa.

Era noite, o céu tinha um brilho indescritível, com alinhamentos muito diferentes de estrelas e suas três luas. Na prática, apenas uma chamava a atenção. No céu noturno, apresentava-se quase duas vezes maior do que a terrestre. Enoque dormia tranquilo e satisfeito. Ema e o marido contemplavam o mar e o céu noturno. A brisa era refrescante para eles, com temperaturas próximas de 0ºC, cuja estrutura biológica sofrera mudanças ao longo dos séculos para poderem se adaptar aos planetas alienígenas.

— Quando ele terá de ir? — perguntou Ema, tentando disfarçar a voz embargada.

— Quando completar nove anos — respondeu Antônio, transparecendo orgulho na voz.

Ema deixou escorrer uma lágrima. Não iria esconder mais a tristeza que sentia e sua desaprovação.

— Esta foi uma das condições para sermos aceitos aqui. Todos os homens terão que servir às forças armadas do planeta… que nos acolheu — enfatizou Antônio. — Não vejo nosso filho como apenas mais um soldado, mas um futuro líder.

— Sim… ele terá um futuro brilhante — disse Ema, sorrindo novamente, mas ainda com o rosto molhado.

No dia seguinte, o céu brilhava com intensidade. Antônio levou Enoque em uma viagem pelo planeta. Ema ficou em casa. Precisava do seu tempo sozinha para trabalhar. Puxou um fino teclado e à sua frente foi projetada uma grande tela que abrangia a visão periférica. Continuou seu trabalho, relatando a viagem, as primeiras impressões sobre o local e como estava lidando com sua nova vida. Suas publicações eram lidas por milhões de pessoas — não apenas humanas — e em vários idiomas.

A cada ponto diferente daquele planeta, o menino se encantava com a diversidade de formas e cores, mas também com a diferente flora e fauna. Mesmo entre os nativos, povos tão diferentes. Passaram vários dias por pontos específicos, realizando algumas paradas, colhendo flores, frutas, sementes e minerais. Pai e filho fizeram trilha com bicicletas leves de motores eletromagnéticos, que auxiliavam nas subidas ou quando estavam cansados de pedalar.

Na semana seguinte à viagem, Enoque comemorou seu sexto aniversário. Não pediu brinquedos nem qualquer outra coisa material. Ele só queria ficar com seus pais naquele lugar para sempre. O pai garantiu que ele, seus filhos e os filhos de seus filhos teriam isso garantido.

# # #

Os três anos seguintes passaram rápido, mas vivenciados intensamente. Tudo o que os pais tinham para ensinar ao filho foi transmitido. Ele se desenvolveu bastante em corpo e mente. A mãe não chorava mais com a ideia de não ver o filho; naqueles dias, ansiava pela sua ida, pois acreditava que ele teria as melhores experiências de sua vida a partir daquele momento. Ela também teria novas ocupações dali em diante.

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O dia chegou. No colo de sua mãe, Helena acenava para o irmão. Ela sorria inocente, não imaginando quantos anos ficaria sem vê-lo.

Estavam todos na estação espacial de Gaur. Sem abraços, beijos ou choros. Para os que ainda expressavam emoções de modo tão efusivo, deixaram para os momentos mais privativos. A cerimônia de boas-vindas aos futuros aprendizes foi rápida e os meninos, devidamente uniformizados, entraram dentro dos módulos. Estes se acoplaram a uma nave maior, decolando em seguida. Em nenhum momento Enoque olhou para trás, não queria demonstrar fraqueza para sua família. A tristeza em deixá-los logo passou. Ficou a saudade. Segundo o pai, ele viveria experiências incríveis.

— Parabéns, Major Cabral! — disse um senhor mais velho, apertando a mão de Antônio.

— Obrigado, Coronel Albuquerque. Logo vocês terão um grande oficial na liderança da Aliança Terrestre contra Império Kabo-Lizuriano.

— E como vai o seu trabalho com mineralogia?

— Gosto bastante, é quase um hobby para mim. Só que o dever me chama. Estarei de volta às minhas funções em breve.

— Bom ouvir isso, major. O planeta IK-829 foi invadido novamente pelos fungiópteros e vem causando problemas às colônias terrestres de lá.

— Coronel, estarei em sua sala em três dias. — disse, fazendo a continência.

— Aguardo sua presença, major.

Sobre Fabio Baptista

15 comentários em “A Travessia (J. Moreira)

  1. Jorge Santos
    13 de maio de 2024

    Olá. Este é um conto de um género de que gosto bastante, o da ficção científica. Narra a história de uma família em fuga, que se estabelece num planeta distante, mas que tem de pagar um preço terrível por isso. Esta é a sinopse tal como a compreendi. Logo no início tem um problema, uma fragilidade que é o facto do leitor não perceber de que foge esta família, e porque é tão importante fugir, ao ponto de perder contacto com o filho. Não mostrar a ameaça defrauda as expetativas do leitor, na minha opinião. Depois, o fecho narrativo termina com uma conversa que deveria ter sido mais impactante. Uma revelação bombástica que mostraria ao leitor as verdadeiras razões deste pai. Não vi nenhum tipo de clarificação, mas estranhei o conto fechar com uma conversa que não adicionada nada ao conto. Fora isso, gostei. Lembrou-me um pouco a série Halo (e digo série porque nunca joguei Halo). Também aqui as crianças são retiradas às famílias para criarem um exército, os Spartans. A diferença é que em Halo sabemos as motivações que levam as personagens a agir. No seu conto esta motivação é mais difícil de descobrir.

  2. Queli
    11 de maio de 2024

    Um texto cheio de esperança e medo saçarica de um futuro incerto, mas a fé é o ponto alto. Achei uma história inovadora, bem redigida, texto claro e fluido. Gostei muito!

    Parabéns e boa sorte!

  3. Cícero Robson
    11 de maio de 2024

    Oi, J. Moreira.

    O conto é um interessante exercício de uma escrita imaginativa, provavelmente inspirado (creio) em outras obras de ficção científica. Como não tenho muitas leituras nesse gênero, não consigo estabelecer essas conexões.

    Achei legal a nova galáxia se chamar Lübeck, nome da cidade natal de Thomas Mann.

    O enredo é interessante, ao mostrar a jornada de uma família impedida de se fixar num lugar pelo colapso planetário, provocado pelas guerras e pelas pandemias. Como é comum na ficção especulativa, projetamos no futuro as consequências das catástrofes produzidas pelo ser humano.

    Posso ter me enganado, mas notei algumas referências sutis à República, de Platão, no momento em que discorre sobre a educação da criança ficar sob responsabilidade do governo, quando ele completar 9 anos. A nova morada da família me fez lembrar a ilha de Utopos, presente na obra de Thomas More, A Utopia.

    Gostei da história, apesar de ter terminado o conto com a sensação de que ele deveria conter um algo mais para amarrar o enredo.

    Boa sorte no desafio!

  4. Marco Saraiva
    6 de maio de 2024

    Em primeiro lugar: durante este desafio eu não terei acesso a um teclado brasileiro, então os meus comentários serão desprovidos da maioria dos acentos. Perdão pela dor nos olhos!
    Em segundo lugar: resolvi adotar um estilo mais explícito de avaliação, pegando emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente bela ou marcante.

    —————————————-

    Avaliação

    Um conto que se passa em um futuro distante, quando a humanidade expandiu os seus dominios para fora da Terra, e que acompanha uma familia que tentou viver em paz em um planeta pacato mas que, infelizmente, viu-se obrigada a retornar aos seus deveres militares.

    O conto tem um sentimento de “recorte”. Uma ideia cortada no meio. Ate mesmo o ultimo paragrafo nao termina a narrativa, parece ser apenas mais um em um livro extenso. Isto quebra um pouco o encanto. Outra coisa que atrapalha no conto eh a falta de conflito. Se ha algum conflito, ele vem do “drama” da familia em abandonar um planeta pacifico… e so. Talvez tambem haja algum conflito com a mae em aceitar que Enoque iria para a guerra… mas este conflito eh interrompido por que o conto simplesmente acaba.

    O que eu vi aqui foram ideias maravilhosas, um escritor sonhador, com uma imaginacao incrivel, mas que precisa de um pouco mais de tato e emocao na escrita. E tambem trabalhar melhor a conclusao do seu conto!

    NOTAS:

    1) Quando eles chegam na ilha, ha um trecho que diz: “…pois as embarcações grandes não tinham onde ancorar e as pequenas não eram adequadas para percorrer grandes distâncias.” Este tipo de tecnologia ja existe hoje, e resolveria problema: grandes embarcacoes carregando com elas pequenas embarcacoes. O navio maior ancora em alto mar, e os tripulantes usam o navio menor para acessar terra firme.

    2) Ha uma contradicao no texto, quando eh descrito que Enoque nunca viu um mar antes, a nao ser em realidade virtual:

    “O menino correu para uma das janelas e ficou espantado com a paisagem que nunca tinha visto antes, a não ser em realidade virtual: o mar.”

    E logo em seguida:

    “Enoque já havia visto o mar do planeta onde morava, mas foram poucas vezes.”

    TÉCNICA ●◌◌ (1/3)
    Acho que ha muito espaco para melhoria na sua tecnica. As descricoes estao bem feitas, mas textos literarios nao podem ser apenas descricoes. Este conto tem uma narrativa muito cinematografica, preocupada com qual pe o personagem levanta para andar e com qual movimento de cabeca ele faz para expressar um sentimento. Acho isso normal em quem vem para a escrita tendo saido do universo do cinema e seriados. A gente tem a tendencia de pensar assim, de forma muito visual, como se estivessemos descrevendo uma cena de filme. Na verdade, a escrita nos permite muito mais!
    O texto tambem apresenta uma serie de erros de digitacao e problemas de revisao.

    HISTÓRIA ●◌◌ (1/3)
    Infelizmente a historia quase nao existe. Vejo aqui uma tentativa de estabelecer um universo interessante para que uma historia se desenvolva. Consigo enxergar o inicio da historia de Enoque, e talvez uma sugestao de desenvolvimento para o personagem de Antonio, mas a coisa toda se esvai no final.

    TEMA ●● (2/2)
    O tema “viagem” eh claro no texto.

    IMPACTO ◌ (0/1)
    Nao fui tocado pelo texto. Falta emocao.

    ORIGINALIDADE ● (1/1)
    A imaginacao brilha aqui. Apesar dos engasgos na escrita, nao ha como negar que a criatividade do autor eh extensa!

    Trecho inspirado

    “Nenhuma pessoa estava acordada para presenciar o espetáculo de luzes e escuridão ocorridos durante a travessia.”

    Gosto de fechamentos de capitulos assim. Eles deixam uma imagem no olho da mente, que voce carrega para o proximo ato.

  5. Priscila Pereira
    5 de maio de 2024

    Olá, J. Moreira! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Gostei bastante do seu conto. Uma FC muito bem descrita e bem escrita. Os personagens são críveis, mesmo que o Enoque seja muito mais adiantado do que se esperaria de uma criança de cinco anos, mas imagino que por ser muito tempo no futuro, possa até fazer sentido.

    As ambientação é ótima! Gostei demais de conhecer os lugares que você mencionou. Mas… Aiai, sei que já está cansado de ler isso, mas a história não está fechada… E não tem nada a ver com final aberto, parece (tenho quase certeza) que esse texto é um pedaço de algo muito maior, então não tem um final aceitável.

    O que esse Coronel tem a ver com a história, porque foi terminar com uma fala dele? Eu perdi alguma coisa? Esse final é relevante pra essa história que foi contada?

    Eu realmente gostei do conto, mas não gostei de como terminou. Se for um pedaço de algo maior e precisar de uma leitora beta pode me chamar.

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  6. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de maio de 2024

    Bom dia, Moreira! Tudo bem?

    Diário de viagem (kkkkkk): tô nos EUA sem notebook e sem internet, então tô lendo e comentando os contos pelo celular. Então desculpe por prováveis erros de escrita e pela estrutura não tão organizada do conto. Porém, vou comentar com a mesma seriedade e parâmetros que vinha usando até então. Vamos lá!

    Uma história de FC belamente escrita, que aposta nas descrições e caracterizações para criar imagens vividas no leitor. Tal tipo de imagem é essencial no gênero, uma vez que você apresenta para o leitor um universo totalmente novo. Caso careça de boas descrições, o leitor acaba perdido num ambiente diferente e pouco familiar. Excelente trabalho nesse ponto.

    A relação familiar também é trabalhada de forma bela e muito íntima, de modo que é possível apreciar as relações entre os personagens de forma bastante sutil e intimista. O menino é um personagem carismático, e os pais são carinhosos e atenciosos. Até mesmo a breve inserção da irmãzinha ajudou a criar essa sensação de uma família feliz e amorosa.

    Também gostei da forma como o tempo flui no conto. Por se tratar de uma história que ocupa um período de alguns anos, transmitir corretamente a passagem do tempo e nos posicionar na linha temporal são fatores essenciais para a história funcionar. Você fez isso com qualidade.

    Por outro lado, acredito que o enredo seja o ponto baixo do conto, uma vez que muita coisa é apresentada, mas muitas delas não são aprofundadas e as vezes nem mesmo resolvidas, dando a impressão de que o conto é apenas o início de uma história maior. Alias, fiquei com a impressão de que seu conto pode se transformar num romance de FC, e você já tem uma base para isso. Nesse cenário, este conto funcionaria como uma introdução para a ideia geral. Pois foi essa a ideia que passou: de que o conto está incompleto, por parecer mais uma introdução para algo maior do que um conto fechado em si, e isso reduz bastante o impacto do conto, pois eu fiquei o tempo todo esperando que algo acontecesse, mas o conto acabou e eu fiquei meio com a sensação de quero mais, sabe? O conto acabou ficando sem clímax, sem nada marcante. O final também foi um pouco decepcionante, pois pareceu que acabou do nada. Eu até desci a página pra continuar lendo, e vi a caixa de comentários.

    Enfim, você tem um belo trabalho em mãos, algo que pode se desenvolver em uma bela história de ficção científica, com personagens cativantes e um novo universo a ser explorado. Por exemplo: o que aconteceu com os livros? Por que eles se tornaram tão raros e valiosos? O que aconteceu com a religião, a ponto de a bíblia virar um artigo de luxo? Esse dois pontos realmente ficaram totalmente em aberto e deixaram uma dúvida que acreditei que seria sanada ao final. Além disso, outros pontos mencionados por cima que poderia ser melhor explorados: o que é o conflito entre humanos e a outra raça mencionada? Como começou? O que aconteceu com os outros 20 bilhões de humanos (o homem fala que a raça está desaparecendo?

    Tirando isso, o conto está tecnicamente bom, com exceção de alguns errinhos de revisão, especialmente no começo ,e tem um bom ritmo.

    Construção de personagens: 8,0

    Técnica: 7,5

    Ritmo: 9,0

    Enredo: 5,0

    Desfecho: 2,0

    Nota final: 6,3

    Parabéns e boa sorte!

  7. Emanuel Maurin
    5 de maio de 2024

    Num futuro depois do apocalipse, uma família escapa para um planeta alienígena, já que à Terra está na pior. O filho varão cresce conhecendo o novo planeta lar. Os novos habitantes se adaptam à nova vida. A matriarca registra tudo. Quando o varão atinge a idade de nove anos, ele é recrutado para servir nas forças armadas do planeta, aí dele se não aceitar. O patriarca da família, retorna ao seu trabalho em mineralogia, enquanto a matriarca cuida da filha mais nova. A história termina com a partida do varão para o treinamento militar.

    Um ponto a ser destacado é nesse parágrafo. Enoque acordava cedo,…

    … ele poderia ir aonde quisesse e sua mãe poderia continuar seus afazeres. Assim termina o parágrafo, nesse ponto em específico o narrador não falou em momento algum que Enoque havia saído, mas no parágrafo seguinte ele narra dizendo que “O menino voltou quase uma hora da tarde, faminto… e sujo.” Voltou de onde se ele não havia saído? O tempo verbal, usado para descrever as ações que ocorreram no passado do personagem, como: “Enoque acordava cedo” e “corria para a porta principal da casa e saía para brincar”. Na transição da cena, usa o tempo verbal presente, para descrever a cena que esta acontecendo no estado atual, como:  “O menino voltou quase uma hora da tarde”. Essa mudança dos tempos verbais criam uma sensação de movimento entre o passado e o presente na narrativa gerando confusão.

    No mais, o tema é adequado, a narrativa é fluida, o final é legal. 

  8. Thiago Amaral
    5 de maio de 2024

    Oi J. Moreira, tudo bem?

    Seu conto é bastante curioso. Vejo ele como um slice of life num mundo da ficção-científica.

    Minhas impessões estão bastante alinhadas com os comentários que fizeram antes de mim. O conto se concentra nas paisagens, nas estruturas, e comenta tudo de longe, objetivamente. Tudo é explicado, nada mostrado.

    É como um filme em que vemos mais paisagens, casas e naves, mas nãohá muitas emoções. As que existem, são apenas citadas pelo narrador ou pelos personagens. Dessa maneira, o leitor não chega a sentir nada.

    Esperamos o conto todo por algum acontecimento, algo que faça com que a história comece, que a bíblia seja explicada, mas no fim… nada acontece. Como a Kelly disse, parece o preâmbulo de uma história. Pra mim, poderia ser o prólogo de uma saga interplanetária. Do jeito que está, a história passa e não deixa muito na cabeça do leitor.

    Também notei os deslizes no trecho sobre o oceano (o menino conhecia ou não?) e a bíblia (ele tinha ou não tinha bíblia?), e acredito que seja ausência de uma revisão melhor. Depois que terminar, deixe o texto guardado por alguns dias e leia com novos olhos, imaginando o que o leitor vai pensar.

    Acho que seu conto funciona mais como um exercício pessoal de descrição, exercitando sua capacidade de criar um mundo futurista. Porém, pro leitor, não há grandes novidades ou significados.

    Sinto muito pela avaliação mais negativa dessa vez, mas foi minha real impressão durante a leitura.

    Obrigado pela contribuição, e até a próxima!

  9. Givago Thimoti
    4 de maio de 2024

    A TRAVESSIA (J. MOREIRA)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá,  para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    Avaliação + Impressões iniciais

    Eu li uma Bíblia Sagrada ali??

    Uma ficção científica de fácil compreensão??

    Resumidamente, temos aqui um conto seguro, que não compromete.

    HISTÓRIA  (1,75/3)

    A Travessia é um conto de ficção científica, que aborda a viagem de volta da família, composta por Antônio, Ema e Enoque…

    A história é linear e segura. Vemos um pouco da rotina deles antes do êxodo, de um planeta para o outro. Depois os preparativos, a viagem em si e a chegada, adaptação.

    Como eu disse, ainda mais se considerando um conto de ficção científica, eu definiria o conto como uma história segura. Até demais. Para um leitor que não tá acostumado com ficção científica, ela não compromete o entendimento, o que eu diria que é algo positivo. Talvez para quem é mais assíduo do gênero, é um conto que não inova também e que poderia ter se arriscado um pouco mais (o que é negativo).

    TÉCNICA  (1,25/ 3)

    A técnica de escrita do conto foi simples. Também encontrei alguns erros gramaticais e de diagramação também, especialmente no início do conto.

    ·       As grandes janelas permitiam a entrada do sol durante o dia, a contemplação da neve durante os dias mais frios do ano e as noites estreladas => e das noites estreladas (creio eu)

    ·       Depois do travessão, quando a gente coloca aquela ideia entre diálogos do mesmo personagem, a primeira letra em seguida vem em maiúsculo

    ·       — Um zumbido no ar vindo do lado de fora chamou a atenção do menino, que interrompeu sua leitura em voz alta imediatamente. (…) Deixando o livro na posição em que estava, saiu correndo. Não ouviu a mãe dizendo-lhe para guardar o livro na estante antes.

    É chatice minha? É, mas são detalhes importantes que limpam o texto, deixam ele bonito. Enfim, revisão é sempre necessária.

    TEMA  (1/1)

    Conto extremamente alinhado com o tema proposto pelo desafio.

    IMPACTO  (1/2)

    O impacto foi médio, justamente pela junção dos fatores história segura demais e uma escrita simples, com alguns erros gramaticais.

    ORIGINALIDADE  (1/1)

    Confesso que traz a originalidade aqui é algo simples, mas digno de nota: geralmente, em contos de ficção científica, descarta-se alguns elementos “do passado”. Aqui, vemos que ainda temos Bíblia Sagrada, a tradição espartana (embora não seja explicitado dessa forma) de entregar o filho homem para o exército, Antônio…

    Nota: 6

    Trecho interessante: O módulo percorreu milhões de quilômetros pelo espaço, levando todos os bens da família. O planeta sumiu do campo de visão, mas a anã vermelha — ocupando o centro do sistema — ainda poderia ser vista como um pequeno ponto luminoso. O veículo seguiu até encontrar uma nave gigantesca, estacionada no meio do nada. O pequeno veículo espacial foi se acoplando automaticamente à grande nave, que tinha milhares de outros módulos. Uma complexa estrutura cheia de anexos, que se encaixavam do modo bastante simétrico e funcional. Formava uma colônia com centenas de milhares de pessoas, todas adormecidas em câmaras individuais.

  10. Regina Ruth Rincon Caires
    4 de maio de 2024

    Mais um texto que apresenta uma viagem intergaláctica. As descrições inundam o texto feito chuva de verão, daquelas bem intensas.

    Numa narrativa linear, o conto fala sobre a vida de uma família abastada, do filho modelo, do modo de educação, dos costumes.  E segue assim.

    O texto cumpre o tema, tem linguagem clara, com muitos termos que justificam uma ficção científica. Não observei deslizes. A leitura também é linear, não abre possibilidades para a imaginação do leitor. Tudo está ali, literal. O autor construiu um texto de entendimento lógico, basta ler para assimilar todo o seu conteúdo, não exige divagação.

    Parabéns pelo trabalho, J.Moreira!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço.

  11. Angelo Rodrigues
    1 de maio de 2024

    Olá, J. Moreira.

    Comentários:

    O conto segue sem problema, descritivo e pouco falando de fatos que empurrem a história. Privilegia a descrição ambiental, os cenários, embora pouco fale da trama que se desenrola. Fala de medos, mas não explicita quais, faz mistério sobre a presença em suas vidas da Bíblia Sagrada, mas não nos adianta os motivos para tais segredos, salvo uma possível distância dos pais em relação a uma religião que, me pareceu, no tempo, seria uma coisa bastante primitiva.

    Vi o conto como uma viagem onírica, um sopro lisérgico onde o autor passeou por mundos e nos ofereceu lembranças, mas não buscou instigar a curiosidade do leitor.

    Creio que seja um texto com boas possibilidades, mas falta nele a tensão que faz avançar a leitura. Não há senso que indique a quem lê, ao menos à minha leitura, algo pelo qual esperar, que indique uma possível ocorrência. O que fica é a relação familiar, o campo descritivo dos ambientes, a viagem e, ao final, a revelação de que Enoque deveria compor as forças armadas daquele núcleo ao qual sua família passou a fazer parte – aos nove anos.

    Imagino que falte ao texto a tensão, a expectação, a discórdia e a sua possível solução, em resumo, o drama. Há no texto uma passividade, uma sensação de concordância e aceite que não estimula a leitura. Veja, não digo que o conto não é bom. Digo que ele tem espaço para melhorar sobremaneira, particularmente se for introduzido no texto alguns elementos expressivos de contraditas, de vaivém, de possibilidades de mudança de rota. Creio que falte cor, que ficou na ambientação belíssima, mas não nos viventes – humanos ou não – que, ao cabo de tudo, são os que dão vida real ao conto.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  12. Kelly Hatanaka
    1 de maio de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    O conto atende ao tema. Uma família terráquea se junta a outras famílias em uma viagem rumo a um planeta que os acolheu. Em troca, seu filho deverá servir às forças armadas deles assim que completar nove anos.

    Escrita
    Muito boa. Porém, achei que, em alguns momentos, o texto se estende demais em descrições. Descrições são inevitáveis em histórias como esta, mas houve aqui um excesso, bem como algumas repetições. Exemplo: num momento diz-se que a casa “(…) Estava localizada no topo de uma suave colina(…)”. No parágrafo seguinte, diz-se que “(…) Era uma grande casa no topo de uma colina, (…)”.
    Também alguns trechos que me causaram estranheza:
    “— Você sabe quanto custa uma Bíblia? As que ainda existem devem custar um rim! — Antônio realmente parecia preocupado.
    — Você ainda tem três, não é? — disse Ema, rindo enquanto mexia no cabelo.”
    Tem três o quê? Bíblias? Rins? Aqui, achei que ele fosse um alienígena. Mas depois, confirma-se que a família é terráquea. Não entendi.
    “(…)O menino correu para uma das janelas e ficou espantado com a paisagem que nunca tinha visto antes, a não ser em realidade virtual: o mar. (…)”. Dois parágrafos depois: “Enoque já havia visto o mar do planeta onde morava, mas foram poucas vezes.”. Enfim, nunca viu, ou viu poucas vezes?
    Parece ter faltado uma revisão mais atenta.

    Enredo
    A família ocupava um planeta, cujos habitantes originais passaram a reivindicar de volta. Eles partem, junto com milhares de outros, para outro planeta, que os acolheu, com a condição de que seus filhos fossem para as forças armadas ao completar nove anos.
    O enredo é bem conduzido. A família sai do planeta anterior, chega no novo, adapta-se. Em seguida, há um salto de três anos e o menino vai cumprir seu destino. Mas achei a história, apesar de bem conduzida, sem clímax. O conto pareceu um recorte de uma história maior. Ele não parece estar falando de nenhum dos personagens em especial. Enoque vai para o treinamento e acabou. O pai é um major que estava de licença? A mãe é influencer. A história maior parece ser sobre o planeta e sobre a guerra que está se formando. Mas isso só é mencionado no finalzinho.

    Impacto
    A história é interessante, mas me deu a impressão de ter lido um longo preâmbulo da história que realmente interessa e que, desta história, vou ficar mesmo sem saber nada.
    Talvez o recorte escolhido não tenha sido o melhor. Talvez, mesclar momentos do treinamento de Enoque com recordações de sua família, ou cenas da guerra com memórias do pai. Mas, do jeito que está, minha sensação foi “puxa, agora que ia ficar interessante acabou?”.

  13. Antonio Stegues Batista
    29 de abril de 2024

    Então, o conto conta a história de uma família que precisa sair de um planeta por causa de um perigo não especificado. Eles se dirigem para uma astronave, onde já estão outros refugiados que irão para um outro planeta habitado por alienígenas aliados dos humanos. As crianças devem ser entregues ao Exército, como as crianças de Esparta que, aos 7 anos,  eram propriedade do estado. Então, Enoque vai se tornar soldado para combater um inimigo comum, cujos objetivos não são especificados, disputa territorial, talvez. O conto tem todos os elementos de uma aventura espacial, tipo Guerra nas Estrelas. Ficção Científica como nos livros de Isaac Asimov, Fred Hoyle, Poul Anderson, Clifford Simak, Ray Bradbury, Ursula K. Le Guin e muitos outros. Faltou ação, batalhas, intrigas, me pareceu o início de um romance. A parte dos livros ficou irrelevante, não foi explorada com mais profundidade como é feito no filme, O Livro de Eli. A Bíblia no conto, é mais como um documento histórico do que religioso. Achei meio estranho, alguém do século XXIII dar para o filho, copia de brinquedos do século XVII, mas cada um educa o filho como quer, né. O conto não é ruim, tá bem escrito , mas acho que terminou muito cedo. Vou esperar pela continuação.

  14. vlaferrari
    28 de abril de 2024

    Bom, creio que este seja o último conto do desafio, pois, estou registrando o comentário às 20h21. E por conta disso, já inicio com uma pergunta ao autor: e aí? Apenas uma estória de viagem interplanetária e fim. O garoto vai para a guerra e chega de Beatles e Rolling Stones?
    A premissa atendeu ao tema, narra-se uma viagem. Há alguns erros ao longo do texto, pequenos, que denotam a pressa em publicar e não o descuido.
    Flui bem, descritivo até em excesso. Na minha opinião, há muitas minúcias que poderiam perfeitamente ser deixadas de lado. Mas é isso. Uma estória que deixa o leitor entretido no final do domingo, tal e qual as coisas que a Venus Platinada acha Fantástico, mas que não passam de atrações que tentam distrair as mentes que já pensam na segunda-feira.
    Sucesso no desafio.

    • J. Moreira
      5 de maio de 2024

      Agradecido pelo seu comentário.

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Informação

Publicado em 28 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.